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DIRECTOR

SALAS NETO
salasnetosa09@gmail.com
Kz 250,00
EDIÇÃO 517 ANO VII
w w w. s e m a n a r i o -a n g o l e n s e . co m SÁBADO  •  01 de Junho de 2013

BATALHA DE KIFANGONDO
ISAAC DOS ANJOS, SEM PAPAS NA LÍNGUA

Memórias puras «O MPLA tem de definir


de quem lá esteve a sua linha ideológica...»
O «27 de Maio» numa visão diferente ESTRANHO, NÊ?

JANGO DA VERDADE
«Capitão»
Manucho
excluído

• Páginas 43

ARTUR ADRIANO

A distinção
que ficou
por se fazer

Página 6

TEMPO máx min

Já se passou tempo mais que suficiente para que os passivos desta tragédia SÁB 28 °C 17 °C
fossem superados, na esteira do que o próprio MPLA «orientara» às autori- DOM 28 °C 18°C
dades estatais em 2002. Mas, ao que se sabe, nada de jeito foi feito desde SEG 28°C 18 °C
então, no sentido de se exorcisarem os fantasmas que o «27 Maio» provocou TER 30°C 17 °C
entre os envolvidos e/ou seus descendentes, com consequências graves QUA 26°C 18°C
para o País. E isto só será possível se o assunto for «dissecado» QUI 29°C 17°C
sem complexos nem recriminações. Num «jango da verdade»... SEX 26°C 22°C
2  Sábado, 01 de Junho de 2013.

Em Foco

Presidência aberta
N
um espaço temporal com o Conselho de Ministros é a maior parte. Uma lástima su-
de quase dois meses, nas capitais das províncias. burbana e sub-humana!
por duas ocasiões, o Tudo leva a crer que, desse O Presidente reuniu-se com
Presidente da Repúbli-
ca, José Eduardo dos Santos, dei-
modo, além do Presidente da Re-
pública tomar conhecimento da
o Conselho de Coordenação Es-
tratégica para o Ordenamento QUI MEDICINA TRADICIONAL
Na região Sul do país, poderá surgir um hos-

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xou o aconchego do seu Palácio realidade de cada local, poderia Territorial e de Desenvolvimento pital dedicado unicamente à medicina natural.
de Chefe de Estado, despiu-se dos também cobrar satisfações direc- Económico e Social de Luanda, Este é um dos projectos do Fórum de Medici-
fatos, «arregaçou as mangas» e tamente aos órgãos administrati- no Marco Histórico «4 de Feverei- na, que já está à procura de um terreno para o
foi ele mesmo constatar os factos, vos das regiões visitadas, quanto ro», no Cazenga. Analisou os pro- efeito. O director provincial da organização na
que normalmente lhe encontram à implementação dos projectos su- blemas da capital, assim como os MAI Huila, Miguel Katengue, é quem garantiu.
no seu gabinete em forma de re- periormente traçados, aprovados e projectos a serem implementados.
latórios e, provavelmente, muitos
falatórios.
financiados.
Essa «pressão presidencial»,
Admitiu a existência de «graves
problemas», sobretudo no domí- SEX VEM AÍ O JARDIM BOTÂNICO
Haverá em breve (ou não) um jardim botâ-

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Primeiro: no dia 9 de Abril, Dos distante de pressupor qualquer nio das infraestruturas e do sanea- nico, no Campus Universitários da UAN. Já foi
Santos dispôs-se a visitar o maior desvantagem, tem o seu quinhão mento básico. mesmo apresentada a maquete. A directora do
município da província de Luan- de benefícios, que não é pouco, na No encontro de balanço que Centro de Botânica da UAN, Esperança da Cos-
da, o Cazenga. Depois de, no fim- medida em que permite verificar a presidiu, em Caxito, com os go- ta, disse que a referida infraestrutura vai aliar a
-de-semana anterior à visita, as competência dos governantes lo- vernantes do Bengo, o Titular MAI teoria à prática nas disciplinas ligadas à biologia.
chuvas terem castigado a capital cais no exercício das suas funções. do Poder Executivo decidiu criar
do país, o PR deu-se a esse traba-
lho com a finalidade de, oficial-
Além disso, num outro âmbi-
to, politicamente sai fortalecido o
um Grupo de Trabalho para tra-
tar dos embaraços financeiros SÁB KABUSCORP NA FRENTE
O Kabuscorp do Palanca derrotou, neste dia,

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mente, avaliar as obras que estão a braço executivo do Presidente, ao dos projectos que constam do no estádio Joaquim Morais, por 2-0, o Atlético
ser realizadas naquelas bandas. mesmo tempo que pode ficar no ar OGE 2013, tendo em conta as di- do Namibe. Com essa vitória, o clube de Bento
Segundo: recentemente, no dia certa fraqueza dos governos locais, ficuldades de ordem financeira Kangamba torna-se cada vez mais líder do Gi-
23 de Maio, o Chefe de Estado quanto às suas responsabilidades, verificadas na sua execu¬ção na rabola, agora com trinta e três pontos. Meyong
deslocou-se ao Bengo, onde, na porquanto, no terreno, prevalece província. Além disso, Dos San- MAI e Love Cabungula foram os marcadores.
sede provincial (Caxito), reuniu- sempre o juízo de que as coisas tos recomendou soluções para
-se com os governantes locais
para saber do balanço das acções
«só» acontecem quando o Chefe
de Estado aparece.
os projectos que não constam do
OGE 2013. DOM BENFIQUISTAS OPTIMISTAS
O empate frente ao ASA mantém o Benfica

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feitas naquele reduto do país, so- Essa ideia ficou demostrada, Com essas determinações, ba- de Luanda entre os últimos do Girabola. Ainda
bretudo no que diz respeito aos mais uma vez, na passagem de José seadas na observação «in loco» do assim, o técnico adjunto da formação «encar-
planos contemplados pelo Orça- Eduardo dos Santos pelo Cazenga. próprio José Eduardo dos Santos, a nada» perspectiva melhorias na segunda volta
mento Geral do Estado (OGE) de Alguns dias antes de o Presidente «presidência aberta» pode ter res- da prova. «A trabalhar para melhorar, os resul-
2013. visitar o mercado Nova Luz e fazer surgido e de bom grado, num mo- MAI tados» são as palavras de ordem.
Pode ser que não, mas essas o reconhecimento das obras de in- mento em que muitas acções do
duas actividades, vistas «rustica-
mente» de longe, despertam o en-
tervenção na zona da Lagoa de São
Pedro, no bairro do Hoji-Ya-Hen-
Governo, no tocante às obras em
curso antes das últimas eleições, SEG SELECÇÃO SEM MANUCHO

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tendimento para a prática da de- da, e averiguar as acções de requa- simplesmente estavam paralisa- Já se conhecem os jogadores seleccionados
nominada «presidência aberta». O lificação das 5.ª, 6.ª e 7.ª avenidas, das, para desagrado geral. para o jogo entre Angola e o Senegal. Porém, a
próprio MPLA, partido no poder, o «Zengá», como é conhecido na A «presidência aberta» pode ser ausência de Manucho Gonçalves é o destaque na
por meio do seu «site», considera boca do povo, passou por uma ri- uma injecção de ânimo no corpo convocatória. A partida acontecerá no dia 8 de
dessa maneira essa última visita gorosa arrumação. cheio de «mangonha» de muitos MAI Junho, no estádio 11 de Novembro. As novidades
que o Presidente Dos Santos fez ao Nas principais vias da região, governantes. Ou pode ser tam- são Kibecha e Libengue, ambos do Kabuscorp.
Bengo. as sucatas foram removidas; o bém a «injecção letal» capaz de
A iniciativa da «presidência
aberta», em Angola, não é uma
lixo, recolhido; e inclusive a areia
foi apanhada. As ruas por onde o
destituir esses «mangonheiros». A
vida do país nos próximos tempos TER SÓ OITAVOS-DE-FINAL
No dizer do director Nacional dos Despor-

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coisa nova. Já passou por um Chefe de Estado iria passar fica- dirá que política é essa. Até lá que- tos de Moçambique, Inácio Bernardo, embora
período de «experiência», há al- ram mesmo limpas. Humanamen- remos saber qual será o próximo haja condições para surpreender, a selecção de
guns anos. Embora os propósitos te mais viáveis! município ou província. É bom Angola de hóquei em patins não passará dos
não se mostrassem tão exitosos, Mas o mesmo não se pode di- que isso se mantenha em segredo, oitavos-de-final. Angola está no grupo C, com
o plano propunha-se levar o zer, infelizmente, do restante das se a intenção é «fiscalizar» o traba- MAI Portugal, África do Sul e Chile. A ver vamos.
Chefe do Executivo a reunir-se estradas internas dessa zona, que lha que está sendo feito.

DOENTES ASSISTIDOS?
QUA Cerca de 114 mil pessoas com VIH/Sida

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estão a ser acompanhadas pelas autoridades
Director: Salas Neto
Editores — Editor Chefe: Ilídio Manuel; Economia: Nelson Talapaxi Samuel
sanitárias do país, num universo de apro-
Sociedade: Pascoal Mukuna; Desporto: Paulo Possas; Cultura: Salas Neto; Grande Repórter: joaquim Alves ximadamente duzentos mil portadores, de
Redacção: Rui Albino, Baldino Miranda, Adriano de Sousa, Teresa Dias, Romão Brandão, e Edgar Nimi
acordo com dados oficiais. Porém, deste
Colaboradores Permanentes: Sousa Jamba, Kanzala Filho, Kajim-Bangala, António Venâncio,
Celso Malavoloneke, Tazuary Nkeita, Makiadi, Inocência Mata, e António dos Santos «Kidá»
Correspondentes: Nelson Sul D’Angola (Benguela) e Laurentino Martins (Namibe).
MAI número apenas cerca 55 mil têm aderido ao
Paginação e Design: Sónia Júnior (Chefe), Patrick Ferreira, Carlos Inácio Fotografia: Nunes Ambriz e Hélder Simões tratamento anti-retroviral.
Impressão: Lito Tipo
Secretário de Redacção: Dominigos Júnior

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António Feliciano de Castilho n.o 119 A • Luanda
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30
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As opiniões expressas pelos colunistas e colaboradores do SA não engajam o Jornal.
AF_Imprensa_JAngolense_285x395mm.pdf 1 14/05/13 01:00
4  Sábado, 01 de Junho de 2013.

Em Foco

Conselho de Ministros aprovou

Como fazer o OGE para 2014


O Orçamento Geral do Estado para 2014 tem um Manual pronto para a sua elaboração. Além dele, as propostas sancionadas
pelo Conselho de Ministros foram sobre a oferta de energia eléctrica no Zaire e em Cabinda; a qualificação de servidores
públicos e os seus salários; o Regulamento Sanitário Nacional; a Lei dos Direitos do Autor; e sobre aspectos da posição
de Angola no xadrez político internacional

A
s Instruções e o Ma-
nual para a Elaboração
do Orçamento Geral
do Estado (OGE) 2014
foi a proposta de maior destaque
entre as providências aprovadas
na quarta-feira, 29 de Maio de
2013, pela 4ª Sessão Ordinária do
Conselho de Ministros (CM), que
teve lugar na Sala de reuniões do
Palácio Presidencial, na Cidade
Alta, em Luanda.
Estes documentos autorizados
pela reunião, que foi orientada
pelo Presidente da República,
José Eduardo dos Santos, «esta-
belecem as regras e procedimen-
tos que devem ser observados
por cada uma das unidades orça-
mentais no processo de prepara-
ção do respectivo OGE,
introduzindo melhorias nas
normas que permitem a realiza-
ção de uma avaliação permanen-
te das acções do Governo».
Assim diz o Comunicado de
Imprensa do Secretariado do
Conselho de Ministros, que di-
vulgou as conclusões da referi-
da Sessão. Além das melhorias
que devem permitir a observa-
ção das acções governamentais,
as Instruções e o Manuel para de transformação e das linhas um Título confirmativo. O do- cional é um documento auxiliar forme aprovação do Conse-
a Elaboração do OGE 2014 re- de transporte para a electrifi- cumento regula o procedimen- das autoridades sanitárias que lho de Ministros. Contudo,
comenda o« redireccionamento cação das sedes municipais de to administrativo a observar na estabelece um conjunto de medi- está previsto que tenham lu-
em tempo útil da alocação dos Lândana, do Dinge, de Buco mobilidade do pessoal vinculado das e acções para a defesa e a pro- gar alguns eventos em 2013.
recursos para as áreas considera- Zau e do Belize, em Cabinda. ao sector público administrati- tecção da saúde pública, através
das prioritárias, tendo em conta vo, nomeadamente as situações da identificação e controlo per-
Política interna e externa
as necessidades das populações e de destacamento, transferência e manente dos factores de risco.
Qualificação e salários
o Programa Nacional de Desen- permuta.
volvimento». O CM deu continuidade ao seu No âmbito do processo de ade-
Lei dos Direitos do Autor
De acordo com o Comunica- programa de ajustamento dos sa- quação da organização e funcio-
do, um Decreto Presidencial so- lários da função pública, das pres- namento do Executivo à sua nova
Oferta de energia eléctrica bre o perfil do gestor de recursos tações da Segurança Social, do No domínio da Cultura, o CM orgânica, o Conselho ratificou a
humanos na Função Pública - di- salário mínimo nacional, assim aprovou e remeteu à apreciação revisão dos Estatutos Orgânicos
O Conselho de Ministros apro- ploma legal que visa assegurar como das pensões atribuídas aos da Assembleia Nacional, uma do Ministério da Justiça e dos
vou também um contrato para a um aperfeiçoamento constante antigos combatentes, deficientes proposta de «Lei dos Direitos do Direitos Humanos e do Secreta-
reabilitação e a expansão da dis- dos quadros e dos servidores pú- de guerra e familiares de com- Autor e Conexos». Este diploma riado do Conselho de Ministros.
tribuição de energia de baixa e blicos – foi ratificado pelo CM, batentes tombados ou perecidos. prevê a faculdade de todo o cria- Foi ainda objecto de revisão o
média tensão às zonas urbana e tendo em conta o seu programa dor, artista, intérprete, executan- Estatuto Orgânico do Guiché
suburbana da cidade de M’Banza de Modernização da Adminis- te, produtor, organismos de rá- Único de Empresas.
Regulamento Sanitário
Congo. Segundo o Comunicado, tração do Estado. dio difusão e entidades de gestão Relativamente à política exter-
a iluminação pública e a rede de Neste domínio, o Conselho colectiva de obras intelectuais na, o CM apreciou o projecto de
ligações domiciliares deve bene- assinou também um Decreto Uma proposta de Lei que apro- de natureza literária e científica, Resolução que aprova o Acordo
ficiar cerca de 170 mil habitantes Presidencial que regula a forma- va o Regulamento Sanitário Na- usufruir de compensações mo- Quadro para a Paz, Segurança
da capital da província do Zaire. ção profissional dos titulares de cional, do mesmo modo que as netárias decorrentes da utiliza- e Cooperação para a Repúbli-
Outros acordos que dizem cargos de direcção e chefia do outras sugestões, foi sancionada ção das suas obras por terceiros, ca Democrática do Congo e na
respeito a energia eléctrica fo- Estado, tanto na administração pelo CM, no âmbito do reforço bem como a faculdade exclusiva Região dos Grandes Lagos e o
ram igualmente aprovados pelo central como nas administrações das medidas de controlo e de vi- de autorizar a posse dessas obras, projecto de Resolução sobre o
CM. Trata-se dos contratos que locais do Estado, incluindo os gilância sanitária em todo o País. no todo ou em parte, nos limites Acordo Sede entre a República
contemplam o fornecimento e institutos públicos. O Conselho de Ministros reco- e termos da lei. de Angola e a Comissão do Golfo
montagem de sete grupos ge- O procedimento de mobilida- mendou o envio dessa proposta à O II Festival Nacional de da Guiné, tendo recomendado a
radores na cidade de Malange, de na administração pública me- Assembleia Nacional. Cultura (Fenacult) deve rea- remissão destes diplomas legais à
a construção de subestações receu igualmente a ratificação de O Regulamento Sanitário Na- lizar-se no próximo ano, con- Assembleia Nacional. ■
 5
Sábado, 01 de Junho de 2013.

Em Foco

Em conselho directivo, entre outros

ADRA analisa efeitos


da seca e aponta saídas
O
Conselho Directivo da ADRA populações deve ser tão-somente uma das
reuniu-se em sessão ordinária variadas respostas requeridas.
aos 25 de Maio de 2013, num Neste sentido, o seu Conselho Directivo
encontro em que analisou o manifesta-se aberto a partilhar a experi-
contexto do país quanto aos efeitos da seca, ência da organização no que diz respeito
dinâmicas da sociedade civil e da governa- à promoção de culturas agrícolas alter-
ção. nativas e resistentes à seca e de comercia-
Na sua reunião de cúpula, fez ainda o lização, assim como a transferência de
ponto de situação sobre a aquisição do es- subsídios financeiros às populações – em
tatuto de utilidade pública para a ADRA, particular aos grupos mais vulneráveis –
aprovou a admissão de novos membros e feita em parceria com o MINARS e o UNI-
tomou conhecimento das acções e proces- CEF, ao nível local (municípios e provín-
sos dos seus órgãos executivos e da parti- cias) no Sul de Angola.
cipação do seu presidente em dois seminá- A região semiárida do sul de Angola é
rios, que versaram sobre «Sociedade Civil ecologicamente frágil, propícia à ocorrên-
em Angola e o seu papel e influência nas cia de secas cíclicas. Visto deste modo, a
instituições do Estado, no contexto dos questão central, segundo a instituição, es-
imensos recursos naturais à disposição do tará na prevenção dos efeitos da seca, com
Governo de Angola», eventos organizados base numa planificação local proactiva,
pelo Grupo África da Suécia (GAS) em par- regional ou nacional, que leve em conta
ceria com o NAI - Nordic África Instituto. a probabilidade de secas e estiagens e os
Sobre os efeitos da seca e estiagem no Sul mecanismos endógenos de maneio que as
de Angola, o Conselho Directivo da ADRA populações desenvolveram ao longo dos
deplora a situação de emergência em que séculos, ao lidar com esta realidade am-
as populações estão expostas, lamentando biental.
o facto de não se ter tomando em conta os Numa outra vertente não menos impor-
alertas lançados há mais de um ano por lí- tante, o Conselho Directivo da ADRA la-
deres religiosos e Organizações da Socie- menta que, depois das experiências menos
dade Civil (OSC) no sul de Angola. bem-sucedidas em algumas províncias no
Os efeitos da seca e da estiagem fazem- passado, se insista no método de desaloja-
-se sentir de múltiplas e diferenciadas for- mentos forçados das populações em zonas
mas nos agricultores e criadores de gado; suburbanas e fora do quadro estabelecido
nas mulheres, crianças, jovens e idosos; no pela lei vigente, sem diálogo antecipado
mercado de alimentos; no sistema de saúde com as populações e sem que estejam cria-
e de educação escolar. Assim sendo, para das condições alternativas de habitação
a ADRA, a distribuição de alimentos às para a sua acomodação. ■
6  Sábado, 01 de Junho de 2013.

Em Foco

Artur Adriano foi a enterrar nesta quarta-feira em Luanda

A distinção que ficou por se fazer


Salas Neto (*) Nelito Soares, cujos moradores
com quem privava retinham um

O
músico angolano Ar- seu velho ensinamento, lembrado
tur Adriano, falecido no elogio fúnebre que fizeram:
sábado, no Hospital «Para te fazeres entender, não
Militar de Luanda, precisas de gritar». E ele seguia
vítima de doença, foi a enterrar isto à risca. Ninguém o via a gri-
nesta quarta-feira, no cemitério tar com quem quer que fosse.
da Santana, em cerimónia bas-
tante concorrida. Mincult elogia
Artur Adriano tinha acabado
de regressar de Cuba, onde fora O Ministério da Cultura
submetido a tratamento médi- (Mincult) destacou, em Luanda,
co, depois de estar com a saúde o músico Artur Adriano como
debilitada, na sequência de um uma figura cultural cujo exem-
acidente cardio-vascular que plo deve servir de referência para
sofrer há uns anos, algo que o a nova geração.
obrigara a um quase desapareci- Em mensagem de condolên-
mento dos palcos. cias pela morte do artista en-
A sua morte apanhou meio- viada segunda-feira, à Angop,
-mundo de surpresa, já que se o Mincult realça ter sido com
esperava que a sua ida à Cuba lhe profunda dor e consternação que
haveria de rejusve necer. Estêvão se tomou conhecimento do fale-
Costa, administrador do «Kilam- cimento do cantor e compositor
ba» foi uma das pessoas a quem Artur Adriano.
o desaparecimento físico de Ar- «Militante activo da Canção
tur Adriano mais surpreendeu, Política, (...) Artur Adriano está
uma vez que vinha preparando entre os compositores angola-
uma homenagem da casa a este nos cujos trabalhos integram o
representante da velha guarda da Património Imaterial Nacional,
música popular urbana, à seme- a julgar pela importância histó-
lhança do que fizera bem recente- rica e cultural da sua obra, que
mente com Nik. exalta as ocorrências pitorescas
Segundo ele, as conversas já do quotidiano dos musseques
estavam bem avançadas, regis- de Luanda, a beleza feminina, o
tando apenas umtur senão em Carnaval, e as iguarias tradicio-
relação à sua eventual presença nais», lê-se na mensagem.
no palco no dia da homenagem, Realça que Artur Adriano tor-
que Estêvão Costa previa para nou-se, cedo, numa importante
este mês já. figura da Música Popular Ango-
«Pedi-lhe que ele cantasse ao lana, por decidir, em 1966, seguir
menos duas músicas, ao que o o percurso a solo, instaurando
homem ia refutando, sob a ale- uma relevante transmutação es-
gação de que não estava em con- tética do seu trabalho, ao nível do
dições de saúde para tal», expli- acompanhamento instrumental e
cou o administrador Kilamba, dos arranjos, o que lhe valeu vá-
acrescentando que tivera esta rios prémios e distinções de mé-
conversa na véspera da morte de rito e de honra.
Artur Adriano. Foi por isso que «A sua morte deixa um vazio
não conseguiu evitar um grito de irreparável no seio das grandes
susto quando lhe anunciaram a figuras históricas da Música e
morte do artista. da Cultura Nacional. Em meu
Ele diz que a homenagem Artur Adriano nasceu a 17 Artur Adriano já foi homena- 2005, o prémio Semba de Ouro, nome pessoal, e do colectivo
da casa a Artur Adriano sem- de Dezembro de 1947 no bairro geado pela importância histórica num concurso realizado pela de trabalhadores do ministério
pre acabará por ser feita, mas, Marçal, em Luanda. Fez parte e cultural da sua obra, no dia 27 União Nacional de Artistas e da Cultura, endereço os meus
como é óbvio, agora de forma do agrupamento Kissanguela, de Março de 2005, na 35.ª edição Compositores, tendo sido distin- mais profundos sentimentos
algo diferente, já que uma coi- em 1974, que culminou com a do programa Caldo do Poeira, da guido com o Diploma de Honra, de pesar à família enlutada e à
sa era ele ser distinguido ainda gravação da canção «Povo com Rádio Nacional de Angola, em na categoria pilares da música classe artística em geral», con-
em vida e outra, infelizmente, a Neto», em 1976, uma compo- acto realizado no Centro Recrea- angolana, pela mesma agremia- clui a nota, assinada pela mi-
título póstumo. sição em homenagem ao poeta tivo e Cultural Kilamba. ção, no dia 30 Setembro de 2011, nista Rosa Cruz e Silva.
Quando ela acontecer, as suas Agostinho Neto. Na ocasião, foi lançado o ál- pelo seu contributo para o desen- O Semanário Angolense, na
canções deverão ser interpre- Mas a sua canção mais conhe- bum «Memórias de Artur Adria- volvimento da Música Popular la pessoa do seu diretor, que privou
tadas ou por Calabeto ou por cida é a «Belita», uma exaltado no», um trabalho discográfico Artur Adriano deixa viúva e em várias ocasiões com Artur
Manuelito (ou pelos dois duma clássico da música angolana. referencial da carreira do cantor, vários filhos (fala-se em 20), entre Adriano, endereça à família enlu-
vez), segundo sugestão do pró- Enquanto músico, Artur que inclui as canções: «Belita», os quais se destaca o jovem músi- tada os seus sentidos pêsames pelo
prio Artur Adriano, na referida Adriano dividiu estúdios e palcos «Santa», «Kalunga», «Povo com co Ésio, o tal do «Dadão», canção infausto. Que a sua alma descanse
conversa que tivera com o ad- com os Kiezos, Gingas, Anazan- Neto», «Ndoce yá Lelé», «Nvula», que já esteve na bera entre nós. em paz, junto do Criador. ■
ministrador do Kilamba na vés- ga, Águias-Reais, Musangola e «Carnaval» e «São Saravante». Era uma pessoa muito querida na
pera da sua morte. Ndimba Ngola. Artur Adriano arrebatou, em sua «C-7» de cima, rua do Bairro (*) Com Angop
Sábado, 01 de Junho de 2013.  7
Capa

Nota de Abertura

Conversas do «27 de Maio»


imediatamente para o jango!
teligível – qual mulher apanhada do o «27» aconteceu, elas sequer ver a «velha mas sempre nova» os herdeiros dos mortos, feridos
em adultério que desconsegue haviam nascido, pelo que o que questão do «27 de Maio». e desaparecidos possam dormir
confessar em linguagem terra-a- têm a fazer é calar a boca. E a proposta, desta vez, é que em paz, sem serem importuna-
-terra que andou a se deitar por Como se a trágica herança ti- olhemos para a tragédia do pon- dos por pesadelos de mortos em
aí – nem as homenagens póstu- vesse mais ou menos donos nesta to de vista do futuro e não do busca dos seus óbitos ou de lem-
mas cozinhadas algures em «ga- «comunidade mwangolénica»; passado. Por outras palavras, branças manchadas de dor e de
binetes de pensologia» e nunca como se os herdeiros directos não nos desgastemos mais com sangue. Numa palavra, enviar o
Celso Malavoloneke conversadas por ninguém; muito ou indirectos dos perecidos e pensamentos sobre quem matou «27 de Maio» para o jango das
menos as conversas de quintais perecedores tivessem tempo ou e quem morreu. Como matou e conversas, para que resolvamos

T
rinta e seis anos se no funje de sábado, depois de uns pachorra para prestar atenção a como morreu. Como podia ter aí o «prubulêma». E quanto mais
passaram desde que tintóis a mais essas muito me- discurso tão esfarrapado… morto e não matou. Como podia cedo isso acontecer, maiores se-
aconteceu o que, hoje nos), logram desfazer esta angús- Por isso, o Semanário Ango- ter morrido e sobreviveu. rão os ganhos.
por hoje, já é unani- tia que só não resvala em revolta lense decidiu trazer à ribalta, Em vez disso, propomos uma Feita a proposta, convidamos
memente aceite como um dos porque há feridas mais recentes como nos outros anos – ano sim, visão centrada no futuro, pois os leitores a acompanharem-nos
maiores massacres da Angola por sarar e lembranças «mais ano também – este amargo pen- o passado é passado e não volta neste dossier, que talvez possa ser
Independente, curiosamente, piores» por esquecer. Até quan- dente, cujo «ciclo cíclico» já há mais, como diria o poeta. Como o primeiro (?) passo da caminha-
apenas dois anitos depois do «11 do este status quo se vai manter muito aconselha uma nova abor- deveremos fazer para que as feri- da rumo à cartase que se impõe,
de Novembro» de 1975. Por cau- é a questão que fica para gerações dagem. Dez anos depois do calar das se sarem. Para que os ódios para se exorcisar os demónios
sa de divergências ideológicas no menos acoitadas e por isso mais das armas e dois ciclos eleitorais se esbatam. Para que os ressenti- que persistem à volta do «27 de
seio do MPLA, então Partido- afoitas responderem. Mas, para já completados depois disso, o SA mentos desapareçam e com eles Maio». A unidade da Nação as-
-Estado, milhares de pessoas fo- as quais já houve um aviso: quan- propõe um olhar com os olhos de as sedes de vingança. Para que sim o exige. ■
ram mortas, grande parte delas
sem certificado de óbito nem
local conhecido de enterro. O
que, no contexto africano «que
estamos com ele», significa dizer
que a pessoa não morreu. Ou se
morreu, o seu espírito anda va-
gueando por aí, importunando
os sonhos dos seus descendentes,
no clamor por um competente
«komba», para que as cinzas do
óbito voem para o reino dos an-
cestrais…
Ano sim, ano também, desde
1990, quando o país se abriu aos
ventos da democracia, é sempre
a mesma coisa. Os descendentes
dos mortos e desaparecidos cla-
mam pelas cinzas e paradeiro de
parentes, que só o muito tempo
mesmo desde a tragédia – e um
ou outro boato nunca confir-
mado – vai insinuando cada vez
mais insistente que a vida que o
coração reclama é mesmo vida
de um morto. Enquanto a vozi-
nha da esperança, cada vez mais
ténue, vai insistindo num mila-
gre, sempre possível, que traga
com vida o parente há tanto de-
saparecido. E assim, em milha-
res de famílias nesta angustiante
situação, ninguém ousa chamar
o ausente de «falecido». Fica-se
pelo meio-termo mais prudente
de «desaparecido».
Nem os ensaios algo tímidos
das autoridades – afinal ainda as
mesmas – de mea culpa embru-
lhada numa retórica propagan-
dística que torna tudo mais inin-
8  Sábado, 01 de Junho de 2013.

