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PRINCIPAIS FOCOS DE TENSÃO NO CONTINENTE

AFRICANO

1. INTRODUÇÃO

O continente africano foi assolado ao longo de décadas por diferentes tipologias


de conflitos relacionados à resistência à ocupação e descolonização, guerras entre
Estados e guerras civis. Os fatores históricos desses conflitos são relacionados à
herança da colonização europeia, árabe e turca em busca de matéria prima para o
desenvolvimento industrial; a exploração de riquezas naturais (diamantes, ouro,
metais, petróleo) e exploração dos povos; a disputa de territórios pelas diferentes
etnias; a inexistência de governos democráticos e diversas religiões (animismo,
politeísmo, judaísmo, cristianismo, islamismo).

A África foi dividida e ocupada pelas potências da Europa a partir do século XV.
A visão eurocêntrica do mundo motivou potências como a Portugal, Holanda, França
e Inglaterra seguir a expansão marítima extra ao continente europeu. Até meados do
século XIX, o interior da África permaneceu a margem de todo esse processo por
razoes relacionados ao pouco proveito econômico e inúmeros perigos como a
rusticidade guerreira de povos nativos e as doenças tropicais. Em 1870 com o
advento da era industrial e a necessidade de matérias primas, mão de obra e
mercado consumidor fez com que as potencias europeias voltassem atenção para o
continente africano. E, assim, a África começou a ser colonizada e dividida
conforme descrito por Lousada, 2015.
(i) os ingleses dirigiram-se para a África do Sul, Rodésia, Quénia, Uganda,
Nigéria e Egito;
(ii) os franceses canalizam esforços para o Chade, Senegal, Costa do Marfim
e Mali, unindo grandes partes do território da África Ocidental e da África Equatorial
ao Norte do Congo, mais o Djibuti, no mar Vermelho;
(iii) os portugueses, por sua vez, procuram sustentar o espaço territorial de
Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde e Guiné Bissau;
(iv) os alemães reclamam os Camarões, Tanganica e a Namíbia;
(v) os belgas orientam-se para o Congo, Ruanda e Burundi.
A demarcação de fronteiras políticas pelas potências europeias no Congresso de
Berlim (1884-1885) levou em consideração apenas os interesses econômicos e
políticos dos colonizadores, que encaravam o continente como uma fonte de
matérias-primas minerais e agrícolas, ignorando completamente as complexas
divisões étnicas e tribais históricas existentes ali. Como consequência, grupos
étnicos foram separados em diferentes colônias que, posteriormente, constituíram-se
em Estados-Nações independentes. Assim, tribos rivais ficaram em uma mesma
colônia, e, consequentemente, dentro de um único país.

Essa divisão artificial visava a atender aos interesses das potências coloniais,
que queriam se apropriar dos recursos naturais do continente desprezando a
diversidade de culturas e incitando conflitos entre tribos rivais. As novas fronteiras
deixaram os africanos com um sentimento de constante tensão – mesmo após os
processos de independência –, pontilhada por guerras civis, golpes de Estado e
conflitos étnicos e religiosos.
Em Ruanda, por exemplo, hutus e tutsis, que conviveram satisfatoriamente por
séculos na mesma região, tiveram suas diferenças acirradas pelos colonizadores
belgas. O auge do conflito resultou no massacre de mais de 1 milhão de tutsis em
1994. Até hoje, as duas etnias estão em conflito nos países próximos, como Burundi,
Uganda e República Democrática do Congo. Outras nações com graves conflitos
étnicos são a Nigéria, a Somália e a Costa do Marfim.

O enfraquecimento econômico e político das potências europeias no Pós-Guerra


diminuiu seu poder sobre as colônias. Consequentemente, rebeliões pela
independência surgiram em todo o continente africano, e a maioria das colônias
alcançou esse objetivo entre as décadas de 1940 e 1970. Assim, alguns países
alcançam a independência e foram criados territórios definidos pelos colonizadores,
quase sempre desprovidos de identidade nacional ou étnica.

Entretanto, o processo de independência não trouxe paz à África, que se


transformou num “barril de pólvora”. Com a descolonização africana, as rivalidades
étnicas, até então represadas ou manipuladas pelo colonizador, afloraram. Os
governantes sem atender às expectativas populares, muitos apelaram para golpes
militares a fim de continuarem governando, o que levou a ditaduras ferozes ou a
sangrentas guerras civis.
Nos últimos 60 anos, mais de 35 conflitos armados ocorreram, causando a morte
de aproximadamente 10 milhões de pessoas e provocando grandes movimentos de
refugiados. Em média, há 6,6 milhões de refugiados internos em todo o continente
africano, o que corresponde a um terço do total mundial.

A conflitualidade multimensional da África acarretaram numa desagregação e


deterioração do poder do Estado e ao surgimento de marcantes clivagens sociais,
religiosas, politicas e militares que refletem nos graves problemas sociais, como a
pobreza, acesso deficitário ou ineficiente a educação, saúde, segurança. A África
responde por menos de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial e tem quase
metade da população vivendo abaixo da linha de pobreza (com renda inferior a 1
dólar por dia).

Exemplo de alguns conflitos

País Motivos

Tunísia Ditadura

Egito Ditadura

Líbia Ditadura

Saara Território; Religião

Argélia Dinastia (350 anos); Recursos naturais (fosfato).

Sudão Étnico (19 e 597 subgrupos); Separatista

Nigéria Ditadura, Estado Islâmico

Serra Regime Unipartidário e Recursos naturais


Leoa (diamante)

Libéria Ditadura. Violação direitos humanos – Intervenção


ONU

Somália Estado Islâmico e Recursos naturais


Congo Movimento libertação e Recursos naturais (
petróleo, minerais, metais preciosos e água)

Ruanda Étnico

2. RUANDA

A República Ruandesa é considerada república desde sua independência da


Bélgica em 1° de julho de 1962. A população consiste em três grupos étnicos:
pigmeus (1%), hutus (90%) e tutsis (9%).
No período pré-colonial ocorreu uma miscigenação entre esses grupos étnicos,
com adoção da mesma língua, religião e relações sociais. No século XVII, Ruanda
foi colonizada pela Alemanha e durante esse período, os hutus trabalhavam como
lavradores e os tutsis como pecuaristas e pastores. Após a Primeira Guerra Mundial,
a Liga das Nações entregou administrativamente o território ruandês para a Bélgica.
Os belgas mantiveram a preferencia pela minoria tutsi e firmaram suas ideias de
dominação e submissão através da distinção dos grupos étnicos. Os belgas
transformaram os tutsis em elite e concentrou-lhes o poder político, administrativo,
militar e econômico.
Os primeiros conflitos entre hutus e tutsis aconteceram em 1959 e em 1961 os
hutus derrubaram a aristocracia tutsis e aboliram as servidões e marginalizar a
comunidade tutsi. Em julho de 1962, Ruanda ganhou a independência plena da
Bélgica e Grégoire Kayibanda foi empossado presidente.
Durante os anos 70, a autonomia hutu foi consolidada e ficou instituído o
confisco de bens, provocando o deslocamento da população tutsi para outros
países da África além da criação da lei que proibia o casamento misto entre as duas
etnias e estabelecimento de leis de exclusão. Nessa mesma época, em 1973, o
major Juvenal Habyarimana chegou ao poder através de um golpe de Estado,
surgindo a Segunda República com Habyarimana presidente (MATTOS, 2007).
A partir de 1990, uma série de problemas gerou conflitos internos, conduzindo o
país a uma guerra civil. Os tutsis, exilados, formaram a Frente Patriótica Ruandesa
(FPR) e lançaram ataques contra o governo hutu, a partir de Uganda. Também
exigiram participação no governo e o direito de retornar ao país. A FPR e o governo
tentaram acordos sem sucesso, e os tutsis passaram a ser perseguidos.
Em 6 de abril de 1994, o então presidente ruandês, Juvenal Habyarimana e o
presidente do vizinho Burundi, Cyprien Ntaryamira, foram assassinados em um
atentado terrorista, após o avião em que viajavam ter sido atingido por um míssil,
quando aterrissava em Kigali, capital de Ruanda, retornando da Bélgica, onde foram
pedir ajuda humanitária. Esse episódio foi o estopim de muita violência. Os hutus,
enfurecidos, aproveitaram-se e, incitados via rádio (a Radio Télévision Libre des
Mille Collines, dirigida pelas facções hutus mais extremas), começaram a matança.
O rádio foi um meio importante para fomentar o assassinato dos tutsis.
Em 100 dias, quase 1 milhão de pessoas da etnia tutsi foram assassinadas a
golpes de facão. Esse foi o maior genocídio da década de 1990, no mundo. Sob o
comando do tutsi Paul Kagame, a FPR ocupou várias partes do país e, em 4 de
julho, entrou na capital Kigali, enquanto tropas francesas de manutenção da paz
ocupavam o sudoeste, durante a Opération Turquoise. Esse conflito gerou cerca de
2,3 milhões de refugiados. Ainda se trabalha para julgar os culpados pelos
massacres de Ruanda. Até 2001, 3 mil pessoas já haviam sido julgadas, com 500
delas condenadas a penas máximas.
Nas eleições de 2003, Paul Kagame obteve 95% dos votos para a presidência,
derrotando três adversários hutus. Após o pleito, cerca de 2 milhões de hutus
refugiaram-se na República Democrática do Congo, com medo de retaliação por
parte dos tutsis. Muitos regressaram posteriormente, mas ainda conservam-se ali
milícias, envolvidas na guerra civil daquele país.

3. SUDÃO

O Sudão, maior país africano, localiza-se ao sul do Egito e é o cenário de uma


das mais impressionantes crises humanitárias da atualidade. O país é constituído
por 19 grupos étnicos principais e 597 subgrupos que falam mais de 100 dialetos.
Imigrantes da Etiópia, do Chade, da Eritreia e de Uganda completam a
variedade cultural. A elite econômica da região norte sempre dominou o governo,
deixando marginalizados os povos de todas as outras regiões. O resultado é que,
desde sua independência, em 1956, o país viveu apenas 10 anos livre da guerra
civil.
Conflitos internos: árabes x africanos

O Sudão tem uma história de conflitos entre o sul e o norte do país que resultou
na primeira (1956-1972) e na segunda (1983-2002) guerras civis sudanesas.
A primeira guerra cívil sudanesa (1962-1972) ocorreu em função da tentativa do
ditador Ibrahim Abboud forçar a islamização do Sul. Como forma de por fim ao
conflito foi assinado um acordo de paz dando autonomia ao sul.
O segundo conflito sudanês (1983-2002), eclodiu quando o governo da Frente
Nacional Islâmica, do norte do país, enfrentou o Movimento de Libertação do Povo
do Sudão e outros grupos rebeldes do sul. Tal conflito foi um dos mais sangrentos
do país, pois levou à morte cerca de 2 milhões de pessoas. Aproximadamente 400
mil refugiados e 4 milhões de sudaneses perderam suas casas, formando a maior
população de refugiados internos do mundo. Em 2005, depois de vinte anos de
conflitos, o norte e o sul do país assinaram um acordo de paz que garantiu mais
autonomia à região sul e em 2011 foi criado o país Sudão do Sul. O Sudão do Sul é
bem diferente em relação a cultura, etnia e religião e representa 20% do território do
Sudão e 25 % da população.

