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Índice
Introdução ............................................................................................................................... 4
Metodologia ............................................................................................................................ 4
Referencial Teórico ................................................................................................................. 5
Breve perfil linguístico de Moçambique................................................................................. 5
A Língua Portuguesa em Moçambique................................................................................... 5
Língua portuguesa e ensino em Moçambique ........................................................................ 6
A reconstrução do português em Moçambique ...................................................................... 7
Mudança sócio-simbólica ....................................................................................................... 7
Mudança linguística ................................................................................................................ 8
Lexicologia e inovação lexical................................................................................................ 9
Neologismo ........................................................................................................................... 11
Tipologia de neologismos ..................................................................................................... 12
Indícios da nativização: alguns traços................................................................................... 13
Traços fonético-fonológicos ................................................................................................. 13
Traços lexicais ...................................................................................................................... 14
Neologismos semânticos ....................................................................................................... 14
Morfo-sintaxe ........................................................................................................................ 14
Conclusão .............................................................................................................................. 15
Referências Bibliográficas .................................................................................................... 16
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Introdução
Moçambique é um país linguisticamente heterogéneo, onde coexistem diversas línguas
nativas de origem Bantu, faladas pela maioria da população, o Português e diversas línguas
estrangeiras. Dada a diversidade linguística, após a independência nacional, foi muito difícil
escolher uma das línguas nativas como língua nacional. Assim, Moçambique conferiu à língua
portuguesa o estatuto de língua oficial, por ser a única que poderia reduzir as desigualdades
entre as línguas nativas, desempenhando o papel de língua de unidade nacional, pois permite a
intercomunicação entre moçambicanos oriundos de diferentes locais, ou seja, falantes de
diferentes línguas nativas.
O português moçambicano, língua oficial de Moçambique, sofreu mudanças
significativas nos últimos anos devido ao surgimento de neologismos. Os neologismos referem-
se a palavras ou expressões recém-criadas que ainda não são amplamente aceitas em um idioma.
Não obstante o estatuto privilegiado da língua portuguesa em Moçambique, esta é falada
por 57% da população, de acordo com os dados do Censo de 2017 (ine.gov.mz). Na realidade,
para muitos moçambicanos, em particular nas zonas rurais e suburbanas, o Português é uma
língua segunda (língua não materna), geralmente aprendida na escola, por ter o papel de língua
veicular do conhecimento científico e técnico em Moçambique. Por esta razão, cabe ao
professor, à escola e à comunidade encontrar estratégias que possam conduzir à motivação para
a aprendizagem da língua portuguesa, mostrando as vantagens da sua aprendizagem.
A língua portuguesa é usada frequentemente nas instituições públicas e privadas e na
interacção com outros povos, promovendo, assim, a integração de Moçambique no contexto
internacional.Neste trabalho, exploraremos a definição e classificação dos neologismos no
português moçambicano, as razões do seu surgimento e as suas implicações para a identidade
linguística e cultural de Moçambique.
Metodologia
Para a elaboração do trabalho e como forma de dar maior sustentabilidade científica
recorreu-se à pesquisa bibliográfica e a análise do poema na perspectiva do objetivo definido.
A consulta bibliográficafoi utilizada para obtenção de bases teóricas e científicas para
justificarmos os factos e fenómenos a serem observados, através de consultas de uma gama de
livros e documentos com bases científicas.
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Referencial Teórico
Neste capítulo, desenvolveu-se as ideias de diversos autores sobre os conceitos-chave
desta pesquisa, foi desenvolvida com base na revisão da literatura que reflete sobre a temática
em discussão.
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Pode considerar-se que, devido ao facto de esta língua ser tipicamente aprendida na
escola, num ambiente em que os aprendentes estão expostos a um input relativamente
estruturado e têm acesso a materiais escritos nesta língua (cf. Mufwene, 1997: 49-50), está
entre os principais fatores (externos) que impediram o desencadeamento de um processo de
crioulização do Português em Moçambique.
