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Universidade Federal Fluminense

Curso: Sociologia
Disciplina: Sociologia Clássica I
Professor: Daniel Henrique da Mota Ferreira
Aluna: Thayná Marques e Anderson Bandeira

Resumo: Este trabalho tem por objetivo fazer uma análise crítica acerca do
casamento, com o intuito de evidenciar a noção do patriarcado e da propriedade na
relação conjugal. Entre os métodos utilizados está a comparação com o casamento
do século XIX, em que mostra o quanto a percepção do casamento sempre esteve
intrínseco aos aspectos socioculturais (machismo) e econômicos (acumulação de
riquezas) desde a sua origem até os dias atuais.

Palavras-chave: casamento, propriedade, castidade.

Introdução: O surgimento do Casamento

Primeiramente, para tratar o assunto do casamento, é necessário entender


quando ele surgiu e por quais motivos. O casamento teve a sua origem na Roma
antiga, aproximadamente a 2350 AC. Ele é um costume bastante comum e
apreciado pelos indivíduos, no entanto, engana-se quem pensa que o casamento
sempre esteve atrelado à ideia de amor, muito pelo contrário, pois um dos motivos
do surgimento do casamento está diretamente relacionado com a questão da
propriedade, segundo Mary del priore no seu livro História do amor no Brasil. “o
casamento é uma instituição básica para a transmissão do patrimônio, sendo sua
origem fruto de acordos familiares e não da escolha pessoal do cônjuge”.
Tratava-se de um negócio de família, um contrato que dois indivíduos faziam não visando o
prazer, mas atender os interesses de suas famílias, as quais reconheciam que a garantia da
igualdade econômica entre os cônjuges era fundamental para a preservação de suas fortunas.
(CUNHA e SILVA, 2013).
Quando mencionamos o costume do casamento, e analisamos ele no Brasil,
trazemos em questão os impactos que ele tem na sociedade como um todo, desde a
manutenção de estruturas hierárquicas, quando entra em aspecto os fatores
econômicos, quanto em estruturas sociais, quando entra em aspecto a situação das
mulheres no campo conjugal.

A noção de Castidade e os Papéis Sociais

Para se entender a castidade no âmbito conjugal é importante trazer aspectos


culturais que influenciam esse meio. Quando falamos em casar de branco, tratamos
o tema com a questão da pureza (FUGIER, 2009). Foi durante o cristianismo que a
virgindade foi uma exigência para se entrar no reino dos céus (CUNHA e SILVA,
2013), e foi visto como um ato pecaminoso, entretanto ao passar dos anos o
matrimônio se tornou como princípio fundamental a reprodução. No capítulo, Os
ritos da vida privada burguesa, da FUGIER, página 237, ela cita os bailes do século
e aborda a questão do branco como inocência e virgindade. Trazendo para o século
atual, a vestimenta branca na cerimônia ainda mostra-se presente, não muito mais
voltada à questão simbólica da pureza mas sim a aspectos culturais. Ao analisar
esses fatos, percebe-se uma grande semelhança entre as épocas, pois a questão
da liberdade sexual feminina ainda é um tabu a ser discutido em sociedade, tendo
as suas raízes muito voltadas ao sociocultural.
Quando analisamos o casamento além da cerimônia em que o branco tem a
sua representatividade voltada a castidade, mas entramos no aspecto familiar,
percebemos a notoriedade de semelhanças aos papéis sociais designados a cada
grupo. Segundo o antropólogo Miguel Vale De Almeida, ele propõe discutir o
conceito de masculinidade, em que a:
masculinidade hegemônica é um modelo cultural ideal (...) que exerce sobre todos os
homens um efeito controlador, através da incorporação, da ritualização das práticas da
sociabilidade quotidiana e de uma discursividade que exclui todo o campo emotivo
considerado feminino (1995, pág, 17 Apud TORRES, 2001, pág, 108).

Segundo a socióloga Anália Torres, "A masculinidade hegemônica não se define


apenas como diferente da feminilidade mas assume fundamentalmente, o estatuto
de superioridade a forma de ascendência social.”
Com a análise dos textos é possível perceber um estreitamento referente às
relações de poder que se constroem e ao dinheiro quando se observa a formação
dos papéis sociais, isto é, em que eles se definem. Ou seja, fica por
responsabilidade da mulher o trabalho doméstico e da criação dos filhos, enquanto
para os homens o papel do trabalho (pág, 108). “Os papéis sociais permitem
compreender a situação social, pois são referências para percepção do outro, ao
mesmo tempo em que são referências para o comportamento próprio.” (MARTINS,
2010)
Apesar dos papéis sociais se modificarem ao longo do tempo, ainda analisa-se
muitos aspectos em torno disto numa relação matrimonial, pois muitas mulheres que
possuem a sua autonomia financeira ainda ficam responsáveis em cuidar do próprio
lar, sendo em muitas ocasiões sobrecarregadas de tarefas que deveriam ser de
responsabilidade do casal.

