Você está na página 1de 12

GOD SAVE THE QUEEN: LÍNGUA INGLESA E CULTURA NO ENSINO FUNDAMENTAL EM

AMBIENTE HÍBRIDO

Ana Carolina Brandini Gonçalves1


Cíntia de Moura Pinto2
Maristela Leila Bauer Zimmermann3
Mélany Blume Matté4

RESUMO
Este estudo objetivou apresentar um projeto transdisciplinar e multicultural, vinculado ao
projeto unidisciplinar Speak up, aplicado a estudantes do segundo ciclo do ensino
fundamental da Escola de Aplicação Feevale no primeiro semestre de 2021. Em virtude do
cenário pandêmico, o projeto foi planejado, organizado e executado em aulas síncronas na
plataforma virtual Blackboard e, com a retomada das aulas presenciais, ofertado na
modalidade híbrida, contando com o vínculo das quatro professoras de língua inglesa, que
atendem os estudantes da educação infantil ao ensino médio. Partindo do título God Save
the Queen, o projeto, que teve duração de 18 semanas, fez um percurso por diversos
aspectos da linguagem, história, geografia, política e cultura britânica, evidenciando como o
indivíduo encontra nesses elementos recursos para expressar estilos de vida, referências e
pertencimento.
Palavras-chave: Ensino de língua inglesa. Ensino por projetos. Ensino híbrido.

1 INTRODUÇÃO

Atualmente, com o largo acesso à tecnologia e as facilidades que ela traz, as relações
pessoais, familiares, profissionais etc., tornam-se, cada vez mais, ligadas de tal maneira que
não é mais possível desvincular as interações humanas dos dispositivos digitais. Para além
disso, diante das incontáveis oportunidades para a construção de saberes advindas dessa
1
Mestre em Letras (Feevale) e licenciada em Letras - Português/Inglês (Unisinos/Universidade do Porto),
professora de Língua Inglesa (Escola de Aplicação Feevale), tem experiência em ensino de língua inglesa em
contexto escolar nas modalidades presencial e híbrida.
2
Mestre em Letras (Feevale) e licenciada em Letras - Português/Inglês (Feevale), pesquisadora em estudos da
linguagem, professora de Língua Inglesa (Escola de Aplicação Feevale), tem experiência em ensino de língua
inglesa em contexto escolar nas modalidades presencial e híbrida.
3
Licenciada em Letras - Português/Inglês (Feevale), professora de Língua Inglesa (Escola de Aplicação Feevale),
tem experiência em ensino de língua inglesa em contexto escolar nas modalidades presencial e híbrida.
4
Especialista em Docência Universitária no Século XXI e licenciada em Letras - Português/Inglês (Feevale),
professora de Língua Inglesa (Escola de Aplicação Feevale), tem experiência em ensino de língua inglesa em
contexto escolar nas modalidades presencial e híbrida.
associação pessoa-tecnologia, ampliam-se as possibilidades para o aprendizado
multidisciplinar e multicultural.
Nesse sentido, a escola desempenha um papel substancial: o de articular
experiências de aprendizagem que possibilitem a construção do conhecimento alinhadas às
normativas para a Educação Básica em uma perspectiva que aproxime os direitos de
aprendizagem dos estudantes “à construção intencional de processos educativos que
promovam aprendizagens sintonizadas com as necessidades, as possibilidades e os
interesses dos estudantes e, também, com os desafios da sociedade contemporânea”
(BRASIL, 2018, p. 14).
Para isso, a legislação brasileira para a Educação Básica privilegia o planejamento e a
prática escolar norteados ao desenvolvimento de competências do saber e do saber fazer
(BRASIL, 2018), uma vez que as necessidades da sociedade contemporânea impõem uma
nova perspectiva para questões do processo educativo no sentido do que se “aprender, para
que aprender, como ensinar, como promover redes de aprendizagem colaborativa e como
avaliar o aprendizado” (BRASIL, 2018, p. 14).
Dessa forma, a Base Nacional Comum Curricular, BNCC, evidencia o seu
compromisso com a educação integral (BRASIL, 2018), buscando a formação humana
integral, que compreende o indivíduo como não linear e complexo no processo de
desenvolvimento, e promovendo uma educação voltada ao acolhimento, ao reconhecimento
e ao desenvolvimento pleno das singularidades e das diversidades.
Sendo que o ensino escolar passa por profundas transformações em relação às
propostas pedagógicas e metodológicas após a aprovação da BNCC (BRASIL, 2018), concerne
às instituições de ensino a adaptação e reorganização de seus currículos no intuito de
contemplar de modo efetivo os direitos de aprendizagem dos estudantes estabelecidos no
documento.
Diante desse contexto, a Escola de Aplicação Feevale, situada em Novo
Hamburgo/RS, aparece como um espaço de educação que visa atender às necessidades
educacionais e pedagógicas de seus estudantes a partir de uma proposta metodológica de
ensino que privilegia os ensinos uni, inter e transdisciplinar da Educação Infantil ao Ensino
Médio e Técnico, inspirada no modelo finlandês de ensino 5.

