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FACULDADES DE CAMPINAS

Gabriela Tavares RA:201810677


Amanda Geraldelli RA: 201720005

BREXIT E SUAS CONSEQUÊNCIAS

Política e Planejamento Econômico

Campinas
2018
INTRODUÇÃO

O presente trabalho abordará o movimento do “Brexit”, sigla em inglês “Britain


Exit”, que representa a possível saída do Reino Unido da União Europeia. A discussão se
dividirá em duas partes: a primeira, terá como objetivo realizar uma retomada histórica,
discutindo os principais fatores que propiciaram o início do movimento separatista em
2016. A segunda parte do trabalho trata-se dos efeitos do movimento do Brexit sob a
União Europeia e do Reino Unido, revelando suas principais consequências políticas e
econômicas; Além disso, será feito um estudo de caso de um país que conseguiu superar
a recessão de 2008, como é o caso de Portugal.

“Brexit”

“Brexit” é o termo, em inglês, utilizado para referenciar a possível saída do Reino


Unido da União Europeia. A União Europeia (UE) é um conjunto formado por 28 países,
que foi criado há aproximadamente 24 anos, com o intuito de promover integração política
e econômica do continente europeu. Para compreender as questões à sombra do desejo
de saída do Reino Unido do bloco da UE, é importante ter em mente que, o Reino Unido
sempre teve uma posição privilegiada dentro do bloco de integração europeu. Esta
situação se comprova, visto que, o Reino Unido detém “exceções” que não são dadas a
nenhum outro país do bloco, como por exemplo, a adoção da moeda própria (libra
esterlina) e a estipulação das próprias leis imigratórias.
Aos olhos de Cattelan e Medeiros (2016), a crise de 2008 foi responsável por
fortalecer a campanha pela saída do Reino Unido da União Europeia, tendo em vista que,
as relações com o bloco passaram a ser revisadas, numa tentativa de estabelecer os prós
e contras da permanência ou retirada do bloco econômico. Um dos principais resultados
desse movimento foi o fortalecimento do Partido de Independência do Reino Unido, que
conquistou nas eleições de 2014, um elevado número de cadeiras, sob defesa de um
caráter eurocético.
Numa tentativa de reverter este cenário, o primeiro-ministro David Cameron
adotou, nas eleições do ano seguinte, um discurso pautado sobre um tom fortemente
crítico à UE, lançando a promessa de realização de um referendo popular sobre a
permanência no bloco, caso o partido vencesse as eleições, como foi o ocorrido.

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O período que sucedeu as eleições de 2015 foi marcado por uma forte tensão e
jogo político, no qual o Reino Unido alcançou concessões dentro do bloco, sob a ameaça
de saída caso seus desejos não fossem atendidos. A obtenção de uma gama de
vantagens, posições favoráveis e certa “autonomia de decisão” fizeram com que David
Cameron adotasse um posicionamento “Remain”, ou seja, a favor da permanência ao
bloco. Porém, o cenário de forte pressão para a realização do referendo, expôs as
fragilidades e instabilidades que se estabeleceram entre Reino Unido e União Europeia
nos últimos anos. (Cattelan e Medeiros, 2016)
Em junho de 2016, assim como fora prometido por Cameron, a população
britânica foi às urnas com o intuito de votar um referendo sobre o futuro do país e do
bloco econômico do qual faziam parte. Os eleitores deviam votar pela permanência na
União Europeia ou pelo abandono do bloco comum. Com a finalidade de não induzir a
nenhuma indecisão a respeito, o governo britânico formulou apenas duas respostas
possíveis: “permanecer” ou “sair”.
Apesar deste plebiscito não ter caráter vinculante, ou seja, caráter obrigatório de
execução, caso a proposta fosse aprovada, automaticamente, ela estaria sob intensa
pressão para ser implementada, visto a sua influência política. Os resultados do referendo
realizado em 2016, apresentaram uma diferença muito pequena, uma maioria de 52% da
população votou pela saída da União Europeia, ao passo que, 48% defendeu a
permanência.
No que diz respeito à análise deste resultados, foi possível inferir que naquele
momento, o Reino Unido lidava com uma grave divisão nos países. A tendência
observada na votação, revelou que os votos pela permanência tinham como principal
origem as grandes cidades dos países, e vinha, sobretudo, da população
majoritariamente jovem, à medida que, os votos pela saída do bloco vieram,
principalmente, de áreas rurais, e de pessoas mais idosas. (Cattelan e Medeiros, 2016)
Quando analisamos os grupos à favor ou contra a permanência do Reino Unido ao
bloco, percebemos que as principais figuras políticas que se posicionaram à favor foram o
primeiro-ministro David Cameron, os partidos Liberal Democrata, o partido Trabalhista, e
os países da Irlanda, Escócia e o território do Estreito de Gibraltar. Somado a esses
atores, tivemos importantes figuras no cenário internacional que defenderam a
permanência, como a Alemanha, França, organizações multilaterais, como o FMI, e
também, o ex-presidente norte-americano, Barack Obama. (Deutsche Welle, 2017)
Em contrapartida a essa posição, tivemos os defensores a saída da UE que foram
formados principalmente pelo Partido de Independência do Reino Unido, e,
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surpreendentemente, metade dos parlamentares conservadores do partido de Cameron,
contrariaram a posição do primeiro-ministro e se declararam a favor da saída. Trump,
atual presidente dos EUA, se posicionou a favor da saída do Reino Unido ao bloco, visto
os efeitos da imigração na Europa. (Deutsche Welle, 2017)
Sobre os principais fatores que motivaram o desfecho do referendo, Catellan e
Medeiros complementam que:

