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CAPÍTULO 3: POLÍTICA EXTERNA DO REINO UNIDO PARA A UNIÃO

EUROPEIA.

Neste capítulo, pretende-se analisar a Política Externa (P.E) do Reino Unido na sua
relação com a União Europeia (U.E). Para o efeito, o capítulo apresenta uma abordagem
que se sustenta, primeiramente, na revisão bibliográfica, onde descreve-se a evolução
histórica da P.E do Reino Unido para a U.E. Em seguida, analisa-se a utilidade que os
diferentes instrumentos de P.E têm na P.E do Reino Unido para a U.E, onde dá-se
ênfase aos instrumentos políticos, económicos e militares.

3.1. Evolução Histórica da Política Externa do Reino Unido para a União Europeia

A política externa do Reino Unido para a União Europeia na verdade, nasce após a
Segunda Guerra Mundial, a ideia de criar os “Estados Unidos da Europa” surgiu como
uma prioridade, a fim de garantir a paz a uma região até então conturbada. A Guerra
Fria entre a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e os Estados Unidos da
América (EUA) evidenciou a fragilidade das defesas da Europa Ocidental em meio à
ambição de extensão territorial da URSS, o que levou a um maior envolvimento dos
países europeus com os EUA Scofield (2018: 5).

Tais nações tinham expectativas de que os primeiros passos para alcançar essa
cooperação seriam dados pelo Reino Unido e de que a organização europeia seria
caracterizada por uma aliança entre britânicos e franceses, tendo em vista o papel
desempenhado por eles durante a Segunda Guerra Mundial. Contudo, os britânicos
estavam apreensivos com qualquer acto que pudesse desfazer a sua soberania e
liberdade para agir de forma independente. Já os franceses tinham interesse em manter a
Alemanha fraca económica e militarmente, enquanto a França reconstruía a sua força
interna (Ibid).

A hesitação britânica em assumir um papel engajador nesse sistema advinha da


existência de interesses comerciais e militares tanto no continente europeu quanto fora
dele. Em 1947, o país concluiu que ao participar de um processo de integração europeu,
caracterizado por uma união aduaneira, os seus prejuízos a longo prazo seriam enormes
se comparados com a manutenção de suas relações com a Commonwealth1 e com os
Estados Unidos. O Reino Unido seria parte de uma organização internacional emergente
1
A Commonwealth é uma associação intergovernamental voluntária formada, em sua maior parte, por
antigas colónias britânicas.
de cunho político e económico, em que importantes áreas de sua política económica
seriam harmonizadas com as dos outros Estados Membros. Para o país, tal perda de
liberdade na elaboração de políticas internas era inaceitável (Ibid: 5-6). Sua prioridade
na Europa era assegurar o comprometimento norte-americano com a defesa do
continente europeu, baseado no Tratado de Bruxelas e institucionalizado por meio da
Organização do Tratado do Atlântico Norte.

Deste modo, a predisposição ou adopção do Role Conception isolacionista revelava a


política externa do Reino Unido para com o processo de integração europeia, onde o
Reino Unido não possuía qualquer intenção de participar de uma organização
internacional com ambições supranacionais, tendo em vista que isso implicaria, em
certa medida, uma cessão de autoridade e soberania daquele país.

Em 1957, foram dados mais passos em prol da integração económica europeia, por meio
do Tratado de Roma, que estabeleceu a Comunidade Económica Europeia (CEE) e a
Comunidade Europeia da Energia Atómica (EURATOM). Por meio dela, objectivava-se
instituir um mercado único, definido como a livre circulação de bens, pessoas, serviços
e capitais, com o intuito de aproximar as políticas económicas de seus Estados
Membros, especialmente no âmbito da agricultura. Embora seus objectivos estivessem
expressos por meios económicos, eles estavam permeados por um ideal de alcançar
futuramente uma integração política (Ibid: 7-8).

