Específicos:
Compreender os desdobramentos e transformações à realidade profissional do serviço
social
Traçar desafios e perspectivas para a profissão no contexto da saúde
Problematizar a autonomia profissional no contexto neoliberal
Sobre o exército de reserva: “esse exército de reserva deve ser acessível, socializado e
disciplinado, além de ter as qualidades necessárias (isto é, ser flexível, dócil, manipulável e
qualificado quando preciso). Se essas condições não forem satisfeitas então o capital enfrenta
um sério obstáculo à acumulação contínua”. (p. 55)
“escassez de trabalho significa aumento dos salários. [...] em algumas ocasiões os capitalistas
na realidade iniciam uma greve, recusando-se a reinvestir, porque os salários mais altos são
um corte em sua rentabilidade. A esperança é que o desemprego resultante rediscipline o
trabalho, fazendo-o aceitar uma taxa de salários menor”. (p.56)
Comentário: justamente por isto, surgem as mobilizações ludistas no séc XIX. Fazendo com
que o capital avance estrategicamente sob a população não proletária (camponeses e
população rural), enquanto que nos países desenvolvidos recorreu-se à mobilização do
trabalho feminino. E tudo isto era feito para que não houvesse maior responsabilização estatal
no quesito de assistência ao desemprego.
É nessas circunstâncias que os interesses da classe capitalista esclarecida [...] podem se unir
em torno de um projeto político para subsidiar a oferta de mercadorias mais baratas
necessárias à sobrevivência para manter o valor da força de trabalho baixo. (p. 59-60)
O poder do Estado em relação a essas lutas não é de modo algum fixo. Certamente, se o
trabalho é bem organizado demais e muito poderoso num determinado local, a classe
capitalista procurará comandar o aparato estatal para que este atenda a seus interesses, como
aconteceu, observou-se anteriormente, com Pinochet, Reagan, Thatcher, Kohl et al. (p. 59-60)
Mas o uso do poder estatal para transcender a barreira da organização do trabalho tem sido
muito efetivo desde meados da década de 1970 em muitas partes do mundo. [...] o estado se
torna responsável por garantir o fornecimento de força de trabalho em quantidades e
qualidades adequadas (incluindo formação profissional, treinamento e docilidade política) em
relação à demanda de trabalho corporativo. (p.60)
A chamada teoria da crise por “esmagamento dos lucros” se coloca no problema perpétuo das
relações de trabalho e da luta de classes, tanto no progresso quanto no mercado de trabalho.
Quando essas relações representam um obstáculo à acumulação do capital, segue-se então
uma crise, a menos que alguma medida (ou, mais provavelmente, uma mistura de medidas do
tipo descrito acima) possa ser tomada para o capital superar ou contornar essa barreira. (p. 60)
Os estudos de Roy Harrod e Evsey Domar mostram que as crises são, de fato, não apenas
inevitáveis, mas também necessárias, pois são a única maneira em que o equilíbrio pode ser
restaurado e as contradições internas da acumulação do capital, pelo menos
temporariamente, resolvidas. As crises são, por assim dizer, os racionalizadores irracionais de
um capitalismo sempre instável. (p.65)
[...] a corrida pela acumulação perpétua coloca enorme pressões sobre a oferta de recursos
naturais, enquanto o inevitável aumento da quantidade de resíduos testa a capacidade dos
sistemas ecológicos de absorvê-los sem transformá-los em tóxicos. Aqui, também, é provável
que o capitalismo encontre limites e barreiras que se tornarão cada vez mais difíceis de
contornar. (p. 65)
“alguns marxistas, liderados pelo economista californiano Jim O’Connor, que fundou a revista
Capitalism, Nature, Socialism, referem-se às barreiras da natureza como a “segunda
contradição do capitalismo” (a primeira sendo, é claro, a relação capital-trabalho). (p.69) A
classe capitalista, é óbvio, está sempre feliz, nesse ponto pelo menos, de ter seu papel
deslocado e mascarado por uma retórica ambientalista que não a toma como criadora do
problema. (p. 70)
“há pouco na superfície do planeta terra que possa ser imaginado como uma natureza pura e
intocada, ausente de qualquer interação humana. Por outro lado não há nada de não natural
em espécies, incluindo a nossa, modificarem seus ambientes nas formas que lhe são propícias
à sua própria reprodução.” (p. 75)
“a urbanização é uma forma de absorver o excedente do capital. [...] Mas os projetos desse
tipo não podem ser mobilizados sem reunir um enorme poder financeiro” (p. 75)
destrói-se força humana que trabalha; destroçam-se os direitos sociais; brutalizam-se enormes
contingentes de homens e mulheres que vivem do trabalho; torna-se predatória a relação
produção/natureza, criando-se uma monumental “sociedade do descartável”, que joga fora
tudo que serviu como “embalagem” para as mercadorias e o seu sistema, mantendo-se,
entretanto, o circuito reprodutivo do capital. (p.5)
Por isso a crise freqüentemente muda de centro, ainda que ela esteja presente em vários
pontos, assumindo mesmo uma dimensão mundial. [...]são expressões de uma lógica societal
onde o capital vale e a força humana de trabalho só conta enquanto parcela imprescindível
para a reprodução deste mesmo capital. Isso porque o capital é incapaz de realizar sua
autovalorização sem utilizar-se do trabalho humano. (p. 5)
Como resposta do capital à sua crise estrutural, várias mutações vêm ocorrendo e que são
fundamentais nesta viragem do século XX para o século XXI. Uma delas, e que tem importância
central, diz respeito às metamorfoses no processo de produção do capital e suas repercussões
no processo de trabalho. (p. 8)
Comentário: tais transformações se dão por conta das crises cíclicas do modelo capitalista, que
perpassa por momentos expressivos a partir da década de 70, a partir da crise do modelo de
produção taylorismo/fordismo, e também por conta da intensificação dos movimentos sociais
da classe trabalhadora, como resposta alternativa, surge o modelo de produção flexibilizada
que busca se fortalecer através do enfraquecimento dos operários e do sindicalismo.
Estas mutações criaram, portanto, uma classe trabalhadora mais heterogênea, mais
fragmentada e mais complexificada, dividida entre trabalhadores qualificados e
desqualificados, do mercado formal e informal, jovens e velhos, homens e mulheres, estáveis e
precários, imigrantes e nacionais (p.10)