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[Publicado no 

Mondo Operaio de 2 de fevereiro de 1958. Assinado por Lucio


Libertini e Raniero Panzieri. As teses são apresentadas com a seguinte
manchete: “A reivindicação do controle”.]
A reivindicação do controle dos trabalhadores está no centro da “via
democrática e pacífica” para o socialismo. As teses seguintes gostariam de
fornecer uma indicação primária e provisória para um amplo debate que
recolha não apenas as contribuições dos políticos e especialistas, mas
também e sobretudo a experiência do movimento operário, que é a única
verificação conclusiva da elaboração do pensamento socialista.
1. Sobre a questão da passagem do capitalismo ao socialismo
 
No movimento operário a questão do modo e do tempo de passagem ao
socialismo tem sido discutida há muito tempo e em sucessivos momentos.
Uma tendência, que se apresentou sob várias formas, acreditou que poderia
esquematizar o tempo desse processo, como se a construção do socialismo
devesse ser precedida, sempre e em todos os casos, por uma “fase” de
construção da democracia burguesa. Assim, caberia ao proletariado, onde a
burguesia não tivesse ainda realizado a sua revolução, a tarefa de conduzir sua
luta visando a um fim delimitado: precisamente o de construir ou favorecer a
construção dos modos de produção e das formas políticas de uma sociedade
burguesa completa. Essa concessão pode ser definida como esquemática
porque pretende aplicar abstratamente um modelo pré-fabricado. Se de fato é
verdade que a realidade das instituições políticas corresponde, em cada época,
à realidade econômica, no entanto é um erro acreditar que a realidade
econômica (forças produtivas e modo de produção) se desenvolve segundo
uma linha sempre gradual, regular, perfeitamente previsível já que dividida
em fases sucessivas, uma distinta da outra. É suficiente, para compreender a
natureza desse erro, refletir sobre alguns exemplos históricos. Quando, no
início do século passado, o progresso técnico (invenção da tecelagem
mecânica e da máquina a vapor) determinou um salto de qualidade na
produção (revolução industrial), continuaram em vigor, no entanto,
juntamente com as novas, as antigas formas de produção; nos países
economicamente mais evoluídos, a luta política tinha um caráter ainda mais
complexo. Por um lado, havia a resistência das sobrevivências feudais, do
outro a afirmação da burguesia industrial; e, enfim, ao mesmo tempo, a
aparição de uma nova classe, o proletariado industrial. Na Rússia, ao fim da
primeira onda revolucionária (fevereiro de 1917), depois do colapso da
autocracia czarista e do monstruoso sistema capitalista-feudal, uma parte do
movimento operário marxista, caindo no de que falamos, sustentou que o
proletariado russo deveria se aliar à burguesia para realizar a “segunda etapa”
(democracia burguesa) necessária para a revolução. Como se sabe, essa tese
foi derrotara por Lênin e pela maioria do movimento operário russo; no
colapso total do velho sistema, o único protagonista efetivo continuava sendo
o proletariado, e o seu problema não era, portanto, o de criar as instituições
típicas da burguesia, mas o de construir as instituições da sua democracia, da
democracia socialista. Na China, entre 1924 e 1928, dominavam o partido
comunista aqueles que erroneamente queriam comprometer o movimento de
classe a apoiar incondicionalmente o Kuomintang de Chiang Kai-Shek, o
ajudando a realizar, depois do colapso da dinastia Manchú e do sistema
feudal, a “segunda etapa” (democracia burguesa): eles não levaram em conta a
inexistência de uma burguesia chinesa capaz de se colocar como classe
“nacional” e o fato de que as imensas massas camponesas do país só podiam
lutar pela causa de sua própria emancipação, e não para buscar esquemas
