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ESCOLA SUPERIOR DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Licenciatura em Relações Internacionais e Diplomacia

Disciplina: Histórica de Relações Internacionais

°Ano

Pós-Laboral

TEMA: PACTO ENTRE A ALEMANHA E A RÚSSIA DE NÃO-AGRESSÃO


(1939): SEU SIGNIFICADO E SUAS IMPLICAÇÕES

Discentes:

Docente: Dra. Fátima Chimarizane

Maputo, Julho de 2021


ÍNDICE
Introdução..................................................................................................................................1
SECÇÃO 1: DESCRIÇÃO DOS EVENTOS ANTECEDENTES À ASSINATURA
DO PACTO GERMANO-SOVIÉTICO...........................................................................2
1.1. Período de 1933 a 1938....................................................................................................2
1.2. Período de 1938 a 1939....................................................................................................4
SECÇÃO 2: IMPLICAÇÕES DO PACTO ENTRE A ALEMANHA E A RÚSSIA DE
NÃO-AGRESSÃO DE 1939..............................................................................................5
2.1. Implicações do Pacto Germano Soviético.........................................................................6
Conclusão.....................................................................................................................................8
Lista de Referências.....................................................................................................................9
Introdução

O presente trabalho faz uma análise em torno das Implicações do Pacto entre a
Alemanha e a Rússia de Não-Agressão de 1939. Para o efeito, o trabalho apresenta
uma abordagem que se sustenta, primeiramente, na revisão bibliográfica, onde apresenta
uma breve visão sobre a política externa soviética, nos anos que antecederam a
assinatura do Pacto entre a Alemanha e a Rússia de Não-Agressão.

Em termos metodológicos, o presente trabalho foi elaborado recorrendo a abordagem


qualitativa e quantitativa, através do método histórico auxiliado pela técnica de pesquisa
bibliográfica que a abrange a pesquisa documental.
O método histórico que consiste em investigar os acontecimentos, processos,
instituições do passado para verificar sua influência na sociedade actual. Este que,
servirá para fazer revisão da literatura referente ao período em que a conjuntura
internacional fez despertar nos actores estatais a consciência da sua importância na
promoção da paz e da democracia no mundo (Andrade, 2006: 135). Com este método
foi possível fazer analisar as condições antecedentes e as condições subsequentes para a
assinatura do Pacto. Por seu turno, a técnica de pesquisa bibliográfica, que consiste na
recolha de todo material de carácter documental, ou seja, escrito, como por exemplo
livros, artigos e revistas. O uso destas técnicas permitiu a melhor abordagem de um
estudo qualitativo Gil, (1999: 160).

O trabalho está subdividido em duas secções essenciais. A primeira secção, faz uma
análise histórica da descrição dos eventos antecedentes à assinatura do pacto germano-
soviético. A segunda secção está reservada para analisar as implicações em torno da
assinatura do Pacto entre as potências na época. Por último, segue a conclusão e as
respectivas referências bibliográficas.
SECÇÃO 1: DESCRIÇÃO DOS EVENTOS ANTECEDENTES À ASSINATURA
DO PACTO GERMANO-SOVIÉTICO

1.1. Período de 1933 a 1938

A subida ao poder de Hitler deu início a uma nova era na relação entre a União
Soviética e a Alemanha. O seu discurso inflamado contra o comunismo e a necessidade
de uma expansão territorial para este era uma ameaça clara à segurança da União
Soviética. No entanto, Stalin não tomou esta ameaça como séria logo em 1933, ano da
subida ao poder de Hitler. Ao invés disso, ele acreditava que Hitler estava destinado ao
fracasso e que a sua eventual saída do poder abriria caminho aos comunistas alemães.
Tão convicto estava ele desse desfecho que ordenou ao partido comunista alemão e aos
seus militantes que votassem no partido nazista (David, 1998: 15). Contudo, Stalin
estava errado quanto à fragilidade ou incapacidade de Hitler em manter-se no poder. Ao
longo dos anos seguintes, Hitler foi consolidando o seu poder pelo que era importante
agora perceber que tinha vindo para ficar e Stalin tinha de agir em concordância.