Capa

Declaração do BP do MPLA
a propósito do «27 de Maio»
A
história recente de principais agentes, contribuí- minho ideal para que os ango- as instituições do Estado, com o ploram e exacerbam tais factos,
Angola está recheada ram decisivamente naquela al- lanos possam exprimir as suas apoio da Sociedade, devam con- estimulando o ódio e a divisão
de factos e aconteci- tura para os factos ocorridos. posições e fazê-las prevalecer, tinuar a trabalhar para que as entre os angolanos.
mentos que tocaram Com efeito, ao reconhecer que qualquer que seja o seu posicio- consequências produzidas por Neste sentido, a nossa pos-
profundamente várias gerações os acontecimentos à volta do 27 namento político, a sua condi- estes acontecimentos não criem tura deve ser contrária a estes
de angolanos. de Maio de 1977, marcaram, de ção social, credo religioso, ori- entraves ou dificuldades de qual- propósitos, de forma a cami-
O povo angolano foi e há-de forma bastante negativa, uma gem étnica, raça ou género. quer natureza, ao exercício pleno nharmos decididamente para
continuar a ser o principal pro- época da nossa história recente Esta foi a razão principal por dos direitos constitucionais e le- um processo de reconciliação
tagonista de todos estes factos o MPLA considera que foram a que se bateu firmemente pelo gais, por qualquer cidadão. e unidade nacionais, cada vez
que marcaram e marcarão a Nação e o Povo Angolano quem alcance da Paz, quando todos O MPLA considera que os mais profundo e genuíno.
nossa história. perderam com todos estes epi- os anos milhares de angolanos aproveitamentos políticos de Ao virarmos mais esta pági-
Depois de mais de cinco dé- sódios negativos, pelo que toda pereciam injustamente. qualquer espécie não têm razão na da nossa história devemos
cadas sofridas por conf litos de a nossa acção futura deve procu- Em relação a todos quantos, de nenhuma para ocorrerem, so- assumir o compromisso, peran-
vária ordem, guerras, destrui- rar sempre evitar que comporta- algum modo, estiveram envolvi- bretudo por parte de cidadãos te o povo angolano e o mundo,
ção, excessos de vários tipos, os mentos e atitudes deste tipo pos- dos nos acontecimentos em tor- que, não tendo estado directa- de tudo fazermos para que An-
angolanos estão cada vez mais sam, novamente, vir a ter lugar, no do 27 de Maio de 1977 e aos mente envolvidos nas acções à gola seja a Pátria da Liberdade,
decididos a caminhar firmes quer nas instituições partidárias demais cidadãos que, de qual- volta dos acontecimentos do da Tolerância, da Democracia e
na senda da responsabilidade quer nas estaduais. quer forma, estiveram associa- 27 de Maio de 1977 e das suas da Justiça.■
e da tolerância e, sobretudo, da A prática democrática deve, dos à guerra fratricida que o País consequências, distorcem a
reconciliação de toda a família deste modo, constituir o ca- viveu, o MPLA recomenda que verdadeira razão dos factos, ex- Luanda, aos 27 de Maio de 2013.
angolana.
A maturidade, o sentido de
Estado e o alto grau de respon-
sabilidade e o espírito de frater-
nidade e de f lexibilidade que os
angolanos e as suas instituições
atingiram, conduziram-nos à
paz, à concórdia e à estabilida-
de política.
Os exemplos que, nos últimos
dez anos nos têm sido dados
com a finalização do conf lito
militar e com as manifestações
de perdão, de tolerância e de re-
conciliação, são provas eviden-
tes desta nova realidade.
Este foi, sem qualquer dúvida,
um caminho difícil de trilhar, des-
de o dia 11 de Novembro de 1975.
O MPLA não pode, pois, es-
tar dissociado dos principais
momentos nesta caminhada
para a construção de um Estado
forte, com instituições credí-
veis, em que os direitos, os de-
veres, as liberdades e as garan-
tias fundamentais dos cidadãos
sejam asseguradas, consolidan-
do e ampliando a democracia,
nos seus múltiplos aspectos.
Hoje, numa altura em que se
assinala a passagem do trigésimo
sexto ano sobre a data do 27 de
Maio de 1977, o MPLA não pode
ficar indiferente a ela, reiterando a
sua posição inequívoca sobre este
facto surgido no seu seio, tal como
já o havia feito há cerca de 11 anos.
O MPLA, acredita, que a ati-
tude marcada por um elevado
grau de imaturidade de alguns
dos seus militantes e a incipien-
te organização e funcionamen-
to das instituições
e excessos de zelo dos seus
Sábado, 01 de Junho de 2013.  9
Capa

O «27» continua nas calendas gregas


Reginaldo Silva (*)

1
- Ao longo da história que
foram estes últimos 36 anos,
o MPLA produziu, quanto
a mim, quatro declarações
importantes sobre os aconteci-
mentos do 27 de Maio de 1977
que importa reter, para além de
todas as outras que foram sendo
feitas durante os anos do partido
único e com que anualmente se
assinalava de forma tonitruante a
trágica efeméride.
Destas últimas declarações, as
menos importantes, que hoje pos-
so considerar como sendo de roti-
na e para «manter o ferro quente/
aquecido», já não conservo me-
mória de nenhuma.
Só uma pesquisa pelo oficioso
e sempre presente «Jornal de An-
gola» poderia ajudar-nos a fazer
uma revistação pelo que foram
todos esses «anos de chumbo»,
que se seguiram a 77, até ao inicio
da década de 90.
Após a minha reclusão forçada
de cerca de dois anos relacionada
com o 27 de Maio e tendo sido
excepcionalmente autorizado a
voltar a trabalhar na RNA, sem-
pre escolhi o mês de Maio para «Mobilização Popular Generali- foi assumida muito recentemen- Parecia mais um “copy/paste”, estava à espera que no mínimo
gozar as minhas férias anuais, zada» decretada pelo Presidente te pelo jornalista português José do que uma nova declaração do este ano fosse produzido um
com o propósito firme de evitar Agostinho Neto. Milhazes, que publicou em Lisboa seu BP sobre esta tragédia nacio- balanço do que tem vindo a ser
qualquer contacto com a leitura Anos depois, precisamente em um livro sobre Nito Alves (mas nal. feito pelo Estado no âmbito da
de declarações e outras informa- 1988, viria a regularizar a minha não só), com base em consultas de orientação geral traçada.
ções que preenchiam os notici- situação militar como «mancebo arquivos que o mesmo tem vindo 3 - O que de mais importante Para ser mais sincero, devo
ários durante o referido mês. Na reservista», não tendo por isso a fazer em Moscovo, onde traba- para mim foi dito pelo MPLA em confessar que de algum modo
altura, na RNA, tinha a categoria nunca disparado um único tiro lha como correspondente estran- 2002 é que ninguém devia ser pre- fui surpreendido pela declara-
de Locutor-Redactor-Repórter. neste país, nem participado em geiro desde 1977. judicado nos seus direitos como ção deste ano, pois não estava
Acho que na RNA poucas pes- qualquer guerra civil ou fratrici- A declaração de 2002 represen- cidadão, por qualquer envolvi- à espera que o MPLA voltasse
soas desconfiavam das verdadei- da. ta uma viragem muito significati- mento com os acontecimentos de «tão cedo» ao assunto.
ras razões que me levavam a go- va na abordagem que até então o Maio de 77 e que o Estado angola- Para mim, este MPLA, tendo
zar sempre as minhas férias em 2 - Das quatro declarações BP do MPLA fazia do «fenómeno no devia fazer tudo ao seu alcance em conta todo o seu poderio e
Maio, que era de facto um perí- mencionadas, a primeira foi feita 27 de Maio», que, é bom sempre para resolver todos os problemas/ arrogância, tem estado a utilizar
odo muito difícil para todos nós em Junho de 1977, a segunda em ressaltar-se, foi a todos os títulos consequências decorrentes das o que poderia ser chamado de
que éramos conotados com o tal Abril de 1992, a terceira em Maio e em todas as dimensões, uma violentas acções que afectaram «táctica do cansaço», com a qual
de «fraccionismo/nitismo». de 2002 e a última agora neste grande maka produzida total- dezenas de milhares de famílias efectivamente tenta «resolver»
Lembro-me como se fosse hoje, mês de Maio de 2013. mente no interior do movimen- angolanas. os problemas, ignorando que
que um dia, numa conversa com As primeiras duas declarações to então liderado por Agostinho «Com relação a todos quanto de eles existem ou não lhes dando
malta da Rádio, fui acusado, meio do MPLA sobre o 27 de Maio Neto. algum modo estiveram envolvi- qualquer importância.
a brincar, meio a sério, de ainda para mim são para «esquecer», Em 2002, vinte e cinco anos dos nos acontecimentos em torno E assim vão passando os anos.
ter «ideias nitistas» apenas por- porque contêm exclusivamente a depois dos sangrentos aconte- do 27 de Maio de 1977, o MPLA As pessoas vão morrendo, as
que achava que não havia mal ne- versão de um dos lados que pro- cimentos, finalmente o MPLA recomenda que as instituições do vontades vão-se quebrando, os
nhum a língua portuguesa incor- tagonizaram os acontecimentos, admite que é preciso dar solução Estado, com apoio da sociedade, problemas, como o 27 de Maio,
porar no seu vocabulário palavras constituindo deste modo apenas ao problema na vertente social, continuem a trabalhar para que vão naturalmente desaparecen-
provenientes do «linguajar» mais um contributo para o que virá a transferindo para o Estado a res- as consequências produzidas por do pela via do esquecimento.
popular. ser futuramente a elaboração da ponsabilidade de agir nessa con- estes acontecimentos não criem Esta nova declaração do BP
Penso que também foi por verdadeira história de Angola, formidade. entraves ou dificuldades de qual- do MPLA foi um verdadeiro
causa dessa minha passagem pe- que não se pode circunscrever à Em abono da verdade e já o es- quer natureza, ao exercício pleno chover no molhado.
las cadeias da DISA, que nunca chamada historiografia oficial/ crevi noutra ocasião no meu face- dos direitos constituições e legais Assim, de facto, não vamos
fui chamado a cumprir o serviço história dos vencedores. book, nesta sua última declaração, por qualquer cidadão». ■
lá...
militar obrigatório nas «gloriosas No meio de todas as versões o MPLA voltou a dizer, mais pala- Passados estes onze anos, em
FAPLA», embora me tivesse re- que já foram tornadas públicas, vra, menos palavra, exactamente o que o MPLA não voltou a se (*) Jornalista.
Especial para o SA
censeado em 1976, no âmbito da a última das quais, aponte-se, que já havia dito há onze anos atrás. pronunciar sobre o 27 de Maio,
10  Sábado, 01 de Junho de 2013.

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Acontecimentos de 27 de Maio de 1977

«Intentona», contra-golpe ou etapa


evolutiva do MPLA? - eis a questão!
A 27 de Maio de 1977, apenas 19 meses depois da independência, teve lugar em Angola uma «intentona golpista», como foi denomi-
nada pelo governo de então, comandada por Alves Bernardo Baptista, vulgo Nito Alves, membro do Comité Central do MPLA.
O golpe não resultou, tendo a repressão que se lhe seguiu feito cerca de 30 mil mortos, de acordo com estatísticas não oficiais

Kim Alves (*) ministro dos Negócios Estran-


geiros, Paulo Jorge, e o ministro

A
ssinalou-se, nesta se- da Defesa, «Iko» Carreira, cons-
gunda, a passagem tituiu o foco de divisão no seio
de mais um «27 de do Governo.
Maio». E, como já se Esta divisão tornou-se mais
tornou hábito a cada ano, o Se- evidente, quando em Luanda na
manário Angolense faz manche- 3ª Reunião Plenária do Comité
te com este assunto que marcou Central, realizada de 23 a 29 de
um importante momento histó- Outubro de 1976, se decidiu a
rico do país, numa visão equi- suspensão por seis meses de Nito
distante e desapaixonada dos Alves e José Van-Dúnem, acusa-
acontecimentos de então. dos formalmente de «fraccionis-
Segundo alguns políticos e so- tas» por terem sido protagonis-
breviventes dessa tragédia, nada tas da criação de um «segundo
de novo há a registar-se em rela- MPLA».
ção ao facto. Os relatos dão conta que,
«Continuamos à espera que como resultado da sua sus-
se faça o debate público que há pensão, Nito Alves e José Van-
tanto almejamos e se corrijam -Dúnem propuseram a criação
os erros cometidos contra as de uma comissão de inquérito,
famílias das vítimas e contra a para averiguar se havia ou não
verdade histórica, para que os «fraccionismo» no seio do parti-
angolanos actuais e as gerações do, A referida comissão, que foi
vindouras conheçam a realidade liderada pelo actual Presidente
dos acontecimentos», afirmou da República, José Eduardo dos
Miguel Francisco, «Michel», um Santos, arrastou no tempo as
sobrevivente da purga que se se- sindicâncias, bem como a apre-
guiu aos acontecimentos. sentação das suas conclusões so-
De acordo com diversas teste- bre o «fraccionismo».
munhas e escritos sobre o assun- Sublinhe-se que devido a essa
to, «fraccionismo» foi o nome comissão de inquérito, o pró-
dado a um movimento político desse genocídio não é conhecido cionistas», já havia no seio do racial. Alguns desses membros prio José Eduardo dos Santos e
angolano liderado por Nito Al- até aos dias actuais. MPLA uma alegada deturpação do governo viam a oportuni- o primeiro-ministro de então,
ves, ex-dirigente do MPLA, dos ideais para os quais muitos dade de conquistar uma maior Lopo do Nascimento, foram
partido que está no poder des- Como tudo começou militantes haviam lutado. Hou- fatia do poder, lançando aberta- posteriormente acusados de
de a independência do país, em vera uma grave cisão, no seio mente um apelo racista às mas- «fraccionistas». No entanto, José
Novembro de 1975. Segundo os Nito Alves foi militante e do movimento, entre os chama- sas, como Nito Alves, quando, Eduardo dos Santos foi ilibado
dados, foi um movimento que se combatente do MPLA desde dos «moderados» empenhados num comício realizado num dos pelo comissário provincial do
articulou como dissidência no 1961. Em 1974, quando se dá o num crescimento cuidadoso e bairros periféricos de Luanda, Lubango na altura, Belarmino
seio do MPLA, após a indepen- 25 de Abril em Portugal, era o lí- gradual, congregados à volta de afirmou que «Angola só seria Van-Dúnem.
dência de Angola, em oposição der militar do MPLA, na região Agostinho Neto, Lopo do Nasci- verdadeiramente independente Também consta que Sita Va-
ao Presidente Agostinho Neto, dos Dembos, a nordeste de Lu- mento e alguns próximos, assim quando brancos, mestiços e ne- les, mulher de José Van-Dúnem,
lançando em Luanda uma tenta- anda. como uma facção radical, com gros passassem a varrer as ruas era ligada ao PCUS (Partido
tiva de Golpe de Estado a 27 de Durante o período do Gover- Nito Alves à cabeça, que objecta- juntos». Comunista da União Soviética),
Maio de 1977. no de Transição, transformou-se va à predominância de mestiços Considerado, por alguns, através do Komsomol, organi-
Na altura, como consequência no líder dos militantes do MPLA e brancos no governo. como o segundo homem do po- zação soviética da juventude,
da guerra civil que o país vivia, nos musseques de Luanda, onde Segundo os radicais, «as pes- der, logo a seguir a Agostinho remontando ao período em que
as Forças Armadas Cubanas organizou os comités denomi- soas brancas e de sangue misto Neto, Nito Alves foi nomeado tinha feito parte da Comissão
(FAR) estavam em Angola e foi nados «Poder Popular», que lu- desempenhavam um papel for- ministro da Administração In- Central da UEC (União dos Es-
graças ao seu apoio que o alega- taram durante a guerra civil em temente desproporcionado no terna, quando o MPLA formou tudantes Comunistas), na altu-
do golpe de Estado fracassou. Luanda, contra os outros movi- funcionamento do governo de o primeiro Governo de Angola. ra, considerada a número dois
Com o fracasso da «intentona mentos de libertação, sobretudo uma nação predominantemente Porém, o descontentamento de a seguir de Zita Seabra, foi tam-
golpista», seguiu-se um período a FNLA (Frente Nacional de Li- negra». Porém, referem, naquela Nito Alves com a alegada orien- bém expulsa do MPLA, acusada
de dois anos de perseguição san- bertação de Angola). época já existiam negros que fa- tação de Agostinho Neto a favor de ser uma agente infiltrada do
grenta aos reais e alegados se- Quando Angola conquistou a ziam parte do poder, até porque dos intelectuais urbanos mesti- KGB (policia secreta russa).
guidores e simpatizantes de Nito independência um ano e alguns o presidente Agostinho Neto in- ços, como Lúcio Lara, influente A realização da assembleia
Alves, culminando em milhares meses depois, segundo infor- sistia na tese de querer implantar histórico e um dos principais magna de militantes realizada a
de mortos. O número concreto mações atribuídas aos «frac- em Angola um governo multir- ideólogos do partido, o então 21 de Maio de 1977 na cidadela
Sábado, 01 de Junho de 2013.  11
Capa
de Luanda, presidida por Agos- uma posição contra o suposto
tinho Neto, foi o ponto de ruptu- rumo de influência «maoísta»
ra, sendo feito o anúncio oficial que o MPLA estava a seguir e
da expulsão de Nito Alves e de para que alterasse essa tendência
José Van-Dúnem. com o retorno à linha marxista-
-leninista pura.
Virinha e Nandy, dirigentes
Aproveitamentos do destacamento feminino das
FAPLA (Forças Armadas Popu-
Ainda conforme os relatos ci- lares de Libertação de Angola),
tados, depois de ter sido ouvido dirigiram o assalto à cadeia de
pela comissão de inquérito em S. Paulo, onde se encontrava, em
Fevereiro de 1977, Nito Alves visita de inspeção, Hélder Neto,
começou a convencer o povo de chefe da INFANAL (serviço de
que a acusação de «fraccionis- Informação e Análise), órgão
mo» que lhe era dirigida esta- paralelo à DISA (Direcção de
va associada a uma intenção de Informação e Segurança de An-
«Golpe de Estado» que lhe pro- gola).
curavam também imputar. Para tentar impedir o ataque,
Realçava igualmente o fac- Hélder Neto libertou alguns pre-
to de que alguns dirigentes do sos e entregou-lhes armas para o
MPLA teriam transmitido in- ajudarem a defender a cadeia. No
formações a militantes, sobre entanto, Sambila, um cantor po-
a previsão de fuzilamento dele pular detido por delito comum,
próprio, em Janeiro desse ano. prende-o pelos braços, quando
Na mesma esteira, conven- ele abriu as portas da cadeia para
ceu também os seus seguidores negociar com Virinha e Nandy,
de que as cadeias estavam a ser acabando, supostamente, por se
preparadas pelas forças afectas suicidar.
a esse grupo, para receber pre- Luís dos Passos, que foi líder
sos que a segurança já tinha em do PRD, a militar novamente
mira, em listas que circulavam no MPLA, num jipe com seis
no seu seio. militares, dirigia à tomada da
Foi, pois, através deste clima Rádio Nacional, enquanto nos
de desconfiança generalizada, musseques Sita Vales e José Van-
criado dentro do MPLA e da -Dúnem incitavam os operários
suposta tentativa de eliminação e os populares à revolta.
física de alguns dos seus mili- Saidy Mingas, um dos irmãos
tantes que Nito Alves e o grupo de Rui Mingas, fiel a Agostinho
dos seus apoiantes mais próxi- Neto, entra no quartel da Nona
mos promoveram a mobilização Brigada para tentar controlar as
de grande parte dos membros tropas, sendo preso pelos solda-
do MPLA em sua defesa, com o dos e levado com Eugénio Cos-
apoio de algumas das organiza- ta e outros militares contrários
ções de massas, de alguns popu- à revolta para o Sambizanga,
lares de Luanda (particularmen- onde, alega-se, foram posterior-
te do Sambizanga) e de sectores mente queimados vivos.
importantes do exército. Por volta do meio-dia, o Go-
De acordo com as declarações verno, através de Onambwe, di-
de sobreviventes, os chamados rector-adjunto da DISA, reagiu
«nitistas» manifestaram-se ge- com a ajuda das tropas cubanas.
nuinamente no país a 27 de Maio Os soldados retomaram a cadeia
de 1977, de forma inequívoca, e a rádio e abriram fogo sobre os
apoiados pelo exército, contra manifestantes dispersando-os e
a linha de orientação repressiva abafando assim o golpe.
que pensavam estar a ser segui- Pelas 16h00, a cidade já estava
da, assim como contra a deterio- controlada, e os manifestantes em frente, surgiu um atentado ria», criado para substituir os e Ernesto Eduardo Gomes da
ração da vida do povo e carência procuravam refúgio. contra Agostinho Neto, levado julgamentos e que ficou conhe- Silva (Bakalof) foram igualmen-
generalizada de géneros alimen- No começo da tarde, reinava o a cabo pelo seu segurança parti- cido por «Comissão das Lágri- te fuzilados.
tares, procurando obter o apoio silêncio na cidade. Na Rádio Na- cular e organizado por Nito Al- mas». As informações revelam que as
de Agostinho Neto para as suas cional, Agostinho Neto resumia ves. O Presidente Neto escapou Conforme se tem dito e mui- perseguições duraram cerca de
pretensões de depurar a organi- os acontecimentos que por poucas ileso, mas ficou bastante abalado to já se escreveu sobre o facto, dois anos. Foram mortos muitos
zação dos elementos da aliança horas abalaram Luanda: «Hoje de emocionalmente e pouco tempo não se sabe a data exacta em dos melhores quadros angolanos,
das «forças maoístas» e de direi- manhã, pretendeu-se demonstrar depois, num discurso empolga- que Nito Alves foi preso, mas combatentes experientes, mulhe-
ta, para garantir o aprofunda- que já não há revolução em An- do, afirmou: «Não haverá con- sabe-se que foi fuzilado no en- res combativas, jovens militantes,
mento da revolução popular. gola. Será assim? Eu penso que templações… Não perderemos tão Quartel do Grafanil, não intelectuais e estudantes.
não... Alguns camaradas desnor- muito tempo com julgamen- se sabendo, porém, onde o seu Em Julho de 1979, Agostinho
tearam-se e pensaram que a nossa tos…». corpo foi enterrado. Sita Vales Neto, levando em consideração
Os números da tragédia opção era contra eles». É assim que, referem também e José Van-Dúnem foram apri- os actos dos dois últimos anos,
Com o poder governamental os testemunhos, nessa mesma sionados a 16 de Junho de 1977. decide dissolver a DISA pelos
Os testemunhos descre- restabelecido em Luanda, foi noite a DISA começou as buscas Em 1978, o escritor australiano «excessos» que havia cometido.
vem que, na madrugada de 27 imposto o recolher obrigatório às casas, procurando os «nitis- Wilfred Burchett confirmou que Ironicamente, o MPLA acaba-
de Maio de 1977 (sexta-feira), com início ao pôr-do-sol e fim tas». Nito Alves fora executado, bem ria por fazer o que os golpistas
Nito Alves, então ministro da ao nascer-do-sol, realizado com No rescaldo do golpe, imensas como Sita Vales. O seu marido reivindicavam. Em Dezembro de
Administração Interna, sob a a ajuda de barreiras de rua por pessoas foram submetidas a pri- José Van-Dúnem, o ministro do 1977, no seu primeiro congresso,
presidência de Agostinho Neto, toda a cidade. Cubanos, em tan- sões arbitrárias, tortura, conde- Comércio Interno, David Aires muda de nome para MPLA-PT
liderou um movimento popular ques e blindados, guardavam os nações sem julgamento ou exe- Machado, e dois comandantes (MPLA Partido do Trabalho),
de protesto que se dirigiu para o edifícios públicos. cuções sumárias, levadas a cabo superiores das FAPLA, Jacob adoptando oficialmente a ideo-
Palácio Presidencial, para apelar Contudo, alega-se que, numa pelo Tribunal Militar Especial, João Caetano (popularmente co- logia marxista-leninista, pedida
ao Presidente Neto que tomasse última tentativa de levar o golpe vulgo «Comissão Revolucioná- nhecido como Monstro Imortal) por Nito Alves. ■
12  Sábado, 01 de Junho de 2013.

Capa

Versão oficial dos acontecimentos

A
versão oficial, publicada a Defende-se que o grupo se apresenta- ve o «grupo de Nito» de ser um aliado «social-democratas» ou «maoístas»
12 de Julho de 1977, bastante va com uma capa aparentemente revo- do inimigo interno (UNITA e FNLA) eram conceitos palavrosos, sem signifi-
contestada pelos sobreviven- lucionária, a de uma linha «marxista- e externo (Zaíre, África do Sul e EUA), cado em Angola.
tes e familiares das vítimas, -leninista pura», mas procurou desviar de manipular as dificuldades do povo, A direcção do MPLA discordava cla-
afirma que se tratou de um Golpe de o povo dos objectivos da Reconstrução efectuar calúnias contra dirigentes e ramente de que o «fraccionismo» fosse
Estado e que ele já vinha a ser prepara- Nacional e da defesa da integridade de estar afastado das massas popula- uma tomada de consciência da classe
do desde 1974, compreendendo várias territorial, tentando, dessa forma, con- res, recusando-se a conviver com elas. operária angolana. Considerou ainda
fases: infiltração, sabotagem das estru- trolar as estruturas do MPLA e do Go- No plano ideológico, considerou que as que os conceitos de «anti-sovietismo» e
turas existentes e, finalmente, golpe de verno. acusações dos «fraccionistas», da exis- «anti-comunismo», atribuídos a gran-
estado, atribuído ao «Grupo de Nito». O Bureau Político acusou inclusi- tência nas cúpulas de manifestações de parte dos responsáveis ■
Segundo Agostinho Neto

Houve vários fraccionismos necessário neutralizá-lo... No MPLA, nós


somos um e temos regras para a vida da
Organização. Não somos diversos. Somos
um ou devemos ser um. Portanto, quando
nós dizemos ‘fraccionismo’ significa que
alguém dentro da Organização, dentro do
país, quis formar grupos que fossem dife-
rentes do MPLA. Ora, neste país, o único
Movimento que existe é o MPLA e quem
defender outro Movimento qualquer, não
pode ser tolerado. Devo dizer aos camara-
das, agora já o posso dizer, que alguns de-
les, alguns que andam fugidos, ou os que
estão sob investigação, chegavam às reu-
niões e, em vez de discutir os problemas
que eram inscritos na ordem de trabalho,
pegavam num livro e punham-se a ler à
socapa. Muitas vezes, tinham sono, dor-

A
pesar de este período históri- cido dos camaradas, mas que produziu tural do Lobito. Pensava ele que poderia miam, talvez porque tivessem reuniões
co ter ficado conhecido como a divisão do Movimento por não querer ser o chefe dos Umbundos. ‘Revolta Acti- de mais. Primeiramente foi o grupo que
«fraccionismo», a palavra em submeter-se a essas regras de centralismo va’, chefiado por Gentil Viana. Da mesma se chamava ‘Comités Henda’. Foi elimi-
si já tinha sido usada para democrático. Quando se discutia um pro- maneira, dentro do movimento, formou nado. Depois eram os ‘Comités Amílcar
definir outras tentativas de ruptura no blema, no Comité Director, ele assumia um grupo para combater a Direcção do Cabral’. Foram eliminados. Apareceram
MPLA. O próprio Agostinho Neto refere sempre uma atitude contra a maioria. Movimento. Claro que hoje está preso. depois alguns deles, indivíduos que per-
isso no discurso proferido a 5 de Feverei- Mais recentemente, (1965/66) houve um Nós temos de combater, sempre e com fir- tenciam a esses dois grupos, apareceram
ro de 1977, numa assembleia de militantes outro grande fraccionismo, que se baseou meza, qualquer tentativa de fraccionismo. numa outra organização chamada ‘OCA
em Ndalatando: na tribo, que é o de Chipenda. Era mem- Isto não pode ser admitido numa organi- – Organização Comunista de Angola’ e
«... Houve a certo momento em 1962 um bro dirigente do MPLA, estava connosco zação democrática como a nossa, em que também foram eliminados. …». ■
‘fraccionismo’, que foi conduzido por Vi- no Comité Director e, certa altura, foi há democracia, da base ao topo. Se esse
riato da Cruz, nome que não é desconhe- mobilizar a gente da sua tribo – ele é na- grupo não se convencer com a crítica, é (*) Com agências
Sábado, 01 de Junho de 2013.  13
Capa

Temos de enfrentar a catarse


Celso Malavoloneke

A
qui chegados, repas-
sada a história, ouvi-
do um testemunho de
cuja idoneidade seria
no mínimo insensato duvidar,
ele que encarna as marcas deixa-
das em homens e mulheres (e em
crianças também, afinal, por via
de herança); ouvido o alerta de
Silva Mateus, que dá o rosto por
eles todos e que fala de catarse
olhos nos olhos; lidas as paran-
gonas dos jornais lusos mastur-
bando-se com um pseudo ajuste
de contas com a história e estórias
do fracasso da sua desastrada co-
lonização; e escolhendo na passa-
da como vítima do fel fedorento
das suas diatribes, uma pobre e
inofensiva viúva, cuja maior des-
graça é manter-se compatriota
deles, para além de mãe da Nação
angolana por via do casamento
com um negro em pleno Estado
Novo de aziaga memória;
depois das três décadas e meia
de choro intermitente por mor-
tos desaparecidos, e por desapa-
recidos vivos em famílias pelas
quais nada se fez, senão cavar
ainda mais fundas as feridas não
saradas e recuar na caminhada
que se quer triunfal para todos
angolanos, rumo à fraternidade
nacional, uma pergunta se coloca:
será (ainda) possível transformar
essa chaga gigantesca e purulenta
numa oportunidade de em con-
junto batalhar para juntos sentir-
mos o sabor da sua cura?
Podemos ainda um dia olhar
para essa amarga experiência
como uma lição para que os nos-
sos vindouros saibam e sintam
que isso é uma das coisas que a
Nação nunca deve voltar a fazer? do gesto necessário para se es- o calafrio que todos os outros acu- Essa pessoa, essa entida- que seria de justiça estender-se
Como diria alguém que não tabelecer as pontes emocionais sados tiveram e tem legitimidade a de, no caso das vítimas do 27 a todos os sobreviventes que an-
identificamos, a resposta é: sim, destruídas por motivos que, todos juntar ao poder que tem para tor- de Maio, é o Estado. O Estado dam por aí penando e carregando
podemos! concordam, não tinham qual- nar possível esta catarse, este diá- deve trazer à luz do dia a forma as marcas e as mágoas perante a
Comecemos pelo discurso de quer razão de ser. E a fazer fé na logo que a cada ano se torna mais como as pessoas morreram e fa- indiferença de quem as causou – o
Silva Mateus quando reagia ao resenha com que o Kim Alves urgente e necessário. zer todas as outras obrigações, Estado, no caso.
comunicado do BP do MPLA. Se nos brinda, o próprio Agostinho Legitimidade e poder que se incluindo o pagamento dos óbi- Cumpridas estas formalidades,
bem que chateado com o conte- Neto, nos seus últimos meses de precisam para que os óbitos e os tos e kombas. sem tibiezas e com um espírito
údo do documento, deixou claro vida, reconhecia que tinha havido kombas das vítimas «desapareci- Na nossa cultura, no dia do fe- genuíno de reparação, mais mo-
que o que ele e as demais vítimas excessos insanáveis… das» possam acontecer, ainda que cho do óbito, reúne-se toda a fa- ral que material, pelo tempo que
do «27 de Maio» mais desejam: Também diz a história «que es- três décadas e meia depois. mília para resolver os pendentes já passou, existem indicadores
uma catarse. tamos com ela», pois a verdadeira É que para que uma pessoa se que o falecido deixou. Para pagar para crer que a comemoração, pú-
Avancemos com o que diz Re- ainda não foi escrita – e não me fa- considere morta na nossa cultu- as dívidas que tenha contraído, blica ou privada, do «27 de Maio»
ginaldo Silva neste mesmo dos- lem dos cabritismos tugas saloios ra, primeiro alguém tem que vir as promessas que não tenha tido assumirá então o cariz de marco
sier, ele que s carrega as marcas que dizem que as suas atoardas «trazer o óbito». Que é também a tempo de cumprir, e a tutela da de reflexão que se pretenderia
sofridas em dois anos de cárcere. dementes são a história da heca- responsável por explicar como foi família e do património que o fa- como aviso à navegação à Nação.
Dois anos em que cada dia termi- tombe – que o actual Presidente que a pessoa morreu. Não tendo lecido tenha deixado. A fazer-se Às gerações vindouras, o marco
nado podia muito bem ser o últi- da República pela sua acção de sido isso feito, torna-se necessário isso no caso das vítimas do «27 de uma direcção que jamais se
mo; destino pelo qual viu passar tentar evitar o desastre que acon- a criação de um mecanismo que de Maio» – e é ponto assente que pode permitir que se repita neste
inúmeros companheiros de infor- teceu esteve também com a cabeça declare as pessoas mortas, passe se deve fazê-lo – é mais uma vez país. Pois as feridas causadas até
túnio. E ainda assim, o Reginaldo, por um fio. Igualmente acusado as certidões de óbito, mostre os ao Estado que compete a respon- se podem curar – o que estamos a
cuja frontalidade é conhecida, la- de fraccionista, teria sido safo pelo lugares onde elas estão enterradas sabilidade de pagar as indemniza- desconseguir fazer – mas as cica-
menta que, neste processo todo, o então comissário (governador) ou, na impossibilidade disso, crie ções e pensões a que é justo que trizes e as marcas ficam indeléveis
que mais falta é o diálogo. Além provincial da Huíla, Belarmino um memorial em que os familia- tenham direito, e o cuidado dos para sempre.
da falta do reconhecimento das Van-Dúnen. Portanto, pode-se di- res possam ir prestar os seus res- seus herdeiros. Apoios e indem- De que estamos então à espera
falhas eventualmente havidas e zer que ele também sentiu na pele peitos no Dia dos Finados. nizações, ainda que simbólicas, para fazer isso, minha gente? ■
14  Sábado, 01 de Junho de 2013.

