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GOVERNO DO ESTADO DE MATO GROSSO


SECRETARIA DE ESTADO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA
UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO
PRO REITORIA DE ENSINO DE GRADUAÇÃO
CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE DIAMANTINO

DA COLÔNIA AO PRESENTE: EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE FAMÍLIA NO


BRASIL

Yasmin Soares Marinho Dias1


Leandro Junio2

RESUMO
O presente estudo tem como objetivo oferecer uma análise da história familiar durante o período
do Brasil colônia, considerando sua composição, os elementos identificados como essenciais e
distintivos de sua formação, e sua relação com o direito de família. Será examinado o histórico
das estruturas familiares, fundamental para compreender sua inserção no contexto jurídico.
Inicialmente, esta pesquisa aborda o contexto histórico das estruturas familiares no Brasil,
incluindo a formação das primeiras famílias, suas características e a relevância que tinham
durante o período colonial. Também são exploradas as formas de regulamentação dessa
sociedade, inicialmente através da aplicação direta das leis de Portugal, posteriormente
coexistindo com normas estabelecidas pela igreja. Em seguida, são abordadas as
transformações que ocorreram na constituição das famílias ao longo do tempo, bem como os
princípios que atualmente fundamentam esse contexto, e como o direito incorporou esse campo
e como é a visão mais contemporânea de família dentro do âmbito jurídico. O estudo conclui
com uma análise da natureza jurídica da família e da ambiguidade de sua abordagem no âmbito
público e privado.

Palavras-chave: Brasil. Período Colonial. Direito de família. Princípios. Leis.

Introdução
O presente estudo tem como propósito examinar a evolução do instituto familiar
brasileiro, desde os tempos da colonização do Brasil, e sua interação com o campo jurídico,
especialmente o direito de família. As estruturas familiares que moldaram a história de nosso
país foram estabelecidas a partir da chegada dos portugueses, que iniciaram seu assentamento
em nossas terras e passaram a constituir a unidade familiar no território brasileiro.
A pesquisa foi fundamentada em doutrinas, livros que narram a história do Brasil na
época colonial, legislações pertinentes ao tema e artigos científicos. É inegável que o tema não
foi completamente explorado neste trabalho. Contudo, visa demonstrar como a instituição
familiar passou por transformações ao longo do tempo, levando à impossibilidade de existir um
único conceito de família. Da mesma forma, é impossível haver apenas uma maneira correta de
constituir uma família, o que ressalta a necessidade de adaptação do direito para regular toda

1
Yasmin Soares Marinho Dias (Acadêmica do curso de Direito da UNEMAT, campus de Diamantino;
dias.yasmin@unemat.br)
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Leandro Junio (Acadêmico do curso de Direito da UNEMAT, campus de Diamantino; leandro.junio@unemat.br
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essa diversidade. A problemática central era entender as continuidades e rupturas que a entidade
familiar teve desde o período colonial até os dias atuais. Isso foi feito por meio da análise da
sociedade durante o Brasil colônia, com foco na formação, características e relações familiares
daquela época, comparando esses elementos com as famílias contemporâneas, para identificar
os aspectos que perduraram e os que se modificaram.
O primeiro capítulo abordou a chegada dos portugueses ao território brasileiro e seu
impacto na formação familiar da época. Foram discutidas as características dessas famílias, bem
como sua relevância na sociedade daquele período. Aspectos marcantes dessa fase, como a
escravidão e a subordinação do papel feminino, foram também destacados, revelando a
presença do poder patriarcal nesse período.
O segundo capítulo discutiu o papel da igreja na sociedade colonial, sua expansão por
meio dos ensinamentos dos jesuítas aos povos nativos e à população portuguesa estabelecida
no Brasil. Além disso, explorou-se a influência do clero na educação no Brasil e sua
participação na elaboração de legislações aplicadas em nosso território naquela época. Também
abordou-se a tentativa de aplicar normas de Portugal para regular a sociedade colonial, o que,
no entanto, não obteve sucesso.
Por fim, o terceiro capítulo evidenciou as mudanças ocorridas na formação familiar,
comparando-as com as famílias coloniais e apresentando os elementos considerados essenciais
para definir uma família nos dias de hoje. Foram discutidos os princípios jurídicos aplicados a
essa instituição, sua natureza jurídica e as modificações que o direito que tutela a família teve
ao longo dos anos, culminando na apresentação das considerações finais.

