A Política Externa do Governo Provisório (1930-1934)
O período compreendido entre 1930 e 1934 é caracterizado como Governo
Provisório e teve início após a Revolução de 1930, evento este que levou à deposição do presidente Washington Luís e à ascensão de Getúlio Vargas no poder. Esse governo foi internamente instável e complexo, com forças políticas dissidentes (elites, tenentes e a “velha ordem”, de modo geral) e com Vargas buscando conciliá-las. As preocupações em relação ao internacional centravam-se na economia, sobretudo em relação ao café e na questão das divisas. Um dos episódios mais emblemáticos desse período foi a tentativa do Ministério das Relações Exteriores de impedir que os paulistas comprassem armas no exterior e o reconhecimento do Estado de beligerância. Afrânio de Melo - famoso diplomata brasileiro - foi bem sucedido nessa missão ao incorporar o princípio de Havana e conseguir interromper toda a comunicação telegráfica internacional de São Paulo. Entretanto, alguns no Itamaraty eram a favor de São Paulo e decidiram utilizar seus contatos internacionais para ajudar. O governo federal buscou apoio de armadas aos franceses, mas que não foram entregues por “motivos políticos”. Por essas instabilidades, é importante notar que, inicialmente na década de 30, a política brasileira - por questões de necessidade - se voltou mais para o cenário interno. No entanto, a década de 1930 foi unanimemente percebida como um divisor de águas na história das relações internacionais do Brasil. Primeiramente, cabe destacar o paradigma desenvolvimentista que Vargas buscou estabelecer, com uma política externa à serviço do desenvolvimento industrial do país. Esse projeto foi motivado por questões estruturais externas, como a Grande Depressão, o que explica o intervencionismo reativo adotado em oposição ao laissez-faire pré-crise de 1929. O Estado, então, forneceria os meios de suporte ao empreendedorismo (como estabilidade econômica, acesso aos mercados internacionais, infraestrutura de transporte e energia, estímulo à educação, etc.) para implementar uma política de substituição de importações. É importante destacar que essa não foi uma mudança do dia para noite, mas um paradigma gradualmente implementado. Em consonância ao projeto desenvolvimentista, o Brasil assinou acordos de comércio bilaterais com dezenas de países buscando promover o escoamento da produção do café e diversificar as parcerias do país, tudo isso para diminuir a dependência do mercado norte-americano. Mais uma vez, mais de 30 acordos comerciais foram celebrados, sendo grande parte deles por Afrânio de Melo Franco. Quanto à análise de parceiros externos brasileiros, observava-se quais atores poderiam efetivamente viabilizar a modernização: os Estados Unidos e a Alemanha nazista. A relação do Brasil com os EUA passava de uma transição da política do Big Stick para a Política da Boa Vizinhança. Apesar de ambas visarem a supremacia comercial norte-americana na região, a segurança dos bens e direitos dos cidadãos estadunidenses e a aliança diplomática contra inimigos europeus (com base na Doutrina Monroe), isso não era mais feito de maneira violenta, mas com um método de soft power que priorizava empréstimos, cooperação, missões financeiras e que clamava não na intervenção pela democracia, mas pelo pan-americanismo como solidariedade geográfica entre os povos da América. No que tange às relações com a Alemanha, a estratégia de aproximação estava relacionada aos canais mais tradicionais de influência bilateral: o comércio, os intelectuais e os militares. O que era praticado era uma política de “comércio compensado”: como a Alemanha também carecia de divisas, foi adotada uma espécie de escambo sofisticado nos quais os produtos brasileiros comprados no Brasil por uma câmara de comércio compensando trocavam esses mesmos bens por material manufaturado alemão adquirido com o desembolso de reichsmark por uma Câmara de comércio compensado similar na Alemanha. Essa operação excluía a necessidade de divisas.
Referência Bibliográfica
ALMEIDA, João Daniel. Manual de História do Brasil. Fundação Alexandre de Gusmão.
Brasília, 2013. Capítulo 6: “O Governo Provisório (1930-1934): Forças Políticas e Dissidências” e “As relações internacionais do Brasil (1930-1945).
TCC de Graduação - Soft Power A Política de Boa Vizinhança No Governo Roosevelt e o Cinema Como Meio Propagador Do Pan-Americanismo No Brasil - Giulla Angelica Marton