Darfur

Darfur é a terra dos Fur, ou fourrás, tribos africanas sedentárias que vivem da
agricultura de subsistência. Além desses povos, existem também, na região, os
baggara, beduínos nômades, vivendo fundamentalmente da pecuária. Três etnias
são predominantes na região: os fur (que emprestam o nome à região), os masalit e
os zaghawa, em geral negros muçulmanos ou seguidores de outras religiões da
África Subsaariana. Darfur tem cerca de 5,5 milhões de habitantes, numa região com
baixo nível de desenvolvimento: apenas 15% das crianças do sexo masculino e 10%
do feminino frequentam a escola.
O problema em Darfur tem sua origem atrelada a motivos étnicos, a disputa por
terra, por recursos hídricos, por petróleo e por poder, envolve uma pequena parcela
de árabes nômades criadores de animais e uma maioria de agricultores de tribos
negras como os Fur, os Massaleet e os Zagawa, ou seja, a tensão não é resultado
apenas do choque étnico entre árabes e tribos africanas.
O conflito em Darfur teve inicío em fevereiro de 2003, quando grupos armados
surgidos nas tribos negras da região deram início a um movimento separatista.
Eles acusavam o governo central do Sudão de ser negligente, opressor e
discriminador da maioria negra em favor da minoria árabe. O conflito permaneceu
por meses longe dos olhos e dos interesses das organizações internacionais.
Diferentemente da Segunda Guerra Civil Sudanesa (1983-2002), que opôs o norte
muçulmano ao sul cristão e animista, em Darfur, não se trata de um conflito entre
muçulmanos e não muçulmanos, pois a maioria da população é muçulmana,
inclusive os Janjaweed. Trata-se, sobretudo, de um conflito étnico-cultural que se
iniciou por motivos políticos e ganhou contornos raciais ao longo dos últimos anos.
O governo sudanês reagiu com violência à ação dos separatistas, ligados à
maioria agrícola, e apoiou-se na milícia árabe tribal Janjaweed (milícia árabe), que
iniciou uma ação de limpeza étnica: mataram milhares de agricultores, realizaram
ataques indiscriminados, aplicaram torturas, forçaram-nos a migrar, cometeram
estupros, pilharam e destruíram aldeias inteiras. Na ocasião, centenas de vilas e
pequenos povoados, na região de Darfur, foram absolutamente destruídos e
queimados. Com isso, passou a haver uma forte pressão internacional sobre o
governo sudanês para desarmar a Janjaweed. Segundo a ONU (2009), o conflito já
provocou mais de 300 mil mortos e cerca de 2,6 milhões de refugiados.
Podem-se apontar cinco principais obstáculos para uma solução do conflito: a
origem do país, a fragmentação das milícias, os inúmeros refugiados, o impasse
com a comunidade internacional e a ação da China no país. Seja nos Bálcãs ou na
África, a origem de boa parte das disputas está na formação do país. No Sudão,
não é diferente.

A China e o fator petróleo


Um importante personagem do conflito em Darfur é a China, principal parceiro
comercial do Sudão e seu maior investidor estrangeiro. A amizade sino-sudanesa
é, no mínimo, suspeita e perigosa. Nos últimos anos, o Conselho de Segurança da
ONU enviou uma força de paz para atuar com a União Africana, mas essa tropa
não tem autoridade para desarmar as milícias. Essa regalia, concedida ao governo
de Cartum, foi conseguida graças às pressões da China, que fez do país seu
principal projeto petrolífero no exterior, comprando cerca de 60% da produção de
petróleo do Sudão.
A China usou, por muito tempo, sua posição diferenciada na ONU, exercendo
seu poder de veto no Conselho de Segurança para evitar ações contra o governo
sudanês – tudo em nome da manutenção do comércio do petróleo – e também
forneceu, por muito tempo, armas ao país, mesmo sabendo que muitas delas
acabam nas mãos dos Janjaweeds.
A mídia internacional tem falado muito sobre a crise humanitária que atinge
Darfur, entretanto, os conflitos na região ainda parecem estar longe de uma
solução política real. Enquanto não se vê o fim da violência e a retomada da
estabilidade na região, as agências internacionais têm um compromisso
impreterível pela frente: aliviar o sofrimento da população.
A situação pode piorar, uma vez que o governo sudanês não permite a entrada
de agências internacionais, seja para monitoramento ou para ajuda humanitária, de
forma que milhares de pessoas podem vir a morrer de fome ou de doenças
decorrentes da má condição de vida.

Sudão do Sul – O novo país africano

O sul do Sudão se considera muito diferente do norte em cultura, religião e


etnia, e almejava a separação, pois alega ter sofrido anos de discriminação. O sul
possui 20% do território, 25% da população, é recoberto por estepes, savanas e
florestas tropicais e é habitado por africanos negros não islamizados de diversas
etnias e que professam o cristianismo e outras religiões africanas tradicionais
animistas em sua maioria. Já o norte é basicamente desértico, com população de
africanos negros islâmicos e arabizados, embora existam diversas outras etnias na
região. O Sudão, em outras palavras, representa uma retrato fiel do território
africano, já que não há país nesse continente que não seja multi-étnico ou
composto por muitas etnias nômades que atravessam fronteiras nacionais.
Após décadas de conflito entre o norte e o sul, um plebiscito realizado em
janeiro de 2011, definiu pela divisão do país. A votação já estava prevista no
acordo de paz que encerrou décadas de guerra civil entre o norte e o sul do país,
firmado em 2005.
O resultado final do referendo, aceito pelo presidente sudanês, Omar Al-Bashir,
mostrou que a maioria dos eleitores votaram pela criação de um novo país no sul.
Em Cartum, capital sudanesa, as autoridades do país revelaram que, dos votos
válidos, apenas uma minoria foi a favor de manter a unidade sudanesa.
Observadores internacionais temiam pela aceitação do resultado por parte de
Omar Al Bashir, e desconfiavam de sua postura que, em alguns momentos, soa
como duvidosa em função de seu passado de crimes na região. Sua cooperação
tem sido interpretada por alguns estudiosos como uma barganha, pois Bashir
almeja retirar o Sudão da lista norte-americana de países que patrocinam o
terrorismo, o que faz com que o Sudão seja alvo de uma série de embargos
internacionais, e ainda se livrar da ordem de captura do Tribunal Penal
Internacional. Porém, essas são apenas especulações que poderiam ajudar a
compreender a mudança repentina no comportamento do ditador.
Com a formalização e anúncio oficial da independência do Sudão do Sul,
espera-se que os chefes de Estado de diversos países e ainda entidades
multilaterais como a União Africana e a ONU reconheçam o novo país.

O conflito no Sudão do Sul


Ligia Maria Caldeira Leite de Campos (UNESP)

O cenário que se apresenta no Sudão do Sul é preocupante: uma situação


humanitária alarmante, repetidas violações de direitos humanos e uma guerra que
aparenta não estar em vias de acabar. Ao observar esse quadro, questiona-se o
porquê disso estar ocorrendo e o que fazer para solucionar as questões ali postas.

O Sudão do Sul é um país africano que se tornou independente em 2011, como


resultado de um longo processo violento que incluiu o Amplo Acordo de Paz
(Comprehensive Peace Agreement – CPA) de 2005 que, dentre vários pontos,
previu um referendo para que a população do seu território optasse pela separação
ou não do Sudão. Na luta pela autonomia, destacou-se o Movimento/Exército de
Libertação do Povo do Sudão (Sudan People’s Liberation Movement/Army –
SPLM/A) como maior grupo opositor ao governo sudanês baseado na capital,
Cartum. O SPLM é o partido que atualmente governa o país, que tem como
presidente Salva Kiir e como vice-presidente Riek Machar.
O atual conflito é centrado na disputa por poder dentro do partido e, por
conseguinte, na presidência do país, expressado pela rivalidade entre Kiir e
Machar. Discute-se que a origem dessa querela estaria ligada a atitudes distintas
dos propósitos originais do SPLM e às medidas arbitrárias tomadas pelo
presidente, incluindo a destituição do seu vice-presidente em 2013. Naquele ano,
essas questões, somadas a atos contra a etnia Nuer, levaram Machar a reunir o
SPLM-IO (SPLM in Opposition), principal grupo de oposição ao presidente,
iniciando confrontos violentos entre as partes.

Ações contra a população e violações de direitos humanos tornaram-se comuns,


resultando num grande número de desalojados e refugiados. Em 2015, as
negociações por um acordo de paz previram a formação de um governo de
transição, o que não aconteceu. Em julho de 2016, a situação se agravou e
enfrentamentos na capital do país, Juba, deixaram por volta de 300 mortos em
quatro dias. Machar então se exilou na República Democrática do Congo (RDC),
sendo que hoje se encontra na África do Sul.

Após o ocorrido, as ações contra os civis e a violência aumentaram. Nesse


sentido, as ações do governo tornaram-se mais robustas no combate à oposição, o
que trouxe um alerta para a possível ocorrência de um genocídio relacionado com
o fato de Kiir ser da etnia Dinka e Machar da etnia Nuer.

Na realidade, o país nasceu com sérios problemas, como falta de infraestrutura,


extrema pobreza e baixa qualidade de vida. Com o conflito, e principalmente depois
de julho de 2016, casos de estupro coletivo, assassinatos, assaltos, tortura e
sequestros passaram a ser constantes. Com isso, o número de refugiados,
especialmente em países vizinhos, e de deslocados internos do país cresceu de
maneira assombrosa, e a situação humanitária se tornou preocupante.

A atuação da Organização das Nações Unidas (ONU) se dá particularmente por


meio da Missão de Paz das Nações Unidas na República do Sudão do Sul
(UNMISS). Com a intensificação do conflito, a UNMISS direcionou suas ações para
a proteção de civis e garantia dos direitos humanos e o Conselho de Segurança da
ONU aprovou o envio de 4 mil militares de países da região para se unirem aos 12
mil já presentes no país. No entanto, a Missão recebe críticas por não conseguir
lidar com a situação.
O conflito tem relação com a influência e intervenção de países vizinhos. Alguns
grupos étnicos desses países estão presentes no Sudão do Sul. O governo de
Uganda tradicionalmente apoiou Kiir, apesar de estar repensando essa postura.
Além disso, o grupo armado ugandês Lord’s Resistance Army (LRA) também atua
no Sudão do Sul. Autoridades da Etiópia se destacam por seu papel na mediação
do conflito. Já o governo do Quênia visa manter a estabilidade na região. A RDC
abrigou Machar em seu território quando foi destituído da função, gerando
acusações do governo sul-sudanês. Os Estados Unidos e os países europeus
agem por meio de sanções aos líderes envolvidos no conflito. Já a China aumentou
sua participação na operação de paz da ONU no país.

O conflito no Sudão do Sul é complexo e, por conta disso, ficam dúvidas sobre
como será resolvido. Na realidade, trata-se mais de uma questão política do que
étnica. Problemas sociais e de governança e instituições ineficientes juntam-se à
falta de vontade das partes envolvidas de resolvê-lo. A vulnerabilidade econômica
e a extrema dependência da produção de petróleo contribuem para o conflito.

Os problemas profundos do país não permitem soluções de curto prazo. Se há a


imediata necessidade de agir contra as violações de direitos humanos e para evitar
o alastramento da violência, somente medidas a longo prazo que permitam a
reorganização do país podem levar a uma paz sustentável. Por enquanto, os
esforços internacionais têm se mostrado incapazes de resolver o conflito no Sudão
do Sul.

Desafios
O acordo de paz firmado em 2005 também estabelecia que os rendimentos
com a exportação de hidrocarbonetos seriam divididos de forma igualitária entre as
porções setentrional e meridional do território sudanês. Com a divisão em dois
novos países será necessária uma renegociação desse ponto do acordo, já que os
hidrocarbonetos e a logística de escoamento se encontram distribuídos de forma
desigual no território, a maior parte das reservas de gás e de petróleo se
encontram na porção sul e a infraestrutura de refino e de transporte na porção
setentrional (inclusive o Porto Sudão, tendo em vista que a exportação necessita
de acesso ao Mar Vermelho). Esse fato, sem dúvida, constitui um ponto de grande
fragilidade neste momento e obriga os dois novos países a estabelecerem uma
cooperação econômica, pois uma guerra para definir essa questão não seria
interessante para nenhuma das partes.

A definição das fronteiras constitui um ponto delicado neste momento. Na


área fronteiriça está situado o distrito de Abyei, reivindicado pelas duas partes e
potencial foco de conflito. Deveria ter ocorrido simultaneamente à consulta sobre a
separação ou não das regiões, outro referendo para decidir a qual região a
população residente deseja pertencer, mas não houve consenso sobre a votação
e a questão continua em aberto. Há também outras questões importantes a serem
tratadas como a divisão dos recursos hídricos do Nilo e a concessão de cidadania,
(Omar Al Bashir ameaça anular a cidadania de cerca de 1,5 milhão de sudaneses
do Sul que se mudaram para o norte durante as guerras civis).
Diferentes quanto às condições naturais, culturais e humanas, as duas
regiões são muito parecidas quanto à condição socioeconômica. Apesar de ser
rico em petróleo, o Sudão do Sul é uma das regiões menos desenvolvidas do
planeta. Tal qual a maioria dos países da África Subsaariana, os dois países são
marcados por uma pobreza extrema.
4. ÁFRICA DO SUL
Até 1994, a maioria negra do país ainda não possuía direitos políticos, em
razão da política do apartheid. Esses direitos começaram a ser retomados em
1990, com a libertação, mediante pressões internacionais, do ativista político e ex-
presidente sul-africano, Nelson Mandela.
Atualmente, as leis do país garantem igualdade política a todos. O país elege
seus presidentes, democraticamente, desde 1994 e a maioria das autoridades do
país é negra, como o atual presidente, Jacob Zuma, eleito em 2009. Apesar das
vitórias políticas, a África do Sul ainda é um país marcado por enorme
desigualdade social, com altos índices de pobreza e com a maior parte da riqueza
concentrada nas mãos de uma minoria branca.
A África do Sul é uma nação de aproximadamente 50 milhões de pessoas de
diversas origens, culturas, línguas e religiões. Há enorme predominância da
população negra sobre os brancos, que, apesar disso, ocupavam uma área de
cerca de 87% do território do país.