Desenvolvimento

A narrativa convencional da história do Brasil revela que a descoberta ocorreu através


da expedição portuguesa liderada por Pedra Álvares Cabral em 22 de abril de 1500. Na
realidade, os interesses do rei de Portugal estavam inteiramente voltados para a busca das
especiarias das índias, e não havia uma intenção de Portugal em habitar nossas terras. A
intenção era apenas manter o controle das terras, prevenindo possíveis ocupações por potências
estrangeiras.
No entanto, cerca de quatro décadas após a descoberta do Brasil, durante o reinado de
D. João III, os governantes do reino se viram obrigados a tomar uma decisão crucial devido à
intensa pirataria nas costas. Se não houvesse uma intervenção efetiva nesse sentido, a perda das
terras seria inevitável e quase irreversível (MARTINS FILHO, 1999, p.13).
Nesse contexto, surgiu a ideia de dividir as 15 Capitanias Hereditárias, cada uma com
50 léguas de costa, e entregá-las às famílias da pequena nobreza de Portugal, principalmente
constituídas por fidalgos. Esse sistema, já adotado por outros reinos, visava a ocupação das
terras e a eliminação do perigo iminente de apossamento por outras potências (MARTINS
FILHO, 1999, p.13).
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Dessa forma, pode-se afirmar que as primeiras famílias que chegaram ao Brasil foram
os donatários das terras distribuídas por meio desse sistema de Capitanias, inaugurando assim
a colonização portuguesa.
É evidente que antes da chegada dos portugueses ao Brasil, este já era habitado pelos
povos nativos, os índios, que também estavam organizados em grupos que poderíamos chamar
de família. No entanto, os estudos sobre família se concentram nos povos que colonizaram
nossas terras e nas famílias que foram formadas a partir desse momento.
Essa imposição do casamento era um fator que resultava em muitos relatos de adultério
naquela época. Isso porque os maridos buscavam satisfazer seus desejos e prazeres sexuais com
outras mulheres, frequentemente pertencentes a um estrato social inferior, que se submetiam a
essa situação, pois não teriam a oportunidade de ter uma vida matrimonial (BRUGGER).
Isso é evidenciado pelo elevado número de processos de divórcio naquela fase, a maioria
dos quais era iniciada pelas esposas insatisfeitas com a infidelidade sexual de seus maridos fora
do casamento, e muitas vezes gastando seus recursos para sustentar suas amantes, conforme
apontado no artigo de Silvia Brugger.
Todas essas características apresentadas até agora dizem respeito às grandes famílias
rurais, que eram o modelo predominante na história familiar brasileira. No entanto, não eram
apenas essas que existiam. Os centros urbanos também eram habitados, e entre eles havia a
presença de famílias. No entanto, essas famílias urbanas não foram tão estudadas quanto as
estabelecidas nas zonas rurais, o que acabou por criar uma homogeneização desse modelo
familiar como o único existente naquele tempo (CORRÊA, 1981, p. 5-16).
Ao analisar a obra "Casa Grande e Senzala" de Gilberto Freyre, percebe-se a tentativa
de enquadrar toda a sociedade da época colonial dentro do conceito de família patriarcal. O
autor reconhece a existência dessa diferença ou contraste entre essas duas camadas sociais que
distinguem as famílias rurais e os demais cidadãos que não estão inseridos nesse contexto. Essa
percepção é evidente em sua afirmação:

"Somos duas metades confraternizadas e que se vêm mutuamente


enriquecendo com valores e experiências diversas; quando nos
complementarmos num todo, não será com o sacrifício de um elemento
ao outro" (Freyre, 1978, p. 335).

Essa abordagem sugere que a parcela excluída das grandes famílias vive em comunhão
com a natureza, sem ser regulada por normas culturais. É uma sociedade desprovida de normas
que regulem os comportamentos sociais de todos os cidadãos, independentemente de
pertencerem a uma família patriarcal ou não (CORRÊA, 1981).

Isso ressalta a importância do parentesco naquela época, pois era o fator que
determinava todas as relações, econômicas e sociais:
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"Os deveres, responsabilidades e privilégios de cada um em


relação aos outros são definidos em termos do parentesco mútuo ou de
sua ausência. A troca de bens e serviços, sua produção e distribuição,
hostilidade e solidariedade, rituais e cerimônias ocorrem dentro da
estrutura organizadora do parentesco" (RUBIN RETTER, p.170).

