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CAPÍTULO 4: IMPACTO POLÍTICO E ECONÓMICO DO BREXIT PARA O

REINO UNIDO

As consequências do Brexit são difíceis de prever, uma vez que, é a primeira vez que
um país membro decide sair do bloco económico desde sua criação. Não obstante, trata-
se de um assunto recente e que ainda não produziu grande impacto na Comunidade
Internacional. Contudo, já é possível observar alguns impactos significativos na
economia, na política e na sociedade do Reino Unido e dos países europeus. É neste
âmbito que o presente capítulo procura identificar o impacto político e económico do
Brexit para o Reino Unido.

4.1. Impacto Económico


Do ponto de vista económico os efeitos foram imediatos. No dia seguinte ao referendo,
a libra esterlina registou uma forte queda, assim como o dólar australiano e o dólar
neozelandês. A bolsa e o mercado mobiliário sofreram uma forte queda naquela semana,
por isso, o governo britânico baixou as taxas de juros e fez empréstimos bancários para
conter uma possível perda de capitais (Bezerra, 20181).

Em consequência da subida da inflação e da estagnação do crescimento dos salários,


registou-se uma diminuição do consumo por parte dos britânicos. Em 2017 as despesas
de consumo cresceram em média 0,2% por mês, o pior resultado desde 2013. Segundo a
ONS (2018), a despesa das famílias cresceu 1,7% em 2017, abaixo dos 3,1% registados
em 2016. Dados divulgados mostraram que o número de novos carros particulares
registados no Reino Unido tem vindo a cair drasticamente, continuando uma tendência
que se tinha vindo a verificar nos últimos dois anos, mas que se intensificou desde o
referendo. Também a poupança das famílias desceu para os 4,9% em 2017, o valor mais
baixo desde que há registos.

Ainda nesta perspectiva (Dhingra et al., 2015: 20), sustentam que, conforme é sabido a
UE é o principal parceiro económico do Reino Unido, respondendo por cerca da metade
do comércio do Reino Unido e suas exportações para o bloco correspondem a quase
15% do produto interno bruto (PIB) daquele país. Naturalmente, a saída do Reino
Unido, consequentemente, do mercado único associado à área de livre comércio, levou
a uma redução do fluxo de comércio entre ambas partes, assim como um aumento nos

1
Bezerra Juliana. (2018) Brexit. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/brexit/>. Acessado
em: 20 de Abril de 2022.
custos directos desse comércio em função da reintrodução tanto de barreiras tarifárias
como não tarifárias.

Já no ponto de vista da União Europeia, a saída do Reino Unido da organização também


não é positiva economicamente e a enfraquece como bloco económico. Isto porque, o
Reino Unido tem uma das economias mais fortes e dinâmicas da Europa. Somente em
2014, o Reino Unido contribuiu com 11,3 bilhões de euros à UE, o segundo maior valor
oferecido pelos países-membros. Ao lado dos países como Alemanha e França, o Reino
Unido é um dos pilares da economia do bloco económico, de modo que a consequência
da saída deste do bloco implica no compartilhamento desta responsabilidade financeira
entre os outros países (Dhingra et al., 2016: 5).

4.2. Impacto Político


Na política, o primeiro-ministro britânico, na altura David Cameron, que era favorável a
permanência do Reino Unido, renunciou ao cargo tendo sido substituído por Theresa
May. O Reino Unido teve ainda que renegociar todos os tratados comerciais e políticos
já firmados com os países membros da União Europeia, especialmente com os Estados
Unidos e o Japão, para permitir que as empresas britânicas vendam produtos e serviços
para países da UE sem serem atingidas por tarifas excessivas e outras restrições (Alves,
2015: 18). O que pode significar em perdas económicas, aumento de tributação na
comercialização e principalmente maior burocracia nas negociações internas na medida
em que a negociação de novos acordos de comércio possivelmente implicaria em
diversas regras, protocolos e regulamentos que as associações requerem, o que poderia
colocar o Reino Unido em situações delicadas para manter seu status comercial e
político para com a UE e o resto do mundo.