No ensino básico moçambicano, há uma grande dificuldade dos alunos progredirem
nos estudos, sobretudo nas fases iniciais, devido ao custo da adaptação do português e da escrita
alfabética, porque o português não é língua materna da maioria da população.
Num estudo sobre o Ensino Primário, em Maputo, Timbane (2014), afirma que, “a maior
parte dos alunos que frequenta o ensino primário são crianças que entram na escola, mas
não leem e não escrevem em português, enfatiza dizendo que mesmo aqueles que aprendem
o português na família têm enormes dificuldades de se comunicar na sala de aulaˮ (Timbane,
2014, p.3).
Mudança sócio-simbólica
Um aspecto crucial na emergência de novas atitudes face ao uso da língua portuguesa
no Moçambique pós-colonial está ligado à sua promoção como língua oficial e como símbolo
da unidade nacional. A apropriação social do português é uma consequência do facto de que as
pessoas o associam a estes papéis e o reconhecem como um instrumento vital para a integração
social e construção da nação-estado. Neste processo, o português tem estado a sofrer uma
transformação ideológica e a adquirir valores sócio-simbólicos que surgem em conexão com o
ambiente político, social, cultural e económico da naçãoestado moçambicana independente.
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Uma variedade de casos ilustra o reconhecimento social do português como um
instrumento vital da integração social e construção da nação-estado em Moçambique. Um dos
exemplos pode ser o esforço frenético dos representantes das autoridades no sentido de
reforçarem a política linguística oficial conducente à apropriação da língua portuguesa, como é
o caso de repartições públicas ostentando dísticos que incitam as pessoas a usá-la.
Outro exemplo é a pronta vontade das pessoas para usarem o português como língua de
união nacional, especialmente em lugares onde se encontram regularmente pessoas de origens
diferentes. Em consequência directa do conhecimento consciente do papel do português como
uma língua de unidade nacional, os cidadãos recriminam os que teimam em não usarem esta
língua, principalmente em locais com uma grande diversidade étnica.
À medida que a ideologia oficial promove o português como língua oficial e língua de
unidade nacional, a consciência da importância dos valores sócio-simbólicos ligados a esta
língua é mais consolidada. Por esta razão, o português poderá ser atualmente um dos símbolos
que é amplamente reconhecido pelos moçambicanos para marcar a unidade nacional e através
do qual a ideia de nação é imaginada e vivida, especificamente entre os moçambicanos
urbanizados.
Mudança linguística
Do mesmo modo que o português no Moçambique independente está a adquirir novas
funções sociais, está também a desenvolver características estruturais e retóricas típicas. O
desenvolvimento dessas características é, contudo, uma continuação de um processo que
começou antes da independência. Mesmo antes da independência, o português falado em
Moçambique incluía traços típicos largamente propagados, ou seja, os chamados
moçambicanismos, usados até pelos colonos portugueses.
Tais moçambicanismos podem ser exemplificados com elementos lexicais, como
machimbombo (o equivalente na forma europeia a autocarro, também usada em Moçambique),
maningue (equivalente a muito), quinhenta (cinquenta centavos, na forma europeia, também
usada em Moçambique).
Depois da independência, o uso do português alargou-se e os sinais da sua
«moçambicanização» expandiram-se. Enquanto o uso do português se alargava, os mecanismos
que haviam contribuído para a aprendizagem e reforço do padrão linguístico se alteraram, dando
origem à proliferação de novas formas linguísticas. Por exemplo, com a saída massiva de
colonos reduziu significativamente a possibilidade de exposição dos aprendentes da língua
portuguesa à norma europeia. De facto, dado o imperativo primordial de se comunicar na língua
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oficial, formas incorrectas do uso, tomando como referência o padrão europeu, divulgaram-se,
até ao ponto de se tornarem tema normal de discussão, por exemplo, na imprensa local. Um
objecto frequente de discussão era a violação das normas gramaticais, o que alguns sentiam
como uma redução de nível e desrespeito pelo português.
