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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS

HELENA GUIZO AMBIEL


RAUL RODRIGUES MARIANO

A ÁFRICA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO SÉCULO XXI

CAMPINAS
2019
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS

HELENA GUIZO AMBIEL


RAUL RODRIGUES MARIANO

A ÁFRICA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO SÉCULO XXI

Trabalho destinado ao Grupo de Estudos


em Relações Internacionais da Pontifícia
Universidade Católica de Campinas,
apresentado com o objetivo de analisar e
estudar as relações internacionais da
África no século XXI.

CAMPINAS
2019
RESUMO

Este trabalho consiste em relatar e analisar aspectos em relação às relações


internacionais do continente africano, especificamente em cinco países, em que cada um
deles pertence a uma região, são eles África do Sul, Tunísia, Nigéria, República
Democrática do Congo e Etiópia. Por meio de pesquisas em artigos e sites acadêmicos,
o trabalho conta com uma abordagem geral econômica, política, social e cultural acerca
do cenário internacional da África no século XXI.

Palavras-chaves: África; Relações Internacionais; Século XXI.


ABSTRACT

This paper consists in reporting and analyzing aspects of the African continent,
specifically in five countries, in which each of them belongs to a region, they are South
Africa, Tunisia, Nigeria, Democratic Republic of the Congo and Ethiopia. Through
research in academic articles and websites, the paper has a general economic, political,
social and cultural approach to the international scenario of Africa in the 21st century.

Keywords: Africa; International Relations; 21st Century.


SUMÁRIO
1.INTRODUÇÃO 7

2.DIVISÕES DA ÁFRICA 8

2.1 Tunísia 10

2.2 Nigéria 10

2.2.1 Boko Haram e a segurança nigeriana 11

2.2.2 Diplomacia nigeriana sob a liderança de Muhammadu Buhari 12

2.3 República Democrática do Congo 13

2.4 Etiópia 14

2.4.1 Regionalismo na política africana e Sudão do Sul 14

2.4.2 A Grande Represa do Renascimento Etíope 15

2.4.3 Aspirações à potência 16

2.5 África do Sul 17

2.5.1 Brics e o Soft Power 18

3.RELAÇÕES CHINA-ÁFRICA 20

4.RELAÇÕES EUROPA-ÁFRICA 21

4.1 França-África 21

4.1.1 Françafrique no século XXI


21

4.1.2 Presença militar francesa na África Subsaariana 22

4.1.3 Franco CFA e a ameaça chinesa 23

4.1.4 Críticas às relações francesas com a África 25

4.2 Reino Unido-África 25

5.RELAÇÕES EUA-ÁFRICA 26

6.RELAÇÕES ONU-ÁFRICA 27

6.1 A questão da África e os Direitos Humanos 29

6.1.1 Relatório Mundial 2019 30

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS 32
8. REFERÊNCIAS 33
7

1. INTRODUÇÃO

A partir do final do século XX, entre as décadas de 80 e 90, o sistema


internacional foi palco de um período de desestabilização, isto é, com o fim da Guerra
Fria e a dissolução da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) originando
15 repúblicas, dentre elas a Rússia, é possível notar uma Nova Ordem Mundial. Já no
início do século XXI, essa Nova Ordem Mundial é caracterizada pela globalização e
regionalização, identificada pelo fortalecimento de blocos regionais, sendo que a antiga
bipolaridade EUA-Rússia não se encontrava mais presente.

Para alguns pensadores como Francis Fukuyama, filósofo e economista político,


o novo século seria caracterizado como o fim da história, título de sua obra mais
famosa, “The End of History”, quer dizer, o fim aconteceria a partir de 1989, dado o
desaparecimento dos desafios para o ocidente, como o comunismo, já que os Estado
estavam se integrando ao sistema capitalista e não havia, portanto, motivos para
controvérsias nesse sentido. Já para Samuel Huntington, cientista político, em sua obra
mais famosa, “O Choque das Civilizações”, é retratada uma visão mais aceita que
consta com a ascensão chinesa frente aos Estados Unidos da América (EUA), assim
como o aumento de conflitos regionais com possíveis separações e guerras entre as
diferentes civilizações.

Diante disso, tem-se que, com o início do século XXI, outras regiões do globo
ganharam mais destaque internacional, mesmo que este não tenha sido no mesmo grau
do que as grandes potências. Esse fator tem relação com a Conferência de Bandung, em
meados do século XX, em que os países do então chamado “Terceiro Mundo” se
reuniram para propor uma nova força política global, com destaque para a cooperação
econômica e cultural entre África e Ásia como forma de oposição ao colonialismo e
neocolonialismo estadunidense e soviético da época.

Essa ascensão relativa dos países anteriormente sem tanto destaque e prestígio
internacional culminou no processo de independência de alguns países africanos que
ainda se classificavam como colônias europeias. Com a conquista de suas soberanias, os
países africanos, aderiram ao Movimento dos Países Não Alinhados (MNOAL) com
princípios da Conferência de Bandung. Essa conferência conta com cúpulas realizadas
desde 1961, sendo que a mais recente foi a XVI Cúpula de Havana em 2006.
8

Dessa maneira, vale ressaltar que a África do século XXI conta com uma
atuação relativamente melhor com os parceiros comerciais.

“Ela está no centro de uma concorrência fortíssima de


interesses e interessados de todas as partes do globo. Se os
investimentos externos diretos crescem de forma consistente, oriundos
tanto das grandes empresas financeiras e produtivas, é também
verdade que esses investimentos estão dirigidos por certa lógica de
ocupação territorial e estratégica da África por grandes potências,
instituições multilaterais e influentes grupos econômicos globais
ancorados em bases estatais. Nesse aspecto, o futuro estratégico do
continente africano está sendo traçado de fora para dentro.”
(SARAIVA, José Flávio Sombra. Brasília, 2015)

Portanto, dadas as novas variáveis que influenciaram nas mudanças da política


internacional, são elas, ONGs, integração regional e a própria globalização, que
diminuiu as distâncias, melhorou comunicações, a África tem atraído investidores
internacionais, assim como a atenção de blocos econômicos ao longo do século,
garantindo uma maior participação de alguns países africanos nas decisões
internacionais.

2. DIVISÕES DA ÁFRICA

O continente africano, embora não apresente total homogeneidade em sua


divisão, está distribuído em cinco regiões principais, além das duas grandes divisões, ou
seja, África Saariana, Islâmica ou Branca e a África Subsaariana ou Negra. As
subdivisões estão compreendidas em: África Setentrional, África Ocidental, África
Central, África Oriental e África Meridional.

A África Setentrional compreende os seguintes países: Argélia, Egito, Tunísia,


Líbia, Marrocos, Saara Ocidental. Conhecida como “extensão do Oriente Médio”, ela
abrange vários povos árabes islâmicos. A África Ocidental abrange os países: Benin,
Burkina Faso, Cabo Verde, Camarões, Costa do Marfim, Gabão, Gâmbia, Gana, Guiné,
Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Libéria, Mali, Mauritânia, Níger, Nigéria, Senegal,
Serra Leoa, São Tomé e Príncipe e Togo.
9

Já a África Central compreende os países: Congo, República Centro-Africana,


República Democrática do Congo e Chade. Essa região abrange algumas das principais
bacias hidrográficas do mundo, por exemplo, a Bacia Hidrográfica do Congo. Os países
que fazem parte da África Oriental são: Burundi, Djibouti, Eritreia, Etiópia, Quênia,
Ruanda, Seychelles, Somália, Tanzânia, Sudão, Sudão do Sul e Uganda. Estes países
estão associados em várias organizações, dentre elas a Comunidade da África Oriental,
união política, social e economia que agrupa os Estados do Quênia, Tanzânia e Uganda.