Apartheid
A política do apartheid (“separação”, em africander) foi instituída em 1948,
com a ascensão do Partido Nacional, de cunho racista, ao poder. O novo governo
decretou uma série de proibições aos negros como o acesso à propriedade da
terra, a participação política e o casamento entre raças diferentes. Além disso, os
sujeitaram à utilização de meios de transportes e zonas residenciais segregadas,
os bantustões, de forma a manter os negros fora dos bairros e terras brancas, mas
suficientemente perto delas para servirem de mão de obra barata. Os bantustões
(“homelands”) constituíam enclaves autogovernados pela população negra de
acordo com a política do apartheid.As restrições não eram apenas sociais, pois
eram obrigatórias pela força da lei vigente.
Apesar da proibição de toda forma de manifestação política, a oposição ao
apartheid cresceu nas décadas de 1950 e 1960, quando o Congresso Nacional
Africano (CNA), organização negra criada em 1912, lançou a política da
desobediência civil.
O maior líder da CNA, Nelson Mandela, iniciou sua luta contra o apartheid em
1947, como ativista, sabotador e guerrilheiro. Mandela foi considerado por muitas
pessoas um guerreiro em luta pela liberdade da população negra, mas foi
considerado um terrorista pelo governo sul-africano.
Por sua luta, Mandela foi preso em 1962 e condenado à prisão perpétua. Ao
longo das décadas seguintes, a repressão aos negros do país continuou
implacável, sendo a década de 1980 a mais violenta, marcada pela ação da polícia
e de soldados que patrulhavam diversas cidades sul-africanas em veículos
armados. Eles detinham milhares de negros, abusavam deles e os matavam.
Rígidas leis de censura tentaram esconder esses eventos, banindo a mídia e os
jornais do país. Entretanto, como em 1976 a ONU condenou a organização dos
bantustões, esses territórios deixaram de existir e, em 1994, foram reincorporados
à África do Sul.
Em 1989, Frederik de Klerk foi eleito presidente da África do Sul e, em 2 de
fevereiro de 1990, declarou que o apartheid havia fracassado, revogou as
proibições aos partidos políticos, incluindo o CNA, que recuperou a legalidade e
aceitou discutir a transição rumo a um regime democrático. Nesse mesmo ano,
Nelson Mandela foi libertado da prisão, após 28 anos, e todas as leis
remanescentes que apoiavam o apartheid foram abolidas.
As mudanças políticas foram aprovadas em 1992, no último referendo popular
exclusivo da população branca. Dois anos depois, em abril de 1994, foram
realizadas as históricas eleições multirraciais da África do Sul, vencidas por Nelson
Mandela.

Desde 1994, a África do Sul já foi readmitida em mais de 16 organizações


internacionais, das quais havia sido banida devido à sua política segregacionista.
Diversos organismos internacionais, como o Banco Mundial e a União Europeia,
têm apoiado o país em projetos estruturais, políticos e sociais objetivando a sua
reestruturação e reinserção na comunidade mundial.
O governo de Mandela herdou uma economia precária devido aos longos
anos de conflito interno e às sanções externas. Apesar do início difícil, anos depois
do fim do apartheid, a África do Sul se consolidou e expandiu seu peso político e
econômico. Seu Produto Interno Bruto (PIB) representa cerca de 35% do PIB de
toda a África Subsaariana.
Há que se considerar, no entanto, que esse desenvolvimento econômico
expressivo está bastante concentrado em torno de apenas quatro cidades: Cidade
do Cabo, Port Elizabeth, Durban e Pretória / Johannesburg. Fora desses quatro
centros econômicos, o desenvolvimento é reduzido e a pobreza ainda é prevalente.
Apesar dos esforços governamentais, a grande maioria dos sul-africanos ainda é
pobre: mais de metade da população vive abaixo da linha da pobreza, com renda
inferior a 2 dólares por dia, o desemprego é extremamente elevado e a
desigualdade de renda é semelhante à do Brasil.
O crescimento econômico não resolveu os problemas estruturais nem
reverteu a concentração de renda. O país, onde a expectativa de vida não
ultrapassa 49,2 anos, ainda vive outros problemas sociais e políticos, como a
criminalidade, a corrupção e a epidemia de HIV/AIDS, principal causa da
mortalidade, que já atinge mais de 5,3 milhões de pessoas.
A ONU realizou uma pesquisa, no início do século XXI, na qual a África do Sul
foi classificada em segundo lugar, entre todos os países do mundo, em
assassinatos e, em primeiro, em assaltos e estupros.

5. OS CONFLITOS NA ETIÓPIA

3.
4.
5.
6.
O mapa acima se refere à Etiópia, ou Ethiopia, a Abissínia da Antigüidade,
país do norte-oriental da África, ou do chamado Chifre da África. O nome do país
vem do nome do soberano Etiópis, cujo reinado data de 1856 a.C. (IRIE, 2001 - p
21). As origens de sua unificação como Império, podem ser encontradas mais
tarde, cerca 900 anos antes de Cristo, quando teve início a dinastia do trono etíope,
com o Rei Menelik I que, segundo a "lenda" histórica, seria filho do Rei Salomão, o
Rei Hebreu da Bíblia judaico-cristã, com a Rainha Sheba, ou Rainha de Sabá,
governante de Shoa, terras abissínias. Menelik I foi o fundador e primeiro rei do
Império de Askum, semente da Etiópia atual.

Os primeiros habitantes do território etíope pertenciam a variadas etnias


entre as quais predominavam os semitas árabes. A herança de Salomão, que a
História comprova por meio de numeroso documentos, (como escrituras sagradas
judaico-cristãs, apócrifas e canônicas) evidencia-se na forte presença de elementos
da cultura judaica que a Bíblia Africana, o Kebra Negast (Glória dos Reis) explica
como resultado de uma viagem empreendida por Menelik I à Israel, justamente
para conhecer seu pai, Salomão, e ele com aprender a Ciência Política e os
princípios da sabedoria e da religião.

Em 1520, chegaram ao reino da Etiópia e posteriormente ajudaram os


etíopes a repelir uma invasão muçulmana. Com os portugueses vieram também os
jesuítas, que tentaram converter todo o reino à fé católica e quase tiveram êxito. O
imperador Sussênio estava disposto a se converter, mas as exigências dos jesuítas
e o descontentamento da população, arraigada à antiga fé, forçaram o monarca a
abdicar em 1632. Os missionários católicos foram expulsos e a capital do império
transferiu-se para Gondar. Nos séculos seguintes instaurou-se na Etiópia um
sistema feudal em que o poder era exercido por grandes senhores, denominados
ras. Nesse período, a influência portuguesa aumentou e os ataques egípcios
tornaram-se mais freqüentes. Em meados do século XIX, um chefe da guerrilha
contra os egípcios, Kassa, se fez proclamar imperador, sob o nome de Teodoro II,
recuperou territórios perdidos e restabeleceu a ordem no país. Começava, então, a
unificação da Etiópia moderna. Para modernizar seu reino, o imperador
estabeleceu relações com os ingleses, mas vários conflitos - incidentes
diplomáticos e atividades dos missionários protestantes - levaram à ruptura com o
Reino Unido.

Em 1867, tropas inglesas invadiram o país e, no ano seguinte, ante a


iminência da derrota, o imperador suicidou-se. O turbulento período que sobreveio
à morte de Teodoro II durou até 1889, ano em que Menelik II ocupou o trono. O
imperador concluiu a unificação territorial, cuidou da modernização do país e
fundou uma nova capital em Adis Abeba. Nessa época, os italianos já haviam
começado a controlar a Eritréia, mas Menelik II conseguiu detê-los na batalha de
Adua em 1896. Em 1906, França, Reino Unido e Itália assinaram um acordo pelo
qual dividiam a Etiópia em três zonas de influência econômica, embora se
respeitasse a integridade do território etíope. Hemiplégico, Menelik II abdicou em
1907 e voltaram as desordens. Morta a imperatriz Zauditu, filha de Menelik, o ras
Tafari, sobrinho-neto de Menelik, foi coroado imperador em 1930, sob o nome de
Hailé Selassié I, que significa "a força da Trindade". Em 1931, o imperador
proclamou uma constituição que lhe outorgava poder absoluto por direito divino e
estabeleceu um parlamento consultivo bicameral. A Itália invadiu a Etiópia em 1935
e ocupou a maior parte do país até 1941, ano em que ocorreu a libertação pelas
tropas inglesas e francesas. Hailé Selassié reassumiu o governo e começou então
uma fase de reformas políticas e de modernização econômica. Em 1952, a Eritréia
uniu-se à Etiópia como estado federado, transformado em província do reino em
1962. O imperador manteve seu programa de modernização do país e, em 1955,
proclamou nova constituição. Em 1973 o descontentamento era geral. A existência
de vários focos de conflito na Eritréia e na fronteira com a Somália, o castigo da
seca e da fome, a corrupção governamental e a dureza de que lançou mão o
imperador para reprimir os conflitos criaram uma situação de frequentes choques
políticos. O Exército, que aos poucos aumentara sua influência no governo,
destituiu o imperador em 12 de setembro de 1974. Em 1975, a monarquia foi
abolida e proclamou-se a república socialista. A partir desse momento, instaurou-se
um Conselho Administrativo Militar Provisório (CAMP), popularmente chamado de
Deurg, presidido pelo chefe de estado, general Teferi Benti.

O governo adotou uma ideologia marxista-leninista e, em 1977, Mengistu


Hailé Mariam tornou-se chefe de estado. Uma vez constituído o governo militar,
este realizou uma reforma agrária e nacionalizou as empresas, mas logo surgiram
complicações, como o descontentamento de chefes provinciais e os conflitos na
Eritréia e Ogaden, que provocaram uma sangrenta guerra civil. Diante dos
contínuos ataques da Somália, a Etiópia recorreu à ajuda soviética e cubana e
assim conseguiu derrotar o país vizinho. Em 1990, com a dissolução da União
Soviética, Mengistu perdeu seu principal aliado internacional. No ano seguinte, teve
de deixar o país em consequência do avanço das forças da Frente Democrática
Revolucionária do Povo Etíope (FDRPE). Um governo provisório assumiu o
controle de todo o país, mas permitiu uma administração autônoma na Eritréia,
então dominada pela Frente Popular de Libertação da Eritréia. Em maio de 1993 a
Eritréia tornou-se independente, depois de um plebiscito em que 99,8% dos
votantes optaram pela separação.

Em 1991, o poder executivo, que no regime de Mengistu era exercido pelo


comitê central do CAMP, passou a um governo provisório assistido por uma
câmara legislativa, o Conselho de Representantes. Meles Zenawi, dirigente da
FDRPE, assumiu a presidência da república. A Etiópia se divide em regiões
administrativas, que se subdividem em províncias e distritos. Cada região desfruta
de certa autonomia, que se deve mais às dificuldades topográficas e de
comunicação que a uma verdadeira política descentralizadora. Sociedade e cultura.
O predomínio da agricultura de subsistência, o subdesenvolvimento, a precária
infraestrutura, as exportações pouco diversificadas e a ausência de capital nacional
são fatores de pauperismo no país. Além do subdesenvolvimento, o flagelo da seca
e os permanentes conflitos internos, em particular os movimentos separatistas, e
externos, como os que ocorrem na fronteira com a Somália, dizimam e consomem
a população etíope. Grande parte da população pertence à Igreja Ortodoxa da
Etiópia, antes associada à Igreja Copta do Egito, que professa um cristianismo
monofisista (defende a natureza única de Jesus Cristo). Existe, além disso, um
grupo importante de muçulmanos e outros menores de animistas, cristãos não-
ortodoxos e judeus. Os meios de comunicação, tanto os jornais, cuja publicação se
centraliza em Adis Abeba, como a televisão e o rádio, se acham sob controle do
governo. O mais popular deles é o rádio, que juntamente com a televisão transmite
programas em vários idiomas - amárico, inglês, somali e árabe. A religião cristã
nacional dominou historicamente a vida cultural etíope. Tanto na pintura como na
literatura abundam os temas religiosos. As línguas dominantes na literatura etíope
foram o gêes, que continua sendo utilizado na liturgia da igreja, e o amárico, língua
tradicional da corte, oficial no país. O governo militar tentou criar condições
propícias para o uso de todas as línguas e a prática de hábitos culturais próprios de
cada grupo, a fim de fortalecer a unidade nacional e desencorajar o separatismo.