abstratos e incompreensíveis.
Essas considerações não conduzem absolutamente a exaltar um voluntarismo
revolucionário intelectualista (o que é afirmar que a revolução possa ser o
fruto de um ato da vontade ou de um grupo de vanguarda), mas apenas a
colocar em foco como, antes de tudo, cada força política, ao invés de seguir
um modelo pré-fabricado, deve ter consciência da realidade, sempre complexa
e específica, no âmbito da qual ela se move. É a socialdemocracia, em todas
as suas formas, que para acobertar seu oportunismo e justifica-lo
ideologicamente, confunde sistematicamente as cartas na mesa e reduz todas
as posições consequentes da esquerda revolucionária a um intelectualismo
voluntarista. A substância histórica da experiência socialdemocrata consiste,
de resto, propriamente nisso: atribuir, como o pretexto de uma luta contra o
maximalismo, ao proletariado a tarefa de apoiar a burguesia ou mesmo a de
substituí-la nessa construção da democracia burguesa; e isso feito, ela nega as
tarefas e a autonomia revolucionária do proletariado e acaba por atribuir a ele
um papel de força subalterna.
Na sociedade italiana moderna, o dado fundamental é constituído pelo fato de
que a burguesia não tem sido, não é, não pode ser uma classe “nacional”; uma
classe capaz, ela mesma (como aconteceu na Inglaterra e na França), de
assegurar, ainda que por um certo período de tempo, o desenvolvimento da
sociedade nacional em seu conjunto. A burguesia italiana nasceu baseada no
corporativismo e no parasitismo, isto é: 1) através da formação de setores
industriais isolados que não construíram para si mesmos um mercado
nacional, mas viveram do aproveitamento de um mercado de tipo quase
colonial; 2) mediante o recurso permanente à proteção e ao apoio ativo do
Estado; 3) com alianças com os restos do feudalismo (bloco agrário do sul). O
fascismo foi a expressão desesperada desse equilíbrio contraditório e do
domínio, nessa forma, da burguesia; e isso ainda que através de intervenções
massivas do Estado totalitário em favor das indústrias privadas em falência
(IRI), favoreceu ao máximo a transformação de determinados setores
industriais em potências de estrutura monopolista (FIAT, Montecatini, Edison,
etc.). Depois do colapso do fascismo os monopólios encontraram, na
intensificação das relações com a grande indústria americana e na
subordinação a ela, a continuação de sua velha política antinacional (as
grandes indústrias italianas são todas, de uma maneira ou de outra,
cartelizadas com os grandes monopólios internacionais; um dos casos em que
estes laços com maior evidência foi quando FIAT, Edison e Montecatini
apoiaram na Itália a campanha do carte internacional do petróleo; e, em geral,
o atlantismo dos partidos de centro-direita é a expressão das relações de
subordinação que indicamos. Antes que pelos partidos políticos, o plano
Marshall, expressão do imperialismo americano, foi aceito pelos monopólios
italianos). Assim, foi determinada uma situação na qual ao lado das áreas
monopolistas coexistiam grandes áreas de profunda depressão e atraso (muitas
zonas de montanha e de colinas, o delta de Pádua, e, mais geralmente, a região
central e as ilhas); cresceram enormemente as distância entre as classes sociais
e entre as regiões; aumentaram os desequilíbrios tradicionais da produção
industrial; cresceram os estrangulamentos monopolistas (as limitações e
distorções, isto é, o poder e a política dos monopólios de opunham a um
desenvolvimento das forças produtivas pleno e equilibrado); foi registrado um
desemprego em massa que se tornou um elemento permanente da nossa
economia; se reproduziram e agravaram as termos tradicionais do maior
problema de nossa estrutura econômico-social (questão meridional).