Por fim, os países que compreendem a África Meridional são: África do Sul,
Angola, Moçambique, Botswana, Comores, Lesoto, Madagáscar, Malawi, Maurícia,
Namíbia, Zâmbia, Zimbábue e Suazilândia.

Para uma abordagem mais específica, serão utilizados cinco países de cada
região já mencionada anteriormente respectivamente. São eles: Tunísia, Nigéria,
República Democrática do Congo, Etiópia e África do Sul.

Mapa 1 – Divisões da África

Fonte: Centro Brasileiro de Estudos Africano (CEBRAFRICA)


10

​ 2.1 Tunísia

A Tunísia é um país localizado no norte do continente africano, pertencente à


região do Magrebe. O território é ocupado cerca de 40% pelo deserto do Saara, sendo a
cidade mais populosa e concentradora da economia a própria capital, Tunes.

Economicamente, o país se caracteriza pela exportação de fios condutores de


eletricidade, produtos têxteis, óleos brutos de petróleo ou minerais, entre outros. Seus
principais parceiros comerciais são a França e a Itália, já que a maioria das exportações
e importações envolvem estes dois países europeus. Vale ressaltar que o país africano
foi colonizado pelos franceses, sendo que conquistaram sua independência apenas em
1956.

Politicamente, a Tunísia foi palco de eventos revolucionários importantes, por


exemplo a Primavera Árabe, movimento caracterizado pela grande participação das
redes sociais na divulgação e contra a repressão sofrida na maioria dos países árabes.
Somente em 2014 o país realizou eleições presidenciais sob a nova constituição após a
Primavera Árabe. Vale ressaltar que a Tunísia está incluída na Política Europeia de
Vizinhança da União Europeia, que pretende aproximar o bloco de países vizinhos.

Militarmente, o país possui um exército voltado à defesa nacional e segurança


interna. A Tunísia tem participação nas Forças de Manutenção de Paz das Nações
Unidas, conhecido como “capacetes azuis”, com atuação em países da África e Ásia.

​ 2.2 Nigéria

Em um país assolado pela pobreza, guerra, corrupção e terrorismo, a Nigéria se


vê em um período de leve retomada do crescimento e combate aos problemas que nos
últimos anos, permearam sua sociedade e enfraquecem suas atividades internacionais.

Tendo o posto de país mais populoso da África e um dos maiores produtores de


petróleo do mundo, a Nigéria tem como objetivos políticos internos e externos atuais, a
busca pela estabilidade de sua nação ao mesmo tempo em que almeja retomar seu
protagonismo regional. As políticas externas nigerianas logo após do século XXI
tinham certos objetivos de cooperação regional, mas se pautavam majoritariamente em
uma “diplomacia econômica”, focando em acordos comerciais e promovendo a vinda de
investimentos estrangeiros ao país. Seu papel como principal ator nas relações
11

internacionais da África Ocidental na última década se mostra muito menos expressivo


do que em períodos passados. O Estado nigeriano foi um importante tomador de
decisões na Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e
também na União Africana (UA), sediando várias cúpulas internacionais e se
destacando em missões de paz, como a de Darfur, no Sudão, em 2007. A dimensão da
atividade diplomática nigeriana possuía contornos muito característicos, como a política
adotada em 2007 pelo então presidente Umaru Musa Yar'Adua, chamada de
“diplomacia cidadã” (citizen diplomacy), que incentivava a participação de cidadãos
comuns nas interações internacionais nigerianas, enfatizando o princípio da
reciprocidade e defendendo que os principais beneficiários dos projetos externos da
Nigéria fossem o povo. Essa política não se mostrou efetivamente realizada, visto que
os nigerianos não colheram bons resultados externamente nem internamente. (UJARA
& IBIETAN, 2018, p. 41).

2.2.1 Boko Haram e a segurança nigeriana

Em relação às questões de segurança, a Nigéria enfrenta uma ameaça


transnacional referente às atividades terroristas do grupo Boko Haram, que atua no país
desde 2011 e trabalha para desestruturar a nação através da violência sistêmica. Além
dos danos humanitários ocasionados pelos ataques terroristas, a existência do grupo, que
se concentra majoritariamente no norte do país, acaba por criar uma consequência
política de isolamento dessa região da Nigéria. Ademais, o terrorismo também dificulta
a principal atividade econômica do país, a extração de petróleo, que se torna defasada
por conta dos ataques. Além disso, pelo fato do envio de tropas nigerianas se
concentrarem, em sua maioria, no norte do país para combater os integrantes do Boko
Haram, a Nigéria enviou menos combatentes em missões de paz na África nos últimos
anos, fazendo o país perder um posto importante de ser o provedor da segurança na
região da África Ocidental1, gerando descredibilidade internacional do país em um
assunto que antigamente se colocava como habilitado a realizar.

O governo nigeriano não se mostrou muito eficaz em mitigar as ações dos


terroristas nos últimos anos, o que somado aos problemas políticos internos (corrupção

1
A Nigéria já chegou a cooperar com tropas em 10 missões diferentes de manutenção da paz na África em
2013.
12

crônica, enfraquecimento das instituições, déficit de segurança, etc.) comprovam tanto a


crise externa quanto a doméstica.

Em relação à ajuda vinda do exterior, a resposta internacional demorou a atender


as necessidades da Nigéria, acarretando no agravamento da violência e da instabilidade.

“As capitais ocidentais, já preocupadas com as crises no


Iraque, Sudão do Sul e Síria, viram a Nigéria como um país rico
em recursos e com menos necessidade de ajuda internacional.”
(BRENCHENMACHER, 2019).

A crise de segurança na Nigéria representou um dos principais problemas para o


país e para a região entre os períodos de 2011 a 2015. A incapacidade da nação em
conter os ataques, desvalorizou a própria legitimidade democrática do Estado2, visto que
o governo não consegue conceder condições básicas de segurança à sua população por
meio de instituições e métodos democráticos.

2.2.2 Diplomacia nigeriana sob a liderança de Muhammadu Buhari

Em 2015, Muhammadu Buhari foi eleito presidente da Nigéria, e com o novo


governo, foram retomadas as tentativas de mudança e melhora no país. Buhari
incentivou a cooperação internacional como forma de resolução do conflito, e após
relatos de problemas humanitários na região de Bama, a assistência humanitária
internacional se tornou mais expressiva. Em conjunto com as doações ao país3, a
Nigéria teve a iniciativa de reativar a cooperação militar chamada Força-Tarefa
Conjunta Multinacional, uma aliança colaborativa entre Chade, Níger, Camarões, Benin
e Nigéria, que tem como atual objetivo o combate ao Boko Haram. A união entre estes
dois fatores propiciou melhoras na situação de segurança do país.