Memória

«Soldados fomos todos» Major-general Xavier

N
a sequência dos insul- aqueles Uaz antigos. Este já mor-
tos proferidos «soldadi- reu, o Dom Kiko. Está aqui mais.
nho como os milhares Este é um grupo lá da Funda, na-
que cumpriram servi- quele tempo, nem havia farda, este
ço militar», proferidas por Artur era o Batalhão de Intervenção da
Queiroz e consentidos pelo senhor Funda. Este é o Manico, também
José Ribeiro, director do Jornal de já morreu. Olhe, o Horácio está
Angoa, no início do corrente ano. aqui. Conhece o Horácio, está
A reacção dos antigos combaten- aqui, de costas. Ele tinha vindo de
tes foram de indignação, entre Belize e trouxe essa farda que usá-
os quais Sua Excelência senhor mos de Cabinda, né? Está aí o Ho-
Dino Matross, secretário-geral do rácio. Esses gajos são uma camba-
MPLA e sua excelência senhor ge- da de mentirosos, aldrabões!
neral Ndalu, que, durante a entre-
vista, na Assembleia Nacional, dis- Porque ele escreveu como
se que não se lembrava de algum tivesse razão.
jornalista nas frentes, no entanto, Nada, é mentira, não vi lá nin-
iria consultar outros camaradas. guém. O próprio Paulo Lara está
Confirmou o pequeno grupo de aí vivo, o próprio Dembo, que es-
jornalistas que esteve no Morro teve comigo, está aí vivo, em Via-
depois do derradeiro combate no na, e outros mais. Os catangueses, O SOLDADIMHO «Silencioso» morto em combate no Bukula
dia 10, havendo entre eles um que muitos dos quais devem ter morri-
tentou fazer uma foto e que foi de do, foram lá para o Congo, para o
pronto impedido. Chaba e não sei quê
Os insultos a Filipe Correia de
Sá, administrador da Media Nova, Quando é que vai para a cidade,
e a Horácio Dá Mesquita, na se- devíamos fazer um scanner das
quência de uma entrevista ao jor- fotografias?
nal O PAÍS, apanhou de surpresa Se a senhora prometer que me
o Conselho de Administração das devolve, tudo bem, escolha, há
Edições Novembro, numa altura umas repetidas aí, outras não es-
em que Dá Mesquita desempe- tão bem visíveis. Tinha mais, mas
nhava o cargo de chefe de depar- com o tempo, fora desaparecendo.
tamento na empresa. O senhor
José Ribeiro impediu por escrito Então, não houve jornalistas?
o direito de resposta, violando o Não. Eu não vi, porque nesse
artigo 40.5 da Constituição da Re- dia, fizemos o avanço, tivemos o
pública, a Lei de Imprensa e a Lei apoio dos BRDM atrás, ainda não
Geral do Trabalho. havia 9ª Brigada, isso foi antes da
A entrevista e as fotos tiradas independência.
pelos combatentes falam por si.
Ele diz que havia 9ª brigada,
Ana Medina ainda não existia?
Nâo, não havia brigada nenhu- PORMENOR, General Ndalu sem blusão, atrás vai o soldadinho Dikiko, já falecido
Conhece o Morro da Cal, ali ma, mentira, nem a 9ª Brigada,
onde construíram as casas do que foi a primeira, existia. Nós
Panguila, depois a subir tem ali tiramos a FNLA do São Pedro da
umas bombas, aquele Morro cha- Barra, não puderam sair por terra,
ma-se Morro da Cal, antigamente tiveram de sair por trás, pela falé-
tirava-se ali cal para a construção. sia, porque a fragata do exército
O Horácio (Da Mesquita) esteve português encostou ali e uns foram
comigo nesse dia, quando cap- de bote do exército português, ou-
turámos esse tanque que esteve tros foram a nado, muitos morre-
no 1º de Maio, vou-lhe mostrar, ram. Encontrámos lá mais de 100
que está aqui. Gosto de mostrar mortos, deles e pessoas que anda-
as coisas todas com factos, para ram a prender e matar ali dentro,
que esses senhores não venham encontrámos quando fizemos o as-
para aqui, agora, passados mui- salto, tem várias pessoas aí vivas.
tos anos… todo mundo estava lá. Então, eles como recuaram, depois
Olhe, este morreu na emboscada, foram para o Ambriz e para o Nze-
o «Silencioso», esta é uma fotogra- ro, no Norte e ficaram por lá. Nós
fia muito antiga, de 75, está aqui o aqui organizámo-nos a partir do
tanque. Aí está Paulo Lara, o fa- Batalhão de Intervenção da Funda
lecido general Rui de Matos. Este e do Estado Maior. Eu estava com OFENSIVA à Barra do Dande, com Ndalu ao comando, sem blusão
é o Dembo, que estava no tal tan- os katangueses. O chefe deles era
que que foi abatido, o BRDM, está o Nataniel Mbumba, do Katanga. o terceiro homem da frente. fazer o reconhecimento avançado, foi abatido, esse chama-se AML60,
vivo, este sou eu. Isto é na Barra Avançamos em direcção ao Am- tive logo o primeiro choque com os esse onde está o Paulo Lara. Esse
do Dande, está a ver o rio Dande? briz. Quando íamos a sair de Ca- E quantos eram no total? katangueses. Quando nos aproxi- abatemos aqui no Morro da Cal,
A gente a descer, nem tinha as- xito, em direcção aos Libongos, no Éramos muitos, os blindados mámos da curva do Morro, apare- uma semana ou duas antes. Apa-
falto. Este é o Uaz, o nosso jepp, Morro do Bukula, eu nesse dia, era vinham atrás de nós. Eu estava a ce um AML90, igual a esse aí, que rece um tanque igual este, afinal,
Sábado, 01 de Junho de 2013.  15
Memória

PORMENOR, Rui de Matos, no desvio da Barra do Dande

AMIGO: Dá Mesquita de costas, com Rui de Matos

Quando eles recuaram, partiram perguntar-lhes, onde foi, onde vo-


aquela ponte. Depois, recuámos, cês estavam nesse dia. A senhora
de Caxito e fui sair em Catete, en- já viu o meu carro né? Eu conheço
tão fizemos a chamada frente de aquilo, não só da tropa, porque eu
Kifangondo. caço. Eles a mim não podem aldra-
bar, talvez aldrabem alguém que
Essa batalha quanto tempo du- passe por lá de vez em quando.
rou?
Combatemos aí 5 horas, desde O Horácio, se calhar, agora vai
manhã. precisar de testemunhas no tri-
bunal?
E nesse espaço de tempo, havia Sim, sim, mas eles, não. O Ho-
possibilidade de grupo de jorna- rácio nesse dia não estava nessa
listas acompanharem? emboscada, porque ele é asmático,
Não, não tinha nenhuma, mi- ele apanhou um ataque grande de
nha senhora. Nós estávamos mes- asma e ficou no Batalhão, estava
mo ali, não vi ninguém, aliás, per- mesmo aflito. Eu disse-lhe «epá,
CONDUZIDO por Paulo Lara e Rui de Matos, Barra do Dande gunte a toda gente, não vi nenhum fica calmo, nós vamos fazer o avan-
jornalista. Os jornalistas que eu ço.» Quando chegámos ao Ambriz,
vi nos combates, em Luanda, foi porque já uma semana antes, de-
quando estávamos a combater ali mos uma corrida terrível aos tipos
no Marçal, quando expulsámos a e os gajos viraram-se lá para cima
UNITA e a FNLA daqueles dois para o Nzeto, mas como estáva-
prédios. Estavam dois jornalistas mos à espera de reforços, nem os
da Televisão, dois manos brancos, cubanos estavam aí, nem cubanos
de barba, foram os únicos que vi tinha, é mentia, nem um cubano
em todos os combates que travei havia, ainda não tinham chegado
aqui. Eles ainda andam aí vivos, os cubanos aí, apareceram depois.
um andava com aquela máquina,
daquelas bem grandes, ainda me Mas a Batalha de Kifangondosó
lembro. Há um filme até que foi foi de algumas horas, também,
feito quando atacávamos aqueles não dias?
prédios do Marçal, porque eu esta- Não. A Batalha de Kifangondo foi
va na base do Marçal, a base 2, o muito depois, começou em Novem-
comandante até era o Ambrósio de bro. Isso foi a emboscada de Bukula.
Lemos «ALPEGA». E há um filme
da TPA, em que aparece o meu ir- Então, em Kifangondo, também
mão mais velho, que estava comigo não havia jornalistas?
nessa base, em que surge a disparar Em Kifangondo, os jornalistas
umam bazooka do exército portu- se apareceram, deve ter sido no
guês contra esse prédio . Esse com- próprio dia 11 de Novembro. De-
AMIGO: capturado com perfuração de projéctil de 14.5 bate passou-se exactamente assim pois saí da Funda, dali da zona de
conforme estou a contar. Kifangondo, antes do 11, transferi-
eles estavam embosscados no Mor- tivemos a informação de que cho- sados recuaram por Porto Quipiri. do para a Kibala, para instrução,
ro. Combate, combate, os dois so- cámos com os mercenários., que Depois, eles derivam uma força a Mais alguma coisa que queira para a frente Sul, no CIR coman-
dados que estavam à minha frente vieram com a FNLA e com Santos partir dos Libongos, que tinha uma acrescentar? dante Mamão Verde, na Kibala, e
caem, entro para o capim. O nosso e Castro, que era o comandante estrada que dava para a Barra do Em relação a isso, é o que tenho deixei os combates de Kifangondo,
BRDM onde vinha o Dembo é atin- deles. Eles vinham com o AML90 e Dande, que é a estrada que hoje a dizer. Se eles lá estiveram à minha quando foi o avanço para o Norte,
gido, a tripulação consegue sair de nós recuámos, uns pelo Piri, entre se usa, já asfaltada, para se ir ao frente, podemos lá ir num carro, no eu já não fiz, avancei para o Sul,
lá de dentro, estivemos ali mais de eles eu, estávamos mais avança- Ambriz já não se passa por Caxi- meu jeep e depois eles dizerem-me porque não havia tropas, faltava
quatro horas em combate. Depois dos, e os que estavam mais atra- to, ao contrário de anteriormente. onde foi, vamos lá a Caxito e vou tropa no Sul. ■
16  Sábado, 01 de Junho de 2013.

Entrevista

Isaac dos Anjos, em grande entrevista ao SA

«Ser Governador de Benguela


é um desafio muito grande
a que nos propusemos vencer»
Nelson Sul D’Angola na primeira grande entre- preciso, não hesitará em centros de recuo da população imi-
e Maximiano Filipe (fotos) vista que concedeu a um proceder também a de- grante do interior. Ainda não tive a
órgão da Comunicação molições. ocasião de visitar o interior.
Em 1987, quando saiu de Social nessa qualidade,
SA - O que é para si sair daqui
Benguela, Isaac dos An- Isaac dos Anjos confirma apenas como director dum gabi-
jos trabalhava como en- que governar Benguela é Semanário Angolense (SA) - Há nete e voltar governador?
genheiro agrónomo no efectivamente uma gran- muito pouco tempo o Sr. tinha IA – Os seus dados ao meu respei-
Gabinete de Desenvolvi- de responsabilidade, até ocupado o cargo de governador to não estão completos. Eu fui nome-
mento do Vale do Cavaco, porque é um cargo que o do Namibe saído da Huíla. Quan- ado pela primeira vez com 17 anos
um campo de produção do lhe foi transmitida a notícia de para ser director de agrupamento de
MPLA só tem reservado a que viria para Benguela, mostrou uma unidade de produção no Kwan-
do Estado, no qual tam- membros do seu Bureau alguma hesitação? za Norte, em 1977. A minha carreira
bém desempenhava o car- Político, revelando que foi Isaac dos Anjos (IA) – O cargo de de função pública começa no Kwan-
go de director. Hoje volta uma honra ter merecido a governador provincial não se exerce za Norte, depois de eu acabar o cur-
como governa- confiança do Presidente por eleição, é por nomeação. Portan- so geral de agricultura. Sempre tive
dor, numa das to, compete apenas aquém nomeia a o privilégio de ser mandado para
da República para exer- decisão de poder nos manter ou não sítios onde pudesse exercer a minha
províncias cer tal função. Para ele, no mesmo sítio. Para beneficiãrmos profissão em larga escala. Também
mais com- é um desafio forte, mas dessa confiança, temos de ter desem- já fui director de departamento de
plicadas a que se propõe vencer. penho, senão não seremos indicados produção do agrupamento da uni-
de gerir, Na passada, não deixou para outra posição. Em muito pou- dade n.° 1, na Chipipa (Huambo).
devido co tempo, fui transferido da Huíla E devido ao meu aproveitamento
de tecer considerações para o Namibe e, em consequência académico na universidade, comecei
a o algo audaciosas, quando do pedido de demissão do general a trabalhar no gabinete do plano da
ele- fala que o MPLA tem de Armando, por manifestação de do- Agricultura do governo do Huambo.
va- definir a sua linha ideoló- ença, entendeu o senhor Presidente Depois disso, fui colocado, a meu pe-
gica, já que, nos tempos indicar-me para Benguela. É sempre dido, em Benguela, na unidade de
uma honra podermos aceitar uma produção do Cavaco. Outra grande
que correm, fica compli- indicação do Presidente da Repúbli- verdade é que na visita do Presidente
cado saber-se se é um ca. da República efectuada a Benguela
partido de esquerda ou naquela altura, eu fui indicado para
um partido de direita, tão SA - O senhor saiu desta provín- a apresentação do Vale do Cavaco.
confuso tem sido o seu cia para entrar no mundo da go- Pode ser que a minha historia tenha
vernação, começando pelo cargo começado a partir daí mesmo…
posicionamento político de vice-ministro da Agricultura.
nesses particulares. Em Ao fim deste tempo todo (mais de SA – Gostaríamos apenas de
d o relação ao seu programa 20 anos), como encontra Bengue- saber que sentimento tem de ter
grau de governação, diz que la? saído de Benguela como director
d e vai apostar forte na pro- IA – Todo o país teve modifi- dum gabinete e voltar governa-
cações. Todo país sofreu as conse- dor?
dução agrícola, na criação quências da guerra de 30 anos. E IA – Essa deveria ser uma razão
de indústrias e na cons- durante esse período passamos por de minha parte em aceitar o cargo,
trução de infraestruturas várias etapas de negociações de paz porque, gerei afinidades, amizades e
exi- habitacionais e noutras e de estabilidade. Em 1991 e 92, es- relações com Benguela. Aceitei o car-
gência que obras de impacto social, perávamos que o país entrasse numa go de governador em substituição do
a socieda- normalidade, mas, infelizmente, re- general Armando, numa província
com base numa gestão tornou à guerra, que durou muito de grandes referências. Por cá passa-
de local em que se esforçará para tempo. O alcance da paz foi em 2002 ram figuras importantes da história
impõe aos que seja transparente e, por conseguinte, é perfeitamente recente de Angola. Só têm passado
seus edis. e rigorosa. Porém, não normal que assistamos a essa ex- por Benguela membros do Bureou
Em con- se coibiu de fazer jus à plosão demográfica que tinham as Político (do MPLA), coisa que eu
versa com cidades do litoral do ponto de vista não sou. Por conseguinte, é uma res-
«imagem de marca» que da segurança governamental. É nor- ponsabilidade muito grande aceitar
o Sema- ganhou na Huíla, como mal encontrarmos uma Benguela esse cargo. É um desafio importante,
nário An- «demolidor implacável», superpovoada, assim como Lobito e para o qual nos propusemos, a ver se
golense, anunciando que, se for Catumbela, que acabaram por ser os conseguimos vencer. ■
Sábado, 01 de Junho de 2013. 17
Entrevista

Desenvolvimento agrícola em questão

«O sector camponês pode


ser uma grande empresa»
SA - Qual é o programa de exportar e com alguma vaidade fazer esses esforços de recuperação relacionada com a falta de água grande agricultura. Se encontrar-
governação que traz na mala e podemos dizer que trouxemos e das estações de experimentação nos talhões da açucareira arrima- mos um modelo de eficiência do
quais as suas principais linhas estimulamos pessoas para irem agrícola, mas a formação do ho- dos para Benguela 5 anos depois. uso de tecnologia, poderemos fa-
de força? buscar novas de variedades de mem tem que ser conseguida, por Portanto, o sector sozinho não zer pequenas empresas agrícolas
IA – Deveríamos nesta altura banana e hoje temos variedades se tratar duma acção missionaria. pode fazer milagres. Se, cortaram altamente rentáveis. Então, esse
encontrar elaborado o programa melhores, mais produtivas e a se- Hoje, de um modo geral, os jovens a água que abastece os campos, modelo de eficiência do uso de tec-
de longo prazo da província para rem testadas em vários ambientes. e os profissionais estão muito pre- fecharam os canais de drenagem, nologia pode ser em 12, 20 ou 30
2013/2017. Esse é o instrumento Recentemente, o Bengo deu uma ocupados com a sua estabilidade e ninguém reclamou, quer dizer hectares. A diferença deve ser me-
que o governo central mandou explosão na produção de banana. financeira e, portanto, a entrega que os terrenos estão a ficar de- dida nisso. Vale a pena comprar
as províncias elaborarem. Se, o Tenho conhecimento de que uma missionária é desqualificada por volutos. E os terrenos a ficarem um tractor para lavrar meio hec-
encontrássemos já elaborado, se- virose está a afectar as bananas no um grande sector da sociedade. A devolutos e o sector da construção tares só? Não! Mas, um tractor só
guiríamos esse plano, porque o Bengo. São essas experiencias de sociedade está doente. E, por isso, a pressionar, naturalmente, que para 6 hectares, sim. Para 10 hec-
governo angolano é unitário. Não doenças e de qualidade que fazem a investigação está baixa. É só começa a ver uma reconversão de tares, sim. Para 20 hectares, chega.
há autonomia das regiões ou das ser possível ou não um projecto de olharmos para os recursos que são terras agrícolas para terras de ha- Já é uma fazenda pequena.
províncias, portanto, há um pla- exportação. Um projecto de expor- destinados à investigação para se bitação. Acrescentamos a isso que As grandes fazendas vão no ra-
no nacional, há uma orientação tação também é feito com a vonta- concluir que o país está mal e por as áreas eventuais de habitação ciocínio do espaço vital útil para o
do governo central que geralmen- de do Estado, do governo, das suas isso estamos a importar tudo. nesta franja do território são de animal. Isso também define uma
te deve ser seguido. Assim sendo, populações e da economia. Entre- relevos acidentados, alcantilados, estratégia diferente do tipo de ex-
você pode perguntar como é que tanto, nesse período, com a guer- SA - A antiga açucareira do e requerem investimentos maiores. ploração que queremos fazer. Na
pretendo adaptar o plano nacional ra, houve desarticulação geral da Cassequel transformou-se no Portanto, é normal que haja essa Europa, uma fazenda de 20 hec-
às circunstâncias da minha gover- economia e a minha boa vontade pólo de desenvolvimento indus- pressão de terras agrícolas para tares pode comportar 100 bois,
nação para produzir os resultados só não jogou. trial da Catumbela. Enquanto construção. onde levamos alimento ao animal,
que o governo central espera e que agrónomo, o que tem a dizer quando, no nosso contexto, leva-
a população ambiciona. Apro- SA - Naquela altura, o senhor sobre o facto dessas áreas agrí- SA - Muito se tem falado de mos o animal ao alimento. A dife-
veitamos essa oportunidade para criou o famoso Gabinete de De- colas se terem transformado em que a solução dos problemas da rença é tecnológica. E, é aí aonde
introduzirmos nesse plano mais senvolvimento do Vale do Cava- zonas industriais e habitacio- agricultura está na grande em- vou investir exactamente, porque
algumas ideias e vamos ver se con- co. Olhando para o quadro actu- nais? presa. O senhor vai manter esse já não posso mais voltar a uma
siguimos dar a Benguela um pro- al, nota alguma decadência ou IA – O problema não se põem discurso ou, pelo contrário, vai agricultura dos anos 60. O Bocoio,
jecto que permita à província dar nem por isso? apenas nessa dimensão. Põe-se, dar um enfoque prioritário ao a Ganda e o Cubal podem voltar
um salto expectável. Posto isto, o IA – O sector da agricultura também, na dimensão da impo- sector camponês? a ser «flores» sem precisar haver
que encontrei absorvo e acrescento sofreu essa transição de maneiras tência que os órgãos ou os profis- IA – O problema está mal pos- grandes fazendas, porque o que
o meu saber, para no conjunto ter- diferentes. A perspectiva que nós sionais duma determinada área to por si. O sector camponês pode se quer é ter mais gente a produ-
mos um programa que satisfaça a tínhamos à saída da universida- e em determinado momento sin- ser uma grande empresa, só que o zir com eficiência e com rentabi-
província. de era a de primeiro restaurar os tam ante a conjuntura geral em problema está na tecnologia que lidade económica. Nós já tivemos
Convocamos uma reunião mais grandes bancos de experimen- que habitam ou vivem. O senhor se aplica para o desenvolvimento uma grande indústria de produ-
alargada com a participação da tação e de investigação. Hoje, o jornalista não assistiu a nenhu- da pequena agricultura familiar e ção de enxada, pás e etc., que é
sociedade civil, de pessoas de vá- Ministério da Agricultura está a ma manifestação pública até hoje da tecnologia que se aplica para a era a Lupral. Temos também que
rios ramos, porque só temos 20 pedir a montagem duma indús-
dias para apresentarmos o nosso tria de tractores, já que a enxada
plano de governo para os próximos e a catana que foram símbolos da
4 anos. Se fosse para estabelecer escravatura que levou o desenvol-
uma diferenciação, eu diria que vimento para a América Latina,
estes são os últimos 20 dias que hoje já não são usadas. A América
vão marcar o futuro da província Latina produz tractores e nós esta-
nos próximos 4 anos. mos aqui a mandar sempre os ou-
tros a trabalharem com enxadas e
SA - Quando foi vice-ministro catanas…
da Agricultura garantiu, naquela
altura, fazer exportação de ba- SA - Como atrair investidores
nana e de manga a partir do Vale para a nossa indústria?
do Cavaco e outras zonas verdes IA – Vamos incluir nesse pro-
de Benguela. Passados mais de grama de desenvolvimento eco-
20 anos, o que tem a dizer sobre nómico e social, a construção
isso? de pelo menos cinco fábricas de
IA – Enquanto profissional do pequena dimensão, já que não
ramo, continuarei a trabalhar em há angolanos com dinheiro para
fruticultura. Promovi a introdu- investirem na construção de fá-
ção no país de variedade de man- bricas. Vamos investir nesse sec-
gas, divulguei-as e, hoje, temos um tor, com o pouco dinheiro que o
banco de germoplasma invejável. Estado tiver, associado iniciati-
A exportação só se consegue se vas privadas. Vamos chegar lá. E
houver empresas a produzirem nessa perspectiva faremos o mes-
volumes de produtos também para mo com outras indústrias. ■
18  Sábado, 01 de Junho de 2013.

Entrevista

O Lobito não é só à beira-mar...

«Se for necessário, iremos demolir»


SA - A imagem do senhor está muito ligada às grandes de- etapa ao nível do nosso partido que àquela. Preciso dizer a algu-
molições e desalojamentos forçados da Huíla. Acha que em mas pessoas que, para se chegar a algum sítio, não é necessário
algum momento foi mal percebido? fazer confusões indevidas. A seu tempo, você chegará lá.
IA – A resposta você tem. Foi muito falado, foi muito badala- Entretanto, agora ele está lá, o primeiro secretário. Mas, o tra-
do, foi muito comentado, mas eu ganhei as eleições para o meu balho que tínhamos para ser feito nós fizemos. E ele é que sabe
partido. Mantive a maioria de registos, portando, continuei e se vai continuar, se tem ou não interesse, se a imagem dele vai
deixei a província da Huíla como a segunda maior praça elei- sobressair mais ou menos. Eu já não estou na Huíla, estou em
toral. Fiz o trabalho do governo que deu os votos necessários ao Benguela. Benguela é uma nova realidade. Mas, se for necessário
partido. Por outra, construímos em toda dimensão da província, termos que o fazer, falo-emos.
com níveis que não têm comparação. E fizemos construções de-
finitivas com qualidade em todos os municípios. Se eu fui, em SA - Benguela é uma das províncias de Angola que já tem
determinada altura, mal compreendido, o povo respondeu. Os uma sociedade civil interventiva na área de direitos huma-
meus amigos ou os meus adversários (esses são os meus amigos nos. O senhor, enquanto governador, como pensa relacio-
de estima - risos) também não me vão poupar em Benguela. Mas, nar-se com essa franja da sociedade benguelense?
em todo caso, estou à espera deles, a ver se desta vez também IA – No meu discurso de apresentação tornei claro que estou
lhes consiga dar mais ou menos algumas respostas adequadas. aberto ao diálogo. Não se esqueça que eu sou um intelectual e
Vamos ver! com uma boa formação. E, portanto, apesar de estar a exercer
actividades políticas, não se esqueça que eu sou um profissional e
SA - A OMUNGA divulgou um comunicado, na altura da sua sou católico. Ora, se sou católico, eu abraço os valores da morali-
nomeação, realçando os aspectos positivos de Armando da dade. Então, o diálogo entre as pessoas e as instituições é possível.
Cruz Neto em relação a procedimentos ligados a desalo- Mas é preciso frisar que o uso do discurso dos direitos humanos
jamentos e demolições. O senhor. como novo governador, é divisa para o intervencionismo político. E o intervencionismo
compromete-se a dar continuidade aos processos negociais emancipou do Lobito, é porque houve necessidade de condizer o político também tem regras próprias. Se não houver intimidações
iniciados pelo seu antecessor? seu crescimento a uma nova realidade. Podemos fazer o mesmo deles para connosco e nem nossa para com eles, é possível, sim,
IA – O governo é unitário. Não existem federações em Angola. com o Biopío e a Canjala, que são parte integrante do município um relacionamento saudável, para que possamos atender aos
Portanto, os programas do governo central, enquanto governo do Lobito. Então, podemos levar as pessoas também a construí- interesses dos cidadãos. Mas o cidadão tem que recuperar a sua
unitário, são comuns e para serem seguidos. Não houve aqui mu- rem nessas localidades e não necessariamente a demolir para ar- auto-estima no sentido de valorizar-se mais e não ficar sob hum-
dança de partido, a mudança é de figuras. O programa de go- ranjar espaço. No Lubango, nós fizemos uma grande demolição belas de pessoas e de organizações que apenas estão a utilizar a
vernação é o programa do MPLA que foi sufragado nas eleições ao longo da linha férrea para viabilizar a construção das linhas sua condição de precariedade temporária.
de 2012 e que lhe deram confiança para continuar ser governo. do comboio e isso foi conseguido. E ganhamos as eleições: o povo
Relativamente à Omunga, ela não faz comunicados, a Omunga compreendeu votando no MPLA. Demos origem a partir daquilo SA - Outra questão muito badalada tem a ver com a int ole-
faz uma análise de opinião… a uma grande urbanização de cinco mil hectares que foi talho- rância política e alegada violação do direito à manifestação.
nada e entregue a cada um dos cidadãos deslocado daquela po- Qual é a sua visão em relação ao assunto?
SA – Mas enquanto instituição ou organização da socieda- sição, mil metros quadrados com título de propriedade. Aqueles IA – As sociedades democráticas reconhecem o direito à mani-
de civil, pode fazê-lo. cidadãos eram parte da sociedade, não tinham nenhum direito e festação tal como a nossa constituição reconhece o direito à ma-
IA – Uma organização da sociedade civil faz o seu comentá- passaram a ter. E não apenas um direito fictício, eles passaram a nifestação política e organizada. E a nossa constituição foi mais
rio. Se fosse tão importante, ela própria nomeava o governador ter um direito material. E porque é que ninguém fala disso? Por- longe porque permite aos membros da sociedade organizados a
que quisesse. Não sendo assim, ela opina, e a comparação só é que é que essas organizações sociais não fazem sobressair isso?! realização de manifestações com mera comunicação à autorida-
possível quando existem tempos iguais e períodos de referencias de. Agora, se não houver essa mera comunicação à autoridade é
semelhantes. Se o que se pretende é saber se vai ou não haver de- SA - Porque é que o MPLA local não faz sobressair isso, já possível um bloqueio. Em suma, nós não proibiremos nenhuma
molições, é o que lhe respondi: acho que o Lobito pode crescer em que ele foi também um das principais opositores das demo- manifestação se elas forem comunicadas atempadamente. Ela
outras direcções que são inóspitas e não necessariamente aí onde lições? não pode ser espontânea porque uma manifestação espontânea
já tem gente. A dimensão do território do Lobito não se reserva IA – O MPLA local foi agraciado agora com a nomeação do não tem responsável e pode provocar desordem. Quem se acha
exclusivamente à beira-mar. Lobito, enquanto município,deu primeiro secretário a governador que continua a cortar as fitas líder, tem que dar a cara e assumir as responsabilidades duma
origem à Catumbela. Então quer dizer que, se a Catumbela se do trabalho que nós deixamos. A reposta é essa. Não há melhor manifestação. ■

«Se plantarmos árvores na periferia


veremos os bairros de forma diferente»
SA – Em Benguela, em termos de melhoria da quali- de ser tratadas como tal, porque são bairros, são aglome- Infelizmente, cheguei agora e ainda não tive tempo para
dade de vida dos cidadãos, vê-se que o investimento rados populacionais… constatar as áreas e estabelecer um programa…
não chega à periferia dos centros urbanos: há muita
poeira, falta de luz e de água, sendo a relação directa SA – Muitos investimentos são feitos no casco ur- SA - As estradas no centro da cidade (Lobito e Ben-
entre isso e as doenças. Quando é que a periferia será bano. É aqui onde encontramos jardins e centros guela) vêm sendo reparadas sem considerar a drena-
também prioridade? de recreação, coisas que não existem nos bairros. gem. Os esgotos não funcionam, e quando chove, tudo
IA – Essa transcendência tem que ser também nacional. Olhando para esse quadro, o cidadão que vive no vira bacia. Como inverter esse quadro?
No nosso conceito de base, a cidade é a parte asfaltada e bairro não teria razão em pensar que está a ser in- IA – A própria cidade de Benguela foi construída sob o Vale
a não asfaltada é a periferia. Mas, deixa-me dizer que é justiçado? do Cavaco. E ela está rimada do lado esquerdo do vale, sendo a
preciso criar infraestruturas para transformar essa peri- IA – Se mudarmos de atitude e plantarmos árvores, cer- sua quota de construção quase a quota do mar. A estrutura de
feria no casco urbano real. Isso é que é o grande desafio tamente passaremos a ver o bairro de outra forma. Por saneamento de drenagem para Benguela tem que ser pensada
que custa dinheiro, custa compreensão e tem que partir exemplo, não é admissível que numa cidade como Bengue- nessa perspectiva. Temos o grande emissário da vala do Curin-
em discussão. Vamos educar a nossa gente a construir com la as pessoas defequem ao ar livre. Temos que encontrar ge que há anos atrás sofreu uma intervenção do Banco Mun-
urbanidade, de modo ordenado, a fim de que, mesmo que uma solução para isso. Se calhar, não vais publicar isso, dial. Se calhar, estamos em tempo de pensar em outra vala ao
haja atraso na implantação dessa infraestrutura, tenha- porque lhe ofende, mas essa é a pura verdade. A diferença meio da cidade, para produzirmos essas drenagens massivas.
mos um caminho a vencer e a integração possa vir a ser dos que vivem na cidade com os que vivem na periferia é Nas novas urbanizações temos que conceber a pers-
feita progressivamente. Vamos calcular quantos quilóme- que os primeiros se organizam para pedir melhores quali- pectiva das valas grandes de drenagens e o rebaixamento
tros de estradas é preciso fazer dentro desse alargamento dades de serviço. Contudo, do ponto de vista sociológico, dos níveis das águas para que essas valas de drenagens
das cidades, para que as periferias se integrem e deixem o engenheiro agrónomo não vai fugir das suas obrigações. sejam os logradouros. ■
 19
Sábado, 01 de Junho de 2013.

Entrevista

É um partido de esquerda ou de direita?

