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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DA BAHIA

RESUMO DO TEXTO “O FORDISMO, SUA CRISE E O CASO BRASILEIRO”,


DE CÂNDIDO GUERRA FERREIRA

SALVADOR-BA

ABRIL DE 2021
Introdução:

A problemática construída pela “escola francesa da regulação”, assim como


a crise que vem sendo associada ao esgotamento do fordismo, têm sido colocadas
como base do debate sobre a crise econômica contemporânea, seus
desdobramentos e as possíveis soluções para a mesma.
É justamente na tentativa de entender esse cenário que alguns autores
difundiram a ideia de um confronto existente entre o chamado néo-fordismo, também
conhecido como néo-taylorismo, e o pós fordismo, onde tentaram aplicar a essas
duas vertentes, modelos como o toyotismo, a “especialização flexível, o kalmarismo
e etc.
No que se diz respeito à vertente néo-fordista em relação ao modelo fordista,
há a predominância de elementos de ruptura. Em contrapartida, ao que refere-se às
soluções pós-fordistas, há a predominância de aspectos inovadores em relação ao
fordismo.

1. “Fordismo”: Dois significados diferente

É necessário reconhecer que existem certos conflitos provenientes das


imprecisões em relação aos diversos significados e definições de fordismo, e esses
conflitos surgem, segundo S.Wood, porque muitos autores não utilizam o termo da
mesma maneira.
Apesar de muitos autores conceituarem o fordismo como sinônimo do
taylorismo, e o definirem como uma produção em massa, ou uma linha de
montagem automatizada, ainda há outros que o entendem como um modo de vida.
Em relação à aplicação do termo não é diferente, já que alguns autores associam o
fordismo a um processo de trabalho e a métodos de gestão, enquanto outros
utilizam-no para explicar a sociedade em um todo.
Sobre o conceito de fordismo, existem ao mínimo dois significados. Um
deles está designado ao modo de desenvolvimento monopolista que marcou o
desenvolvimento do capitalismo durante a chamada “era do ouro” em países
centrais no período pós-guerra, ficando então conhecido como “círculo virtuoso do
fordismo”. O outro significado, entretanto, refere-se a um nível menos global e
designa um princípio geral de organização da produção. Para este, destaca-se a
racionalização taylorista do trabalho, o desenvolvimento da mecanização, a
produção em massa e a norma fordista de salários.
O paradigma fordista possui como características a racionalização taylorista
do trabalho com profunda divisão e especialização do trabalho, o desenvolvimento
da mecanização através de equipamentos altamente especializados, a produção em
massa de bens com elevado grau de padronização e a nora fordista de salários para
compensar o tipo de trabalho predominante.
Sobre os significados do termo fordismo, vale ressaltar que existe uma
relação entre essas duas definições que, embora sejam distintas, não são
independentes. Sendo assim, há uma concordância entre o paradigma dominante
que refere-se à organização do processo de produção e a macroestrutura
socioeconômica de acumulação. É importante destacar que essa concordância
cooperou para que o modo de desenvolvimento se viabilizasse do ponto de vista
histórico.