5
Informações disponíveis em: https://escola.feevale.br/. Acesso: 10 jul. 2021.
Em um cenário pandêmico que exigiu uma adaptação de toda a humanidade em
relação à rotina e às novas formas de fazer a vida continuar andando, acredita-se que a
educação escolar é a que tem sentido os maiores impactos. Mesmo que o ensino superior já
contasse com as plataformas de ensino à distância com cursos integralmente em ambiente
remoto, inclusive, a realidade nas escolas foi, até o início da pandemia do novo corona vírus,
predominantemente presencial. Essa adaptação tem imposto esforços das crianças, dos
jovens, dos seus cuidadores e, fundamentalmente, das escolas, que precisaram adequar
seus currículos, atividades e processos avaliativos para o meio virtual em uma organização
que causasse o mínimo de prejuízo no processo de aprendizagem e no desenvolvimento dos
estudantes.
Diante do exposto, este artigo apresenta um projeto transdisciplinar aplicado no
primeiro semestre de 2021 para estudantes do segundo ciclo do ensino fundamental da
Escola de Aplicação Feevale, de Novo Hamburgo/RS. Partindo do título God Save the Queen,
sentença marcante no contexto britânico, a proposta envolveu o ensino de língua inglesa
atrelado a elementos históricos, humanos, sociais e culturais do Reino Unido. Com o objetivo
de esquematizar a organização deste trabalho, segue, ao longo dele, a contextualização do
projeto, as habilidades desenvolvidas, o diálogo entre os componentes curriculares, as
estratégias aplicadas, as atividades propostas, o processo avaliativo e a recepção por parte
dos estudantes.

2 O PROJETO

O projeto God Save the Queen foi planejado, elaborado e aplicado aos estudantes do
segundo ciclo do ensino fundamental da Escola de Aplicação Feevale no primeiro semestre
de 2021 em ambiente virtual e presencial. As aulas presenciais foram suspensas quando o
governo do Estado do Rio Grande do Sul adotou o modelo de distanciamento controlado
ainda no primeiro semestre de 2020, fazendo com que a instituição adotasse a plataforma
Blackboard, que disponibiliza recursos e ferramentas para o ensino on-line, para dar
continuidade ao ano letivo na escola.
O currículo adotado pela Escola de Aplicação Feevale privilegia o ensino por meio de
projetos uni, inter e transdisciplinares. No entanto, os componentes curriculares de língua
estrangeira, arte e educação física são ofertados em projetos unidisciplinares abordando, em
suas práticas, temas e conteúdos aplicados por outros componentes curriculares como em,
por exemplo, atividades de língua inglesa que tratam de sustentabilidade ou questões
ambientais, combinando, por vezes, mais de uma área do conhecimento ao mesmo tempo.
Para a organização do projeto as professoras de língua inglesa, em seu planejamento,
avaliaram as habilidades necessárias a serem trabalhadas naquele período do ano e etapa do
ensino fundamental. Na rodada de prioridade entre as habilidades a serem desenvolvidas,
conforme o plano de ensino da escola, coube ao grupo identificar e escolher quais delas
seriam relevantes para esse grupo de estudantes. Visto que a BNCC (BRASIL, 2018) não
aborda o ensino de língua inglesa nas etapas iniciais da Educação Básica, a Escola de
Aplicação Feevale elaborou, para o seu plano de ensino, suas próprias habilidades, tendo
como base os conhecimentos previstos em todas as áreas de conhecimento para as etapas
correspondentes.
Em seguida, foi elaborada uma pergunta de pesquisa para nortear as dinâmicas ao
longo do projeto, que teve a duração de 18 semanas, com um encontro de uma hora
semanal, que foi: “Como analisar e avaliar, por meio do ensino de língua inglesa, aspectos da
linguagem, sociais, das culturas e a ocupação de espaços culturais do Reino Unido?”.
Nesse sentido, o projeto visou desenvolver, de maneira transdisciplinar, questões
relacionadas aos componentes da língua inglesa, humanos, sociais e culturais vinculados ao
Reino Unido, considerando elementos de tempo e espaço, culturais, sociais e de expressão.
O planejamento das professoras era coletivo e feito por meio de encontros semanais,
nos quais eram discutidas a elaboração do projeto, os diálogos entre as áreas do
conhecimento e as estratégias que seriam adotadas nas aulas.