«O MPLA tem que definir


a sua linha ideológica»
SA – Benguela é apontada como gerar empresas, criar infraestru-
um dos grandes palcos da corrup- turas para geração de empregos e
ção e tráfico de influências, so- isso pode ser feito com recursos pú-
bretudo, na adjudicação de obras blicos. Depois disso, que venham
públicas. Até que ponto isso in- então os de direita para privatiza-
fluencia negativamente no cres- rem tudo. Agora, querer tudo ao
cimento económico da província? mesmo tempo, de um lado priva-
IA – Cheguei agora e não posso tiza, do outro constrói, é evidente
lhe responder literalmente ao caso que isso gera uma imagem de cor-
concreto e especifico de Benguela. rupção e tráfico de influência em
Mas sobre o ponto a que se refere, todo o momento…
gostaria também de me pronun-
ciar. Em Angola, temos instru- SA – É uma crítica interna ao
mentos jurídicos que nos obrigam seu próprio partido…
à contratação pública e à probi- IA – Graças a Deus, sou de um
dade administrativa, para com- partido capaz de fazer esse exercí-
batermos esses males e responder cio, que nos autoriza a fazer isso
à crítica pública sobre o assunto. publicamente. Por isso é que estou
Se acompanhar os noticiários do a fazê-lo consigo, para que possa
mundo, nos países mais desenvol- haver uma interacção pública.
vidos também há acusações sobre
isso. A família do rei de Espanha e SA – Não temos terminado
um ministro do governo britânico esse tipo de entrevista sem
estão na boca da imprensa e a con- darmos a última palavra ao en-
tas com a justiça por causa disso. trevistado…
Portanto, em todo lado também IA - Gostaria de ter mais im-
há esses problemas… prensa a discutir as questões
profundas da nossa socieda-
SA – O que vai fazer para evitar de. Não estarei disponível para
a corrupção na sua governação? muitas entrevistas, pois já estou
IA - Ainda assim vamos tentar com idade avançada, além falar
fazer melhor pela via que é melhor. Por exemplo, nas fabricas que mesmo partido pessoas de esquer- IA – Como estamos todos mis- aberto em demasia. Tenho de
Vamos tentar fazer mais concursos construiremos cá em Benguela, se da e de direita, mas, temos que nos turados, o partido (MPLA) como começar a cuidar-me um pouco
abertos do que concursos selecti- forem bem acompanhadas, a pro- entender em que momento é que tal é de esquerda. Mas, entre as (risos). Aliás, estou em fase de
vos. No resto, o risco de corrupção babilidade de haver corrupção será ficam os de esquerda a governar e opiniões que rolam lá dentro, começar a reduzir a minha inter-
é normal, principalmente pela via pequena. Mas, no final de tudo, as em que momento e que ficam os da umas são de direita e outras de venção desta forma muito aber-
de desenvolvimento que tempos fábricas serão privatizadas. Acho direita a governar… esquerda. Resultado: no final das ta. Se calhar, você foi um pri-
em Angola. Para invertermos isso, que é uma boa altura de eu dizer coisas, não fazemos esquerda nem vilegiado ao conseguir que lhe
é necessário que o privado aposte que nós (MPLA) temos que nos es- SA – Está a dizer que, actual- fazemos direita. Em matéria de concedesse essa entrevista logo
mais na autoconstrução, para evi- clarecer se somos de esquerda ou de mente, o MPLA não tem defini- economia, isso é fundamental. Se à minha entrada. Mas foi apenas
tar pagar comissões. direita. Podem até estar juntas no ção ideológica? formos de esquerda, compete-nos para me definir desde já. ■

Carreira política
A carreira política de Isaac dos Anjos come- 2006 volta ao cargo de deputado à Assembleia
çou em 1987, com a sua nomeação ao cargo de Nacional, e em função dos resultados eleito-
vice-ministro da Agricultura, onde permane- rais de 2008 é nomeado governador provin-
ceu até ao ano de 1990, altura em que é nome- cial da Huíla.
ado ministro do pelouro. Um ano depois, por Em Outubro de 2012, é exonerado do car-
razões de reestruturação do governo, foi nome- go de governador da Huíla, tendo sido no-
ado Ministro da Agricultura e Desenvolvimen- meado para exercer a mesma função na vizi-
to Rural, cargo que exerceu até 1997. nha província do Namibe, onde permaneceu
De 1998 a 2002, Isaac Francisco Maria por um período de apenas 8 meses, saindo
dos Anjos exerceu acumulativamente os car- daí para ocupar a mesma pasta na província
gos de deputado à Assembleia Nacional e o de Benguela, em substituição do general Ar-
de Presidente do Conselho de Administra- mando da Cruz Neto.
ção do Fundo de Pensões das Forças Arma- Isaac Francisco Maria dos Anjos nasceu a 8
das Angolanas (FAA). de Março de 1960, no Kuito, Bié. Engenheiro
De 2002 a 2005, foi Embaixador de Angola agrónomo de profissão, é casado e pai de oito
na África do Sul. Exonerado desta função, em filhos.■
20  Sábado, 01 de Junho de 2013.

Por: Makiadi

Engano na coroação da Miss Canadá Semana da Moda


Flutuante em Amsterdão

O
reinado de Denise Garrido
(na foto) como Miss Canadá
durou somente 24 horas.
O jornal “The Star” dá con-
ta que terá havido erro na passagem das
avaliações do júri, do papel para o com-
putador. Foi coroada a pessoa errada, en-
quanto a verdadeira miss terá sido anun-
ciada em terceiro lugar.
Ao dar conta do erro, a organização
deu o dito por não dito – retirou a coroa
a Denise e entregou-a a Riza Santos, a
verdadeira vencedora do concurso.
Denise declarou ao jornal ter ficado

D
muito triste. Bem, o caso não era para ecorreu, até à pas- houve desfiles de moda em
menos. Mas a organização vai consolá- sada quarta-feira barcos turísticos que percor-
-la, colocando-a algumas vezes ao lado em Amsterdão (ca- reram os canais que cortam a
de Riza durante o reinado desta. pital holandesa), cidade holandesa.
uma insólita Semana da Moda A foto refere-se aos desfiles
Flutuante. de lingerie ao ar livre, que de-
A agência France Press as- correram durante o passado

Herói de Cleveland vai comer segura que, durante sete dias, sábado.

Decepou o próprio pénis


hambúrgueres toda a vida durante uma discussão

C N
harles Ramsey, o lavador a semana passada, decepou o próprio pénis e
de pratos que salvou as um indivíduo que atitou-o à sanita.
três mulheres que viviam estava a discutir O jornal “The Star” es-
em cativeiro em Cleveland com a namorada clarece que este caso insó-
(Estados Unidos da América), foi re- lito ocorreu em Jilong (no
compensado pelo seu acto heróico: Taiwan). O indivíduo de 46
vários restaurantes da cidade ofere- anos estava bêbedo; discutia
ceram-lhe a possibilidade de comer com a namorada e de repen-
hambúrgueres gratuitamente até ao te decidiu cortar o pénis com
fim dos seus dias. uma tesoura. Atirou-o de se-
Isso porque o jovem deixou de lado guida para a sanita e puxou o
a seu lanche no dia em que libertou as autoclismo.
mulheres. A namorada levou-o ao
Charles é o mais recente herói esta- hospital, onde os médicos
do-unidense, depois de ter libertado conseguiram apenas manter-
do cativeiro Amanda Berry, Gina De- -lhe os 3 centímetros de pénis
Jesus e Michelle Knight. que restaram, em condições
para urinar.

Facebook destrói casamentos Afinal pode-se mesmo


morrer de amor
F
oi agora provado que, afinal

S
de contas, o Facebook está já empre se considerou paralisada.
a destruir casamentos. brincadeira a possi- Tudo indica que haja exces-
A Academia America- bilidade de morrer so de adrenalina, que provoca
na de Advogados Matrimoniais de amor, mas agora a diminuição dos batimentos
(AAML) veio a público com duas re- um cardiologista inglês veio cardíacos e a paralisação dos
velações surpreendentes. A primeira demonstrar que isso é a mais músculos do coração. A única
é que 20% dos divórcios têm ligação pura verdade. coisa de bom nisto tudo é que
com o Facebook. Por outro lado, Alexander Lyon, do Im- o risco de morrer de “coração
80% dos advogados americanos es- perial College de Londres, partido” é bastante baixo.
tão convencidos que as redes sociais afirmou que a “dor de amor”
causam discórdia e têm desmascara- afinal tem nome: cardiomio-
do relações extraconjugais. patia de Takotsubo. Trata-se
O facto é que cada vez mais se uti- de uma espécie de enfarte,
lizam fotos e textos de conversas em mas sem artérias bloqueadas.
redes sociais, como prova de traição. Os pacientes com cardio-
O mais comum é aparecerem no Fa- miopatia sentem dores no
cebook antigos namorados, que rea- peito e a principal câmara
tam assim relações antes esquecidas. de bombeamento do coração
Depois do Facebook, o MySpace e denota falha na contracção e
o Twitter são os mais utilizados para aparece parcial ou totalmente
provar a infidelidade.
Sábado, 01 de Junho de 2013.  21

Fiat quer 100% da Chrysler e depois lançar ações nos EUA


Bloomberg news

Christina Rogers e Sharon da Fiat e do fundo.


Terlep Analistas discordam, ressal-
The Wall Street Journal tando que a Fiat está investindo
pesado na Europa e correria o
Sergio Marchionne está tentan- risco de um rebaixamento das
do fechar o grande negócio da agências de classificação de
sua vida e os componentes em crédito se usar seu caixa para
jogo envolvem bancos, advoga- isso. Um rebaixamento poderia
dos e outras engrenagens do aumentar o custo de capta-
mundo de Wall Street. ção. “É um negócio complexo,
O diretor-presidente da Chrys- disse Eric Selle, analista do J.P.
ler Group LLC e da sua acionista Morgan. “Você está lidando com
majoritária, a Fiat SpA, deseja tribunais, o sindicato e contra-
que a empresa italiana adquira tos de dívida.”
o controle total da montadora Mesmo se a Fiat adquirir o
americana e ofereça ações em restante da Chrysler, Marchio-
uma bolsa de valores dos Esta- nne ainda terá mais trabalho
dos Unidos, manobra que deve pela frente. Em 2011, a Chrysler
incluir uma complicada reação conseguiu um empréstimo de
em cadeia e pode gerar mais de US$ 2,9 bilhões para pagar o go-
US$ 20 bilhões em acordos. verno americano pelo pacote de
O valor é quase tão grande socorro. Os termos do emprésti-
quanto a oferta pública inicial mo limitam em US$ 500 milhões
de ações de US$ 23 bilhões feita Marchionne articula com bancos e advogados uma complexa transação para dar à Fiat o controle total da Chrysler o montante que a Chrysler
pela General Motors Co. em pode transferir para a Fiat. A
2010. A operação gerou US$ 260 Chrysler também tem US$ 3,2
milhões em comissões para os mente, renegociar contratos de continuam separadas em muitos ricana. Esse acordo está parado bilhões em títulos de dívida
bancos que organizaram o negó- empréstimos e títulos de dívida aspectos. A Fiat não pode usar nos tribunais. com restrições semelhantes,
cio. Por isso, bancos americanos da montadora. dinheiro da Chrysler por causa Em 2012, a Fiat exerceu a opção mas menos rigorosas, quanto ao
e europeus estão acompanhando Ele tem sido reservado sobre dos termos de empréstimos ban- de compra de uma participação total do caixa da Chrysler que a
as ambições de Marchionne. detalhes e sobre quais bancos e cários feitos à montadora ameri- de 3,3% do fundo, classificado Fiat pode usar.
Os bancos de investimento corretoras farão parte da ope- cana e de contratos de títulos nos EUA como associação bene- Para cancelar ou afrouxar esses
vêm apresentando a ele ideias ração. “Sempre considerei a Fiat vendidos a investidores. ficiária voluntária dos empre- limites, Marchionne vai preci-
a sobre como articular essa e a Chrysler uma só entidade”, Ter acesso ao caixa da Chrysler gados, ou Veba. O fundo está sar que a Chrysler refinancie
transação excepcionalmente disse ele recentemente em nota — que era de US$ 11,9 bilhões interessado no negócio, mas os os empréstimos com novos
complicada. A italiana Fiat já a investidores. “Como vamos em 31 de março — e fundir o dois lados divergem quanto ao termos — e fazer os credores
abordou o Goldman Sachs Group chegar lá é uma história que balanço das duas empresas é preço. da Chrysler concordarem com
Inc., o Bank of America Corp., será escrita.” o grande objetivo dos acordos, Uma decisão judicial esperada alterações nos contratos dos
o Deutsche Bank AG e outros Marchionne é conhecido por segundo pessoas a par das nego- para julho vai ajudar a oferecer títulos. Ambas as medidas
bancos sobre possibilidades de conseguir o que quer mesmo ciações. Unir os dois caixas tam- uma fórmula para fixar o preço provavelmente vão exigir novas
financiamento, segundo pessoas que isso signifique confrontar bém permitiria à Fiat desenvol- de uma fatia da participação. rodadas de negociações e podem
a par do tema. A Chrysler não os concorrentes. Há vários anos, ver novos veículos para a futura Depois, os dois lados devem resultar em melhores retornos
quis disponibilizar Marchionne ele obrigou a GM a pagar US$ 2 empresa combinada competir negociar separadamente um da Chrysler aos bancos e aos
para comentar. bilhões à Fiat para sair de uma com gigantes como a GM e a preço para que a Fiat compre o investidores.
A meta final desse ítalo-cana- parceria. Em 2009, como parte Volkswagen AG. A Fiat também restante. Se não houver acordo, Ainda assim, vários bancos es-
dense de 60 anos, que iniciou do pacote de socorro do governo está sob pressão dos problemas o fundo quer vender a sua parte tão vendo um grande potencial
a carreira como contador e à Chrysler, atingida pela crise econômicos da Europa. em uma oferta pública inicial de de lucros futuros, segundo pes-
assumiu o comando da Fiat financeira, ele convenceu o Marchionne tem há meses foca- ações. Isso seria um passo caro soas a par das conversas. Muitos
há quase uma década, é uma Departamento do Tesouro dos do em duas questões. Uma delas e tornaria mais difícil para a em Wall Street julgam que
oferta de ações da nova empresa EUA a entregar o controle da é tentar obter novos financia- Fiat realizar seu objetivo final Marchionne é capaz de superar
combinada na bolsa dos EUA, o Chrysler à Fiat sem que a em- mentos para a Fiat, para dar a de possuir 100% da Chrysler. esses incontáveis desafios.
que reforçaria o balanço da Fiat, presa italiana fizesse nenhum ela um colchão financeiro en- Marchionne já disse que a Fiat, “Ele é um negociador incan-
segundo pessoas a par das suas pagamento em dinheiro. quanto ele trabalha nos pontos que terminou seu último tri- sável”, disse Steven Rattner,
ideias. Para isso, ele precisa Desde então, ele aumentou a da sua estratégia global. A outra mestre com 11,1 bilhões de euros financista que chefiou o socorro
conseguir novos financiamen- participação da Fiat na Chrysler é adquirir a participação de (US$ 14,4 bilhões) em caixa, tem prestado pelo governo america-
tos, comprar a fatia minoritária para 58,5%, fundiu equipes e fez 41,5% da Chrysler hoje em mãos dinheiro suficiente para com- no às montadoras, em 2009, e
que um fundo administrado por com que as empresas trabalhas- de um fundo que presta assis- prar a participação, a um preço negociou com Marchionne o res-
um sindicato do setor automobi- sem juntas nas áreas de fabri- tência médica aos funcionários entre US$ 1,75 bilhão e US$ 4,27 gate da Chrysler. “Se há alguém
lístico tem na Chrysler e, final- cação e engenharia. Mas elas aposentados da montadora ame- bilhões, com base nos cálculos capaz de conseguir isso, é ele.”
22  Sábado, 01 de Junho de 2013.

The Wall Street Journal


Indústria mundial de carros Pragas resistentes aumentam
vendas de pesticidas nos EUA
muda centro de gravidade
Enda Curran a grande maioria dos carros do exportar veículos para os mer- Ian Berry
The Wall Street Journal mundo era fabricada nos Estados cados da Ásia, Europa e Oriente The Wall Street Journal
Unidos, na Europa ou no Japão. A Médio.
A indústria automobilística mun- Austrália era um polo secundário No ano passado, a Ford fechou uma As vendas de pesticidas estão crescendo nos Estados Unidos após anos
dial está mudando seu centro de onde a Ford e a GM se estabe- fábrica nas Filipinas que vinha de declínio à medida que o cultivo do milho aumenta e uma modifica-
gravidade de locais tradicionais leceram para suprir o mercado produzindo o utilitário esportivo ção genética concebida para protegê-lo das pragas começa a perder o
para novos e emergentes merca- doméstico. Alguns carros feitos na Escape. Ao mesmo tempo, a mon- efeito.
dos, como a China. Austrália eram também exporta- tadora produz o Focus, o Ranger e As vendas estão beneficiando fabricantes de pesticidas como American
Recentemente a Ford anunciou que dos para países menos desenvolvi- o Fiesta na Tailândia e abriu uma Vanguard Corp. e Syngenta AG. Mas organizações de defesa do meio-
vai encerrar sua produção na Aus- dos da Ásia. segunda planta no país em 2012. -ambiente e alguns cientistas estão preocupados com o fato de que um
trália em outubro de 2016, após Mas o surgimento de novos mer- O anúncio do fechamento das fá- dos benefícios mais alardeados do milho transgênico — que ele reduz
90 anos, e com isso eliminar 1.200 cados emergentes como China, bricas da Ford na Austrália foi um a necessidade do controle de pragas — está se esgotando. Ao mesmo
empregos. A medida acontece ao Rússia e Brasil deu às montadoras revés para um país que investiu tempo, o ressurgimento dos pesticidas poderia trazer riscos tanto
mesmo tempo em que a montado- a oportunidade de ter um cresci- pesadamente para impulsionar para agricultores quanto para insetos que são benéficos para a lavoura.
ra americana fecha fábricas em mento rápido e sustentável — e sua indústria automobilística. A Até recentemente, grande parte dos produtores de milho nos EUA ha-
países como a Bélgica e o Reino deflagrou uma mudança. Enquanto Ford afirmou que seus prejuízos na via abandonado os pesticidas de solo graças principalmente à adoção
Unido, na Europa, outra região que surgem novos centros de produção Austrália durante os últimos cinco generalizada de uma modificação genética, desenvolvida pela Monsan-
se tornou pouco atraente devido de automóveis nesses mercados anos totalizaram 600 milhões de to Co., que faz as sementes do milho gerar suas próprias toxinas contra
a seus custos altos e economias emergentes, regiões menos com- dólares australianos (US$ 581,1 as pragas — mas que a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (ou
estagnadas. petitivas, como Europa e Japão, milhões). Ela produziu 37.000 veí- EPA, na sigla em inglês) afirma não ser nociva aos seres humanos.
“O negócio simplesmente deixou vêm declinando lentamente. culos no país no ano passado. As sementes modificadas foram introduzidas pela primeira vez em
de ser viável”, disse o diretor-pre- A China ultrapassou os EUA como A unidade da GM na Austrália 2003 e se mostraram altamente eficientes contra a diabrotica speciosa,
sidente da Ford para a Austrália, o maior mercado do mundo em anunciou no mês de abril que a larva de um besouro voraz também conhecida como larva-alfinete,
Bob Graziano. “Nossos custos [na vendas de carros. O país asiático vai cortar 500 vagas — cerca de que é o pior inimigo dos produtores de milho do país. Hoje, segundo
Austrália] são o dobro que os da produziu 19 milhões de veículos 12% da sua força de trabalho —, o Departamento de Agricultura dos EUA, dois terços de todo o milho
Europa e quase quatro vezes maio- em 2012, 9 milhões a mais que os citando a pressão da valorizada cultivado inclui um gene contra essa larva chamado Bt.
res que os da Ford na Ásia.” EUA e mais que o dobro da pro- moeda local. À medida que mais agricultores adotavam a semente modificada, a
Enquanto isso, a Ford e outras dução combinada da Alemanha, De fato, a força do dólar austra- proporção da área plantada com milho que era tratada com inseticida
montadoras estão correndo para França e Reino Unido. liano, que nos últimos anos vem caiu para 9% em 2010, ano mais recente para o qual há dados disponí-
abrir mais fábricas em mercados O Japão já foi no passado o maior sendo cotado acima do dólar veis, comparado com 25% em 2005, segundo o Departamento de Agri-
onde as vendas de automóveis fabricante de automóveis do americano, tem afetado todo o cultura. E os produtores que continuaram a usar inseticida fizeram
estão crescendo rapidamente e os mundo, mas suas montadoras vêm setor de manufatura da Austrália menos pulverizações em 2010, segundo os dados.
custos da mão de obra são baixos. reduzindo a produção doméstica ao tornar as exportações menos Em 2011, no entanto, entomologistas da Universidade do Estado de
A companhia vai gastar US$ 5 bi- porque a valorização do iene dimi- competitivas e aumentar os custos Iowa e da Universidade de Illinois começaram a identificar larvas que
lhões para construir quatro novas nuiu os lucros com a exportação de das empresas estrangeiras. eram imunes ao gene da Monsanto e descobriram que essas pragas
fábricas na China com uma sócia carros japoneses. O envelhecimen- A queda na manufatura representa resistentes haviam se espalhado pelo chamado Centro-Oeste. Agora,
local nos próximos anos. to e declínio populacional também um desafio para o governo austra- muitos produtores já concluíram que precisam aplicar pesticidas no
A Ford também está se expandindo têm contribuído para a queda nas liano, que está tentando tornar solo para matar as larvas que se tornaram resistentes ao Bt, assim
na Índia, na Tailândia e na Rússia. vendas de automóveis observada a economia menos dependente como uma crescente população de outras pragas.
Muitas outras montadoras estão nos últimos anos. do setor de recursos naturais, o Scott Greenlee, que cultiva 688 hectares em Iowa, disse que pretende
seguindo o mesmo caminho. A Ao contrário da Europa e do principal motor do crescimento do começar a usar inseticidas este ano depois que as larvas destruíram
General Motors Co. e a Volkswagen Japão, os EUA continuaram com- país nos últimos dez anos. parte de sua lavoura em 2012. Greenlee, que havia plantado o chamado
AG vêm investindo bilhões de dó- petitivos nessa reorganização O setor industrial da Austrália milho Bt, da Monsanto, disse que a área afetada produziu somente
lares em novas fábricas na China. do mercado global, em parte por emprega cerca de 1 milhão de cerca de 120 a 150 bushels por hectare, perto de um terço da produção
Por outro lado, a GM está fechando causa da redução nos custos de pessoas, 50.000 das quais no setor normal.
sua fábrica na Alemanha para mão de obra em reestruturações automotivo, de acordo com o go- Outro fator que está impulsionando o uso de pesticidas é o aumento
reduzir sua produção na Europa. que acompanharam a recessão verno. Em torno de um milhão de da área plantada com milho, resultado dos altos preços do grão hoje,
Essas iniciativas são parte de uma de 2008 e 2009. Desde então, as novos veículos são vendidos anu- cerca do dobro dos seus níveis históricos. Os agricultores americanos
reorganização mais abrangente da japonesas Toyota Motor Corp. e almente no país, onde 65 marcas plantaram 39,3 milhões de hectares de milho no ano passado, a maior
indústria automobilística iniciada Honda Motor Co. vêm aumentan- com 365 modelos competem pelos área desde os anos 30, comparado com 30,6 milhões em 2001.
dez anos atrás. Durante um século, do sua produção nos EUA para consumidores. O governo americano não mede o uso de pesticidas anualmente, mas
Bloomberg news a American Vanguard e a FMC Corp., dos EUA, e a suíça Syngenta, que
respondem por mais de três quartos do mercado americano de pestici-
das de solo, divulgaram vendas maiores em 2012 e no começo de 2013.
A Syngenta, um dos maiores fabricantes de pesticidas do mundo,
informou que as vendas de seu principal inseticida para o milho mais
do que dobrou em 2012. O diretor financeiro, John Ramsay, atribuiu o
crescimento à “consciência maior do produtor” sobre a resistência da
larva nos EUA. As vendas de inseticidas da Syngenta subiram 5% no
primeiro trimestre, para US$ 480 milhões.
A American Vanguard comprou uma série de tecnologias e empresas
de inseticidas durante os últimos dez anos, apostando que a demanda
por pesticida voltaria quando o Bt começasse a perder a eficácia. Essa
aposta deu resultado nos últimos anos.
A empresa, que tem sede na Califórnia, divulgou que seu faturamen-
to com inseticidas de solo saltou 50% em 2012 e seu lucro, 70%. Suas
vendas de inseticidas subiram 41% no primeiro trimestre, para US$ 79
milhões, crescimento que foi alimentado pelo pesticida do milho.
Já a FMC, de Filadélfia, registrou um aumento de 9% nas vendas do
primeiro trimestre no seu segmento agrícola, que inclui inseticidas e
herbicidas, depois de ter tido um salto de 20% no quarto trimestre.
“O setor inteiro está vendo um ressurgimento”, disse Aaron Locker,
diretor de marketing da FMC, que tem uma receita anual de mais de
US$ 3 bilhões.
Sede da Ford na Austrália, onde custos altos tornaram o negócio inviável No Brasil, as vendas de defensivos agrícolas em geral vêm crescendo
na esteira do aumento da produção. Para o milho, em particular, as
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Sábado, 01 de Junho de 2013.

The Wall Street Journal


Aaron Gassmann/UNIVERSIDADE ESTADUAL DO Iowa
vendas no ano passado subiram tes de sementes — informou que transgênicas da Monsanto prova-
23,5% em relação a 2011, para US$ continua recomendando aos produ- velmente vão também se tornar
915 milhões, segundo dados do tores que façam o revezamento do resistentes a outros fatores. Con-
Sindag. milho com outras lavouras, como sultores agrícolas e pesquisadores
Embora já tenham sido identifica- a soja, para “romper o ciclo da lar- dizem que a população de outras
dos alguns focos de resistência da va”. A empresa americana também pragas além da larva-alfinete
larva no Brasil, o fenômeno ainda afirmou que ela e outros fabrican- aumentou em muitas regiões nos
não atingiu a mesma proporção tes estão vendendo sementes com EUA porque os agricultores estão
que nos EUA porque o milho Bt foi mais de um fator de resistência às plantando milho todo ano e porque
introduzido mais tarde no país, em pragas e que está substituindo as alguns pararam totalmente de
2008, diz Flavio Hirata, da consul- sementes Bt convencionais pela usar pesticidas quando adotaram
toria de agronegócio Allier Brasil. versão com múltiplos fatores. o milho da Monsanto, mesmo que
“Quanto mais você usa [o trans- A empresa afirmou ainda que está ele não tenha sido feito para matar
gênico], mais você propicia o desenvolvendo uma tecnologia outras pragas.
desenvolvimento da resistência”, para combater a larva do milho e “Quando os híbridos com Bt foram
diz Hirata, que calcula que 80% das que espera colocá-la no mercado lançados, uma vantagem foi a dimi-
lavouras de milho do país usam até o fim da década. nuição dos inseticidas para o solo”,
hoje sementes transgênicas. Mas alguns cientistas dizem que diz Michel Gray, entomologista
A Monsanto — que foi a primeira, a resistência poderia ser um pro- da Universidade de Illinois. “Mas
dez anos atrás, a vender um milho blema persistente. A EPA já alertou alguns desses ganhos estão sendo
resistente à larva do milho e licen- que as larvas que desenvolveram rapidamente revertidos.” Lavoura de milho afetada por uma larva que danifica as raízes das plantas
ciou o gene Bt para outros fabrican- resistência às primeiras sementes (Colaborou Luis Garcia.)

Em meio a críticas, Petrobras diz que vive bom momento


Matthew Cowley, Luciana Magalhães e Jeff Fick mista da firma carioca de gestão de ativos Rio Bravo Investi- os 13 anos que os Estados Unidos precisaram para chegar a
The Wall Street Journal, mentos. este nível no Golfo do México, disse ela. Antes de 2020, diz
do Rio de Janeiro Foster foi nomeada para comandar a estatal há pouco mais de Foster, a Petrobras estará produzindo 4,2 milhões de barris
um ano. Seu escritório, no 23o andar da sede da empresa no de petróleo por dia.
O Brasil chacoalhou o mercado mundial de petróleo em 2007 centro do Rio, tem uma vista privilegiada da Baía de Guanaba- A confiança do investidor aumentou recentemente. As ações
com a descoberta de imensas reservas e a promessa de se ra, mas executivos dizem que já houve vezes em que ela achou preferenciais subiram 23% em abril e as ordinárias, 16%. Em
tornar um grande exportador. essa vista exasperante. Enquanto a produção da companhia maio, a Petrobras arrecadou US$ 11 bilhões nos mercados de
A Petróleo Brasileiro SA fez naquele ano um dos maiores continuava a declinar, no ano passado, imensas plataformas capital para ajudar a financiar seus investimentos, na maior
achados das últimas duas décadas ao encontrar, nas profun- de petróleo estavam ancoradas na baía, esperando por licen- emissão já feita até hoje por uma empresa de um país emer-
dezas do Oceano Atlântico, grandes depósitos de petróleo ças de operação. Foster diz que respira mais aliviada agora gente.
aprisionados sob uma camada de sal de centenas de metros que elas já estão ativas. “Creio que Graça tem uma boa ideia de como as coisas estão.
de espessura. Estimativas atuais indicam que a área do pré- Foster apoia tenazmente a mão forte que o governo tem no Ela sabe que a Petrobras precisa ser lucrativa e precisa ter
-sal pode conter até 100 bilhões de barris de petróleo, o que conselho de administração da Petrobras. Seu papel, diz ela, uma estrutura financeira independente do Estado”, disse o
coloca o Brasil entre os dez países com as maiores reservas do é defender os interesses da empresa diante do conselho de economista e ex-ministro da Fazenda Antônio Delfim Netto,
mundo. administração. que é conselheiro da presidente Dilma Rousseff.
“O pré-sal significa muito para a Petrobras. Significa que, em “Cabe a mim como presidente da companhia levar [ao con- Três mecanismos impostos pelo governo desagradam
2020, pelo menos 50% da produção da companhia virá do pré- selho] números que representam a saúde da empresa”, disse particularmente os críticos da companhia: uma política de
-sal”, disse Maria das Graças Foster, a presidente da estatal, Foster. A executiva diz que o desempenho da Petrobras em combustível que mantém os preços da gasolina e do diesel
durante uma entrevista ao The Wall Street Journal. termos de produção deve começar a melhorar em 2013, pois para o consumidor abaixo dos preços de mercado, regras que
As descobertas, entretanto, levaram a uma importante duas novas plataformas já vêm produzindo desde janeiro, uma obrigam as empresas a comprar mais equipamentos e servi-
mudança de postura do governo brasileiro, que é dono de delas no pré-sal, e outras cinco estão agendadas para iniciar a ços no Brasil e o controle maior do Estado sobre as descober-
cerca de 46% do capital e 60% das ações com direito a voto da produção até o fim do ano. A empresa tem hoje 70 plataformas tas de petróleo do pré-sal.
Petrobras. Depois que o Brasil abriu a exploração para empre- perfurando poços na costa brasileira. Masha Gordon, diretora de carteira de ações de mercados
sas concorrentes, inclusive estrangeiras, em 1998, o setor de A produção da Petrobras saltou quase 60% entre 2000 e 2011, emergentes da Pacific Investment Management Company
petróleo vive um auge de atividade, com empresas comprando de 1,27 milhão para 2,02 milhões de barris de petróleo por LLC, a Pimco, disse que “se acordarmos uma manhã e virmos
concessões, fazendo descobertas e desenvolvendo novos cam- dia. Desde 2011, porém, a produção declinou quase 9%. os preços da Petrobras desregulamentados e seguindo o
pos. Após a descoberta do pré-sal, o governo suspendeu a ven- Apesar dos problemas na produção, Foster argumenta que a mercado [...] isso seria muito positivo”. O Fundo de Mercados
da de novos blocos por cinco anos — até um leilão recente — e Petrobras foi rápida para colocar poços da camada do pré-sal Emergentes de US$ 581 milhões da Pimco, criado em março de
criou leis que deram à Petrobras o controle sobre a exploração em atividade. A empresa levou sete anos para atingir uma 2011, nunca investiu em ações da Petrobras.
das reservas do pré-sal. produção de 300.000 barris por dia na área, menos do que (Colaborou Jeffrey T. Lewis.)
Os críticos argumentam que, como resultado, o setor perdeu
o impulso e o país deixou de ganhar uma quantia considerá-
vel em royalties e investimentos, enquanto as petrolíferas
estrangeiras voltavam sua atenção para outras partes do
mundo. Eles dizem também que é inviável encarregar a Petro-
bras da operação dos campos do pré-sal e exigir da compa-
nhia uma participação financeira de pelo menos 30% em todos
os projetos. Segundo os críticos, a estatal não tem os recursos
financeiros e o pessoal necessários para liderar a exploração.
Enquanto isso, a produção total da Petrobras começou a de-
clinar em 2011, quando ela começou a interromper a atividade
para fazer a manutenção de envelhecidas plataformas nos
campos tradicionais. Declínios naturais nos campos maduros
também contribuíram para a queda da produção total.
Muitos investidores minoritários venderam as ações da
Petrobras nos últimos dois anos. O valor de mercado da em-
presa diminuiu 34% desde dezembro de 2010, para R$ 250,63
bilhões na sexta-feira passada, segundo a firma de análise de
investimentos Economática.
“Creio que a Petrobras tenha sido talvez a empresa ou enti-
dade pública mais prejudicada pela guinada ideológica do
governo na direção do nacionalismo e da esquerda”, disse o
ex-presidente do banco central Gustavo Franco, hoje econo-
24  Sábado, 01 de Junho de 2013.