CONFLITO COM ERITRÉIA


Entre os conflitos regionais seculares, nos quais, hoje, guerrilhas são freqüentes,
destaca-se a questão da Eritréia. A Eritréia é uma pequena faixa de terras
litorâneas no nordeste da Etiópia, às margens do Mar Vermelho. Em diferentes
períodos históricos foi anexada e desmembrada por sucessivos movimentos
políticos. Em 1960, o imperador etíope Haile Selassie, sucessor de Menelik II,
conseguiu reintegrá-la ao território temporariamente. O domínio caiu mas foi
recuperado pelo governo militar que substituiu Selassie e converteu o país em
Estado Socialista. A importância da Eritréia reside no fato daquela área ser a única
"porta para o mar" possível para a Etiópia. O governo etíope foi contestado
ativamente pela Frente Popular Marxista de Libertação da Eritréia, organização
nacionalista, militar e política. A Eritréia tornou-se um país independente da Etiópia
em 1993. Entretanto, na região de Ogaden, somalis ainda reivindicam autonomia.

6. República Democrática do Congo


Isabela Zorat Alonso (UNESP ciência)

As características da República Democrática do Congo (RDC) fazem com que


seus conflitos tenham caráter complexo, envolvendo atores heterogêneos –
nacionais e internacionais, estatais e não estatais – com interesses políticos,
econômicos, étnicos e culturais.

O país localiza-se na África Central, na região conhecida como Grandes Lagos,


fazendo fronteira com República do Congo, República Centro-Africana, Sudão,
Uganda, Ruanda, Burundi, Tanzânia, Zâmbia e Angola, os quais têm influência no
conflito congolês. A RDC é um país rico em recursos naturais, possuindo grandes
florestas, reservas hídricas e subsolo rico em minérios, fato que desperta o
interesse de grupos internos e de outros países em explorar seu território.
A RDC alcançou sua independência em 30 de junho de 1960, porém na prática
o
país continuou tendo caráter colonial, visto que seus quadros administrativos
continuaram sob o poder dos belgas, fato que levou a manifestações da população
e à invasão de tropas belgas para neutralizá-las. Anos mais tarde os congoleses
presenciaram o primeiro golpe de Estado, que deu origem à ditadura de Joseph
Mobuto. Quando seu governo perdeu força com o fim da Guerra Fria, o país
mergulhou na Primeira Guerra Civil do Congo (1996-1997) e, ao fim desta, na
Segunda Guerra Civil do Congo (1998-2003). Nesse contexto, a RDC passou por
golpes de Estado, governos ditatoriais, e a Organização das Nações Unidas (ONU)
já estabeleceu três missões de paz na tentativa de encerrar o conflito e garantir a
paz, até o momento sem sucesso.

O atual conflito envolve, principalmente, disputa de poder econômico e político.


A RDC conta com mais de duzentos grupos étnicos, que disputam territórios,
recursos naturais e poder político. Está presente no país uma grande variedade de
grupos armados – internos e advindos de países vizinhos –, alguns rivais, outros
que se juntam em alianças de acordo com a situação do momento para
consecução de seus interesses. Governos de países vizinhos como Ruanda e
Uganda acusam o governo congolês de apoiar grupos rebeldes opositores e usam
suas forças armadas para apoiar grupos congoleses e, por vezes, para intervir no
território da RDC.

Tornando a dimensão ainda mais complexa, existem as instituições privadas


que, interessadas na exploração dos recursos minerais, financiam determinados
grupos para garantir o domínio de um território específico, em troca de concessões
de direito de exploração. Sendo assim, conforme o domínio das terras se altera
com as disputas, as fontes de recursos dos grupos também mudam.

Na tentativa de estabelecer um cessar-fogo, proteger civis e construir a paz


destaca-se a atuação da ONU, de suas agências especializadas e de outras
organizações não governamentais. A ONU já implementou duas operações de paz
que não conseguiram alcançar seus objetivos principais: a United Nations
Operation in the Congo (ONUC), na década de 1960, e a United Nations
Organization Mission in the Democratic Republic of the Congo (MONUC), na
primeira década dos anos 2000. Desde 2010 está em andamento a United Nations
Organization Stabilization Mission in the Democratic Republic of the Congo
(MONUSCO), com mais de 18 mil militares e policiais.

Esta operação foi a primeira da ONU que teve a incorporação de uma Brigada
de Intervenção, em 2013, com mandato para atacar grupos armados, devidamente
nomeados pelo Conselho de Segurança da ONU (CS). Até o momento, a medida
resultou em alguns avanços, como a rendição de alguns importantes grupos
armados, como o M23. Porém, o emprego da força, autorizado pelo CS, alterou
dinâmicas mas não resolveu o conflito, fazendo com que grupos se unissem e/ou
alterassem suas táticas e, assim, vários deles continuam vivos e impactando o
conflito.

Além disso, a ação mais impositiva do componente militar da MONUSCO, junto


com as forças armadas congolesas, aumentou a capacidade do governo do
presidente Kabila que, em consequência, mostrou menor disposição de negociar
com os grupos opositores. Nesse sentido, os esforços internacionais não
conseguiram estabelecer a paz efetiva e garantir a proteção de todos os civis
ameaçados de violência física. Como consequência, os mandatos da operação de
paz têm sido estendidos nos últimos anos, praticamente nos mesmos termos.

O principal problema é que a população é a que mais sofre, sendo vítima de


constantes violações do direito internacional humanitário e dos direitos humanos.
Os civis se veem obrigados a se deslocarem de suas moradias, buscando muitas
vezes refúgio em campos de desalojados ou nos países vizinhos, os quais são
impactados por esses deslocamentos. Quando refugiados buscam abrigo em
regiões de mesma etnia, o impacto não fica restrito aos aspectos econômicos mas,
por vezes, esses deslocamentos acabam aumentando a capacidade de grupos
étnicos que também atuam nesses países. Esses grupos normalmente operam
redes transnacionais relacionadas com o comércio ilegal de recursos naturais e
armas que alimentam grupos armados e, por conseguinte, o conflito.

Por conta de suas características, o conflito na RDC se apresenta como


complexo e intratável. Apesar de ter suas origens na colonização, e causas mais
aproximadas na década de 1990, ele segue se agravando e colocando em risco
cada vez maior a vida de milhares de pessoas. Os esforços para o estabelecimento
da paz até o momento não obtiveram resultados satisfatórios, nem mesmo com
operações de paz mais robustas. Percebem-se mudanças nas dinâmicas do
conflito, porém as estruturas internas continuam as mesmas, o que contribui para a
continuação das hostilidades.

7. Conflito na Libéria
Juliana de Moura Fraquetto (UNESP Ciências)

A Libéria, sendo a república mais antiga do continente africano, teve sua


origem em 1822, como colônia da Sociedade Americana de Colonização (SAC), da
qual se tornaria independente somente em 1847. A SAC visava relocar na África os
afro-americanos em território onde já viviam povos autóctones. Assim, a hierarquia
racial dentro da Libéria desde o início foi liderada pelos afro-americanos (ou
américo-liberianos) de pele mais clara, seguidos dos afro-americanos de pele mais
escura que, por sua vez, estavam acima dos escravos capturados em navios
negreiros interceptados, chamados de “congoleses” e, por último, os povos
autóctones.

Neste cenário, dois grandes partidos políticos se formaram no país: o Partido


Republicano, comandado pelos colonos de pele mais clara, e o True Whigs,
comandado por colonos negros de pele mais escura, congoleses e autóctones
mais instruídos, que permaneceu no governo entre os anos de 1877 e 1980.

O penúltimo presidente do partido foi True Whigs foi William Tubman,


responsável pela abertura da economia nacional aos investimentos estrangeiros.
Com sua morte, em 1971, assumiu o vice-presidente, William Tolbert Jr., cujos
planos políticos destoavam das medidas tomadas por seu antecessor. O declínio
da economia nacional, o aumento da tensão popular e o governo sem meios
suficientes para evitar que o caos se instalasse internamente resultaram num golpe
de Estado e no assassinato de Tolbert a mando do então líder do Conselho de
Redenção Popular – People’s Redemption Council (PRC), Samuel Doe, membro
da etnia autóctone Krahn.

Doe enfrentou dificuldades de administração e sua postura excessivamente


autoritária levou a uma articulação militar liderada por Charles Taylor, ex-
guerrilheiro que atuou na Líbia a favor do então presidente Muammar Gaddafi.
Taylor formou a National Patriotic Front of Liberia (NPFL) cujos membros cruzaram
a fronteira entre Serra Leoa e a Libéria, em dezembro de 1989, iniciando a Primeira
Guerra Civil do país.

A NPFL contava com combatentes da Libéria, da Gâmbia e de Serra Leoa,


além de receber equipamentos bélicos dos governos de Burkina Faso, Líbia, Gana
e Nigéria, e também da Costa do Marfim, cujo presidente tinha laços familiares com
William Tolbert Jr., assassinado por Samuel Doe em 1980.

O presidente Doe intensificou as ações militares das Forças Armadas da


Libéria – Armed Forces of Liberia (AFL), cujas hostilidades resultaram no massacre
de diversas etnias, com exceção dos Krahn. Durante o conflito, a NPFL teve
desavenças internas que resultaram em facções paralelas inimigas tanto da AFL
quanto da NPLF, como a Independent National Patriotic Front of Liberia (INPFL),
baseada na etnia Gio. Outros grupos rebeldes surgiram a partir das forças já
existentes em conflito, como o United Liberation Movement of Liberia for
Democracy (ULIMO), baseado nas etnias Mandingo e Krahn e apoiado por Nigéria,
Guiné e Serra Leoa. Em 1994, o ULIMO se subdividiu em duas facções armadas:
ULIMO-K, com soldados da etnia Mandingo, e ULIMO-J, com soldados da etnia
Krahn.

As primeiras medidas internacionais em relação ao conflito só surgiram na


segunda metade de 1990, com a ação do ECOWAS Ceasefire Monitoring Group
(ECOMOG), que recebeu apoio da AFL e da INPFL na luta contra os insurgentes
da NPFL. Porém, a extrema violência dos insurgentes prejudicou a eficácia de suas
atividades. O conflito se tornou mais intenso após o assassinato de Doe, em
setembro de 1990.

A NPFL e a INPFL concordaram em assinar um cessar-fogo, em 1991, mesmo


ano em que uma Conferência Nacional elegeu um presidente interino para
reestabelecer a ordem no país. Charles Taylor discordou da decisão e pediu a
presença das tropas da Organização das Nações Unidas (ONU) em território
liberiano. No entanto, a ONU só interviu na guerra civil da Libéria em novembro de
1992, por meio do embargo de armas aos insurgentes. A Missão de Observação
das Nações Unidas na Libéria – United Nations Observer Mission in Liberia
(UNOMIL) só foi estabelecida em setembro de 1993 e durou aproximadamente
quatro anos.
Ao final do conflito os grupos rebeldes liberianos se transformaram em partidos
políticos e Charles Taylor venceu as eleições de 1997. As perseguições étnicas
recomeçaram, principalmente contra os povos que antes se opuseram às medidas
da NPFL. O novo cenário de fragilidade na Libéria se estendeu às fronteiras ao
norte, onde surgiram os dois principais grupos rebeldes contra as medidas de
Taylor, em 1999. A Liberian’s United for Reconciliation and Democracy (LURD) era
formada por ex-combatentes do ULIMO-K e recebeu apoio da Guiné e de Serra
Leoa. O Movement for Democracy in Liberia (MODEL) era composto por ex-
combatentes do ULIMO-J e apoiado pela Costa do Marfim. Num certo ponto do
conflito, o LURD e o MODEL chegaram a controlar entre 60% e 80% do território
liberiano.

