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Capítulo 6

Capítulo 6

Geopolítica da África

A história do continente africano é uma das mais


antigas do planeta. Ele presenciou o surgimento do
ser humano, a origem das grandes civilizações da
Idade Antiga, a expansão da cultura muçulmana, a
dominação e escravização de negros, bem como a
colonização do litoral, a proliferação de epidemias, a
pobreza, os conflitos por fronteiras e a considerável
desigualdade social que perdura até hoje.

Atualmente, o continente também contém o


segundo maior índice de refugiados do mundo,
segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para
Refugiados (ACNUR). A fome, as secas, o avanço da
desertificação e os conflitos étnico-nacionalistas
representam as principais causas dessas migrações.

No que diz respeito ao aspecto econômico, o PIB


africano representa 1% da economia mundial. Isso se
deve ao fato de que o continente africano apresenta
alguns dos países mais pobres do mundo, com
incipiente industrialização e elevada concentração de
renda, o que o torna economicamente dependente
das nações desenvolvidas.

Outra característica do continente africano são as


notáveis diferenças entre suas fronteiras étnicas e
políticas, fato que, no século XX e até mesmo início
do século XXI, levantou conflitos em países como
Ruanda, Burundi, Angola e República Democrática do
Congo.

Nesta aula, você entenderá melhor algumas


relações que envolveram os países africanos ao longo
de sua história, resultando na configuração
heterogênea do continente.

Vista do Memorial dos Mártires, localizado em Argel,


capital da Argélia, ícone da celebração da independência
do território em relação à França. A presença de
monumentos no continente africano é comum e representa
as heranças de diversos conflitos que ocorreram no
continente durante a segunda metade do século XX.

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Breve história da África

Com as Grandes Navegações e a exploração da


costa africana, ocorreu uma influência mais
marcante e definitiva dos navegantes europeus
na região. A escravidão, embora existente na
África desde a Antiguidade, chegou ao ápice
durante o mercantilismo, quando os navios
negreiros foram responsáveis pelo tráfico de
pessoas até a América, em um processo de
escravização marcado pela transformação do ser
humano em objeto de troca.

Até meados de 1880, as potências europeias não


mantinham um controle direto sobre a África; no
máximo, detinham pequenas feitorias e bases ao
longo do litoral, que formavam um caminho para
o comércio com as Índias e com as sociedades
comerciais africanas, inclusive de escravizados.

Como a América estava alcançando a


independência, os europeus voltaram as
atenções para o continente africano, que
passaria a ser o principal fornecedor de
matérias-primas e mão de obra para atender aos
interesses da Revolução Industrial europeia em
curso. De 1884 a 1885, diante das disputas
imperiais, foi realizada a Conferência de Berlim,
que estabeleceu a partilha da África entre as
potências europeias, criando as fronteiras
artificiais, que não levavam em conta o respeito à
historicidade étnico-cultural dos povos
africanos.

Ao longo do início do século XX, o avançar do


neocolonialismo aprofundou o processo de
exploração e empobrecimento da população
africana, subordinada à estrutura europeia,
obrigando-a a ocupar áreas com solos pouco
férteis ao mesmo tempo que sofria com políticas
segregacionistas, como o apartheid na África do
Sul. Além disso, o domínio europeu na África
desestruturou o modelo econômico tradicional
das comunidades africanas, obrigando-as a
ceder suas terras férteis (nas quais adotavam um
modelo de subsistência com mão de obra
familiar) para os europeus.

Já a segunda metade do século foi marcada pelo


enfraquecimento da Europa e pela
descolonização da África. Em meio à Guerra Fria,
realizou-se a Conferência de Bandung (1955)
como forma de oposição a práticas neocoloniais
por parte dos Estados Unidos e da União
Soviética. A independência da maioria dos países
africanos ocorreu entre 1950 e 1980, período em
que a ONU, por meio do princípio da
autodeterminação dos povos, defendia a
emancipação. Esse processo aconteceu tanto de
forma pacífica como conflituosa e, embora
muitos países tenham alcançado a
independência, eles ainda recebem forte
influência das antigas metrópoles europeias em
conflitos atuais e possuem intensa dependência
econômica delas.