As relações externas nigerianas coordenadas por Buhari compreendem parte da


chamada “Shuttle Diplomacy” (UJARA & IBIETAN, 2017, p. 47), que se constitui na
ideia de um ator diplomático se locomover entre partes que não possuem um contato
direto para resolver um problema. A Nigéria tenta se colocar como ator intermediário
nas relações regionais, mediando a comunicação entre os países locais em relação ao

2
Um dos argumentos do Boko Haram é disseminar a ideia de corrupção do Estado nigeriano e de sua falta
de representatividade, caracterizando-o como um governo envenenado pelos valores ocidentais. Essa
narrativa pode corromper a democracia do país, causando problemas em sua governança e em seus
processos eleitorais.
3
As doações de ajuda humanitária à Nigéria chegaram a 291 milhões de dólares em 2017 (COLE 2017).
13

tópico de segurança e combate ao terrorismo4. Nota-se, através deste comportamento,


que a Nigéria tenta novamente se posicionar como o pivô das articulações regionais da
África Ocidental. Esses contatos bilaterais e multilaterais foram realizados não somente
com países africanos, mas também com países europeus (França, Grã-Bretanha,
Alemanha), árabes (Emirados Árabes, Arábia Saudita) e asiáticos, como por exemplo, a
China, que realiza extensos investimentos no país5 e mantém um comércio vantajoso
com o país africano, principalmente em temas relacionados ao petróleo nigeriano.

O governo Buhari realiza uma branda tentativa de reposicionar a Nigéria em um


cenário internacional mais elevado, e para isso, irá recorrer à cooperação regional e
global, além de ter que lidar com condições precárias tanto doméstica quanto regionais,
como é o caso do Boko Haram e da Crise do Delta do Níger.

​ 2.3 República Democrática do Congo

A República Democrática do Congo, antigamente conhecida como República do


Zaire, é um país localizado no centro da África, tendo como capital a cidade de
Kinshasa. É altamente rico em recursos naturais, que foram explorados primeiramente
pelos colonizadores belgas e, nas últimas décadas, por grupos rebeldes e estrangeiros.
Vale ressaltar que, atualmente, é um dos países mais pobres do mundo. Foi palco de
diversos conflitos armadas, dentre eles a guerra civil, considerada uma das maiores
guerras desde a Segunda Guerra Mundial. O Tribunal Penal Internacional acusou alguns
militares e líderes de movimentos rebeldes de crimes de guerra e crimes contra a
humanidade.

Economicamente, o país se destaca pelas atividades de mineração, por exemplo


com o cobalto e o cobre. Seus principais destinos de exportação são China, Zâmbia,
Coreia do Sul, Itália e Indonésia.  As origens de importação são África do Sul, China,
Zâmbia, Bélgica, Luxemburgo e Índia. 

Politicamente, o país enfrenta uma grande instabilidade, justamente por ser um


Estado caracterizado pela transição de uma guerra civil para uma república democrática
semipresidencialista. O processo de votação nas eleições de 2006 foi complicado devido

4
IBIETAN, Jide., UJARA, Ese C. Foreign Policy in Nigeria’s Fourth Republic: A Critical Analysis of
Some Unresolved Issues. Ota: Journal of International and Global Studies, 2018. p. 47.
5
Durante o governo de Muhammadu Buhari, a China concedeu o equivalente à 6 bilhões em
investimentos ao país. (OGUNRINU & RAJI, 2018).
14

à falta de infraestrutura. Dessa forma, foi organizado pela Comissão Eleitoral


Independente do Congo com o apoio da missão das Nações Unidas para o Congo
(MONUC).

Militarmente, o país recebe missões de paz da ONU, com atuação dos


“capacetes-azuis”. Vale ressaltar que o Brasil enviará peritos militares para treinar
grupos que se ocuparão de realizar operações ofensivas para neutralizar e desarmar
grupos rebeldes na República Democrática do Congo.

2.4 Etiópia

A África Oriental representa uma das regiões mais características do continente


africano. Os países que a compõe (Sudão, Sudão do Sul, Eritreia, Etiópia, Quênia,
Uganda, Djibouti, Somália, Tanzânia, Ruanda e Burundi) estão situados em um cenário
geopolítico que possui majoritariamente três assuntos de significativa importância para
as relações africanas, entre eles são; as consequências da recente divisão e conflito no
Sudão, as tensões envolvendo o Rio Nilo e a predominância etíope como potência
regional.

2.4.1 Regionalismo na política africana e Sudão do Sul

Em 2011, ocorreu a separação territorial entre Sudão e Sudão do Sul. Este


acontecimento desestabilizou a região e criou um novo ator a ser considerado nas
interações políticas africanas. O Sudão do Sul se caracterizou como uma nação
fortemente militarizada, mas, ao mesmo tempo, pouco segura, ademais, o Sudão viu sua
soberania ameaçada e adotou uma postura defensiva em relação ao novo vizinho, desde
então, conflitos periódicos são travados entre os dois países, além de brigas internas do
Sudão do Sul. Essas condições criaram, além de remodelações nas atividades políticas,
um estado de alerta dos países vizinhos em prol de conter possíveis crises regionais
decorrentes da guerra. Os principais Estados envolvidos em missões no Sudão do Sul
foram Uganda, que enviou soldados ao país em 2013, e a Etiópia, que conduz uma
missão de peacekeeping em conjunto com a ONU da Força Interina de Segurança das
Nações Unidas (UNISFA) no distrito de Abyei, região disputada na fronteira. A Etiópia
tem sido o mediador com mais presença nas negociações de paz entre as duas nações
divididas e entre as oposições internas do Sudão do Sul. Em 2015, a Etiópia pressionou
15

os políticos sul-sudaneses, principalmente o presidente Salva Kiir, a assinar um acordo


de paz com o líder da oposição armada Riek Machar, no entanto, o acordo foi
desrespeitado no ano seguinte, quando novos conflitos se iniciaram. Apesar disso, a
Etiópia apresentou em dezembro de 2018, o Fórum de Revitalização de Alto Nível, uma
atualização do acordo de paz.

As políticas exteriores etíopes se mostraram muito expressivas no continente nos


últimos anos. Em 2002, Addis Abeba lançou o FANSPS6, um documento do governo
que condensa os objetivos e planos políticos do país em suas relações exteriores, nele,
exaltando a ideia de defesa dos interesses nacionais e enfatizando questões de segurança
e soberania. Desde o lançamento deste documento, o Sudão, que historicamente era
alinhado ao Egito, voltou seu apoio político para a Etiópia (VERJEE, 2017), pois
observou que possuía mais interesses bilaterais com os etíopes do que com os egípcios.
A Etiópia promove a defesa e controle de armas na fronteira sudanesa, estabiliza o fluxo
migratório de refugiados sul-sudaneses, trabalha na repressão de grupos rebeldes do
Sudão do Sul e é um dos principais parceiros comerciais do país. Todos esses aspectos
servem para aproximar os dois países, servindo aos interesses do Sudão e do Sudão do
Sul, ao mesmo tempo em que aumenta a influência regional da Etiópia.