Ainda que tenha sido convidado para fazer parte da CEE, o Reino Unido não alterou a
sua posição em relação à sua adesão ao bloco. Os seis países membros da organização
internacional eram destino de 13% das exportações britânicas, esse percentual poderia
aumentar significativamente na ausência de tarifas alfandegárias. Entretanto, a parcela
de exportações do Estado destinada aos quatro maiores países da Commonwealth era
maior do que o dobro das exportações para a organização internacional e 7% do total de
suas exportações era destinado aos Estados Unidos (Ibid).

Nesta óptica, considerando os argumentos apresentados para a não adesão à CEE, em


1960, por iniciativa do Reino Unido e de outros seis países que não pertenciam às
Comunidades, é assinado o Tratado de Estocolmo que deu origem à Associação
Europeia do Comércio Livre (EFTA). O objectivo da EFTA era a cooperação
económica entre os seus membros, através da facilitação do comércio externo entre os
países tendo por base a abolição dos direitos aduaneiros entre si. Assim, a EFTA
representava uma forma de o Reino Unido minimizar os possíveis impactos de um
isolacionismo comercial por não pertencem à CEE (Soares 2005: 150).

No entanto, a economia britânica continuava a não apresentar os índices de crescimento


e desenvolvimento económico dos países da CEE, o que começou a alterar a perspectiva
do Governo britânico em relação àquela organização Kenealy (2016: 13). Esta mudança
de perspectiva levou a que o Reino Unido solicitasse a adesão à CEE em 1961 e 1967.
Todavia, a sua adesão seria rejeitada nas duas ocasiões por Charles De Gaulle, então
presidente francês (Ibid).

Mais tarde, em 1973, após a saída de De Gaulle da presidência francesa, sendo


substituído por George Pompidou, o RU conseguiu aderir à CEE, com votos favoráveis
de todos os Estados membros. Em 1974, o Partido Conversador perdeu as eleições para
o Partido Trabalhista que, nos seus manifestos eleitorais, prometia a renegociação dos
termos da adesão do Reino Unido à CEE Soares (2005: 151). Assim, após a sua eleição,
o novo governo britânico apresentou ao Conselho de Ministros da CEE as principais
medidas que o Reino Unido pretendia rever, entre outros, a Política Agrícola Comum
(PAC) e os métodos de financiamento do Orçamento Comunitário. Miller (2015: 5),
afirma que o governo britânico considerava que essa renegociação seria fundamental
para o futuro do Reino Unido na CEE e para a perspectiva do povo britânico
relativamente à CEE, na medida em que a PAC trazia demasiados custos para os
agricultores britânicos e que as contribuições britânicas para o orçamento eram elevadas
considerando o seu retorno.

No entanto, no ano de 1975, apenas dois anos após seu ingresso na agora chamada CEE,
o Reino Unido fez um referendo para consultar a população a respeito da permanência
do país no bloco. Nessa ocasião, a discussão a respeito da permanência tinha seu foco
na questão do livre mercado. Os argumentos favoráveis à saída na época eram os
seguintes: pertencer ao bloco feria a soberania do país; o livre mercado colocava em
desvantagem a produção interna e destruiria empregos (argumentos das partes mais à
esquerda); ou então que o Reino Unido passaria a ser uma mera província na “nação
europeia”. Na época, os conservadores foram os maiores defensores da permanência no
bloco, contrastando com o ocorrido em 2016 (Wilson, 2014).

Durante o referendo de 1975, os três principais partidos políticos apoiavam o Reino


Unido dentro da CEE, com o governo britânico apoiando fortemente o Sim, em favor da
permanência no bloco. Do lado do Não a campanha não foi muito bem organizada, nem
muito bem-sucedida, uma vez que não teve uma figura central e teve que competir com
a maior parte da mídia e o governo, que apoiavam fortemente a permanência. O
referendo em si não era vinculativo para o governo no sentido estrito jurídico, mas o
eleitorado expressou apoio significativo para a permanência na CEE, com 67% a favor
em uma participação de 65%, o que contrasta fortemente com o referendo de 2016
(Ibid).