E, no entanto, seria um erro grave reconhecer a existência desses dados de


fato para esconder, como tem sido nesse ano, os elementos novos. Não há
dúvidas de que, a partir sobretudo de 1951-52, em setor nenhum o capitalismo
italiano pôde aproveitar a conjuntura internacional favorável e o progresso
tecnológico considerável: houve, assim, uma fase de expansão (rápido
aumento da produção, aumento do crédito, rápida acumulação do capital e
incremento intenso do capital fixo) que, no entanto, ocorrendo sob o controle
dos monopólios, permaneceu restrita às suas regiões, e inclusive provocou o
agravamento dos desequilíbrios fundamentais da economia italiana.

A situação contraditória, dominante nas grandes regiões de depressão e crise


que descrevemos, está destinada a não melhorar e se agravar, seja por uma
inversão da conjuntura internacional, seja por um provável aumento do
desemprego tecnológico, seja pelos efeitos negativos do MEC, seja, enfim,
porque as características do mercado interno italiano (a sua restrição e a sua
pobreza) não fornecerão uma zona de escoamento adequada para a capacidade
produtiva e tecnológica consolidada, e que vai cada vez mais se consolidando
nas regiões monopolísticas.

Uma análise desse tipo não visa a e não serve para, naturalmente, validar a
perspectiva de uma crise “catastrófica” do capitalismo; e, de resto, uma
polêmica no terreno da profecia, nesses termos, só serviria para paralisar e
esterilizar a ação do movimento de classe. Apenas com essa análise se chega à
conclusão da existência de certas condições reais e ao reconhecimento
da tendência do desenvolvimento implicada nelas, e à conclusão de que é no
âmbito dessas condições de dessa tendência que o movimento operário deve
agir.
À luz dessas considerações, se mostra, portanto, como completamente abstrata
e irreal (especificamente hoje na Itália) a tese segundo a qual: a) o movimento
de classe deveria, substancialmente, se limitar a dar seu apoio à classe
capitalista (ou a grupos burgueses determinados) na construção de um regime
de democracia burguesa completa; b) o movimento de classe deveria,
substancialmente, substituir a classe capitalista e assumir por sua própria
conta a construção de um regime de democracia burguesa completa.
Inversamente, as contradições que atravessam hoje a sociedade italiana, o
peso que os monopólios tem assumido e tendem cada vez mais a assumir, a
contradição entre o desenvolvimento tecnológico e as relações capitalistas de
produção, a fraqueza da burguesia como classe nacional, conduziram o
movimento operário a confrontar juntas tarefas de natureza distinta; a lutar ao
mesmo tempo por reformas que tem um conteúdo burguês e por reformas que
tem um conteúdo socialista. No plano político, isso significa que a força
dirigente do desenvolvimento democrático na Itália é a classe operária e sob a
sua direção é possível realizar o único sistema de alianças eficientes com os
intelectuais, os camponeses e com os grupos da pequena e média produção
burguesa. É esse o sistema de alianças e o tipo de direção que correspondem
às perspectivas reais.

2. A via democrática para o socialismo é a via da democracia


socialista
Afirmar que a via italiana para o socialismo, democrática e pacífica, coincida
como uma via “parlamentar” para o socialismo é uma dedução falsa, que
decorre de uma análise errada da situação italiana e de uma interpretação
simplista da reviravolta registrada com a tese proclamada pelo XX Congresso
do PCUS. Na verdade, a afirmação do caráter democrático da via ao
socialismo é justa, no sentido de que devem ser recusadas todas as velhas
concepções segundo as quais a passagem ao socialismo é um ato de violência
revolucionária, obra de uma minoria isolada, sem que as condições políticas e
econômicas estejam maduras; assim como deve ser rejeitada a concessão que
entrega a passagem ao socialismo a uma realização automática da “catástrofe”
do capitalismo. Mas não se pode reduzir a via democrática a uma via sempre e
necessariamente pacífica, desde o momento em que quando em um país
determinado as condições para o socialismo estiverem maduras e a sua força
tiver conquistado o apoio da maioria mas, no entanto, a resistência da classe
capitalista e seu recurso à violência possam conduzir ao conflito armado e à
necessidade da violência proletária.
Há hoje na Itália, porém, uma perspectiva democrática e pacífica para o
socialismo. Mas que identifica o instrumento exclusivo (ou ainda o único
substancial ou essencial) da passagem pacífica para o socialismo no
parlamento, e esvazia a própria indicação da via democrática e pacífica de
qualquer consistência real. São ressuscitadas, assim, as antigas mistificações
burguesas, que apresentam o Estado representativo burguês não, tal qual ele é,
como um Estado de classe, mas como um Estado acima das classes, onde o
parlamento é o centro em que se ratificam e se registram as relações de forças
entre as classes, que se determinam e se desenvolvem no exterior dele,
enquanto a economia permanece na esfera na qual se produzem as relações
reais e o centro real da fonte do poder.

Justamente, ao invés de afirmar que a utilização também das instituições


parlamentares é uma das tarefas mais importantes que se colocam ao
movimento de classe e que essas mesmas instituições poderão
ser transformadas (pela pressão exercida desde baixo do movimento operário
e suas novas instituições) de centro representativo de direitos meramente
políticos, formais, em expressão de direitos substanciais, políticos e
econômicos ao mesmo tempo.
3. O proletariado educa a si mesmo construindo as suas
instituições
 
