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INTRODUÇÃO

Começando assim a instaurar este trabalho realçando que face a este cenário
internacional e a prevalência de um regime de partido único em Angola, a diplomacia
angolana privilegia a cooperação e a sensiblidade para uma boa estabildade na região
dos grandes lagos.

E quanto aos conflitos nas regiões dos grandes lagos que podem causar guerra
entre Estados ameaça regressar à região africana dos Grandes Lagos. A tensão entre
os governos de Kinshasa e Kigali está ao rubro. O sequestro de dois militares
ruandeses, em solo nacional, por um grupo rebelde ruandês que opera a partir da RDC é
o último episódio desta escalada de acusações mútuas.

i
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Os Grandes Lagos Africanos são um conjunto grandes lagos de


origem tectónica, localizados na África oriental, que incluem alguns dos lagos mais
profundos do mundo. A maior parte destes lagos foi formada há cerca de 35 milhões de
anos no Rifte Albertino — um dos ramos da formação geológica Grande Vale do Rifte,
que abrange a Etiópia, Quénia, Tanzânia, Uganda, Ruanda, Burundi, República
Democrática do Congo, Zâmbia, Maláui e Moçambique.

Juntos, compõem um dos ecossistemas aquáticos mais importantes do mundo em


termos de serviços ecossistémicos, biodiversidade e ciclagem do carbono. A Região dos
Grandes Lagos é a área geopolítica composta pela República Democrática do Congo,
Ruanda, Uganda e Tanzânia. É uma região marcada pelos maiores lagos do continente
africano, por uma proximidade cultural e linguística. Porém, esta região está assolada
por conflitos étnicos e políticos regulares. Os conflitos nesta região são tão frequentes
que põem em causa a paz internacional e estabilidade regional. Deste modo, em 2000, o
Conselho de Segurança das Nações Unidas, graças às resoluções 1291 e 1304, criou a
Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos (CIRGL).

Esta investigação leva-nos a um objeto mais concreto que é a estratégia de


Angola para procurar garantir a paz nos países membros da Conferência Internacional
sobre a Região dos Grandes Lagos. Formulação do problema de investigação Um dos
principais objectivos da Conferência Internacional sobre Região dos Grandes Lagos é o
estabelecimento da paz e segurança na região em prol dum maior desenvolvimento
regional. Neste sentido, que o papel é desempenhado pela República de Angola no
processo de neutralização das forças negativas e melhor democratização nas mesmas
regiões.

ii
OS FACTORES GEOPOLÍTICOS DOS CONFLITOS NA RDC

Geopolítica é a área que estuda as relações de poder entre os Estados,


considerando as vias diplomáticas e militares. O termo surgiu no século XX, com o
nazismo.

A República Democrática do Congo, desde a sua fundação, tem encontrado


dificuldades em administrar o seu território. O artigo 2º da Constituição da RDC de 13
de Maio de 2006 dispõe que “ A RDC é composta pela cidade de Kinshasa e as suas 25
províncias”.

A República Democrática do Congo é o segundo país mais amplo do continente


africano com 2,6 milhões de quilómetros quadrados (Nações Unidas, 2015). Para
termos uma ideia da dimensão desse gigante território, convém salientar que a RDC
contém também importantes reservas de água que permitiria fornecer eletricidade a toda
a Região dos Grandes Lagos. A densa floresta equatorial do país é a segunda maior
floresta do mundo. Porém, existe uma disparidade no que concerne à repartição da
população.

O centro do país está praticamente despovoado pois a maior parte da população


está localizada nas periferias, o que causa tensões centrífugas. Esta disparidade explica-
se por vários motivos, entre os quais o difícil acesso às zonas florestais e montanhosas
devido à falta de estradas. As estradas e caminhos de ferro, por sua vez, são quase
inexistentes. Podemos tentar explicar esta carência devido à situação geográfica do país.

De facto, se repararmos no mapa da RDC, veremos que o seu espaço está


fracturado por vários rios, lagos e lagoas. Além disso, o país sofre de grandes
precipitações, provocando então erosão dos solos (Pourtier,2008,). Esta informação é
importante, sobretudo quando se trata de países africanos, onde muitas das vezes, as
estradas são feitas com produtos de baixa gama, deterioram-se facilmente no tempo de
chuvas e faz-se pouca manutenção.

iii
A COMPLEXIDADE ÉTNICA NO EPICENTRO DOS CONFLITOS
DO KIVU

As duas províncias de Kivu (Nord-Kivu e Sud-Kivu) não são as únicas com


conflitos regulares mas têm a particularidade de serem o palco da maioria dos conflitos
e têm uma grande concentração de atores diversos onde o Estado desempenha um papel
quase inexistente.

