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Cássia Damiani'
J{eseHha
o ensaio que ora o autor nos apresenta ganha mento marxista contextualizando-o na atual crise do
uma dimensão especial neste momento de aguda crise capitalismo.
do pensamento de esquerda. A época nos apresenta Dividido em quatro partes, o livro nos leva a uma
uma significativa parcela dos intelectuais que outrora reflexão de maneira articulada sobre as indagações do
acreditaram no papel emancipador desempenhado pela autor, além do apêndice que contém seis artigos já pu-
luta da classe trabalhadora, negando este papel. O mais blicados em periódicos. Na primeira parte "Fordismo,
desalentador é que negam a própria possibilidade de Toyotismo e Acumulação Flexível" o autor parte da
construção de uma sociedade assentada sobre o traba- constatação de que o mundo da produção sofreu pro-
lho não alienado. fundas mudanças nas últimas décadas. Estas se refleti-
A fonte inspiradora deste trabalho é a polêmica ram diretamente sobre as formas de ser das classes
que paira sobre o presente e ofuturo do mundo do tra- trabalhadoras, especialmente da classe operária e na
balho. Contrapondo-se radicalmente à tese de GORZ ação sindical. A instauração de um novo modelo de acu-
sobre a tendência atual da redução do operariado indus- mulação capitalista em substituição ao fordismo, le ou
trial nas sociedades capitalistas avançadas, ANTUNES a um processo de heterogeneização, fragmentação e
faz indagações que orientam a linha reflexiva do ensaio. complexificação do mundo do trabalho. Antunes anali-
A princípio ele questiona os prenúncios atuais do desa- sa criticamente e confronta-se com as principais tese
parecimento da "classe-que-vive-do-trabalho", as de autores apologistas do toyotismo, que vêem neste
influências das metamorfoses do processo produtivo junto paradigma um avanço no sentido da superação da ex-
ao sindicalismo e indaga os desdobramentos teóricos ploração e da alienação do trabalho.
destas transformações sobre o estatuto da centralidade Ao contrário, o toyotismo "supõe uma intensifi-
da categoria trabalho na práxis humana da sociedade cação da exploração do trabalho, quer pelo fato de os
contemporânea. Finalmente, o autor oferece algumas operários atuarem simultaneamente com várias má-
indicações na defesa da centralidade do trabalho como quinas diversificadas, quer através do sistema de lu-
"elemento estruturante de uma nova forma de sociabi- zes que possibilita o capital intensificar, sem estrangular
lidade humana", na perspectiva da superação do capi- o ritmo produtivo do trabalho", além da proliferação
talismo. Em plena efervescência do debate, com muitas do trabalho terceirizado, parcial e precário, sem direi-
das transformações ainda em curso. O ensaio tem um tos sociais e sub-remunerado, fortalecendo o mercado
caráter preliminar. dual de trabalho.
O texto publicado compõe parte da tese de Li- Na tentativa de desmistificação do toyotismo. o
vre-Docência em Sociologia do Trabalho na autor nos aponta que este modelo mantém o "estranha-
UNICAMP. ANTUNES, conceituado pesquisador e mento do trabalho" e, em vários sentidos, o amplia. O
autor de diversas obras referentes ao sindicalismo e ideário da empresa incorporado pelo trabalhador "é e
às questões contemporâneas do mundo do trabalho e muito maior intensidade e qualitativamente distin o
da luta de classes, resgata em seus debates o pensa- quele existente na era do fordismo". Ou seja, o ideári
do fordismo "era movido [...] por uma lógica mais
I Professora do Dep. de Teoria e Prática do Ensino - FACED e pótica" enquanto a lógica "do toyotismo, é
mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da 'consensuaI', mais envolvente, mais participariva, e ezn
FACED/UFC. verdade mais manipulatória", pois capta o e