Durante os anos que se seguiram, o Reino Unido manteve-se como membro da CEE,
sem causar grandes entraves ao processo governativo da CEE. Contudo, na década de
1980, Margaret Tatcher, Primeira-ministra britânica, durante o Conselho Europeu de
Fontainebleau de 1984, no qual se debateram os passos para a aprovação do Acto Único
Europeu que representou o primeiro grande passo na revisão dos Tratados de Roma,
insistiu novamente na necessidade de revisão das contribuições do Reino Unido para o
orçamento comunitário. O resultado dessa insistência foi a criação de um mecanismo de
compensação, que perdura até à data, na qual o Reino Unido seria reembolsado pelas
diferenças entre as contribuições orçamentais e os valores que recebia do orçamento2.

Nos anos que se seguiram, até à assinatura e entrada em vigor do Tratado de Maastricht,
o Reino obteve uma série de cláusulas que lhe permitia excluir-se de determinadas
questões políticas ou elementos do processo de integração europeia. Exemplos dessas
cláusulas são o caso da União Económica e Monetária (UEM), em que o Reino Unido,
tal como a Dinamarca, puderam optar por não participar nas etapas que levaram à
formalização da UEM e assim excluir-se do processo da moeda única Soares (2005:
160-161). Um outro exemplo é o caso do Acordo de Schengen, em que os da Estados
membros da CEE, de forma a ultrapassar um possível veto do Reino Unido em sede de
revisão dos Tratados, optaram por assinar um acordo fora do espectro do Tratado de
Roma para formalizar a livre circulação de pessoas. Assim, o RU manteria o controlo
das suas fronteiras e os restantes Estados-membros da CEE poderiam formalizar uma
das liberdades do Mercado Único. Anos mais tarde, o RU acabaria por aceitar o Sistema
Schengen, constando no protocolo que estabelece esse Sistema uma cláusula que
permitia ao Reino Unido não ser vinculado a qualquer decisão da UE com base nesse
Sistema (Ibid).
2
The UK rebate on the EU budget: An explanation of the abatement and other correction mechanisms
http://www.europarl.europa.eu/thinktank/en/document.html?reference=EPRS_BRI%282016%2957797.
consultado aos 06 de Agosto de 2021.
Ainda durante a década de 1990, a política externa do Reino Unido para com a UE viria
a mudar, com a alteração do Governo. Assim, o Reino Unido passaria a ter uma política
de maior aproximação e participação no processo decisório da União Europeia.
Exemplo disso é a realização da cimeira bilateral de Saint-Malot entre o Reino Unido e
França, que lançaria as bases da Política Europeia de Segurança e Defesa Soares (2005:
297). Durante o período do Governo Trabalhista, o Reino Unido teve uma política
activa e participativa no processo de integração e alargamento europeu,
contrabalançando o centro do poder da UE, localizado no eixo franco-alemão (Ibid).

Neste prisma, durante a primeira década do novo milénio, dentro do Partido


Conservador, e na sociedade britânica em geral, começam a surgir sinais de aumento de
eurocepticismo. Este aumento da desconfiança dos britânicos em relação à UE resultou
em grande parte da perspectiva de perda de soberania britânica em relação às
Instituições Europeias e do discurso do Partido da Independência do Reino Unido com
foco nas políticas migratórias da UE e como isso estaria a mudar a sociedade britânica.
Este eurocepticismo, aliado à crise financeira global que afectou em grande parte a UE,
levando ao resgate financeiro de países pertencentes à Zona Euro, como Portugal e
Grécia, fez com que o Partido Conservador britânico, liderado por David Cameron,
viesse a ganhar as eleições legislativas em 2010. Esta eleição representaria novamente
uma mudança da política do Reino Unido em relação à UE, voltando a pairar a
possibilidade de renegociar os termos da sua participação enquanto Estado-Membro,
bem como a realização de um referendo popular (Neto Vieira, 2017: 22).