Rosário (1982)apresenta um argumento importante que defende que a nativização do
português tem mais a ver com a incorporação de traços tais como elementos lexicais e modelos
comunicativos que invocam a nova «economia política» em que são usados do que com a
«subversão» dos padrões gramaticais europeus. Um exemplo elucidativo é a mudança do uso
dos termos criado ou moleque para empregado doméstico. As formas criado ou moleque eram
frequentemente usadas durante o tempo colonial, tendo, portanto, uma conotação racista e
opressiva. São, por isso, dificilmente usadas na actualidade em Moçambique, onde passou a
predominar uma ideologia que fomenta a antidiscriminação e a antiexploração. A expressão
empregado doméstico, atualmente em voga, é mais neutra, reflectindo uma nova percepção
social do trabalho doméstico, como resultado de uma mudança no ambiente político, económico
e social.
Neologismo
O neologismo é a criação de palavras novas que não fazem parte de um repertório finito
socialmente oficializado. Eles podem assumir diferentes formas, como estrangeirismos,
composição e derivação. Loanwords são palavras emprestadas de outras línguas, como
“computer” ou “internet”, que se tornaram amplamente utilizadas no português moçambicano
devido à influência do inglês. A composição envolve a combinação de duas ou mais palavras
para criar uma nova palavra, como “casa-telhado” ou “pé-descalço”.
Correia e Lemos (2009, 13) definem a neologia como “uma denominação que
corresponde a dois conceitos distintos:
Neste sentido, Correia e Lemos distingue dois tipos de neologia: a denominativa, que
resulta da necessidade de nomear novas realidades (objetos ou conceitos) anteriormente
inexistentes, e a estilística, resultando da procura de uma maior expressividade do discurso.
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Dessa forma, os neologismos surgem para nomear uma nova tecnologia (celular,
computador), da formação onomatopeia (zunzum, sussurrar, tiquetaque), a partir de nomes de
personagens históricos (Rudolf Diesel/diesel; Karl Max/marxismo; Buda/budismo). Com o
passar do tempo, algumas palavras novas serão adotadas por um grande número de usuários,
listadas no léxico dicionarizado e os falantes não as distinguirão do restante das palavras da
linguagem oficial. Contudo, neologismos criados no âmbito familiar não são incorporados ao
uso geral.
O surgimento de novas tecnologias e a ampla divulgação de textos através da Internet
permitiu o aparecimento de um número cada vez mais amplo de neologismos e
consequentemente a ampliação do léxico do universo virtual. Do ponto de vista gramatical, a
formação das palavras pode resultar de vários recursos disponíveis: redobro (ex.: corre-corre),
composição (ex.: porta-joias), amálgama (ex.: radiofonia, rádio + telefonia), empréstimos
linguísticos (ex.: insight) ou parte deles (ex.:deletar, gatonet) e derivação (ex.: assistencialismo,
liberalidade).
O neologismo por derivação é um mecanismo gramatical que os escritores empregam
continuamente para expressarem-se de forma criativa. A criação de palavras novas depende de
um mecanismo gerativo da mesma natureza daquela que nos permite criar sentenças.
Tipologia de neologismos
Ao tratarem de tipologia de Neologismos, Figueiredo & Figueiredo (2003:299)
distinguem dois tipos de neologismos: os de forma e os de sentido.
Os neologismos ao nível da forma consistem em formar novas palavras não atestadas
no estádio anterior do registo da língua. Essas formas podem ser empréstimos de outras línguas
ou palavras resultantes dos processos existentes na língua para a formação de palavras.
No entender de Figueiredo & Figueiredo (2008), os neologismos de forma
correspondem a:
a) uma palavra nova criada por derivação (substanciar-se, praiistas, etc.)1;
b) uma palavra nova criada por truncação (tuga, prof. etc.);
c) uma palavra nova criada por composição (teledependente, quadro-robot, etc.);
d) uma palavra nova criada por mudança de categoria gramatical (um quotidiano, um
nadinha,etc.);
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Todos os exemplos desta parte do trabalho são de Figueiredo & Figueiredo (2008).
