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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ

CAMPUS: CLÓVIS MOURA


CURSO: GEOGRAFIA - BLOCO II
TURNO: NOITE
DISCIPLINA: ECONOMIA APLICADA A GEOGRAFIA
PROFESSOR: JOÃO PAULO CENTELHA
ALUNO: DILSON SOUSA AMORIM

A DINÂMIMICA DO CAPITALISMO
Tentando mostrar de forma lúcida e didática a história econômica mundial, Fernand
Braudel, nitidamente inspirado em Lucien Febvre, fala sobre a constante evolução desta
mesma economia e a variação de dados que a faz constantemente mutável dentro de um
período curto, as inércias da história obscura e fora da consciência dos homens, que em sua
concepção são mais modificados do que modificadores, assim como a rotina, os gestos que
florescem e se concluem por si mesmos, os inumeráveis gestos herdados, acumulados e
repetidos, que decidem e ajudam a vivência ao longo da existência. De acordo com o autor,
são incitações, pulsões, modelos, modos ou obrigações de agir que, por vezes, e mais
frequentemente do que se supõe, remontam ao mais remoto fundo dos tempos, e simboliza
esse conceito da vida material, que de acordo com ele, é apenas uma parte ativa da vida do
homem, com uma metáfora extremamente geográfica: “um passado multissecular desemboca
no tempo presente como o Amazonas projeta no Atlântico a massa enorme de suas águas
agitadas”.
Braudel afirma que quis ver e fazer ver essa massa geralmente mal apercebida de
história mediocremente vivida, e nela mergulhar, familiarizar-se com ela e que sairia dessa
forma de ver os fatos, usando mais uma vez uma linguagem metaforicamente geográfica, após
perceber que estudava fatos extremamente antigos e que, porém, encontraria respostas em um
período mais recente da história, de três ou dez séculos mais cedo, que faria enxergar o que
ocorria hoje, visto com nossos próprios olhos.

Depois, somente depois, chegaria o momento de sair


dela. A impressão profunda, imediata, após essa pesca
submarina, e de que estamos em águas muito antigas, no
meio de uma história que, de algum modo, não teria idade,
que reencontraríamos, em suma, dois ou três séculos ou dez
séculos mais cedo e que, por vezes, num momento, nos e
dado enxergar ainda hoje com os nossos próprios olhos.
(Pág. 10, cap. I)