The Wall Street Journal

Recessão dá impulso a ativismo político na Europa Antonio Heredia para o Wall Street Journal

Ilan Brat e Christopher Bjork


The Wall Street Journal
de Torrelodones, Espanha

O cheiro de esgoto foi o que fez


Elena Biurrun despertar para a
política.
A mãe e dona de casa se conver-
teu em ativista depois que as
autoridades locais se recusaram
a consertar um cano de esgoto
quebrado, e uma causa levou a
outra. Ela criou um grupo para
defender uma floresta contra
empreendedores do setor imobi-
liário. Depois de seis anos de luta
contra as autoridades de plantão,
Biurrun foi eleita prefeita.
Em dois anos de mandato,
Biurrun tornou-se uma figu-
ra nacional, um modelo para
um incipiente movimento em
defesa do “governo limpo” que
está criando raízes na Espanha.
A prefeita de 39 anos abriu a
Câmara Municipal para uma
maior participação dos cidadãos,
aboliu muitos benefícios para
membros do governo local e
direcionou as economias resul-
tantes para obras em escolas e
estradas, com sobra suficiente
para construir ciclovias e refor-
mar um campo de futebol.
“Aqueles que governam precisam
saber que a legitimidade do voto
não significa que eles podem
fazer o que querem em quatro
anos”, disse Biurrun. Elena Biurrun (esq.), uma dona de casa que foi eleita prefeita de Torrelodones, na Espanha, está liderando uma reforma por mais transparência no governo.
Ela recebe regularmente convi-
tes para falar em fóruns por todo
o país, dá entrevistas de rádio dominantes com a promessa A cidade grega de Thessaloni- corrupção porque os eleitores logo saiu cortando. Ela reduziu o
e foi tema do principal progra- de mais abertura e melhor ki cortou gastos depois que o não os pressionavam enquanto a salário de prefeito em 21% para
ma noticioso da Espanha. “As gerenciamento. Se uma eleição empresário Yannis Boutaris economia estava crescendo”, diz 49,5 mil euros anuais, reduziu
pessoas estão começando a ficar acontecesse hoje, a União para o assumiu o governo e pôs fim a Fernando Jiménez, especialista o salário de outros líderes do
realmente cheias”, disse. “Co- Progresso e a Democracia, uma um relacionamento com alguns em corrupção governamental da governo municipal e eliminou
meçamos a ver mais iniciativas aliança entre forças progres- poucos fornecedores selecio- Universidade de Murcia. quatro posições assalariadas. Ela
como a nossa”. sistas e conservadoras para um nados. Licitações competitivas Tais reações tem acontecido de eliminou também a escolta poli-
Ao invés de alienar-se de um governo limpo, teria obtido 13,1% reduziram em 80% os gastos com formas diferentes. Um grupo faz cial e o carro oficial e deu outro
sistema político infestado por dos votos, praticamente três contabilidade, 25% com cami- gravações de vídeo das reuniões emprego ao motorista. Retornou
denúncias de nepotismo, falta de vezes mais do que conseguiu na nhões de lixo e 20% com papel públicas de câmaras municipais e um tapete com o selo oficial da
transparência e desfalques, mui- eleição de novembro de 2011. O para impressão. As economias as publica on-line, arriscando le- cidade que custava 300 euros por
tos espanhóis estão se voltando Partido Popular do primeiro-mi- permitiram a Boutaris gastar var multas onde isso não é permi- mês para ser limpo e determinou
ao ativismo comunitário. nistro Mariano Rajoy teria 22,5% mais em serviços sociais, mesmo tido por lei. Ativistas garantiram que os membros do conselho mu-
O número de espanhóis envolvi- dos votos, quase a metade do que depois de reduzir impostos e mais de 1,4 milhão de assinaturas nicipal deveriam pagar por suas
dos em atividades políticas que obteve para ser eleito. pagar as dívidas que a prefeitura em defesa do relaxamento das próprias refeições no trabalho ao
vão além de votar ou participar Outras partes da Europa em tinha com fornecedores. rígidas leis de execuções hipote- invés de pedir reembolso. “Fiquei
em manifestações de rua cresceu recessão também estão vendo A pressão do ativismo comunitá- cárias, o que levou o Parlamento a indignada de ver o que essas pes-
de 27%, em 2008, para 39% em um maior envolvimento dos cida- rio é forte na Espanha, particu- reconsiderá-las. soas vinham fazendo com o nosso
2010, segundo dados da empresa dãos e a ascensão de líderes que larmente em iniciativas locais Torrelodones parecia um lugar dinheiro como se fosse delas”,
de pesquisas European Social atacam gastos desnecessários. para abrir as prefeituras ao exa- improvável para uma insurgên- disse Biurrun.
Survey, com sede em Londres. O grupo italiano de oposição me minucioso do público. Trinta cia reformista – uma bem estabe- Esses cortes, combinados com
O fervor é impulsionado pelos Movimento 5 Estrelas, liderado e três das 110 maiores cidades da lecida cidade satélite com cerca economias alcançadas pela
efeitos da recessão na Espanha, pelo comediante Beppe Grillo, Espanha ganharam as melhores de 22 mil habitantes a menos de renegociação de contratos para
incluindo uma taxa de desem- conquistou quase 25% dos votos notas no ano passado no Índice 30 quilômetros de Madri. A pre- a coleta de lixo e outros servi-
prego de 27,2% e uma sensação na eleição nacional de fevereiro de Transparência Internacional, feita Biurrun tinha ainda menos ços, ajudou a dar um impulso de
de que muitos líderes políticos depois de uma campanha por em comparação com apenas uma o perfil de rebelde. milhões de euros para os cofres
ficaram ricos durante a bolha do melhor governança. Cinco meses em 2008. Filha de editores de cinema, ela da cidade em seu primeiro ano de
setor imobiliário que estourou em antes, o grupo havia conquis- Regalias oficiais estão sen- cresceu em outro lugar, estudou mandato. Isso permitiu à prefei-
2008. Desde então, investigações tado a maioria dos votos na do cortadas. O empobrecido Direito e se mudou para cá em ta limitar o tipo de austeridade
criminais surgiram em pratica- assembleia regional da Sicília e governo regional de Castilha-La 2000. Depois de trabalhar como dolorosa que outras comunida-
mente todas as cidades grandes manteve sua promessa. Seus 15 Mancha já leiloou dezenas de publicitária, ela optou por ficar des espanholas enfrentam. A ci-
da Espanha contra autoridades de deputados eleitos estão doando carros oficiais e selecionou mais em casa com seus dois filhos pe- dade pode, por exemplo, manter
todos os níveis do governo. 70% de seus salários mensais 400 para vendas futuras. quenos e ajudar um tio a escre- o atendimento psicológico a 20
Líderes políticos novatos estão de 8 mil euros a um fundo para “Até agora, os partidos políticos ver scripts de rádio. crianças, mesmo depois de ter
tentando roubar a base de apoio expandir o crédito a pequenas e da Espanha não tinham motivo Biurrun chorou na posse diante cortad o mesmo serviço para cer-
dos dois partidos nacionais médias empresas. para combater seriamente a de uma multidão animada, mas ca de 50 adultos.
Sábado, 01 de Junho de 2013.  25
Opinião

O Carniceiro de Londres
N
o dia 22 de Maio, Por alguns anos, aluguei no Sul rava; os rebeldes voltavam à casa que o Michael Adebolajo nunca dessas crenças e o Cristianismo.
em Woolwhich, um de Londres um estúdio de um se- e continuavam com a tradição da parou de fumar liamba. Ligado Suspeito que ele terá ouvido disto
subúrbio no sul de nhor africano que não podia com família. à obsessão pela gratificação ins- tudo, mas optou por valorizar a
Londres, dois jovens, os seus filhos. Ele dizia que os A família Adebajo passou, en- tantânea, está o desejo de sempre mensagem, tão apocalíptica, dos
Michael Adebolajo (28 anos) e mesmos eram uma desgraça por- tão, a ter um filho rebelde que se querer dar nas vistas. seus colegas radicais.
Michael Adebowale (22), mata- que não queriam estudar. O pro- identificou com uma versão do Em 2011, o Michael Adebolajo O Michael Adebolajo, como
ram e decapitaram Lee Rigby, um prietário do edifício em que vivia Islão muito radical. Em Londres, e mais alguns amigos tentaram os seus colegas de origem afri-
soldado de 25 anos. Depois deste não parava de falar das dificul- sempre houve uma espécie de pe- ir para a Somália, para se junta- cana que vão seguindo um islão
acto horrível, Michael Adebolajo dades que ele tinha enfrentado; quenas seitas muçulmanas, lide- rem a grupos radicais locais. No radical, passa a não ter uma no-
dirigiu-se ao público em choque ele tinha ido para o Reino Unido radas por figuras que reclamam Quênia, o Adebolajo, que foi ção exacta da história. Na África
pedindo desculpas. «Nas nossas praticamente sem nada, mas ago- ser detentoras da verdade – a pura identificado como um nigeriano, Ocidental, há uma grande tradi-
terras muçulmanas», dizia ele, « ra tinha vários edifícios. Os seus verdade... Para estes senhores, o foi posto na cadeia e só acabaria ção acadêmica ligada ao Islão e
isto vê-se diariamente». As suas filhos falavam muito e passavam mundo é dicromático: tudo se vê salvo pelas autoridades britâni- à língua árabe. Os manuscritos,
declarações foram gravadas e a vida a ver activistas radicais a preto e branco – de um lado há cas. Mesmo assim o seu ódio pela muito impressionantes, saídos
espalharam-se de imediato pelas negros como o Maulana Karen- o Ocidente, que representa o mau; nação britânica não diminuiu. das bibliotecas de Timbuktu, no
redes sociais. ga. Estes jovens nunca perdiam do outro, os que lutam para a É curioso que ele parece não ter norte do Mali, foram escritos em
A primeira coisa que notei no a oportunidade para enumerar as criação do Reino de Deus, que são mostrado nenhum interesse pela árabe e línguas locais. Se os radi-
Michael Adebolajo foi o seu so- falhas do Ocidente – ou dos bran- louváveis. O Michael Adebolaji Nigéria – a terra dos seus pais. cais muçulmanos pudessem, todo
taque – típico do Sul de Londres. cos. O pai dele argumentava que tentou, a certo momento, estudar Quando eu vivia no Reino o saber de Timbuktu iria para as
Vivi na Grã-Bretanha quase de- as injustiças do passado tinham Sociologia, mas não foi longe nes- Unido, lembro-me que no verão cinzas.
zoito anos – a maioria dos quais que ser superadas, mas isto tinha sa sua pretensão académica por- sempre havia grandes festas ni- No norte do Mali, depois de
no Sul de Londres. Conheci mui- que ser feito com dedicação e dis- que as suas notas eram péssimas: gerianas em que toda gente era assumir o poder, os radicais in-
tos jovens como o Michael Ade- ciplina. uma formação acadêmica sólida bem vinda. O objectivo daqueles troduziram a lei muçulmana da
bolajo. Quando o ouvi a falar, Os nigerianos, como várias fa- não só implica certa dedicação, encontros era unir a comunida- sharia: amputações de mãos para
vi logo que se tratava de alguém mílias africanas no Reino Unido, mas, também, a capacidade de se de; as meninas, muitas nascidas os gatunos; apedrejamentos para
com origens nas Caraíbas ou em esperavam que os filhos fossem deter vários argumentos. no Reino Unido, vestiam-se tra- os adúlteros, etc.rios etc. Mas o
África. para uma boa universidade e Uma das características da ju- dicionalmente; os homens me- que mais feriu o povo do Mali é
O Michael Adebolajo é filho de estivessem a caminho de serem ventude da geração em questão é tiam os «agabadas» – os bubus que, de repente, a música foi ba-
emigrantes africanos que, como médicos, advogados, engenhei- a obsessão pela gratificação ins- tradicionais. Tudo era feito para nida. Figuras muçulmanas, mui-
eu, se instalaram no Reino Unido ros etc. Mas há filhos que, por tantânea. O Michael Adebolajo, se dar ênfase à herança cultural tas delas idas do Meio Oriente, de
nos anos 80. Vários jornais britâ- várias razoes, reagem contra soube-se, aparecia em manifesta- nigeriana. repente começaram a impor-se e
nicos notaram que os pais de Mi- isto: nos anos 70, muitos opta- ções de trajes muçulmanos, mas O Michael Adebolajo vem de a denegrir tudo que dava orgulho
chael Adebolajo são cristãos que vam, por exemplo, pela religião logo depois ia para as suas varias uma família que pertence à etnia aos malianos por terem uma his-
se dedicaram aos seus estudos e dos rastafarianos, na qual as as- namoradas – incluindo uma mo- Yoruba; alguém, de certeza, terá toria riquíssima.
trabalho – o pai dele chegou a ser pirações burguesas não tinham delo loira. Diz-se que este jovem lhe falado de Shango, o Deus do O Islão, no continente africano,
enfermeiro e a sua mãe assisten- nenhum valor. Mas esta atrac- de 28 anos, que não trabalha, ti- ferro, ou Yamanja, a Deusa do tem sido bastante tolerante. O Se-
te social. Os seus outros irmãos ção pelo rastafarianismo não du- nha duas esposas. Há quem diz mar, e como houve uma fusão negal, um país maioritariamente
também têm uma boa formação. muçulmano, foi liderado por um
Os problemas começaram na católico. Na Serra Leoa, há até
sua adolescência: não só o Micha- casamentos entre cristãos e mul-
el Adebolajo passou a envolver-se çumanos. O presidente da Costa
em crimes, mas também no con- do Marfim, Allasane Ouattara, é
sumo de vários tipos de drogas. muçulmano praticante, mas a sua
Quando eu vivia no Reino Unido, esposa é católica e a sua filha é
a grande questão era como os pais evangélica. Na Tanzânia, os mu-
africanos podiam transmitir a çulmanos sempre deram apoio ao
ambição de avançar – sobretudo católico Julius Nyerere ou a Ben-
academicamente – aos seus filhos. jamin Mkhapa, que também é
Muitos africanos ainda estavam cristão. Em várias partes do con-
fortemente ligados à terra natal; tinente africano, porem, ouve-se
os nigerianos, por exemplo, fa- gritos de radicais muçulmanos a
ziam questão de estar permanen- falarem do Califado – um reina-
temente ligados ao seu país. O do, claro, onde as outras confis-
sonho de muitos era o de poder sões não teriam lugar.
voltar um dia com os seus filhos. O Michael Adebolajo matou
O Michael Adebolajo fala das alguém – porém, ele vai viver,
«nossas terras muçulmanas». embora por detrás das grades,
Mas a verdade é que a terra dele é porque no Reino Unido existe o
o Reino Unido e a Nigéria. É que, principio de que ninguém, nem
na vida dos filhos dos emigrantes, mesmo o Estado, tem o direito de
há momentos de rebeldia, em que findar uma vida. Um dia, ele esta-
tudo que é associado ao mundo rá grato por ter nascido em 1984
dos parentes já não vale. no Reino Unido. ■
26  Sábado, 01 de Junho de 2013.

Opinião

Esse nosso mundo descartável


M
uitos dizem, com
certa nostalgia, que o
mundo de hoje já não
é igual ao dos outros
tempos. Isto pode remeter-nos a
uma «olhadela» comparativa en-
tre o passado e o presente, dentro
da lógica da mutação das coisas
no espaço e no tempo.
Nisto de mudanças, por exem-
plo, nem sempre as novas ge-
rações estão preparadas para a
transição que ocorre. Daí que, e
não entendendo devida e conve-
nientemente o passado da geração
anterior, a nova ignora-a, tentan-
do fazer prevalecer o que entende
como valores da sua. É este o cho-
que vulgarmente conhecido por
«conflito de gerações», em que
cada parte se pretende impor à
outra, quando a «transição» ocor-
rer de forma «pacífica».
No passado, uma amizade
verdadeira era feita de um pacto
indestrutível, em que se partilha-
vam os bons e os maus momen-
tos com igual intensidade. Nos
dias de hoje, é tudo feito à base de
interesses, em que só se vê «soli-
dez» nos bons momentos. À mí-
nima contrariedade, em que um
dos amigos esteja a passar por
dificuldades, em regra, essa «soli- -na logo por inapta por «incapa- pensa em relações duradouras. uma facilidade espantosa. Der- Antigamente, era normal que,
dez» desaparece de imediato. São cidade técnica». Ainda assim, ela Na maior parte dos casos, assim retem. É tudo descartável. quem requisitasse os serviços
por norma amizades de conveni- não escapava de um sermão das não acontece. Mais do que um Descartáveis são também os de um táxi, beneficiasse de tra-
ências, meramente passageiras. «tias», lembrando-lhe que elas simples «tchilo» ocasional, em re- pratos, os copos, os talheres, os tamento personalizado, sendo
Logo, descartáveis. Tal como as haviam sido avaliadas em condi- gra, elas não darão. São intimida- guardanapos. Anteriormente, os o cliente levado à porta de casa,
fraldas usadas actualmente. ções bem mais difíceis: lavam a des... descartáveis! pratos eram de vidro «duralex»: onde quer que morasse. Isto agora
Antigamente, as mamãs pu- roupa em «selhas», para depois a Tão descartáveis como o são as podiam ir ao chão, mas dificilmen- não é assim tão fácil.
nham os seus filhos bem reconfor- engomarem com ferros à carvão. pilhas «não recarregáveis», que te se partiam. À mesa, limpava-se Até os hábitos alimentares en-
tados com «fraldas de pano», em E, ai delas, se alguma peça fosse agora estão mais «descarregáveis» a boca com guardanapos de pano, tre nós alteraram-se radicalmen-
algodão ou flanela. Então, elas ti- queimada. Ou se pusessem mais que nunca. Antigamente, as pi- com bonitos bordados, feitos, te: em boa parte das mesas não há
nham sempre a santa paciência de de um vinco numa calça ou numa lhas secas duravam p’ra «xuxú»: manualmente. Nessa altura, boa mais espaço para as nossas ervas
lavá-las, ensaboar e pô-las a secar camisa. Tudo isso porque «man- os «kotas», quando notassem que parte das «boas» donas-de-casa (kizakas, menguelekas, husse e
em estendais rudimentares, depois ter», naquele tempo, não era ao elas estavam já a «estrebuchar», dominava a costura. Muitas delas ifuatas), comidas da produzidas
de devidamente esfregadas com deus dará como é hoje. sobretudo, nos seus inseparáveis viviam até disso. Mas, as «pintas», na terra, sem dioxinas nem nada.
sabão e lixívia. E ficavam como Se, no passado, para se «en- rádios, as punham ao sol que as na sua maioria, mal conseguem A malta dita «moderna» não mais
que imaculadas. E apresentação da gatar» uma «garina», havia que ditas, como que milagrosamente, colocar um simples botão na sua se identifica com isso. Até o funge
roupa estendida ao sol tinha uma «xixilar» (tanto no «papo» como voltavam a «ganhar carga». Não própria blusa, tampouco uma bai- já é posto em causa, sob a alega-
carga simbólica de grande alcance, também nas solas de sapato), eram tão descartáveis com as pi- nha na calça do marido. ção de que faz mal à noite, por ser
já que era assim que se avaliava se nos tempos que correm, é tudo à lhas de hoje, que, quando dão o As tias do outro tempo borda- muito pesado e tal. Mentira. São
a pessoa que a lavara era ou não «nduta», isto é, com a maior das berro, é para valer... vam tão lindamente que até dava esses manjares que sempre deram
uma boa dona de casa. D e resto, facilidades. Muitas vez, basta um Quase igual se passa com as gosto. Até dava gosto ir comprar o «ngunzo» aos nossos velhos.
em muitas famílias, a lavagem das olhar, que já está. Não há muita lâmpadas actuais. No passado, o «kibéu» nos belos saquinhos de Agora, o pessoal globalizado pre-
fraldas era um dos itens básicos conversa. É «toma lá-dá cá». E as lâmpadas normais de uso ca- pano com a palavra «pão» lá bem fere as «pizzas», os «ketchups» e
requeridos para se avaliar quem que ninguém venha falar de mo- seiro podiam iluminar o «cubi- bordada. Hoje, o pão, em regra, os frangos grávidos de dioxinas,
dava ou não numa boa nora. ralidade, que isso aqui não conta. co» durante «séculos». Mas hoje é levado à casa em saquinhos de comidas de «plástico» que tanto
Se as fraldas ficassem encardi- De uma maneira geral, a im- por hoje, se elas aguentarem plástico azul e branco. Por sinal, mal fazem às nossas gentes.
das, a moça era reprovada ime- pressão que se tem é que as «da- umas «semanitas» lá em casa, é as mesmas cores que as dos carros Em substância, olhamos à nos-
diatamente aos olhos dos mais mas» da actualidade estão mais pura sorte. Pior ainda é que, para dos candongueiros que vão dan- sa volta e observamos que quase
velhos da família do esperado que disponíveis, para o que der além das lâmpadas, os próprios do «mbaias» a torto e direito, algo tudo o que nos rodeia é descartá-
marido. As tias do rapaz davam- e vier. Mas, desengane-se quem suportes também vão à vida com que não se via no outro tempo. vel. E isso é desesperante!■
Sábado, 01 de Junho de 2013.  27
Opinião

Meio caminho andado!


T
al como acontece nas
viagens de longo curso,
também aqui chegou a
hora de parar por uns
instantes, antes de continuarmos.
Passaram os primeiros cinco me-
ses de 2013. Foi meio caminho
andado. Rápido, como sempre, o
tempo passou e a vida não perdoa.
Para quem se habituou a pres-
tar contas, está a chegar a hora do
primeiro balanço, a meio do ano.
E para quem já notou, «2013»
aglutinou duas categorias de nú-
meros bastante curiosos: o «20»
que traduz a excelência de resul-
tados e o «13» que significa tragé-
dia e mau presságio. Se a nota 20 é
o máximo que podemos desejar, o
«13» (uns invertem e dizem «31»)
é o pior azar que nos pode acon-
tecer, se não fosse a publicidade
do Totobola. Não sou supersticio-
so, mas continuo de olho ao ano
2013!
Curiosamente, nos últimos
dias de Maio, de 2013, comentava
estas coincidências com dois ami-
gos, online, ambos a centenas de
quilómetros de distância, e dizia:
em Janeiro temia que este fosse
um ano mais imprevisível, como
uma caixa de surpresas, e o mais
difícil de todos, como o escalonar
de uma montanha. E, tanto o de-
saire do Benfica que tudo quis e
tudo perdeu, como a renúncia do
Papa Bento XVI, fenómeno que já
não se via há vários séculos, fo-
ram os melhores exemplos, para
não citar mais alertas, de que ain-
da nos pode surpreender. meio caminho andado, a favor de construção de enorme edifício; à “a posteriori” o que se escreve, ços de intriga a «Nota Vinte», o
Assustados e inseguros, os um adversário que nunca desis- esquerda e à direita, na luta pela a correr, somos forçados a levar «Treze» e o «Trinta e Um»...
meus amigos também se diziam tiu da perseguição ao título! Por conquista e pela posse do poder, as mãos à cabeça, com lágrimas Os primeiros cinco meses de
“preocupados” com algumas no- outras palavras, só não explora ou do estatuto, político, os princí- sobre o leite derramado, quando 2013 testemunharam euforias,
tícias alarmantes, ilustradas com as fraquezas do adversário super- pios parecem inevitavelmente os vemos a nossa nudez ao espelho. mas também pesadelos. Em breve,
músculos e dentes de aço, como poderoso quem não joga para ga- mesmos: É preciso avaliar, mudar É o que se passou com a anedo- entraremos para a segunda meta-
feras selvagens, que agitavam nhar, tal como só não se emenda de ares e reflectir como atingir o ta do individuo que comparou de do ano. É quase meio caminho
aquela linha ténue e longínqua, quem quer perder! Recordei tanto «ponto», com a «Nota 20», e sem o outro a um «Palhaço» vulgar, andado, mas nada está ganho. É
que parece dividir o céu e a mar; David e Golias, como a história da o fatídico número do azar! sem medir repercussões. hora de balanço. Vamos parar até
a paz e a turbulência; a fome e lebre e do cágado! Aos meus amigos, eu disse É precisamente por isso que Julho. Na vida, aprendemos todos
o luxo, ou a ilusão e a verdade, Quando aceitamos, volunta- coisas picantes. Aqui, não! É pode haver declarações que à os dias e a cada instante, a dosear
quando olhamos para o horizonte riamente, ser empurrados pelo evidente que não posso repetir, primeira vista parecem inofensi- as coisas, indo devagar. Apren-
e não sabemos o que vem depois. fanatismos de luxo, embriagado nem há espaço para escrever vas, pelo alto sentido de humor, demos a recuperar forças com as
Disse-lhes, claramente, que não com o canto precoce da «Vitória, «aquilo», mas creio que os leito- ou prazer do momento, mas que pequenas paragens a meio do per-
estava nada preocupado com as ninguém me tira a taça; vitória, res são inteligentes e conseguem podem criar confusão, posterior- curso. Aprendemos com pessoas
declarações alarmantes deste ou já sou campeão!», não vemos os captar a mensagem. Constata- mente, abrindo brechas a falsas simples e anónimas, mas nem por
daquele orador, tipo personagem graves perigos e armadilhas que mos, frequentemente, que len- interpretações, quando amplia- isso ignorantes. Aprendemos que
do filme «Agita-lhe, agora!», fictí- nos espreitam. Há de facto elogios do um livro duas ou três vezes, das pela fome da opinião pública. os grandes tropeçam onde menos
cio, e que tinha uma visão menos que provocam a cegueira e po- descobrimos coisas que nos Principalmente no nosso seio, em esperam. Tudo isso, continuam a
pessimista. E dei-lhes o exemplo dem ser presentes envenenados. escapam à primeira leitura. O que a malícia, a ignorância e a má ser atraentes lições em pedaços,
da equipa fortíssima que escor- Aqui, neste pedaço; alí, no mun- inverso também é verdadeiro. fé têm muita fome e sede de falar para próximas leituras, sem medo
regou ruidosamente, depois de do do desporto; mais longe, na Falando sem pensar, ou lendo mal do outro, vendendo em peda- do futuro. ■
28  Sábado, 01 de Junho de 2013.

Opinião

O professor e a formação contínua destacado educador brasileiro. se disponibilizar mais para o seu mais se debruçou, assinalando falar com autoridade. A começar
Daí que tem dedicado muita aten- aperfeiçoamento; as dificuldades abundantemente a necessidade pelos resultados não esperados da
ção em acções de treinamentos, detectadas nas salas de aulas têm da mudança de mentalidade, por equação entre a deficiente gestão
como instrumento indispensável vindo de dia para dia a diminuir; constituir o elemento impulsio- e os professores sem preparação
para conferir ao professor com- as aprendizagens dos alunos co- nador do desenvolvimento no adequada. Entroncados na ges-
petências e habilidades apropria- nheceram uma significativa me- sector da educação. Para o pa- tão de muitas escolas, as amea-
das ao exercício da sua activida- lhoria. Não é por acaso que, na lestrante, os novos tempos são de ças e oportunidades dificilmente
de. Práticas, aliás, presentes nos cerimónia de abertura deste ano pouco tempo. Quem se disponibi- são analisadas, senão elencadas.
Agostinho S. Neto (*) melhores sistemas educativos do lectivo, Isaac dos Anjos, então go- liza a ensinar, não pode deixar de Quanto mais não seja, nem sem-
mundo, como na Finlândia ou vernador provincial, animado, se aprender. O professor que insistir pre há a preocupação de se im-

A
formação contínua de em Xangai, na China, onde os calhar, pelas informações de que a fazer o que sempre fez, obterá plantar uma gestão ancorada na
professores ocupa nas professores se aprimoram pro- dispunha, particularmente do menos do que sempre obteve. E se cultura de competência, para não
acções da Direcção fissionalmente mediante acções ensino primário, anunciara pu- descurar a busca pelo saber, será dizer que as lideranças quase não
Provincial do Namibe de intercâmbio. Relevo, por isso, blicamente e perante uma plateia previsível em tudo o que fizer. trabalham os princípios e os valo-
da Educação um lugar de desta- o ânimo e a persistência desse composta por centenas de profes- Nalgumas escolas, os resulta- res dos professores. Ora, com este
que: desde há quatro anos, os do- esforço, sabendo-se o quanto é sores, que o seu governo tinha es- dos são os que nos tem parecido tipo de gestão é fácil calcular que
centes, sobretudo os das escolas difícil esta empreitada, por haver colhido a área de educação como uma quase realidade: os professo- os resultados não podem ser os
do ensino primário e secundário ainda entre os professores, aque- bandeira em matéria de projecção res quase ensinam, os alunos qua- desejados pela sociedade.
do 1.º ciclo, têm beneficiado re- les que se acham suficientemente da província. se aprendem e a sociedade quase Do colóquio saiu então a con-
gularmente desta componente competentes, uns por ostentarem Como que embalado no trilho se mostra satisfeita. Se esta rea- vicção de que o desafio de fazer
formativa, com o objectivo de diplomas que os qualificam aca- dos resultados, aproveitando a lidade pode ser entendida como melhor pela educação, a todos os
contribuir para a melhoria do seu demicamente e outros por acu- pausa pedagógica do 1.º trimes- tendo alguma verdade, pelo me- níveis, passa pela existência de
desempenho profissional. mularem largos anos de exercício tre lectivo, na semana passada, o nos para aquilo que é a falta de lideranças visionárias, corajo-
Aliás, diga-se desde já, que, de na actividade de docência. Per- universo académico da província entusiasmo de alguns professores sas, pensadoras e que saibam to-
acordo com os programas curri- cepção esta contrária às exigên- ficou marcado pela realização de pela profissão, parece-me que ela mar decisões. Mais do que isso,
culares das disciplinas de cada cias de Paulo Freire para com este um concorrido colóquio subor- se deve constituir num chama- ficou também a exortação aos
classe, as direcções das escolas tipo de profissionais que se con- dinado ao lema: «O professor do mento à classe, no sentido do es- professores no sentido de incor-
destes subsistemas de ensino estão sideram insubstituíveis. Na sua século XXI e as práticas pedagó- tabelecimento de uma relação de porarem na sua identidade pro-
orientadas a estabelecerem metas obra «Pedagogia da Autonomia», gicas nas salas de aula». A activi- verdadeira produção de saberes fissional o treinamento como
anuais das aprendizagens, parce- ele defende que, para se ser pro- dade, uma promoção da Direcção com os alunos. Onde pretende- garantia para o alcance da ex-
ladas por trimestres lectivos. Por fessor, é necessário, entre outros: Provincial do Namibe da Educa- mos chegar como professores? celência. Para os participantes,
isso, os tempos que se vivem hoje pesquisa, criticidade, assumir ris- ção, comportou três painéis e teve Afinal, porque, entre os milhões, eventos semelhantes devem ser
no Namibe são de enormes exi- cos, aceitar o novo, ser humilde, José Serrano Freire, professor e somos os eleitos? Não é para fa- realizados com mais frequência
gências para os professores. estar convicto de que mudar é escritor brasileiro, como orador. zermos a diferença pela qualidade pelos benefícios que eles pro-
Existem no país diferentes in- possível e ter consciência do ina- Beneficiaram da formação, que do nosso trabalho? duzem, sobretudo quando está
terpretações sobre o estado da cabamento. durou três dias, professores e ges- Foram ainda levantadas muitas em causa a troca de experiência
qualidade do nosso ensino, sendo Ainda assim, em termos prá- tores de instituições de ensino situações e problemas de gestão, com realidades educativas de
umas mais ligadas aos aspectos ticos, algumas mudanças se não universitário. pois o percurso profissional do outras latitudes. ■
das políticas educativas e outras operaram nestes últimos quatro É sobre o comprometimento palestrante, consolidado pelos
focadas no perfil do professor, anos: os professores passaram a profissional do professor que ele anos de experiência, lhe permitia (*) Professor no Namibe
enquanto um dos intervenientes
activos neste processo. A educa-
ção apresenta-se como um sector
fecundo de intensa abordagem
social, algo comprovado pelas
opiniões que se ouvem todos os
dias, pelo que a solução dos seus
problemas está longe da mera
perspectiva de discursos ou re-
clamações. Sou de opinião de que
as insuficiências com que o nosso
sistema de ensino se confronta em
termos de qualidade devem-se,
maioritariamente, à fraca capa-
cidade profissional do professor,
só podendo ser ultrapassadas se
ele, além da necessidade de ter o
domínio aprofundado dos con-
teúdos da sua área de saber, se
aproprie permanentemente de
métodos que o habilitem a ensi-
nar convenientemente.
De resto, em relação à forma-
ção contínua do professor, o pe-
dagogo brasileiro Paulo Freire
aconselha à reflexão crítica sobre
a prática. E resume o seu conse-
lho nas seguintes palavras: «É
pensando criticamente a prática
de hoje ou de ontem que se pode
melhorar a próxima prática».
Parece-me que a Direcção da
Educação do Namibe busca a sua
inspiração nas convicções deste
Sábado, 01 de Junho de 2013.  29
Sociedade

OGR cospe no prato em que comeu

Trabalhadores da Oficina das FAA


descontentes e ameaçados
Cerca de 60 trabalhadores da Oficina Geral de Reparação (OGR) encontram-se insatisfeitos com o salário que recebem e as condições
de trabalho. Vêem-se desprezados por quem os tutela, quando deviam ser valorizados, dado o trabalho que prestaram e têm prestado,
há muitos anos, às Forças Armadas Angolanas, reparando desde viaturas a material bélico.