2.4.2 A Grande Represa do Renascimento Etíope

Em meio ao contexto de busca por desenvolvimento econômico por parte dos


Estados africanos, a Etiópia conduz um dos projetos de infraestrutura mais audaciosos
do continente, a construção da Grande Represa do Renascimento Etíope (GERD) 7, que
se localiza no Nilo Azul e se for concluída, será a maior da África, com 1.780 metros de
comprimento e 1.874 km2. Tais ambições etíopes entram em desacordo com os
interesses de outro país africano extremamente dependente dos recursos hídricos do Rio
Nilo, o Egito. O Estado egípcio embasou suas atividades produtivas na oferta de água
proveniente do Nilo, e sua agricultura, geração de energia elétrica e setor industrial
estão fortemente sujeitos ao acesso egípcio às águas deste rio. Pelo fato de 85% das
águas do Rio Nilo se originarem no Nilo Azul, – que nasce no território etíope –
qualquer plano da Etiópia em alterar o fluxo de águas fluviais na região causa
preocupação por parte dos egípcios, visto que Cairo alega que a GERD diminuirá a

6
FOREIGN AFFAIRS AND NATIONAL SECURITY POLICY AND STRATEGY
7
Sigla em inglês: Grand Ethiopian Renaissance Dam
16

quantidade de água do Nilo de 11 para 19 milhões de metros cúbicos, o que ocasionaria


uma interrupção de 40% da oferta total de energia elétrica, além de afetar a vida de dois
milhões de pessoas (KHALIL at al, 2017).

Os interesses conflitantes entre as duas nações gera um clima de tensão na região


que desestabiliza o balanço geopolítico vigente, na instância em que a Etiópia almeja
projetos desenvolvimentistas, o Egito se sente ameaçado em ter sua presença política e
capacidade econômica reduzida na África Oriental. Apesar disso, ambos os países
concordaram em resolver essa discordância de forma diplomática e em 2015 assinaram
a Declaração de Princípios (Declaration of Principles), uma acordo entre Egito, Etiópia
e Sudão cujas negociações versam sobre os aspectos técnicos da represa e seus impacto
na região. A capacidade total da reserva é de 74 bilhões de metros cúbicos, que
corresponde à média anual de água do Sudão e do Egito juntos, e visto que um bloqueio
de uma quantidade de água tão grande poderia causar problemas para a nação egípcia,
Cairo quer que a represa chegue a sua capacidade máxima em um período mínimo de 15
anos, pois alegam que a GERD pode criar escassez de água no norte africano caso atinja
sua capacidade em um período muito curto. O Sudão se posicionou como um apoiador
dos projetos etíopes, pois considerou que a represa melhoraria a agricultura sudanesa e
redistribuiria a água de forma mais igualitária na Bacia do Nilo.

O Egito se vê em desvantagem nas negociações e sente sua segurança hídrica


ameaçada. O país já se comunicou com a Liga Árabe, o Banco Mundial e até com as
Nações Unidas sobre o assunto, mas sem chegar a resultados satisfatórios. Etíopes e
egípcios possuem um longo histórico de disputas e rivalidades políticas, o que corrobora
para desagregar relações de confiança entre os dois países, consequentemente
dificultando resoluções diplomáticas.

2.4.3 Aspirações à potência.

A Etiópia possui uma posição muito significativa no Chifre da África,


influenciando e tendo peso nos elementos geopolíticos da região, ao ponto que pode ser
considerada, em certo tipo de análise, uma hegemonia regional. O Estado etíope, apesar
de enfrentar dificuldades para crescer como nação e assumir uma posição de potência na
região, – dificuldade essa proveniente da falta de integração política na África Oriental e
também por conta de problemas de segurança intra-estatais – ainda detém um papel
17

central de conduzir a cooperação regional e estabelecer a paz8. Também é necessário


admitir que as hegemonias africanas possuem status de hegemonias de segundo nível,
ou seja, as hegemonias africanas têm poder político para alterar seu ambiente regional,
mas dificilmente tem influência sob o balanço de poder global (DEHÉZ, 2008).

O Estado etíope já trabalha para alavancar seu potencial hegemônico, como por
exemplo, construindo alianças políticas mais amigáveis com seus vizinhos, buscando o
apoio estratégico destes, como é o caso do Sudão, Sudão do Sul e Eritreia (no caso deste
último, em 2018 foi assinado um acordo de paz histórico que encerrou a guerra de 20
anos entre etíopes e eritreus). A pretensão etíope de se estabelecer definitivamente como
potência regional efetiva e reconhecida ainda é um objetivo a ser alcançado em meio a
um continente que não possui um histórico propício para a ascensão de hegemons.

​ 2.5 África do Sul

A África do Sul é um país localizado no extremo sul do continente africano, que


possui como capital executiva a cidade de Pretória, enquanto a Cidade do Cabo é
caracterizada como capital legislativa e Bloemfontein é a capital judiciária. Entretanto, a
cidade de Johanesburgo é considerada o centro da economia do país.

Economicamente, o país recebe o título de segunda economia africana e se


destaca pela exportação de metais e pedras preciosas, como ouro e diamante, sendo que
os principais destinos de exportação são China, Estados Unidos, Índia e Reino Unido,
enquanto as importações são chinesas, estadunidenses, alemãs e indianas e sauditas.
Vale ressaltar que , em abril de 2011, a África do Sul entrou oficialmente para o grupo
de países BRICS (Brasil-Rússia-Índia-China). O país também é membro
da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), da Zona de Paz e
Cooperação do Atlântico Sul, da União Aduaneira da África Austral, do Tratado da
Antártida, da Organização Mundial do Comércio (OMC), do Fundo Monetário
Internacional (FMI), do G20 e do G8+5.

Politicamente, embora tenha passado por conflitos relacionados à segregação


racial durante o Apartheid (1948-1994), enquanto era a União Sul-Africana, o país foi o

8
DEHÉZ, Dustin. Ethiopia – A Hegemon in the Horn of Africa Region? Frankfurt am Main, 2008, p. 12.
18

membro fundador da Organização das Nações Unidas (ONU). O primeiro-ministro


sul-africano da época, Jan Smuts, escreveu o preâmbulo da Carta das Nações Unidas. É
válido destacar que o país é um dos membros fundadores da União Africana (UA).
Após o fim do regime do Apartheid, a África do Sul foi readmitida
na Commonwealth britânica.

Militarmente, A África do Sul é o único país africano que conseguiu desenvolver


com sucesso armas nucleares. Tornou-se o primeiro país com poder nuclear a renunciar
voluntariamente ao seu programa no processo de assinatura do Tratado de Não
Proliferação de Armas Nucleares (TNP) no contexto do pós-Guerra Fria, em 1991.

2.5.1 BRICS e o Soft Power9

A África do Sul tinha interesse em participar do bloco econômico desde a


primeira cúpula, realizada em 2009 na cidade de Ecaterimburgo, Rússia, com o objetivo
de promover a integração regional e cumprir seus programas de parceria entre Estados
do Sul com um certo grau de importância em relação à governança global. Com isso, os
países integrantes seriam capazes de aumentar sua relevância internacional.10

Na X Cúpula do bloco, realizada em 2018 na cidade de Joanesburgo, África do


Sul, a ministra das Relações Internacionais e Cooperação sul-africana, Lindiwe Sisulu,
relatou à imprensa que a visita dos dois líderes da Comunidade de Desenvolvimento da
África Austral (SADC) é fundamental para reforçar as relações entre os BRICS e a
África.

"A adesão aos BRICS tem sido benéfica para o nosso país e
gostaríamos de garantir que o resto de África possa também
usufruir dos BRICS, particularmente agora que o continente
começa a dar os primeiros passos na criação de zonas de
comércio livre, em que a maioria dos países já assinou o acordo,
que é um passo importante para África" (SISULU, Lindiwe,
Joanesburgo, 2018).

