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Enquete Operária: Uma Genealogia


(9) | Passa Palavra
6-7 minutos

Por Asad Haider e Salar Mohandesi

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Agora estamos na posição de entender por que a luta da classe


trabalhadora, para Tronti, vem primeiro na história do
desenvolvimento capitalista. O desenvolvimento capitalista deve
ser entendido como um processo de troca em que a valorização
do valor é movida pela venda e compra de força de trabalho. É
apenas na socialização da força de trabalho dentro do processo
de produção que os proletários assumem a forma associada de
classe trabalhadora, na realização do valor de uso de sua força
de trabalho pelo capitalista individual. E apenas a resistência de
sua redução à mercadoria força de trabalho pode compelir os
capitalistas individuais, que competem no mercado, a formar
uma classe coesa:

A particularidade da força de trabalho como uma mercadoria


confrontada com outras mercadorias coincide, portanto, com o
caráter especificamente operário que o processo de produção
do capital assume; e, dentro disso, com a concentração de uma
iniciativa operária na relação de classe, que leva a um salto no
desenvolvimento da classe trabalhadora e ao subsequente
nascimento de uma classe de capitalistas (166).
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Dentro do contexto dessa ampla teoria econômica e histórica,


estamos em uma posição de fechar a longa digressão e
retornar à enquete operária. A descoberta científica do
operaísmo foi de afastar a prática da enquete da problemática
humanista da experiência para uma teoria do valor que foi
capaz de reinterpretar a crítica da economia política de Marx e
colocá-la em uso. Isso implicou uma prática política que
afirmava a passividade no chão de fábrica e as lutas salariais
como expressões de um poder emergente de recusa ao
trabalho.

Podemos agora entender que a enquete operária foi uma


investigação sobre a composição da classe trabalhadora, como
o corpo histórico que, separada de seus meios de subsistência
e reduzida à venda de sua força de trabalho, teve que ser
formada em uma força produtiva socializada em um processo
de expansão constante – a reprodução expandida da própria
classe e sua recomposição em processos de trabalho cada vez
mais tecnologicamente avançados.

Para fechar essa genealogia descrevemos um momento


significante de ruptura, a descoberta de um conceito que abre
novos caminhos de experimentação científica e política. Mas foi
uma teoria que surgiu em um momento histórico específico.
“Todos nós temos que nascer algum dia, em algum lugar”,
observou Althusser, “e começar a pensar e escrever em um
dado mundo”.[1] Tronti começou com a hegemonia da fábrica
para mostrar como o antagonismo de classe poderia ser
pensado junto com as leis do movimento do capitalismo, de
uma maneira que seus antecessores falharam em fazer.[2] No
entanto, apesar de seu subdesenvolvimento teórico, a
tendência Johnson-Forest entendeu que a vida proletária existe
para além da fábrica, que ela abrange uma infância nas
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plantações de algodão e tardes na cozinha. E assim como as


feministas na Itália desafiariam a hegemonia da fábrica
enquanto um ponto cego masculino, o operaísmo italiano
também teria que responder às mudanças no desenvolvimento
capitalista que eles não previram: a crise econômica global, a
reestruturação da produção e o declínio da hegemonia da
fábrica. Tentativas de desenvolver essa problemática teórica
ainda têm que responder a esse desafio histórico e explorar a
advertência de Panzieri – o risco de caducar em uma filosofia
da história baseada na ontologização do trabalho.

Fotografia de Tish Murtha.

Embora a introdução da composição de classe identificasse o


capitalismo com o trabalho industrial e com o mundo social
criado pelo boom pós-guerra, ao mesmo tempo ela forneceu
um método que poderia hoje ser usado para traçar a
constituição e transformação da força de trabalho no contexto
de desenvolvimento desigual e crise global.[3] Tronti confessa
que a fixação dele e de seus camaradas na classe trabalhadora
industrial agora se mostra como um problema não resolvido:
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“Eu cheguei à convicção que a classe operária foi a última


grande forma de aristocracia social. Ela foi uma minoria no meio
das pessoas; suas lutas mudaram o capitalismo, mas não
mudaram o mundo e a razão disso é precisamente o que ainda
precisa ser compreendido”.[4] Nós sugerimos que a enquete
será o primeiro passo para a compreensão.

Referências

[1] Louis Althusser, For Marx, trans. Ben Brewster (London:


Verso, 1969), 74.
[2] Apresentado em “Factory and Society” na segunda edição
dos Quaderni Rossi (1962), reunido em Tronti, Operai e
capitale, 39-59; veja também Sergio Bologna, “The Factory-
Society Relationship as an Historical Category,” disponível
online em libcom.org (translation of “Rapporto società-fabbrica
come categoria storica,” Primo Maggio 2, 1974).
[3] Para uma explicação da tentativa operaísta de desenvolver
uma teoria do dinheiro e da composição de classe no contexto
da instabilidade econômica do começo dos anos de 1970, veja
Steve Wright, “Revolution from Above? Money and Class-
Composition in Italian Operaismo” em Karl Heinz-Roth and
Marcel van der Linden, ed., Beyond Marx (Leiden: Brill,
forthcoming).
[4] Mario Tronti, “Towards a Critique of Political Democracy,”
trans. Alberto Toscano, Cosmos and History, 5:1 (2009): 74.

Este artigo foi traduzido e dividido em nove partes pelo coletivo


Passa Palavra. A versão original está em Viewpoint Magazine.

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