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O Dia Que Durou 21 Anos (documentário)

Lorenzo Molk Miotello – 801864

O documentário aborda o governo de João Goulart e os fatores e situações que levaram ao


acontecimento do Golpe de 1964. Jango começa seu governo pessoal com promessas de Reforma
Agrária e do Plano Trienal, este sendo uma forma de tentar frear os índices inflacionários
altíssimos, herdados das obras monumentais de JK, feitas com capital privado. O Plano Trienal,
inspirado da doutrina socialista, a qual Jango tinha simpatia, constava uma revalorização da
mercadoria nacional e distribuição de renda, sem muito apoio interno para as medidas e
expectativas de PIB baixíssimas. Sua próxima cartada era a Reforma Agrária, com seu começo no
Rio Grande do Sul, de Brizola, que desapropriou terras improdutivas e distribuiu a agricultores.
Esse acontecimento, a pressão da UDN e dos militares, a passeata da família com Deus pela
liberdade e a explosão da Revolução Cubana foram o suficiente para depor João Goulart, dando
início ao dia que duraria 21 anos, com a promessa de “salvaguardar a democracia”, que o Brasil não
“virasse Cuba” e de “interceptar o avanço do comunismo”.

O início do documentário já ilustra bem o que viria a ser aquele dia, repressão policial, violência,
perseguição, tortura. Logo de início já é exposto o claro interesse estadunidense de exercer
influência no Brasil, e um documento que narrava, detalhadamente, como seria esquematizado o
golpe à democracia brasileira, por ser um país de um potencial econômico e político vastíssimo.
Com a ajuda de financiamentos e apoios promovidos pelos Estados Unidos, como a entrega de
armas gás lacrimogênio e um porta-aviões, conspiradores conseguiram arquitetar o golpe militar ao
governo de João Goulart. Jango fugiu para o Rio Grande do Sul, deixando o posto de presidência
vago. Um golpe rápido e simples, fomentado pela mídia patrocinada pelos Estados Unidos, obteve
amplo apoio popular de uma burguesia agropecuarista e vasta classe média.

O governo de Castelo Branco deu início a cassação de mandatos, perseguição política e o


encarceramento de mais de 3 mil pessoas acusadas de atividades consideradas suspeitas. Após a
eleição de caráter não democrático de 1966, Costa e Silva assume como 27° Presidente do Brasil,
em seus discursos, o então presidente deixava claro sua preocupação com a “União a integridade e a
independência do Brasil”, “respeitando a constituição”, com um AI-5 a ser promulgado. Essa farsa
desse lema, muito próximo ao discurso de Jango, escondida as sombras das características da
Ditadura Militar, o chamado “Milagre Econômico” não teve nada a ver com união ou integridade. O
aquecimento do mercado voltado para o setor de comércios trouxe um PIB brasileiro bem alto, daí
surge a ideia do “Brasil: ame-o ou deixe-o”, como forma de repreender opositores ao regime e
destacar o ufanismo.

Esse aparente crescimento econômico não era sentido por todos os brasileiros, o “milagre”
aconteceu só para os mais abastados, aprofundou as disparidades econômicas e trouxe uma falsa
sensação de crescimento econômico real do Brasil, pois, o progresso não era sentido por todos os
brasileiros, as mercadorias eram importadas e investidas no setor comercial, então não se via um
crescimento industrial nacional, o que se via eram poucos e, principalmente, os Estados Unidos,
saírem no lucro e no desenvolvimento em si. A “independência” voltava aos tempos antes da
própria Independência do Brasil. Cada vez mais dependíamos do mercado externo, dos produtos
industrializados americanos, o que ocorre até hoje. O Brasil, que poderia ser uma das potências
globais mais promissoras, é hoje exportador de produtos agrícolas e matéria-prima, remetendo ao
pacto colonial.

Costa e Silva assinou o AI-5, que entrou em vigor somente no governo Médici, e teve como
estopim a passeata dos 100 mil, onde morreu um estudante em consequência da violenta repressão.
Habeas Corpus estava banido, tortura física e psicológica em interrogatórios foram permitidas, o
sequestro de pessoas a qualquer hora do dia para fins investigativos se tornou algo comum, censura
prévia a todos os meios de comunicação, com destaque para músicos e artistas, e a proibição de
aglomerados de pessoas.

O AI-5 era o golpe dentro do golpe, para perpetuarem-se no poder, prender, exilar, torturar e matar
opositores, para preservar a dita “democracia”. Com o auxílio do DOPS e do DOI-CODI, havia o
monitoramento de supostos grupos de esquerda e de repressão. Como muito bem ilustrado no
documentário, não faltam documentos que provem o desumano apoio dos Estados Unidos a esse
ilegítimo regime. O país tropical, abençoado por Deus, estava mais voltado ao exorcismo.

O Dia Que Durou 21 Anos traz estudiosos e figuras importantes que presenciaram e viveram nesse
período tão sombrio da nação e expõem documentos, filmagens e áudios que evidenciam a tamanha
relevância dos Estados Unidos na política brasileira e o quão caótico, corrupto e anti-democrático
foi o período de transição entre o governo do Jango e a Ditadura Militar no Brasil.

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