Desta forma, os objectivos da política externa nazi eram claros e públicos, já que Hitler
tinha os enunciado no seu livro Mein Kampf. Entre eles, a expansão territorial às custas
da União Soviética era bem clara e Stalin estava consciente desse facto. Isso era mais
perigoso para a segurança da União Soviética dado o facto de esta não estar em
condições de fazer frente à Alemanha sozinha, ainda que por vezes Stalin quisesse
passar essa imagem (Ibid: 15-16). Assim sendo, a Stalin apresentava três opções em
como agir com este facto:

 A procura por matérias-primas para alimentar a crescente população alemã,


passava pela conquista da Ucrânia e das suas planícies férteis. Como tal, a
primeira opção seria abdicar da Ucrânia e permitir que a Alemanha a ocupasse
sem oposição;
 O eventual confronto que se avistava no futuro entre a União Soviética e a
Alemanha e a incapacidade da primeira em fazer frente sozinha à segunda,
significava que era necessária uma aproximação às potências capitalistas
liberais, isto é, França e Reino Unido, e assim criar uma frente comum que
fizesse frente aos excessos de Hitler e às suas pretensões territoriais;
 A última opção era a de tomar a iniciativa e a dar a Hitler o que ele pretendia, as
matérias-primas tão necessárias para a expansão da Alemanha e do seu povo,
esperando com isso amenizar os seus intentos em levar guerra à União Soviética.

Ficava claro desde a primeira hora que a primeira opção de abdicação da Ucrânia estava
fora de questão, pelo que seria necessária uma abordagem simultânea à segunda e
terceira hipóteses (Ibid).

Ainda neste contexto, importa realçar que o Sistema Internacional de Versalhes que saiu
da Primeira Guerra Mundial não era bem visto pelos comunistas para além de terem
sido excluídos da mesma. Assim sendo, a ideia da segurança colectiva, um dos
princípios basilares da Sociedade das Nações, nunca tinha sido usado como bandeira
dos comunistas no plano internacional (Ibid: 16-17). Acontece que a subida ao poder de
Hitler e o perigo que este representava para a União Soviética significava uma alteração
da estratégia política dos comunistas, que se viam na necessidade de usar os meios
necessários para travar o avanço nazista e o fortalecimento alemão. Em termos
concretos da política externa soviética, isto significou a assinatura de uma série de
tratados de não-agressão com os estados vizinhos da União Soviética, nomeadamente
Estónia, Letónia, Polónia e Roménia. A assinatura destes tratados não era meramente a
promessa de não entrar em guerra com estes estados, significava também o
reconhecimento formal da sua existência e das fronteiras criadas após a Primeira Guerra
Mundial. Stalin estava portanto a abdicar do direito da União Soviética nestes territórios
em troca de uma segurança das fronteiras. Para além destes tratados, Stalin assinou
ainda com a França um pacto de assistência mútua com a Checoslováquia, onde estes
países se comprometiam a prestar assistência caso a Checoslováquia fosse atacada, mas
apenas se a França o fizesse primeiro. Com este tratado Stalin dava um dos primeiros
passos para uma cooperação com as potências capitalistas liberais, mas ainda assim
demonstrando uma reserva clara quanto ao compromisso dado, garantido que a União
Soviética não fosse deixada sozinha pela França na ajuda à Checoslováquia ao garantir
a cláusula de só o fazer caso a França o fizesse primeiro (Ibid: 18).

O grande passo seguinte na procura de uma frente comum contra Hitler foi a entrada em
Setembro de 1934 da União Soviética na Sociedade das Nações. A partir deste
momento, a União Soviética tornar-se-ia um dos maiores promotores da segurança
colectiva, tentando várias iniciativas junto dos diversos estados europeus para travar a
Alemanha. A figura de proa desta nova linha de acção era Maxim Litvinov, o
responsável da política externa soviética. Este era um homem que não tinha tanta
desconfiança das potências capitalistas liberais como Stalin, pelo que a sua linha de
acção passava por uma aproximação destas em detrimento da Alemanha (Ibid: 18-19).

A união da Alemanha com a Áustria a 12 de Março de 1938, com o Anschluss, deu


início à expansão territorial alemã e confirmou os piores receios dos soviéticos. A ideia
da procura pelo Lebensraum não era meramente propaganda nazista, era um objectivo
real que seria perseguido por Hitler. Como tal, os soviéticos tinham de agir junto dos
outros países, convocando o Reino Unido, França e Estados Unidos a 17 de Março para
uma acção conjunta contra a Alemanha. Esta proposta foi recebida com muitas reservas
já que os três países não queriam ser envolvidos num conflito com Hitler. Os Estados
Unidos continuavam na sua linha de não intervenção nos assuntos europeus, a França
estava preocupada com a crise política interna e o Reino Unido, pela voz de
Chamberlain, não queria confrontar Hitler e considerava a ideia impraticável. Como tal,
os esforços soviéticos em quebrar a expansão territorial alemã logo de início foram
interrompidos pelas reservas das maiores potências que advogavam a segurança
colectiva. (Ibid.).

