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ATUALIDADES
Refugiados no mundo contemporâneo
ATUALIDADES Alessandra de Fatima Alves
Refugiados no mundo contemporâneo
Atualmente, o mundo vive a mais grave crise de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial. Em 2017,
um plano apresentado pela União Europeia (UE) e pela Turquia para conter o fluxo de refugiados sírios provocou
grande polêmica. O projeto previa a deportação de todos os migrantes que chegassem à Grécia (país que é uma
das principais portas de entrada na UE) vindos da Turquia. No continente africano, devido aos diversos conflitos
étnicos, religiosos e políticos, as populações são forçadas a deixarem seus países em busca de melhores condições.
Nos últimos anos, o Brasil vem tendo importância nesses fluxos migratórios, recebendo refugiados sírios, haitianos
e, mais recentemente, venezuelanos, devido à grande crise econômica que assola a Venezuela.

Refugiados em barco no mar Mediterrâneo

Durante esta crise dos refugiados, muitos termos aparecem com frequência no noticiário – “refugiado“,
“migrante“, “asilo“ –, por isso, é preciso saber diferenciá-los. A compreensão desses conceitos é importante para
entender, por exemplo, a proposta da UE, que está sendo muito criticada.
O migrante é qualquer pessoa que muda de região ou país, e há dois grupos distintos:
§§ Migrante econômico: qualquer pessoa que muda de região ou país, por vontade própria, para escapar da
pobreza e em busca de melhores condições de vida. Uma pessoa da Ucrânia (país que não faz parte da UE)
que vai trabalhar na Inglaterra para juntar dinheiro, por exemplo, é considerada uma migrante econômica.
§§ Refugiado: qualquer pessoa que muda de região ou país tentando fugir de guerras, conflitos internos,
perseguições (política, étnica, religiosa etc.) e violação de direitos humanos. É o caso de milhões de sírios,
afegãos ou eritreus que fogem de seus países para poder sobreviver.
§§ A distinção entre esses conceitos é muito importante do ponto de vista legal. Isso porque apenas os refu-
giados têm direito a requerer asilo em outro país, de acordo com a Convenção das Nações Unidas sobre o
Estatuto dos Refugiados e as diretrizes da União Europeia.
Por isso, quando o refugiado chega a outro país, ele logo entra com um pedido de asilo. Dessa forma, torna-se
solicitante de asilo, que é um pedido de proteção internacional. Ao receber o asilo, o migrante ganha o status oficial de
refugiado e pode permanecer legalmente no país. Já quem deixa a pobreza em seu país para encontrar emprego em outra
nação – o migrante econômico – não tem direito a requerer asilo. Geralmente, quando é abordado pelas autoridades de
imigração na Europa e não apresenta nenhum documento que comprove seu asilo, ele é detido ou deportado.

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Convenção de Genebra (1951)
O termo “refugiado” foi criado na Convenção de Genebra, em 1951, que teve como objetivo regular o
status legal dos refugiados, assim como definir os direitos e instrumentos legais internacionais que podem ser acio-
nados por quem se encontra nessa situação. A Convenção estabeleceu também regras básicas para o tratamento
de refugiados. Ela estipulou que os países signatários se comprometam em dar asilo a todos os comprovadamente
refugiados e que também aceitem a proibição de expulsão, mesmo após o fim das guerras.
No entanto, a Convenção foi criada em uma época quando os refugiados eram principalmente europeus,
fugindo dos horrores da Segunda Guerra Mundial. Isso fez com que os países europeus fossem muito defensores
dos acordos de refugiados. Atualmente, com os refugiados da guerra na Síria, a reação dos países signatários não
tem sido a mesma – pelo contrário, parte deles tem se mostrado bastante resistente (e até contra) a receber refu-
giados. Até março de 2017, países europeus aceitaram menos de 10% dos 160 mil refugiados que concordaram
em abrigar e, em junho de 2018, Polônia, República Tcheca e Hungria foram punidas por recusarem essas pessoas.

A crise dos refugiados e a guerra civil na Síria


A Organização das Nações Unidas (ONU) considera esta a pior crise humanitária do século XXI, sendo
este também o maior fluxo de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial. Em 2016, o grupo de pessoas que se
deslocou de seus países, fugindo de perseguições políticas e guerras, chegou a 65,6 milhões – não em trânsito no
momento, mas que passaram por essa situação desde que esses números foram compilados. O número registrou
alta de 10,3% em comparação com 2014, depois de uma estabilidade entre 1996 e 2011.
A origem da maior parte dos refugiados são países da África ou do Oriente Médio. Eles fogem por conta
de conflitos internos, guerras, perseguições políticas, ações de grupos terroristas e violência aos direitos humanos.

