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COORDENAÇÃO EDITORIAL
Do entendimento à parceria
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vizinho; seria não mais a busca do controle sobre os avanços do país vizi-
nho, mas a perspectiva de situar a Argentina em um lugar de destaque na
política externa brasileira. Esse movimento em direção à Argentina foi um
passo importante de concretização de um universalismo não-excludente e
da construção de maior autonomia do Brasil frente os Estados Unidos a
partir da dimensão regional.
O chanceler Saraiva Guerreiro tinha percepções diferentes das de Aze-
redo da Silveira quanto à região e, mais especificamente, no que diz respeito
à Argentina. Em sua obra Lembranças de um empregado do Itamaraty (1992),
Guerreiro se refere à divergência de Itaipu como questão que “azedava as
relações bilaterais havia 11 anos” (1992:92) e “longa e estúpida pendên-
cia” (1992:97). Cabe destacar que, do lado argentino, o embaixador Oscar
Camilión foi chanceler ao longo do ano de 1981, tendo contribuído muito
para o entendimento entre os dois países.
Em março de 1979 o general Figueiredo assume a presidência do Brasil
com a determinação de solucionar o atrito com a Argentina e reequilibrar
as relações entre os dois países. Dentro de um projeto de aproximação
com América do Sul e reorientação terceiro-mundista, a aproximação com
a Argentina seria um elemento fundamental.
Em outubro daquele mesmo ano, depois de negociações rápidas entre
chanceleres do Brasil, Argentina e Paraguai, os presidentes dos três países
encontraram-se em Ciudad Stroessner (atual Ciudad del Este) para a assi-
natura do Acordo Tripartite de Itaipu e Corpus. O Acordo consagrava as
características técnicas defendidas pelo governo brasileiro enquanto, por
outro lado, assimilava o formato tripartite, unificando no mesmo documento
Itaipu e Corpus, o que havia sido uma reivindicação do governo argentino.
E assim abria caminho para uma série de medidas bilaterais na construção
de um esquema de medidas de confiança recíproca entre os dois países.
Em 1980 o presidente Figueiredo visitou Buenos Aires acompanhado
de ministros e empresários. No histórico das relações bilaterais, essa foi a
terceira viagem de um presidente brasileiro a Buenos Aires; os outros dois
haviam sido Campos Sales e Getúlio Vargas. A visita teve um importante
valor simbólico e abriu caminho para uma série de declarações dos dois
presidentes ressaltando termos como amizade, cooperação e união entre os
dois países. Em termos de construção diplomática, os discursos têm muito
peso e formam ideias.
Nessa visita foram assinados diversos acordos, sendo o mais importante
o acordo de cooperação nuclear. Ambos os países tinham em comum tanto
a disposição de levar adiante um programa nuclear autônomo quanto o fato
de não terem nem ratificado o Tratado de Tlatelolco, nem assinado o Tratado
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vo. Esse apontou, por sua vez, para um novo ordenamento do comércio
internacional, da divisão internacional do trabalho, da competitividade
das economias nacionais, assim como substituiu os critérios de vantagem
comparativa que vigoravam até então. Isso teve um impacto negativo sobre
as economias dos países periféricos em geral – em particular nos casos do
Brasil e da Argentina –, aumentando o fosso tecnológico entre o Norte e o
Sul no que diz respeito à consequente marginalização do último. Também
devem ser levadas em conta as transformações que começavam a ocorrer
no cenário internacional no âmbito político a partir da experiência da pe-
restroika na União Soviética e o novo impulso vivido pelas experiências de
integração em curso.
Esse novo cenário teve impactos sobre a inserção econômica internacio-
nal do Brasil, até então marcada, sobretudo, pela obstrução à evolução dos
regimes internacionais, que foi se tornando progressivamente mais flexível no
trato a questões como a propriedade intelectual e a inclusão dos novos temas
(Pinheiro, 2004:52). Incentivou, por outro lado, a aproximação econômica
com a Argentina, que vivia, naquele momento, problemas semelhantes aos
do Brasil. Se não estava, como Brasil, saindo da longa trajetória de uma
estratégia de desenvolvimento, a Argentina estava com sua economia de-
sorganizada e buscando novos rumos. Segundo Gardini (2010:45), os dois
países partilhavam necessidades urgentes comuns de encontrar uma nova
estratégia de desenvolvimento, que comportasse a modernização industrial,
investimentos e mecanismos de estabilização anti-inflacionária. Durante
esses anos – que formaram parte da chamada, em termos econômicos,
década perdida – o ordenamento econômico da região experimentou ce-
nários incertos e iniciativas de controle fracassadas foram adotadas tanto
na Argentina quanto no Brasil.
Em termos de ações externas, a diplomacia brasileira buscou, sem
modificar radicalmente o comportamento adotado durante o período de
Figueiredo, assumir compromissos que não puderam ser assumidos durante
o governo militar: foram reatadas as relações com Cuba, o Brasil entrou
formalmente para o Grupo de Apoio a Contadora e foram assinadas as con-
venções internacionais de direitos humanos. Schittini (2011) usa para tal a
expressão “resolvendo hipotecas”. A formação do Grupo do Rio, em 1986,
também foi um passo importante, e um ganho significativo para a dimensão
regional. Em relação aos Estados Unidos o teor das relações orientou-se para
divergências nas áreas econômicas e de ciência e tecnologia (com destaque
para a política brasileira de defesa da informática).
Em termos da formulação da política externa, o Itamaraty, durante
aquele período, foi dirigido por dois políticos – Olavo Setúbal até fevereiro
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