O motivo desta guerra é muito mais complexo do que as rivalidades étnicas. A


prova disso é que algumas milícias como a Aliança das Forças Democráticas para a
Libertação do Congo (AFDL) tiveram membros de várias etnias: hútus, tutsis ruandeses
e congoleses. Na verdade, o que está a acontecer no leste da RDC há mais de 20 anos
resulta da transferência dos problemas de rivalidade no Ruanda entre hútus e tutsis que
levou ao genocídio do Ruanda de 1994.

Segundo Patrícia Ferreira, o ápice das rivalidades entre hútus e tutsis ocorreu em
1994 com o assassinato do presidente Habyarimana do Ruanda, do presidente
Ntaryamira do Burundi e de vários altos funcionários do Governo que viajavam de
avião (Ferreira, 1998,p.49). Foi então o início de violências e massacres sem igual em
Kigali. Oitocentos mil (800 000) tutsis e hútus moderados foram massacrados e um
milhão de ruandeses refugiou-se na RDC, particularmente nas províncias dos Kivu. Para
muitos congoleses, os conflitos no Kivu Norte e no Kivu Sul só eclodiram por causa dos
refugiados ruandeses que atravessaram a fronteira para fugir do genocídio e carregaram
com eles as rivalidades antigas.

Um grande erro cometido na gestão dos campos de refugiados foi o facto de não
se ter identificado e separado os membros extremistas das milícias hútus e do antigo
Governo ruandês dos restantes refugiados. Passou então a haver discriminação entre
tutsis congoleses, tutsis ruandeses e hútus ruandeses que reivindicam os territórios
congoleses onde eles estão instalados. Esta falta de coesão nacional no Kivu Norte tem
causado muitos males à população congolesa, por exemplo. Infelizmente, um destes
males é a violação de mulheres.

iv
Esta calamidade é denunciada pelas Organizações Não Governamentais ONGs e
pela Organização das Nações Unidas. Em 2009, foram registados mais de 7500 casos de
violações cometidas por milícias mas também por soldados das forças regulares
congolesas.

AS PRINCIPAIS FORÇAS NEGATIVAS E AS SUAS MOTIVAÇÕES

Como vimos, há muitos atores nas regiões dos Kivu e cada um deles tem as suas
motivações. Criada durante a rebelião do Leste do Congo em 1964, as milícias Mai-Mai
são grupos internos que rejeitam os ruandeses, principalmente os Tutsis (Pourtier,
2009). Existem várias subdivisões de Mai-Mai, sendo os mais ativos, os Mai-Mai
Yakwtumba, os Kifuafua, os NDC Tcheka, os NDC-Renova e os Raia Mutomboli. As
Forças Democráticas de Libertação do Ruanda (FDLR), criadas em 1994, hoje são
responsáveis por inúmeras atrocidades. Embora tenha enfraquecido no primeiro
semestre de 2013, o grupo conta com cerca de 1.500 membros e tem a sua sede no
Norte do Kivu (Irinnews.org, 2013). Esta milícia tem por motivação a proteção do povo
hútu e aspira em exercer uma função política na RDC. O financiamento desta milícia
provém principalmente do saque de matérias minerais nas zonas que controla no Norte e
no Kivu-Sul. Esta milícia possui um braço armado, FOCA (Forças Combatentes
Abacunguzi) que está ativa no Kivu-Sul.

No dia 23 de Março de 2009, foi assinado um acordo entre o CNDP2 (Congresso


Nacional de Defesa do Povo) e o Governo congolês no qual foi estipulado que o CNDP
poderia integrar as tropas do exército, as estruturas administrativas e transformar-se
num partido político. No entanto, o acordo não foi posto em prática, o que suscitou o
descontentamento dos milicianos que acusavam as forças armadas de discriminação. O
Ruanda apercebeu-se disso e apoiou o CNDP a rebelar-se contra a RDC (Valenzola,
2013). Assim, em abril de 2012, antigos soldados do CNDP sob a liderança de
Ntaganda amotinaram-se e criaram o movimento M23, em alusão à data de assinatura
do tratado no qual o presidente Kabila prometia todas as coisas acima enumeradas. O
M23 tinha a sua base em Kibumba, a vinte e cinco quilómetros do norte de Goma,
capital do Kivu-Norte. Isso era preocupante pois se o M23 tivesse tomado posse de
Goma, a administração da região ficaria à sua mercê (Charlotte Cosset, 2012).

v
DESTACADO PAPEL DE ANGOLA NA RESOLUÇÃO DE
CONFLITOS EM ÁFRICA NA REGIÃO DOS GRANDES LAGOS

O secretário-geral do Fórum Parlamentar da Conferência Internacional da


Região dos Grandes Lagos (FP-CIRGL), Onyango Kakoba, destacou no dia 15 de
Novembro de 2022, em Luanda, a postura do Presidente da República de Angola, João
Lourenço, na mediação dos conflitos entre o Rwanda e a República Democrática do
Congo (RDC).