Quando se define, em geral, como democrática a via para o socialismo, e se
quer garantir ao máximo a perspectiva da passagem pacífica, se afirma
consequente e substancialmente o seguinte conceito: que há continuidade
entre o método da luta política principal durante e depois do salto
revolucionário, e que consequentemente as instituições do poder operário não
devem ser formadas depois do salto revolucionário, mas no próprio processo
de toda a luta do movimento operário pelo poder. Essas instituições devem
surgir na esfera econômica, ali onde está a fonte real do poder, e representar,
portanto, o homem não apenas como cidadão, mas também como produtor, e
os direitos que forem determinados nessas instituições devem ser direitos
simultaneamente políticos e econômicos. A força real do movimento de classe
se mede pela quantidade de poder e pela capacidade de exercer uma força
dirigente no interior da estrutura produtiva. A distância que separa as
instituições da democracia burguesa das instituições da democracia operária é
qualitativamente a mesma que separa a sociedade burguesa dividida em
classes da sociedade socialista sem classes. Deve ser rejeitada, portanto, a
concessão de uma derivação iluminista ingênua, que quer “adestrar”
genericamente o proletariado para o poder prescindindo da construção
concreta de suas instituições. Se fala também da “preparação subjetiva” do
proletariado, da “educação” do proletariado (e a quem caberia o papel de
“educador”?); mas todos sabem que só se aprende a nadar quando se entra na
água (e, portanto, especialmente, é sugerível que o próprio “educador”
iluminado comece por se jogar na água).
Certamente, essas coisas não são novas. São a experiência histórica do
movimento operário e do marxismo, dos sovietes de 1917, do movimento dos
conselhos de fábrica em Turim, dos conselhos operários polacos e iugoslavos,
aos progressos necessários nas teses do XX Congresso, que vão tomando
corpo diante dos nossos olhos. Deveria ser ainda mais supérfluo recordar que
no Partido Socialista que o próprio forneceu sobre este tema, nos últimos
anos, muitas contribuições originais a todo o movimento operário italiano.

4. Sobre as condições atuais do controle operário


 
Hoje, a reivindicação do controle dos trabalhadores (operários e técnicos) não
se coloca unicamente em relação com os motivos que foram expostos, mas se
liga a uma série de novas condições que tornam essa reivindicação
especialmente atual e a colocam no centro no movimento de classe:

1. a primeira dessas condições consiste no desenvolvimento da


fábrica moderna. Nesse terreno, nascem a prática e a ideologia
do monopólio contemporâneo (relações humanas, organização
científica do trabalho, etc.) que visam sujeitar de modo integral –
corpo e alma – o trabalhador a um padrão, reduzindo-o a uma
pequena roda das engrenagens de uma grande máquina que, no
seu complexo total, permanece desconhecida. O único modo de
romper esse processo de assujeitamento total da personalidade
do trabalhador é, da parte do próprio trabalhador, tomar
consciência de qual é a situação em seus temos corporativos-
produtivos; e contrapor à “democracia corporativa” a
reivindicação de um papel consciente do trabalhador no
complexo corporativo, a reivindicação da democracia operária;
2. se os órgãos do poder político no Estado burguês sempre foram
“comitês de negócios” da classe capitalista, hoje assistimos,
contudo, a uma compenetração ainda maior do que no passado
entre o Estado e os monopólios: seja porque o monopólio,
seguindo sua lógica interna, é levado a assumir cada vez mais
um controle direto, seja porque as operações econômicas do
monopólio (e agora já caíram todas as ilusões liberais sobre isso)
exigem de maneira crescente a ajuda e a intervenção amigável do
Estado. Simplesmente porque, então, a potência da economia
aumenta as suas funções políticas imediatas (e por trás da ficção
do Estado de direito, aumentaram as funções reais e diretas do
Estado de classe), o movimento operário, tomando as lições do
adversário, deve deslocar cada vez mais o centro da luta para o
terreno do poder real e fundamental. E, por esse mesmo motivo,
a luta do movimento de classe pelo controle não pode se esgotar
apenas no âmbito de uma companhia, mas deve ser ligada e
estendida a todos os setores, em todas as frentes produtivas.
Conceber o controle dos trabalhadores como algo que é restrito a
uma única companhia não quer dizer apenas “limitar” a
reivindicação do controle, mas esvaziá-la de seu sentido real e
fazer com que ela degenere em um plano corporativo;
3. há finalmente uma última condição nova que está na raiz da
reivindicação do controle dos trabalhadores. O desenvolvimento
do capitalismo moderno, de um lado, e, de outro, o
desenvolvimento das forças socialistas no mundo e a importante
problemática do poder, que se impôs fortemente aos países nos
quais o movimento de classe já fez a sua revolução, indicam a
importância que hoje assume a defesa e a garantia da autonomia
revolucionária do proletariado, seja contra as novas formas do
reformismo, seja contra a burocratização do poder, isto é, contra
a subordinação reformista e contra as concessões do “guia”
(partido-guia, Estado-guia).
Nessa situação, a defesa da autonomia revolucionária do proletariado se
concretiza na criação desde baixo, antes de depois da conquista do poder, de
instituições da democracia socialista, e na restituição do partido a sua função
de instrumento da formação política do movimento de classe (instrumento, ou
seja, não uma orientação paternalista do alto, mas de solicitação e apoio das
organizações nas quais se articula a unidade de classe). O próprio valor da
autonomia do partido socialista na Itália está essencialmente nisso: não, com
certeza, no quanto ele antecipa ou prenuncia a divisão do movimento de
classe, não por opor um “guia” a outro “guia”, mas na garantia de todo o
movimento operário contra qualquer direção externa, burocrática e
paternalista.
Afirmar isso certamente não quer dizer que se esquece a questão do poder,
condição essencial para a construção do socialismo: mas a natureza socialista
do poder é precisamente determinada pelas bases da democracia operária
sobre as quais ele se sustenta, e que não podem ser improvisadas no dia
seguinte ao “salto” revolucionário nas relações de produção. Esse é o único
modo sério, não reformista, de recusar a perspectiva do socialismo burocrático
(stalinismo).