Alianças e obstáculos

União Africana (UA)

A primeira tentativa de aliança entre os países do


continente africano ocorreu em 1963, quando nasceu
a Organização da Unidade Africana (OUA). No
período, muitos países africanos ainda lutavam pela
independência e precisavam de apoio econômico,
político e, às vezes, militar para conquistar a
liberdade; alguns conflitos foram pacificados por
intermédio de acordos políticos liderados pela OUA.
Infelizmente, a OUA não conseguiu evoluir para uma
maior cooperação política e econômica regional, pois
se verificaram várias divisões e conflitos internos que
contribuíram para a destruição estrutural dos países
envolvidos. Outras estratégias semelhantes se
seguiram a essa, até que, em 2002, foi criada
oficialmente a União Africana (UA).

A UA objetiva, além da cooperação econômica e


política, defender a unidade e a solidariedade do
continente. Dentro dela, existem seis parcerias
regionais autônomas.

Em 2013, a República Centro-Africana foi suspensa


do bloco devido a uma guerra civil, a qual resultou
em um golpe de Estado, mas retornou a ele em 2016,
e, nos últimos anos, vem sendo alvo de uma iniciativa
de paz liderada pela UA. Ainda em 2013, o Egito
também foi suspenso por causa da deposição do
presidente Mohamed Morsi pelo exército, voltando
em 2014, e atualmente é protagonista de várias
discussões políticas. O Marrocos, por sua vez, foi
reinserido no bloco em 2017, o que legitimou a ação
da UA no continente, visto que todos os países da
Africa passaram a fazer parte dela.

A partir de 2015, surgiram estratégias para unificar


os mercados internos e, três anos depois, foi lançada
a Área de Livre Comércio Continental Africana, a qual
é composta por 49 Estados e representa o maior
acordo comercial desde a criação da OMC. Apesar
desses esforços, um desafio enfrentado pela UA é a
sua independência financeira, visto que, em 2015,
pesquisadores apontaram que 70% do orçamento do
megabloco veio de doadores, especialmente União
Europeia e Estados Unidos. Entre os principais países
que fomentam a UA, estão África do Sul, Argélia, Egito
e Nigéria.

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Impasses de integração
na África
Os impasses de desenvolvimento no continente
africano têm raízes históricas, respingando nas
heterogeneidades dos lugares: sua situação de
território etnicamente diverso e explorado pelas
potências europeias por séculos influencia em seu
potencial econômico. Atualmente, a África se
posiciona na Nova Divisão do Trabalho como fonte de
exploração de minérios e do setor agropecuário, ou
seja, em produtos de baixo valor agregado.

Outro aspecto que dificulta a integração da África


está vinculado a conflitos internos. A maioria dos
espaços de tensão no continente africano pós-1945
está associada a divergências étnicas, causadas pela
criação das fronteiras artificiais, frutos da política
europeia estabelecida pela Conferência de Berlim.
Essa desconsideração abrupta do elemento cultural
no momento de delimitação dos países contribuiu
para a falta de integração nos dias de hoje. Em se
tratando de espaços de tensão, uma das regiões de
maior conflito é o chamado “Chifre da África”, que
abrange Eritreia, Etiópia, Djibouti e Somália; desses
países, a Somália permanece em guerra civil desde
1986. Em 2011, ocorreu a separação oficial entre
Sudão e Sudão do Sul, mas ainda existem, entre eles,
confrontos decorrentes do não estabelecimento
consensual de uma fronteira.