Em 2015, após um processo eleitoral marcado pelo discurso antieuropeu do Partido da


Independência do Reino Unido e pelas diferenças internas no Partido Conservador,
David Cameron é reeleito com a promessa de realização de um referendo sobre a
presença do Reino Unido na UE, que viria a ocorrer a 23 de Junho de 2016 (Ibid).
Também foi proposto que os parlamentos nacionais tivessem mais poder para bloquear
a legislação da UE (Ibid: 23).

De modo geral, conclui-se que o Reino Unido, desde a sua adesão, nunca esteve
totalmente empenhado no projecto de construção europeia, obtendo sempre cláusulas de
exclusão em matérias que pudessem representar entraves aos seus interesses nacionais.
O Reino Unido manteve, durante a sua participação com a UE, uma política pragmática
e de resistência em relação a possíveis avanços mais federalistas do projecto europeu .
Assim sendo, o Reino Unido teve uma pré-disposição menor de comprometimento com
a cooperação europeia do que a maior parte dos Estados Membros da organização
internacional. Entretanto, o país obteve sucesso em moldar as normas comunitárias de
forma a atender a seus interesses nacionais: além de haver várias políticas comunitárias
em conformidade com as suas preferências políticas e económicas, como mencionado
anteriormente, os britânicos conseguiram obter resultados dos temas em que a
integração europeia não atendia aos seus interesses, como a união monetária e o Espaço
Schengen.

3.2. Instrumentos de Política Externa do Reino Unido para a União Europeia

De acordo com Wache (2020: 110) citando Unaji (2007: 91-102 3) e Holsti (1988: 159-
3114), os Estados têm a sua disposição vários instrumentos de política externa
nomeadamente: barganha diplomática, recompensa e coerção económica, propaganda
ou instrumento psicológico, imperialismo, instrumento militar e instrumento cultural.
Brighi e Hill (2012: 161), sustentam que a escolha de instrumentos de P.E é dependente
das capacidades de cada país, isto é, os países com maiores capacidades têm à sua
disposição uma maior variedade de instrumentos de P.E susceptíveis de uso, enquanto
os Estados menos capazes têm um número restrito de instrumentos à sua disposição.
Deste modo, os instrumentos de política externa do Reino Unido para a União Europeia,
são resultado das capacidades que o país possui. Esta ideia encontra também
sustentação no pressuposto do Neo-Realismo de que o comportamento dos Estados no
sistema internacional é dependente das capacidades que cada um deles possui.
Nesta óptica, este subcapítulo argumenta que a política externa do Reino Unido para a
União Europeia utiliza predominantemente o instrumento político, económico e militar.

3.2.1. Instrumento Político


Politicamente, o Reino Unido tem jogado um grande papel na União Europeia. Um
exemplo desta acção é o apoio que o país prestou à União para o alargamento da
instituição com o propósito de dificultar tanto a reforma das instituições da UE (ideia
defendida pela França) como a criação da Federação (ideia defendida pela Alemanha e
Bélgica) e assim manter a sua soberania na organização supranacional (Wache, 2012:
3
Unaji, Felix (2007), Introduction to Forein Policy, Lagos: National Open University of Nigeria.
4
Holsti, Kalevi Jakko (1988), International Politics: A framework for Analysis, 5ª Edição, New Gersey:
Prince Hall.
75). O processo de alargamento foi adoptado para dar respostas à pressão proveniente
dos estados não membros que eram elegíveis e queiram ser parte da União (Ibid: 79).

Vale ressaltar ainda que, o governo britânico, em parceria com a Comissão Europeia,
teve um papel activo muito importante na elaboração do Acto Único Europeu, o qual
era compreendido pelo Reino Unido como a aplicação dos princípios liberais no
processo de integração regional (Szucko, 2020: 90-91). Apesar de os britânicos não
terem sido favoráveis aos tratados de ampla abrangência para remodelar o bloco
europeu e preferirem acordos mais pontuais e técnicos, Thatcher assentiu à assinatura,
mesmo com a concessão ao voto por maioria qualificada, pois entendia que o processo
era fundamental para a consolidação de um mercado único mais aberto ao livre-
comércio (Ibid).

