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FICHAMENTO PARA ARTIGO KÁTIA

TRABALHO NO CAPITALISMO TARDIO: desdobramentos para o Serviço


Social

Objetivo Geral: Interpretar as transformações do capitalismo em seu contexto histórico


a partir do neoliberalismo enquanto resposta à crise com ênfase à realidade brasileira

Específicos:
Compreender os desdobramentos e transformações à realidade profissional do serviço
social
Traçar desafios e perspectivas para a profissão no contexto da saúde
Problematizar a autonomia profissional no contexto neoliberal

TEXTOS PARA O TÓPICO 1

1. O ENIGMA DO CAPITAL E AS CRISES DO CAPITALISMO – CAP. 3 E 4

Sobre o exército de reserva: “esse exército de reserva deve ser acessível, socializado e
disciplinado, além de ter as qualidades necessárias (isto é, ser flexível, dócil, manipulável e
qualificado quando preciso). Se essas condições não forem satisfeitas então o capital enfrenta
um sério obstáculo à acumulação contínua”. (p. 55)

“escassez de trabalho significa aumento dos salários. [...] em algumas ocasiões os capitalistas
na realidade iniciam uma greve, recusando-se a reinvestir, porque os salários mais altos são
um corte em sua rentabilidade. A esperança é que o desemprego resultante rediscipline o
trabalho, fazendo-o aceitar uma taxa de salários menor”. (p.56)

As tecnologias de economia de trabalho e as inovações organizacionais podem mandar as


pessoas para fora do trabalho e de volta à reserva industrial. O resultado é um exercito
“flutuante” de trabalhadores demitidos cuja existência coloca uma pressão descendente sobre
os salários. O capital manipula simultaneamente a oferta e a demanda de trabalho. (p.56)

Comentário: justamente por isto, surgem as mobilizações ludistas no séc XIX. Fazendo com
que o capital avance estrategicamente sob a população não proletária (camponeses e
população rural), enquanto que nos países desenvolvidos recorreu-se à mobilização do
trabalho feminino. E tudo isto era feito para que não houvesse maior responsabilização estatal
no quesito de assistência ao desemprego.

“no decorrer do tempo, os capitalistas têm procurado controlar o trabalho, colocando


trabalhadores individuais e concorrência uns com os outros para os postos de trabalho em
oferta”. (p.57) [...] de fato, nos EUA nos anos 1950 e 1960, as organizações de trabalho
procuraram reduzir a concorrência nos mercados de trabalho pela imposição de exclusões
baseadas em raça e gênero. (p 57)

Comentário: nota-se que o processo de metamorfose da categoria trabalho em meio ao


capitalismo é cheia de contradições e disparidades inclusive entre a classe de trabalhadores.
Fatores raciais e étnicos foram veementemente utilizados para fragmentar ainda mais a classe
trabalhadora, principalmente em países mais desenvolvidos.

A militância, o grau de organização e o nível de aspiração dentro de movimentos trabalhistas


localizados variam claramente de lugar para lugar e de tempo em tempo, de tal forma que as
barreiras potenciais à acumulação contínua do capital podem proliferar aqui e desaparecer
acolá. (p. 59)

É nessas circunstâncias que os interesses da classe capitalista esclarecida [...] podem se unir
em torno de um projeto político para subsidiar a oferta de mercadorias mais baratas
necessárias à sobrevivência para manter o valor da força de trabalho baixo. (p. 59-60)

O poder do Estado em relação a essas lutas não é de modo algum fixo. Certamente, se o
trabalho é bem organizado demais e muito poderoso num determinado local, a classe
capitalista procurará comandar o aparato estatal para que este atenda a seus interesses, como
aconteceu, observou-se anteriormente, com Pinochet, Reagan, Thatcher, Kohl et al. (p. 59-60)

Mas o uso do poder estatal para transcender a barreira da organização do trabalho tem sido
muito efetivo desde meados da década de 1970 em muitas partes do mundo. [...] o estado se
torna responsável por garantir o fornecimento de força de trabalho em quantidades e
qualidades adequadas (incluindo formação profissional, treinamento e docilidade política) em
relação à demanda de trabalho corporativo. (p.60)

A chamada teoria da crise por “esmagamento dos lucros” se coloca no problema perpétuo das
relações de trabalho e da luta de classes, tanto no progresso quanto no mercado de trabalho.
Quando essas relações representam um obstáculo à acumulação do capital, segue-se então
uma crise, a menos que alguma medida (ou, mais provavelmente, uma mistura de medidas do
tipo descrito acima) possa ser tomada para o capital superar ou contornar essa barreira. (p. 60)

A relação capital-trabalho sempre tem um papel central na dinâmica do capitalismo e pode


estar na origem das crises. Mas hoje em dia o principal problema reside no fato de o capital ser
muito poderoso e o trabalho muito fraco, não o contrário. (p.61).

A categoria dos meios de produção é evidentemente muito ampla e complicada. Mas, se


qualquer um desses meios tornar-se indisponível, constitui-se uma barreira para a acumulação
do capital. [...] as inovações tecnológicas em parte do que hoje chamamos de “cadeia da
mercadoria” ou “cadeia da oferta” que fluem na produção, invariavelmente, tornam
necessárias inovações em outros lugares. (p 62)

Essa situação necessita da criação de estruturas de mercado mais ou menos “honestas” e


confiáveis, com bons sinais de preço para garantir a continuidade da circulação do capital. A
ligação interna entre a expansão do capital com juro composto e o uso de sinais de mercado
para coordenar os fluxos apela à regulação estatal contra, por exemplo, a monopolização, o
escanteamento e a manipulação dos mercados, ao mesmo tempo que exige a redução das
barreiras sociais (tarifas, cotas ou atrasos desnecessários) para a circulação de mercadorias.