“Em suma, consideram-se como principais razões para o resultado


do referendo: a xenofobia; o descontentamento com as elites e
governos; o nacionalismo; a aversão ao neoliberalismo; a má
situação financeira; e a baixa qualidade do discurso político. Também
destaca-se a falta de lideranças políticas e alternativas efetivas para
o atual sistema.” (Cattelan e Medeiros. 2016. p.5)

É importante ter em mente que, para o Brexit ser efetivado há uma série de fatores
que precisa ser cumprido. O primeiro passo do cronograma foi realizado em Dezembro de
2016, quando a primeira-ministra Theresa May, acionou, pela primeira vez na história, o
artigo 50. Este artigo tem como intuito oficializar o egresso de um país do bloco da União
Europeia, e inclui várias obrigações entre as partes envolvidas, como acordos,
negociações, e um prazo de 02 anos para a conclusão dos trâmites legais. (Deutsche
Welle, 2017)
O que se observou no período pós 2016, foi um cenário de muita incerteza,
instabilidades econômicas, e dificuldades para realizar as negociações entre os atores
envolvidos. Como há muitos fatores em questão, é preciso medir cada consequência no
curto e longo prazo, numa tentativa de minimizar os entraves. (BBC, 2016)
Dentre os principais tópicos dos acordos que estão em negociação destacam-se a
entrada do Reino Unido como membro do Espaço Econômico Europeu e a realização de
acordos comerciais para o intercâmbio de produtos e serviços entre o Reino Unido e o
bloco. Sobre esta questão é possível perceber que os principais tópicos da agenda de
negociação favorecem uma posição em que o Reino Unido ainda poderia tira “proveitos”
da relação estreita com o bloco mas, sem que fizesse parte efetivamente. Este cenário é
rechaçado pelas lideranças europeias, visto que, a escolha de sair deveria, na teoria,
representar o fim dessas exceções do bloco que são concedidas historicamente ao Reino
Unido. (Cattelan e Medeiros, 2016).

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Cenário europeu pós crise de 2008

Segundo Claudia Trevisan (2011), a situação atual da europa é pior que a da crise
financeira de 2008, com bancos extremamente subcapitalizados, as retrições fiscais
impedem que o governo os salvem e estagnação econômica.
Em 2008, os governos ainda conseguiam salvar os bancos, porém isso se tornou
impossível atualmente e ainda correm riscos de agravar a recessão econômica. No
entanto, o plano de retomada de crescimento, a partir do estabelecimento de uma nova
estrutura financeira , não foi realizado. (Trevisan, C. 2011)
A Europa ainda sente os efeitos da crise de 2008, principalmente no sentido de
acelerar processos que já vinham acontecendo vagarosamente, explicitando uma crise na
União Europeia devido às diferenças e desafios de se montar um bloco econômico com
membros com realidades muito heterogêneas, deixando uma dúvida se o bloco não é
viável da forma que ele opera e talvez tenha que ser repensado. (CERES, 2015)