3 PLANEJAMENTO E PRÁTICA

O projeto God Save the Queen, parte integrante do projeto macro Speak up, do
componente curricular de Língua Inglesa, foi lançado para os estudantes do segundo ciclo do
ensino fundamental no dia 15 de março de 2021, ainda de maneira remota e, nessa primeira
aula, foram apresentadas as professoras envolvidas, as habilidades a serem trabalhadas ao
longo dele e a motivação do projeto, instigando os estudantes ao tema proposto.
As estratégias adotadas visaram a apresentação do plano de fundo norteador do
projeto: o Reino Unido - região falante de língua inglesa. A partir disso, as professoras
mostraram aos estudantes um material contendo imagens, informações básicas,
curiosidades e experiências pessoais com um país em específico, a Inglaterra. Nessa
oportunidade, duas das professoras que viajaram para essa localidade, trocaram com os
estudantes experiências que lhes instigaram a querer saber mais, aproximando-os do
assunto a ser abordado no decorrer dos encontros.
A partir dessa introdução, os estudantes conheceram também as habilidades que
seriam trabalhadas ao longo das semanas. Para melhor entendimento, segue abaixo, no
Quadro 1, a organização das habilidades desenvolvidas ao longo do projeto:

Quadro 1 – Habilidades desenvolvidas no projeto God Save the Queen


HABILIDADES ÁREA DO CONHECIMENTO
Conhecer vocabulário e expressões relacionados a
ações e atividades cotidianas.
Perceber a existência da Língua Inglesa como diferente
forma e possibilidade de comunicação.
Linguagens/
Conhecer aspectos culturais de diversos países.
Língua Inglesa
Conhecer textos de gêneros variados, que circulam em
diferentes esferas da vida social, em Língua Inglesa.
Identificar vocabulário simples em textos literários de
gêneros variados.
Fonte: elaborados pelos autores conforme o plano de ensino da escola.