2. Diferenças nacionais e o caso americano

O modelo fordista não foi único e homogêneo. Estudos da Escola Francesa


da Regulação (EFR) constataram que o fordismo foi, para os países centrais do
sistema capitalista durante o pós-guerra, um modo de desenvolvimento hegemônico.
Dessa forma, não se deve considerar que o fordismo exerceu um papel de
homogeneidade intra e inter-nações. Em países centrais, por exemplo, no que se diz
respeito à forma de organização da produção, o modelo fordista, apesar de
dominante, não era exclusivo.
Ao que refere-se ao caso americano, o fordismo nasceu nos EUA e se
difundiu para a Europa Ocidental e Japão no período pós-guerra. Sendo assim o
sistema americano de produção industrial acabou sendo disseminado pelos países,
adaptando-se aos contextos sociais, econômicos e políticos existentes em cada um
deles. Desse modo, o fordismo adquiriu diversos formatos nacionais que são
provindos das particularidades existentes em cada sociedade.
Analisando as principais economias capitalistas para explicar essas
diferenças, R. Boyer destacou características importantes, tais como a organização
do processo de trabalho, a estrutura de qualificações, a mobilidade do trabalho, o
modo de formação dos salários e o estilo de vida e normas de consumo, e
assim propôs uma tipologia de configurações nacionais ou de variantes do fordismo.
Assim, ele conceituou termos como fordismo híbrido, fordismo flexível, fordismo
democrático, fordismo retardatário, fordismo impulsionado pelo Estado e fordismo
falho e defeituoso, aos quais associou ao Japão, Alemanha Ocidental, Suécia, Itália,
França e Grã-Bretanha, respectivamente.Aos Estados Unidos, país que foi o
pioneiro, o autor associou ao fordismo genuíno.
R. Boyer apontou que a reformulação política, ocorrida após a crise dos
anos 1930, contribuiu para uma transformação institucional, na qual pode-se
destacar uma mudança na organização do movimento sindical operário com a
transição do sindicalismo corporativo para o sindicalismo em massa. Tal mudança
ocorreu apoiando-se nas modificações consideráveis introduzidas na legislação
trabalhista, que teve influência também em reformas políticas do “New Deal”
americano, as quais levaram a uma institucionalização do papel dos sindicatos.
A compreensão da função dos sindicatos em conjunto à intensificação da
intervenção do Estado na economia contribuíram para que houvesse uma
generalização do sistema de negociações coletivas e posteriormente um sistema
mais avançado de canalização dos conflitos entre capital e trabalho nos Estados
Unidos.
A evolução no que se diz respeito à consagração social do sistema de
negociações coletivas permite que haja um desenvolvimento na “norma salarial”,
enquanto a difusão das normas de produção em massa na racionalização taylorista
remete ao período que antecede à crise de 1930.Assim, as mudanças nas relações
de trabalho levam a uma forte intensificação do movimento de difusão, uma vez que
superam os obstáculos que a impediam.
Para M. Aglietta, essas mudanças tornaram viável a propagação de tais
normas de produção, uma vez que, para explicar a crise de 1930, o autor destaca o
desequilíbrio causado pelo desenvolvimento do sistema de produção em massa e a
ausência de um consumo de massa, gerando assim um crescimento insuficiente da
demanda em relação à capacidade produtiva da economia.
Dessa maneira, surgiu o “fordismo genuíno” em que a organização do
processo de trabalho é tipicamente fordista, a estratificação das qualificações é
acentuada, a mobilidade dos trabalhadores entre firmas e regiões é elevada, a
indexação dos preços é parcial e relativamente lenta e o estilo de vida dos
assalariados é marcado por um consumo em massa altamente individualizado.

3. A crise do fordismo e seus desdobramentos

A análise da crise se aprofunda apenas no fordismo enquanto modo de


organização da produção e no enfraquecimento dos ganhos de produtividade desse
sistema. Ao que refere-se a crise estrutural do fordismo, esta acaba afetando o
“modo de regulação” ou “regime de acumulação”, uma vez que ocorre uma profunda
ruptura de uma fase de desenvolvimento do capitalismo. Assim terminaria a “era
fordista” nos países centrais.
Os primeiros sinais da crise surgiram apenas no final da década de 1960 e
se prolongaram até os dias de hoje. Assim, a crise contemporânea age de forma
mais ou menos intensa em determinados países, dependendo da sua economia e
dos segmentos de cada sociedade. Para superar tal crise, há portanto uma
necessidade de grandes transformações não só tecnológicas, mas também
econômicas, sociais e políticas.
Muitos autores acreditam que o fordismo se tornou improdutivo, já que
houve uma desaceleração do crescimento da produtividade desse sistema, e que
esse esgotamento pode ser explicado por razões de ordem técnica e razões de
ordem social e econômica.
Ao que refere-se às razões técnicas, estão o desequilíbrio da linha de
montagem em relação à evolução da demanda, decorrente da criação de plantas
industriais cada vez maiores que exigiam produções significativas para o mercado
global. No que tange às razões de ordem social e econômicas, tem-se o fordismo é
eficiente em relação à produtividade do trabalho e do capital, mas nem tanto quando
a questão é aprofundar os mesmos métodos organizacionais.

