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FIDALGO, Fernando; MACHADO, Lucília (editores). In: Dicionário da educação profissional.

Belo Horizonte:
Núcleo de Estudos sobre Trabalho e Educação, UFMG, 2000.

ALIENAÇÃO DO TRABALHO1
Significa separação ou a preda sofrida pelo trabalhador de uma parte do seu ser, de sua
atividade, da sua construção humana. Ao se sujeitar ao processo de trabalho capitalista, sofre
um processo objetivo de desapropriação de si, tão mais profundo quanto mais riqueza
produzir. Nessas circunstâncias a alienação se manifesta em três dimensões principais: 1) em
relação aos produtos do trabalho – o trabalhador não detém a propriedade nem o controle
sobre os frutos do seu trabalho, não determina o que nem o porquê do que é produzido; 2)
em relação à atividade de trabalho – o trabalhador não controla como o produto é produzido;
participa como executor de um processo concebido por outros; 3) em relação à espécie – o
trabalhador ao se sujeitar a esse processo de desapropriação de si não se desenvolve
plenamente como ser humano. O trabalho se transforma, então, em atividade lesiva,
desinteressante e em fonte de sofrimento para o trabalhador, um empecilho para a formação
humana e dos vínculos humanos, pois a alienação provoca o isolamento social do indivíduo.
O sentido do trabalho se reduz, torna-se mero meio de subsistência.
Bibliografia:
BOTTOMORE, T. Dicionário do pensamento marxista. Rio de Janeiro, Zahar, 1993.
MARX, K. Textos filosóficos. Lisboa: Editorial Estampa, 1975.
SANDRONI, P. Novíssimo Dicionário de Economia. São Paulo: Ed. Best Seller, 1999.
SAVIANI, D. O trabalho como princípio educativo frente às novas tecnologias. In: FERRETTI, C.
J. et al (orgs.). Novas tecnologias, trabalho e educação: um debate multidisciplinar. Petrópolis:
Vozes, 1994.

CAPITAL2
CAPITALISMO
O capital é uma relação social necessária e essencialmente antagônica, que se baseia na
propriedade privada os meios de produção. O capital é um sistema social produtor de
mercadorias, que tem como sentido último a produção de valor excedente. Caracteriza-se
ainda pela relação salarial em que a força de trabalho é trocada como mercadoria, sua relação
fundamental. A divisão social do trabalho na qual assenta o capital, separa proprietários dos
meios de produção aos quais cabem os lucros, e trabalhadores, aos quais cabem os salários,
numa relação produzida e reproduzida constantemente. A concentração e a centralização de
capital é uma das mais importantes leis desse sistema e é consequência daquela divisão social
do trabalho e da concorrência entre capitalistas. O modo de produção que se consolidou a
partir do desenvolvimento do capital chama-se capitalismo. A diferença proposta por
Mészáros para capital e capitalismo parte da ideia que aquele é anterior e pode sobreviver a

1
ARANHA, Antônia. Alienação do trabalho. p.17.
2
SOUZA JUNIOR, Justino de. Capital. p.45-46.
este. Para este autor, esta diferenciação é importante para se pensar as estratégias socialistas
de superação histórica, pois abolir esta ou aquela forma particular de capitalismo não implica
a abolição do capital como totalidade global.
Bibliografia:
BOTTOMORE, T. Dicionário do pensamento marxista. Rio de Janeiro, Zahar, 1993.
MARX, K. O Capital: crítica da economia política. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989.
MÉSZÁROS, I. Política radical e transição para o socialismo – reflexão sobre o centenário de
Marx. Cadernos Ensaio 1 -Marx hoje. São Paulo: Editora Ensaio, 1987.

DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO3


Designa um processo de fragmentação das atividades exercidas numa sociedade, através do
qual cada uma delas, seja as de produção ou as de reprodução social, se tornam específicas.
O modo através do qual essas atividades de trabalho são repartidas entre os membros de uma
sociedade não é arbitrário, é determinado socialmente; daí a expressão divisão social do
trabalho. Ou seja, a distribuição dos indivíduos nas tarefas da produção social não depende
de critérios puramente técnicos, mas de critérios sociais, realizando-se em função da situação
que eles ocupam na estrutura social. A divisão social do trabalho representa, assim, o conjunto
das formas heterogêneas de trabalho útil e suas manifestações. Ela pode ser analisada
segundo seus níveis de abrangência: divisão territorial (refere-se à base geoeconômica), geral
(ao conjunto dos setores econômicos: indústria, comércio etc.), particular (aos ramos e sub-
ramos dos setores econômicos) e singular (a cada unidade produtiva: uma empresa, um
estabelecimento). A divisão das tarefas necessárias à sobrevivência entre os diversos
membros de um grupo existe em todos os tipos de sociedade, mas é na sociedade capitalista
que essa divisão se acentua consideravelmente. Adam Smith foi o primeiro a elaborar uma
teoria sobre a repartição dos trabalhadores num dado espaço. Karl Marx fez dessa expressão
o fundamento lógico de todas as contradições econômicas do sistema capitalista. A divisão do
trabalho seria um fator de desenvolvimento da sociedade ao permitir o avanço das forças
produtivas. No entanto, esse aspecto positivo, no processo de produção capitalista, tem como
contraponto o comprometimento do caráter social do trabalho pela lógica da apropriação
privada da riqueza produzida e pela alienação dos trabalhadores. A divisão social do trabalho
se apresenta, assim, como um processo que leva ao aprofundamento das diferenciações e
contradições sociais, à especialização que fragmenta o próprio ser humano. De um lado seu
resultado é o produto social do trabalhador coletivo. Entretanto, do outro, o desenvolvimento
unilateral dos indivíduos. A divisão do trabalho na produção é planejada, regulada e
supervisionada pelo capitalista, que concentra os meios de produção como propriedade
privada exclusiva.
Bibliografia:
BOTTOMORE, T. Dicionário do pensamento marxista. Rio de Janeiro, Zahar, 1993.
GORZ, A. (org.) Crítica da divisão do trabalho. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
JAPIASSÚ, H. & MARCONDES, D. Dicionário Básico de Filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 1996.

3
DIAS, Deise; MACHADO, Lucília. Divisão social do trabalho. p.112-113.
DIVISÃO TÉCNICA DO TRABALHO4
Chama-se divisão técnica do trabalho ao processo, que no interior da produção, determina a
separação dos trabalhadores em funções específicas, em tarefas parciais e interdependentes.
O conjunto desses trabalhadores, que cumprem funções fragmentadas e articuladas,
representa o que se chama de trabalhador coletivo. A produção de mercadorias no
capitalismo, é sempre o resultado de um processo de trabalho dividido, compartimentado,
mas orgânico. Isto é, a divisão técnica é especificamente capitalista. A par da divisão técnica,
há a chamada divisão social do trabalho, que não se circunscreve aos domínios da produção,
mas se dá na totalidade social. Esta segunda, ao contrário da primeira, está presente em
diferentes fases do desenvolvimento da sociedade, pois cada modo de produção engendra e
é engendrado por um determinado modo de divisão social do trabalho. A sociedade do capital
é fundamentalmente caracterizada por uma divisão social do trabalho que separa
antagonicamente proprietários e não proprietários dos meios de produção. A divisão técnica
do trabalho, por sua vez, é constantemente aperfeiçoada segundo os imperativos da produção
do valor. O fordismo, o taylorismo, o toytismo são modelos desse processo de divisão técnica
do trabalho.
Bibliografia:
BOTTOMORE, T. Dicionário do pensamento marxista. Rio de Janeiro, Zahar, 1993.
ENGUITA, M. F. A face oculta da escola. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989.
___________ Trabalho, escola e ideologia: Marx e a crítica da educação. Porto Alegre: Artes
Médicas,1991.
MANACORDA, M. A. Marx e a pedagogia moderna. São Paulo: Cortez; Autores Associados,
1991.
MARX, K. O Capital: crítica da economia política. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989.
MARX, K. & ENGELS, F. A ideologia alemã. Lisboa: Ediçõesq Avante, 1981.