A saída do Reino Unido da União Europeia também reacendeu a polémica no tocante à


independência escocesa. Isto porque, historicamente, grande parte dos escoceses sempre
defenderam a saída da Escócia do Reino Unido, o que resultou, no ano de 2014, a
realização de um referendo que propunha a independência daquele país. Na época, com
uma mínima diferença nos votos, os eleitores votaram pela permanência da Escócia no
Reino Unido (Smeral, 2009: 3). No mesmo sentido, em relação ao Brexit, segundo o
Lang, (2016: 142) citado por Pedroza, et al (2018: 664), sustenta que os escoceses foram
relativamente mais favoráveis ao lado da permanência do Reino Unido na União
2
Lang, João Pedro (2016), Brexit: o início do fim da União Europeia. Disponível em:
http://mercadopopular.org/2016/06/brexit-o-inicio-do-fim-da-uniao-europeia/.
Europeia, sendo 54% favoráveis à permanência versus 44%. Contudo, o referendo foi
realizado com toda população do Reino Unido, não somente com a Escócia, sendo
definida a saída do Reino Unido do bloco económico. Sendo assim, uma vez que a
Escócia integra o Reino Unido e ainda que a maior parte de sua população discordasse
do Brexit, o país teria que deixar o bloco europeu.

Entretanto, a Escócia inconformada com o resultado do Brexit e diante da perspectiva de


que a região fique fora da União Europeia, em Março de 2017, o Parlamento escocês
apoiou o projecto, proposto pela Primeira-Ministra escocesa Nicola Sturgeon, de
realização de um segundo referendo para promover a independência da Escócia.
Temendo esta possibilidade da ocorrência de um novo referendo de independência
escocesa, a primeira-ministra britânica, Theresa May, prometeu a concessão de mais
competências e autonomia para a Escócia, incluindo a Escócia nas actuais negociações
com o Reino Unido (Smeral, 2009: 3-4).
Sendo assim, em Junho de 2017, a primeira-ministra escocesa anunciou que, visando se
concentrar em garantir um acordo do Brexit para a Escócia que mantenha a região no
mercado único europeu, seria melhor congelar o processo de independência escocesa.

Outras Prováveis Consequências


Além das principais repercussões apontadas acima, é indispensável trazer também
outros possíveis efeitos oriundos da saída do Reino Unido da União Europeia.
Em relação ao mercado de trabalho, segundo pesquisa da Confederação da Indústria
Britânica, 40% dos empresários locais já estão sentindo impactos negativos nos
investimentos em seus negócios após o referendo. Isto porque, com uma política de
imigração mais restritiva, já é possível vislumbrar, por exemplo, a falta mão-de-obra na
construção civil e na agricultura, sectores que mais empregam imigrantes (Machado,
20183). Já quanto à legislação britânica, sabe-se que com o rompimento entre o país e o
bloco económico, muitas leis europeias que actualmente são vigentes no Reino Unido
podem perder a validade, o que ocasionaria uma lacuna legislativa. Visando evitar um
caos na legislação britânica, a primeira-ministra Theresa May propôs a seguinte
situação: o Reino Unido absorveria todas as normas da UE e, após um período de
transição, cada uma delas seria avaliada, actualizada ou revogada mas sem
necessariamente consultar o Parlamento. Contudo, tais medidas se mostram contrárias à
3
Machado. Bruno (2018), Quais as consequências da saída do Reino Unido da União Europeia?
Disponível em: https://super.abril.com.br/mundo-estranho/quais-as-consequencias-da-saida-do-reino-
unido-da-uniao-europeia/ Acessado em 10 de Abril de 2022).
tripartição de poderes e usurparia as competências legislativas do Congresso britânico
(Ibid).