Portanto, pode-se verificar que a assinatura do Acto Único Europeu foi resultado das
capacidades económicas e militares que o Reino Unido possui, conferindo assim um
maior poder negocial e maior efectividade do instrumento diplomático perante a União
Europeia.

3.2.2. Instrumento Económico


De acordo com Renzo (2021: 11), no meio económico, David Cameron conseguiu as
garantias de que países fora da zona do euro, como o Reino Unido, não seriam
obrigados a financiar os “resgates” ao euro e seriam reembolsados por fundos centrais
da UE usados para sustentar o euro. O acordo também deu a qualquer estado membro o
direito de escalar as preocupações sobre o impacto das decisões da zona do euro para
uma discussão urgente no Conselho Europeu. Segundo Landale (2016) citado por
Renzo (2021: 11), na última de suas demandas, Cameron recebeu mais do que foi
oferecido, com o objectivo de reduzir a burocracia nas transacções comerciais entre
membros do bloco.

Ainda neste contexto do uso deste instrumento, podem-se observar os eventos ocorridos
em 1984, onde o Reino Unido apresentou fortes críticas ao funcionamento da PAC e ao
critério utilizado para definir as contribuições para o orçamento do bloco, visto que, o
país via-se em desvantagem tendo em conta que o mesmo importava mais produtos de
fora das comunidades europeias do que qualquer outro estado-membro e por
conseguinte, sua contribuição calculada em valor agregado era superior em relação a de
outros parceiros. Por outro lado, grande parte dos recursos arrecadados era destinada à
PAC e como a agricultura britânica era relativamente menor que a de outros Estados-
Membros, o país recebia menos benefícios (Gowland, 2017).

Por fim, o acordo final definiu que ao Reino Unido seria reembolsado um montante fixo
de um bilhão da Unidade de Conta Europeia referente a 1984 e que, a partir do ano
seguinte, o cálculo de restituição, denominado rebate, corresponderia a 66% da
diferença entre o valor das contribuições britânicas com base no imposto sobre o valor
agregado e a quantidade que o país recebia do orçamento comunitário (Szucko, 2020:
87). O resultado foi considerado uma importante vitória para o governo britânico. Estas
acções do Reino Unido eram uma resposta clara a retórica adoptada pela UE em relação
aos seus países membros, especialmente o Reino Unido.

Desta feita, o sucesso no uso do instrumento económico na P.E do Reino Unido para a
União Europeia, depende da combinação, por um lado, os recursos e as capacidades que
o país tem à sua disposição e a vontade do país em usar tais recursos e capacidades e por
outro o grau de necessidade e vulnerabilidade que a U.E tem perante tais recursos e
capacidades de Reino Unido.

3.2.3. Instrumento Militar


De acordo com Daehnhardt (2017: 100), a área da política de segurança e defesa foi das
poucas onde o Reino Unido desempenhou um papel activo não apenas na formulação de
políticas, mas também no desenvolvimento institucional da Política Europeia de
Segurança Comum (PESD), ou Política Comum de Segurança e Defesa (PCSD) depois
do Tratado de Lisboa. A Declaração franco-britânica de Saint Malo, mais conhecida
como “Declaração Conjunta sobre a Defesa Europeia”, assinada pelo Presidente Jacques
Chirac e o Primeiro-Ministro Tony Blair, institucionalizou a PESD, segundo a qual a
União Europeia devia dispor de capacidade de acção autónoma, apoiada em forças
militares credíveis, de meios para decidir da sua utilização e disposição para fazê-lo, a
fim de responder às crises internacionais. Tal como a autora advoga (Ibid.), não só foi a
primeira vez que o Reino Unido deu um impulso decisivo a uma nova política da UE,
como o fez em conjunto com a França, numa rara demonstração de liderança europeia
franco-britânica, como ainda convenceu os Estados Unidos que a PESD não era uma
política antiamericana nem contra a NATO.