Romão Brandão A Oficina Geral de Reparações


das FAA está dividida em várias

A
s constantes ameaças secções, dentre elas as áreas de
de despedimento, por mecânica, serralharia, pintura,
reclamarem as condi- mecânica de armamento, fun-
ções salariais e labo- dição, construção civil e frio. A
rais, fez com que os técnicos da maioria dos trabalhadores, cer-
OGR apontassem o nosso jornal ca de 60, está descontente e por,
como que podendo ajudar a solu- temerem o desemprego, evitam
cionar os seus problemas. Traba- qualquer confronto com a direc-
lham, há muito tempo, na referida ção da empresa.
empresa, a maior parte deles há Não têm quem os defenda e
15 ou 20 anos, mas o «cá-salário», já algum dia pensaram em fazer
como preferiram designar, não greve, mas, dadas as ameaças e
chega para fazer absolutamente porque naquele meio não há mui-
nada. ta gente de confiança, a tentativa
Os operários, que, evidente- fracassou. Dizem que têm cora-
mente, preferiram conversar sob gem e, ao mesmo tempo, medo
anonimato, auferem até 20 mil da direcção, de que possa reagir
Kwanzas e já têm reclamado, há mal, caso organizem uma para-
anos, contra essa condição, mas, Quando há reparação aos habilitações literárias, não estão dizendo que a unidade está com lisação ou um abaixo-assinado.
infelizmente, em resposta, muitas equipamentos das outras unida- contra isso nem se opõem aos que problemas de enquadramento Por outro lado, segundo o re-
vezes são ameaçados de expulsão. des no interior do país, os traba- se conseguiram formar, mas que- do pessoal da oficina. «Se tivés- lato dos queixosos, esse grupo
A única resposta dada, que até lhadores têm direito a um subsí- rem que a direcção leve também semos realmente problemas de de trabalhadores é composto de
já se tornou cântico para nós, é: dio de deslocação e estada, mas, em conta o factor tempo e a expe- enquadramento do pessoal, não indivíduos que, se hoje combi-
«quem não quer trabalhar assim, segundo nos contaram, os chefes riência de trabalho. estariam a admitir mais gente nam algo, amanhã mudam de
escreve e arruma as botas», disse privam a maior parte da quantia, «Pedimos que respeitem aqui- (mais de 80 novos trabalhadores) ideias, em função de uma pe-
um dos queixosos, forjando um senão toda. O subsídio vai até lo que sabemos ou aprendemos e a promover apenas alguns», quena corrupção da direcção,
sorriso para disfarçar a triste situ- 15 mil Kwanzas, mas eles sabem a fazer, sem termos passado pela protestam os funcionários. resolvendo denunciar os cole-
ação que vive. que é mais do que isto, sendo escola. Nós reparamos viaturas gas. A necessidade faz com que
Recordam que o problema por dia 10 mil. Estão geralmente de guerra, independentemen- Engenheiros fogem muitos percam a moral.
dos míseros salários e das con- acostumados a não receber nada te de termos ou não o médio e não há sindicato «Já um dia, tentámos fazer
dições de trabalho na OGR já e a fazer «das tripas coração», concluído. Estamos há muito uma reunião, para reivindicar-
vem desde os tempos primórdios mexendo no «ca-salário» (do tempo a fazer isto, então quere- As nossas fontes disseram que mos os nossos direitos no Minis-
e, de direcção em direcção que é quimbundo, que significa peque- mos também receber um salário nem mesmo a guerra fez com tério da Defesa, mas o homem,
empossada, as coisas nunca me- no salário) para aguentar os 4 ou digno. O nosso salário não será que deixassem de trabalhar, ali- que era nosso líder foi chama-
lhoraram. Todos os directores 5 dias de trabalho. igualado ao daquele que estu- ás, nessa altura eram mais neces- do, prometeram-lhe promoção
que ali passaram, segundo o que dou, aliás ele sempre receberá sários do que nos dias de hoje. e cartões de saldo, em troca de
disseram, no princípio dos seus Equiparados entre mais, só queremos que nos pa- Aguentavam os atrasos salariais, informações possíveis sobre os
mandatos, apenas alimentam o estudo e a experiência guem em função do trabalho pois trabalhavam todos em prol «rebeldes» à direcção.
esperanças de que as coisas vão que fazemos», apontam. de um único objectivo (a paz) e O Semanário Angolense con-
melhorar, mas depois mudam de Por outro lado, os técnicos lem- Em 2012, como nos contam, por amor à camisola. Mas hoje, tactou a direcção da Oficina Geral
«música» e deixam os coitados bram que, no princípio do ano o corpo directivo das oficinas depois de tudo o que passaram, de Reparação, neste caso o direc-
mais desmotivados. 2010, o coronel Artur Jorge, en- mostrou-se interessado em, alega- a OGR «cospe no prato em que tor geral, general Artur Jorge, mas
«Esquecem-se de nós, que so- tão director geral da OGR, tinha damente, resolver este problema, comeu». este disse à equipa de reportagem
mos funcionários antigos e pagam prometido que, na primeira quin- tendo pedido, inclusive, aos tra- «Os engenheiros – ‘os que estu- que não estava autorizado a pres-
bons salários (até 120 mil kwan- zena do referido ano, o salário de balhadores que assinassem uma daram’ - não desempenham tra- tar qualquer tipo de declarações à
zas) a um grupo de indivíduos, todos seria reajustado. Já no final ficha com propostas de promoção. balho. Nós tivemos casos de pro- Imprensa.
que foram admitidos recentemen- do ano, convocou uma reunião e Esperavam então que, na primeira fissionais que não conseguiram Entretanto, pediu-nos que en-
te. Somos maltratados e não devia fez o seguinte pronunciamento: quinzena de Março de 2013, fos- ficar muito tempo e acabaram por dereçássemos uma carta, ao Es-
ser assim, já que estamos ali des- «quem está em condições de re- sem promovidos, mas até agora, desistir, devido a este problema tado Maior do Exército, pedindo
de o tempo de guerra, a reparar ceber aumento, é o profissional não se fala mais no assunto. salarial», disseram eles, alegando autorização para entrevista, pelo
armamento e carros militares», que estudou, quem acha que o seu Apenas se constata, na OGR ainda que gostam muito daquilo que fizemos (há já uma semana),
disseram, acrescentando que, di- salário não e digno, escreve uma que, depois de terem preenchido que fazem e vão continuar, apesar mas até NLao momento, não re-
ferentes dos novatos, nunca re- carta e arruma.» as referidas fichas, só os chefes de de tudo, porque prestam um con- cebemos qualquer resposta.
clamam quando são chamados a Os nossos interlocutores acres- secção foram promovidos. A di- tributo muito importante à nação osboneco_equipamentos_mi-
socorrer às outras províncias. centaram que, quanto ao aspecto recção tenta justificar este facto, angolana.0 litares_abandonados (16) ■
30  Sábado, 01 de Junho de 2013.

Sociedade

Devido à inalação excessiva do dióxido de carbono

Praticantes de exercícios físicos


nas ruas correm sérios riscos de saúde
Se o Governo Provincial de Luanda permitir que cidadãos continuem a praticar exercícios físicos em locais de recreação construídos
pela câmara supracitada, estará a caucionar a morte daqueles, por causa da inalação do dióxido de carbono proveniente
dos automóveis, a que eles estão sujeitos. São muitos, que, todos os dias, frequentam várias avenidas,
praticando exercícios físicos para manter em bom estado a sua condição física.

Baldino Miranda

M
anter sadio o esta-
do de saúde é o que
muitos angolanos
têm procurado, em
Angola e além-fronteiras, e, para
efetivar esse desejo, principal-
mente a camada mais jovem, pro-
cura praticar exercícios físicos em
qualquer lugar, sem sequer uma
orientação de um profissional ou
seja, um «personal treiner.»
Em Luanda, as ruas são, lite-
ralmente falando, invadidas por
muitos cidadãos, entre jovens,
adultos e a até mesmo adolescen-
tes, que também procuram obter
um bom porte físico através dessa
prática, que, muitos a fazem por
orientação médica, mas de una
forma geral, por saberem que faz
bem à saúde.
A prática de exercícios físicos
ou fisioculturismo há muito que
se tornou numa moda entre os
jovens e adultos, aliás, quem não
quer parecer bem e pretende de
uma forma positiva chamar aten-
ção das pessoas para o seu porte
físico?
A verdade é que a prática deste
acto é positiva, quando é acom-
panhada de recomendações e
feita em locais apropriados, ao a despertar interesse nos jovens e reduzir o excesso de gordura que devido a má localização do espaço. muito bem à saúde, aliás, perde-
contrário do que se tem consta- adolescentes, talvez pelo facto de possui no organismo. mos muitas calorias e deixamos
tado. Ultimamente, o Governo da o país vir a acolher em Setembro «Apesar da enchente que se Muitos locais impróprios o corpo mais à vontade. Há um
Província de Luanda tem estado próximo, o campeonato do mun- tem verificado neste local, temos problema que enfrentamos sem-
a apostar na construção de locais do da modalidade. São todos os a todo custo praticado os exercí- Realmente, o local não está pre que cá vimos, é a situação do
de recreação um pouco por toda a dias a partir das 18 e 30. cios, sabemos que corremos ris- bem posicionado, se se tiver em dióxido de carbono, que inalamos
cidade capital. O Semanário Angolense ouviu cos de atropelamento, devido a conta as técnicas de urbanização, todos os dias. O espaço não está
Por exemplo nas áreas que naquele mesmo local muitos dos que muitos automobilistas que o espaço peca quanto à sua locali- bem localizado, entre duas faixas
compreendem o antigo controlo praticantes de exercícios físicos, não respeitam o código de estra- zação, encontrando-se entre duas de rodagem sob pena de arriscar-
na Samba, há um espaço entre que todos os dias atravessam de da, chegando a conduzir mesmo faixas de rodagem principais, mos sempre a vida», concordou.
as duas faixas de rodagem, de forma perigosa a avenida prin- embriagados, colocando deste onde a circulação automóvel é O nosso interlocutor afirmou
aproximadamente 250 metros de cipal da Samba, arriscando de modo em risco a vida de muitos uma constante. que o governo da província peca
comprimento e 100 de largura. qualquer forma a vida, devido ao transeuntes», deplorou. Adalberto Cavimbi, morador no que concerne à edificação de
Locais entre faixas de rodagens excesso de velocidade dos auto- Informou que a pratica exercí- da Samba, há 10 anos, é também locais de recreação, pois esses
É essencialmente um local mobilistas imprudentes. cios nesse local desde 2011 e, de praticante no mesmo sítio já há tinham de ser feitos em lugares
frequentado em qualquer época Adão da Costa, morador do lá para cá, o recinto tem estado a três anos e confessa que tais exer- verdes ou seja, em espaços apro-
por muitos cidadãos e onde, em Morro da Luz, tem praticado registar um grande crescimento cícios naquele recinto têm estado priados, onde não haja dióxido
particular, as crianças gostam de constantemente exercícios físi- de frequentadores. Disse haver um a dar resultados positivos à sua de carbono, onde o ar puro seja
estar, devido a que o local propí- cos no antigo controlo, apesar de problema entre os praticantes, pois saúde. o elemento fundamental e indis-
cio para a patinagem, uma moda- chegar sempre tarde no local, fa- estão sujeitos à inalação de dióxi- «Correr e praticar outro tipo pensável.
lidade desportiva, que tem vindo zendo alguma coisa no sentido de do de carbono sempre que lá vão, de exercícios é fundamental e faz «Há regras do urbanismo que
Sábado, 01 de Junho de 2013. 31
Sociedade
não foram cumpridas na execu- alunos aqui e quando aparece um
ção desses projectos, dá para per- número considerável, começamos
ceber, que, na feitura desses es- com as atividades. Tenho estado a
paços, não houve antes um plano trabalhar com mais de 30 pessoas
urbanístico, fundamentalmente, interessadas em manter o corpo
no que diz respeito às técnicas», estável», deu a conhecer.
explicou. Fazendo um enquadramento
possível do ponto de vista do Di-
Na Avenida Deolinda reito do Urbanismo, este ramo do
Rodrigues não é diferente Direito público reprova a edifica-
ção de espaços de recreação entre
O SA, como referimos acima, as faixas de rodagem Vale lembrar
deslocou-se um pouco por vários que este ramo do Direito é defini-
locais de recreação desde a via do como o que trata da ocupação,
direita da Samba, passando pela uso e transformação do solo, en-
rotunda da Corimba, ao Golfe 2, globando mais do que o território
terminando na Avenida Deolinda das cidades, o território urbano
Rodrigues. propriamente dito.
Esta última é, para além da Relativamente ao tema em
Marginal, a nova Marginal, um voga, as técnicas do Direito urba-
dos locais mais frequentados pe- nístico recomendam que os luga-
los luandenses. O espaço de recre- res de recreação devem estar edi-
ação desta Avenida está também ficados justamente em zonas com
justamente entre duas faixas de uma certa distância da circulação
rodagem, igual situação que o es- dos automóveis, com o propósito
paço do Antigo Controlo. mesmo de se evitar o risco de saú-
O local que compreende a praça lação de dióxido de carbono. GPL furta-se corremos todos os dias, desde a de na vida dos cidadãos.
da independência, concretamente «Acho que há aqui alguma travessia, que se faz de forma tão Com o objectivo de nos in-
da estátua do primeiro presidente, coisa que não corre bem, talvez Manuel Damas, que também péssima, os semáforos nem sem- teirarmos junto do Governo da
António Agostinho Neto, até ao seja pelo facto de o governo da é frequentador da Avenida, dá o pre funcionam e aí os automobi- Província de Luanda, da cons-
supermercado Jumbo, tem aco- província ter errado, ao colocar mesmo conselho ao governo da listas fazem o que todos já sabe- trução desses espaços em lugares
lhido todos os dias pessoas proce- esses lugares, tão importantes na província, uma vez que é a vida mos. Imprudência», recordou. inapropriados, a nossa equipa de
dentes de várias áreas da cidade. vida para os cidadãos, em sítios das pessoas que está em risco, Maximiliano, professor, fre- reportagem procurou contac-
Adawas, morador do bairro da erradíssimos. Por ser uma situa- embora os efeitos do excesso de quenta o local há 6 anos. De acor- tar o organismo acima referido,
Polícia, é de opinião que, um local ção tão pertinente, acredito que o inalação do dióxido de carbono do com o professor de educação na segunda-feira, 27, pelo que
para a prática de fisioculturismo, governo da província precisa ver não sejam imediatos, mas são pe- física, o lugar foi feito para ser aguardámos por uma resposta
não devia estar ao ar livre, prin- isto urgentemente, pois trata-se rigosíssimos. usado e, têm estado a beneficiar das secretarias que atenderam o
cipalmente onde haja uma circu- de a nossa saúde estar em perigo», «A única vantagem que temos dele ao máximo. «Treinamos aqui jornalista, quando foi inviabili-
lação constante de automóveis, aconselhou. é apenas de praticarmos exercí- todos os dias, aproveitamos tudo zado, sob o pretexto de que nin-
para evitar o contraste entre o cios, esses é que nos fazem estar- de bom que o espaço tem e chego guém estava na área técnica para
esforço que se empreende e a ina- mos aqui sempre. Há perigos que sempre mais cedo, espero os meus ■
recebê-lo.

Saúde
Congresso dos Farmacêuticos
permite interacção
de conhecimentos
Governo de Luanda reforça programa
O
presidente do Con- clui sessões dedicadas à produção
selho de Adminis- e ao circuito de medicamentos, à

de combate à dengue e à malária tração da Associação


de Farmacêuticos
dos Países de Língua Portugue-
regulamentação do sector farma-
cêutico, à intervenção dos profis-
sionais nos sistemas de saúde e à
sa (AFPLP), Daniel António, formação pré e pós graduada.

O
Governo Provincial de Luanda vai pulverização que vão trabalhar aos finais das afirmou quinta-feira, 30, em Entre os temas em foco, desta-
reforçar o combate à dengue e à tardes para o combate aos mosquitos adultos. Luanda, que a realização do X ca-se a sessão sobre «produção de
malária, com a fumigação e pulve- A pulverização incidirá em áreas com char- Congresso Mundial dos Farma- medicamentos como potenciador
rização, durante três meses conse- cos de água ou seja, de maior concentração de cêuticos constitui uma oportu- de desenvolvimento local,»
cutivos, em todos os municípios e distritos da mosquitos, enquanto a fumigação nas residên- nidade ímpar de aproximação Em simultâneo, decorre a
capital angolana, anunciou a directora provin- cias. Para o efeito, vão ser utilizadas viaturas da comunidade farmacêutica Expo Farma Angola-2013, com
cial da Saúde de Luanda, Rosa Bessa. e motorizadas com condutores equipados com lusófona, pois permite conviver, o objectivo de conhecer e intera-
Acrescentou que o Governo pretende, em pulverizadores portáteis, permitindo uma me- interagir e partilhar conheci- gir face-a-face com centenas de
parceria com a cooperação cubana, na luta lhor penetração nos bairros. mentos. farmacêuticos, médicos e outros
anti larval, diminuir a população de mosqui- Os produtos que serão utilizados são bio- Ao intervir no acto de abertura profissionais, identificando ainda
tos transmissores da malária e a dengue. larvicidas, visando a redução do impacto de do evento, disse que a actividade novos clientes.
Sob orientação do governador provincial químicos no ambiente, como o bactivec e gris- promove o exercício da profissão, Visa ainda promover a ima-
de Luanda, Bento Bento, a abertura da campa- lesfsão, usados para o tratamento de criadores reafirmando o compromisso éti- gem da marca e apresentar os
nha decorreu na sexta-feira, 31, às 16 horas, no domiciliares e extra domiciliares. co-deontológico e humano. seus produtos rigorosamente jun-
Marco Histórico 4 de Fevereiro, no município Rosa Bessa apela às famílias que abram as Referiu que reforça o papel da to ao público-alvo, num ambiente
do Cazenga. realizando-se acto similar em si- portas e janelas para beneficiarem da fumi- associação na construção de uma profissional.
multâneo na Maianga. gação domiciliar, pois o insecticida utilizado verdadeira comunidade de far- Estão presentes representan-
Apesar dos trabalhos desenvolvidos pela não prejudica a saúde humana. O combate aos macêuticos de língua portuguesa, tes da Organização Mundial da
equipa técnica cubana de luta anti-vectorial, vectores é uma das medidas preventivas mais mais solidária e fraterna, prepa- Saúde (OMS), do Ministério da
a colaborar em Luanda desde Janeiro de 2009 eficazes no combate às doenças transmitidas rada para enfrentar os novos de- Saúde, instituições dos sectores
e cujo trabalho é realizado principalmente de por eles e uma das doenças transmitida ao ho- safios da profissão. da saúde e dos medicamentos de
dia, o Governo Provincial de Luanda pretende mem pela picada de um mosquito infectado é O programa do congresso in- todos os países lusófonos.■
reforçar essas actividades com as equipas de a malária. ■
32  Sábado, 01 de Junho de 2013.

Crónica

O «mwangolê way of life»


A
s pessoas pensam que tinto, de variadas marcas e prove- nenhuma de nós não produzir- Mais do que três telemóveis nas nha a recolher o lixo que ele pro-
é fácil viver nos Hi- niências, para os homens barbu- mos comida e bebida suficientes mãos e um «tablet» pendurado ao duziu, mas não cuidou. É moda
malaias ou no sopé dos, o dobro de caixas de cevada, para nos abastecermos, apenas ombro. Bem, é só um desabafo. «mwangolê» andar com cães de
do monte Kilimanjaro para a camada mais jovem, 10 nos contentamos em sustentar Nada tenho contra quem, com o raça altamente perigosa sem açai-
ou, melhor, na Groenlândia. Já garrafas de vinho branco e igual um insustentável «standard» de seu esforço, tenha obtido rendi- me e às vezes soltá-los para es-
vi pessoas a jactarem-se, na TV, número das de «laço vermelho», vida. Todo um país com sede de mentos de forma honesta, para trangularem cachorros farruscos.
de levarem uma vida paradisíaca para as damas, e um uma caixa vinho português está a abaste- sustentar a sua vaidade. Outra Portanto, as nossas ambições de
em lugares cavernosos, onde até de «xarope» para neutralizar as cer os cofres portugueses de di- mania do «mwangolê» é empatur- vida estão bem localizadas e não
uma jiboia perderia a vontade de crianças. Esse ritual repete-se ao nheiro e, com isso, a sustentar rar-se de telenovelas, brasileiras e custam nada ao erário público,
viver, num instante. Lugares tre- longo dos quatro fins-de-semana um governo que não liga patavi- mexicanas. Enquanto isso, para senão os hospitais, para onde se
mendamente assustadores e que do mês e depois cada um que na aos próprios portugueses. outros, o futebol é a escapatória. vai parar depois de um «palú» do
nem seriam convidativos para um aguente a «cossa» na segunda- O meu vizinho disse-me: isso Há quem pense em empregar o caraças.
morcego viver. Onde nem sequer -feira. E que saiba esconder bem é lá «maka deles». Eles produzem seu tempo com outras coisas, mas A cabeça do «mwangolê» é
faz sentido uma visita, ainda que o «kibuzo» do seu chefe. A nossa e exportam para nós «uiuarmos» não consegue. Porque, o «mwan- preenchida por utilidades como
fosse com objectivos científicos. filosofia de vida é assim. e nós pagamos para eles produ- golê way of life» tem um âmbito ir à praia com enormes caixas de
Levando-se em conta que o Mun- Portanto, não é culpado o zirem mais, acrescentou, sarcás- reduzidíssimo de atractivos. «birras» e miúdas de «tchuna». Se
do está virado ao avesso, ou que as exportador português por essa tico, dizendo que acha que essa De modos que resta comprar não há internet em casa para es-
coisas devem ser vistas pelos dois nossa maneira, desinteressada e relação é justa.«Absolutamente uma moto, serrar o cano e passar tudar ou simplesmente navegar
lados da moeda, assinala-se de folgada, de estar na vida. Nessa justa, meu caro cronista!», con- a fazer barulho, toda a noite e ma- para obter conhecimentos, não há
bom grado a vida que nós, mwan- relação, um país está a leste do cluiu. drugada, divertindo-se em acabar «maka». Não pode é faltar novelas
golês, levamos e que nos tem feito que se passa no Mundo e outro Entretanto, fora isso, o «mwan- com o sono e a tranquilidade dos e filmes, sobretudo os chamados
pensar que vivemos bem de ver- está focado na sua sobrevivên- golê way of life» contempla aquela outros. Há também outras varia- «de acção», com muito sangue a
dade. E que levamos uma vida… cia. Porque, quem está «atoa- nossa maneira de ser generosa- das formas de acabar com o sos- «expirar» nas paredes dos casinos
porreira! mente» na vida somos nós com mente exagerados em tudo. Na sego dos demais: atirar o lixo na e das mansões onde são rodados.
Mas não sabemos ao certo que o nosso estrondoso «mwangolê maneira de vestir e ornamentar porta do vizinho, por exemplo. Um panorama destes é mesmo
espécie de boa vida é esta que way of life» e não o exportador o corpo com enormes correntes Deve dar um gozo imenso ao vi- inspirador para um cronista. Mas
levamos. Se tivermos em consi- português, que não tem culpa de ouro ao pescoço e nos braços. garista observar de longe a vizi- hoje estou sem pachorra! ■
deração o «mwagolê way of life»,
chegaremos à conclusão de que,
no geral, nos sentimos ou pelo
menos fingimos que estamos sa-
tisfeitos com a vida que levamos.
Muitas vezes, esse «mwango-
lê way of life» resume-se a uma
sentada bem regada: vinhos de
insuspeitáveis marcas portugue-
sas, chilenas e sul-africanas. No
caso português, um balanço fei-
to por um produtor tuga aponta
para um incremento das expor-
tações, deles para nós, de não sei
mais quantos metros cúbicos de
uva fermentada engarrafada, para
ajudarem os «mwangolês» a «tor-
rar» para esquecerem as «malam-
bas» da vida.
É um belíssimo caso, nas re-
lações internacionais, em que a
balança comercial entre dois pa-
íses é imensamente favorável ao
parceiro que exporta «bebedeira»
para o outro. Coisas dessas, mais
parecidas com um conto de… ca-
verna!
O «mwangolê» contenta-se em
viver à sua maneira. Não interessa
se isso conta ou não para a medi-
ção dos índices humanos de de-
senvolvimento. Um almoço, para
«cuiar», só precisa ser regado com
os respectivos acompanhantes:
uma vintena de garrafas de vinho
Sábado, 01 de Junho de 2013.  33
Crónica

Estranho mundo louco


U
m concurso de Miss
Freira em Itália, a pri-
meira estátua de Bob
Marley na Europa, eri-
gida numa pequena aldeia da Sér-
via perdida entre penhascos, um
milhar de pessoas na Malásia em
abstinência alimentar voluntária
durante trinta horas, uma menina
de oito primaveras na Arábia Sau-
dita feita noiva compulsiva de um
homem com mais de cinquenta
anos de idade e uma mulher se-
xagenária no Japão a servir de
«barriga de aluguer» a uma filha
estéril são situações susceptíveis
de reflexão. É fácil chamar a isso
loucura e pensar em coisas mais
divertidas, mas tudo isso não é
para encarar de ânimo leve, por-
que se tratam de fenómenos que
podem vir a ter efeitos de bola de
neve.
Que estranho mundo! Afinal,
se algumas destas iniciativas en-
volvem na sua génese atitudes de
solidariedade social e de ajuda ao
próximo, outras reflectem mal-
dade humana. Há nelas humor, uma estátua de dois metros de muito, a ideia pode estar a resul- mento humano, há um exemplo vel internacional, que não possua
drama ou espectáculo e trazem altura, representando o ícone do tar. digno de registo em Portugal. A bruxos avençados para benzer es-
subjacente um mostruário de reggae jamaicano de guitarra na Estes foram gestos presididos povoação alentejana de Vale do tádios e jogadores, especialmente
procedimentos de vários matizes: mão, penteado com trancinhas por boas e generosas intenções, Poço está construída sobre a li- em vésperas de grandes derbies.
a grande generosidade em con- e boina rasta, foi há tempos eri- independentemente dos resulta- nha de divisão administrativas E, afinal, a bola continua a ser
traste com aleivosias inaceitáveis gido em Banatski Sokolac, uma dos. Mas o mundo assiste diaria- dos concelhos de Serpa e Mérto- redonda. Os resultados do êxito
neste actual e admirável mundo pequena aldeia da Sérvia, habita- mente a proezas de outra natu- la, mas tanto a população como dependem de múltiplos factores
moderno da globalização. da por apenas 300 pessoas. Para reza menos solidária, por vezes as duas autarquias até transfor- conjugados, desde as capacidades
Senão, vejamos: para obter fun- além da homenagem ao músico, até de grande maldade e contra maram essa circunstância em pessoais dos atletas, às competên-
dos para obras de caridade, um a iniciativa visa atrair turistas que os direitos humanos, já sem falar benefício comum: em matéria de cias de treinadores, preparadores
padre católico italiano lançou um contribuam para melhorar as re- em guerras, crime e discrimina- obras públicas, apesar de serem físicos e dirigentes desportivos.
concurso na Internet para eleger a ceitas do comércio local. Mas não ção social. presididas por autarcas de par- Benzer os estádios com feitiços
freira mais bonita de Itália, no in- é de crer que o objectivo seja ple- Veja-se o caso de uma menina tidos diferentes, uma fornece os fortes parece-lhes indispensável:
tuito de acabar com a ideia de que namente atingido, se à margem de oito anos na Arábia Saudita, materiais de construção e a outra de outra forma alguns jogadores
as freiras são menos atraentes. da estátua não houver oferta de casada à revelia pelo pai com um a mão-de-obra. psicologicamente mais vulnerá-
Miss Freira é o nome do concurso derivados afins, nomeadamen- homem de mais de meio século Há habitantes que ao entrarem veis, não rendem em campo e de
de beleza idealizado pelo teólogo te de artesanato e «agricultura» de idade, um tipo frequente de em casa pela porta da frente es- nada lhes serve, dizem os pró-
Antonio Rungi. As candidatas proibidos pela lei. Ir tão longe e transacção na península arábica tão em Serpa e ao saírem pelas prios, as capacidades que justifi-
não têm de desfilar numa tribu- não fumar um xanguto com a ao abrigo da doutrina ultracon- traseiras chegam a Mértola. O cam contratações financeiramen-
na, basta enviar uma fotografia a divindade? Não faria qualquer servadora islâmica do «wahhbi», pároco da igreja local, construí- te milionárias. E, sobretudo, os
publicar num site da Internet. O sentido. que considera legítimo este tipo da exactamente sobre a linha de grandes clubes da Europa optam
certame é só para religiosas dos Também por boas causas, de pacto nupcial. Valeu-lhe a de- divisão, vive o mesmo proble- por bruxos africanos, considera-
18 aos 40 anos, com «fotos bonitas um milhar de pessoas em Kuala terminação da mãe, que levou o ma: oficia a missa no púlpito em dos milagrosos na criação de cor-
e expressivas, que mostrem a be- Lumpur faz habitualmente absti- caso a tribunal, e de organiza- Mértola para os fiéis que estão ali rentes de energia obscurantistas,
leza tanto no plano estético como nência alimentar durante trinta ções de direitos humanos saudi- mesmo à sua frente, mas igual- que se desfazem como baralhos
espiritual», ficando a escolha da horas, sem serem muçulmanas. tas que fizeram campanha a seu mente para os fiéis de Serpa. de cartas em grandes derrotas
vencedora a cargo dos internau- As poupanças com comida des- favor. Estes são apenas alguns casos desportivas inesperadas.
tas. O padre espertalhão é bom de tinam-se a ajudar as vítimas de Na área da generosidade há reais que fui recolhendo de notí- Não há volta a dar: a globaliza-
negócios! Pelo menos, os lucros catástrofes naturais na Ásia. A também o caso recente de uma cias publicadas na imprensa, mas ção é uma maçã com minhocas
da publicidade vão para obras de ideia surgiu e prosperou, inspira- mulher de 61 anos que se tornou não mais que uma gota de água por dentro, embora, felizmente,
caridade. Trata-se do lado útil e da pelo sismo de Sichuan (China) a japonesa mais idosa a dar à luz, no oceano, se pensarmos em es- a maioria da polpa não seja des-
aceitável da iniciativa sócio-reli- e do ciclone Nargis que arrasou ao servir de «barriga de aluguer» túpidos actos e práticas de cariz baratada pelo apetite voraz dos
giosa. a Birmânia, ambos ocorridos há para a sua filha estéril, remeten- religioso, social e até financeiro. bichinhos comensais. Mas que
O primeiro monumento à me- uma década. Se os aderentes do do-se à rara situação de mãe-avó. Diz-se não haver quase nenhum este mundo tem muito de surpre-
mória de Bob Marley na Europa, sacrifício forem gente de comer Em matéria de bom entendi- clube de futebol, sobretudo a ní- endente, lá isso tem!■
34  Sábado, 01 de Junho de 2013.

