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Aluna: Maria Carolina Rangel Cassella (2110649)

Política Externa Brasileira I | Prof. João Daniel

A Política Externa do Governo Provisório (1930-1934)

O período compreendido entre 1930 e 1934 é caracterizado como Governo


Provisório e teve início após a Revolução de 1930, evento este que levou à deposição do
presidente Washington Luís e à ascensão de Getúlio Vargas no poder. Esse governo foi
internamente instável e complexo, com forças políticas dissidentes (elites, tenentes e a “velha
ordem”, de modo geral) e com Vargas buscando conciliá-las. As preocupações em relação ao
internacional centravam-se na economia, sobretudo em relação ao café e na questão das
divisas. Um dos episódios mais emblemáticos desse período foi a tentativa do Ministério das
Relações Exteriores de impedir que os paulistas comprassem armas no exterior e o
reconhecimento do Estado de beligerância. Afrânio de Melo - famoso diplomata brasileiro -
foi bem sucedido nessa missão ao incorporar o princípio de Havana e conseguir interromper
toda a comunicação telegráfica internacional de São Paulo. Entretanto, alguns no Itamaraty
eram a favor de São Paulo e decidiram utilizar seus contatos internacionais para ajudar. O
governo federal buscou apoio de armadas aos franceses, mas que não foram entregues por
“motivos políticos”. Por essas instabilidades, é importante notar que, inicialmente na década
de 30, a política brasileira - por questões de necessidade - se voltou mais para o cenário
interno.
No entanto, a década de 1930 foi unanimemente percebida como um divisor de
águas na história das relações internacionais do Brasil. Primeiramente, cabe destacar o
paradigma desenvolvimentista que Vargas buscou estabelecer, com uma política externa à
serviço do desenvolvimento industrial do país. Esse projeto foi motivado por questões
estruturais externas, como a Grande Depressão, o que explica o intervencionismo reativo
adotado em oposição ao laissez-faire pré-crise de 1929. O Estado, então, forneceria os meios
de suporte ao empreendedorismo (como estabilidade econômica, acesso aos mercados
internacionais, infraestrutura de transporte e energia, estímulo à educação, etc.) para
implementar uma política de substituição de importações. É importante destacar que essa não
foi uma mudança do dia para noite, mas um paradigma gradualmente implementado.
Em consonância ao projeto desenvolvimentista, o Brasil assinou acordos de
comércio bilaterais com dezenas de países buscando promover o escoamento da produção do
café e diversificar as parcerias do país, tudo isso para diminuir a dependência do mercado
norte-americano. Mais uma vez, mais de 30 acordos comerciais foram celebrados, sendo
grande parte deles por Afrânio de Melo Franco.
Quanto à análise de parceiros externos brasileiros, observava-se quais atores
poderiam efetivamente viabilizar a modernização: os Estados Unidos e a Alemanha nazista. A
relação do Brasil com os EUA passava de uma transição da política do Big Stick para a
Política da Boa Vizinhança. Apesar de ambas visarem a supremacia comercial
norte-americana na região, a segurança dos bens e direitos dos cidadãos estadunidenses e a
aliança diplomática contra inimigos europeus (com base na Doutrina Monroe), isso não era
mais feito de maneira violenta, mas com um método de soft power que priorizava
empréstimos, cooperação, missões financeiras e que clamava não na intervenção pela
democracia, mas pelo pan-americanismo como solidariedade geográfica entre os povos da
América.
No que tange às relações com a Alemanha, a estratégia de aproximação estava
relacionada aos canais mais tradicionais de influência bilateral: o comércio, os intelectuais e
os militares. O que era praticado era uma política de “comércio compensado”: como a
Alemanha também carecia de divisas, foi adotada uma espécie de escambo sofisticado nos
quais os produtos brasileiros comprados no Brasil por uma câmara de comércio compensando
trocavam esses mesmos bens por material manufaturado alemão adquirido com o desembolso
de reichsmark por uma Câmara de comércio compensado similar na Alemanha. Essa
operação excluía a necessidade de divisas.

Referência Bibliográfica

ALMEIDA, João Daniel. Manual de História do Brasil. Fundação Alexandre de Gusmão.


Brasília, 2013. Capítulo 6: “O Governo Provisório (1930-1934): Forças Políticas e
Dissidências” e “As relações internacionais do Brasil (1930-1945).

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