O segundo encontro ocorreu no dia 22 de março e a dinâmica continuou por meio de


aulas on-line com a apresentação da família real britânica tendo como ponto alto a rainha da
Inglaterra, Elizabeth II. Sendo assim, foi-lhes mostrada a árvore genealógica real, as famílias
pertencentes a essa organização, a sucessão ao trono, bem como curiosidades sobre a rotina
da rainha em seu palácio. Os estudantes demonstraram apreciar muito as informações
fornecidas, as quais eram desconhecidas por muitos deles, com questionamentos sobre
pontos relevantes para futuras descobertas e pesquisas, o que foi providencial para a
continuidade do planejamento dos encontros. Como atividade, os estudantes tiveram de
imaginar a sua própria família como se ela fosse pertencente à realeza, respondendo assim,
algumas questões na construção de um parágrafo escrito em inglês. As professoras
sugeriram que os estudantes pensassem sobre quem seria o rei ou a rainha, onde essa
família moraria, qual seria a rotina, quais as atribuições que lhes caberiam enquanto
membro real, entre outros. A proposta foi que a atividade fosse realizada de maneira
criativa, podendo-se usar a árvore genealógica como fonte de inspiração, com fotografias
dos familiares e local da moradia, por exemplo, ajustando informações novas a vocabulário
previamente conhecido por eles.
Para o terceiro encontro, ocorrido no dia 29 de março, foi trazida uma apresentação
de vídeos que mostrava a rotina real e as preferências da rainha Elizabeth II, com detalhes
da sua morada no Palácio de Buckingham, alguns fatos históricos sobre a sua coroação, a
idade da rainha na época, informações sobre seu casamento e descendentes etc. Assim, os
estudantes puderam conhecer um pouco mais sobre a matriarca, inspirando-se para a
continuidade da criação de suas próprias famílias reais. Após os vídeos, foram promovidas
discussões com o intuito de compartilhamento de ideias, experiências, motivações e
opiniões sobre o estilo de vida real. Para o vocabulário durante a conversação ou o uso do
chat disponível na plataforma, os estudantes eram encorajados a utilizarem a língua inglesa.
Na aula on-line da quarta semana, dia 06 de abril, os estudantes puderam apresentar
aos demais colegas as suas famílias reais imaginárias. Nesse contexto, foram exibidos
diferentes moldes e recursos on-line que os estudantes encontraram para expressar sua
criatividade, dinamicidade, desenvolvendo, assim, habilidades além da língua estrangeira,
como ferramentas tecnológicas. Na dinâmica, foi possível visualizar famílias reais imaginárias
nos mais diversos pontos do mundo, com climas diversos, obrigações reais das mais
inusitadas, rotinas interessantes, organizações familiares diferentes, diversidade e inclusão,
uma característica significativamente evidente neste grupo de estudantes. Sendo assim, foi
possível uma experiência de entrega e de resultado que reforçou o interesse dos estudantes
pelo tema, auxiliando na sequência didática (SCHNEUWLY; DOLZ, 2004) que se tencionava
realizar.
Na quinta semana do projeto, no dia 12 de abril, foi proposta uma interação com a
música inglesa. As professoras questionaram, em forma de brainstorming, quais as bandas
inglesas ou artistas que já eram conhecidos pelos estudantes. Alguns deles responderam,
sem nenhuma pesquisa e de forma espontânea, nomeando bandas modernas e do tempo
deles. Alguns, com auxílio da internet, buscaram por nomes mais antigos ou do gosto
musical de seus familiares e, que por sua vez, já haviam escutado anteriormente. Com essas
informações, e com base na experiência de viagem, relatos e fotos de uma das professoras,
o grupo conheceu mais sobre uma potente banda de rock dos anos 1960 e 1970: The
Beatles. Isto posto, novas trocas e conversas surgiram a partir dos materiais apresentados
que envolveram contexto histórico, localização geográfica da formação da banda,
informações sobre os integrantes, vida, obra, principais músicas, entre outros tópicos.
No dia 19 de abril, sexta semana do projeto, os estudantes conheceram a plataforma
Lyrics Training6, conectando-se com músicas dos Beatles, escutando suas músicas,
ampliando o vocabulário com palavras novas nas letras e as mensagens que a banda buscava
passar aos fãs em seus clipes. Ainda, foi-lhes oportunizado, cantar algumas canções mais
famosas, o que surtiu efeito muito positivo no grupo, animando-os para conhecer mais
sobre a música e demais bandas oriundas desse país falante de língua inglesa. Tal
engajamento observa-se no que Medina (2002) enfatiza para a compreensão de textos e
aprendizagem por meio de músicas com a utilização de suporte linguístico e extralinguístico.
No dia 26 de abril, sétima semana do projeto, os estudantes foram desafiados a
utilizar meios digitais de pesquisa para buscar saber mais sobre bandas, artistas, cantores e
cantoras britânicos – atuais ou modernos – que lhe chamassem mais a atenção. Por meio
dessa proposta, as professoras apresentaram as Wh- questions, que deram o norte para a
sua pesquisa individual.
Na semana posterior, a oitava do projeto, iniciou-se o período de ensino híbrido, em
que foi facultado às famílias o retorno presencial ou a manutenção do ensino em ambiente
remoto para os estudantes (BACICH; TANZI NETO; TREVISANI, 2015). Assim, professores e
estudantes continuaram seus vínculos de formas diferentes uma vez que, nessa modalidade,
por segurança e respeito aos protocolos sanitários, somente a professora de língua inglesa
alocada para esse ciclo continuaria atendendo os estudantes de forma presencial. Nesse
sentido, novas estratégias foram traçadas e as demais professoras continuaram em contato
com o grupo por meio de fotos, vídeos, relatos e áudios.
No dia 03 de maio, portanto, os estudantes tiveram a oportunidade de compartilhar
suas pesquisas com os demais colegas, apresentando as bandas e artistas escolhidos (Who),
passando informações sobre a data de formação (When), local (Where), tempo de carreira
(How long), principais músicas (What), possibilitando uns aos outros conhecer algumas delas
por meio de plataformas digitais, fotos e vídeos em uma experiência bastante significativa.
Na nona semana, no dia 10 de maio, os estudantes receberam de forma introdutória
informações sobre as refeições inglesas mais conhecidas ao redor do mundo: o Afternoon