O Conselho de Segurança da ONU (CS) determinou que os Estados vizinhos


da Libéria cessassem o fornecimento de armas ao país, em maio de 2002. A
intervenção da Organização só ocorreu um ano e meio depois, com a criação da
United Nation Mission in Liberia (UNMIL), cujo mandato foi recentemente renovado
até março de 2018. Após quase quatro anos de batalhas travadas, principalmente
entre o LURD e as tropas de Taylor, a comunidade internacional intensificou a
pressão para que o presidente deixasse o governo da Libéria. Ao mesmo tempo,
novas tropas do ECOMOG e dos EUA chegaram ao país, buscando facilitar o
estabelecimento de um novo acordo de cessar-fogo e de um novo governo interino,
o que ocorreu em agosto de 2003.

Charles Taylor se exilou na Nigéria até 2006, quando foi entregue e


condenado, em 2012, pelo Tribunal Especial para Serra Leoa, a 50 anos de prisão
pela morte de dezenas de milhares de pessoas entre 1990 e 2003 na Libéria e pelo
apoio aos rebeldes da guerra civil em Serra Leoa.

O exposto demonstra que grupos armados surgiram, se aliaram e se dividiram,


permitindo o surgimento de novos grupos que foram dando complexidade ao
conflito. Demonstra, também, a relação que se estabeleceu no conflito entre grupos
armados e etnias que compõem a sociedade liberiana. Por fim, o conflito na Libéria
esteve conectado aos demais Estados da região do Rio Mano, principalmente em
razão do apoio que os diversos grupos armados receberam dos países vizinhos.
8. Conflito no Mali
Maria Carolina Chiquinatto Parenti (UNESP Ciência)

O Mali tornou-se independente da França em 1960 e desde então transformou-


se em um cenário de vulnerabilidades e conflitos internos. Existem grupos armados
realizando ataques pelo país, o que gera uma preocupante situação humanitária,
violações de direitos humanos, refugiados, deslocados internos e civis sendo
atingidos, direta e indiretamente. No país, existe uma operação de paz da ONU que
se tornou a mais mortal que a organização já desdobrou.

Dentre as diversas etnias que compõem a sociedade destacam-se os


tuaregues, um grupo minoritário nômade que vive de forma pastoril na região norte
do país. Marginalizada e discriminada pelos diversos governos devido a seu estilo
de vida, a etnia passou a manifestar o desejo de criar um Estado autônomo no
norte, o Azawad. Para isso, organizaram-se em grupos e realizaram revoltas como
as de 1962, 1990, 2006 e 2012. O principal grupo que emergiu das rebeliões foi o
Movimento Nacional pela Libertação do Azawad (MNLA), formado em 2010 e que
atua no país até os dias atuais. Em abril de 2012 o MNLA derrotou militarmente o
governo e anunciou a independência do Estado do Azawad. Esse foi um período
de grande instabilidade, uma vez que a rebelião deixou o país mais propenso à
presença de grupos fundamentalistas islâmicos, a se destacar Ansar Dine, Al
Qaeda no Magreb Islâmico (AQIM) e Movimento para a Unidade e a Jihad na África
Ocidental (MUJAO). O MNLA aliou-se a esses grupos e, juntos, passaram a
controlar as principais cidades. No entanto, seus interesses são divergentes.
Enquanto o MNLA quer somente a independência da região, os grupos extremistas
querem instituir um Estado baseado nas leis fundamentalistas islâmicas, a Sharia.
No intuito de concretizar seus objetivos, os grupos expulsaram o MNLA das
cidades e colocaram em prática seus propósitos.

Foram diversas as tentativas de se colocar um fim ao conflito. Vários acordos


entre a etnia e o governo foram estabelecidos, mas sem sucesso. Em 2012, foi
instituída uma missão conjunta, African-led International Support Mission in Mali
(AFISMA), entre as forças do Mali, a Comunidade Econômica dos Estados da
África Ocidental (ECOWAS) e a União Africana (UA), com apoio da Organização
das Nações Unidas (ONU), planejada para um período inicial de um ano. No
entanto, devido à insuficiência de tropas e à falta de financiamento, a AFISMA não
conseguiu cumprir seu mandato. O Mali também sofreu intervenção da França,
cujas forças ainda permanecem no país, a pedido do próprio governo,
desencadeando a Operação Serval, atualmente substituída pela Operação
Barkhane, que tem por objetivo rastrear e conter grupos terroristas por toda a
região do Sahel.

A ONU atua no país por meio de uma operação de manutenção da paz, a


Missão das Nações Unidas de Estabilização Multidimensional Integrada no Mali
(MINUSMA), estabelecida em 2013. A Missão alcançou certo progresso na questão
política, uma vez que iniciou um diálogo com os grupos armados separatistas,
resultando na assinatura de um acordo para cessar as hostilidades em 2015, o
Acordo de Paz e Reconciliação do Mali, além da realização de eleições
presidenciais e legislativas. No entanto, o diálogo com os grupos fundamentalistas
islâmicos ainda é uma dificuldade. Estes continuam realizando diversos ataques
por todo o país, principalmente nas regiões norte e central, o que dificulta ainda
mais a estabilização. Ao buscar maior controle do território malinês esses grupos
atacam as forças internacionais, as bases da ONU, as forças do governo e a
população civil.

Os civis são constantemente afetados pelo conflito. Apesar de não


constituírem um alvo específico dos diversos grupos armados que atuam no país,
eles sofrem com os danos colaterais de ataques entre os grupos armados, e entre
grupos armados e o governo. Já em relação aos militantes islâmicos, os civis são
alvos de ataques diretos e ainda sofrem as consequências dos ataques contra a
missão da ONU e as forças armadas locais. A situação humanitária também é
crítica. Milhares de pessoas estão refugiadas ou deslocadas internamente. Além da
insegurança alimentar e falta de acesso à saúde, os militantes se apossaram de
diversas escolas, o recrutamento de crianças pelos grupos é alto e as violações de
direitos humanos aumentam.

Assim, os principais atores envolvidos no conflito no Mali são o próprio


governo, grupos armados, grupos extremistas, a Líbia, a França, a ONU e os
países regionais, por meio do ECOWAS e da União Africana. O governo do Mali
deseja restabelecer a ordem democrática no país e o controle territorial. Os grupos
armados tuaregues formam alianças e coalizões entre si, além de novos grupos
que surgem por conta da evolução do conflito. De início lutavam por mais
participação na política e na administração do país, e por maior inclusão nas forças
armadas. Com o tempo, o desejo da formação de um Estado independente – o
Azawad – surgiu como o objetivo principal e permanece até os dias atuais. Os
grupos fundamentalistas islâmicos atacam todos considerados “inimigos”, mas
também estabelecem alianças entre si e com grupos tuaregues quando é de seu
interesse. A Líbia teve um papel importante quando abrigou tauregues que lá se
refugiaram e passaram a lutar em favor do ditador Gadaffi, que apoiou seus
objetivos.

Quando esses tuaregues retornaram ao Mali, levaram consigo armamento


pesado e experiência de combate. Enquanto a ONU procura estabilizar o país,
incluindo a proteção da população civil, a França prioriza o monitoramento e o
combate aos grupos terroristas não somente no Mali, mas em toda a região do
Sahel. Como os grupos armados e extremistas não respeitam as fronteiras
nacionais, os países da região também se envolvem de alguma forma no conflito
do Mali.

Nesse sentido, o conflito no Mali é complexo e multifacetado. A grande


quantidade de atores envolvidos, cada qual com seus próprios interesses e
objetivos, dificulta a estabilização do país. Os atores externos atuam em um
ambiente extremamente hostil e o conflito está longe de se encerrar. Além disso, a
segurança no Mali está diretamente envolvida com a segurança de todo o Sahel, o
que leva a necessidade de ações conjuntas dos países da região, adicionando
mais complicadores à questão.

9. República Centro Africana


Carolina Soprani (UNESP Ciência)

A posição geográfica da República Centro Africana (RCA) colocou o país em


uma dinâmica regional de conflito pela proximidade com Chade, República
Democrática do Congo (RDC), Sudão do Sul e Sudão, interligando as tensões
internas que ocorrem há décadas.
Após sua independência da França, a RCA, conhecida como Oubangui-Chari
durante o período de colonização, vivenciou uma série de crises, com diversos
golpes de Estado. A primeira eleição democrática do país, que elegeu o presidente
Ange-Félix Patassé, em 1993, logo deu lugar a um cenário de descontentamento
por parte da população. Patassé sofreu, então, diversas tentativas de golpes
durante a década seguinte.

Pressões internas e externas resultaram na queda de Patassé, com o golpe


liderado pelo general François Bozizé, em 2003. Durante a ascensão de Bozizé ao
poder, surgiu o grupo rebelde Séléka, uma coalizão de milícias antigovernamentais
e predominantemente muçulmanas, liderada por Michael Djotodia. Em dezembro
de 2012, a milícia iniciou uma ofensiva que tinha como alvo a população cristã e
apoiadores de Bozizé. Muitas mulheres e meninas foram estupradas e milhares de
pessoas tiveram seus direitos violados.

Os rebeldes derrubaram Bozizé, e Michael Djotodia se autodeclarou presidente


da RCA, dissolvendo o grupo Séléka oficialmente em 2013. Entretanto, o grupo
continuou a existir. Nesse contexto, tanto para se proteger de ataques do Séléka
como para buscar vingança por terem perdido familiares, surgiu o grupo anti-
Balaka, composto majoritariamente por cristãos. Isso acarretou ataques a
muçulmanos que foram erroneamente vistos como adeptos ou membros do Séléka,
dando conotação religiosa ao conflito.

Nesse quadro de instabilidade interna desde a independência, inúmeras


operações de paz foram estabelecidas no país. Em fevereiro de 1997, a Inter-
African Force in the Central African Republic (MISAB) foi desdobrada, com tropas
do Burkina Faso, do Chade, do Gabão e do Mali, com apoio logístico e financeiro
da França e autorizada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU).
Quando a França decidiu retirar suas tropas e o apoio logístico, como a MISAB não
teria meios para cumprir o mandato determinado, o CSNU estabeleceu a United
Nations Mission in the Central African Republic (MINURCA) a partir de abril de
1998. Em fevereiro de 2000, a MINURCA deu lugar ao United Nations Peace-
Building Support Office in the Central African Republic (BONUCA), para assessorar
o esforço da construção de uma paz no país.

Como o conflito interno da RCA se conectava de alguma forma aos demais que
ocorriam no Sudão do Sul, em Darfur, no Chade e na RDC, o CSNU criou a United
Nations Mission in the Central African Republic and Chad (MINURCAT), em 2003.
Em 2010, o CSNU entendeu que havia uma melhora na situação do país e
encerrou a MINURCAT, deixando no seu lugar uma equipe no UN Integrated
Peacebuilding Office in the Central African Republic (BINUCA). Com o
recrudescimento do conflito entre rebeldes Séléka e anti-Balaka, foi criada a United
Nations Multidimensional Integrated Stabilization Mission in the Central African
Republic (MINUSCA) que permanece no país e que, atualmente, conta com o
efetivo de 12.870.

O saldo desses anos de conflito é de milhares de pessoas mortas e outras


milhares precisando de ajuda humanitária, deslocamentos da população
(internamente ou para outros países), especialmente dos vizinhos que estão
envolvidos de alguma forma na dinâmica de violência da RCA. Assim, o alto nível
de fluidez demográfica acaba intensificando o conflito. Além disso, houve o colapso
da economia do país e grave escassez de alimentos, que ficaram cada vez menos
acessíveis às populações mais pobres.

É interessante notar que o Chade e a RCA possuem estreitos laços sociais e


históricos, com suas áreas de fronteira abrigando comunidades que compartilham
as mesmas tradições e idiomas. A partir dos anos 2000, o Chade adquiriu grande
influência na RCA com o apoio oferecido pelo presidente Déby ao ex–presidente da
RCA, Bozizé, durante e após o golpe de Estado de 2003. Essa influência começou
a se enfraquecer em 2012 ao mesmo tempo em que o país estabelecia ligações
com os líderes do grupo Séléka. Durante a última fase do regime de Bozizé, Déby
tentou intermediar as relações entre Bozizé e a oposição, bem como entre os
diferentes grupos de oposição para facilitar sua unificação. Entretanto, ao descobrir
que Bozizé não estava implementando as disposições do Acordo de Libreville de
2013, que abrangia disposições sobre novas eleições, reforma do setor de
segurança, governo de unidade nacional, entre outras, e que as chances de seu
regime sobreviver eram mínimas, as autoridades chadianas direcionaram o apoio
exclusivamente à liderança Séléka.