O autor afirma que a vida material, como ele a compreende, e o que a humanidade
incorporou no decorrer da história, se converteram em necessidades do cotidiano ou em
banalidades, onde ninguém as observa com atenção. Braudel cita o primeiro capítulo de seu
primeiro livro: “O Número de Homens”, e afirma que é a potência biológica do homem que o
impele, como todo ser vivo, a se reproduzir, concordando com Lefebvre: “tropismo da
primavera”. Braudel, fala também que existem outros tropismos e outros determinismos, e
que essa matéria humana, constantemente em movimento, comanda boa parte dos destinos de
seres vivos sem que eles tomem consciência e que estes, numerosos demais ou pouco
numerosos, tendem a se equilibrar demograficamente, porém, isso raras vezes acontece.
A partir de 1450, o número de pessoas na Europa aumenta com muita rapidez e, de
acordo com Braudel, esse fato acontece para a recuperação de fluxo, comprometido pelo
déficit promovido pela terrível perda ocorrida a partir da Peste Negra. Esta informação, aos
olhos de historiadores, revelam regras de longa duração que continuarão válidas até ao século
XVIII, onde de acordo com o autor, ocorrerá a explosão das fronteiras do impossível,
superação de um teto até então intransponível e que, desde então, o número de seres humanos
nunca mais parou de aumentar, não voltou a haver suspensões nem reversões do movimento,
onde o sistema vivo está em círculo fechado e quase intangível, pois quando a circunferência
é atingida, quase que imediatamente ocorre uma retração, gerando modos e ocasiões para o
restabelecimento do equilíbrio.
Fernand Braudel explica e afirma, que o crescimento econômico da Europa se dá
através do conceito alemão Der Mensch ist was er isst, que em português significa “O homem
é o que come”, mesmo depois do surgimento de vários outros produtos alimentares como o
açúcar, o café, o chá e até o álcool, e que, de acordo com o autor, juntamente com os cereais,
configuram-se intermináveis e importantes fluxos de história. Braudel, em suas explicações
sobre a configuração da Europa, fala sobre a criação de animais domésticos e da cultura do
arroz que tirou o espaço desses mesmos animais, a cultura do milho que se tornou a cultura
mais cômoda e um jeito mais fácil de obter as refeições cotidianas, e de como ela regula o
tempo de ócio que explica as corveias camponesas e os enormes monumentos ameríndios,
uma força de trabalho desempregada confiscada pela sociedade. Da mesma forma, como
exemplo, Braudel cita temas repletos de consequências: a história dos antigos intoxicantes, o
álcool, o fumo, a maneira fulgurante como o fumo, em particular, conquistou o mundo.
Fernand Braudel faz referência à história que acompanhou de perto a evolução lenta e
paciente da luta cotidiana do homem contra o meio exterior através da criação e utilização de
ferramentas e armas que levaram às grandes concentrações econômicas por meio da evolução
da tecnologia. Para figurar seus conceitos, Braudel cita o Arsenal de Veneza no século XV,
Holanda no século XVII e a Inglaterra no século XVIII, lembrando que a ciência sempre está
presente, sendo depois conduzida à força, e desde sempre, todas as técnicas, todos os
elementos da ciência, se permutam, viajam através do mundo e há uma difusão incessante.
Mas o que se difunde mal são as associações, os agrupamentos de técnicas: o leme de cadaste,
o casco construído em chapas parcialmente sobrepostas, mais a artilharia a bordo dos navios,
mais a navegação de alto-mar, do mesmo modo o capitalismo, soma de artifícios, de hábitos,
de performances.
Falando da moeda, Braudel explica que esta é uma invenção muito velha e, que as
cidades, embora mais velhas, juntamente com as moedas, mergulham, ao mesmo tempo, no
cotidiano imemorável e na modernidade, entendendo por moeda todo meio que acelera a
troca, e que sem troca não há sociedade. Explica que, de acordo com a regra da reciprocidade
de Georges Gurvitch, que à modernidade, a massa em movimento da vida dos homens,
impeliu para diante a expansão da moeda, construiu a tirania crescente das cidades. Cidades e
moedas são, ao mesmo tempo, motores e indicadores; elas provocam e assinalam a mudança.
São também a consequência desta mesma mudança.
Braudel admite a dificuldade em definir o habitual e o rotineiro, por não ser contado
pela história. Contudo, ele acredita que habitual e o rotineiro completa o conjunto da vida dos
homens, e se esta mesma história tivesse reconhecido esses atores, permitiria distinguir
melhor e com clareza o que seria rotina e decisão consciente, o que está à direita ou à
esquerda do observador ou, melhor, acima e abaixo dele. O autor nos chama a imaginar a
enorme e múltipla extensão que representam, para uma dada região, todos os mercados
elementares que ela possui, ou seja, uma nuvem de pontos, para débitos frequentemente
medíocres, onde múltiplas bocas principia o que chamamos a economia de troca, situada entre
a produção, enorme domínio, e o consumo, um domínio igualmente enorme. E por essa falta