https://lyricstraining.com/app?nr=1&~channel=web&~feature=redirect&~campaign=none&ref=https%3A%2F
6

%2Flyricstraining.com%2F
tea (chá da tarde) e o English breakfast (café da manhã inglês). Para tanto, foram
apresentados vídeos das professoras mostrando suas refeições nos momentos de café da
manhã e de chá da tarde, com vocabulário específico e uma mensagem carinhosa de cada
uma para o grupo. Cabe aqui salientar que a experiência cultural é fundamental para a
aprendizagem de uma língua estrangeira, pois “a ligação entre formas linguísticas e
estrutura social não deve ser simplesmente transmitida, tem de ser construída. Essa
construção não é uma mera transferência de informação entre diferentes culturas. Exige
uma reflexão tanto sobre a cultura nativa quanto sobre a cultura alvo” (KRAMSH, 1993, p.
205).
No dia 17 de maio, décima semana do projeto, os estudantes vivenciaram um
momento síncrono e especial quando estudantes e professoras compartilharam, cada um o
seu, o English tea (chá inglês), vindo direto da Inglaterra para suas xícaras. Com o seu
material a postos, muitos deles provaram chá pela primeira vez, porém a aprovação não foi
unânime. Ainda assim, gostaram muito da experiência e de conhecer pessoalmente o
aspecto desse chá tão conhecido ao redor do mundo. Alguns estudantes promoveram esse
momento também em casa com os familiares, evidenciando o ponto alto de uma
metodologia fundamentada em projetos: o engajamento e a aprendizagem afetiva. Assim,
“parece consequência natural, para o professor que tem boa relação com os alunos,
preocupar-se com os métodos de aprendizagem e procurar formas dialógicas de interação”
(CUNHA, 2006, p. 151).
No encontro da décima primeira semana, dia 24 de maio, foi convidada a professora
de artes a juntar-se virtualmente com o grupo para uma interação e compartilhamento de
sua experiência com a viagem para a Inglaterra. Muito teatral e criativa, brindou a todos com
a alegria de relatos bem-humorados sobre sua vivência. Em seu relato, apresentou alguns
itens que trouxera de lá, a representatividade de cada um, os locais pelos quais passou, os
alimentos e bebidas que experimentou, uma foto tirada no museu de cera ao lado da rainha
da Inglaterra tomando o seu chá da tarde, entre outros. Cabe salientar que o que causou
maior encantamento nos estudantes foi realmente a história contada pela professora de
arte sobre o seu “encontro” para o chá da tarde com a rainha. Ainda, os estudantes
puderam fazer perguntas sobre a viagem, qual a documentação necessária para tal, os
aspectos geográficos locais que a professora encontrou, clima da região na época da viagem
etc.
No dia 31 de maio, décima segunda semana do God Save the Queen, foi hora de
conhecer algumas crianças reagindo a cafés da manhã ao redor do mundo por meio de
vídeos. A partir deles, o vocabulário sobre comida e bebida pode ser revisto e assimilado,
bem como os estudantes puderam compreender um pouco sobre como a alimentação é um
fator social e cultural de suma importância para um local, pois traz consigo características
específicas de cultivo e afetividade em receitas de família, por exemplo, fazendo com que
cada prato seja único onde quer que seja elaborado ou consumido. Nesse sentido, “o modo
de ver o mundo, as apreciações de ordem moral e valorativa, os diferentes comportamentos
sociais e mesmo as posturas corporais são assim produtos de uma herança cultural, ou seja,
o resultado da operação de uma determinada cultura” (LARAIA, 1986, p. 68) são
fundamentais para a compreensão do todo e para a construção de si mesmo. A proposta, a
partir disso, foi trazido um game7, que permitiu os estudantes interagir com mais tipos de
comida e de bebida da Inglaterra, apresentando a forma correta de pronúncia, com a
imagem de cada produto, a forma escrita, jogado de forma individual em cada uma das fases
e com diversos níveis de dificuldade.
Nas décima terceira e décima quarta semanas, dias 07 e 14 de junho, foi organizado
um momento de verificação escrita de habilidades desenvolvidas até então, que combinou
caça-palavras, relação de termos, respostas a questionamentos pessoais e de preferências,
mensurar medidas, localização, constatando, essencialmente, a assimilação de vocabulário
dos estudantes durante o período do projeto, e o resultado geral foi satisfatório e
importante para a continuidade, organização e planejamento dos demais encontros.
Na semana seguinte, dia 21 de junho, os estudantes tiveram acesso a vídeos, fotos e
áudio da professora de artes que compilou suas experiências, relatos e itens trazidos da sua
viagem ao Reino Unido, instigando os estudantes sobre a veracidade de todos os fatos
apresentados até então, o que gerou muitos questionamentos sobre o tema, demandando
um novo encontro virtual com a professora que, de modo muito criativo, criou uma história