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Metade do fluxo anual de refugiados são sírios, devido Em direção à Europa, as travessias são normal-
à fuga da guerra civil que ocorre no país desde 2011. mente feitas em embarcações de estrutura precária e
De acordo com dados de 2016 da ONU, 13,5 milhões com preços muito altos. Alguns refugiados vendem to-
de sírios dependem de assistência humanitária, o equi- dos os seus bens e utilizam todo o dinheiro para pagar
valente a 3/4 da população do país. Além disso: pela viagem. Segundo a Organização Internacional para
§§ 70% dessa população não tem acesso à água as Migrações (OIM), morreram ou desapareceram 3771
potável; pessoas nessas travessias no ano de 2015. Só na pri-
§§ uma em cada três pessoas não se alimenta com meira semana de 2016, 409 pessoas morreram nessa
o básico da nutrição necessária; mesma situação.
§§ mais de 2 milhões de crianças não vão à escola;
§§ uma em cada cinco pessoas vive em situação de
pobreza.

Fonte: <www.folha.uol.com.br>.

Apesar de a crise dos refugiados ter atingido


com força a Europa, a maior parte das pessoas que fu-
giram da guerra na Síria dirigiu-se principalmente para
cinco países do Oriente Médio: Turquia, Líbano, Jordâ-
nia, Iraque e Egito. Estas nações receberam pelo menos
4,3 milhões de pessoas, desde o início da crise, con-
Refugiados sírios na fronteira de países europeus
centram 95% dos refugiados sírios e demandam muito
mais assistência dos serviços públicos do que os países

Rotas traçadas durante a europeus – apesar de, nesse continente, a discussão


sobre receber ou não os refugiados causa muito mais
crise dos refugiados polêmica e hostilidade do que no Oriente Médio.
Por serem mais próximos à Síria, os países ára-
Devido a este panorama que se construiu nos bes são os principais destinos das populações refugia-
últimos anos, principalmente em decorrência da Pri- das. Porém, têm pouca ou nenhuma estrutura para re-
mavera Árabe, vários países ao redor do mundo, princi- ceber tantas pessoas num intervalo tão curto de tempo.
palmente na Europa e na Ásia, têm se preparado para Há dificuldades em conceder quesitos básicos, como
abrigar refugiados. A prioridade é diminuir o sofrimento alimentação, abrigo e educação para as crianças. Por
dessas populações e proporcionar auxílio adequado esse motivo, alguns desses Estados até impuseram re-
quando migram para tal país. gras para receber refugiados. Conheça a situação dos
Os países que mais servem como porta de entra- principais destinos de refugiados:
da de refugiados para a Europa são a Grécia e a Itália, §§ Líbano: o total de sírios refugiados superou
ambos recebendo essas pessoas pelos mares Egeu e 1 milhão de pessoas, o que equivale a 25% da
Mediterrâneo, respectivamente. Para fazer a travessia, população do país. Por esse motivo, entraram
os refugiados se colocam em alto risco, tamanho o de- em vigor, em 2015, novas exigências para os
sespero de sair de seus países. estrangeiros que chegam, como pagamento de

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uma taxa para obtenção de autorização de per- 2016, a Síria ocupa o primeiro lugar nesse ranking,
manência, que é válida por no máximo um ano. sendo seguida pelo Afeganistão – que vive em meio à
§§ Jordânia: segundo o rei Abdullah Ibn al-Hus- violência há 30 anos, fato que já levou 2,5 milhões de
sein, a Jordânia está “em ponto de ebulição”, já cidadãos a deixarem o país. Tal número é pouco menor
que os sírios refugiados equivalem a 20% da po- que o de 2015, quando 2,7 milhões de afegãos fugi-
pulação jordaniana, e o país não tem condições ram do país. Essa diminuição é justificada pela volta
de assegurar serviços públicos aos que chegam. de diversos refugiados. Os conflitos no Sudão do Sul
§§ Turquia: consiste no principal destino dos re- colocaram o país em terceiro lugar nesse ranking, com
fugiados – mais de 2,8 milhões de sírios cruza- 1,4 milhão de refugiados. Juntos, esses três países re-
ram a fronteira entre os dois países. Por causa presentam os locais de origem de 55% dos refugiados
da grande demanda, disponibiliza mais de 20 no mundo inteiro.
campos de refugiados, mas os abrigos são insufi-
cientes para atender a todos os migrantes sírios,
e muitos deles estão sem nenhuma assistência.
Refugiados afegãos
§§ Europa: a situação da Turquia preocupa a União
Mais de três décadas de guerra no Afeganistão
Europeia, pois a maioria dos refugiados que che-
obrigaram milhões de afegãos a fugirem para o exterior
ga ao país tem como destino final nações eu-
ou a viverem em áreas menos conflituosas do país asiá-
ropeias como Alemanha e Áustria. Por isso, os
tico, onde o frio e a falta de recursos são obstáculos que
líderes da UE fecharam, em novembro de 2016,
as pessoas têm que enfrentar.
um acordo com a Turquia para o país melhorar
A maior parte dos refugiados encontra abrigo
as condições dos abrigos e ampliar a permissão
nos vizinhos Irã e Paquistão, enquanto outros tentam
de trabalho aos sírios.
refazer sua vida em acampamentos espalhados pelo
Afeganistão que dependem da ajuda da comunidade
Veja onde estão os milhares de internacional.