de informações, não podemos unir toda a produção a todo o consumo, perdendo-se uma
enorme parte da produção no auto consumo, da família ou da aldeia, pelo que não entra no
circuito do mercado. Braudel afirma que, considerada essa imperfeição, subsiste o fato de que
a economia de mercado está em progresso, que liga suficientemente burgos e cidades para já
começar a organizar a produção, a orientar e a controlar o consumo. O autor fala que tenta
descrever os mercados elementares ao seu alcance e que eles marcam uma fronteira, um limite
inferior da economia. Tudo o que ficar fora do mercado só tem um valor de uso, tudo o que
transpuser a porta estreita e ingressar no mercado adquire um valor de troca. Segundo se
encontra de um lado ou do outro do mercado elementar, o indivíduo, o “agente”, está ou não
incluído na troca, no que chama de vida econômica, para opô-la à vida material; e também
para distingui-lo do capitalismo.
Fernand Braudel explica o papel de cada agente elementar, desde o medíocre ao mais
atuante. Contudo, acima dos mercados e dos agentes elementares da troca, as feiras e as
Bolsas desempenham um papel superior. Mesmo que as feiras estejam abertas, como é
geralmente o caso, aos pequenos vendedores e aos comerciantes medíocres, elas são, tal como
as Bolsas, dominadas pelos grandes comerciantes atacadistas, aqueles a que em breve se
passará a chamar os negociantes e que não se ocupam do comércio de varejo.
Para simplificar os registros da economia, Braudel distingue dois modelos: um registro
inferior, os mercados, as lojas, os camelôs e um registro superior, as feiras e as Bolsas.
Sobre a evolução do ocidente, Braudel explica sua causa no período de quatro séculos.
Exatamente a partir do século XV ao século XVIII, sobretudo depois de 1450, onde houve
uma retomada geral da economia devido às elevações dos preços industriais e com a
estagnação dos preços agrícolas, onde nesse momento os mercados urbanos ditam as leis e
assumem um papel propulsor. No século seguinte em virtude da própria velocidade de
crescimento e da ampliação da economia atlântica, a máquina se complica, levando a
economia a se concentrar à altura das feiras internacionais: feiras de Antuérpia, de Berg-op-
Zoom, de Frankfurt, de Medina del Campo, de Lyon, por um instante o centro do Ocidente,
ainda mais, subsequentes, as chamadas feiras de “Besançon”, onde, durante quarenta anos, de
1579 a 1621, ocorre a dominação dos movimentos monetários internacionais pelos genoveses.
A vida ativa do século VII, de acordo com Braudel, descreveu-se como uma época de
recuo e estagnação econômica, exceto em Amsterdam. Braudel também explica que a
atividade que persiste apoia-se num retorno decisivo à mercadoria, a uma troca de base, em
suma, tudo em benefício da Holanda, de suas frotas, da Bolsa de Amsterdam.
Braudel explica que o século XVIII foi o século da aceleração econômica geral, estando
todos os instrumentos da troca em serviço, as bolsas ampliam suas atividades, Londres imita e
tenta suplantar Amsterdam, que tende agora a especializar-se como a grande praça dos
empréstimos internacionais, enquanto que Genebra e Gênova participam nesses jogos
perigosos, Paris anima-se e começa a afinar, o dinheiro e o crédito correm assim cada vez
mais livremente de um lugar para outro, e que nesse ambiente, as feiras saiam perdendo. O
autor também completa que no século XVIII, tudo terá se desenvolvido, inclusive o
“contramercado”.
Fernand Braudel elogia outras formas de mercado, como o da China, de uma
organização surpreendente, o da Índia, como o país das feiras, contudo, comparando as
economias do resto do mundo com a europeia, Braudel afirma que o desenvolvimento mais
acelerado dessa economia se deve a superioridade de seus instrumentos e de suas instituições.
No capítulo II, “Os jogos da troca”, Braudel aborda o que depende propriamente da
troca, o que ele denomina como economia de mercado e como o capitalismo. Essa dupla
denominação, diz o autor, indica que devemos distinguir esses dois setores que, a nossos
olhos, não se confundem. Repetimos, entretanto, que esses dois grupos de atividade são, até o
século XVIII, minoritários, que a massa das ações dos homens permanece contida, absorvida
no imenso domínio da vida material. Contudo, o autor deixa claro que nos séculos XV e
XVIII, a zona de vida rápida e a economia não pararam de se ampliar, tendo como prova a
variação em cadeia dos preços dos mercados que se movimentam pelo mundo inteiro. Uma
certa economia liga entre si os diferentes mercados do mundo, uma economia que não só traz
em sua esteira algumas mercadorias excepcionais, mas também os metais preciosos, viajantes
privilegiados que já dão a volta ao mundo.
Fernand Braudel, afirma que o uso mais amplo do termo capitalismo, se dá no começo
do século XX, tendo como de uso verdadeiro no livro de Werner Sombart, Der moderne
Kapitalismus, que de acordo com o autor seria ignorada por Marx. Braudel afirma que antes
da Revolução Industrial não haveria capitalismo e que um dia um historiador ainda jovem
gritaria: “O capital, sim; o capitalismo, não!”.