1.2. Período de 1938 a 1939


O primeiro passo nesse sentido foi dado no final do ano de 1938, quando Stalin, pela
pessoa do embaixador soviético na Alemanha, fez saber ao Ministro dos Negócios
Estrangeiros alemão, Joachim von Ribbentrop, através do director do departamento da
política económica alemã, Emil Wiehl, que os soviéticos estavam prontos a retomar as
conversações de crédito que tinham sido interrompidas em Março (David. 1998: 21-22).
Durante todo o ano de 1938, Hermann Goring, como cabeça do Plano de Quatro Anos,
vinha alertando para a necessidade extrema de matérias-primas de modo a que o Plano
pudesse ser concluindo com sucesso. Durante os primeiros meses de 1938, por exemplo,
as fábricas de munições só tinham recebido um terço da sua quota de ferro e aço. O
caminho para as negociações iniciou-se a 11 de Janeiro de 1939, quando Stalin
respondeu ao pedido alemão de retomar as negociações a partir do zero. Nessa resposta
Stalin afirmou que queria que essas negociações fossem feitas em Moscovo. Isto
afirmaria ao mundo o novo estatuto da Alemanha para a política externa soviética.
Apesar das dúvidas de Ribbentrop, a necessidade extrema dos bens que a União
Soviética estava pronta a comercializar com a Alemanha obrigou-o a aceitar a proposta.
SECÇÃO 2: IMPLICAÇÕES DO PACTO ENTRE A ALEMANHA E A RÚSSIA
DE NÃO-AGRESSÃO DE 1939.

No ano de 1939, em meio à atmosfera de tensão política que desencadeou a sucessão de


conflitos da Segunda Guerra Mundial, um acordo de não-agressão foi firmado entre a
Alemanha e a União Soviética, o Pacto Germano-Soviético ou Pacto Ribbentrop-
Molotov.

O referido pacto foi assinado em 23 de agosto de 1939 pelos representantes dos


governos da Alemanha nazista e da União Soviética, J. Von Ribbentrop e V. Molotov,
respectivamente. Esse pacto estabelecia que, se acaso a Alemanha entrasse em conflito
com a Inglaterra ou a França em razão de uma eventual investida da Alemanha contra a
Polónia, a URSS, por sua vez, ficaria afastada, sem se manifestar militarmente.

Entretanto, havia um protocolo anexado ao documento, que se manteve secreto, cujo


conteúdo indicava o pleno interesse da União Soviética pelo território da polónia e por
outras áreas de influência que a política de “espaço vital” da Alemanha nazista poderia
suscitar. Assim, após a incursão dos alemães pelo território polonês, tanto os membros
da Gestapo e SS alemãs quanto os membros da NKVD (polícia secreta soviética)
passaram a seleccionar, inicialmente, prisioneiros nos territórios conquistados e a trocá-
los mutualmente de acordo com os seus critérios1.

Na região do Leste Europeu, seguiram-se as divisões territoriais entre URSS e


Alemanha. Os soviéticos anexaram todos os seus territórios conquistados directamente à
URSS, como a Carélia finlandesa, os três estados do Báltico, a Polónia Oriental e a
Bucovina. Já os alemães anexaram a Polónia Ocidental, a Alsácia-Lorena e a Eslovénia.

Em 1941, quando a guerra já havia tomado proporções além do continente europeu, os


nazistas passaram a ter interesse nas reservas económicas da URSS. Além disso, o
acirramento das inúmeras divergências políticas e ideológicas entre Hitler e Stalin
(sobretudo no que se referia ao interesse pela expansão do III Reich também em
direcção às terras eslavas) resultou no rompimento do pacto. A URSS juntou-se aos
aliados e, anos mais tarde, atacou o Reich (Ibid).

1
história do Mundo. Disponivel em: https://www.historiadomundo.com.br/idade-contemporanea/pacto-
germano-sovietico.htm. Acessado em 12 de Julho de 2021.
2.1. Implicações do Pacto Germano Soviético

De acordo com De Almeida (s/d2: 47), a assinatura do Pacto Molotov-Ribbentrop entre


duas potências naturalmente antagónicas marcou uma viragem na relação entre as duas
de 1939, ano da assinatura, até ao ano de 1941, ano da quebra do pacto pela Alemanha
nazista e consequente invasão, dando como aberta a frente oriental da guerra na Europa.
Além de divisões territoriais, através da demarcação de zonas de influência atribuídas a
cada um dos estados contratantes, o Pacto Molotov-Ribbentrop também abriu caminho a
uma cooperação próxima entre os dois países, através dos acordos comerciais
celebrados que beneficiaram as duas partes e também da promessa de não envolvimento
em conflitos que as partes estejam envolvidas.