A dependência econômica em relação aos países


desenvolvidos também está ligada às dificuldades
internas que muitas nações africanas apresentam na
organização de sua economia para atrair
investimentos, além dos casos de corrupção em
diversos governos, fragilizando as democracias.
Ademais, em períodos eleitorais e de crise política
têm havido impactos negativos no acesso às redes
sociais, o que tem sido notado, nos últimos três anos,
em pelo menos doze nações e denota uma possível
estratégia autoritária. Outro exemplo de dificuldade
interna ocorreu na África do Sul, em 2021, quando a
prisão do ex-presidente Jacob Zuma resultou em uma
onda de violência, gerando um clima de instabilidade
sociopolítica. O setor de saúde também tem sido foco
de protestos que buscam acelerar a vacinação da
população contra a covid-19 e reabrir a economia, a
qual foi prejudicada em razão da pandemia.

No tocante a investimentos, a China figura como


protagonista, concedendo empréstimos acessíveis e
favorecendo a construção de infraestrutura (portos e
estradas), o que poderia ser um proeminente
impulsionador de crescimento. Contudo, uma das
maiores contradições associadas a esses
investimentos está nos financiamentos para nações
pobres, visto que a concessão de empréstimos
poderá endividar esses países e aumentar sua
dependência em relação à China.

Além disso, a situação do continente se torna mais


delicada quando se considera o mapa dos famintos,
especialmente após a pandemia, visto que esse
período é considerado o pico mais elevado de fome e
desnutrição crônica das últimas décadas. Até mesmo
nas principais economias africanas (Nigéria, África do
Sul, Etiópia, Gana e Quênia), a retração do
crescimento será de cerca de 6,6%. O continente
como um todo, especialmente na zona da África
subsaariana, está vivenciando uma recessão. Para
utilizar o comércio intracontinental na tentativa de
solucionar a crise econômica, foi lançada, em 2021, a
Zona de Comércio Livre Continental Africana (AfCFTA,
sigla em inglês), tendo a UE como espelho.

A AfCFTA surge como uma tentativa e uma


oportunidade de retirar os países africanos da
pobreza extrema, além de se propor a aumentar os
rendimentos de outros milhões que vivem com uma
quantidade mínima de dinheiro. A ideia é criar a
maior zona de livre comércio do mundo, interligando
55 países. Com seu pleno funcionamento, objetiva-se
facilitar o comércio e reduzir a burocracia,
potencializando os ganhos de rendimento, além de
colocar em curso uma série de reformas necessárias
para que esses países continuem crescendo, inclusive
em longo prazo.

Reduzindo tarifas e pensando em políticas para


facilitar as relações comerciais, espera-se que a
reformulação do mercado e da economia impulsione
os serviços e diversifique as exportações,
minimizando os riscos.

Para que isso ocorra da melhor forma, deve haver


um esforço dos envolvidos em reduzir os custos de
comércio, além do planejamento e da viabilização de
políticas para proporcionar a agilidade das forças de
trabalho necessárias.

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ATIVIDADES ESSENCIAIS

Questão 01
O expansionismo europeu, iniciado no século XV, com
a expansão marítima, levou inúmeras regiões à
ocupação territorial, à exploração econômica e ao
domínio político. Nessa região do globo, temos dois
momentos importantes: a primeira fase colonialista
teve a liderança dos países ibéricos – Portugal e
Espanha – seguidos de Holanda, França e Inglaterra.
No século XIX, buscando especialmente matérias-
primas e mercados consumidores, houve um segundo
grande impulso colonialista, tendo a liderança da
Inglaterra, seguida de perto por França, Bélgica e,
depois, por Alemanha e Itália.

MORAES, Marco A. de; FRANCO, Paulo S. S. Geopolítica: uma


visão atual. Campinas: Editora Átomo, 2014. (adaptado)

Com impactos sociais, políticos e econômicos que


perduram até os dias atuais, o processo de
colonização tratado no excerto ocorreu no(a)

a) continente africano.

b) América Latina.

c) Oriente Médio.

d) Antártida.

e) leste asiático.

Questão 02
Analise os mapas.

Leila Leite Hernandez. A África na sala de aula, 2005.