Os estudos de Roy Harrod e Evsey Domar mostram que as crises são, de fato, não apenas
inevitáveis, mas também necessárias, pois são a única maneira em que o equilíbrio pode ser
restaurado e as contradições internas da acumulação do capital, pelo menos
temporariamente, resolvidas. As crises são, por assim dizer, os racionalizadores irracionais de
um capitalismo sempre instável. (p.65)

[...] a corrida pela acumulação perpétua coloca enorme pressões sobre a oferta de recursos
naturais, enquanto o inevitável aumento da quantidade de resíduos testa a capacidade dos
sistemas ecológicos de absorvê-los sem transformá-los em tóxicos. Aqui, também, é provável
que o capitalismo encontre limites e barreiras que se tornarão cada vez mais difíceis de
contornar. (p. 65)

Comentário: o capitalismo encontra possibilidade de lucro em todos os aspectos da existência


humana, inclusive através de eventos catastróficos e da constante destruição do planeta.

“alguns marxistas, liderados pelo economista californiano Jim O’Connor, que fundou a revista
Capitalism, Nature, Socialism, referem-se às barreiras da natureza como a “segunda
contradição do capitalismo” (a primeira sendo, é claro, a relação capital-trabalho). (p.69) A
classe capitalista, é óbvio, está sempre feliz, nesse ponto pelo menos, de ter seu papel
deslocado e mascarado por uma retórica ambientalista que não a toma como criadora do
problema. (p. 70)

“há pouco na superfície do planeta terra que possa ser imaginado como uma natureza pura e
intocada, ausente de qualquer interação humana. Por outro lado não há nada de não natural
em espécies, incluindo a nossa, modificarem seus ambientes nas formas que lhe são propícias
à sua própria reprodução.” (p. 75)

“a urbanização é uma forma de absorver o excedente do capital. [...] Mas os projetos desse
tipo não podem ser mobilizados sem reunir um enorme poder financeiro” (p. 75)

2. TRABALHO E PRECARIZAÇÃO NUMA ORDEM NEOLIBERAL – CAP. 2

Paralelamente à globalização produtiva, a lógica do sistema produtor de mercadorias vem


convertendo a concorrência e a busca da produtividade num processo destrutivo que tem
gerado uma imensa sociedade dos excluídos e dos precarizados, que hoje atinge também os
países do Norte. (p. 3)

Portanto, entre tantas destruições de forças produtivas, da natureza e do meio ambiente, há


também, em escala mundial, uma ação destrutiva contra a força humana de trabalho, que
encontra-se hoje na condição de precarizada ou excluída (p. 3)

No que diz respeito ao mundo do trabalho, pode-se presenciar um conjunto de tendências


que, em seus traços básicos, configuram um quadro crítico e que têm direções assemelhadas
em diversas partes do mundo, onde vigora a lógica do capital. (p.4)

Tendências do capitalismo contemporâneo:


1) o padrão produtivo taylorista e fordista3 vem sendo crescentemente substituído ou
alterado pelas formas produtivas flexibilizadas e desregulamentadas, das quais a
chamada acumulação flexível e o modelo japonês ou toyotismo3 são exemplos;
2) o modelo de regulação social-democrático, que deu sustentação ao chamado estado de
bem estar social, em vários países centrais, vêm também sendo solapado pela (des)regulação
neoliberal, privatizante e anti-social.

Quanto mais aumentam a competitividade e a concorrência inter-capitais, inter-empresas e


inter-potências políticas do capital, mais nefastas são suas consequências. (p.4)

destrói-se força humana que trabalha; destroçam-se os direitos sociais; brutalizam-se enormes
contingentes de homens e mulheres que vivem do trabalho; torna-se predatória a relação
produção/natureza, criando-se uma monumental “sociedade do descartável”, que joga fora
tudo que serviu como “embalagem” para as mercadorias e o seu sistema, mantendo-se,
entretanto, o circuito reprodutivo do capital. (p.5)

Por isso a crise freqüentemente muda de centro, ainda que ela esteja presente em vários
pontos, assumindo mesmo uma dimensão mundial. [...]são expressões de uma lógica societal
onde o capital vale e a força humana de trabalho só conta enquanto parcela imprescindível
para a reprodução deste mesmo capital. Isso porque o capital é incapaz de realizar sua
autovalorização sem utilizar-se do trabalho humano. (p. 5)

Como resposta do capital à sua crise estrutural, várias mutações vêm ocorrendo e que são
fundamentais nesta viragem do século XX para o século XXI. Uma delas, e que tem importância
central, diz respeito às metamorfoses no processo de produção do capital e suas repercussões
no processo de trabalho. (p. 8)

Comentário: tais transformações se dão por conta das crises cíclicas do modelo capitalista, que
perpassa por momentos expressivos a partir da década de 70, a partir da crise do modelo de
produção taylorismo/fordismo, e também por conta da intensificação dos movimentos sociais
da classe trabalhadora, como resposta alternativa, surge o modelo de produção flexibilizada
que busca se fortalecer através do enfraquecimento dos operários e do sindicalismo.

Os Círculos de Controle de Qualidade (CCQ) proliferaram, constituindo-se como grupos de


trabalhadores que são incentivados pelo capital para discutir o trabalho e desempenho, com
vistas a melhorar a produtividade da empresa. Em verdade, é a nova forma de apropriação do
saber fazer intelectual do trabalho pelo capital. (p.9)

Estas mutações criaram, portanto, uma classe trabalhadora mais heterogênea, mais
fragmentada e mais complexificada, dividida entre trabalhadores qualificados e
desqualificados, do mercado formal e informal, jovens e velhos, homens e mulheres, estáveis e
precários, imigrantes e nacionais (p.10)

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