Crónica

Nga Manda, a zungueira


A
última vez que me des- Depois, rompendo o silêncio, pausa, continuou:
loquei a Luanda foi em continuou: – Não sei como é que o meu pai
1991. Portanto, como - Eu estava a estudar a 9.ª classe. soube do que havia acontecido co-
diria o consagrado Tinha dezassete anos, vivia bem. migo! Ficou furioso e quis esbofe-
escritor Eça de Queiroz, grande Meu pai tinha os seus negócios e tear-me! Mas a minha mãe inter-
estilista na forma e no conteúdo, auferia bons rendimentos. O meu veio rapidamente e ele refreou os
estou desterrado na sanzala da objectivo era fazer, mais tarde, seus ímpetos! Depois expulsou-
Póvoa de Santo Adrião, concelho um curso de medicina. Mas, se -me de casa!
de Odivelas, há uma grossura de não fosse um episódio triste da Muito mais tarde, apareceu o
anos. minha vida, hoje, estaria frequen- homem com quem vivo. É me-
Deste modo, por vezes, no si- tando esse curso. cânico de automóveis. É meigo,
lêncio longo desta minha sanzala, Madalena silenciou de novo. carinhoso. Gosta muito de mim.
sinto saudades da minha Luanda, Suspirou profundamente. Via- se E eu, correspondendo o seu bem
que está a progredir. Que se está no seu semblante que estava tris- querer, aprendi a gostar dele. É o
a transformar, em passadas certas te. E as lágrimas rolaram. pai dos meus filhos: O Abraão e a
e compridas, rumo ao progresso. - Não chores! Por que choras? Rita. Não tem sorte na vida. Não
Sinto saudades da minha Luanda! - Choro. Choro de revolta. tem emprego certo. De quando
Encontra-se entre nós o meu Choro, porque sem querer, estra- em quando, aparece uns biscates.
neto e querido amigo Patrick guei a minha vida que já estava Eu tinha que sobreviver! Queria
Cunha, Mestre em Relações In- bem encaminhada. Apareceu um arranjar um bom emprego! Mas
ternacionais, a fim de se matri- rapaz bonito que também estava por falta das habilitações exigi-
cular na Universidade Lusíada a estudar. Apaixonei-me. Ele gos- das, fiz-me zungueira! Vendo de
de Lisboa, para fazer o Douto- tava de mim. Eu também gosta- tudo e com lucros consideráveis!
ramento. va dele. Traçamos planos para o Tenho bastante dinheiro deposi-
Trocamos impressões sobre futuro. Ele queria fazer o curso tado no banco.
Luanda. Referiu aspectos que eu de engenharia. Eu, o de medici- - E quais são os teu planos para
desconheçia, as diversas trans- na. Casaríamos, após concluídos o futuro?
formações que a cidade sofreu os nossos cursos. Mas, no entu- - O meu plano já está traça-
e, sobretudo, a vivência das suas siasmo do nosso namoro, com a do. Mudar de vida… A zunga dá
gentes. Traçou uma longa pa- inexperiência própria da idade, muito dinheiro, mas é cansativa...
norâmica das zungueiras, essas entreguei-me totalmente e ele. Vou arranjar um pequeno restau-
mulheres anónimas que pululam Resultado: ao roubar-me a vir- rante.
pela cidade, com o seu alguidar gindade, tudo se dissipou. Por Como continuo a estudar de
equilibrado sobre a cabeça, ven- parte dele, o afecto, a dedicação, noite, quero concluir a 12.ª clas-
dendo os mais diversos produtos. direita. inquiriu o que havia acontecido. as juras de amor que sempre fez, se para ingressar na faculdade
Mas, o que mais me fascinou Caminha serenamente, sob Ela, ofegante e nervosa, narrou arrefeceram como por encanto. E de medicina. Quero ser médica!
foi o relato que o Patrick fez so- a inclemência dos raios solares, que, por um pouco, ela e as suas desapareceu. Nunca mais o vi. Deus há-de me ajudar. Quando
bre a zungueira Nga Manda. É vendendo o seu negócio. De vez crianças seriam atropeladas. «Va- Madalena voltou a silenciar. concluir o curso, já os meus fi-
um postal típico e rico de beleza. em quando para. Abriga-se na mos ali debaixo daquela árvore Deixou escapar um suspiro. O lhos, o Abraão e a Rita, estarão a
O meu inesquecível amigo e com- sombra de uma árvore. Numa e tenha calma. Já passou. Agora, seu rosto adquiriu uma expres- estudar. Quero que o Abraão seja
padre, o sempre lembrado Jorge sacola que levava a tiracolo, tira descansa», disse para ela. são séria. Depois, já risonho, o engenheiro e a Rita locutora de
Macedo, esqueceu-se de escrever uma garrafa de água e dá ao filho, Tirou a criança das costas e co- seu pensamento estava distante, rádio e televisão.
uma «Ode» às mulheres zunguei- que já se queixara de sede, a be- locou-a ao colo. Retirou da sacola mergulhado no passado. E ria-se. O Dr. Patrick ficou sensibili-
ras, que emprestam à cidade um ber. Desamarra o outro filho das uma sanduíche e deu ao filho. Ria-se de contentamento. zado com a história da Madale-
colorido invulgar. costas, da sacola retira uma gar- – Mamã, falta a gasosa. E o Dr. Patrick, querendo des- na. Retirando duas notas de mil
O conceituado e talentoso cine- rafinha de leite condensado e dá à E narrou ao Dr. Patrick Cunha, vendar o mistério, indagou com kuanzas, disse:
asta Zezé Gamboa, se explorasse criança a beber. atento e curioso tristes episódios curiosidade: – Uma é para o Abraão, o fu-
esse inédito tema, produziria um Depois, retoma a marcha. Um da sua vida. – Há bocado estavas séria, dis- turo engenheiro e a outra é para a
documentário digno de figurar candongueiro, numa curva mal - Esta minha vida é de muito tante da realidade, e agora estás Rita, a futura colega do meu pai.
em qualquer concurso interna- feita, por um pouco que a atrope- sacrifício. Estás admirado: tão risonha como recordando algo Tens aqui o meu endereço. Quan-
cional de cinema. lava, embatendo a viatura numa nova como sou e a levar a vida de que se passou contigo... do precisares de alguma coisa,
Ela chama-se Madalena. Na in- árvores. Ela, num brado de revol- zungueira! Nem todas têm a mes- – Estava a recordar-me do meu não hesites! Faço-o, sem qualquer
timidade, as amigas e familiares ta, grita: ma sorte. O trabalho, por mais antigo namorado. Dos momentos interesse. Não queres que te leve
tratam-na por Nga Manda. - Xê, seu sacana! Estás bêbado? reles que seja, é uma honra. Não alegres que passámos juntos. Dos a casa?
E lá ia a Nga Manda, a zunguei- É assim que se anda com o carro? vendo o meu corpo para sobrevi- beijos que nós trocávamos. Eu Ela disse que não. Iria a pé. A
ra, com um alguidar de ananases Pousa o alguidar no chão e, fu- ver. Não podia arranjar trabalho gostava muito dele. E, apesar do sua casa era ali perto. Quando o
equilibrado sobre a cabeça. É alta, riosa, dirige-se ao motorista, com melhor, porque não tenho habili- que aconteceu... Dr. Patrick se dirigia para a sua
bonita e atraente, com um bron- a intenção de esbofeteá-lo. Mas tações. – Ainda gostas dele – acres- viatura, o Abraão levantou o bra-
zeado de se lhe tirar o chapéu. um guarda do trânsito interveio Madalena silenciou. Contem- centou o Dr. Patrick, cortando a ço num adeus de despedida. A
Trajava uma espécie de túnica e rapidamente e acalmou-a. plou os carros que circulavam em pausa. Rita despertou do seu sono e sor-
calçava umas sandálias. Levava O Dr. Patrick Cunha, que sur- buzinadelas ensurdecedoras. Os Confirmou com um movimen- riu.■
uma criança nas costas e um filho giu duma esquina, estacionou a miúdos, descalços e sujos, ponta- to de cabeça.
de quarto anos seguro pela mão sua viatura e, dirigindo-se-lhe, peavam uma bola feita de trapos. Madalena, após uma breve Póvoa de Santo Adrião, Lisboa
36  Sábado, 01 de Junho de 2013.

Economia

Para desenvolver produção nacional

Angola parte para o proteccionismo


A acção não é assumida pelo governo angolano como protecionista, mas de facto, não deixa de ser. O Estado vai proteger a indústria
e os empresários nacionais durante algum tempo. A protecção será até que as empresas cheguem a um patamar a partir do qual pos-
sam competir de igual para igual com outras organizações empresariais de referência internacional.

N. Talapaxi S. O caso de Angola

T
oda a política económi- Ao final da «1ª Conferência In-
ca protecionista é como ternacional sobre a Tributação do
se fosse uma encruzilha- Ciclo Anual de 2013, Eficácia dos
da: de um lado enquan- Estímulos ao Desenvolvimento
to são agravadas as medidas tri- Económico e a Problemática das
butárias que dificultam a entrada Isenções das Fiscais”, realizada
no mercado interno de produtos nos dias 15 e 16 de Maio, em Lu-
produzidos lá fora, por outro lado anda, uma coisa ficou patente en-
haverá sempre uma produção na- tre os especialistas: a necessidade
cional que, na sua internacionali- de tomar medidas que protejam a
zação, precisa disputar em outros produção nacional enquanto em-
mercados lá fora. Encontrar o brionária, até atingir certo cres-
ponto de equilíbrio dessa «corda cimento que permita competir
bamba» é um desafio dos econo- de igual para igual no mercado
mistas. interno e externo.
Embora, de um modo geral, os Desse modo, o país pende-
Estados e as organizações inter- -se declaradamente a favor de
nacionais condenem a prática de medidas protecionistas com ar-
políticas protecionistas, a verdade gumentos que, a priori, se mos-
é que todos, sem excepção, fazem tram convincentes. Assim, como
uso delas. E nos últimos tempos, mostra-se que o apelo e a pressão
com as crises económicas que vêm ano, a directora-geral do Fundo deterioração das condições eco- ta por causa do aumento do pro- do empresariado nacional que já
acontecendo, a tendência das na- Monetário Internacional (FMI), nómicas globais. Ela baseava-se teccionismo. Christine Lagarde produz o suficiente para abastecer
ções quanto ao uso dessas práticas Christine Lagarde considerou se- no último relatório da OMC [Or- chamou ainda a atenção para o o mercado interno foram ouvidos.
aumentou consideravelmente. rem «alarmantes» os sinais de um ganização Mundial do Comércio] facto de «nenhum país ser imu- Os especialistas de vários Mi-
Não é por menos que há um no proteccionismo crescente face à que se mostrava bastante alarmis- ne» aos efeitos do proteccionismo. nistérios e associações profissio-
nais, reunidos na Conferência

Concorrência obriga-nos ser cada vez melhores


sobre a revisão da Pauta Adu-
aneira, procuraram consenso
para a cobrança de taxas maiores
sobre a importação de produtos
Angola não tem que proibir qualquer tipo de bebida proveniente de qualquer ponto do mundo, as- como cimento, mármore, grani-
sim como ninguém deve proibir os produtos que saem de Angola para qualquer parte do mundo. to, carnes, hortícolas e bebidas.
Todos eles já produzidos em

P
ara o Director de Marketing Ope- Refriango diante da concorrência fundamen- alusão a uma livre concorrência, «o mercado quantidade suficiente no país.
racional da Refriango, Eurico Feli- ta que «uma das grandes vantagens da globa- vai se fazer naturalmente por si próprio». O Serviço Nacional das Alfân-
ciano, no que diz respeito a concor- lização e dos mercados livres é isso: Angola Philippe Frederic considerou que a tendên- degas (SNA), a Associação Indus-
rência de produtos importados e a não tem que proibir qualquer tipo de bebida cia, no sector em que actua, é as importações trial Angolana (AIA), o Ministé-
possível adopção de medidas protecionistas proveniente de qualquer ponto do mundo, as- «diminuírem gradualmente», com as empre- rio da Agricultura e o Ministério
«acima de tudo devem ser tomadas as medi- sim como ninguém deve proibir os produtos sas que hoje exportam para Angola a pensa- das Finanças concordaram que
das justas para não prejudicar ninguém». que saem de Angola para qualquer parte do rem amanhã em instalar-se no país. as taxas sobre a importação de
Entretanto, o responsável é de opinião que mundo». O gestor garantiu que não tem nada contra materiais de construção e de pro-
deve «haver alguma forma de proteger e dar Para o Director Geral (DG) do grupo Cas- as importações, mas acha que um país como dutos agro-pecuários precisam
condições para que as empresas, em Angola, tel, o francês Philippe Frederic, em declaração Angola, com os investimentos que foram fei- sofrer um aumento.
possam competir de igual para igual com as prestada ao Semanário Angolense, aquando do tos e com os que vão ser feito no futuro, deve As taxas seriam adoptadas
marcas que são importadas». lançamento da Cuca Mini, recentemente, «não chegar ao ponto em que se reduzam um pouco por um tempo ainda não deter-
Eurico Feliciano recorda que as marcas im- é necessário haver medidas protecionistas nem as importações para que se criem mais empre- minado que dependeria, prova-
portadas não têm cá qualquer tipo de investi- quotas» no mercado. Na sua opinião, fazendo sas e mais empregos. ■ velmente, do desempenho das
mento, quer dizer que não estão a zelar pelo empresas. De acordo com o eco-
desenvolvimento da economia do país. «Isso nomista Manuel Nunes Júnior, o
logicamente são argumentos mais do que sufi- Estado vai proteger a indústria e
cientes para que exista alguma protecção; logi- os empresários nacionais duran-
camente dentro de determinados parâmetros te algum tempo, para que pos-
para que toda gente possa conviver de forma sam competir com as empresas
igual num mercado livre», defendeu. de referência internacional.
«A concorrência só nos obriga ser cada vez Para esse especialista, a pro-
melhores». Arrematou. tecção é necessária, porque An-
Falando especificamente do sector em que gola está a iniciar um processo
actua o Director de Marketing Operacional da de desenvolvimento historica-
mente atrasado em relação a ou-
 37
Sábado, 01 de Junho de 2013.

Economia
tros países que estão desenvolvi-
dos e altamente desenvolvidos. Industrialização
«A protecção será até que as em-
presas cheguem a um patamar a

Aproxima-se o relançamento
partir do qual possam competir
de igual com outras organizações
empresariais de referência inter-
nacional», argumentou.
Manuel Nunes Júnior, que é
presidente da 5ª Comissão de

da indústria têxtil
Economia e Finanças da Assem-
bleia Nacional, ao defender a ne-
cessidade de um período durante
o qual deverá existir protecção às
empresas nacionais, expões que o
Estado angolano tem vindo a de-
senvolver incentivos financeiros e

A
benefícios aduaneiros e fiscais, de Comissão para a Economia
um modo geral, ao sector privado, Real do Conselho de Minis-
para permitir que tenha um peso tros reunida em Luanda, na
significativo na economia do país. semana que findou, dedicou
Ele referiu também que desde atenção ao memorando sobre o relança-
2006 o sector não petrolífero tem mento da cadeia produtiva do algodão e
crescido mais do que o sector pe- da indústria têxtil no país, no quadro do
trolífero e é fundamental que esse processo de diversificação da economia
crescimento se faça de cada vez mais nacional.
harmoniosa, para que todo sistema Ao fim do encontro, orientado pelo
de benéficos fiscais, financeiros e seu coordenador, o vice-presidente da
aduaneiros sejam postos em práticas República, Manuel Vicente, chegou ao
no sentido de permitir que o investi- consenso de que o Estado deve priorizar
mento seja feito em todo o país para a conclusão da fábrica de tecidos Tex-
evitar as assimetrias. tang II, em Luanda, e a produção da cul-
Com isso as medidas, que sur- tura do algodão.
gem num contexto de moderniza- Consta que ss obras da Textang II
ção das práticas de colecta fiscal estão concluídas em 80 porcento en-
e de harmonização com as regras quanto a produção de algodão segue
da Organização Mundial das Al- normalmente na comuna de Kipela,
fândegas, podem ajudar o Execu- Kwanza Sul.
tivo no processo de diversificação O passo seguinte, depois da reabili-
da economia. tação da Textang II, é a restauração das
unidades de produção de tecidos (Satec
Taxas aumentam já – do Dondo, Kwanza Norte; e África
Têxtil, em Benguela). ■
As taxas alfandegárias em vi-
gor em Angola para alguns pro-
dutos sofrem já este ano um agra-
vamento de 20 para 50 por cento Estimativa a longo prazo
para proteger a produção nacio-
nal, conforme afirmaram respon-
sáveis das alfândegas do país à
agência financeira Bloomberg.
Cerveja, água, refrigerantes
e produtos agrícolas devem ver
as taxas alfandegárias aumen-
tar, mas há «isenções fiscais para
4,6 Milhões de turistas visitam Angola
O
matérias-primas usadas na pro- Programa de Desenvolvimen-
dução industrial», disse o direc- to do Turismo do país estima
tor do Departamento de Tarifas e que dentro dez anos Angola
Comércio no Serviço Nacional de venham a receber quatro mi-
Alfândegas, Garcia Afonso. lhões e seiscentos mil turistas e criar um
A Pauta Aduaneira protege mais milhão de postos de trabalho, deu a co-
os empresários nacionais e incen- nhecer na segunda-feira, 27 de Maio, e o
tiva a produção interna, segundo secretário de Estado da Hotelaria e Turis-
Garcia Afonso, em declarações à mo, Paulino Baptista, que prevê também
Angop. O responsável disse haver uma contribuição do seu sector no PIB,
uma expressa orientação do Exe- calculada em 3%.
cutivo nesse sentido. «Estes factores O governo central já seleccionou os
fazem com que negociemos com pólos de desenvolvimento do turismo do
os empresários nacionais para ver país, nomeadamente, o Projecto de De-
onde é que se pode aumentar ou senvolvimento Okavango-zambeze, o
desagravar as taxas», referiu. Pólo do Kuando Kubango, do Cabo Ledo
As propostas finais sobre a re- e o de Kalandula.
visão das taxas da actual Pauta Sobre o turismo sustentável em Ango-
Aduaneira serão submetidas, a la, Paulino Baptista acredita que dentro de
partir de Junho, a Conselho de dez anos já se poderá falar sobre o assunto,
Ministros após terem sido discu- tendo em conta que cada vez mais turistas
tidas por técnicos e responsáveis têm Angola como destino. Já temos rece-
dos Ministérios da Economia, bido cruzeiros internacionais com turistas
Geologia e Minas e Indústria e e é preciso o país preparar-se para supor-
dos governos provinciais. ■ tar a procura.■
38  Sábado, 01 de Junho de 2013.

Economia

Nosso Kumbu Giro Económico

Bancos negam depósitos


em moedas metálicas
O BNA, por meio do seu di- Safra de 1.500 toneladas o chefe da repartição fiscal de
rector do Departamento de finanças de Lândana, município
Estatísticas, Manuel Tiago, A safra alcançada pelos campo- de Cacongo, David Chana. Nos
repudiou a atitude de bancos neses de Ambaca, Kwanza Norte, últimos tempos algumas empre-
comerciais que rejeitam depó- durante a primeira fase da cam- sas procuram os municípios de
sitos de moedas metálicas da panha agrícola (Setembro /2012 a Cacongo, Buco Zau e Belize para
nova família do kwanza. De- Maio/2013) é de 1.567 toneladas. novos contratos inseridos nos
núncias de gestores de bombas A colheita é resultado das chu- programas de investimentos pú-
de combustíveis apontam que vas regulares. As culturas mais blicos do Executivo, mas muitas
bancos comerciais, com realce produzidas foram o amendoim, o delas têm problemas com o fisco.
do banco BAI, têm rejeitado milho, a mandioca, a batata-doce o processo de reformas que visa
depósitos de moedas metáli- e o feijão manteiga, como sendo aumento de receitas fiscais fora
cas. O responsável bancário pelos camponeses locais. Ambaca do sector petrolífero deve ser
aconselhoua denunciar qual- fica a 180 km de Ndalatando (ca- uma tarefa de todos e não apenas
quer situação do género por via pital do KN), estima-se ter mais do Ministério das Finanças, dis-
do site do BNA ou dirigindo- de 80 mil habitantes, que vive es- se David Chana.
-se à sua sede.Entretanto ficou sencialmente da agricultura e da
também aberta a possibilida- agro-pecuária. ExpoCabinda alavancou
de das denúncias serem feitas negócios
através de uma linha telefónica Cela como gigante
caso o BNA disponha. As novas económico A realização, em Cabinda, da
moedas metálicas do Kwanza primeira edição da Feira Inter-
entraram em circulação a 18 O presidente da Associa- nacional de oportunidades de
de Fevereiro e as notas come- ção dos Empresários da Cela negócios e parcerias constitui
çaram a ser introduzidas no (Kwanza Sul), José Macedo de uma alavanca que vai dinami-
mercado de forma progressiva, Almeida, acredita que a locali- zar o sector empresarial local,
desde Março último. dade pode se tornar num pólo segundo o presidente da Asso-
de desenvolvimento económico ciação dos Pequenos e Médios
Bromangol perde do país, se forem bem explo- Empresários de Cabinda, Antó-
«monopólio» rados os recursos naturais que nio Serrano.Serviu para os em-
possui. A produção, a distribui- presários dinamizarem os ne-
Com a assinatura de um pro- ção e o consumo de bens e servi- gócios potenciando-os no com
tocolo entre os ministérios das ços são condições que permitem novas parcerias para alavancar
Finanças e do Comércio, no dia um desenvolvimento sustentá- o desenvolvimento económico
24 do mês passado, Bromangol vel de qualquer região e o mu- da província. Durante o Fórum
deixa de ser única empresa que nicípio da Cela tem todos estes Empresarial Antonio Serrano
efectua análises de controlo de aspectos. Para José Macedo de afirmou existir já o lançamento
qualidade aos produtos impor- Almeida o que falta é uma ex- do concurso público para em-
tados. O acordo permitirá que ploração rentável das potencia- presas que vão construir o Por-
mais laboratórios, principal- lidades. to de Águas profundas do Caio,
mente públicos, efectuem exa- em Cabinda. Com essa infra-
mes de qualidade alimentar aos Obras só para empresas -estrutura haverá facilidades na
bens importados ou de produ- tributárias recepção dos produtos e acaba-
ção nacional. Assim, os impor- -se com a dependência do Porto
tadores têm agora mais opções As administrações municipais Autónomo de Ponta Negra, na
de escolha e também poderão de Cabinda não devem entregar República do Congo Brazaville.
desalfandegar mais rapidamen- obras às empresas que não regu- A segunda edição da ExpoCa-
te as suas mercadoria no Porto. larizaram a sua situação tribu- binda já esta marcada para Maio
tária junto do Estado, segundo de 2014.■
BNA - EXECUÇÃO DOS MERCADOS
Semana de 20 a 24 de maio de 2013.
Venda de divisas ao sistema bancário: USD 450,0 milhões.
Taxa de câmbio média de venda (KZ-USD): 96,386.
Operações de mercado aberto, de venda de títulos com
acordo de recompra: Kz 15,7 mil milhões a 63 dias.
Para a gestão da despesa corrente do Tesouro Nacional o
BNA colocou no mercado primário Títulos do Tesouro no
montante de Kz 16,0 mil milhões, sendo Kz 5,5 mil milhões
em Bilhetes do Tesouro e Kz 10,1 mil milhões em Obriga-
ções do Tesouro. As taxas de juro médias apuradas foram de
2,88% e 4,08%, ao ano, para os Bilhetes do Tesouro com 91
e 364 dias de maturidade. Para as Obrigações do Tesouro as
taxas de juro apuradas foram de 7,00%, 7,25%, 7,50% e 7,75%
ao ano para as maturidades respectivas de 2, 3, 4 e 5 anos.
Sábado, 01 de Junho de 2013.  39
Economia

Petróleo Sonangol retoma produção

Blocos no offshore angolano


se armam contra derrames
P
ara acudir eventuais situações de aci- no seguimento do derrame ocorrido do Golfo do
dente nos campos de exploração de hi- México em 2010.
drocarbonetos no offshore angolano, O secretário de Estado dos Petróleos, Aníbal
o director geral-adjunto da Total E&P Silva, considera fundamental a articulação de ac-
Angola, Jorge Abreu, fez saber que, nos próximos ções para combater eventuais acidentes nos cam-
meses um sistema de dispersão de derrames pe- pos de exploração de hidrocarboneto no offshore
trolíferos de grandes proporções, no mar, vai ser nacional.
colocado no Golfo da Guiné.
A partir do Golfo da Guiné, o sistema de dis-
persão, que virá da Noruega, poderá ser acciona-
Aníbal Silva indicou que para enfrentar situa-
ções decorrentes de derrames, o país tem aprovado
o Plano Nacional de Contingências Contra Derra-
Acabou a escassez
do rapidamente para acudir a situações de emer-
gência nos diferentes blocos petrolíferos do mar
de Angola.
mes de Petróleo no Mar.desde Dezembro de 2008.
A implementação do documento está em curso.
Salientou que a responsabilidade de responder
de gás no mercado
A
Em Setembro o sistema será ensaiado. Com o aos derrames é sempre de quem o causa, cabendo, paralisação temporária da Instalação de Enchimento
exercício, o grupo Total pretende testar a capaci- igualmente, a ele, desenvolver diligências para es- de Gás da Petrangol (ICPN), a maior fábrica de en-
dade de mobilização e implementação, em tempo tancar a situação, conduzir as operações de limpe- chimento de gás de Angola, devido a um incêndio de
útil, do equipamento recentemente desenvolvido za e compensar quem for afectado. ■ pequenas proporções, está na origem da escassez do
gás butano que se regista no mercado, em particular na provín-
cia de Luanda, esclarece a Sonangol EP.
A Sonangol admite que o acidente determinou, por motivos
de ordem técnica, a paralisação, por alguns dias, da ICPN, facto
que, apesar da tomada de medidas preventivas, provocou cons-
trangimentos e a redução da capacidade de abastecimento do
produto.
No entanto, a Instalação de Enchimento de Gás da Petrangol
- ICPN, unidade fabril afecta à Sociedade Nacional de Combus-
tível de Angola (Sonangol -EP), localizada em Luanda, na quinta
feira, 30 de Maio, retomou a sua actividade produtiva, após 25
dias de paralisação.
Por este facto, a Sonangol prevê estabilizar, no início da pró-
xima semana, o abastecimento de gás butano (de cozinha) ao
mercado, particularmente à cidade de Luanda, onde há duas se-
manas se regista uma grande procura do produto, diz o comu-
nicado. ■

Finanças

Capitalização da Bolsa de Valores


pode ser de 10 % do PIB
A
capitalização da futura Bolsa de Valores de Ango- As negociações de títulos de dívida pública e obrigações cor-
la poderá rondar os 10% do Produto Interno Bruto porativas, no mercado secundário, poderão ocorrer ainda no
(PIB), conforme estimativa apresentada na semana decurso deste ano, uma vez ter já sido nomeada a Comissão
que acabou, pelo Presidente da Comissão de Merca- Instaladora da Sociedade Gestora de Mercados Regulamenta-
do de Capitais, Archer Mangueira. dos (SGMR), garantiu hoje, em Luanda, o administrador exe-
Falando durante uma conferência de imprensa, a propósito cutivo da Comissão de Mercado de Capitais (CMC), Patrício
das actividades do CMC, Archer Mangueira disse que era pre- Vilar.
maturo prever o nível de capitalização da futura bolsa de valo- Patrício Vilar pontualizou que a Comissão de Mercado de
res de Angola, mas ainda assim estimou em função da média Capitais já identificou plataformas tecnológicas de negociação
do continente africano que ronda os 25 porcento. e também de custódia, liquidação e compensação dos valores
A título de exemplo de bolsas do continente, a fonte referen- mobiliários a ser transaccionados.
ciou a da África do Sul, cuja a capitalização estima-se em 38 Salientou que o mercado vai arrancar precisamente com o
porcento do PIB. mercado de títulos de dívida titulada e com o mercado de obri-
Apesar disso, o PCA disse que a principal preocupação gações corporativas ou seja obrigações de empresas.
do CMC nessa altura é partilhar as experiências de outros O CMC é uma instituição pública vocacionada a regular,
países sobre bolsas e trabalhar para tornar a de Angola supervisionar e promover o Mercado de Capitais, assim como
uma bolsa forte. ■
registar e licenciar entidades correctoras e outras.
40  Sábado, 01 de Junho de 2013.