5. O sentido da unidade da classe e a questão da ligação entre a


luta parlamentar e os fins gerais
A reivindicação do controle dos trabalhadores, os problemas que ela levanta, a
formulação teórica para essa conexão, implicam necessariamente a unidade
das massas e a recusa de toda concepção partidária rígida que reduziria a tese
do controle a uma paródia mesquinha. Não há controle dos trabalhadores sem
a unidade na ação de todos os trabalhadores de uma mesma companhia, de um
mesmo setor, de toda a frente produtiva: uma unidade não mitológica, ou um
simples enfeite na propaganda de um partido, mas que seja uma realidade que
se implemente desde baixo, uma tomada de consciência das suas funções no
processo produtivo de parte dos trabalhadores, a criação conjunta de
instituições unitárias de um novo poder. Deve, portanto, ser recusada, nesses
limites, a redução da luta dos trabalhadores a um puro instrumento de reforço
de um partido ou da sua estratégia mais ou menos clandestina. A questão,
longamente discutida, de como se vinculam e se harmonizam as
reivindicações parciais, imediatas, com fins gerais, é resolvida precisamente
afirmando a continuidade das lutas e de sua natureza. Com efeito, essa
vinculação e essa harmonização são impossíveis e são uma confusão
ideológica enquanto permanecer a ideia de que há um reino do socialismo,
mistério que não pode ser conhecido no momento, mas que aparecerá um dia
como um amanhecer milagroso para coroar o sonho do homem. O ideal do
socialismo é, isso sim, um ideal que contrasta profundamente e sem
possibilidade de conciliação com a sociedade capitalista, mas é um ideal que é
preciso fazer viver dia após dia, conquistar hora por hora na luta; que nasce e
se desenvolve na mistura na qual cada luta serve para fazer amadurecer e
avançar as instituições nascidas desde baixo, cuja natureza seja imediatamente
já a afirmação do socialismo.
6. O movimento de classe e o desenvolvimento econômico
 
Uma concepção que seja fundada no controle operária e na unidade na luta
das massas leva consigo a recusa de toda atitude ou tendência que assuma
uma perspectiva catastrófica (colapso automático do capitalismo) e a adesão
plena e incondicionada ao uma política de desenvolvimento econômico. Mas
essa política de desenvolvimento econômico não é uma adaptação ou uma
retificação da via capitalista, nem consiste em uma programação abstrata que
venha elaborada do Estado burguês; ela se realiza na luta de massas e se
concretiza na medida em que rompe as estruturas capitalistas, e com isso
assume logo um novo impulso. Quando afirmamos, nesse sentido, que a luta
do proletariado serve para conquistar dia após dia graus de poder, não
queremos dizer, certamente, que o proletariado conquista dia após dia uma
porção poder burguês (ou da coparticipação no poder burguês), mas que de
dia a dia ele contrapõe ao poder burguês a exigência, a afirmação e a forma de
um novo poder que venha diretamente, e sem delegação, desde baixo.
A classe operária, através da luta pelo controle, como que se torna o sujeito
ativo de uma nova política econômica, assume com ele a responsabilidade de
um desenvolvimento econômico equilibrado, de modo a deter o poder dos
monopólios e as suas consequências: o desequilíbrio entre regiões, entre
classes e entre setores. Por isso, do mesmo mofo, derrubando as atuais
funções da empresa pública, a transforma de um elemento de sustentação e
proteção dos monopólios em instrumento direto da industrialização da região
central e das regiões empobrecidas. Na prática, isso faz da política de
desenvolvimento econômico um elemento de confronto duro com os
monopólios; confronto que se apresentará antes de tudo como conflito entre o
setor público (aliado com as pequenas e médias empresas) e o setor da grande
empresa privada. Vale também enfatizar que o movimento de classe, levando
adiante um processo adequado e equilibrado de industrialização, não se
“substitui” ao capitalismo, não “cumpre as suas tarefas”, mas une o
desenvolvimento econômico a uma transformação paralela das relações de
produção; porque, hoje na Itália, são exatamente essas velhas relações
capitalistas de produção que são o obstáculo inconciliável de uma política de
desenvolvimento econômico. Quem confunde industrialização (aumento da
acumulação) com expansão do capitalismo (economia do lucro) não apenas
comete um erro teórico, mas não chega a compreender a realidade italiana nos
seus termos mais evidentes.

