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Em todo caso, no governo Costa e Silva, o Brasil irá retomar sua política externa
autônoma, inspirada na política externa independente. Foi um governo que deixou de lado o
alinhamento à Washigton e se permitiu ter algumas diferenças muitos claras em relação aos
Estados Unidos. Um dos exemplos mais contundentes disso no governo Costa e Silva foi a recusa
do Brasil em aderir ao Tratado de Não-Proliferação (TNP), em 1968, por entender que era um
tratado injusto e desigual e que “congelaria” o poder mundial na mão das poucas potências
nucleares.
É ainda no governo Médici que ocorre a primeira missão comercial à China comunista,
que busca, principalmente, abrir o mercado chinês para o café brasileiro. É importante notar
que, politicamente, o Brasil se colocava totalmente contra a China comunista. Em 1971, na
votação da Assembleia Geral da ONU que irá reconhecer a China continental como a China
legítima, o Brasil votou contra, assim como os EUA. O Brasil também tentará expandir suas
relações comerciais com a União Soviética e, durante pouco tempo, após o primeiro choque do
petróleo de 73, o Brasil chegou a importar petróleo da URSS.
Ao mesmo tempo que havia espaço para antagonismos com Washington, havia espaço
para afinidades. Durante o governo Médici, o Brasil apoia golpes militares na América Latina, o
que convergia largamente com Washigton. O Brasil apoia os golpes, por exemplo, do Uruguai,
da Bolívia e do Chile. Esse é um momento em que é lançada, nos EUA, em um contexto de
rompimento dos EUA com o padrão dólar-ouro e de gastos absurdos com a Guerra do Vietnã, a
Doutrina Nixon, que previa o repasse a potências regionais aliadas das responsabilidades de
contenção ao comunismo. O apoio desses golpes pelo Brasil não ocorreu para agradar os EUA,
mas porque havia uma compatibilidade doméstica de repressão aos “subversivos”,
exemplificada muito bem pela Operação Condor.
Na esteira do conflito da Guerra do Yom Kippur, os países árabes decidem por restringir
a oferta de petróleo, gerando o 1º choque do petróleo de 1973. O Brasil, com medo de sofrer
boicote pelos países árabes por ser próximo aos EUA, passa a buscar o avanço nas boas relações
com o Oriente Médio e com o mundo árabe. Isso terá início ainda no governo Médici mas será
aprofundado no governo Geisel.
Após tentar realizar uma parceria com os EUA no âmbito nuclear e não ter sido bem
sucedido, o Brasil assina um acordo nuclear com a Alemanha, o que melhora a oferta de energia
nuclear no Brasil e possibilita a construção de Angra II. Os EUA fizeram o possível para que o
acordo não fosse assinado, mas se recusavam a fazer a transferência de tecnologia para o Brasil.
O presidente americano Jimmy Carter vai ter nos direitos humanos uma de suas
principais preocupações de política externa, e passa a fazer muitas críticas às ditaduras sul-
americanas, incluindo o Brasil. Para o Brasil, isso se trata de uma ingerência externa indevida
dos EUA sobre o Brasil. Após tomar ciência de que tramitava no Congresso Americano um
projeto de lei que limitaria a ajuda militar e econômica dos EUA a países com sinais crônicos de
violação sistemática dos direitos humanos, o governo de Geisel decide-se pelo rompimento do
acordo militar com os EUA em 1972.
No governo Geisel, há uma postura africanista ainda maior do que aquela que houve na
PEI, isso porque são revolvidas as questões que impediam uma maior política do Brasil na África.
O governo Geisel coincide com a Revolução dos Cravos em Portugal que encerra o salazarismo
e acelera a independência das colônias portuguesas na África. O Brasil, então, passa a apoiar as
independências dessas colônias africanas, sendo o primeiro país ocidental a reconhecer a
independência de Guiné-Bissau e o primeiro país no mundo a reconhecer a independência de
Angola, que estava sob um governo marxista do MPLA. Ainda nesse sentido, o Brasil vai se
permitir um afastamento do regime do apartheid da África do Sul, em um momento em que a
comunidade internacional vai aumentar o cerco sob o país sul-africano.
Também houve uma grande aproximação com o mundo árabe, inclusive com posições
favoráveis aos palestinos. O Brasil vai permitir a abertura de uma representação da OLP em
Brasília e, dentro da ONU, vai votar a favor de uma resolução contra o racismo e que considera
o sionismo uma forma de racismo. Na Ásia, Geisel realizou uma viagem inédita para o Japão, em
um momento que o Japão se colocava como grande investidor no Brasil na área da agricultura
e da mineração, por exemplo.
O plano internacional foi um pouco mais desafiador que aquele do governo Geisel. Isso
porque o período foi marcado pelo que se chama de uma forte retomada nas tensões de
bipolaridade após a invasão da URSS ao Afeganistão na primeira metade da década de 80. Os
EUA reagiram com um maior militarismo e intervencionismo, tendo invadido, por exemplo, em
1983, o pequeno país caribenho de Granada, intervenção que foi criticada pelo Brasil. Figueiredo
conseguiu, contudo, manter uma política externa autônoma apesar das instabilidades
domésticas e internacionais, e sua política externa foi denominada de “universalismo”.