Onyango Kakoba, que falou à imprensa depois da audiência com a presidente da


Assembleia Nacional, Carolina Cerqueira, considerou Angola um país experiente na
resolução de conflitos.

"Viemos aqui para adquirir experiência e receber conselhos sobre as questões e


problemas do continente, porque Angola tem uma grande experiência no que concerne à
resolução de conflitos. Sobretudo, vimos a atitude do Presidente de Angola em
congregar as partes em conflito no Congo e no Rwanda, em colocá-las à mesma mesa
para discutir os conflitos que assolam a região”, apontou.

Sublinhou, também, que os laços de cooperação entre o Fórum Parlamentar da


Conferência Internacional da Região dos Grandes Lagos (FP-CIRGL) e a Assembleia
Nacional são saudáveis, afirmando que tem recebido muitos apoios na qualidade de um
dos membros sem atrasos nas suas contribuições.

vi
Funcionamento do Fórum

O Fórum Parlamentar da Conferência Internacional da Região dos Grandes


Lagos (FP-CIRGL) é uma organização interparlamentar que reúne Parlamentos de 12
Estados-membros, nomeadamente, Angola, Burundi, Quénia, República Centro-
Africana, República do Congo, República Democrática do Congo (RDC), Rwanda,
Su-dão, Sudão do Sul, Uganda, Tanzânia e Zâmbia.

O Estado angolano é membro efectivo da Conferência Internacional da Região


dos Grandes Lagos desde a adopção da Declaração de Dar-es-Salaam, Tanzânia, sobre a
Paz, Segurança, Democracia e Desenvolvimento naquela região, assinada a 20 de
Novembro de 2004.

O FP-CIRGL, designado como o Fórum, foi instituído a 4 de Dezembro de


2008, em Kigali, Rwanda, quando os presidentes dos Parlamentos dos Estados-
membros assinaram e ratificaram o Acordo Interparlamentar.

Ao contrário da maioria dos Fóruns Parlamentares, o FP-CIRGL foi uma


iniciativa dos Chefes de Estado dos países-membros da Conferência Internacional da
Região dos Grandes Lagos (CIRGL), sendo uma organização constituinte da CIRGL
que, por sua vez, foi criada quando os Presidentes da República e os Governos dos
Estados-membros assinaram o Pacto sobre Segurança, Estabilidade e Desenvolvimento
na Região dos Grandes Lagos a 15 de Dezembro de 2006, em Nairobi, Quénia.

O FP-CIRGL está sediado em Kinshasa, RDC, onde funciona ao nível de uma


missão diplomática, com o secretário-geral como embaixador e executor.

O estatuto diplomático da sede foi decidido com base nos princípios


diplomáticos internacionais que regem as organizações intergovernamentais e está
contido no acordo do país anfitrião, assinado entre a CIRGL e a RDC.

vii
OBJETIVO PRINCIPAL

O objectivo principal da CIRGL é evitar que a região continue a ser o foco de


instabilidade em África, cujas consequências acabam sempre por afectar os Estados
limítrofes, ainda que não estejam directamente envolvidos no conflito. O Pacto sobre
Segurança, Estabilidade e Desenvolvimento na Região dos Grandes Lagos foi adoptado
pelos Chefes de Estados e do Governo em 2006 e entrou em vigor em Junho de 2008.
Mas, por incrível que pareça, os Estados da região continuam relutantes na dinamização
da Conferência, já que, de forma reiterada, alguns líderes acabam por se envolver em
conflitos de outros Estados e até fomentá-los.

Quando analisada do ponto de vista geográfico, a região do Grandes Lagos é uma


das mais ricas do continente africano. Vários rios atravessam a região, a maioria dos
Estados possui no seu subsolo recursos naturais em abundância e com uma
diversificação considerável. Os solos são férteis e propícios à prática da agricultura e,
como se fosse uma bênção de Deus, todos os Estados têm uma população jovem.
Não obstante todas essas potencialidades, é possível constatar que alguns Estados que
estão incluídos na Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos não
utilizam os mecanismos legais para cooperarem, procurando meios violentos que põem
em causa o alcance da paz e da estabilidade. Embora tenham subscrito o projecto da
Conferência, esses países continuam a tentar preservar o poder pelo poder sem ter em
devida conta os meios.