Contudo, ao mesmo tempo que contribuía para o desenvolvimento institucional na área


da segurança e defesa, o Reino Unido resistia às tentativas de tornar a União Europeia
responsável pela defesa territorial na Europa, rejeitando comprometer a posição da
NATO ou o seu próprio compromisso para com os EUA. Neste sentido, rejeitou todas
as tentativas de promover uma autonomia de defesa europeia, como, por exemplo, a
criação de um quartel-general permanente da UE para as operações militares. As
repercussões desta divergência revelaram-se na “cimeira dos chocolates”, em Abril de
2003, em plena crise transatlântica, com a sugestão franco-alemã para que em Tervuren,
na Bélgica, fosse construído o quartel-general de uma força de defesa europeia, onde o
Reino Unido opôs-se a tal iniciativa, por rejeitar as pretensões franco-alemãs de uma
autonomia estratégica europeia (Ibid: 100-101).

A política externa do Reino Unido para a União Europeia pode ter sido motivada pela
necessidade de reforçar a soberania e interesses britânicos através do processo de
integração. (Hipótese 2)

Lista de Referências
Gowland, David (2017), Britain and the European Union. Edição New York
Routledge: London.

Scofield, Ana Clara Balda (2018), As especificidades da relação entre o Reino Unido
e a União Europeia: desde a adesão ao bloco às suas futuras relações após o Brexit
(Trabalho apresentado como requisito parcial para conclusão do curso em Direito), Rio
de Janeiro: Escola de Direito Fundação Getúlio Vargas Direito Rio.

Renzo Felipe Marafão (2021), O Brexit e o Desinteresse do Reino Unido (Trabalho


apresentado como requisito parcial para obtenção do grau de Licenciatura em Relações
Internacionais), São Paulo: Universidade Federal de São Paulo-UNIFESP.

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Disponível em: https://www.bbc.com/news/uk-politics-26515129. Consuldado em 16 de
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Daehnhardt Patricia (2017), “O Reino Unido e a Alemanha Após o Brexit as


Trajectórias Inversas de duas Potências Europeias” Universidade Lusíada de Lisboa,
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Szucko, Angélica (2020), União Europeia em Redefinição: Reflexos Identitários no


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Editora, UFPB: São Paulo.

Soares, Andreia M. (2005), União Europeia: que modelo político? Edições ISCSP:
Lisboa.

Kenealy, Daniel (2016), “Brief history of Britain’s membership of the EU, in Britain’s
Decision Facts and Impartial Analysis for the EU referendum on 23 June 2016”, Centre
on Constitutional Change, University of Edinburgh, Escócia. Disponível em:
http://www.centreonconstitutionalchange.ac.uk/sites/default/files/papers/
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Miller, Vaughne (2015), “The 1974-75 UK Renegotiation of EEC Membership and


Referendum, Londres” House of Commons Library. Disponível em:
https://researchbriefings.parliament.uk/ResearchBriefing/Summary/CBP-7253.
Acessado em 17 de Agosto de 2021.

Neto Vieira, José Pedro Pereira (2017), Brexit-Implicações nos Interesses


Estratégicos Portugueses (Dissertação apresentada para a obtenção do Grau de Mestre
em Estratégia), Lisboa: Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da
Universidade de Lisboa-ISCSP.

Wache, Paulo Mateus (2012), A União Europeia e as suas Relações com o Mundo:
Entendendo a Política Externa da União Europeia para África. Edição, Instituto
Superior de Relações Internacionais (ISRI): Maputo.

Wache, Paulo Mateus (2020), Política Externa de Moçambique Para a África do Sul:
Gerindo a Diplomacia Económica Assimétrica. Editora, Universidade Joaquim
Chissano: Maputo.

Brighi, Elisabetta & Chritopher Hill (2012), “Implementation and Behaviour”, S.


Smith, A. Hadfield & T. Dunne (eds), Foreign Policy: Theories, Actors & Cases, 2ª
edição, Oxford University Press, 147-167.

NOTA: Organizar as Referências em Ordem Alfabética!

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