Casamento como forma de Propriedade

“O contrato de casamento é uma prática corrente nos meios burgueses,


sobretudo em Paris.” (FUGIER, pág. 240). Quando falamos em propriedade em uma
relação conjugal, é importante frisar que tipo de propriedades são essas. Durante o
século XIX, muitos casamentos eram por interesses, logo ter um contrato como uma
garantia de pertencimento dos bens materiais era uma prática inegável. Esta pŕatica
era burguesa e surgiu na modernidade (Araújo, 2002). Ao trazermos essa realidade
ao Brasil do século atual, percebemos raízes profundas sobre os interesses
pessoais que envolvem um matrimônio, um grande exemplo são as assinaturas do
papel no cartório, ter uma garantia sobre os bens do seu parceiro caso essa relação
passe a se desfazer em dada situação. Em síntese, a burocratização do casamento
ainda é uma prática que tem as suas raízes voltadas à noção de propriedade.
Para Friedrich Engels, no livro “ A origem da família, da propriedade privada e do
Estado”, o casamento era uma forma de propriedade, principalmente no aspecto da
monogamia:

Portanto, à medida que se multiplicavam, as riquezas, por um lado, proporcionavam ao


homem uma posição mais importante do que a da mulher na família e, por outro, geravam o
impulso para valer-se dessa posição fortalecida a fim de derrubar a sucessão hereditária em
favor de seus filhos/filhas.

Quando mencionamos a concepção de propriedade falamos sobre estratificação


social e consequentemente as desigualdades sociais atrelados a ela. Para se
entender esse panorama social é importante trazermos certos conceitos. O primeiro
é a noção de se manter em um “status quo”, isto é, manter-se em uma posição
privilegiada à que estava antes. A segunda problemática em torno disto são as
desigualdades que evidenciam-se ao redor da sociedade. Primeiramente, quando há
relações matrimoniais que são feitas em que as posições sociais, culturais e
econômicas são similares, é notória o quanto o fruto da geração dessas famílias irão
usufruir dos benefícios sociais e muito provavelmente se manterão nessas posições
hierárquicas futuras.

A distribuição dos recursos sociais entre os núcleos familiares formados


através de casamentos pode ter um efeito sobre a determinação da riqueza, caso os
cônjuges que apresentem melhores ativos individualmente se casem majoritariamente com
outras pessoas também em posse de ativos com remuneração privilegiada. Desse modo, a
formação das famílias pode ser um determinante da formação dos ricos através da
concentração dos elementos que permitem melhores condições materiais de existência.
(JUNIOR, 2013)

Portanto, isso nos mostra como o casamento evidencia a hierarquização social


e principalmente em como isto influencia as desigualdades tanto socioculturais,
como econômicas. Apesar das diversas épocas históricas, o casamento é um fator
importante para se acumular riquezas, não apenas no século XIX como na
atualidade, além de evidenciar a questão do patriarcado nas suas minuciosidades.

Para que a distribuição dos recursos sociais entre os núcleos familiares formados através de
casamentos tenha efeito sobre a determinação da riqueza, é necessário haver, entre os ricos,
uniões entre cônjuges em posse de recursos de volume semelhante acima do que é
encontrado para outros grupos. Assim, aqueles indivíduos que apresentarem melhores ativos
individualmente se casarão, destacadamente, com outras pessoas também em posse de
ativos com remuneração privilegiada. Nesse caso, aqueles indivíduos que já se encontram
em posição social privilegiada quando solteiros tenderiam a permanecer em posições no topo
da estrutura social após o casamento. (JUNIOR, 2013)

Conclusão:

Ao longo do texto percebe-se então em como a questão da castidade se revela


nas nossas relações a partir de aspectos culturais e o quão presente ainda são os
papéis sociais designados a mulheres e homens, apesar das mudanças presentes
em cada época histórica. Percebe-se também em como a concepção patriarcal
ainda rege os aspectos sociais e culturais da vida dos indivíduos, e em como a
propriedade é uma ferramenta de perpetuação de poderes, em que influencia as
desigualdades vigentes no País. Com isto, torna-se claro em que aspecto a
moralidade se apresenta no costume do casamento, pois a partir da análise do
mesmo, conseguimos ver o quão enraizado é a concepção do sexismo, machismo e
capitalismo, o que implica na culminação da manutenção dos poderes sociais,
econômicos e culturais, não apenas no Brasil mas no mundo como um todo.
Referências Bibliográficas:

ARAÚJO, Maria de Fátima. Amor, casamento e sexualidade: velhas e novas


configurações. Psicol. cienc. prof, Brasília, v. 22, n. 2, p. 70-77, jun. 2002

CUNHA, Tânia e DA SILVA, Ivana. CASAMENTO: representações, mudanças e


permanências a partir do olhar feminino.

DEL PRIORE, Mary. História do Amor no Brasil. São Paulo: Contexto, 2005

ENGELS, Friedrich. A origem da família, da propriedade privada e do Estado.


Boitempo, vol.26, 1984.

JUNIOR, Rubens. Efeito do compartilhamento de recursos através do casamento


sobre a determinação da riqueza no Brasil. Scielo, 2013.

MARTINS, Eduardo. Os Papéis Sociais Na Formação Do Cenário Social E Da


Identidade. Kínesis, vol.2, 2010.

PERROT, Michelle. et al. História Da Vida Privada: Da Revolução Francesa à


Primeira Guerra, Schwarcz. São Paulo, 2009.

TORRES, Anália Cardoso. Sociologia Do Casamento: a Família e a Questão


Feminina, Portugal: Celta, 2001

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