Cultura

Em saudação ao «25 de Maio», Dia de África

«União» leva literatura angolana a Coimbra


Investigadores de literatura africana, de várias nacionalidades, tiveram a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre
ficção e poética angolana, num encontro realizado no anfiteatro V da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC),
numa actividade organizada pela União dos Escritores Angolanos (UEA), em parceria com o Centro de Literatura Portuguesa
dessa instituição, programada para saudar o Dia de África, assinalado a 25 de Maio
Francisco Mateus acordo ortográfico, que não teve em linha
de conta a realidade linguística das diferen-

E
m mesa de escritores, fizeram- tes comunidades utentes da língua, nomea-
-se presentes Luandino Vieira, damente a moçambicana e a angolana.
Zetho Cunha Gonçalves, Lopito «Estou convencido que os moçambi-
Feijóo e António Quino, tendo canos, que hão de ter a oportunidade, tal
como moderador o Professor Pires La- como nós angolanos, de apurar o nosso
ranjeira, um conhecido estudioso da lite- vocabulário, com o qual havemos de con-
ratura angolana. tribuir para o vocabulário da língua por-
Perante uma plateia de mais de 60 es- tuguesa, que em princípio devia servir de
tudiosos da literatura africana, entre base de um acordo ortográfico, ficamos na
docentes, doutorandos, mestrandos e li- triste situação de já haver acordo, de já estar
cenciados de nacionalidades diversas, as aprovado e de já estar em marcha, o que na
boas-vindas vieram do Professor Antó- minha leitura, de quem já viu muita coisa,
nio Rebelo, representante da Direcção da significa apenas que é um facto consuma-
FLUC, seguido de breves considerações do do, e os angolanos e moçambicanos que se
também professor Pires Laranjeira, em re- virem. Porém, o não aceitarem como ques-
presentação do Centro de Literatura Por- tão prévia que cada país contribua com o
tuguesa (CLP). seu vocabulário dificilita-nos bastante».
Falando em nome da secular instituição Motor da editora «Nós Somos», Luandi-
universitária, António Rebelo começou no Vieira também explicou os motivos que
por agradecer a escolha da Universidade estiveram na base da sua criação, tendo re-
de Coimbra para tão importante evento e alçado a intenção de levar o livro, a preços
mostrou toda a disponibilidade para que Gorando as expectativas do auditório, o ro livro da trilogia, essa alusão ao medo do acessíveis, aos distintos pontos geográficos,
acções do género possam acontecer em prol escritor angolano começou por referir que papel em branco terá surgido de forma pré- contribuindo assim na promoção do livro
do multiculturalismo, hoje vigente nas áre- não é sua intenção terminar o terceiro livro via para explicar a sua aversão ao acordo e da leitura.
as das humanidades. da trilogia, por pretender que ela seja de ortográfico. Luandino Vieira, um dos mais concei-
Por seu lado, Pires Laranjeira, na qua- apenas dois livros. «O terceiro volume da trilogia, o tal que tuados escritores lusófonos, é autor de «A
lidade de co-organizador do evento, des- Falando para uma assistência bastante eu nunca hei-de escrever, já tem a palavra Cidade e a Infância», «A Vida Verdadeira
tacou o papel de cada um dos escritores atenta, Luandino Vieira disse também que, inicial, escrita já há uns 8 anos. Tenho o ca- de Domingos Xavier», «Nós, os do Macu-
presentes no enriquecimento e promoção tal como nos anos 60 e 70, em que tinha derno que diz ‘o livro de rios III’ e está com luso», «João Venâncio: os seus Amores»,
da literatura lusófona em geral e angolana medo de papéis, porque eles podiam ser umas quatro ou cinco páginas. Mas, talvez «Luuanda», «No Antigamente, na Vida»,
em particular. apanhados e virados contra si, agora ga- adivinhando certa inflação do termo, do «Macandumba», «Velhas Estórias, Vidas
nhou mais medo do papel em branco. conceito e do alcance que esse conceito pre- Novas» e «Lourentinho, Dona Antónia de
«Não é preciso que alguém os apanhe tende, termo lusofonia, o romance começa Sousa & Eu», entre outras obras. Em 1965,
Medo do papel em branco para serem virados contra mim. Basta que com a palavra ‘river’, que, tanto quanto sei, obteve o Prémio de Ficção da Sociedade
eu tente escrever qualquer coisa e imedia- não é ainda uma palavra da língua portu- Portuguesa de Escritores, que não pôde re-
Para abrir a bateria de intervenções, Pi- tamente a primeira palavra se vira contra guesa», disse. ceber porque na altura se encontrava preso
res Laranjeira instigou Luandino Vieira a mim». Igual a si mesmo, o autor de personagens no Tarrafal. Em 2006, foi-lhe atribuído o
falar sobre se vai ou não terminar a trilogia Além de pretender com isso explicar o como Ricardo e Marina, do livro «A cida- Prémio Camões, que recusou receber por
intitulada «De rios velhos e guerrilheiros». seu distanciamento de um provável tercei- de e a infância», aproveitou tecer críticas ao razões pessoais. ■

Flores em campo de batalha


D
ando seguimento à actividade, o poeta J. A. S. procura do caminho, exercitando a escrita e descobrindo Poeta que se assume como um desconstrutor da língua
Lopito Feijóo K começou por falar do seu livro algumas matreirices, que ninguém nos ensina, na forma enquanto estratégia de inovação e contribuição para o seu
«Cartas de amor», que para ele fala de um amor de arrumar as palavras», considerou. a. enriquecimento, Lopito Feijóo defende a necessidade de
para lá da compreensão do termo. Referiu que Lopito Feijóo, embora tenha já um percurso assinalável até os estudantes de cursos técnicos ou ciências exactas
o amor não é um sentimento exclusivo de lugares onde no campo literário angolano, com prémios e obras como apostarem na leitura de textos literários como mecanis-
existe paz e harmonia. «Doutrina», «Rosa Cor de Rosa» e «Corpo a Corpo», mo de aperfeiçoamento do raciocínio lógico.
«Mesmo no contexto de guerra, reinava o amor. No cujos textos se caracterizam pela quebra de um discur- «Estudante de matemática tem que conhecer a lín-
Kuando Kubango, zona fustigada pela guerra civil an- so fluído da sintaxe e da própria ortografia das palavras, gua portuguesa, tem que ler poesia, e tem que ler fic-
golana, nascia flores. Os guerrilheiros lutando, por vezes garante que a escrita é um exercício incessante da busca ção. Um estudante de física, ou ciências exactas no
corpo a corpo, e havia flores nascendo». do perfeito e que todos os dias se caminha ao encontro geral, tem que ler, porque imaginem que se ele não
Na sua intervenção, o autor de «Entre o Écran e o Esper- desse imaterial ser perfeito. Para exemplificar sobre os ca- tem uma grande capacidade de entendimento ou de
ma» realçou ainda que os muitos anos de caminhada no cam- minhos que tem vindo a percorrer para o apuro da escrita compreensão, como é que vai solucionar um proble-
po da literatura permitiram-lhe perceber que é preciso ser-se poética, Lopito Feijóo disse: ma matemático? Olha, quando nos apresentam um
profissional no ramo para se aperfeiçoar a escrita poética. «Existe a gramática da língua, assim como a ficção e a problema para o solucionar, temos que, antes de mais,
«Como dizia David Mestre, duma geração que, se se poesia têm gramáticas próprias, que se aprendem lendo compreender aquilo que nos é pedido. Daí, a respon-
apurarem 5 escritores, já é bom, e se desses 5 apurarmos muito e muito. Repito: para se ser um bom escritor, tem sabilidade de quem escreve com consciência artís-
5 livros será muito bom. E se em cada um desses 5 livros que se ser, antes de mais, um bom leitor e um poeta é obri- tico–literária, porque vai ser lido para ajudar nesse
apurarmos 5 poemas, melhor ainda. Estamos sempre à gado a ser muito mais que um bom leitor». processo da vida do leitor». ■
Sábado, 01 de Junho de 2013.  41
Cultura

Zetho Gonçalves: poeta de profissão


Z
etho Cunha Gonçalves já vendeu mais de 25 mil exem- tei fragmentos e fiz apenas cinco
foi o terceiro a tomar plares, Zetho Cunha Gonçalves ou seis poemas. O resto não apro-
da palavra. Trazendo falou ainda da sua experiência veitei. É assim a vida do poeta»,
consigo a característica nos mais de 34 anos de carreira ajuntou.
de vivência diferente da do Lopito literária, com mais de 30 livros Além de escritor, com obras
Feijóo, diferença até na constru- publicados. como «O incêndio do fogo» e «O
ção poética, é um cultor clássico «Uma das coisas que a escola vôo da serpente» (edição manus-
da língua portuguesa, contra- nunca me ensinou foi o prazer crita, com 12 exemplares apenas,
riamente àquele, que a desregula de ler. Todas as coisas que eu era com quatro desenhos originais
para a inovar, conforme afirmou obrigado a ler, nunca lia. Como do autor), Zetho Cunha Gonçal-
Pires Laranjeira como nota in- estudei agronomia e não literatu- ves também é ensaísta e tradutor,
trodutória do autor de «A palavra ra, para mim na leitura deve exis- tendo traduzido «O desejo é uma
exuberante» e «Rio sem margem. tir o acento do prazer e não o da água», de Antonio Carvajal. Or-
Poesia da tradição oral». tortura. Fecho um livro quando ganizou edições da obra de Mário
Se Lopito Feijóo aprimora a não me dá prazer, porque o leitor Cesariny, Luís Pignatelli, António
desregulação linguística, Zetho deve ser o maior e melhor escri- José Forte, Natália Correia, Eça
Gonçalves aposta também em tor», refere para depois reforçar de Queiroz, Fernando Pessoa, e
textos poéticos que resgatam, que «o leitor é o escritor daquele várias antologias da poesia e do
traduzem e transformam fun- determinado texto na sombra da conto angolanos.
damentalmente provérbios da página». Entretanto, ainda para destacar
tradição nganguela, talvez por Numa alusão aos que pensam o papel do leitor, Zetho Cunha
influência de Cutato, no Kuando ser possível o poeta fazer-se num Gonçalves, que como homem
Kubango, região que o poeta de- dia, e reforçando a ideia deixada nasceu no Huambo, mas que
nomina como «minha pátria da por Lopito Feijóo, Zetho Cunha como poeta nasceu no Kuando
poesia». Gonçalves lembrou que a apa- Kubango, falou da necessidade da
«Tento conhecer o máximo so- rente perfeição de um texto feito crítica.
bre poesia em língua portuguesa hoje, pode se tornar totalmente «O nosso trabalho é tão solitá-
que se vai fazendo por esse mun- imperfeita amanhã. rio, mas tão solitário que a razão
do fora», disse. «É o poema que faz o poeta, e dele é existir alguém com quem se
Também escritor de literatura não o poeta que faz o poema. Pu- possa um dia conversar, mesmo
infanto-juvenil, autor do livro bliquei livros que hoje vejo que que seja discordando dele. Aliás,
«Debaixo do arco-íris não pas- são uma porcaria. Reli muito do discordar inteligentemente é sem-
sa ninguém», que só no Brasil que escrevi e de cinco livros jun- pre saudável», finalizou.■

Uma auto-estrada de livros


A
fechar o quadro, o professor, convidado a apresentar, disse que, não ha- território muito complicado para os guerri- de 2002, com a conquista da paz efectiva,
jornalista e ensaísta António vendo uma aparente intenção objectiva de lheiros angolanos, de um lado, e para o exérci- o reencontro de famílias, a reestruturação
Quino foi chamado a apresen- torná-los num só, «os dois livros do autor to colonial português, doutro. Há ainda aspec- de famílias, as estórias românticas, ângulos
tar três obras, designadamente são uma espécie de auto-estrada, cuja por- tos que ajudam a conhecer também o conflito que ajudam a compreender melhor o lado
«A balada dos homens que sonham», uma tagem de entrada é Nambuangongo e a de ideológico no seio do MPLA, num profundo inverso ao da força das armas e, como disse
antologia do contos de autores angolanos chegada é Hebo». momento de introspecção, tal como o que cul- o Lopito, no cenário da guerra também há
organizada por si, e os romances «Nambu- António Quino enfatizou que a presença minou com o chamado fraccionismo, de 27 de amor; também nascem flores», realçou..
angongo» e «Hebo», do escritor João Mi- da história recente de Angola é marcante Maio de 1977», disse Quino. Explicando o título do livro, António
randa. nos dois romances, embora neles não haja Para esse docente, «Hebo» indicia uma Quino afirmou que, de sua leitura, «Hebo»
Sobre a «balada», lembrou que o projecto implicitamente a pretensão de se fazer ou fase posterior a da proclamação da inde- tanto pode simbolizar a gravidez de uma
nasceu de uma solicitação do secretário- narrar história. pendência nacional. viúva (personagem do livro), fruto de um
-geral da União dos Escritores Angolanos «Com Nambuangongo, destaca-se o início «Aqui o autor conta uma fase da guerra infiel envolvimento com um pastor, ou per-
(UEA), Carmo Neto, para atender a um pa- da luta armada de libertação nacional num civil em Angola e ao período de 4 de Abril sonificar uma paz que nunca mais chegava
cote do seu mandato relativo ao seu ambi- ao país.
cioso programa de divulgação da literatura «Era importante fazer pensar que a
angolana a nível internacional. gravidez era do seu finado marido que,
«Procuramos reunir textos que ex- antes de morrer, a deixou grávida e que
pressassem interesse, contexto, realidade, se tratava de um ‘hebo’, daí o suposto
consciência colectiva, escolhas estéticas prolongamento do tempo da gestação
e temáticas de Angola e dos angolanos e que ultrapassava doze meses (isso é o que
cujos invariantes não marginalizassem os fez transparecer na aldeia para disfarçar
paradigmas também simbólicos do ser an- a gravidez nascida de uma relação com
golano», disse António Quino. um pastor meses depois da morte trági-
Referiu que a 1.ª edição saiu com o título ca do seu esposo); ou as várias tentativas
«Conversas de homens no conto angola- de paz, que ora vinham ora iam, o tempo
no», editada em Angola, e a 2.ª, melhorada, correndo. Portanto, ‘Hebo’ tem também
foi do Clube do autor, em Portugal. a ver com a guerra civil que se prolonga
«Daí para cá, teve tradução em hebraico, até 4 de Abril de 2002 e nesse período
lançada na feira de Jerusálem, outra tradu- houve várias tentativas de reconciliação
ção em espanhol, lançada na feira de Ha- e de paz, numa espécie de gravidez que
vana, em Cuba. Prevê-se uma edição bra- aparece e desaparece, até ao nascimento
sileira e está já em carteira a tradução em que surge no dia 4 de Abril, muito tempo
alemão, francês e japonês», informou. depois para lá do tempo várias vezes pro-
Sobre as obras de João Miranda, que foi gramado», rematou. ■
42  Sábado, 01 de Junho de 2013.

Desporto

Crise directiva soma e segue no ASA

«Braço de ferro» entre Justino


Fernandes e Manuela de Oliveira
C
omo tivera avançado
em tempos este jornal, a
apetência para dirigir o
clube patrocinado pela
TAAG é muito grande. Quem lá
entra, já não quer sair.
Zeca Venâncio, por exemplo,
presidente cessante, permanece
no ASA de pedra e cal, mesmo de-
pois de ter «renunciado» ao cargo,
numa encenação do tipo não está
mas está, não lhe restando outra
alternativa senão movimentar os
cordelinhos à distância, em defe-
sa de tudo quanto por lá deixou
engendrado. Fala-se de fabulosos
proveitos com uma espécie de ar-
rendamento de terrenos para as
Organizações Kinjololo Lda e de
empréstimos especulativos com
terceiros altamente rentáveis.
Agora chegou a vez de Justino
Fernandes lutar pelo seu pedaço.

Interesses escondidos
Longe de ter o apoio popular o engaja. No fundo, afirmou que Para ela, a solução passa pela Em 2012, enquanto Manuela
Uma vez aí «colocado», pelas que antes havia conquistado, Jus- está por cima da lei. Para isso, obediência à decisão da juíza e de Oliveira esteve na liderança do
mãos de seu velho amigo e com- tino Fernandes não é mais ben- pretende a todo custo desenca- reposição da legalidade, como de- clube, o ASA ocupava o segundo
panheiro de rota Hélder Preza, quisto no clube, onde detinha a dear um processo relâmpago de sabafou numa recente entrevista à lugar da tabela classificativa do
antigo vice-ministro dos Trans- aúrea de velha glória de cartas da- eleições antecipadas, com vence- TV Zimbo. Girabola. Hoje, os «aviadores»
portes, Justino Fernandes jurou das. Já chegou mesmo a ser vaiado dor antecipado, no qual concor- Julga-se que o alinhamento do correm o risco de descer de di-
a pés juntos, num canal de tele- pela claque do clube, agora que os reriam escolhidos seus, prontos actual presidente da mesa da as- visão. Aliás, é opinião unânime
visão, que por nada deste mundo aviadores mergulharam num ver- para vencer o eventual pleito, à sembleia-geral com a dupla Zeca nos bastidores do clube que bas-
ficaria sequer um minuto a mais dadeiro inferno sob sua liderança margem da decisão judicial e das Venâncio/Justino, tem sido o tou Justino Fernandes «aterrar»
no ASA tão logo se esgotasse o na comissão de gestão. leis. O «seu» eleito é até agora des- maior «quebra-cabeça» de Manú no aeroporto, para que ele viras-
tempo dado à sua comissão de conhecido. Para o efeito, orienta- de Oliveira. se um autêntico saco de pancada,
gestão. Qual quê?! O seu tempo ra Helder Preza de convocar para estando no último lugar da tabela
Iniciativa de sócios
expirou, mas a promessa feita foi dia 15 corrente, mais uma «as- classificativa do campeonato.
Divergências
apenas para boi dormir. Ele quer sembleia», segundo anúncio do Nem mesmo o sufoco do clube
continuar por lá a todo o custo. Sucessivos comunicados subs- Jornal de Angola. levou algum dia Justino Fernandes a
Os últimos acontecimentos no critos por sócios, amigos e adep- Por sua vez, Manuela de Olivei- No ASA, segundo alguns ser visto num dos estádios de futebol
clube aviador desmontam-no por tos do clube, publicitados no ra tem sido vista em permanentes funcionários, a luta nos últi- moralizando os atletas. No fundo,
completo. Jornal de Angola, acabaram por cavalgadas nos corredores no mos dias atingiu temperaturas com ele, o ASA ficou sem comando.
Iniciou-se agora no clube denunciar as violações e desobe- Ministério da Juventude e Des- incendiárias. Por um lado, de- O braço de ferro entre Justino
aviador um verdadeiro «braço diências ao tribunal, exigindo a portos, no sentido de conseguir o nunciam que Justino Fernandes Fernandes e Manuela de Olivei-
de ferro» entre o mais velho do reposição da legalidade. apoio institucional para recolocar não pretende largar uma conta ra transformou-se numa batalha
«Espontâneo» e Manuela de Oli- Estas iniciativas levaram ao o ASA no caminho da legalidade, choruda que mandou abrir num sem rival no dirigismo desportivo
veira, a presidente eleita, numa rubro o mais velho Justino. Se- e com isso cortar pela raiz as es- banco em Luanda, onde não se angolano. Mas não se sabe ainda
autêntica «batalha campal» para gundo um plano cuidadosamente tranhas pretensões do mais velho sabe quanto dinheiro circula, como culminará. Uma elite, lide-
se determinar quem «pilota» o gizado, já muito acima do ante- Justino. já que ela é gerida por apenas rada agora à distância por Justino
ASA, no espaço de tempo que a rior patamar médio de interesses, O braço de ferro estende-se duas pessoas, tal e exactamente Fernandes, constituída por mem-
providência cautelar 0017/012-H Justino Fernandes pretende mes- também aos canais de televisão, como fazia Zeca Venâncio nos bros solidários com Zeca Ve-
decidu. mo assim comandar o clube à dis- onde Manuela de Oliveira come- anos idos, à margem dos demais nâncio, representando interesses
Por enquanto, Justino Fer- tância, no curto prazo. O deside- ça a ganhar algum protagonismo, membros de direcção. ainda por se descobrir, confronta-
nandes parece ter perdido o voo. rato foi anunciado em entrevista o que tem proporcionado um ex- Na ausência de Zeca Venâncio, -se agora com os interesses pela
Centenas de assinaturas recolhi- por si concedida à TPA e à Rádio celente contraditório. De acordo Manuela de Oliveira dirige o ASA recuperação do clube e pela re-
das entre os sócios em Luanda e 5, quando afirmou sem qualquer com a «dama» do clube aviador, o temporariamente, na qualidade posição da legalidade defendidos
províncias do país pedem o seu prurido que iria desobedecer à que está em causa no ASA é a lega- de vice-presidente, sendo que a superiormente por Manuela de
afastamento e o regresso imedia- decisão da juíza, convocando no- lidade permanentemente violada, TAAG, como patrono do clube, Oliveira. Quem vencerá? Os «es-
to da paz social no clube, com o vas eleições. Na óptica de Justino o que tem provocado desorganiza- conclama a retoma do seu legíti- pontâneos» ou o clube aviador? ■
cumprimento rigoroso da senten- Fernandes, o processo judicial em ção e falsas expectativas, prejudi- mo lugar na mesa da assembleia,
ça da juíza do caso. recurso no Tribunal Supremo não cando o desempenho dos atletas. usurpado por Hélder Preza. António Simões
Sábado, 01 de Junho de 2013.  43
Desporto

Para o jogo contra o Senegal

Ferrin aposta nos girabolistas


Paulo Possas esperava por uma comunicação da Federa-
ção Angolana de Futebol, mas apercebeu-se

A
s Palancas Negras realizam este através da Internet que não fazia parte da
sábado, 02, o seu primeiro jogo convocatória.
particular contra o Interclube O vogal de direcção da Federação An-
ou Bravos do Maqui, no qua- golana de Futebol, para o marketing e re-
dro da sua preparação para o desafio do dia lações internacional, João Lusevikueno,
8 contra os Leões de Teranga (Senegal), a disse na quarta-feira, 29, que ausência de
contar para a quarta jornada do Grupo J Manucho Gonçalves não pode ser moti-
(zona africana) de apuramento ao Mundial vo para dramatizar as apostas feitas por
de 2014, no Brasil. Gustavo Ferín.
No jogo-treino, as Palancas Negras con- Segundo este responsável, Manucho
tarão apenas com o desempenho de joga- Gonçalves é um atleta com grandes qua-
dores que militam no Girabola, porque os lidades, mas os vinte e cinco apontados
profissionais que jogam na Europa come- pelo técnico Gustavo Ferrín convence-
çam a chegar a Luanda apenas a partir de ram-no mais durante as observações que
segunda-feira, 4. fez dos que jogam nas grandes equipas do
A preparação da seleção nacional teve Girabola, assim como os que o fazem no
início na tarde de quinta-feira, no estádio estrangeiro.
11 de Novembro, após a concentração dos Quem está satisfeito com a sua nova
convocados na manhã do mesmo dia, no chamada é o médio Geraldo do Curitiba,
estádio da Cidadela. Entre os girabolistas YANO, do progresso, é uma das apostas de Ferrín onde, há dias, em duas ocasiões, esteve em
convocados apenas se registou a ausência destaque, primeiro na vitória de 2-1 da sua
de dois dos três jogadores do Kabuscorp do conversa sobre os objectivos perseguidos A ausência de Manucho Gonçalves é que equipa sobre o Atlético Mineiro, na abertu-
Palanca (Kibecha e Libengue) chamados, no jogo contra o Senegal, seguida por uma está a ser bastante questionada por muitos ra de mais uma edição do «Brasileirão», o
algo que já foi questionado pelo técnico sessão de recuperação física dos jogadores. adeptos e vários especialistas do futebol Campeonato Brasileiro de Futebol da Pri-
Gustavo Ferrín, uma vez que Adawa, da Estiveram presentes os guarda-redes doméstico. meira Divisão e depois frente ao Nacional
mesma equipa, esteve presente. Hugo (1.º de Agosto) e Landu (Libolo); Sobre este avançado, que nos últimos do Mato Grosso, para a Taça do Brasil, com
Curiosamente, os dois faltosos são as os defesas Bastos, Mabiná (Petro), Dany tempos assumia a braçadeira de capitação, um golo.
duas grandes novidades da lista de convo- Massunguna (1.º de Agosto), Gomito (Li- o argumento de exclusão levantado pela Reagindo à sua convocatória, Geraldo
cados de Gustavo Ferrín, num grupo no bolo), Mussumary (Recreativo do Libolo), equipa técnica é que ele tem estado com disse : «Vamos trabalhar muito e bem
qual a ausência de Manucho Gonçalves, do Pirolito e Fabrício (Interclube); os médios uma actuação irregular, no Valladolid, para que realizemos um bom jogo e con-
Valladolid de Espanha, ressalta pela nega- Amaro e Mingo Bille (1.º de Agosto), Ito além de ressentir-se de uma lesão, mas o sigamos um resultado positivo que nos
tiva. (Progresso do Sambizanga), Manuel (ASA), próprio jogador já contestou. abra perspectivas para alcançarmos os
Gustavo Ferrín e o seu assistente Hugo Adawa (Kabuscorp), Job e Mano (Petro); e Manucho Gonçalves disse no entanto nossos objectivos de chegar à fase final
Rossano iniciaram a preparação com uma o avançado Yano (Progresso). que, na sua qualidade de capitão de equipa, do mundial». ■
Só um jogador actua no país

Leões de Teranga vêm ao máximo da sua força


A
o contrário do uruguaio Gustavo Fer- França) e Remy Gomis (Valenciennes de França);
rín, que apostou na prata da casa, o e os avançados Ndiaye Deme Ndiaye (Lens de
francês Alain Giresse, que orienta os France) Birame Mame Diouf (Hannover da Ale-
Leões de Taranga do Senegal, por estar manha), Moussa Sow (Fenerbache da Turquia),
fortemente apostado a vir a Luanda para consoli- Modou Sougou (Marseille de França), Papis Dem-
dar a sua liderança no Grupo J , convocou apenas ba Cissé (Newcastle da Inglaterra) e Dame Ndoye
um jogador que actua no país, o avançado Diam- (FC Locomotiv de Moscovo).
bars. O grande ausente nestes convocados é o avan-
O grosso da seleção senegalesa vem de fora, de- çado Demba Ba do Chelsea de Inglaterra.
signadamente os guarda-redes Bouna Coundoul Este grupo de jogadores às ordens de Alain Gi-
(Enosis Neon Paralimni do Chipre), Ousmane resse está a preparar-se em Bruxelas, Bélgica, de
Mane e Cheikh Ndiaye (Rennes de França); os de- onde sai a 6 de Junho para Accra (Ghana) e de lá
fesas Zarco Toure (Le Havre de França), Serigne para Luanda.
Modou Kara Mbodj (Genk da Bélgica), Lamine O treinador francês disse ao jornal senegalês
Gassama (Lorient de França), Lamine Sane (Bor- L’Opinion: «Este jogo é essencial para nós e os
deaux de França), Cheikh Mbengue (FC Toulouse jogadores estão conscientes disso. É essencial ga-
de França), Pape Souare Ndiaye (Stade Reims de nharmos os três pontos. Vamos a este jogo com
França), Papa Gueye (Metalist Kharkiv da Ucrâ- um bom espírito. Há serenidade e a mobilização
nia), Abdoulaye Seck (Sports do Senegal) e Salif é muito forte. Os meus jogadores para atingirem
Sane (Nancy de França); os médios Mouhamed este resultado devem manter-se mais concentra-
Diame (West Ham da Inglaterra), Pape Diop Quli dos e determinados. Dispomos de uma forte e boa
(Levante de Espanha), Sadio Mane (Redbull Sal- constelação de futebolistas profissionais fortes e
zburg da Áustria), Idrissa Gueye Gana (Lille de competentes». ■ O SENEGAL vem com tudo para ganhar
Sábado, 01 de Junho de 2013.  44

Mariano Hélder Justino Polícia


de Almeida Martins «Press toke» Fernandes Nacional FAF

Este jornalista e homem O árbitro angolano Hel- A proprietária da lavan- O presidente do Movi- A corporação policial A Federação Angolana de
de desporto ganhou cora- der Martins está em alta em daria «Press toke», casa zur- mento Nacional Espontâ- parece continuar a ter di- Futebol foi altamente incivi-
gem e fez um bom exercício termos de confiança junto zida na semana passada nes- neo está a ter um comporta- ficuldades para lidar com lizada para com o «capitão»
de cidadania no quadro do da Confederação Africana te jornal, por se ter negado a mento nada condizente com manifestantes. Não se sabe das Palancas Negras, o avan-
exorcismo aos fantasmas de Futebol (CAF) e Federa- responsabilizar-se por estra- a imagem de pessoa de bem se receberam ordens nesse çado Manucho Gonçalves,
criados pela repressão que ção Internacional de Futebol gos descobertos no casaco de que sempre deixou transpa- sentido, o que parece im- do Valladolid de Espanha,
se seguiu ao «27 Maio», ao (FIFA). Como já vem se tor- um seu cliente, fez melhor recer. Entrado no ASA pela provável, mas tudo indi- ao não se ter dignado a in-
publicar memórias sobre o nando quase habitual, ele foi que os seus funcionários. Ela mão do seu compadre Hél- ca que se terá excedido ao forma-lo oficialmente que
drama pelo qual a sua família mais uma vez escolhido para fez questão de vir a Luanda, der Preza, à frente de uma castigar severamente um ele tinha ido preterido pelo
passou nesses tempos de an- apitar um jogo internacional. saída do estrangeiro, para imposta comissão de gestão, jovem manifestante, que, selecionador Gustavo Ferrín
gústia para muitos. Mariano Será hoje, em Maputo, no tentar resolver o imbróglio. ele recusa-se agora a aban- depois de apanhar uma ex- para o jogo contra os Leões
de Almeida, que perdeu o seu desafio que oporá a Liga Mu- Predispondo-se a reparar donar o clube em termos ab- celentíssima senhora sova, de Teranga do Senegal, dia 8,
irmão Maurício, relatou de- çulmana de Moçambique ao os estragos num primeiro solutos, ao comandar uma seria abandonado sem apelo no «11 de Novembro». O téc-
sabridamente no «facebook» TP Mazembe (RDC), para a momento, chamou o cliente «trupe» que quer continuar nem agravo nas imediações nico uruguaio diz que Ma-
a epopeia da família, acto Taça CAF. Ele até já parece para provar que eles podiam a fazer das suas na turma do da Shopritte, entre o Palan- nucho Gonçalves não está
com o qual não só ganhou ser o único árbitro interna- não ter sido feitos na sua em- aeroporto. Nega-se inclusive ca e a Viana, como referem em forma, além de continu-
grande admiração, como cional angolana a quem a presa. E quase o conseguiu, a respeitar determinações as informações disponíveis ar em recuperação de uma
também lhe terá permitido FIFA e a CAF ainda deposi- após certas demonstrações judiciais, como se estivesse a este respeito. E se o rapaz lesão. Tudo bem, já que ele é
soltar o espírito no sentido da tarão confiança. Tanto assim com ferros de engomar e acima da lei. Tanto assim é morresse? Nada justifica soberano nas suas escolhas.
cartase que os passivos des- é que, mal chegue a Luanda, quejandos. Estabelecida a que disputa agora um «bra- esta barbárie, não obstante Mas, não foi de bom tom que
ses trágicos acontecimentos estará de mal aviadas para dúvida, o cliente (o diretor ço de ferro» com Manuela a contrainformação de que ele tivesse de saber disso pela
já deveriam impor a todos Cabo-Verde, onde ajuizará do jornal) resolver dar o be- de Oliveira, que tem estado os «revús» se teriam porta- Internet, como o próprio se
os que estiveram envolvidos o jogo entre «bodiúrras» e nefício à «ré», recusando-se a a resistir estoicamente às do mal, ao arremessarem queixou. Mais ainda para
na coisa. E não só. E o relato equato-guineenses, para o receber qualquer compensa- tentativas de subversão no pedras contras os agentes quem dá o litro como ele. É
estava bom. ■ Mundial do Brasil. ■ ■
ção. E ponto final! ■
clube aviador. da ordem. Mau serviço! ■ ingratidão! ■

Nigéria criminaliza
casamento gay
Câmara dos Deputados também sancionou proposta que
proíbe pessoas de aderirem a grupos de direitos gays.
Projeto de lei estabelece penas de até 14 anos de prisão

A
Câmara dos Deputados da domia é punida com prisão, mas esta lei
Nigéria aprovou nesta quinta- caminha para uma repressão mais ampla
-feira (30) uma lei que torna sobre os homossexuais. O Reino Unido e
crime o casamento gay, “rela- outros países ocidentais têm ameaçado
cionamentos amorosos” entre pessoas do com o corte de ajuda internacional, o que
mesmo sexo e mesmo a adesão a grupos tem contribuído para retardar ou inviabi-
de direitos gays, desafiando a pressão das lizar a aprovação desse tipo de legislação
potências ocidentais para respeitar os di- em países dependentes, como Uganda e
reitos de gays e lésbicas. Malawi.
O projeto de lei, que contém penas de Mas as ameaças têm pouca influência
até 14 anos de prisão, passou no Senado da sobre a Nigéria, cujo orçamento é finan-
Nigéria no final de 2011, mas o presidente ciado pela produção de 2 milhões de barris
Goodluck Jonathan deve aprová-lo antes de dólares por dia. “As pessoas que entram
que se torne lei.Dois projetos de lei seme- em um contrato de casamento do mesmo
lhantes foram propostos desde 2006, mas sexo ou união civil cometem um crime e
esta é a primeira vez que foi aprovado pela são passível de condenação a uma pena de
Assembleia Nacional. 14 anos de prisão”, diz o projeto de lei.
Um porta-voz da presidência não res- “Qualquer pessoa que se registre, opere
pondeu a um pedido de comentário. ou participe em clubes gays, sociedades e
Como em grande parte da África subsaa- organizações ou faz, direta ou indireta-
riana, o sentimento anti-gay e a persegui- mente, demonstração pública de relacio-
ção a homossexuais são comuns na Nigé- namento amoroso de mesmo sexo na Ni-
ria, de modo que a nova legislação deve ser géria comete um delito, devendo cada um
popular. ser passível de condenação a uma pena de
Sob a atual lei federal nigeriana, a so- 10 anos de prisão.” ■

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