refugiados sírios no Oriente Médio

O êxodo dos refugiados afegãos


Fonte: Acnur (Agência da ONU para Re-
fugiados), em 17 jan. 2014.
Existem 450 mil refugiados no Afeganistão, en-
tre refugiados internos, emigrantes econômicos e aque-
les que retornaram ao país, afirmou à Agência Efe o
A crise dos refugiados: além da Síria porta-voz da delegação afegã do Alto Comissariado da
ONU para os Refugiados (Acnur), Nader Farhat.
O World Migration Report 2018, levantamen- Segundo o ministério afegão dessa área, a maior
to realizado pela OIM, apontou quais são os conflitos parte dessas pessoas é do sul do país, onde estão os
que mais geram refugiados. Com base em dados de principais redutos tradicionais da insurgência talibã.

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Apesar dos bilhões em ajuda econômica interna- com combates entre duas facções do exército, dividido
cional que chegaram na última década ao Afeganistão, o pela rivalidade entre o presidente Salva Kiir e seu ex-
país continua apresentando um dos índices de desenvolvi- -vice Riek Machar. Diferentes milícias se uniram a cada
mento mais baixos do mundo. E o conflito aumentou nos um dos lados, com confrontos marcados por massacres
últimos anos, espalhando-se progressivamente a diversas de caráter étnico. O confronto teve início quando Kiir
partes do território, antes consideradas relativamente pací- destituiu Machar, acusando-o de tramar um golpe de
ficas. Em meio ao confronto, estão os civis, um grupo que, Estado. Os dois políticos pertenciam ao mesmo partido
a cada ano desde 2007, sofre um maior número de vítimas, – o Exército de Libertação do Povo Sudanês.
chegando a mais de três mil em 2017, anunciou a ONU.

A anti-imigração europeia
Sudão do Sul: independência recente
A União Europeia é um bloco de países no qual
O Sudão do Sul conquistou sua independência imperam algumas regras – que não se aplicam a todos
em relação ao Sudão em julho de 2011, depois que um eles, mas à maioria. Algumas dessas regras entraram em
referendo realizado em janeiro daquele ano aprovou a discussão com o agravamento da crise dos refugiados,
separação, com 98,83% dos votos a favor. O referendo como a livre circulação de pessoas e de mercadorias.
estava previsto em um acordo de paz de 2005 que en- As regras de concessão de asilo político também estão
cerrou décadas de guerra civil. em debate, pois o asilo deve ser feito no país em que
As diferenças étnicas e religiosas, do que então o migrante entra no bloco e, por isso, coloca pressão
era apenas um país, foram o principal ponto de conflito nos países das fronteiras que mais recebem refugiados,
entre os dois lados. A população do sul (hoje, o Sudão como Hungria, Grécia e Itália.
do Sul), formada por diversos grupos étnicos de maioria Países como Alemanha e Suécia têm aceitado
cristã ou animista, se sentia discriminada pelo governo abrigar refugiados com menos complicações. Porém,
centralizado em Cartum (no Sudão), de maioria muçul- alguns impõem mais restrições a essas pessoas, como
mana, e que tentava impor a lei islâmica na região. O você pode ver a seguir:
governo de Cartum foi o primeiro a reconhecer a nova §§ Hungria: tem no governo um primeiro-mi-
nação, num sinal de secessão tranquila. nistro conservador, que profere o discurso de
dever em “defender a cultura da Hungria e da
Europa”. Além dele, o governo tem instituído
políticas a fim de não acolher pessoas em si-
tuação de refugiadas. Construíram um muro
de 175 km na fronteira com a Sérvia (que não
integra a UE), aprovou leis que punem com até
três anos de prisão quem entrar irregularmente
no país e que permitem deportar quem estiver
nessa situação.
§§ Áustria: lida com a situação dos refugiados
da mesma forma que a Hungria, anunciando a
Mulheres que fugiram da área de combate fazem fila
para receber comida em Bentiu, no Sudão do Sul. intenção de construir um muro para servir de
barreira ao crescente número de migrantes che-
gando ao seu território. Assim, em 2016 iniciou-
Confronto de facções -se a construção de um muro na fronteira com a
Itália e, em 2018, o governo anunciou o desejo
A aparente tranquilidade não durou. A guerra in- de levantar outra barreira, desta vez na divisa
terna no Sudão do Sul começou em dezembro de 2013, com a Eslovênia.