O apoio direto do governo do Sudão ao Séléka, que incluiu assistência militar,


logística, política, treinamento militar para combatentes, entre outros, também foi
fundamental para o sucesso da campanha militar do grupo. Algumas das razões
para esse apoio foram as operações contra o grupo ugandês Lord’s Resistant Army
(LRA) na RCA, o risco de uma aproximação da RCA com o governo do Sudão do
Sul e a chance de a RCA tornar-se um refúgio para os grupos de oposição ao
governo sudanês. O apoio ao Séléka permitiria a ampliação da influência direta do
Sudão na região e possibilitaria compartilhar os recursos naturais da RCA.

A relação do grupo LRA com o Séléka também é complexa. Djotodia, logo


após a tomada de poder pelo Séléka, anunciou que erradicaria o LRA. O resultado
não foi o esperado apesar de inúmeros confrontos violentos. Logo após, os grupos
tentaram negociações para garantir a rendição do LRA. Nesse contexto, Djotodia
autorizou que mantimentos e comida fossem entregues para o LRA, numa tentativa
de gerar confiança e a desistência do grupo em questão. O Séléka e o LRA operam
na mesma área geográfica e ainda parecem ter contato. Um dos fatores que
mantêm o LRA seria o amparo dado pelo Séléka.

A complexidade do conflito, demonstrada pelas relações dos atores (estatais e


não estatais) da RCA com os atores regionais, é evidente. O cenário é de disputas
políticas e por recursos naturais que adquiriram uma conotação religiosa,
provocando um enorme número de refugiados e desalojados.

Devido à complexidade tanto da região em que a RCA se situa, quanto dos


atores envolvidos (cada qual com seu interesse) no conflito interno, o mesmo se
apresenta de difícil solução. Na realidade, parece que seus sintomas foram
tratados, mas não suas causas, e a violência estrutural (que se torna direta)
continuará fazendo de civis as principais vítimas e alvos. Essa complexidade
resultou em várias missões de paz desdobradas na RCA sem que fossem capazes
de resolver o conflito, muito menos de gerar uma paz sustentável no país.

10. LEVANTES DO MUNDO ÁRABE DO NORTE DA ÁFRICA

Diversos países árabes no norte da África vivenciaram, a partir de dezembro de


2010, movimentos pró-democracia que adentraram os primeiros meses de 2011,
causando instabilidade e temor nos países que vivenciam ditaduras. Nesses
países, a presença de muçulmanos é expressiva, como demonstra o mapa abaixo.
A onda de manifestações atingiu vários países árabes e se iniciou após um ato
desesperado de um tunisiano de 26 anos, Mohammad Bouazizi, que estava
desempregado e trabalhava informalmente como vendedor ambulante de frutas. O
rapaz foi expulso pela polícia do local em que vendia suas frutas e, desesperado,
para chamar a atenção para a sua situação e protestar contra o autoritarismo da
polícia, ateou fogo no próprio corpo e morreu dias depois, sem imaginar que viraria
mártir de tamanho movimento popular. Sua morte virou símbolo da insatisfação
tunisiana contra o ditador Zine El Abidine Ben Ali e inspirou a população local a se
organizar contra o governo.

Os protestos se espalharam rapidamente pelo mundo árabe ou muçulmano,


pois a situação de Bouazizi não é um exemplo isolado nessa região. Poucos dias
após a deposição do ditador tunisiano, diversas manifestações populares também
já foram registradas em países como Irã, Jordânia, Iêmen, Egito, Líbia, Marrocos,
Argélia e Bahrein. Manifestações de menor porte ocorreram também em outros
países árabes ou muçulmanos, como Kwait, Iraque, Omã e Arábia Saudita, sem,
no entanto, avançarem até o momento.

A maioria dos países que foram cenários dos levantes populares melhorou, nos
últimos anos, em alguns índices sociais, mas ainda padecem com elevados níveis
de desemprego. Além disso, com exceção das economias exportadoras de
petróleo, todos os países que passaram por revoltas possuem PIB (Produto Interno
Bruto) per capta inferior à média mundial.

Principais protestos no mundo Árabe muçulmano

Tunísia
A Tunísia é uma República Presidencialista com 99,5% de população islâmica.
Entre dezembro de 2010 e janeiro de 2011, protestos populares, motivados pela
divulgação pelo site WikiLeaks de diversos casos de corrupção no governo local e
pela morte de Bouazizi, levaram à queda do ditador Zine El Abidine Ben Ali, que
estava há 23 anos no poder. Esse movimento inspirou uma onda de protestos em
outros países do Oriente Médio. Após a queda do ditador, um governo interino
assumiu o poder e, desde então, a estabilidade vem retornando ao país aos
poucos, embora ainda ocorram incidentes ocasionais de violência e protestos.

Egito
O Egito é uma República presidencialista e conta com 94,6% de população
islâmica. O país foi o primeiro a seguir o exemplo da Tunísia, com milhares de
manifestantes promovendo sucessivos protestos contra o governo local. Após dias
de violentos protestos, que deixaram centenas de mortos, o ditador Hosni Mubarak,
tradicional aliado dos EUA na região, renunciou ao poder, após 30 anos no cargo.
O anúncio foi feito pelo vice-presidente, Omar Suleiman, na TV estatal. Os egípcios
comemoraram na praça Tahrir, no centro do Cairo, local da maioria dos protestos.

Líbia
A Líbia é uma República de partido único e possui 96,6% de sua população
islâmica. Seguindo o exemplo egípcio, a população líbia iniciou protestos contra
Muammar Kadhafi, governo personalista e que está no poder desde 1969. Porém,
em território líbio, a repressão e contenção aos opositores foi mais violenta que
aquela ocorrida no Egito. A situação tomou uma proporção tão grande, que a ONU
permitiu uma ação militar no país, que, liderada pela OTAN (Organização do
Tratado do Atlântico Norte), tem enfrentado as forças de Kadhafi. Embora tenha
ocorrido aprovação da ONU para que essa ofensiva ocorresse, a Rússia e a Liga
Árabe têm criticado as ações, em função da morte de civis. Os ataques ocidentais,
tendo à frente militares dos EUA, Reino Unido, França, Itália e Canadá,
enfraqueceram as tropas pró-Kadhafi, mas os rebeldes líbios não conseguiram
“virar o jogo” no terreno militar, criando uma situação de impasse que ameaça se
prolongar.

FONTES

 APOSTILA BERNOULLI
 Lousada, A.P. CONJUNTURA POLÍTICA E TIPOLOGIA DOS CONFLITOS
EM ÁFRICA. Revista Militar, 2015.
 MATTOS, C.V. O CONFLITO DE RUANDA: Uma breve análise da atuação
da ONU. Monografia, Brasília – DF, 2007.
 https://focosdetensoesinternacionais.blogspot.com/search?q=mali
 http://unespciencia.com.br/2018/03/01/dossie-94/
controle das ricas jazidas de prata ali
existentes.
EXERCÍCIOS
E) A Etiópia, que sempre teve
1. (FUVEST-SP–2009) Tomando fronteiras relativamente bem-definidas,
por base o mapa anterior, aponte foi, por essa mesma razão, o único país
a alternativa que descreve africano capaz de manter a paz interna
CORRETAMENTE a situação até nossos dias.
atual da área questionada.

2. (UFSCar-SP–2009) Os
gráficos mostram a evolução da
epidemia da AIDS no mundo e na
África Subsaariana.