para eles. Assim, ela propôs que eles descrevessem suas dúvidas em forma de sentenças em
inglês, as quais seriam respondidas por ela e enviadas por meio da professora titular do
ciclo.
No dia 28 de junho, na décima sexta semana, o sistema político britânico foi
abordado. Como os estudantes estavam, paralelamente, estudando sobre a democracia no
7
https://foodesl.s3-sa-east-1.amazonaws.com/Breakfast+redone+(Web)/index.html
Brasil em outro projeto do ciclo, buscou-se essa integração transdisciplinar, aproximando o
tópico em debate e mostrando aos estudantes como é o processo de eleição no Reino
Unido. Assim, vídeos explicativos e conversas com a professora elucidaram a situação sobre
um conjunto de países que possui um chefe de estado e um chefe de governo, com eleições
a cada cinco anos e modelos diferentes de administração se comparados aos do Brasil. A
partir disso, algumas questões surgiram, e essas foram anotadas em forma de tópicos,
utilizando a língua inglesa e registrados nos cadernos dos estudantes.
O momento de 05 de julho, na décima sétima semana de projeto, foi para esclarecer
algumas das perguntas ilustradas na aula anterior, apresentando também aos estudantes
curiosidades sobre os poderes administrativos e reais da Rainha Elizabeth II, o que os deixou
surpresos, uma vez que a soberana utiliza muito pouco dos poderes a ela concedidos de
forma legal e legítima. Portanto, como proposta dessa aula, os estudantes foram instigados
a organizar um mapa mental com as principais informações sobre a dinâmica política do
Reino Unido, bem como produzir uma pequena e criativa forma de utilizar um dos poderes
que a rainha tem mas que não utiliza, ou seja, se o estudante fosse a rainha, o que faria com
determinado poder?
A décima oitava semana, a última do projeto God Save the Queen, foi a ocasião para
avaliar a jornada desses encontros, no qual os estudantes puderam expressar os seus
momentos favoritos, os que mais chamou a atenção, os considerados difíceis, os que
despertaram a curiosidade, entre outros. Assim, foram colhidos alguns depoimentos, que
foram, posteriormente, publicados no site e nas redes sociais da escola, vinculando-os ao
projeto em questão.
Pode-se afirmar que o engajamento dos estudantes foi bastante significativo, uma
vez que provocou debates, trouxe aproximações, diversão, apreciação e encantamento.
Além da proposta, que foi alimentada ao longo do projeto pela própria curiosidade dos
estudantes, foi fundamental eles estarem dispostos, abertos e interessados em acolher os
mais diferentes aspectos e formas de ser experimentar outra língua e outras culturas.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Escola de Aplicação Feevale lançou, no primeiro semestre de 2021 o projeto
transdisciplinar God Save the Queen como parte integrante do projeto unidisciplinar Speak
up, do componente curricular de língua inglesa.
Em função do distanciamento social provocado pela pandemia do novo corona vírus,
a rotina escolar voltou-se para o ensino remoto, no qual foi necessário reelaborar e
reorganizar as interações e práticas pedagógicas de tal modo que os conhecimentos
continuassem a ser construídos com propostas que instigassem a curiosidade e o interesse
dos estudantes. Posteriormente, a retomada das atividades presenciais demandou o
exercício criativo do planejamento e da prática pedagógica no sentido de engajar os
estudantes sem que se perdesse o ritmo e o processo de aprendizagem tanto dos
estudantes que optaram por voltar à escola quanto dos que permaneceram em casa. Nesse
sentido, abordar um tema que faça parte do universo cultural, com curiosidades e
diferenças, por exemplo, possibilitou essa aproximação que é tão fundamental para
promover o engajamento com a aprendizagem.
Ao final do projeto, os estudantes foram convidados a compartilhar suas experiências
e aprendizagens construídas ao longo das semanas em depoimentos, que foram divulgados
em reportagens e postagens no site e nas redes sociais da escola. 8
Com um tema tão rico em possibilidades, trabalhar de modo a trazer diferentes
facetas da cultura e da língua inglesa ofereceu aos estudantes pontos de vista, percepções e
entendimentos sobre um determinado tema, fazendo com que sua compreensão se
desenvolvesse a partir da observação de mais de um aspecto, tornando-os protagonistas de
seu processo de construção do conhecimento.
Trabalhar por projetos na escola, tanto em ambiente presencial quanto remoto, é
possível. Não é preciso se elaborá-lo muito complexo ou abordar diversas temáticas
simultaneamente. Essencial, nesse cenário, é o alinhamento de habilidades que sejam
consideradas adequadas e pertinentes para determinado ciclo ou etapa e o planejamento
dos professores.
No campo do ensino híbrido, ainda há muito o que ser desenvolvido e explorado.
Todavia, com empenho dos professores no planejamento calcado nas diretrizes para a