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§§ Grécia: está sofrendo uma crise econômica e força de trabalho de imigrantes para que saiam dessa
política bárbara desde 2008. Mesmo com o ce- encruzilhada demográfica. Uma das medidas de Merkel
nário interno negativo, o país continua sendo foi propor a realocação de 160 mil refugiados que estão
um dos principais pontos de acesso à Europa e, na Itália e na Grécia a outros países europeus – a polí-
portanto, recebe muitos refugiados. O governo, tica foi aprovada e tem prazo de dois anos.
porém, afirma não ter condições de acomodar
esse contingente e pediu ajuda aos demais paí-
ses europeus.
Desaprovação
As principais questões que desagradam tanto
O papel da Alemanha a população do país como a de países vizinhos são: o
receio quanto ao mercado de trabalho; a extensão de
A política que a Alemanha instituiu para ajudar serviços públicos aos refugiados; e que os sistemas de
na crise dos refugiados foi a de aliviar a pressão sobre benefícios do país se apliquem a eles também. O alto
os países de fronteira com o norte da África e a Ásia, gasto do governo alemão, estimado em 6 bilhões de
permitindo que os refugiados sírios peçam seus vistos lá,
euros, para lidar com o fluxo de imigrantes que chegou
mesmo já tendo transitado em outros países europeus. O
ao país também preocupa a população. Isso fez com
governo alemão da chanceler Angela Merkel adotou uma
que o governo tomasse posturas mais rígidas quanto à
política de portas abertas em 2015, tendo recebido mais
concessão de asilo ou refúgio e o controle do número
de 1,3 milhão de pedidos de asilo desde então.
de refugiados.

Manifestantes alemães contra a entrada de refugiados


Campo de refugiados na Alemanha

As justificativas principais dessa política de aco-


lhimento são razões demográficas e econômicas, uma Venezuela
influenciando diretamente a outra. Todo o continente
europeu está sofrendo com o envelhecimento da popu- Desde 2013, a Venezuela encara uma forte crise
lação, devido à alta expectativa de vida que a popula- que a afeta de diversas maneiras e levou o país sul-
ção tem lá. Uma implicação desse fato é o aumento do -americano à beira do caos social. A crise política na Ve-
índice de dependência de idosos. O número de pessoas nezuela tem relação direta com a crise econômica que
que não estão em idade de trabalhar é maior que o de atingiu a nação após o valor do barril do petróleo ter
pessoas em idade de trabalho e que pagam impostos. despencado drasticamente. Também se relaciona com o
Outro número relacionado a essas questões é a baixa esgotamento do projeto político do chavismo venezue-
taxa de natalidade e, por isso, leva ao declínio no núme- lano, que foi mantido pelo herdeiro de Hugo Chávez e
ro de habitantes. atual presidente da Venezuela, Nicolás Maduro.
Esses fenômenos estão acontecendo na Europa Chávez foi o grande nome da política venezue-
em geral e são os principais motivos pelos quais tanto a lana durante anos. Foi presidente do país de 1999 até
Alemanha como todo o continente europeu precisam da 2013, ano em que faleceu em decorrência de um cân-