MERCADO DE TRABALHO5
Esfera que circunscreve as práticas sociais pelas quais a força de trabalho, sob determinadas
normas e leis, é comprada e vendida. Este mercado é constituído por proprietários de força
de trabalho (trabalhadores) e os interessados em adquiri-la (empregadores, capitalistas)
mediados ou não por instituições do Estado. Da correlação de força dessas classes, da
mediação estatal e das condições econômicas presentes, se estabelece o mercado de
trabalho. Este conceito, entretanto, é questionado, pois supõe que os salários sejam
determinados por esse mercado, que esse seja um espaço de troca entre iguais. Tal conceito,
na verdade, obscurece as relações, o local de trabalho, a submissão ao capital. No século XX,
se desenvolveram formas através das quais o Estado regulou, ou interferiu de algum modo no
mercado de trabalho. O keynesianismo foi o modelo capitalista de regulação, no qual as
condições de mercado de trabalho foram menos hostis aos trabalhadores. Essa situação
favorável durou, especialmente nos países avançados, quase três décadas após a Segunda
Guerra Mundial. Com a crise econômica que se instaurou a partir dos anos 70, fortaleceram-

4
SOUZA JUNIOR, Justino de. Divisão técnica do trabalho. p.113.
5
SOUZA JUNIOR, Justino de. Mercado de trabalho. p.203-204.
se políticas que visam, entre outras coisas, a flexibilização e total desregulamentação das
relações que constituem o mercado de trabalho.
Bibliografia:
BOTTOMORE, T. Dicionário do pensamento marxista. Rio de Janeiro, Zahar, 1993.
MARX, K. O Capital: crítica da economia política. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989.
SELDON, A. & PENNANCE, F. G. Dicionário de economia. Rio de Janeiro: Edições Bloch, 1975.

MUNDO DO TRABALHO6
Esta expressão tornou-se moeda corrente entre os pesquisadores do trabalho nos anos
recentes. Tal fato é contemporâneo das análises que buscam explicar a crise do trabalho. A
expressão em questão procura englobar todo o universo do trabalho, refere-se ao contexto e
às relações em que o mesmo se realiza. O mundo do trabalho seria a realização e efetivação
desta atividade através das suas mais diversas formas, incluindo todos os fenômenos
articulados como a legislação do trabalho; as formas alternativas de trabalho, que correm por
fora das relações assalariadas, o trabalho desregulamentado, o trabalho precário; os
investimentos do capital; a formação dos trabalhadores; a tecnologia presente; o nível de
desemprego; as diferentes proporções em que se encontram homens e mulheres, e as
diferentes raças; o trabalho infantil; o problema do trabalho frene às leis econômicas como a
lei da oferta e demanda, da acumulação, da queda tendencial da taxa de lucro; a globalização
das relações de trabalho e econômicas em geral; a produção intelectual a respeito do
trabalho, os movimentos políticos, a organização dos sindicatos etc. Todos esses fenômenos
formam um complexo muito bem articulado, chamado mundo do trabalho. O uso desta
expressão, cujo significado não foi precisamente definido pelos autores, nem sempre pode
estar subentendendo aquele complexo como um todo, mas privilegiando parte dele.
Bibliografia:
ANTUNES, R. Adeus ao trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo
do trabalho. São Paulo; Campinas: Cortez; Editora Unicamp, 1995.
FRIGOTTO, G. A educação e a crise do capital real. São Paulo: Cortez, 1995.
MATTOSO, J. A desordem do trabalho. São Paulo: Scritta, 1995.

TRABALHO ABSTRATO7
Conceito utilizado por Karl Marx para qualificar o caráter geral do trabalho dos produtores de
mercadorias, do trabalho na sociedade capitalista. Independentemente das diferenças que
possam existir entre as atividades desempenhadas pelos produtores de mercadorias, todas
elas teriam uma característica comum, que Marx denomina de trabalho abstrato. Todas essas
atividades produzem o valor, uma quantidade de trabalho humano em geral investida na
produção de mercadorias. O trabalho abstrato se refere, portanto, à produção do valor das
mercadorias, mediado em termos de tempo socialmente gasto para produzi-las. Esse critério