Assim, essas causas estão associadas ao conflito distributivo, a resistência e


até mesmo revoltas dos trabalhadores diretos em relação ao tipo de trabalho ao qual
são submetidos na organização taylorista-fordista. Dessa forma, as lutas que
surgiram em países desenvolvidos no final dos anos 60, fizeram parte de um
momento marcado por conflitos, entre elas, “as movimentações operárias e
estudantis” do período de 1968, com epicentros mais famosos na França e Itália,
que representaram uma inquietação social que apresentavam desdobramentos em
relação a um incremento do poder judicial e uma recusa operária a determinadas
formas de trabalho.

Assim como essas, outra causa de insatisfação social é gerada pelo


movimento generalizado de elevação do nível de instrução das camadas populares
da população destes países. À vista disso, recrutar mão de obra que atendessem a
critérios, tais como sujeitar-se, sem resistência, ao tipo de trabalho desqualificado
predominante no processo de trabalho taylorista-fordista, tornava-se cada vez mais
difícil. Além desse fator, a crise do fordismo está relacionada também com a
discrepância entre a desqualificação da “administração científica” e a crescente
expectativa sobre a qualidade e iniciativa do trabalho.
A colisão entre a desaceleração dos ganhos de produtividade com a relativa
rigidez da norma salarial e das relações de emprego vigentes, resultou em uma
compressão dos níveis de lucratividade nos setores da economia. Uma encontrada
pelos países foi a de alternar profundamente as regras em vigor, flexibilizando o
salário e o emprego. Essa ofensiva contra as conquistas dos trabalhadores, que
foram obtidas durante a “idade do ouro” do fordismo, constitui um dos eixos
principais das estratégias políticas “neo-liberais” que ganharam destaque na
Inglaterra e nos Estados Unidos e que foram, mais tarde, seguidas em muitos
países.
Diante de uma situação marcada pelo desgosto pelos compromissos sociais,
o governo aproveitou-se dos fracassos sindicais em conjunto com o sucesso de
partidos políticos conservadores para implementar de forma autoritária esse
processo, ou, em outros casos, através da negociação entre capital e trabalho.
Alguns autores afirmam que a evolução da crise, desde meados dos anos
1970 e que ganhou força no decorrer dos anos 80, gerou transformações
importantes que indicam uma emergência de uma “nova conjuntura histórica”. Dessa
forma, com relação à crise, destaca-se alguns processos históricos que podem ser
considerados os “causadores” dessas transformações, são eles: a revolução
tecnológica, as mudanças de caráter organizacional e as mudanças nos mercados
de produtos e nas formas da concorrência inter-capitalista.
Sobre esse terceiro processo, autores entraram em consenso de que a era
fordista de produção em massa teria chegado ao fim. Este fenômeno foi produto das
mudanças ocorridas nos mercados e na concorrência. Ao que se diz respeito aos
mercados, verificou-se a passagem de um crescimento sustentado e regular da
demanda durante a “época do ouro” do fordismo para um crescimento mais lento e
uma instabilidade da demanda, a qual é, em muitos casos, superior ao nível da
procura.
Referente aos grandes setores de produção em massa, houve uma
consolidação da modificação central ao longo dos anos 70. O fato é que até os anos
60 os mercados eram regidos pela demanda, que era superior à oferta, masa
situação inverte-se nos anos 70 e os mercados tornaram-se globalmente regidos
pela oferta, em que as capacidades são superiores às demandas. Esta evolução
significa um acirramento e uma mudança na forma dominante de concorrência entre
as empresas, justamente com o aparecimento de “novas normas de concorrência”.
Sobre as mudanças organizacionais, verifica-se o surgimento de novos
conceitos. O modo taylorista-fordista atingiu os seus limites e deu margem a uma
série de experiências no decorrer das últimas décadas, o que resultou em
numerosas e importantes inovações organizacionais. A partir disso, surge um novo
conceito de pós taylorista que está baseado em três princípios interdependentes: a
distribuição do trabalho em “ilhas” de trabalhadores, a quebra do caráter
unidimensional das linhas de montagem e fabricação, e na substituição do
transportador por veículos. Em suma, passa-se das linhas unidimensionais a
cadência rígida, para organizações multidimensionais em rede e a cadências
flexíveis.
Com a origem da presente “revolução tecnológica” surge o aparecimento do
microprocessador no início dos anos 70, seguido pela rápida difusão de seu uso nos
sistemas produtivos. Com efeito, em torno do microprocessador e do computador, na
interface entre a eletrônica, a informática e as telecomunicações, toda uma safra de
objetos técnicos inéditos, invade lentamente o mundo material ou então tece em
segredo as redes do imaterial, na chamada “tecnologias da informação”.