O Estado angolano é dos poucos que chamou a si a bandeira da paz. A política


externa de Angola caracteriza-se por desempenhar um papel central para a paz e
segurança na região. Esta disponibilidade fez com que os líderes da região começassem
a ver Angola com uma perspectiva de liderança responsável e guardiã da estabilidade na
região.

A consolidação da imagem de Angola, enquanto Estado dirigido para a paz e


segurança na região, tem tido efeitos positivos e avanços significativos, mas os outros
Estados aproveitam para continuarem a perpetrar acções que em nada contribuem para a
paz na região, passando uma imagem péssima dos líderes do Continente.

viii
O Presidente José Eduardo dos Santos é o guardião da paz e da estabilidade em
África. Fez um trabalho bastante intenso para consolidar as acções de paz na região nos
últimos nos três anos, desde a assunção da presidência da Conferência Internacional
sobre a Região dos Grandes Lagos por parte de Angola.

Angola deu visibilidade à Conferência, uma vez que desde a sua


institucionalização havia um marasmo total. Com a dinamização impulsionada pelo
Presidente José Eduardo dos Santos, os conflitos na região passaram a ter maior atenção
por parte da comunidade internacional.
Há necessidade de tornar mais proactiva a diplomacia para a paz utilizando as
representações diplomáticas nos Estados. A diplomacia directa é muito dispendiosa,
implica gastos avultados, com a necessidade de pessoal técnico qualificado e a
movimentação de responsáveis com respaldo político.

Sendo assim, a solução passa pelo envolvimento mais directo das representações
diplomáticas, tanto na sede, aqui em Luanda, como ao nível da interacção das
embaixadas dos Estados membros em cada país. Há uma espécie de ausência de
responsabilidades por parte de alguns Estados, que só aparecem nas reuniões
ministeriais ou nas Conferências de Chefes de Estado e de Governo. A actual situação
de segurança na região pode ser considerada estacionária, porque as tensões existentes
decorrem de problemas mal resolvidos no passado. Por outro lado, o envolvimento da
comunidade internacional, nomeadamente dos países industrializados ou produtores de
armas, não tem sido suficientemente forte a ponto de porem fim aos grupos que criam
conflitos na região ou inibirem os Estados de enveredarem por estratégias que criam
instabilidade nos Estados vizinhos.

Angola tem sido o Estado que mais se envolve ao serviço da região com uma
dinâmica diplomática significativa. As movimentações da diplomacia angolana têm sido
intensas, mas sem o comprometimento de outros parceiros os conflitos acabam sempre
por emergir, terminam uns e surgem outros com actores diferentes, mas com a mesma
essência na acção que a é de fomentar a instabilidade. A consolidação do processo de
paz e reconciliação nacional na República Centro Africana, o processo de paz no Sudão
do Sul com o regresso do Vice-Presidente ao Governo, a paz no Leste da RDC e toda a
expectativa à volta das eleições presidenciais e a consolidação do processo político no
Burundi, são os assuntos que preocupam a região e merecerão a atenção dos Chefes de
Estado e de Governo nesta VI Cimeira.

ix
CONCLUSÃO

Contudo cheguei a concluir que Angola deu visibilidade à Conferência, uma vez
que desde a sua institucionalização havia um marasmo total. Com a dinamização
impulsionada pelo Presidente José Eduardo dos Santos, os conflitos na região passaram
a ter maior atenção por parte da comunidade internacional.

A consolidação da imagem de Angola, enquanto Estado dirigido para a paz e


segurança na região, tem tido efeitos positivos e avanços significativos, mas os outros
Estados aproveitam para continuarem a perpetrar acções que em nada contribuem para a
paz na região, passando uma imagem péssima dos líderes do Continente.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 https://www.jornaldeangola.ao/ao/noticias/destacado-papel-de-angola-na-
resolucao-de-conflitos-em-africa/ consultado aos 08 de Dezembro de 2022
 https://mirex.gov.ao/PortalMIREX/#!/sala-de-imprensa/noticias/11388/
ministro-tete-antonio-espelha-o-papel-da-mediacao-de-angola-na-prevencao-
gestao-e-resolucao-de-conflitos-em-africa
 https://www.jornaldeangola.ao/ao/noticias/detalhes.php?id=358750

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