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cer. Durante o governo de Chávez, seu projeto político Em meio a esse caos, parte da população não viu
recebeu o nome de chavismo e foi baseado nos ideais outra saída, a não ser procurar uma vida mais estável
de Simón Bolívar, além de ideais socialistas. em outros países. Isso deu início a um ciclo migratório,
responsável pela saída de milhares de venezuelanos de
seu país.
Segundo a Organização Internacional de Migra-
ção, 2,3 milhões de venezuelanos já deixaram a Vene-
zuela em meio a essa situação, que piorou significativa-
mente a partir de 2015. Estima-se que pelo menos 50
mil deles, ou 2%, tenham se fixado apenas no Brasil,
até abril de 2018, um aumento de mais de 1000% em
relação a 2015. O número leva em conta pedidos de
asilo e residência.
Venezuelanos na fila por uma vaga de emprego.
No muro, a imagem de Hugo Chaves

O chavismo tem como elementos centrais a de-


fesa de medidas que ampliam a participação social na
política, bem como defende a importância da igualda-
de social. O chavismo também é caracterizado por uma
política anti-imperialista, a qual defende a integração
dos povos sul-americanos e o combate à influência dos
Estados Unidos. O governante – no caso Hugo Chávez
– apresentava-se como líder da nação, e seu poder era
baseado em um forte militarismo.
A crise política na Venezuela tem causado con-
tinuamente violentos protestos, pois os opositores que
manifestam sua insatisfação reagem violentamente e
têm sido respondidos pelas tropas do governo também
com violência. Essa crise gerou um forte desabasteci-
mento, o que aumentou a fome no país, assim como
contribuiu para um princípio de crise humanitária.

A Agência de Migração da ONU alertou que


a Venezuela está caminhando para o mesmo “mo-
mento de crise“ de refugiados visto no Mediterrâ-
neo, em 2015. O alerta compara a forte imigração
de venezuelanos para países vizinhos com a regis-
trada em direção à Europa, onde o fluxo de pessoas
entrando pelo mar Mediterrâneo, em fuga de guer-
ras, dificuldades econômicas e de outros conflitos
em suas regiões de origem, disparou nos últimos
anos e levou os países de destino a levantarem bar-
reiras ou a endureceram as regras de entrada em
Venezuelanos deixam o país. seus territórios.

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O Peru virou o novo lar de aproximadamente dados seguros acerca do número de venezuelanos no
400 mil imigrantes venezuelanos. A maioria desem- Brasil. A Polícia Federal estima que cerca de pouco mais
barcou no país no ano passado, segundo a agência de de 30 mil venezuelanos pediram regularização em ter-
imigração do Peru. Com as novas regras vigentes, os ritório brasileiro; aproximadamente 29 mil requisitaram
venezuelanos precisarão ter passaportes válidos para refúgio e quase 10 mil solicitaram permanência.
entrar no país. Até então, eles eram autorizados a usar A prefeitura de Boa Vista (capital de Roraima)
apenas suas carteiras de identidade. apresenta uma estimativa de que já entraram na ci-
O Equador tentou implementar uma lei seme- dade cerca de 40 mil venezuelanos. Alguns meios de
lhante em agosto de 2018. No entanto, no mesmo comunicação já usam o termo “êxodo” (transferência
mês, um juiz considerou que exigir que os venezuelanos permanente de um lugar para outro) para caracterizar
tenham passaportes válidos quebra acordos regionais esse intenso fluxo migratório para o Estado. Contudo,
sobre liberdade de movimentação. João Carlos Jarochinski, que é professor de Relações
O Brasil recebeu apenas 2% dos 2,3 milhões de Internacionais, considera que há certo exagero nessa
venezuelanos expulsos pela crise. denominação, visto que essa crise migratória apresenta
situações específicas.
Em um primeiro momento, houve uma migração
Tensão cresce nas fronteiras pendular (transferência momentânea ou diária). Os ve-
nezuelanos chegavam ao Brasil com o intuito de traba-
Nas regiões de fronteira, a tensão aumentou no
lhar por um determinado momento e abastecer-se de
segundo semestre de 2018, e governos buscam aumen-
insumos básicos para, então, retornar à Venezuela.
tar o controle de entrada dos imigrantes.
No segundo momento, os migrantes começa-
O Estado de Roraima, na região Norte do Brasil,
ram a fixar-se próximo à fronteira. Por último, começou
tentou fechar a fronteira, mas a proposta foi rejeitada
a ocorrer a passagem de venezuelanos através de Ro-
pela Justiça. Por ser a de mais fácil acesso, a cidade de
raima para outros destinos. Como é possível perceber,
Pacaraima concentra a maior parte dos que cruzam a
não há um número exato de venezuelanos que aqui se
linha entre a Venezuela e o Brasil
estabeleceram e, portanto, não há como afirmar que
houve êxodo.
Evidentemente, Roraima apresenta dificuldade
em abrigar todos os imigrantes. Contudo, o número de
venezuelanos que têm entrado em território nacional
não sobrepassa a capacidade de absorção do Brasil,
visto que o país possui dimensões continentais e tam-
bém um PIB suficiente para atender a essa demanda. O
grande problema é que os imigrantes têm-se concentra-
do em Roraima, e o Estado não consegue abrigar toda
essa população. O que deveria ocorrer é uma distribui-
ção dessas pessoas para outros centros urbanos.
Em território brasileiro, a estimativa é que ape-
nas 1% da população seja de imigrantes, ou seja, é pos-
O porta-voz da Agência da ONU para Refugia-
sível atender um número muito maior de pessoas.
dos (Acnur), William Splinder, alegou que venezuelanos
possuem benefícios de permanência em países vizinhos
por causa das políticas de solidariedade que vigoram na Xenofobia
América latina. Os dados obtidos até meados de 2017
foram de que aproximadamente 52 mil venezuelanos A questão do fluxo migratório para o Brasil re-
requisitaram refúgio em outros países. Ainda não há quer um olhar mais humano por parte dos governantes