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e) uma palavra estrangeira (fastfood, paparazzi, etc.);
f) uma palavra de algumas letras a partir de uma expressão longa (laser – criada a partir
da expressão inglesa light amplificationbystimulatedemissonofradiation);
g) uma palavra criada a partir de duas (espatifurada de espatifada + furada).
Os neologismos de sentido são aqueles que correspondem auma nova associação
significado-significante. Tais neologismos, também conhecidos por neologismos semânticos,
correspondem a
a) uma extensão de sentido de uma palavra (feira significa “dia de festa”, hoje designa
“o lugar onde em certos dias da semana se vendem produtos”);
b) um emprego figurado por metáfora (uma corrente de opinião; uma festa brava, etc.)
A estes dois tipos de neologismos, Sengo (2010) acrescenta os neologismos
pragmáticos. Para ela, estes neologismos são resultantes da passagem de uma palavra
previamente usada num determinado registo para outro da mesma língua. A novidade
pragmática, na ótica de Sengo (2010), implica, normalmente novidade semântica. Esta
autoracita Correia (1998:63) que considera que em Portugal houve unidades lexicais que
passaram da gíria dos marginais dos bairros lisboetas para registos menos marcados
socialmente, como a linguagem dos jovens e até o registo familiar.
Traços fonético-fonológicos
Um aspeto evidente que dá um carácter único ao português falado em Moçambique é a
variação do sotaque, que muitas vezes surge em conexão com uma transferência de
propriedades das línguas autóctones.
Ex. gato [gatu]> [katu].
✓ golo [golu]>[γolu].
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Traços lexicais
Observam-se em falantes do Português em Moçambique vários tipos de inovações
lexicais que resultam de uma aplicação de diferentes processos, em que se incluem os seguintes:
a) Empréstimos das línguas autóctones.
Ex. Khanimambo, ‘obrigado’, do Xironga e Xichangana.
Neologismos semânticos
Ex. barraca, usada em referência a um tipo de quiosque, geralmente construído com
material precário, como o caniço.
Ex. mola, usada com o significado de dinheiro, como em «Estou sem mola».
Ex. batedor, usada com o sentido de ‘ladrão’, como em «batedor de carros». Deriva do
verbo «bater», que no Português informal moçambicano pode também significar ‘roubar’.
Morfo-sintaxe
Podem encontrar-se exemplos de padrões morfossintáticos inovativos.
Ex. O rapaz que ela gostava dele é moçambicano.
O exemplo usa o verbo «gostar de» e, seguindo o modelo europeu, a frase deveria ser
tal como a seguinte: O rapaz de que ela gostava é moçambicano.
Ex: Nós fomos ditos que hoje não há aulas.
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Conclusão
O presente trabalho intitulado aos neologismos no Português de Moçambique, começou
por descrever a situação linguística de Moçambique, como forma de se entender o contexto em
que o português está implantado neste país, ao que se seguiu a caracterização do processo da
sua inserção no contexto moçambicano, bem como os aspectos problemáticos daí decorrentes.
Assim, ao tratar dosneologismos no português de Moçambique, o trabalho analisou os
processos que determinaram a sua mudança da posição de língua colonial para a de língua que
é reconhecida como língua oficial e símbolo da unidade nacional. Colocou-se a ideia de que o
português está a sofrer um processo de nativização, já que se associa a novos valores sócio-
simbólicos e traços linguísticos.
Esta nativização, no entanto, tem mais a ver com o novo uso social do que com a
diferenciação da língua em si. Ao português em Moçambique é conferido um carácter singular
pela ideologia que motiva os seus usos e não somente pelas suas inovações linguísticas.
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Dissertação de Mestrado. Porto, inédito.
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