Após as considerações anteriores, é preciso identificar o que poderia ser obtido como
vantagem do Brexit para o Reino Unido. Há o argumento de que o Reino Unido estaria
mais livre para reduzir tarifas de importação para outros países, o que traria impacto
positivo para o bem-estar britânico (Busch; Matthes, 2016: 19). Com relação aos
Estados Unidos da América, que é o país que mais recebe mercadorias do Reino Unido
(OEC, 2017), notícias recentes indicam a intenção de um acordo entre os dois países
com disposição para o aumento dos fluxos comerciais.

Dhingra et al. (2016: 5), estimam os custos e os benefícios do Brexit e indicam que, a
despeito da economia feita com a redução da participação financeira do Reino Unido na
União Europeia, é preciso considerar que mesmo com a saída o Reino Unido não deixa
de pagar determinados montantes para a UE, para continuar tendo acesso ao Mercado
Comum. Dessa forma, os custos em razão da menor integração com a União Europeia
em termos de comércio poderiam superar a economia mencionada. Os autores citados
ressaltam ainda que é preciso levar em conta quais políticas que o Reino Unido pretende
adoptar após saída. Por outro lado, não se pode deixar de considerar que não apenas o
Reino Unido teria perdas com o Brexit, mas também a União Europeia. Belke et al.
(2017: 28), comparam o impacto da saída do Reino Unido à magnitude do Acordo de
Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP) com o sinal invertido, uma
vez que o fluxo comercial entre UE e Reino Unido é equivalente ao que ocorre entre UE
e Estados Unidos.

Em síntese, pode-se concluir que o Brexit remeteu e ainda poderá arremeter implicações
negativas quanto positivas, para o Reino Unido, como na questão da criação de futuros
acordos comerciais bilaterais que fortaleceriam o comércio com países como Estado
Unidos e Japão; quanto negativas como do ponto de vista económico, no qual a saída
acarretou em uma suposta queda drástica do PIB do país; e político, como no provável
retorno das discussões de separatismo da Escócia. Por seu turno, para a União Europeia,
o mesmo se verificou, em torno, sobretudo, de questões de regulamentos económicos e
investimento estrangeiro directo, a saída do Estado britânico do bloco europeu gerou
diversas consequências positivas e negativas.

Lista de Referências
Alves, Juliana Helena De Lima (2015), “A saída do Reino Unido da União Europeia:
um Dilema sobre as Consequências Económicas e Políticas”. (Artigo apresentado como
requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Relações Internacionais
pela Universidade de Brasília), 2-23.

Belke, A. et al. (2017), “The Economic Impact of Brexit: Evidence from Modelling
Free Trade Agreements”. Atlantic Economic Journal. Volume n°. 45, 317-331.

Busch, Philipp; Matthes A. (2016). As causas do Brexit, a história da União Europeia


e suas ideologias conflituantes. Disponível em:
https://www.mises.org.br/ArticlePrint.aspx?id=2449. Consultado em 24 de Abril de
2022.

Dhingra, S. et al. (2015), “The consequences of Brexit for UK trade and living
standarts”. Centre for Economic Performance, London School of Economics and
Political Science.

Dhingra, S. et al. (2016), “The Costs and Benefits of Leaving the EU: Trade Effects”.
Economic Policy. Volume n°. 32, n°. 92, 651-705.

OEC-The observatory of Economic Complexity (2017). United Kingdom. Disponível


em: https://oec.world/en/profile/country/gbr. Consultado em 15 de Abril de 2022.

ONS-Office for National Statistics (2018). Balance of payments, UK: disponível em:
https://www.ons.gov.uk/economy/nationalaccounts/balanceofpayments/bulletins/
balanceofpayments/apriltojune. Consultado em 01 de Abril de 2022.

Pedroza, B. C. et al. (2018), Brexit: “Uma Analise Acerca da Saída do Reino Unido da
União Europeia”, Derecho y Cambio Social. Nº59, 652-672.

Smeral, E. (2009). “The Impact of the Financial and Economic Crisis on European
Tourism”. Journal of Travel Research. Volume n°. 48, n° 1, 3-13.

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