9
A capacidade de um país de convencer outros a fazer o que quer sem força ou coerção. (NYE,
Joseph.2004)

10
STUENKEL, Oliver. The BRICS and the Future of Global Order, 2015, p.42.
19

Philani Mthembu, diretor do instituto sul-africano para o diálogo global, afirma


que essa cúpula é uma oportunidade para que o novo presidente, Cyril Ramaphosa,
obtenha pontos positivos e determine as diretrizes de sua política externa.
Atualmente, em um contexto de impasse global e questões emergentes, ou seja,
as discussões acerca das mudanças climáticas, tem-se um cenário em que um papel
decisivo poderia ser desempenhado pelos BRICS. Apesar desses países enfrentarem
problemas domésticos, eles podem representar uma resposta inovadora ao
funcionamento da atual estrutura global. De fato, esses países já iniciam campanhas
com o intuito de promover sua influência no resto do mundo.

No caso dos EUA, além da saída dos acordos climáticos, eles também seguiram
um caminho cada vez mais isolado, não apenas em relação a esses países emergentes,
mas também no que diz respeito aos seus aliados "históricos", ou seja, os países da UE.
Dessa forma, na questão das políticas de mudança climática, divisões cada vez maiores
estão se abrindo entre a UE e os EUA, e essa fragmentação provavelmente também terá
consequências importantes em suas capacidades de soft power.

Portanto, em nível global, a impressão é de que o Ocidente está deixando um


'vácuo de poder'11em termos de liderança, com os EUA tentando agir de uma maneira
unipolar, o que pode levar a mais instabilidade e assim, os BRICS poderiam aproveitar
essa situação para preencher a lacuna deixada pelo Ocidente e se tornar porta-voz de
uma ordem multipolar que busca negociações mais adequadas para enfrentar esses
desafios globais. Em suma, o vácuo deixado também pode representar uma possível
oportunidade para o BRICS preencher sua lacuna de soft power e desempenhar um
papel central no futuro.

11
PETRONE, Francesco. BRICS, soft power and climate change: new challenges in global
governance? 2019
20

3. RELAÇÕES CHINA-ÁFRICA

A China, desde o início do século XXI, se mostra comprometida e determinada


em se colocar em uma posição de potência mundial, e para isso, o Estado chinês realiza
estratégias diversas, como por exemplo, utilização de poderio econômico, diplomacia
multilateral, protagonismo regional e cooperação internacional, principalmente com
países emergentes. Esse último elemento, representa uma forma de tentativa de ampliar
a socialização da China para com países terceiro-mundistas (CARROZA, 2018). Os
Estados africanos, portanto, se tornam foco da agenda chinesa na última década,
possibilitando não somente a exploração de novos mercados e influxo por parte da
China, mas também perspectiva de desenvolvimento por parte dos países africanos.

Em 2000, o governo chinês estabeleceu o Fórum de Cooperação China-África


(FOCAC), que tinha o objetivo de reforçar as relações sino-africanas e apurar a
comunicação chinesa com os 53 países africanos e a União Africana. Esse fórum se
tornou o principal canal de interação dos chineses para a implementação de suas
políticas externas no continente, além de representar uma via de propostas de
desenvolvimento, redução da pobreza e investimento que interessa aos Estados
africanos no contexto atual. As relações do fórum enfatizam, principalmente, a
cooperação Sul-Sul, que se mostra muito presente nos discursos políticos da China.

Em 2013, o governo da República Popular da China apresentou o projeto One


Belt One Road, que se refere ao plano trilionário de investimento em infraestrutura em
65 países divididos em três continentes, (Ásia, África e Europa) que pretende conectar
diretamente a economia do hemisfério leste do planeta à China, alavancando sua
influência econômica e consequentemente sua inserção internacional (PAUTASSO,
2016). O projeto se divide em duas rotas, uma Rota da Seda terrestre e uma marítima,
envolvendo a construção de ferrovias, portos, rodovias, pontes, oleodutos, e outras bases
de integração econômica. A presença do investimento chinês pode ser percebido no
continente, por exemplo, na abertura do Centro Nacional de Dados da Zâmbia,
financiado pela Huawei, empresa de telecomunicações chinesa. Outras construções
como a barragem de Bui, em Gana, a usina hidrelétrica de Mambilla, na Nigéria e o
Porto Multiuso de Doraleh (DMP), no Djibouti, são exemplos do investimento chinês
no continente. A China também instalou uma base militar naval no Djibouti,
possibilitando uma expansão do papel militar chinês em conjunto com uma
21

demonstração de força para as outras potências, especialmente para os Estados Unidos.


12
A cooperação chinesa em relação ao tema de segurança na África também apareceu
com o anúncio do presidente Xi Jinping em fornecer 100 milhões de dólares a União
Africana (UA) em 2015.

A relação entre desenvolvimento e segurança na abordagem chinesa para a


África, reflete o próprio argumento chinês para justificar sua presença no continente.
Segundo Carroza (2018), a ideia de desenvolvimento, tanto para os chineses, quanto
para os africanos, precisa ser baseada em um sólido cenário de segurança, no qual os
dois conceitos se complementam e possibilitam um ambiente próspero no continente
africano. Utilizando essa lógica, a China justifica sua assistência à África, dando
continuidade a um projeto de expansão internacional e construção da ideia de amizade
China-África, atitudes estas, que contribuem para revelar os interesses chineses no
continente. Simultaneamente, os Estados africanos aproveitam dessa relação de apoio
do país asiático, utilizando-a para impulsionar seus desejos desenvolvimentistas.

​4. RELAÇÕES EUROPA-ÁFRICA

​ 4.1 França-África

Com um histórico de relações africanas único e exercendo um peso político e


sociocultural no continente, a França tenta manter suas amarras coloniais e influência
sobre a África em um contexto atual de reposicionamento de alinhamento diplomático e
apoio político por parte das nações africana.

4.2.1 Françafrique no século XXI

A história diplomática entre a França e a África possui um significado tão


profundo na política internacional que existe um termo específico para representar essa
relação; o Françafrique (palavra-valise entre França e África). O termo muitas vezes é
utilizado com uma conotação negativa para se referir às épocas de exploração colonial e

12
Segundo a China, a Base de Apoio do Exército de Libertação Popular da China em Djibouti não serve a
propósitos bélicos, mas sim para apoio logístico e proteção humanitária na região.
22

de pós-independência, além disso, existe uma discussão atual em relação à existência ou


não do Françafrique na política externa contemporânea da França.

Ao longo das décadas pós-descolonização, diversos presidentes franceses


tiveram como um dos focos de suas políticas exteriores, manusear a presença francesa
no continente, em prol de prosseguir com o apoio de suas ex-colônias e manter seu
alcance de influência sobre os mesmos. Para isso, a França se utilizou de políticas de
apoio à África, militar e econômico.

4.1.2 Presença militar francesa na África Subsaariana

Em 2012, na região do Sahel, ocorreu o Golpe de Estado do Mali, onde


jihadistas rebeldes derrubaram o governo do então presidente Amadou Toumani Touré.
O Conselho de Segurança da ONU solicitou a ajuda militar francesa no conflito, que
enviou tropas ao país no ano seguinte. O então presidente francês François Hollande,
inicialmente relutou em realizar uma abordagem militar no Mali, não querendo ser visto
como apoiador de políticas neocoloniais. Hollande desejava uma resolução diplomática,
mas pressionado pela comunidade internacional, decidiu mobilizar tropas francesas na
região. Em janeiro de 2013, o governo francês lança a Operação Serval, uma operação
militar que tinha como objetivo enviar forças expedicionárias para restabelecer a
segurança na região. O número de unidades militares da operação se iniciou com 550
combatentes, que posteriormente passaram a ser 3500, chegando em seu ápice em 2014
com 5200 soldados (YATES, 2018).