Uma política de desenvolvimento econômico confiada ao controle dos


trabalhadores garante plenamente o desenvolvimento técnico, não apenas
elimina a separação prática entre ele e os trabalhadores, mas faz dos
trabalhadores os seus defensores e portadores mais diretos, realizando,
finalmente, a convergência, no plano da luta, entre operários e técnicos.

7. A forma do controle dos trabalhadores


A reivindicação do controle por parte dos trabalhadores é naturalmente
unitária, e nasce e se desenvolve no plano da luta. Na situação concreta da luta
de classes no nosso país, o controle não se coloca como uma reivindicação
genérica, programática, e menos ainda como uma exigência de formulação
legislativa da parte do parlamento: posições e fórmulas desse tipo só poderão
desnaturar por si sós o problema do controle, reduzindo-o essencialmente a
uma forma tácita ou aberta de colaboracionismo, ou remetendo-o à forma de
uma paternalismo parlamentar deletério. Com isso, não queremos certamente
dizer que deva ser excluída uma formulação legislativa em relação ao controle
operário, mas que essa não pode ser construída paternalisticamente de cima,
nem conquistada apenas mediante a uma luta genérica de tipo parlamentar;
nesse campo, o parlamento pode apenas registrar, refletir, o resultado de uma
luta que se desenrola na esfera econômica (que é essencialmente feita pela
classe operária). A questão do controle avança na composição na qual os
trabalhadores, no interior da estrutura produtiva, tomam consciência de sua
necessidade e da realidade produtiva lutando por isso. É claro, também, pelo
que já foi dito que não há diferença nessa questão entre companhias estatais e
companhias privadas: a reivindicação do controle se coloca em ambos os
setores no próprio plano da luta.
Por outro lado, a reivindicação do controle não é uma retomada romântica do
passado, que não se repete nunca da mesma maneira, nem pode se confundir
com as funções reivindicativas de determinados órgãos sindicais (que não
podem se confundir com uma ampliação do poder nas comissões internas); e
esse último ponto é verdadeiro ainda que os operários, em muitos lugares,
deem essa forma à exigência do controle, porque as comissões internas
permaneceram o símbolo da luta operária real nos locais de trabalho.
Deve ser recusada qualquer antecipação utopista, ao mesmo tempo em que
deve ser enfatizado que as formas do controle não devem ser determinadas por
um comitê de “especialistas”, mas surge sobretudo da experiência concreta
dos trabalhadores. Nesse sentido, devemos lembrar de três indicações que vêm
de certos setores operários. A primeira delas diz respeito à conferência de
produção como uma forma concreta pela qual se pode iniciar o movimento
pelo controle. A segunda se refere, por outro lado, à exigência de que a
questão do controle seja colocada no centro da luta generalizada pela
conquista do poder contratual e da liberdade dos operários na fábrica, e,
também, por exemplo, que ela se concretize em comissões eletivas que
controlem os empregos e impeçam as discriminações. A terceira, enquanto
enfatiza a exigência de ligação entre as várias companhias, coloca o problema
da participação da representação democrática territorial na elaboração dos
programas produtivos.

Essas são indicações bastante úteis, já resultantes da experiências das bases, às


quais certamente se juntarão outras: cada uma dessas vai ser posteriormente
discutida e aprofundada, tendo em mente que o campo e aplicação e de estudo
é, antes de tudo, a fábrica, e o melhor banco de provas é a luta unificada.

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