Para Braudel, a Revolução Industrial se anuncia muito tempo antes do século XVIII e
que talvez a melhor razão para nos persuadirmos disso seja o espetáculo de certos países
subdesenvolvidos de hoje que tentam e, com o modelo de sucesso, por assim dizer, diante dos
olhos, fracassam em sua Revolução Industrial e que passado, presente; presente, passado,
ameaça ser, muito simplesmente, o âmago e a razão de ser da própria história. Braudel afirma
também que, só se disciplinará, só se definirá a palavra capitalismo, para colocá-la a serviço
exclusivo da explicação histórica, se a enquadrarmos seriamente entre as duas palavras que a
subentendem e lhe conferem seu sentido: capital e capitalista. O capital, realidade tangível,
massa de meios facilmente identificáveis, permanentemente em ação; o capitalista, o homem
que preside ou procura presidir à inserção do capital no processo incessante de produção a que
todas as sociedades estão condenadas. Para Braudel, não haverá uma única sociedade, até
onde chega seu conhecimento, que não terá acumulado bens de capital, que não os utilize para
o seu trabalho e que não o faça frutificar. Cada sociedade teria assim, atrás dela, o equivalente
de três ou quatro anos de trabalho acumulado, posto em reserva, de que ela se serviria para
levar a bom termo a sua produção, sendo o patrimônio, além disso, usado só parcialmente
para esse fim, nunca os 100%, como é óbvio.
Braudel, acerca do mercado e do capitalismo, afirma que mundo da mercadoria ou da
troca encontra-se estritamente hierarquizado, desde os ofícios mais humildes – lixeiros,
estivadores, camelôs, carroceiros, marinheiros – até aos caixeiros, lojistas, corretores de
denominações diversas, prestamistas e, no topo, os negociantes. O autor expõe que, o
processo de fragmentação das funções, essa modernização, manifestou-se primeiro somente
na base: os ofícios, os lojistas, até mesmo os mascates, especializaram-se, no entanto, o
mesmo não ocorre no alto da pirâmide, visto que, até o século XIX, o negociante mais
empreendedor jamais se limitou a uma única atividade: é negociante, sem dúvida, mas nunca
num único ramo, e também é, segundo as ocasiões, armador, segurador, prestamista,
financista, banqueiro ou até empresário industrial ou agrícola. Em outras palavras, todo bom
negócio ao seu alcance será de sua competência, qualquer que seja o ramo, pois nenhum
deles, individualmente, será suficientemente rentável para absorver toda sua atividade.
Fernand Braudel afirma que não se distingue capitalismo de economia de mercado e que
ambos progrediram na mesma velocidade na Idade Média até nossos dias atuais, tendo o
capitalismo se apresentado como o motor ou o apogeu do progresso econômico. Contudo,
Braudel afirma tudo ser fruto da vida material.
Toda a sociedade densa, diz o autor, se decompõe em vários “conjuntos”: o econômico,
o político, o cultural, o social hierárquico. O econômico só se compreenderá em ligação com
os outros “conjuntos”, dispersando-se neles, mas abrindo também suas portas para os
vizinhos. Há ação e interação. Essa forma particular e parcial do econômico que é o
capitalismo, só se explicará plenamente à luz dessas vizinhanças e dessas intrusões; aí acabará
por assumir o seu verdadeiro rosto. Braudel afirma que, toda a sociedade densa se decompõe
em vários “conjuntos”: o econômico, o político e o cultural, o social hierárquico. O
econômico só se compreenderá em ligação com os outros “conjuntos”, dispersando-se neles
mas, abrindo também, suas portas para os vizinhos, havendo ação e interação. Essa forma
particular e parcial do econômico que é o capitalismo só se explicará plenamente à luz dessas
vizinhanças e dessas intrusões, então assumirá o seu verdadeiro rosto. Portanto, o Estado
moderno que herdou o capitalismo, e não o fez, em um momento será favorecido e em outro
desfavorecido. Contudo, o capitalismo só será consolidado quando este se identificar com o
Estado.
Braudel traz no segundo capítulo uma referência à religião, e explica que mesmo sendo
uma força tradicional que diz não às novidades do mercado, do dinheiro, da especulação e da
usura, existe uma acomodação da Igreja que acaba dizendo sim às exigências imperiosas do
século, ou seja, ela aceita um aggiornamento, um modernismo. O autor cita Augustin
Renaudet que recorda que Santo Tomás de Aquino tinha formulado o primeiro modernismo
fadado ao êxito. Braudel também cita Max Weber, que afirma que o capitalismo, no sentido
moderno da palavra, seria uma criação, nem mais e nem menos, do protestantismo, ou melhor,
do puritanismo.
O autor Fernand Braudel explica que existem condições sociais para o surto e o êxito do
capitalismo.
Este exige uma certa tranquilidade da ordem social,
assim como uma certa neutralidade, ou fraqueza, ou
complacência, por parte do Estado. E, no próprio
Ocidente, existem graus para essa complacência: é por
razões predominantemente sociais e incrustadas em seu
passado que a França foi sempre um país menos favorável
ao capitalismo do que, digamos, a Inglaterra.
(Pág. 49, cap. II)