Em agosto de 2013, os franceses já haviam conquistado resultados


consideravelmente positivos em relação à contenção das ações violentas dos grupos
rebeldes, e também em restabelecer de forma aceitável a integridade territorial no norte
do Mali. Esta admissível “vitória” e sentimento de “missão cumprida”, foi utilizada no
discurso político francês para demonstrar sua competência internacional para assuntos
de segurança, diferentemente do que havia ocorrido no Afeganistão.13 A operação
Serval se encerrou oficialmente em agosto de 2014, sendo substituída pela Operação
Barkhane, iniciada em julho de 2014, que se caracterizou como uma missão militar de
anti-insurgência que visava combater não somente os jihadistas malianos, mas também
os grupos da Al Qaeda ligadas à eles. Além disso, a missão se estendeu além das

13
Entre 2001 e 2012, as forças armadas francesas atuaram no Afeganistão. Essa missão não teve
resultados tão satisfatórios quanto a do Mali, sendo criticada pela seu gasto excessivo e pela ineficiência.
23

fronteiras do Mali, compondo o Chade, Níger e Burkina Faso. A França ainda possui
forças militares no território africano nos dias atuais, estabelecendo assim, uma base de
influência no continente.

A região do Sahel possui problemas institucionais difundidos entre os países que


a compõe. A corrupção generalizada, a fragilidade dos órgãos democráticos e
judiciários, a falta de representatividade e a completa incapacidade dos Estados em
prover segurança, criam cenários de extrema instabilidade regional, propiciando a
disseminação e estruturação de organizações terroristas transnacionais. Dito isso, a
preocupação do Estado francês na região, não se baseia somente no discurso de ajuda
humanitária, ou na demonstração de prestígio pelas operações militares, mas também
está relacionado à ameaça que estes grupos jihadistas podem representar para a França,
visto que caso não forem detidos e consigam alcançar certo nível de organização,
poderão se expandir para o norte africano (região profundamente desestabilizada por
conflitos armados, como por exemplo, a Líbia) e consequentemente se inserirem na
Europa (BURGESS, 2019), criando uma preocupação para o Estado francês. A França
utiliza de sua presença militar como forma de manutenção de interesses e também como
forma de exercer poder global, mas é preciso ter cautela nessa estratégia, visto que o
limitado poderio militar francês pode não ser o suficiente para a manutenção da
estabilidade em uma região tão extensa. Recentemente, Macron tentou convencer a
Algéria à se envolver militar e politicamente na proteção da região, mas teve seu pedido
recusado. De qualquer forma, o comprometimento francês com a segurança da região
ainda se mostra como uma parte central da política externa francesa.

4.1.3 Franco CFA e a ameaça chinesa

A presença econômica da França no continente ultrapassa a de qualquer nação


do mundo, pelo fato de que suas relações econômicas passam de simples acordos
comerciais ou transferência de investimentos. Os países que compõem a Zona
Francófona, aquela representada pelas ex-colônias falantes de francês, possuem uma
conexão monetária direta com a França. O Franco CFA corresponde à uma moeda
criada pelos franceses nos anos 60 e utilizada por treze países africanos até os dias de
hoje. A estabilidade e conversibilidade da moeda é garantida pela França por meio de
acordos que garantem que o Tesouro Francês detenha 50% das reservas cambiais dessa
moeda, além de controlarem boa parte da impressão do franco CFA. A moeda ainda
24

possui uma subdivisão entre o franco CFA da África Ocidental, que abrange países
como Senegal, Níger, Burkina Faso, Benim, Togo, Costa do Marfim, Mali, e o franco
CFA da África Central, que corresponde aos seguintes países; Camarões, Chade, Gabão,
Guiné Equatorial, República do Congo e República Centro-Africana.

Essa relação remete fortemente ao neocolonialismo, visto que a falta de


integridade monetária desses países pode proporcionar fragilidades em sua soberania. O
controle monetário francês do franco CFA também cria dificuldades para os países
administrarem suas políticas econômicas e suas atividades bancárias, o que cria
barreiras ao crescimento de suas economias. Um fator manipulativo no controle francês
sob o dinheiro das ex-colônias é o fato de que os países da zona do franco precisam de
certas autorizações de Paris para utilizarem a moeda em operações de venda de seus
recursos naturais no mercado internacional, fazendo com que o governo da França dê
preferência à empresas francesas, que podem comprar as commodities africanas por
preços baratos, dado que os Estados francófonos não tem muito controle sobre a
valorização e desvalorização de sua própria moeda. A influência francesa sobre o status
quo financeiro destes países pelo controle do franco CFA, reflete um dos maiores
resquícios das práticas colonialistas de dominação africana.

Entretanto, no atual contexto de expansão das relações exteriores africanas, a


França enfrenta uma situação de disputa pela influência no continente, e seu principal
adversário é a China. Como já citado, os planos de desenvolvimento chinês referentes
ao projeto One Belt One Road penetram em diversas regiões do globo, elevando a
figura do Estado chinês no âmbito mundial. O atual presidente francês Emmanuel
Macron guia uma política de contenção à presença chinesa na África, criticando
abertamente os planos de infraestrutura e financiamento da China, alegando em seus
discursos, que o país asiático irá criar problemas de endividamento e exploração da
mão-de-obra africana. As vantagens chinesas nessa disputa indireta por influência se
baseiam, principalmente em recursos financeiros, a China está disposta a conduzir o
desenvolvimento africano em troca de maior aproximação política e maior presença no
mercado africano. Já no caso da França, o país europeu terá que utilizar de seus recursos
políticos (conexão colonial), culturais (compartilhamento da língua francesa) e militares
(bases francesas estabelecidas na África) em prol de manter sua histórica relação
exclusivamente vantajosa com o continente (CHE, 2019).
25

4.1.4 Críticas às relações francesas com a África

Existem análises que questionam as políticas francesas para com a África em


relação a suas ações de intervenção e influência no continente. Entre elas pode se citar a
visão realista, que diz que a França tenta impor seus próprios planos na região se
utilizando de missões de paz da ONU. Ja crítica pan-africana diz que os franceses fazem
uso de tropas militares africanas de manutenção de paz para operações de interesse
frances (YATES, 2018). Os anti-imperialistas dizem que a política externa do país
europeu somente reflete padrões imperialistas de dominação, disfarçados por discursos
de ajuda e cooperação. Em relação a crítica neocolonialista, as relações França-África
podem ser consideradas como um colonialismo revisitado, carregando traços da
manipulação política europeia sob o continente e impossibilitando o desenvolvimento
independente da África.

​ 4.2 Reino Unido-África

Embora alguns países africanos tenham sido colonizados pelos britânicos, o


cenário atual parece ser de cooperação, principalmente a partir de 2018, já que a
primeira-ministra britânica, Theresa May, após ser questionada sobre a saída do Reino
Unido da União Europeia (Brexit) relatou à imprensa que pretende tornar o Reino
Unido o maior investidor nos países da África até 2022 para compensar as perdas
econômicas sofridas pela saída do bloco.

