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África: conflitos políticos e fronteiriços

O continente africano é o segundo mais populoso do mundo. Em 2017, contava com pouco mais de
1,2 bilhão de habitantes, o que corresponde a aproximadamente 16% da população total mundial. A
população se distribui de forma desigual pelo território, uma vez que as grandes extensões de desertos e
florestas dificultam a ocupação humana. Mais de 80% da população vive ao sul do deserto do Saara. Ao
longo do século XX, a população africana apresentou intenso crescimento, impulsionado pelas elevadas
taxas de natalidade e pela queda das taxas de mortalidade, decorrente dos avanços da medicina no
continente. Estima-se que em 2050 o número de habitantes do continente se aproxime de dois bilhões de
pessoas.
O continente registra grandes deslocamentos populacionais, que ocorrem, sobre tudo, de países ao
sul do Saara em direção à Europa. Conflitos, guerras civis e falta de perspectivas de trabalho levam muitos
africanos a abandonar sua terra natal em busca de melhores condições de vida. Muitas vezes, os imigrantes
se sujeitam a perigosas travessias pelo mar e pelo deserto para entrar de forma ilegal na Europa. Segundo
estimativas de um instituto alemão, em 2017 havia 25 milhões de africanos vivendo fora da África, a
maioria no continente europeu.
Processo de descolonização e regiões de conflito

CONDIÇÕES DE VIDA NO CONTINENTE


Apesar dos avanços no continente, a maioria dos países africanos apresenta indicadores sociais e
econômicos que revelam as precárias condições de vida de grande parte de seus habitantes. Essa situação
aparece, por exemplo, no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), dado importante para orientar as
políticas dos Estados em relação à melhoria de sistemas públicos, como o de saúde — buscando promover,
entre outros aspectos, o aumento da esperança de vida — e o de educação — reduzindo o número de
analfabetos e elevando a média de anos de estudo da população.
O Produto Interno Bruto (PIB) per capita é, em geral, baixo na África. Os altos índices de
contaminação pelo vírus da aids, a incidência de outras doenças e as guerras civis, além da má administração
dos recursos por alguns governos considerados corruptos, contribuem para que uma parcela significativa da
população tenha condições de vida muito ruins.
De acordo com um relatório publicado no ano de 2015 pelas Nações Unidas, uma em cada nove
pessoas no mundo sofria diariamente com o problema da fome. Na África, esse quadro é agravado pela fome
crônica, que assola as populações. Observe o mapa abaixo, que apresenta dados sobre a população
subnutrida no continente.

AS FRONTEIRAS AFRICANAS
A retirada das potências europeias do território africano foi em grande parte ocasionada pela situação
econômica desastrosa em que elas se encontravam após a Segunda Guerra Mundial. Manter a administração
e a segurança militar das colônias tornou-se muito oneroso.
Essa situação desencadeou um redesenho do continente africano. Estados corruptos, liderados por
elites tribais e alinhados aos interesses dos ex-colonizadores e de outros grupos estrangeiros, implantavam
projetos de industrialização e modernização por meio de governos opressores e com forte controle estatal.
Paralelamente a essa política, alguns intelectuais áfricanos, como Kwane Nkrumah, de Gana, um dos
idealizadores do pan-africanismo, e Edem Kodjo, ex-primeiro-ministro do Togo e ex-secretário-geral da
então Organização da Unidade Africana (OUA), defendiam o reordenamento das fronteiras, mas sem
interferir nas fronteiras dos Estados vizinhos.
A política de não interferência no traçado das fronteiras gerou grandes instabilidades e deixou
desafios a serem enfrentados pelos novos países: lidar com os conflitos causados pela concentração de
populações pertencentes a etnias distintas — muitas vezes inimigas — em um mesmo território e superar o
quadro de pobreza e exploração resultante da colonização.

APARTHEID: SEGREGAÇÃO ÉTNICA


Uma das marcas do colonialismo europeu no continente africano foi a segregação. Na África do Sul,
essa prática ficou conhecida pelo nome de apartheid, palavra da língua africânder, originada do holandês do
século XVI, que significa “separação”. Tratou-se de um regime de segregação racial em que se negava à
população negra o acesso a espaços ocupados e frequentados pelas comunidades brancas. A ideia de
superioridade racial do branco europeu sobre os povos africanos foi imposta para justificar as estratégias de
dominação, a expropriação de terras e riquezas e a própria escravização.
Na África do Sul, o apartheid, existente na prática desde 1910, foi oficializado por uma lei em 1948 e
vigorou até 1994. Nesse país, o racismo era ostensivo a ponto de impedir que os negros, embora
constituindo a maioria da população, tivessem propriedades territoriais e participassem da política. Além
disso, eles eram obrigados a viver em zonas residenciais separadas (os bantustões) das reservadas aos
brancos. Após muitos anos de luta da população negra pela igualdade de direitos, com massacres e prisões
de líderes, a situação do país tornou-se insustentável, em vista do apoio inter nacional à causa anti-
apartheid.
Fortes pressões da ONU e de vá rios países levaram à realização de eleições multirraciais em 1994.
Nelson Mandela, um dos mais importantes líderes do movi mento contra o apartheid, que ficou preso por
27 anos, foi eleito o primeiro presidente negro da África do Sul.

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