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2018
INTRODUÇÃO
“Brexit”
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O período que sucedeu as eleições de 2015 foi marcado por uma forte tensão e
jogo político, no qual o Reino Unido alcançou concessões dentro do bloco, sob a ameaça
de saída caso seus desejos não fossem atendidos. A obtenção de uma gama de
vantagens, posições favoráveis e certa “autonomia de decisão” fizeram com que David
Cameron adotasse um posicionamento “Remain”, ou seja, a favor da permanência ao
bloco. Porém, o cenário de forte pressão para a realização do referendo, expôs as
fragilidades e instabilidades que se estabeleceram entre Reino Unido e União Europeia
nos últimos anos. (Cattelan e Medeiros, 2016)
Em junho de 2016, assim como fora prometido por Cameron, a população
britânica foi às urnas com o intuito de votar um referendo sobre o futuro do país e do
bloco econômico do qual faziam parte. Os eleitores deviam votar pela permanência na
União Europeia ou pelo abandono do bloco comum. Com a finalidade de não induzir a
nenhuma indecisão a respeito, o governo britânico formulou apenas duas respostas
possíveis: “permanecer” ou “sair”.
Apesar deste plebiscito não ter caráter vinculante, ou seja, caráter obrigatório de
execução, caso a proposta fosse aprovada, automaticamente, ela estaria sob intensa
pressão para ser implementada, visto a sua influência política. Os resultados do referendo
realizado em 2016, apresentaram uma diferença muito pequena, uma maioria de 52% da
população votou pela saída da União Europeia, ao passo que, 48% defendeu a
permanência.
No que diz respeito à análise deste resultados, foi possível inferir que naquele
momento, o Reino Unido lidava com uma grave divisão nos países. A tendência
observada na votação, revelou que os votos pela permanência tinham como principal
origem as grandes cidades dos países, e vinha, sobretudo, da população
majoritariamente jovem, à medida que, os votos pela saída do bloco vieram,
principalmente, de áreas rurais, e de pessoas mais idosas. (Cattelan e Medeiros, 2016)
Quando analisamos os grupos à favor ou contra a permanência do Reino Unido ao
bloco, percebemos que as principais figuras políticas que se posicionaram à favor foram o
primeiro-ministro David Cameron, os partidos Liberal Democrata, o partido Trabalhista, e
os países da Irlanda, Escócia e o território do Estreito de Gibraltar. Somado a esses
atores, tivemos importantes figuras no cenário internacional que defenderam a
permanência, como a Alemanha, França, organizações multilaterais, como o FMI, e
também, o ex-presidente norte-americano, Barack Obama. (Deutsche Welle, 2017)
Em contrapartida a essa posição, tivemos os defensores a saída da UE que foram
formados principalmente pelo Partido de Independência do Reino Unido, e,
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surpreendentemente, metade dos parlamentares conservadores do partido de Cameron,
contrariaram a posição do primeiro-ministro e se declararam a favor da saída. Trump,
atual presidente dos EUA, se posicionou a favor da saída do Reino Unido ao bloco, visto
os efeitos da imigração na Europa. (Deutsche Welle, 2017)
Sobre os principais fatores que motivaram o desfecho do referendo, Catellan e
Medeiros complementam que:
É importante ter em mente que, para o Brexit ser efetivado há uma série de fatores
que precisa ser cumprido. O primeiro passo do cronograma foi realizado em Dezembro de
2016, quando a primeira-ministra Theresa May, acionou, pela primeira vez na história, o
artigo 50. Este artigo tem como intuito oficializar o egresso de um país do bloco da União
Europeia, e inclui várias obrigações entre as partes envolvidas, como acordos,
negociações, e um prazo de 02 anos para a conclusão dos trâmites legais. (Deutsche
Welle, 2017)
O que se observou no período pós 2016, foi um cenário de muita incerteza,
instabilidades econômicas, e dificuldades para realizar as negociações entre os atores
envolvidos. Como há muitos fatores em questão, é preciso medir cada consequência no
curto e longo prazo, numa tentativa de minimizar os entraves. (BBC, 2016)
Dentre os principais tópicos dos acordos que estão em negociação destacam-se a
entrada do Reino Unido como membro do Espaço Econômico Europeu e a realização de
acordos comerciais para o intercâmbio de produtos e serviços entre o Reino Unido e o
bloco. Sobre esta questão é possível perceber que os principais tópicos da agenda de
negociação favorecem uma posição em que o Reino Unido ainda poderia tira “proveitos”
da relação estreita com o bloco mas, sem que fizesse parte efetivamente. Este cenário é
rechaçado pelas lideranças europeias, visto que, a escolha de sair deveria, na teoria,
representar o fim dessas exceções do bloco que são concedidas historicamente ao Reino
Unido. (Cattelan e Medeiros, 2016).