A) Na província sudanesa de Darfur,


em territórios do antigo Estado de
Rabah, trava-se, hoje, uma sangrenta
guerra civil, envolvendo, entre outros,
diferentes grupos étnicos e religiosos.
ONUSIDA. Programa Conjunto das
B) Nas antigas possessões Nações Unidas sobre o HIV / SIDA.
zanzibaritas, vêm ocorrendo, há vários Informe sobre a epidemia mundial de
anos, violentas disputas entre diversos SIDA, 2008. Disponível em:
grupos tribais pelo controle da produção <www.unaids.orglem>. Acesso em: 28
de petróleo. jul. 2008.
C) Ao norte dos antigos estados
Bôeres, região então conhecida como A partir de sua análise, é CORRETO
Bechuanalândia, travou-se, há poucos afirmar que
anos, violenta luta, envolvendo os
grupos étnicos tutsis e hutus. A) no século XXI, houve uma redução
D) No extremo ocidental do Golfo da
do número de pessoas infectadas e uma
Guiné, ao sul da região anteriormente
controlada pelos mouros, os conflitos estabilização no percentual de adultos
atuais estão relacionados à disputa pelo
infectados no mundo e na África
Subsaariana.
B) houve uma estabilização, em termos
absolutos, da população infectada e da
população adulta infectada, entre 2000 e
2007, tanto no mundo como na África
Subsaariana.
C) há uma tendência de queda no
percentual de adultos infectados na
A) Os países do norte da África
África Subsaariana a partir de 2000, mas
apresentam maior porcentagem de
a região ainda abriga mais da metade do
seguidores da religião muçulmana.
número de infectados do mundo em
B) A composição étnica altamente
2007.
diversificada é uma exceção na África,
D) apesar do aumento da população ou seja, os países apresentam
infectada no mundo, a porcentagem de predominantemente uma população
adultos infectados é pequena, homogênea.
demonstrando que o grupo de risco é C) Em alguns países, a população de
maior entre crianças e idosos. religião muçulmana concentra-se em
E) ambos os gráficos indicam partes específicas do território,
estabilização do número de casos de sobretudo nas áreas situadas ao norte.
pessoas e de adultos infectados, apesar D) Os países africanos tiveram suas
dos progressos serem menos fronteiras definidas, em grande parte,
expressivos na África Subsaariana do pelas potências colonizadoras e é
que no mundo. comum eles apresentarem uma
composição étnica diferenciada.
E) A composição étnica diferenciada, a
03. (USP–2009) No mapa, nota-se que
presença de seguidores de diferentes
no norte da África, a religião
religiões e a disputa do poder político
muçulmana é predominante e, em
têm propiciado a ocorrência de conflitos
direção ao sul, a sua presença diminui.
em diversos países africanos.
Em alguns países, tais como Nigéria,
Chade e Sudão, os territórios ao norte
são habitados predominantemente por
muçulmanos, em contraste com o sul,
onde a maioria é formada por
4. (UFPA–2006) Considere as
seguidores de outras religiões. Com
áreas do continente africano,
base no mapa, no texto e em seus
estudos sobre o continente africano,
assinale a alternativa INCORRETA.
representadas na figura a seguir. esta região relativa estabilidade
social.
D) Área 4 – Antigas colônias
portuguesas até o início da
década de 1950; têm conhecido
grandes conflitos étnicos que
vitimaram milhões de pessoas. A
rivalidade entre hutus, zulus e
tutsis, nessa região, também
conhecida como Magreb,
desemboca num conflito com
característica de limpeza étnica.
E) Área 5 – Os europeus colonizam
a área a partir do século XV.
A afirmativa CORRETA, em relação Portugueses, italianos e
a cada área, é: espanhóis, no início do século
XX, cedem lugar a ingleses e
A) Área 1 – Área islamizada por holandeses. Nesse momento, a
árabes, quando estes se área conhece uma política de
expandem pelo norte da África; segregação racial (apartheid),
possui hoje uma população religiosa (inkatha) e espacial
formada em sua maioria absoluta (bantustões) jamais vista no
por muçulmanos com a presença mundo.
de governos totalitários sob
influência militar. Esta área
esteve sob domínio colonial de
italianos, franceses e ingleses.
B) Área 2 – Também conhecida
como “África Meridional”. Esta
área é palco de conflitos entre
diferentes grupos étnicos há 05. (Unicamp-SP–2009) Desde 2003,
várias décadas, tendo sido uma guerra civil no Sudão já deixou 200
dominada por portugueses, mil mortos na porção oeste do país:
espanhóis e belgas. Os conflitos Darfur. As causas desses conflitos se
internos são gerados pela disputa assemelham a tantos outros no
territorial de grandes áreas continente. Considere as afirmativas:
agricultáveis. I. Assim como ocorreram na Etiópia e
C) Área 3 – Antiga colônia britânica Somália, no Sudão as disputas são
até o início da década de 1960; é pelas grandes reservas de petróleo.
grande produtora de petróleo do II. Diferenças étnicas, como ocorreram
continente, cuja produção gerou em Ruanda, no caso do Sudão ocorrem
divisas suficientes para sua devido à presença de grupos
estabilidade econômica, dando a sedentários e milícias de origem árabe.
III. Assim como ocorreu em Angola, no Estados independentes – Egito, África
Sudão a disputa está relacionada às do Sul, Etiópia e Libéria. A libertação da
diferenças ideológicas entre grupos que maioria das colônias ocorreu na década
apoiam o capitalismo e outros que de 1960. Em outros casos, foi
buscam maior interferência do Estado conquistada a partir de guerras e
na economia. movimentos armados, provocando a
IV. Disputa por terras e fontes de água retirada gradativa das potências
em Darfur e apoio do governo a milícias europeias.
que atuam no país são exemplos da B) O alicerce dos novos Estados
guerra no Sudão. africanos foi constituído, principalmente,
pela estrutura administrativa criada pela
Está CORRETO o que se afirma em colonização europeia. Quando as
A) I, II, III e IV. C) II, III e IV, apenas. independências ocorreram, os poderes
B) I, II e III, apenas. D) II e IV, político e militar passam das antigas
apenas. metrópoles para as elites nativas
urbanas, que instalaram regimes
autoritários.
C) O panorama de extrema pobreza
6. (Mackenzie-SP–2010)
dos países da África Subsaariana deve-
Esquecida pela globalização e
se ao fraco crescimento econômico
imersa em pobreza, fome, doenças e
registrado desde as independências.
conflitos, a África é rica em recursos
Nas classificações de 2008 do IDH
naturais cobiçados por regiões mais
(Índice de Desenvolvimento Humano) e
prósperas.
do IPH (Índice de Pobreza Humana) da
ONU, os 27 últimos lugares são
ocupados por países dessa região
africana.
D) O pan-africanismo, defendido por
Kwame Nkrumah, presidente de Gana
(1957 e 1966), influenciou
profundamente os líderes das lutas
anticoloniais, conseguindo moldar uma
forte política externa dos Estados
africanos independentes,
enfraquecendo a hegemonia das elites
étnicas regionais.
E) Segundo o pensamento terceiro-
mundista, em voga há três décadas,
Com vistas à descolonização e ao atribuia-se apenas à herança colonial a
neocolonialismo africano, após a pobreza africana, porém outros fatores
Segunda Guerra Mundial, assinale a corroboram para essa condição; entre
alternativa INCORRETA. eles, vastas áreas da África Tropical
apresentam solos de baixa fertilidade,
A) No início da Segunda Guerra
quinze países não têm saídas
Mundial, a África contava com quatro
marítimas e as desvantagens A) Conciliação político-religiosa –
geográficas são agravadas pelas afirmação das identidades locais.
pressões demográficas. B) Punição das diferenças culturais –
unificação da memória nacional.
C) Denúncia da dominação colonial –
7. (UERJ–2010) Quinze anos depois do
integração ao mundo globalizado.
genocídio que vitimou mais de 800 mil
D) Reforço do pertencimento nacional –
pessoas, visitar Ruanda ainda é uma
revisão das heranças da
espécie de jogo de adivinhação – a
descolonização.
cada rosto que passa tenta-se descobrir
quem foi vítima e quem foi algoz na 8. (UFMS–2009) Segundo o Banco
tragédia de 1994. O governo do país Mundial, cerca de oitenta países vão
recorre à união do povo. O censo e as entrar em conflito por causa dos recursos
carteiras de identidade étnicas não hídricos nos próximos anos. Rios que
existem mais, todos agora são apenas atravessam diferentes países
considerados ruandeses. O esforço do representam fontes essenciais de
presidente Paul Kagame em evitar um abastecimento de água e constituem
novo conflito é tão grande que chamar motivo de disputas acirradas. Os
alguém de ―tutsi‖ ou ―hutu‖ de maneira problemas tornam-se mais graves
ofensiva é crime, com pena que pode quando a disputa pela água se mistura
chegar a 14 anos. MARTA REIS com desavenças político-religiosas. Qual
A presença do trauma do genocídio é o alternativa representa o caso específico
principal problema social de Ruanda, de conflito pela água no Rio Nilo?
maior inclusive que a pobreza. Tratar
esse trauma coletivo devia ser A) Apesar de ser um rio internacional,
prioridade número um, e não poucos países utilizam as águas do Nilo,
transformá-lo num tabu. A política do exceto o Egito, cuja população depende
governo é a do esquecimento por lei, das águas dele para o abastecimento e a
por obrigação. Errada é a vitimização produção de alimentos, enquanto que
do genocídio, pois existe uma história nos outros países banhados pelo mesmo
de conflitos anterior e posterior ao rio, como a Etiópia e o Sudão, a
massacre. GAGLIATO, Marcio. O população, por estar concentrada no
Globo, 12 abr. 2009 (Adaptação). litoral, tira pouco proveito de suas águas.
B) A instalação de várias usinas
A polêmica sobre os efeitos do hidrelétricas e a captação de água para
genocídio de Ruanda, ocorrido em irrigação, em países localizados no alto
1994, aponta para contradições dos da bacia, têm prejudicado o
processos de constituição de Estados aproveitamento feito no Egito, situado no
nacionais na África contemporânea. baixo curso do rio, que contava com as
Com base na análise dos textos, a cheias periódicas para a fertilização do
resolução dessas contradições estaria vale.
relacionada à adoção das seguintes C) É um rio genuinamente egípcio, e as
medidas: disputas pelas terras agricultáveis de
suas margens são entre os povos
nômades do deserto e os árabes
muçulmanos que mantêm o controle
político em todo o vale do rio.
D) Outros países africanos poderiam
utilizar suas águas para o abastecimento
e a irrigação, como a Etiópia e o Sudão,
porém não as utilizam por cumprirem
acordos políticos com o Egito, que
historicamente detém o direito de
exploração das águas, garantido pela
ONU.

9. (FUVEST–2011) África vive [...]


prisioneira de um passado inventado
por outros.
COUTO, Mia. Um retrato sem
moldura. In: HERNANDEZ, Leila. A
África na sala de aula. São Paulo:
Selo Negro, 2005. p.11.
A frase acima se justifica porque

A) os movimentos de independência na
África foram patrocinados pelos países
imperialistas, com o objetivo de garantir
a exploração econômica do continente.
B) os distintos povos da África preferem
negar suas origens étnicas e culturais,
pois não há espaço, no mundo de hoje,
para a defesa da identidade cultural
africana.
C) a colonização britânica do litoral
atlântico da África provocou a definitiva
associação do continente à
escravidão e sua submissão aos
projetos de hegemonia europeia no
Ocidente.
D) os atuais conflitos dentro do
continente são comandados por
potências estrangeiras,
interessadas em dividir a África
para explorar mais facilmente suas
riquezas. A partir da análise da charge
e do texto e com base nos
E) a maioria das divisões políticas
conhecimentos sobre o
da África definidas pelos
continente africano, pode-se
colonizadores se manteve, em
afirmar:
linhas gerais, mesmo após os
movimentos de independência.
01. O tráfico negreiro, atividade
altamente lucrativa, contou com a
participação de chefes tribais
10. (UFRB-BA–2009) africanos, que aprisionavam
[...] Nos dias atuais, a presença elementos das etnias rivais,
chinesa no continente africano vendendo-os como escravos.
faz parte da busca pelos 02. O abandono do continente
recursos naturais africano pelas antigas metrópoles,
indispensáveis para a expansão após a Segunda Guerra Mundial,
de sua economia. No plano foi motivado pelos conflitos étnicos
político, isso implica não se e pelas guerras que passaram a
intrometer em assuntos ocorrer nesse continente, fato que
internos, como o não respeito afastou os investimentos produtivos
aos direitos humanos em oriundos da Europa.
determinados países africanos. 04. Os investimentos chineses em
[...] a nova política africana da obras de infraestrutura visam à
China é bem recebida, por sua recuperação dos países africanos,
contribuição para o sufocados pelo desequilíbrio de
desenvolvimento da agricultura sua balança de pagamentos.
por meio da construção de 08. A atual política de imigração
infraestrutura — ferrovias, adotada pela União Europeia
estradas e modernização de estimulou a inclusão de africanos,
portos —, além do fornecimento que buscam melhorar sua
de máquinas e equipamentos qualidade de vida nos países
agrícolas de fácil manuseio e industrializados.
manutenção. D’ADESKY, 2008. 16. A violação aos direitos
p. A3 humanos, na África, é contestada
pela China, visto que o país
asiático pauta sua política interna DESCREVA dois tipos atuais de
no respeito aos princípios relações entre a África e a Europa,
democráticos. um de natureza conflituosa, outro de
32. A abundância de mão de obra e natureza não conflituosa.
a proximidade geográfica com a
Ásia constituem fatores favoráveis
para que o imperialismo chinês 12. (UNIFESP–2008) No continente
substitua o papel anteriormente africano, encontramos focos de
representado pelos europeus no guerras civis e entre países. No
continente. chamado Chifre da África, nos
últimos anos, foram registrados
64. A expansão das atividades
violentos conflitos entre
varejistas entre a China e a África
modificou o padrão de consumo de A) países pela definição de
massa do continente, tornando fronteiras, envolvendo Burundi e
acessível a posse de Ruanda.
eletrodomésticos às camadas mais B) países pelo acesso à água, por
pobres e provocando uma parte do Egito e do Sudão.
desestabilização do comércio local. C) brancos e negros na África do
Soma ( ) Sul.
D) lideranças locais na Somália.
11. (UERJ–2009) E) grupos étnicos em Ruanda.
As três faces marítimas da África
O continente africano se abre a leste
13. (FUVEST-SP) O processo de
para o Oceano Índico, a oeste para o
descolonização na África foi
Oceano Atlântico e ao norte para o
acompanhado por
Mar Mediterrâneo, o que possibilitou
no passado – e continua a permitir
no presente – a formação das mais A) elevação nas taxas de
diversas redes de relações culturais, crescimento da população do
econômicas e migratórias com campo, que foi modernizado para
diferentes partes do mundo. No produzir alimentos para o mercado
passado, pelo Oceano Índico, interno.
indianos exploravam rotas
B) abertura da economia dos países
comerciais anos antes dos
africanos, devido à dimensão do seu
europeus; pelo Atlântico, o oeste
mercado consumidor, aumentando
africano foi fonte importante para o
significativamente sua participação
tráfico negreiro. Mas foi por meio do
no comércio mundial.
Mar Mediterrâneo que as redes de
C) democratização do continente,
relações sempre foram mais
que se livrou das ditaduras nele
intensas e conflituosas. Fonte:
instaladas nos anos noventa do
Enciclopédia Britânica
século XX, com apoio das antigas
metrópoles.
D) imposição política externa de 15. (Enem–2002) O continente
limites fronteiriços, que gerou uma africano em seu conjunto apresenta
série de lutas políticas internas em 44% de suas fronteiras apoiadas em
vários países. meridianos e paralelos; 30% por
E) migração controlada da linhas retas e arqueadas, e apenas
população africana, decorrente dos 26% se referem a limites naturais
conflitos tribais, para países que que geralmente coincidem com os
anteriormente dominaram o de locais de habitação dos grupos
continente. étnicos.
MARTIN, A. R. Fronteiras e Nações.
14. (FGV-SP–2008) De 1948 a 1991, Contexto: São Paulo, 1998.
vigorou na África do Sul o regime
Diferentemente do continente
denominado apartheid. A esse
americano, onde quase que a
respeito é CORRETO afirmar:
totalidade das fronteiras obedecem a
limites naturais, a África apresenta
as características citadas em virtude,
A) Trata-se de uma política de
principalmente,
segregação racial que excluía os
negros da participação política, mas A) da sua recente demarcação, que
lhes reservava o livre direito à contou com técnicas cartográficas
propriedade da terra. antes desconhecidas.
B) Trata-se de uma política de B) dos interesses de países
segregação racial que previa uma europeus, preocupados com a
lenta incorporação da população partilha dos seus recursos naturais.
negra às atividades políticas do país. C) das extensas áreas desérticas,
C) Trata-se de uma política de que dificultam a demarcação dos
segregação racial que excluía “limites naturais”.
negros e asiáticos da participação D) da natureza nômade das
política e restringia até a sua populações africanas, especialmente
circulação pelo país. aquelas oriundas da África
D) Trata-se de uma política de Subsaariana.
integração racial baseada na E) da grande extensão longitudinal,
perspectiva ideológica da o que demandaria enormes gastos
mestiçagem cultural entre as para demarcação.
diversas etnias negras.
E) Trata-se de uma política de
segregação racial que propunha a
eliminação gradual da minoria negra,
como forma de garantir a dominação
branca.