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brasileiros e da própria população, que, muitas vezes, §§ “Terra firme“ (2011) – direção: Emanuele
por falta de informação ou por medo, incita a violência Crialese – duração: 88 minutos

contra os imigrantes. Casos de ataques violentos contra §§ “Em refúgio: um documentário sobre pos-
os venezuelanos já foram registrados. sibilidades“ (2018) – direção: Piero Sbragia
– duração 21 minutos
No dia 18 de agosto de 2018, por exemplo,
imigrantes venezuelanos foram expulsos do Estado de §§ “Zaatari: memórias do labirinto“ (2018) –
direção: Paschoal Samora – duração: 92 mi-
Roraima, na cidade de Pacaraima, após um comerciante
nutos
da cidade sofrer um assalto por parte de quatro vene-
§§ “Era o Hotel Cambridge“ (2016) – direção:
zuelanos, supostamente. O fato desencadeou uma onda
Eliane Caffé – duração: 99 minutos
de violência em que os moradores da cidade se mos-
traram revoltados. A suposta ação de quatro pessoas
resultou na expulsão de centenas de venezuelanos, que
foram forçados a retornar para o seu país. É importante
Fontes
dizer que devemos lutar contra a xenofobia (aversão ou
discriminação a pessoas estrangeiras), respeitando os §§ www.bbc.com/portuguese/amp/internacio-
Direitos Humanos. nal-45307311

§§ https://g1.globo.com/google/amp/mundo/noti-
cia/2018/08/23/exodo-de-venezuelanos-ja-e-
-maior-que-numero-de-refugiados-que-tentam-
-chegar-a-europa.ghtml

§§ https://m.vestibular.brasilescola.uol.com.br/
amp/atualidades/crise-na-economia-politica-
-venezuela.htm#

Acampamento de venezuelanos é atacado por brasileiros.


§§ https://guiadoestudante.abril.com.br/blog/atua-
lidades-vestibular/crise-dos-refugiados-entenda-
Enquanto houver motivação para o fluxo migra- -os-principais-conceitos/amp/
tório, é certo que ele não cessará. Cabe aos países que
§§ www.politize.com.br/crise-dos-refugiados/
receberão esses imigrantes superar suas dificuldades,
trabalhando em conjunto com os governos dos Estados, §§ https://m.vestibular.brasilescola.uol.com.br/
a fim de proporcionar uma acolhida efetiva. amp/atualidades/crise-dos-refugiados-na-euro-
pa.htm

Aprofunde seus conhecimentos §§ https://exame.abril.com.br/mundo/sao-450-mil-


-os-refugiados-no-afeganistao/
Sugestões de filmes e §§ https://g1.globo.com/mundo/noticia/sudao-do-

documentários -sul-como-o-pais-mais-novo-do-mundo-mergu-
lhou-num-caos-de-guerra-e-fome.ghtml
§§ “O caçador de pipas“ (2007) – direção: Marc
Forster – duração: 168 minutos §§ https://nacoesunidas.org/crise-de-refugiados-

§§ “Os capacetes brancos“ (2016) – direção:


-do-sudao-do-sul-deve-se-tornar-a-maior-do-
Orlando von Einsiedel – duração: 41 minutos -mundo-este-ano-alerta-onu/

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