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Cenário europeu pós crise de 2008
Segundo Claudia Trevisan (2011), a situação atual da europa é pior que a da crise
financeira de 2008, com bancos extremamente subcapitalizados, as retrições fiscais
impedem que o governo os salvem e estagnação econômica.
Em 2008, os governos ainda conseguiam salvar os bancos, porém isso se tornou
impossível atualmente e ainda correm riscos de agravar a recessão econômica. No
entanto, o plano de retomada de crescimento, a partir do estabelecimento de uma nova
estrutura financeira , não foi realizado. (Trevisan, C. 2011)
A Europa ainda sente os efeitos da crise de 2008, principalmente no sentido de
acelerar processos que já vinham acontecendo vagarosamente, explicitando uma crise na
União Europeia devido às diferenças e desafios de se montar um bloco econômico com
membros com realidades muito heterogêneas, deixando uma dúvida se o bloco não é
viável da forma que ele opera e talvez tenha que ser repensado. (CERES, 2015)
Segundo Chen; Ebeke; Lin; Siminitz (2018), a saída do Reino Unido da União
Europeia acarretará à ambos os lados algumas consequências desfavoráveis, uma vez
que os vínculos entre eles são extremamente estreitos. O Reino Unido corresponde cerca
de 13% do comercio de bens e serviços dentro da U.E, além de ter relações bilaterais e
cadeias produtivas do R.U que envolvem vários países. Dessa forma, os principais efeitos
da saída do RU da UE estarão relacionados aos fluxos de capital e à mobilidade de mão
de obra.
A primeira consequência é o encolhimento da economia. Os vínculos financeiros,
para o FMI, também são bastante significantes, os fluxos bilareais brutos de capital
correponderam a 52% do PIB da EU em 2016. Com o encerramento das relações, os
produtos e serviços do RU ficarão mais caros e menos competitivos no mercado europeu,
seu principal mercado. (Machado, B. 2018)
Caso o RU e a EU optarem por um acordo de livre comércio, com tarifas mais
baixas sobre o comércio, mas barreiras tarifárias não tarifárias mais elevadas, estima-se,
com base na situação atual que o PIB sofrerá uma queda de 0,8% e o emprego de 0,3%
no longo prazo. Se aplicarem as regras da OMC, a queda será maior, 1,5% no longo
prazo e o emprego sofrerá queda de 0,7%. (Chen; Ebeke; Lin; Siminitz, 2018)
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Além desse encolhimento econômico, a UE sofrerá uma significante instabilidade.
Em 2014, o RU contribuiu com cerca de 11,3 bilhões de euros à UE, ficando em segundo
lugar no ranking de quem é o maior contribuidor na UE. Com o BREXIT, essa
responsabilidade vai pesar significativamente para os alemães, os quais, no contexto
atual, são os maiores contribuidores da UE. (Chen; Ebeke; Lin; Siminitz, 2018)
Um argumento dos britânicos é o de que o Reino Unido contribui mais com a UE do
que recebe recursos, como é possível ver no gráfico abaixo, por isso são a favor da saída
do bloco. Os fundos contribuídos pelo RU financiam programas e projetos em todos os
países da UE. (Trevizan, 2016)
10
8 6.9
6
0
Contribuição Reino Unido com a E.U Gasto da U.E com o Reino Unido
6
da falta de mão de obra na indústria de construção civil e agricultura, que são os setores
que mais empregam mão de obra imigrante. (Machado, B. 2018)
Muitos britânicos foram a favor do BREXIT no intuito de reduzir o número de
imigrantes no RU. A promessa do governo britânico para os 3,2 milhões de europeus que
já habitam e trabalham lá é o visto permanente, mas uma política anti-imigração seria
bastante desfavorável até mesmo para o futebol inglês que conta com grandes craques
nos times Aston Villa, Newcastle e Watford. (Machado, B. 2018)
A última consequência é o risco de esvaziamento da União Europeia. Apesar dessa
experiência britânica mostrar que a saída do bloco é difícil, existem alguns movimentos
“ultranacionalistas” em outros países europeus, que são potenciais desmembradores do
bloco, o que o enfraqueceria, porém eles ainda não tem força política para esse ato.