16. (Enem–2005) Um professor


apresentou os mapas a seguir numa
aula sobre as implicações da
formação das fronteiras no B) II.
continente africano. C) III.
D) I e II.
E) II e III.

17. A existência de movimentos


supremacistas de hutus, que
promoviam
discurso de ódio contra os tutsis,
remonta:

a) à Revolução Ruandesa e ao
processo de independência do país.
b) às eleições da década de 1970
Com base na aula e na observação
dos mapas, os alunos fizeram três que elegeram Juvénal Habyarimana
afirmativas: como
I. A brutal diferença entre as presidente.
fronteiras políticas e as fronteiras
c) À reforma agrária realizada no
étnicas no continente africano
aponta para a artificialidade em uma país durante a década de 1980.
divisão com objetivo de atender d) Ao golpe de estado realizado por
apenas aos interesses da maior
Juvénal Habyarimana na década de
potência capitalista na época da
descolonização. 1970.

II. As fronteiras políticas jogaram a e) À década de 1960, quando os


África em uma situação de constante Estados Unidos passaram a
tensão ao desprezar a diversidade financiar
étnica e cultural, acirrando conflitos
entre tribos rivais. milícias hutus contra guerrilheiros

III. As fronteiras artificiais criadas no tutsis, aliados ao comunismo


contexto do colonialismo, após os soviético.
processos de independência,
fizeram da África um continente 18. Durante a Guerra Civil em
marcado por guerras civis, golpes de Ruanda, cerca de 800 mil tutsis
estado e conflitos étnicos e
foram executados
religiosos.
É VERDADEIRO apenas o que se
em um genocídio promovido por um
afirma em
grupo extremista da etnia hutu. O
A) I.
genocídio foi resultado de anos de
ligadas ao final do “apartheid” na
ressentimentos existentes entre África do Sul, EXCETO
essas
a) A África do Sul, com as eleições
etnias e foi promovido pelo grupo
presidenciais de 1994, deu um
extremista: passo importante para romper com
seu passado de discriminação racial.
a) Poder Hutu
b) Kangura b) As restrições comerciais impostas
c) RTLM ao antigo regime racial foram
suspensas, e a África do Sul
d) Frente Patriótica de Ruanda restabeleceu suas relações
e) Poder Kigali comerciais internacionais.

c) O fim do “apartheid” gerou poucas


mudanças para a população branca
cuja elite continua a controlar a
19. A rivalidade existente em economia e a burocracia do país.
Ruanda entre as duas etnias
d) O novo país passa a contar com
hegemônicas foi uma população negra, etnicamente
reflexo de uma política imposta pelos homogênea, uma vez que os
bantustões formaram países
colonizadores europeus, que independentes.
concederam privilégios a tutsis em
e) O novo regime se deparou com a
detrimento dos hutus. Essa política possibilidade de aproximação entre
foi as experiências sociais e
econômicas de brancos e negros.
imposta pelos:
a) ingleses
b) franceses
21. (PUC-Campinas)
c) belgas
“Recentemente, por questões
d) espanhóis
humanitárias, os Estados Unidos
e) holandeses
atuaram na Somália mas, poderiam
ter optado pelo Sudão ou Etiópia,
países vizinhos, com guerras civis e
milhões de esfomeados. Nunca o
caráter periférico da África foi tão
evidente quanto agora, pois não há
superpotências que disputem o
20. Todas as alternativas
continente e os países são
apresentam afirmações corretas
entregues à própria sorte (ou
infortúnio).” 22. (FGV) Sobretudo, a partir da
Da leitura do texto e de seus década de 60, o continente africano
conhecimentos sobre a África é tem passado por um processo de
possível afirmar que descolonização, isto é, de
independência política formal que:
a) as disputas internas provocadas
a) tem permitido às jovens nações
pelos clãs tribais têm alterado a
superar o atraso econômico
posição do continente no cenário
motivado pela exploração das
mundial, transformando a África
antigas metrópoles.
numa área de fracos investimentos.
b) desacompanhada da respectiva

b) o processo de islamização independência econômica e

forçado, pelo qual passa grande financeira não conseguiu alterar de

parte da África, restringe as forma efetiva as precárias condições

possibilidades de intervenção de vida da população.

estrangeira no continente.
c) reestruturou economicamente as

c) hoje, a busca de mercados novas nações, uma vez que elas

consumidores substitui os antigos deixaram de produzir para os

critérios geopolíticos, e a pobreza da mercados externos e voltaram-se

África como um todo, pouco para as necessidades da população

interessa ao mundo desenvolvido. local.

d) vários órgãos supranacionais têm d) alterou sensivelmente o papel das

tentado promover a destribalização antigas colônias na divisão

da parte mais pobre da África, no internacional de trabalho uma vez

sentido de torná-la mais atraente aos que estas passaram a ter autonomia

investimentos estrangeiros. econômica.

e) a manutenção de regimes e) possibilitou a superação das

autoritários, com guerrilhas e atos de relações de subordinação

terrorismo, tem dificultado a ação econômica das antigas colônias

das forças de paz e de certa forma através do desenvolvimento de

influído na Nova Ordem Mundial. atividades industriais modernas.


políticas dos países africanos, após
a década de 50.

23. (Cesgranrio) “Morre um homem e) difusão da industrialização no


por minuto em Ruanda. Um homem continente africano, que provocou
morre por minuto numa nação do suas grandes desigualdades sociais.
continente onde o Homo Sapiens
surgiu há um milhão de anos… Para
o ano 2000 só faltam seis, mas a 24 (Fuvest) As resistências à
Humanidade não ingressará no descolonização da Argélia derivaram
terceiro milênio, enquanto a África essencialmente:
for o túmulo da paz.”
a) da reação de setores políticos
(Augusto Nunes, conservadores na França,
in: jornal O GLOBO, 6.8.94) associados aos franceses que
viviam na Argélia.
A situação de instabilidade no
continente africano é o resultado de b) da pressão das grandes potências
diversos fatores históricos, dentre os que temiam a implantação do
quais destacamos o(a): fundamentalismo islâmico na região.

a) fortalecimento político dos antigos c) da iniciativa dos Estados Unidos


impérios coloniais na região, apoiado que pressionaram a França a manter
pela Conferência de Bandung. a colônia a qualquer preço.

b) declínio dos nacionalismos d) da ação pessoal do general De


africanos causado pelo final da Gaulle que se opunha aos projetos
Guerra Fria. hegemônicos dos Estados Unidos.

c) acirramento das guerras e) da atitude da França que


intertribais no processo de desejava expandir suas colônias,
descolonização que não respeitou as após a Segunda Guerra Mundial.
características culturais do
25. (Ufrr) “Até o final da década de
continente.
80, existiam na África treze conflitos
d) fim da dependência econômica regionais (Angola, Etiópia, Libéria,
ocorrida com as independências Sudão, Chade, entre outros). Um
ano depois, esse número diminuiu produção e venda de armamentos.
para seis diante dos altos custos de b) O continente africano exerce
sua manutenção. Com o importante papel estratégico nas
relaxamento das tensões relações políticas e ideológicas entre
EUA―URSS (distensão), os países os países que compõem os blocos
africanos também deixaram de ser o econômicos mundiais.
desencalhe de armas convencionais c) Os conflitos ocorrem por conta do
dos dois países. Entre 1984 e interesse de diversas tribos em
1987,as despesas militares constituírem um espaço comum
diminuíram de 5,2% do PNB africano para agregar as diversas
acumulado dos países em conflito comunidades em um mesmo grupo
para cerca de 4,3%. O cenário que étnico-linguístico-cultural.
resulta é desolador. Destruição d) As atuais fronteiras foram
econômica e desestruturação social, traçadas pelos colonizadores
com a disseminacão da fome e da europeus sem respeitar a antiga
epidemia da AIDS.” organização tribal e a distribuição
(OLIVA, J. e GIANSANTI, R. Espaço geográfica das etnias no continente.
e modernidade: temas da geografia e) As comunidades étnicas optaram
mundial. São Paulo: Atual, 1995). por entrar em conflitos armados
estimulados pela inserção do
capitalismo neoliberal e,
Os conflitos existentes na África,
principalmente, por conta dos
juntamente com a fome e as
diversos produtos industrializados
epidemias, são elementos que
disponíveis nos mercados africanos.
constituem o triste cenário deste
continente. Entre as explicações
para compreendermos a existência
dessas intermináveis guerras
regionais, podemos apontar que: 26. (Unifap) A partilha do continente
africano no final do século XIX pelos
colonizadores europeus criou as
a) A atual disputa pelo potencial
chamadas fronteiras artificiais.
mercado de alimentos impulsiona as
Grande parte destas fronteiras foi
grandes potências africanas a
mantida após o processo de
investirem maciçamente na
independência dos países africanos. 27. Soweto viu a Copa do Mundo.
Com base nesse contexto e nos Em um Mundial questionado por seu
conhecimentos sobre o assunto, é impacto social apenas limitado e por
correto afirmar o que se segue. excluir grande parte da população
africana dos benefícios, os 4 milhões
de moradores da cidade nas
(01) A definição de fronteiras
proximidades de Johannesburgo só
artificiais refere-se ao fato de que
souberam um dia antes que a
diversas nações e grupos étnicos,
seleção brasileira faria seu único
muitos deles rivais, foram colocados
treino aberto em Soweto. (O Estado
dentro de um mesmo território
de S.Paulo, 04.06.2010. Adaptado.)
colonial, não respeitando as suas
diferenças.
Considere as afirmações seguintes.
(02) Com o processo de
I. Soweto está localizado na região
descolonização da África e a
metropolitana de Johanesburgo e foi
manutenção das fronteiras artificiais,
a maior township da África do Sul.
intensificaram-se os conflitos pela
II. As townships nasceram durante o
disputa de poder entre as etnias
período do apartheid, devido à
sobre o território.
separação espacial entre negros e
(04) Dentro dessas fronteiras
brancos.
artificiais, no período entre as
III. Dentre os Prêmios Nobel da Paz,
Grandes Guerras Mundiais, os
estão Nelson Mandela e o Arcebispo
EstadosUnidos e a União Soviética,
Desmond Tutu, que viveram em
interessados em aumentar sua
Soweto.
influência no continente africano,
IV. Berço da luta contra o apartheid,
financiaram e estimularam os
durante o regime racista, Soweto
conflitos.
conseguiu resolver seus problemas
(08) Além das fronteiras artificiais,
sociais, integrando-se totalmente ao
outros fatores que têm motivado os
restante da capital.
conflitos dentro do território africano
são os de ordem sócio-econômica
Estão corretas apenas as afirmações
(pobreza e epidemias) e ambiental
a) I, III e IV.
(desertificação e estresse hídrico).
b) III e IV.
c) I, II e III.
d) I e II. 17. A
e) II, III e IV. 18. A
19. C
20. D
21. C
GABARITO 22. B
23.C
01. A 24.A
02. C 25. D
03. B 26. 11
04. A 27.C
05. D
06. D
07. D
08. B
09. E
10. Soma = 97
11. As relações de natureza
conflituosa entre Europa e África
resultam, principalmente, do
crescimento lento das economias
europeias e da redução dos postos
de trabalho que estão levando a um
aumento das restrições ao ingresso
de população de origem africana na
Europa, favorecendo a eclosão de
conflitos étnicos e religiosos e o
recrudescimento da intolerância com
relação aos imigrantes e seus
descendentes. Quanto às relações
de natureza não conflituosa
encontram-se: o comércio
complementar de alimentos e bens
indústriais; o amplo espectro de
trocas culturais; a modernização
tecnológica da agricultura norte-
africana por europeus; o
investimento europeu na indústria
turística africana.

12. D
13. D
14. C
15. B
16. E

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