8
Escola de Aplicação promove aprendizado da Língua Inglesa aproximando a realidade dos estudantes.
Disponível em: https://www.feevale.br/acontece/noticias/escola-de-aplicacao-promove-aprendizado-da-
lingua-inglesa-aproximando-a-realidade-dos-estudantes. Acesso em: 10 jul. 2021.
Educação Básica e no comprometimento com a aprendizagem significativa, com um passo de
cada vez, isso pode se tornar realidade.

REFERÊNCIAS

BACICH, L.; TANZI NETO, A.; TREVISANI, F. M. (Org.). Ensino híbrido: personalização e
tecnologia na educação. Porto Alegre: Penso, 2015.

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular – BNCC.


Ensino Médio. Brasília. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?
option=com_docman&view=download&alias=85121-bncc-ensino-
medio&category_slug=abril-2018-pdf&Itemid=30192. Acesso: 10 abr. 2021.

CUNHA, Maria Isabel. Repensando a Didática. 23ª edição. Campinas/SP: Papirus, 2006.

KRAMSH, C. Context and Culture in Language Teaching. Oxford: Oxford University Press,
1993.

LARAIA, R. de B. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Zahar, 1986.

MEDINA, S. L. Using music to enhance second language acquisition: From theory to practice.
In Lalas, J. & Lee, S. (Eds.), Language, literacy, and academic development for English
language learners. Boston: Pearson Education Publishing. 2002.

SCHNEUWLY, Bernard; DOLZ, Joaquim. Os gêneros escolares: das práticas de


linguagem aos objetos de ensino. In: Gêneros orais e escritos na escola. ROJO,
Roxane; CORDEIRO, G. S. (Orgs.). Campinas: Mercado de Letras, 2004.

Você também pode gostar