Outro ponto a ser destacado diz respeito ao acordo bilateral entre o Reino Unido
e a África do Sul para promover a proteção de interesses mútuos de segurança, melhorar
o comércio e a promoção de um crescimento inclusivo. Dessa forma, a cooperação foi
estabelecida no Fórum Bilateral da África do Sul e Reino Unido em 2015, firmada pelos
Ministros das Relações Exteriores dos países envolvidos. Vale ressaltar que o DFID
(Department for International Development), isto é, o departamento destinado ao
desenvolvimento internacional, liderada pela Unidade de Parcerias para o
Desenvolvimento (Development Partnerships Unit) recebe o apoio de diversos
colaboradores que trabalham com instituições sul-africanas para fortalecer o
desenvolvimento na África, em áreas como capacitação tributária, combate às mudanças
climáticas e monitoramento de prestação de serviços. O programa também trabalha com
o governo sul-africano para apoiar seu papel como representante africano em
26

instituições globais, por exemplo o G20, para ajudar a desenvolver acordos


internacionais que possam atender às necessidades na África.

A Unidade de Parcerias para o Desenvolvimento também supervisiona a


assistência técnica para apoiar os esforços do governo para combater a pobreza e a
desigualdade na África do Sul, com foco no fortalecimento da garantia de necessidades
básicas para o país.

5. RELAÇÕES EUA-ÁFRICA

No início do mandato do ex-presidente Barack Obama, realizou-se um encontro


dos líderes do G8 em Áquila, na Itália, em julho de 2009. Durante essa cúpula, os
representantes anunciaram um investimento de US$ 20 bilhões durante três anos para
estimular a produção de alimentos em países em desenvolvimento, com ênfase especial
para a África. Quando esteve em Gana no mesmo ano, o país havia descoberto,
recentemente, reservas de petróleo e não é segredo que havia um claro interesse dos
Estados Unidos nesse setor. Diante disso, Obama realizou um discurso a fim de se
aproximar do país que teve êxito nas eleições democráticas e, provavelmente, garantir
as boas relações comerciais em relação ao petróleo recém descoberto na época.

“Aqui em Gana, vocês nos mostraram uma face da África que


muitas vezes é desprezada por um mundo que só vê tragédia ou a
necessidade por caridade. As pessoas de Gana trabalharam duro para
colocar a democracia em pilares sólidos, com transferências pacíficas
de poder mesmo quando as eleições são contestadas. E com a melhora
no governo e uma sociedade civil emergindo, a economia de Gana
mostrou impressionantes níveis de crescimento.” (Barack Obama,
Accra, 2009).

Com a ascensão de Donald Trump ao poder nos Estados Unidos, ele declarou
que considera a África um lugar de oportunidades, tal fato se relaciona com o
Congresso EUA-África ocorrido em Maputo, Moçambique, em junho de 2019, com
promessas de abertura do mercado norte-americano aos países africanos. Na ocasião
também foram anunciadas iniciativas de desenvolvimento do continente. De acordo
com Mark Green, administrador da USAID, Agência dos Estados Unidos para o
Desenvolvimento Internacional, a ideia é diminuir as barreiras alfandegárias, garantir
27

maior abertura do mercado norte-americano aos produtos africanos, além de ajudar as


empresas dos Estados Unidos, reduzindo os seus riscos de investimento.

Outro ponto a ser destacado diz respeito à Lei de Crescimento e Oportunidades


para a África, originalmente conhecida como African Growth and Opportunity Act
(AGOA), aprovada no início dos anos 2000 e que resultou no aumento do comércio
petrolífero entre os EUA e a África. Já o tema do 17° Fórum da AGOA, realizado em
Washington em julho de 2018, foi: “Criando Novas Estratégias para o Comércio e o
Investimento entre EUA e África”. Este contou com a abordagem acerca da importância
das mulheres, da sociedade civil e do setor privado para impulsionar o crescimento
econômico. Sob o mesmo ponto de vista, Akinwumi Adesina, presidente do Banco de
Desenvolvimento Africano, afirma que uma parceria entre os EUA e a África corrobora
para que a última se torne a próxima fronteira de crescimento de investimentos no
mundo, sendo este um fato crucial.

6. RELAÇÕES ONU-ÁFRICA

A Organização das Nações Unidas (ONU) tem como objetivos incluir e manter
a segurança e a paz mundial, promover os direitos humanos, auxiliar
no desenvolvimento econômico e no progresso social, proteger o meio ambiente e
fornecer ajuda humanitária em casos de fome, desastres naturais e conflitos armados.
Dessa forma, a organização elencou uma série de desafios enfrentados pela África,
como as mudanças climáticas, proliferação de doenças e corrupção, além da fome e
miséria que assolam o continente e questões que envolvem refugiados. Diante disso, ela
promove missões de paz, programas de combate à pobreza, fome e doenças, promoção
da educação e melhorias de vida às crianças e jovens, entre outros. O UNICEF (Fundo
das Nações Unidas para a Infância), por exemplo, é um órgão responsável pela defesa
dos direitos das crianças, ajuda às suas necessidades e contribuição para o seu
desenvolvimento. Em termos de análise regional, as principais prioridades do UNICEF
na África Oriental e Sul incluem: sobrevivência e desenvolvimento de crianças
pequenas, crianças e AIDS, educação básica e igualdade de gênero, proteção infantil e
preparação e resposta a emergências. Vários programas transversais apoiam essas
prioridades, incluindo comunicação, comunicação para o desenvolvimento,
monitoramento e avaliação, e fornecimento e logística.
28

Na África Ocidental e Central, o UNICEF trabalha com parceiros da região para


alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, ou seja, um conjunto de metas
globais para acabar com a pobreza, proteger o planeta e garantir que todas as pessoas
desfrutem de paz e prosperidade até 2030.

Além disso, vale ressaltar que, em 2003, foi estabelecido o Escritório das Nações
Unidas do Assessor Especial para a África, para reforçar o apoio internacional ao
desenvolvimento e a segurança africana e melhorar a coordenação do apoio do Sistema
da ONU. Ele também visa facilitar deliberações globais sobre a África, especialmente
no que diz respeito à Nova Parceria para o Desenvolvimento da África, isto é, um
quadro estratégico adotado por líderes africanos em 2001.

Outro ponto a ser destacado, dessa vez em relação à segurança, é a Missão das
Nações Unidas na República Democrática do Congo (MONUSCO,
anteriormente MONUC), sigla do francês: Mission de l'Organisation des Nations Unies
pour la stabilisation en République démocratique du Congo), uma das missões de
manutenção de paz da ONU que se encontra em vigor na República Democrática do
Congo. Ela foi criada em 1999 pelo Conselho de Segurança da Organização das Nações
Unidas para acompanhar o processo de paz da Segunda Guerra do Congo, embora seu
foco tenha se voltado para o conflito em Ituri, e o conflito de Kivu.

Em termos de desenvolvimento humano no continente africano, o Programa das


Nações Unidas para o Desenvolvimento (UNDP), publicou em 2016 o Relatório de
Desenvolvimento Humano da África. Nele foi relatado que os fatores políticos,
econômicos e sociais dificultam o progresso das mulheres na África Subsaariana. Ele
também propõe políticas e ações concretas para minimizar a diferença de gênero, ou
seja, a quebra de normas sociais prejudiciais e a transformação de ambientes
institucionais discriminatórios, garantindo, portanto, a participação social, política e
econômica das mulheres.