4. O fordismo no Brasil

Para entender a aplicação do conceito de fordismo à realidade brasileira, tanto


do passado quanto do presente, é preciso considerar os dois conceitos de fordismo
supracitados, um em nível mais global e o outro em um nível menos abrangente.
4.1 O padrão de desenvolvimento da economia brasileira: crescimento
acelerado porém socialmente excludente

Através da análise da evolução histórica do Brasil durante o período


pósguerra, conclui-se que o fordismo teve um desenvolvimento limitado e
contraditório.
O rápido crescimento da economia brasileira no período do meado da
década de 1940 até 1980, permitiu que o PIB dobrasse de volume a cada dez anos
e duplicasse entre 1945 e 1980. Assim, o Brasil teve um desempenho superior ao de
muitos países avançados, e tal feito permitiu que este ocupasse a oitava posição
entre as economias industrializadas, ultrapassando países como Argentina, Chile e
Uruguai. Vale ressaltar que esse crescimento da produção foi predominantemente
voltado para o mercado interno, que é característico dos processos de
industrialização via substituição de importações, e que a participação do comércio
exterior foi relativamente pouco expressiva, ou seja, tanto as importações quanto as
exportações, tem uma contribuição relativamente baixa o grau na percentagem do
PIB. Nesse sentido, pode-se considerar o processo de acumulação como sendo
relativamente introvertido.
Ao que refere-se ao do setor industrial, seu desempenho foi ainda mais
notável, constituindo-se no motor do crescimento.
Com efeito, se tomarmos o PIB do setor manufatureiro, veremos que ele
teve um crescimento relativo e no contexto da América Latina, este crescimento foi
bastante superior à média dos países da região, de modo que a participação
brasileira no PIB manufatureiro latino-americano passou de 21,9% em 1950. Do
ponto de vista interno, o crescimento acelerado fez com que houvesse um aumento
significativo do peso do setor industrial no conjunto da economia brasileira,
passando de 20% da renda interna em 1949 para 26% em 1980, em detrimento da
diminuição drástica do peso do setor primário neste período.
Em relação à composição da produção industrial, constata-se uma mudança
de estrutura causada pelo de crescimento desigual dos diferentes setores. A
estrutura da produção industrial também se alterou profundamente. O setor produtor
de bens de consumo não-duráveis reduziu sua participação. Em contrapartida, os
setores de bens de consumo duráveis e de bens de capital teve um aumento
perceptível na sua participação.
Desta forma, os setores predominantes no emprego industrial no fim da
década de 40, tais como os setores têxteis, de vestuário, de couro, de alimentos e
bebidas, e de vidros e móveis deixam de ser predominantes em 1980. Por outro
lado, os novos setores, sendo esses os de metalurgia, mecânica pesada, química,
borracha, e farmacêutica ampliaram sua participação no emprego em 1950 e 1980.
Sendo assim, ao que refere-se à estrutura da indústria, verifica-se uma
semelhança na evolução desta estrutura em relação aos países centrais “fordistas”,
sendo essas a diminuição da participação dos ramos produtores de bens de
consumo não-duráveis e um aumento do peso das indústrias pertencentes ao setor
metal-mecânico, incluindo produção de bens de consumo duráveis e de maquinaria.
Em contrapartida, o peso relativo do setor produtor e bens de capital na estrutura
industrial é bem inferior comparado ao verificado nos países centrais. Fajnzylber
estima que a participação desta indústria no valor industrial adicionado é quase três
vezes maior nos países capitalistas avançados que no Brasil, o principal produtor do
Terceiro Mundo, excluindo a China.
O Brasil possui um caráter socialmente excludente e fortemente
concentrador do desenvolvimento capitalista no Brasil que não permitiu a formação
de uma verdadeira norma de consumo de massa, diferente dos países fordistas do
centro. As condições políticas que viabilizaram a evolução desses países, nunca se
concretizaram plenamente no caso da sociedade brasileira.
Esta constitui, efetivamente, uma das principais diferenças entre o caso
brasileiro e o "fordismo" dos países do centro. Enquanto o desenvolvimento
capitalista do pós-guerra naqueles países gerou um amplo processo de
massificação do consumo, no Brasil tal processo teve caráter bastante restrito. Tais
razões podem ser explicadas pelo fato de que a norma salarial fordista nunca foi
dominante no país.
Sendo assim, ao que se diz respeito à evolução dos salários ao longo do
tempo, constata-se que, de um modo geral, não houve uma transferência dos
ganhos de produtividade para os salários, e mesmo a indexação em relação à
inflação foi imperfeita, o que provocou uma perda de poder aquisitivo.
Outra característica de fundamental importância do mercado de trabalho
brasileiro, que tem considerável influência sobre seu funcionamento e o diferenciam
bastante dos mercados de trabalho dos países "fordistas" do centro é a existência de
um contingente extremamente numeroso de trabalhadores que estão fora do
mercado formal de trabalho, inseridos no chamado "setor informal" da economia,
que pode ser conceituado como um trabalho sem vínculo formalizado e que de um
modo geral, constitui o trabalhador autônomo ou aquele que não possui carteira
assinada pelo empregador. Portanto, o setor informal aparece como sendo
importante mesmo nos centros desenvolvidos do Brasil.