(Machado, B. 2018)
Segundo Varoufakis (2016), o BREXIT pode levar a dois possíveis resultados: o
primeiro, o bloco irá se tornar bem fechado com políticas de austeridade que irão enviar a
deflação para o Reino Unido e para a China, a qual sofrerá efeitos desestabilizadores
indiretos; o segundo é a saída da Itália e da Finlândia, que ocasionará a saída da
Alemanha e será o colapso da Zona do Euro.
O caso de Portugal
Segundo Fajardo (2017) mesmo após os efeitos da crise de 2008, Portugal, país da
periferia da zona do Euro, chamou a atenção de especialistas pela sua recuperação
econômica.
Perto de falência, Portugal pediu um resgate de 78 bilhões de Euros à três
principais orgãos: FMI, Comissão Europeia e Banco Central Europeu. Em 2013, o
desemprego crescia a 16,2% e a economia sofria uma recessão de 3,6% em 2012.
(Fajardo, L. 2017)
O governo de esquerda de Portugal rejeitou políticas de austeridade internacionais
e ganhou a aprovação do FMI. Segundo o governo de Portugal, o país teve um
crescimento esperado de 3% em 2017, 10% de aumento anual de exportações à UE e
uma taxa de 9,4% de desemprego. (Fajardo, L. 2017)
As políticas desse governo de esquerda iam contra a receita tradicional e
conseguiram reverter os cortes salariais do governo anterior, recuperar valores da
aposentadoria e do salário mínimo. Além disso, o governo instaurou medidas como
jornada de trabalho reduzida de 35 horas semanais em vez de 40. (Fajardo, L. 2017)
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Outro fator que impulsionou a recuperação portuguesa foi o turismo. Com a
instabilidade política no norte da África, os turistas se afastaram de lá, obtendo um avanço
no setor turístico português, o que levou a um aumento de investimento em infraestrutura
e estímulo à construção civil. (Fajardo, L. 2017)
Diante das considerações realizadas fica claro a dificuldade de mensuração das
possíveis consequências no continente europeu caso o Brexit seja efetivado no próximo
ano. O que se percebe desde o início do movimento foi a instauração de um “circo de
incertezas” tanto no âmbito político quanto no âmbito econômico, visto a dificuldade
encontrada pelos atores envolvidos em realizar as negociações e acordos previsto no
cronograma.
Referências Bibliográficas
Chen,J ; Ebeke, C; Lin Li; Qu, H; Siminitz J. “O impacto de longo prazo do Brexit na
UE”. FMI, blogs, 10 de agosto de 2018. Disponível
em:<https://www.imf.org/pt/News/Articles/2018/08/09/blog-the-long-term-impact-of-brexit-
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Deutsche Welle. “Brexit: entenda os próximos passos”. Carta Capital. Brasil. 2017.
Disponível em <https://www.cartacapital.com.br/internacional/brexit-entenda-os-proximos-
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Fajardo, L. “Porque Portugal é elogiado ao mesmo tempo pela esquerda e pelo FMII
por sua recuperação econômica.” BBC Mundo, Brasil, 2017. Disponível em:
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-40714343. Acesso em: 31 de outubro de
2018.
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em: 31 de outubro de 2018.
Neher, C. “UE 'esvaziada' pode ameaçar paz no continente, diz historiador”. BBC
Brasil. Berlim. 2017. Disponível em <https://www.bbc.com/portuguese/salasocial-
39402173>. Acesso em 22/10/18 às 18h54.
Sem autor. “O que é 'Brexit' - e como pode afetar o Reino Unido e a União
Europeia?”. BBC Brasil. Brasil. 2016. Disponível em
<https://www.bbc.com/portuguese/internacional-36555376>. Acesso em 22/10/18 às
19h39.
Trevisan, C. “Situação atual da Europa é pior que a da crise passada, diz Brown”.
Estadão, Economia & Negócios, 17 de Setembro de 2001. Disponível em:
https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,situacao-atual-da-europa-e-pior-que-a-da-
crise-passada-diz-brown-imp-,773652. Acesso em 31 de outubro de 2018.
Varoufakis, Y. “Brexit won’t shield Britain from the horror of a disintegrating EU.” The
Guardian, Opinion, 2016. Disponível em: <
https://www.theguardian.com/commentisfree/2016/jun/24/brexit-britain-disintegrating-eu-
yanis-varoufakis> . Acesso em: 31 de outubro de 2018