Os impactos do BREXIT a longo prazo

Segundo Chen; Ebeke; Lin; Siminitz (2018), a saída do Reino Unido da União
Europeia acarretará à ambos os lados algumas consequências desfavoráveis, uma vez
que os vínculos entre eles são extremamente estreitos. O Reino Unido corresponde cerca
de 13% do comercio de bens e serviços dentro da U.E, além de ter relações bilaterais e
cadeias produtivas do R.U que envolvem vários países. Dessa forma, os principais efeitos
da saída do RU da UE estarão relacionados aos fluxos de capital e à mobilidade de mão
de obra.
A primeira consequência é o encolhimento da economia. Os vínculos financeiros,
para o FMI, também são bastante significantes, os fluxos bilareais brutos de capital
correponderam a 52% do PIB da EU em 2016. Com o encerramento das relações, os
produtos e serviços do RU ficarão mais caros e menos competitivos no mercado europeu,
seu principal mercado. (Machado, B. 2018)
Caso o RU e a EU optarem por um acordo de livre comércio, com tarifas mais
baixas sobre o comércio, mas barreiras tarifárias não tarifárias mais elevadas, estima-se,
com base na situação atual que o PIB sofrerá uma queda de 0,8% e o emprego de 0,3%
no longo prazo. Se aplicarem as regras da OMC, a queda será maior, 1,5% no longo
prazo e o emprego sofrerá queda de 0,7%. (Chen; Ebeke; Lin; Siminitz, 2018)

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Além desse encolhimento econômico, a UE sofrerá uma significante instabilidade.
Em 2014, o RU contribuiu com cerca de 11,3 bilhões de euros à UE, ficando em segundo
lugar no ranking de quem é o maior contribuidor na UE. Com o BREXIT, essa
responsabilidade vai pesar significativamente para os alemães, os quais, no contexto
atual, são os maiores contribuidores da UE. (Chen; Ebeke; Lin; Siminitz, 2018)
Um argumento dos britânicos é o de que o Reino Unido contribui mais com a UE do
que recebe recursos, como é possível ver no gráfico abaixo, por isso são a favor da saída
do bloco. Os fundos contribuídos pelo RU financiam programas e projetos em todos os
países da UE. (Trevizan, 2016)

Reino Unido e União Europeia


Dados de 2014, em bi de euros
12 11.3

10

8 6.9
6

0
Contribuição Reino Unido com a E.U Gasto da U.E com o Reino Unido

Fonte: União Europeia

A segunda consequência é caos no sistema legislativo, com o BREXIT, muitas leis


do bloco podem perder a legitimidade no Reino Unido. Para evitar essa falha, a primeira-
ministra Theresa May propôs que o RU absorveria, de início, todas as normas da UE , e a
após um momento de transição, elas seriam reavaliadas ou revogadas, porém o Poder
Legislativo não aprovou a ideia.
Como forma de compensar esse rombo no orçamento europeu, o Reino Unido terá
que pagar uma multa, cujo valor ainda está sendo negociado, mas já está sendo estimado
entre 60 e 100 bilhões de euros, o que representa um grande rombo na economia
britânica. (Machado, B. 2018)
A terceira consequência é o impacto no mercado de trabalho, cerca de 40% dos
capitalistas britânicos sentirão impactos negativos em investimento após o BREXIT, além

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da falta de mão de obra na indústria de construção civil e agricultura, que são os setores
que mais empregam mão de obra imigrante. (Machado, B. 2018)
Muitos britânicos foram a favor do BREXIT no intuito de reduzir o número de
imigrantes no RU. A promessa do governo britânico para os 3,2 milhões de europeus que
já habitam e trabalham lá é o visto permanente, mas uma política anti-imigração seria
bastante desfavorável até mesmo para o futebol inglês que conta com grandes craques
nos times Aston Villa, Newcastle e Watford. (Machado, B. 2018)
A última consequência é o risco de esvaziamento da União Europeia. Apesar dessa
experiência britânica mostrar que a saída do bloco é difícil, existem alguns movimentos
“ultranacionalistas” em outros países europeus, que são potenciais desmembradores do
bloco, o que o enfraqueceria, porém eles ainda não tem força política para esse ato.
(Machado, B. 2018)
Segundo Varoufakis (2016), o BREXIT pode levar a dois possíveis resultados: o
primeiro, o bloco irá se tornar bem fechado com políticas de austeridade que irão enviar a
deflação para o Reino Unido e para a China, a qual sofrerá efeitos desestabilizadores
indiretos; o segundo é a saída da Itália e da Finlândia, que ocasionará a saída da
Alemanha e será o colapso da Zona do Euro.