Fernand Braudel, no terceiro capítulo de seu livro, afirma a necessidade da utilização


dos termos economia mundial e economia-mundo, enfatizando a importância da segunda.
Segundo Braudel, e concordando com Sismondi, economia mundial entende-se pela economia
do mundo, considerada em seu todo o “mercado de todo o universo”. Economia-mundo, a
mais importante de acordo com Braudel, é a economia de somente uma porção do nosso
planeta, na medida em que essa porção forma um todo econômico.
O autor explica que a economia-mundo pode ser definida por uma tríplice realidade: Ela
ocupa um espaço geográfico específico, tem limites que a explicam e que variam; aceita
sempre um centro, uma cidade dominante (antes cidade-estado, hoje capital), que se entende
como capital econômica; se reparte em zonas sucessivas, ou seja, o núcleo e a região que se
entende em torno do centro, as províncias unidas, as zonas intermediárias em torno do núcleo
central e as zonas periféricas, muito amplas, que ficam às margens, na divisão do trabalho e
que caracteriza a economia-mundo. As zonas periféricas, explica Braudel, são as mais
subordinadas e, mais dependentes do que participantes, são áreas geralmente carentes e tendo
por razão disso, a situação geográfica. Toda vez que ocorre uma descentragem ocorre uma
recentragem, como se a economia-mundo não pudesse viver sem um centro de gravidade, sem
um polo. Porém, essas descentragens são muito raras.
As economias mundo se coexistem, tendo entre elas trocas extremamente limitadas e
situam-se no espaço povoado do planeta em regiões limítrofes bastante vastas, ou seja, que se
situam ou que vivem nos limites de uma extensão. Em geral, o comércio tem poucas
vantagens.
De acordo com o autor, essas economias-mundo foram as matrizes do capitalismo
europeu e, logo depois, mundial.
As centragens e descentragens das economias-mundo, de acordo com o autor, parecem
estar ligadas a crises prolongadas da economia geral.
Braudel afirma que nas economias-mundo, aqueles que estão no centro ou perto do
centro do polo triunfante, tem todos os direitos sobre os outros. A alegria de viver e a riqueza
concentram-se no centro ou perto do polo, o que faz manifestar os preços e os salários altos,
os bancos, as mercadorias reais, as indústrias lucrativas e as agriculturas capitalistas. É aí que,
de acordo com o autor, se concentram o ponto de partida e o ponto de chegada dos extensos
tráficos, o aluxo dos metais preciosos, das moedas fortes e dos títulos de crédito.
Resumindo, a economia-mundo europeia e a coexistência das sociedades capitalistas e
servis fixam todos os problemas ao mesmo tempo, o que alimenta o capitalismo, ou seja, as
zonas externas alimentam as zonas medianas e, sobretudo, as centrais, que são a
superestrutura capitalista. Como há reciprocidade de perspectivas, se o centro depende dos
abastecimentos provenientes da periferia, esta depende, por sua vez, das necessidades do
centro que lhe dita sua lei. Braudel exemplifica citando Immanuel Wallerstein: o capitalismo
é uma criação da desigualdade do mundo; para desenvolver-se, necessita das conivências da
economia internacional. É filho da organização autoritária de um espaço evidentemente
desmedido. De acordo com Braudel, Essa tese é uma explicação diferente do habitual modelo
sucessivo: escravatura, servidão, capitalismo. Essa tese mostra um sincronismo singular
demais para não ser de grande alcance, porém, não explica o que se passa fora das fronteiras
da economia-mundo europeia.
Ao final do século XVIII, com o aparecimento de uma verdadeira economia mundial, a
Ásia conheceu outras economias-mundo consolidadas e exploradas (China, Japão, Índia, Islã).
Braudel afirma, que as relações entre essas economias e as da Europa são superficiais, pois
envolvem apenas algumas mercadorias de luxo. Por outro lado, de acordo com Braudel, essas
trocas restritas superficiais são aquelas que reservam, para cada lado, o grande capital.
Braudel explica que, o capitalismo se põe e se esclarece a partir de duas fases: as
criações e dominações urbanas e as criações e dominações “nacionais”. Podemos dizer a
respeito disso que, o domínio econômico passa das cidades, ou cidades-estado, para as
capitais, configurando um mercado nacional.
Uma economia nacional é um espaço político
transformado pelo Estado; em virtude das necessidades e
inovações da vida material, num espaço econômico
coerente, unificado, cujas atividades podem encaminhar-se
em conjunto numa mesma direção.
(pág. 65/ cap. III)