Em 2013, líderes da África relataram na Assembleia Geral das Nações Unidas


sobre a importância da solidariedade internacional a respeito de uma nova agenda
global de desenvolvimento de longo prazo que poderá tornar o século XXI em um
“século africano”, já que o continente seria alvo de grandes investidores caso ocorresse
um crescimento econômico significativo, maior paz e estabilidade política, classe média
29

em crescimento e disponibilidade de recursos naturais, de acordo com o


ex-primeiro-ministro da Etiópia, Hailemariam Dessalegn.

Em relação à Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, seus objetivos


giram em torno da erradicação da pobreza, fome, desigualdade social e de gênero.
Embora todos os dezessete objetivos sejam destinados ao nível global, há um grande
enfoque na África, dado que o continente sofre com essas questões, são elas, por
exemplo, a eliminação da fome, o alcance da segurança alimentar e melhoria da
nutrição (objetivo 2) e disponibilidade e gestão sustentável de água e saneamento
(objetivo 6).

É importante ressaltar que a União Africana também possui uma agenda com
metas, a Agenda 2063, considerada um guia para transformar a África na potência
global do futuro, com estratégias para o desenvolvimento inclusivo e sustentável, além
de manifestar o desejo pan-africano de unidade, autodeterminação, liberdade, progresso
e prosperidade coletiva. A ONU está engajada em projetos para com essa União a fim
de retirar as pessoas da pobreza, levar energia para 500 milhões de pessoas sem
eletricidade e conseguir os 60 bilhões de dólares necessários para empoderar as
mulheres africanas, de acordo com Vera Songwe, secretária-executiva da Comissão
Econômica das Nações Unidas para a África.

6.1 A questão da África e os Direitos Humanos

A África possui vários problemas relacionados ao desrespeito aos direitos


humanos por todo o território. A Human Rights Watch, uma organização
internacional de direitos humanos, não-governamental, sem fins lucrativos, é
reconhecida por investigações aprofundadas sobre violações desses direitos. Por
meio de investigações detalhadas sobre as violações de direitos humanos, a
organização expõe os casos e realiza reuniões com governos, as Nações Unidas e
grupos regionais como a União Europeia e Africana para cobrar políticas públicas e
práticas que promovam os direitos humanos e a justiça.

Diante disso, um relatório mundial é publicado anualmente com informações


documentadas sobre as violações dos direitos humanos por todo o planeta. A África
30

se destaca negativamente devido às práticas que desrespeitam esses direitos, tais


como tortura, perseguições políticas, leis repressivas, entre outros.

6.1.1 Relatório Mundial 2019

No Relatório Mundial de 2019 foram exibidos dados de 2018 sobre práticas


abusivas do governo, descaso com as políticas de proteção dos direitos humanos e
outras ações negativas de 23 países africanos. Dentre eles, tem-se, em seguida, a análise
daqueles já citados anteriormente.

Na República Democrática do Congo foram documentadas violações graves dos


direitos humanos contra líderes e apoiadores da oposição política, ativistas
pró-democracia e de direitos humanos, jornalistas e manifestantes pacíficos. Além
disso, a situação humanitária permaneceu alarmante, já que 4,5 milhões de pessoas
foram forçadas a deixar suas casas e mais de 120 mil refugiados foram deslocados para
países vizinhos. Em abril de 2018, o governo negou qualquer possibilidade de crise
humanitária e se recusou a comparecer em uma conferência internacional que visava
levantar fundos para os necessitados do país em situação emergencial.

Em contrapartida, na Etiópia, após anos de protestos contra as políticas


governamentais e repressão, o cenário dos direitos humanos se transformou, depois que
Abiy Ahmed se tornou primeiro-ministro em abril. O governo suspendeu o estado de
emergência em junho e libertou milhares de presos políticos, incluindo jornalistas e
líderes da oposição. O centro de detenção de Makaelawi, conhecido por tortura e
maus-tratos a presos políticos, foi fechado pelo governo. As restrições de acesso à
internet foram suspensas, assim como foi realizada a admissão de reformas legais de leis
repressivas e a introdução de várias outras reformas, promovendo, portanto, caminho
para um maior respeito pelos direitos humanos. Entretanto, muitos centros de detenção
controlados por administrações regionais, alguns conhecidos por maus-tratos, estupro,
tortura e falta de acesso à assistência médica e jurídica, permaneceram inalterados pelos
esforços de reforma.

Na Nigéria, o aumento das tensões políticas antes das eleições de 2019 definiu o
cenário dos direitos em 2018. Apesar dos notáveis ​avanços militares e proclamações
aparentemente prematuras da derrota do Boko Haram pelas forças do governo, o grupo
permaneceu uma ameaça à segurança, ou seja, os sequestros, atentados suicidas e
31

ataques a alvos civis pelo grupo persistiram. Pelo menos 1.200 pessoas morreram e
quase 200.000 foram deslocadas. Em junho, pelo menos 84 pessoas foram mortas em
ataques suicidas duplos atribuídos ao Boko Haram em uma mesquita em Mubi, Estado
de Adamawa.

Na África do Sul, o histórico do país sobre o respeito aos direitos humanos e ao


Estado de Direito permaneceu ruim sob a nova presidência de Matamela Cyril
Ramaphosa, que sucedeu Jacob Zuma. Corrupção, pobreza, alto desemprego e crimes
violentos foram documentados, assim como os cortes nos serviços de saúde e educação
também comprometeram a qualidade e o acesso aos direitos. Em agosto, a África do Sul
encerrou seu mandato de um ano como presidente da Comunidade de Desenvolvimento
da África Austral (SADC) e, mesmo assim, o país não utilizou o cargo para promover
ou apoiar a melhoria dos direitos humanos na região.
32

​ 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

​Os Estados africanos necessitam enfrentar problemas domésticos e regionais
caso queiram ascender a uma posição mais favorável no âmbito internacional. Os atuais
alinhamentos multilaterais com países como a China e Reino-Unido e o impulso por
desenvolvimento, são fatores que potencializam a relevância africana e a possibilidade
de crescimento político e econômico. Estes objetivos se confrontam com as guerras
locais, desestabilidades políticas e falta de poder dos países africanos, representando
barreiras ao progresso do continente.
​Buscando intensificar sua integração regional em prol do desenvolvimento
conjunto, os Estados africanos tentam desenvolver colaborações através de alianças
militares ou acordos bilaterais, fortalecendo suas atividades comunitárias com o intuito
de resolver problemas compartilhados. A estabilidade e manutenção da governança
também se mostra no centro das discussões africanas, representando um elemento base
para o bem-estar político das instituições internas dos Estados, que se encontram em
alguns casos muito enfraquecidas. Por fim, a inserção internacional como forma de
agregar importância e peso político ao continente já se demonstra uma estratégia em
curso, principalmente no caso de países como Etiópia, África do Sul e até a Nigéria.
​A África se encontra em um momento de transição, onde as pretensões de
crescimento no cenário internacional contrastam com as condições problemáticas do
âmbito doméstico e regional. Os países africanos, no momento atual, prezam muito pela
diplomacia e cooperação externa como estratégia de promover o desenvolvimento. As
ações africanas em conjunto com a comunidade internacional, somadas as políticas
regionais de caráter mais colaborativo, podem representar alternativas de fortalecimento
africano no âmbito global.







33

​REFERÊNCIAS

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contenção da França. Disponível em:
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34

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