O caso de Portugal

Segundo Fajardo (2017) mesmo após os efeitos da crise de 2008, Portugal, país da
periferia da zona do Euro, chamou a atenção de especialistas pela sua recuperação
econômica.
Perto de falência, Portugal pediu um resgate de 78 bilhões de Euros à três
principais orgãos: FMI, Comissão Europeia e Banco Central Europeu. Em 2013, o
desemprego crescia a 16,2% e a economia sofria uma recessão de 3,6% em 2012.
(Fajardo, L. 2017)
O governo de esquerda de Portugal rejeitou políticas de austeridade internacionais
e ganhou a aprovação do FMI. Segundo o governo de Portugal, o país teve um
crescimento esperado de 3% em 2017, 10% de aumento anual de exportações à UE e
uma taxa de 9,4% de desemprego. (Fajardo, L. 2017)
As políticas desse governo de esquerda iam contra a receita tradicional e
conseguiram reverter os cortes salariais do governo anterior, recuperar valores da
aposentadoria e do salário mínimo. Além disso, o governo instaurou medidas como
jornada de trabalho reduzida de 35 horas semanais em vez de 40. (Fajardo, L. 2017)
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Outro fator que impulsionou a recuperação portuguesa foi o turismo. Com a
instabilidade política no norte da África, os turistas se afastaram de lá, obtendo um avanço
no setor turístico português, o que levou a um aumento de investimento em infraestrutura
e estímulo à construção civil. (Fajardo, L. 2017)
Diante das considerações realizadas fica claro a dificuldade de mensuração das
possíveis consequências no continente europeu caso o Brexit seja efetivado no próximo
ano. O que se percebe desde o início do movimento foi a instauração de um “circo de
incertezas” tanto no âmbito político quanto no âmbito econômico, visto a dificuldade
encontrada pelos atores envolvidos em realizar as negociações e acordos previsto no
cronograma.

Referências Bibliográficas

CERES. “A geopolítica pós crise de 2008”. Centro de estudos das Relações


Internacionais, 27 de junho de 2015. Disponível em:
https://nemrisp.wordpress.com/2015/06/27/a-geopolitica-pos-crise-de-2008/ . Acesso em:
31 de outubro de 2018.

Chen,J ; Ebeke, C; Lin Li; Qu, H; Siminitz J. “O impacto de longo prazo do Brexit na
UE”. FMI, blogs, 10 de agosto de 2018. Disponível
em:<https://www.imf.org/pt/News/Articles/2018/08/09/blog-the-long-term-impact-of-brexit-
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Deutsche Welle. “Brexit: entenda os próximos passos”. Carta Capital. Brasil. 2017.
Disponível em <https://www.cartacapital.com.br/internacional/brexit-entenda-os-proximos-
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Fajardo, L. “Porque Portugal é elogiado ao mesmo tempo pela esquerda e pelo FMII
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https://www.bbc.com/portuguese/internacional-40714343. Acesso em: 31 de outubro de
2018.

Machado, B. “Quais as consequências da saída o Reino Unido da União Europeia?”.


Super Interessante, Editora Abril, 2018. Disponível em: <https://super.abril.com.br/mundo-

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em: 31 de outubro de 2018.

Medeiros, Kiel e Cattelan, Pedro Henrique. “O significado e os reflexos do BREXIT:


crises no centro do sistema, nacionalismos e reações aos processos de integração
regional”. Boletim de conjuntura Nerint. Porto Alegre. 2016. Disponível em
<https://www.ufrgs.br/nerint/wp-content/uploads/2016/09/Medeiros-Cattelan-Significado-
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Neher, C. “UE 'esvaziada' pode ameaçar paz no continente, diz historiador”. BBC
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39402173>. Acesso em 22/10/18 às 18h54.

Sem autor. “O que é 'Brexit' - e como pode afetar o Reino Unido e a União
Europeia?”. BBC Brasil. Brasil. 2016. Disponível em
<https://www.bbc.com/portuguese/internacional-36555376>. Acesso em 22/10/18 às
19h39.

Trevisan, C. “Situação atual da Europa é pior que a da crise passada, diz Brown”.
Estadão, Economia & Negócios, 17 de Setembro de 2001. Disponível em:
https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,situacao-atual-da-europa-e-pior-que-a-da-
crise-passada-diz-brown-imp-,773652. Acesso em 31 de outubro de 2018.

Trevisan, K. “Veja 5 possíveis impactos econômicos da saída do Reino Unido da


UE.” G1, Economia, São Paulo, 2016. Disponível em: <
http://g1.globo.com/economia/noticia/2016/06/veja-4-possiveis-impactos-economicos-da-
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Varoufakis, Y. “Brexit won’t shield Britain from the horror of a disintegrating EU.” The
Guardian, Opinion, 2016. Disponível em: <
https://www.theguardian.com/commentisfree/2016/jun/24/brexit-britain-disintegrating-eu-
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