Esse conceito é explicado por Braudel, citando a Inglaterra como a primeira a realizar a
façanha de ter uma capital econômica. Braudel explica que, por intermédio de Londres, as
províncias inglesas trocam seus produtos e os exportam, tanto mais que o espaço inglês foi
desde cedo liberado de suas alfândegas e seus pedágios internos. Logo após, finalmente, a
Inglaterra realizou sua união com a Escócia em 1707 e com a Irlanda em 1801. Explica
também, que há um engano, ao pensar que essa façanha já teria sido realizada pelas
Províncias Unidas, contudo, seu território era tão pequeno que não conseguia alimentar sua
população. Por outro lado, a Inglaterra tinha um centro, Londres, centro econômico e político
desde o século XV que, formando-se rapidamente, modelou convenientemente, ao mesmo
tempo, o mercado inglês, ou seja, as conveniências dos grandes comerciantes locais. Tendo
também, como fator determinante, sua insularidade, que ajudou a desprender-se da ingerência
do capitalismo estrangeiro, o que marca o fim de uma era multissecular, a das economias de
conduta urbana e das economias-mundo que, apesar do impulso e das cobiças da Europa,
eram incapaz de englobar o resto do universo.
A Revolução industrial inglesa, de acordo com Braudel, foi um banho de
rejuvenescimento. A Revolução Industrial, de acordo com o autor, foi um movimento lento e,
em seus começos, pouco compreensível. Braudel afirma que, o próprio Adam Smith viveu no
meio dos primeiros sinais dessa Revolução sem se aperceber disso. Parte do terceiro mundo se
industrializa lentamente, com muita dificuldade e muitos fracassos, tudo isso devido que, o
setor agrícola não acompanhou a modernização, tinha pouca mão-de-obra qualificada, a
demanda do mercado interno era insuficiente, os capitalistas locais preferiram colocar
dinheiro no exterior ao invés de investir no país, como também, o Estado se mostrou
esbanjador ou prevaricador e as importações não são compensadas pelas exportações.
Braudel comenta que houveram várias tentativas de revoluções industriais porém a
Inglaterra obteve êxito pelos seguintes motivos: os homens deixaram os campos, sem deixar
de manter sua capacidade de produção; os novos industriais encontraram a mão-de-obra
qualificada e a não-qualificada que precisavam; o mercado interno continuou se
desenvolvendo, mesmo com a alta dos preços; a técnica acompanhou os serviços e se mostrou
eficaz sempre que se fazia necessário; os mercados externos abriram-se em cadeia, um após
outro. E mesmo com a queda dos lucros, por exemplo, dos lucros da indústria do algodão, a
economia não entrou em crise. Em outras palavras, todos os setores da economia inglesa
responderam às exigências dessa investida vigorosa da produção, sem avarias e sem
bloqueios.
Entretanto, comenta Braudel,
a Revolução Industrial inglesa certamente não teria
sido o que foi sem as circunstâncias que fizeram então da
Inglaterra, praticamente, a senhora in contestada do
mundo. A Revolução Francesa e as guerras napoleônicas,
como se sabe, para isso contribuíram largamente. E se o
boom do algodão se consolidou de forma duradoura foi
porque o motor se viu incessantemente realimentado pela
abertura de novos mercados: a América portuguesa, a
América espanhola, o império turco, as Índias... O mundo
foi o cúmplice eficaz, sem querer, da Revolução Inglesa.
(pág. 71, cap. III)

Deste modo, Fernand Braudel afirma que, sem dúvida, o capitalismo de hoje mudou de
tamanho e de proporções. Adequou-se a todas as mudanças, de base e dos meios também
ampliados, mas que, não mudou de natureza.
Fernand Braudel, acerca da natureza capitalista da Inglaterra, e dela permanecer
inalterada até hoje, como explicação de sua teoria, mostra três provas em seu apoio:
- O capitalismo permanece fundamentado na exploração dos recursos e nas possibilidades
internacionais, ou seja, existe em dimensões mundiais.
- Se apoia sempre em monopólios de direito ou de fato, apesar das violências
desencadeadas a esse respeito contra ele.
- O capitalismo não abrange toda a economia, toda a sociedade que trabalha e, jamais
encerra uma e outra em seu sistema.
Confirmando sua opinião, próximo a conclusão de seu trabalho, Braudel, afirma que o
capitalismo deriva das atividades econômicas desenvolvidas na cúpula ou que tendem para a
cúpula. Esse capitalismo, nas palavras de Braudel, é de alto voo e flutua sobre a dupla
espessura subjacente da vida material e da economia coerente do mercado, representando a
zona de alto lucro.

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