4.2 A organização “fordista” da produção no Brasil

Considerando o fordismo como princípio de organização da produção,


constata-se que no Brasil seu desenvolvimento foi limitado e desigual no tocante à
sua difusão espacial e setorial. Sendo assim, E. B. Silva, destacou algumas
características do processo de desenvolvimento deste sistema no país, em
comparação com o que ocorreu na "trajetória clássica" que se observou em
determinados países desenvolvidos.
No caso brasileiro notou-se que não há um movimento generalizado de
desqualificação da mão-de-obra em decorrência das mudanças tecnológicas.
Sobre as gerências das empresas, observou que essas possuíam poder
para impor estruturas de cargos e salários, que acontecia sem a contestação
expressiva da parte dos trabalhadores. Ressaltou também a disponibilidade de
mãode-obra e profunda segmentação do mercado de trabalho ocasionou a criação
uma camada de trabalhadores "centrais", que são estáveis e qualificados, e outra
camada de trabalhadores não-qualificados ou semiqualificados. Para Silva, isto
ocorreu porque o Estado brasileiro e as classes dominantes, desde o início deste
século, têm orientado suas políticas levando em conta as organizações dos
trabalhadores.
Sobre o período que procedeu o golpe de 1964, durante a ditadura militar,
vale ressaltar que os traços das relações de trabalho foram em grande medida
preservados. O que ocorreu, no entanto, foi um fortalecimento do caráter autoritário
e repressivo destas relações, em que o regime militar que deu suporte efetivo e
contribuiu para rebaixar os salários.
Diante desse contexto político, a determinação governamental pondo fim à
estabilidade do emprego constituiu-se no sentido de aumentar a rotatividade do
trabalho.
Nos anos 1970, as taxas de rotatividade do trabalho dobraram em relação
aos anos 60 e três quartos do total de demissões foram de iniciativa dos
empregadores, durante os anos 1970.
Com base na situação que se observava neste período em relação à
organização do trabalho, R. Q. Carvalho destaca que o principal traço característico
do padrão de utilização da força de trabalho na indústria brasileira durante os anos
70 constitui na superexploração ou exploração da força de trabalho.
Dados de uma pesquisa realizada por AC. Fleury em 1978, sobre empresas
localizadas na Grande São Paulo considerou esquema de organização do trabalho
posto em prática pela grande maioria das empresas de sua amostra, que é
caracterizada pela baixa qualificação baixo custo da mão-de-obra, por regras
institucionais que incentivavam a rotatividade do trabalho, influenciada pela
percepção desta realidade por parte do empresariado.
Este esquema de "rotinização do trabalho" é dirigido para um tipo de mãode-
obra não qualificada, barata e instável. Não obstante, nesse esquema o trabalho não
permite a qualificação e o aperfeiçoamento de mão-de-obra, não permite o contato e
o agrupamento entre os operários, mantém baixos os salários individuais dos
operários e induz à rotatividade da mão-de-obra. O objetivo é obter uma máxima
produtividade é através da minimização dos conflitos entre capital e trabalho.
A situação só se tornará diferente a partir do final dos anos 1970 e início dos
anos 80, isso porque este período foi marcado por movimentos que causaram
mudanças significativas no contexto global da sociedade. Tais movimentos
constituem um “pano de funfo” para que houvessem modificações no sistema de