Quanto às esferas de influência criadas, à União Soviética ficariam atribuídas as zonas


dos países bálticos (Lituânia excluída), Finlândia, Bessarábia e finalmente parte da
Polónia, através dos rios Narev, Vistula e San, enquanto à Alemanha eram atribuídas a
restante parte da Polónia e a Lituânia. Seria ainda criado um pequeno estado polaco
entre os dois países. O que cada país faria na sua esfera de influência estava em aberto
(Ibid).

Após a invasão da Polónia, em Setembro, Estaline propôs uma alteração ao Pacto,


rejeitando a criação de um estado polaco nas fronteiras assim como uma alteração às
respectivas zonas de influência. A troco de uma parte da Polónia, Stalin ficaria com
direito à Lituânia.

Relativamente à Finlândia, foi exigido ao governo finlandês que a fronteira entre os dois
países recuasse 30 quilómetros e que destruíssem todas as fortificações no Istmo da
Carélia. Ainda foram exigidas concessões territoriais no Golfo da Finlândia, no Mar de
Barents, assim como a permissão para instalar uma base militar em território finlandês.
A recusa do governo finlandês em aceder às exigências soviéticas marcou o início da
Guerra de Inverno. Esta guerra, à partida, parecia uma vitória fácil para a União
Soviética, mas as condições meteorológicas e complicações de outra ordem dificultaram
a vitória soviética. Esta acabou por acontecer, ditando a anexação de parte do território
finlandês à União Soviética, territórios que hoje ainda permanecem sob alçada russa.
Sobre os países bálticos, Estónia, Letónia e Lituânia foi feita pressão pela União
Soviética para se juntarem ao gigante comunista, o que acabou por acontecer. Sobre a
2
Sem data.
Bessarábia, a União Soviética fez um ultimato à Roménia para que abandonasse o
território, que acabou por ceder ao fim de quatro dias ditando a anexação deste pela
União Soviética (Ibid: 47- 48).

As relações económicas entre a Alemanha e a União Soviética foram também alvo de


melhoramentos e a integração económica aprofundada. Foi acordado entre os dois
países o envio de grandes quantidades de matérias-primas em troca de bens
manufacturados, material fabril e equipamento. Em 1940, a União Soviética
representava 34% do petróleo importado pela Alemanha, assim como de elevadas
percentagens de vários bens essenciais (Ibid).
Conclusão

Feito o trabalho, constatou-se que, por um lado, a assinatura do Pacto Molotov-


Ribbentrop entre duas potências naturalmente antagónicas (Alemanha e URSS) marcou
uma viragem na relação entre as duas de 1939, ano da assinatura, até ao ano de 1941,
ano da quebra do pacto pela Alemanha nazista e consequente invasão, dando como
aberta a frente oriental da guerra na Europa. Por outro lado, o pacto de não-agressão
com a Alemanha significava que os dois blocos inimigos se iriam cruzar numa guerra
entre grandes potências, o que, literalmente, significa, dado o poder militar deste tipo de
potência, uma guerra prolongada entre si. Portanto, Stalin tinha todas as razões para ter
ficado satisfeito com a conclusão deste acordo com a Alemanha. Para ele significava o
enfraquecimento mútuo de três grandes potências no continente europeu, ao mesmo
tempo que, a União Soviética, estando numa posição de segurança poderia fortalecer-se
militarmente e, caso o desejasse, entrar numa fase final da guerra contra o estado que
tivesse em vias de perder a guerra para, assim, conseguir ainda mais ganhos.

Observou-se, igualmente, que o Pacto Germano-Soviético criou esferas de influência


para os dois países, a promessa de não-agressão, assim como a garantia de neutralidade
caso um terceiro estado atacasse qualquer uma das partes, nem que nenhum dos dois
países ajudasse o terceiro estado. Dessa forma, Stalin não só garantiu a paz, como ainda
a expansão territorial da União Soviética e, como consequência, o aumento do seu
poder.
Lista de Referências

De Almeida, António Ferreira (S/d), “Mestrado em Ciência Política e Relações


Internacionais Especialização em Relações Internacionais”. Universidade Nova de
Lisboa – Faculdade de Ciências Sociais e Humanas.

Fisher David (1998), The Deadly Embrace: Hitler, Stalin, and the Nazi-Soviet Pact
1939-1941. Nova Iorque/Londres. Volume 1, N° 5, 15-33.

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