6
SOUZA JUNIOR, Justino de. Mundo do trabalho. p.219.
7
SANTOS, Eloisa; MACHADO, Lucília. Trabalho abstrato. p.334.
de medida permite a equiparação entre as mercadorias, apaga as particularidades, as
especificidades que estão presentes em todo trabalho concreto. Ao mesmo tempo, essa
operação representa uma despersonalização do trabalhador e de sua obra. A discussão sobre
o significado e as implicações desse processo de homogeneização e subordinação do trabalho
concreto ao trabalho abstrato tem ganhado a atenção de todos aqueles que consideram
fundamental tal conceituação de trabalho em Marx. Um ponto dessa discussão refere-se à
possibilidade de se encontrar no seio da sociedade capitalista, espaços de realização de
trabalhos concretos, que fogem ao domínio integral do capital, do trabalho abstrato. Fora do
campo da Economia Política, o termo trabalho abstrato é utilizado, também, para designar a
atividade humana que mobiliza capacidades intelectuais como o pensamento, o raciocínio, o
espírito, a mente. Esta definição é restrita, pois entende a atividade abstrata, intelectual,
mental, de pensar, de conceber, separada e oposta à atividade física ou concreta, ao fazer, à
execução. O físico e o mental, o pensar e o fazer, a concepção e a execução jamais se separam
na atividade humana.
Bibliografia:
ANTUNES, R. Adeus ao trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo
do trabalho. São Paulo; Campinas: Cortez; Editora Unicamp, 1995.
BOTTOMORE, T. Dicionário do pensamento marxista. Rio de Janeiro, Zahar, 1993.
MARX, K. O Capital: crítica da economia política. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989.
SANTOS, E. H. Ciência e cultura: uma outra relação entre saber e trabalho. Cadernos de Serviço
Social, Belo Horizonte, PUC-MG, ano 1, n. 1, p. 9-18, jul. 1993.
SCHWARTZ, Yves. Expérience et connainssance du travail. Paris, Messidor, 1989.

TRABALHO CONCRETO8
Na Economia Política, a expressão trabalho concreto foi utilizado por Karl Marx para falar da
dimensão do trabalho, que está presente em todas as sociedades humanas, que á sua
propriedade de criar utilidades necessárias à vida humana. Assim, trabalho concreto é
sinônimo de trabalho útil. No desenvolvimento da divisão do trabalho, as formas desse
trabalho vêm ganhando grande variedade e significado. Na sociedade capitalista, por
exemplo, sob o domínio do capital, o espaço para a realização livre desse trabalho sofre
restrições, o trabalhador não pode realizar a atividade conforme suas intencionalidades e
interesses, o que gera contradições. O trabalho concreto, sob a divisão do trabalho capitalista
é um trabalho privado. Ele tem também uma dimensão social, mas ela se expressa pelo
trabalho abstrato. Os que consideram fundamental resgatar a conceituação de trabalho em
Marx, fazendo a distinção entre trabalho abstrato e trabalho concreto, pensam que faz
sentido e é necessário analisar as possibilidades de se encontrar no seio da sociedade
capitalista um espaço de realização de um trabalho concreto, que foge ao domínio integral do
capital, do trabalho abstrato. Isso significa encontrar nesse espaço outra lógica de produção,
através da qual o trabalhador cria projetos pessoais, produz valores de uso e saberes,
experimenta sua inteligência, estabelece relações, realiza sua humanidade. Num sentido bem
diferente, o termo trabalho concreto é utilizado, também, para nomear a atividade humana
que mobiliza capacidades físicas, motoras, manuais. Esta definição é restrita, pois entende a

8
SANTOS, Eloisa; MACHADO, Lucília. Trabalho concreto. p.336.
atividade física, manual, o fazer, a execução separada e oposta à atividade intelectual, mental.
O pensar e o fazer, a concepção e a execução, o intelectual e o manual jamais se separam na
atividade humana.
Bibliografia:
ANTUNES, R. Adeus ao trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo
do trabalho. São Paulo; Campinas: Cortez; Editora Unicamp, 1995.
BOTTOMORE, T. Dicionário do pensamento marxista. Rio de Janeiro, Zahar, 1993.
MARX, K. O Capital: crítica da economia política. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989.
SANTOS, E. H. Ciência e cultura: uma outra relação entre saber e trabalho. Cadernos de Serviço
Social, Belo Horizonte, PUC-MG, ano 1, n. 1, p. 9-18, jul. 1993.
SCHWARTZ, Yves. Expérience et connainssance du travail. Paris, Messidor, 1989.

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