organização da produção. Para contextualizar, o setor em que foi observado o
menor crescimento entre o período de 1980 e 1980 foi a indústria, revelando um
esgotamento do padrão de insdustrialização implantado no país. É durante a década
de 80 que surge um processo de modernização tecnológica e organizacional das
atividades econômicas que atingiu, sobretudo o setor financeiro e os ramos ou
segmentos de ramos da indústria mais voltados para a exportação.
O processo de modernização, no entanto, teve caráter relativamente restrito
em comparação em certos países centrais. Alguns autores colocaram em questão o
debate sobre os impactos dos impactos da automação flexível e sua implementação
ao que refere-se aos processos de trabalho
As pesquisas de R.Q. Carvalho e H. Schmitz ao que refere-se às unidades
de produção das empresas montadoras de automóveis no Brasil, defendem que a
introdução da automação flexível tem causado um fortalecimento do fordismo, em
contrapartida ao que vem acontecido em outros países, aos quais a automação teria
contribuído de maneira significativa para uma separação do fordismo.
Sendo assim, o processo de automação vem assumindo no país um caráter
parcial e seletivo, e, consequentemente causando um aumento do controle sobre o
trabalho direto, provocando uma intensificação do mesmo. Em suma, a automação
seletiva causa uma integração e sincronização sas operações de manufatura, sejam
estas realizadas por pessoas ou máquinas. Deste modo as tarefas tomaram-se mais
ritmadas pela máquina e o fordismo, ao invés de ser superado, é intensificado.
Sobre a pesquisa de R.Q. Carvalho e H. Schmitz, a autora E.B.Silva fez
importantes questionamentos, sendo estes baseados em alguns argumentos. A
autora observou que a modernização tecnológica tem tido um processo seletivo e
gradual ao longo da história e sendo assim, essa característica não seria específica
do caso brasileiro. Além disso, afirmou que não deve haver uma generalização dos
dados de uma indústria para outros ramos, questionando assim a validade das
conclusões, justificando a existência de notáveis diferenças quanto às estratégias de
automação executadas pelas empresas, e contestando a conclusão de que a
automação tenha acarretado uma intensificação do trabalho na montagem de
automóveis.
A autora conclui então que as tendências parecem ir na mesma linha que os
desenvolvimentos em economias que têm experiências de mais longo prazo com
tecnologia microeletrônica e que os novos padrões de organização do trabalho no
Brasil parecem estar se movendo na mesma direção das tendências que
prevalecem ao nível internacional. Além disso acrescenta que se as mudanças
recentes no Japão ou nas economias industrializadas ocidentais representam novas
versões do fordismo, o padrão brasileiro é igualmente uma renovação do fordismo e
que as novas mudanças mostraram que incrementos na eficiência não exigem que
sejam sacrificadas as metas sociais, e a liberdade individual, sendo assim, eficiência
pode ser melhor alcançada se for subordinada à igualdade social, econômica e
política. Esta polêmica girando em torno da atualidade e do futuro do fordismo no
Brasil, levantou questões relevantes para o conhecimento da realidade do país no
que se diz respeito às relações e condições de trabalho no presente e suas
perspectivas futuras.

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