Com base nos seus conhecimentos e na comparação


entre os dois mapas, pode-se afirmar que

a) a partilha do continente africano ocorreu no início


do século XIX, assegurando o equilíbrio entre as
áreas territoriais controladas pelas potências
europeias.

b) o processo de libertação da África do domínio


colonial europeu desenvolveu-se no decorrer do
século XIX, a partir de acordos diplomáticos com
as potências europeias.

c) a ocupação do centro africano ocorreu no


decorrer do século XIX e reafirmou a hegemonia
das mesmas potências europeias que já
colonizavam o litoral do continente.

d) a ocupação principal da África ocorreu no decorrer


do século XIX, culminando com a partilha do
continente pelas potências europeias.

e) o avanço da ocupação europeia para o centro do


continente africano foi pacífico e de natureza
semelhante à dominação do litoral no princípio do
século XIX.

Questão 03
Conhecido por apresentar uma multiplicidade de
culturas e etnias, o continente africano exibe,
também, significativos contrastes naturais e
socioeconômicos. Sobre as características que
marcaram/marcam o continente africano, é correto
afirmar que

a) o continente africano se caracteriza por um relevo


predominantemente sedimentar no Norte e por
maciços cristalinos no Sul, além de apresentar um
contorno retilíneo do seu litoral, facilitando a
ocorrência de portos marítimos.

b) a partir dos primeiros anos do século XXI, a África


passou a receber investimentos da crescente
economia asiática, especialmente da chinesa, que
apostou, principalmente, nos recursos minerais e
energéticos africanos.

c) a porção meridional da África é um conjunto de


países com características históricas e culturais
que refletem a religião islâmica e a língua árabe,
contando também com uma crescente economia
voltada para o mercado interno.

d) o processo de urbanização da África só está


ocorrendo no século XXI, de forma ordenada, mas
lenta, pois somente em 2015 o continente atingiu
equilíbrio numérico entre a população urbana e a
população rural.

e) a região de altas latitudes é marcada por clima


equatorial e escassez de chuvas, além de extensas
florestas preservadas.

Questão 04
Sobre o processo de desenvolvimento do continente
africano, é correto afirmar que

a) a África do Sul é a exceção à extrema pobreza e


miséria em toda a África Subsaariana, uma vez
que atingiu certo grau de desenvolvimento
industrial e modernização devido à grande
quantidade de ferro, ouro e pedras preciosas que
seu território possui.

b) embora haja grandes índices de extrema pobreza


na África, em virtude dos altos investimentos em
industrialização, a África tem recebido elevados
índices de imigrantes que originaram no
continente africano diversas cidades globais.

c) na tentativa de superar os índices de extrema


pobreza e favorecer a distribuição mais equitativa
de alimentos, a Comunidade de Desenvolvimento
da África Austral (SADC) e a União Africana (UA)
aparecem como investidas políticas que
eliminaram os entraves que impediam o
desenvolvimento da industrialização.

d) o desenvolvimento industrial da África iniciou-se


ainda quando o continente estava organizado em
colônias, por volta da década de 1930.

e) os chamados diamantes de sangue são estratégias


que buscam eliminar a pobreza e a miséria da
África a partir da exploração dos recursos
minerais.

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ATIVIDADES PROPOSTAS

Questão 01
A respeito da formação territorial da África e de
assuntos correlatos, analise as afirmativas a seguir.

I. Durante o período chamado de colonização


recente, as potências europeias se apropriaram
de terras dos povos originários africanos.

II. O processo de descolonização do continente


africano resultou na formação de diversos
países.

III. A divisão territorial da África, segundo os limites


político-administrativos dos países desse
continente, espelha as formações dos grupos
étnicos africanos.

IV. A Partilha da África faz referência a um período


de maior autonomia dos países africanos, no
qual as nações passaram a se organizar em
blocos com a finalidade de superar as barreiras
comerciais existentes entre si.

São corretas as afirmativas

a) I e II.

b) II e III.

c) III e IV.

d) II, III e IV.

e) I, II, III e IV.

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