Ao pesquisar sobre as famílias na época do Brasil colônia, a maioria dos materiais


disponíveis descreve o modelo de forma patriarcal, comandado por um homem e centrado no
casamento. É evidente que esse formato familiar teve importância na história e no
desenvolvimento das relações parentais. No entanto, ao discutir esse tipo de família, é crucial
esclarecer a existência de outros modelos, que, mesmo sendo minoria, também tiveram
relevância em nossa história e influenciaram o futuro (SOUZA, 2011).

Considerações Finais
A família, observada tanto na perspectiva histórica quanto jurídica, passou por
transformações evidentes, um fato inquestionável. Dentro do contexto histórico, o poder
patriarcal tornou-se obsoleto, concedendo voz e posição a todos os membros dessa união
chamada família, seja representada pela figura feminina ou masculina. Na esfera jurídica, o
casamento deixou de ser uma exigência para formalizar essa instituição. A Constituição trouxe
aspectos centrais para caracterizar essa relação, focados na afetividade, que se tornou o fator
predominante na instituição de direitos dentro da relação familiar.
O objetivo principal era explorar esses dois contrastes, apresentando uma visão de
como a sociedade na época colonial era estruturada em termos dessas relações e configurações
familiares, comparado aos elementos que compõem as famílias contemporâneas, buscando
compreender as continuidades e rupturas dentro desse âmbito familiar.
Nessa abordagem, foi possível perceber que, embora o casamento não seja mais uma
formalidade obrigatória para a instituição de direitos familiares, continua sendo um ritual que
remonta à época colonial, persistindo até os dias atuais. Outro elemento herdado desse período
e presente hoje são as famílias unidas por laços biológicos. A pesquisa demonstrou que o direito
atual tem a capacidade de reconhecer as relações familiares entre pessoas que não compartilham
laços de parentesco consanguíneo, usando a afetividade como base para essa determinação. No
entanto, a maioria das famílias brasileiras ainda é formada através da consanguinidade.
Ao analisar as rupturas, destaca-se a crescente aceitação da afetividade como fator
preponderante na formação familiar. A Constituição assegura que esse ambiente deve ser
enriquecido e estabelecido com direitos e responsabilidades, visando garantir o
desenvolvimento saudável e seguro de seus membros, especialmente quando inclui crianças,
adolescentes e idosos, considerados vulneráveis.
Além disso, um aspecto relevante nas rupturas é o reconhecimento, pelo direito, das
relações formadas por pessoas do mesmo sexo, algo impensável durante o período colonial.
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A sociedade em que vivemos é reflexo das mudanças que ocorreram ao longo do


tempo, uma característica que sempre estará presente nessa entidade social. O direito, como
regulador desse contexto, precisa estar em constante adaptação para acompanhar as mudanças
sociais. É influenciado pelos parâmetros da sociedade em que está inserido, ajustando-se
continuamente para refletir essas variáveis.

REFERÊNCIAS

BEVILAQUA, Clovis. Direito da família. 7. ed. Rio de Janeiro: Editora Rio, 1976
CARMIGNANI Maria Cristina da Silva. A justiça no Brasil colônia. São Paulo. 2018.
Disponível em . Acesso em 15 de agosto de 2021. CARVALHO, Dimas Messias. Direito das
famílias. 8 edição Saraiva educação. São Paulo. 2020.

DOMINGUES Ângela. Monarcas, ministros e cientistas, mecanismos de poder, governação e


informação no Brasil colonial. Centro de História de Além-Mar Faculdade de Ciências Sociais
e Humanas / Universidade Nova de Lisboa Universidade dos Açores. 2014. Disponivél em: .
Acesso em 05 de setembro de 2021.

PAIVA, José Maria de; PUENTES, Roberto Valdés. A proposta jesuítica de Educação – uma
leitura das Constituições. Comunicações, São Paulo, nov. 2000. Disponível em . Acesso em 29
de julho de 2021.

WEHLING Arno; WEHLING Maria José. Direito e justiça no Brasil colonial: o tribunal da
relação do rio de janeiro 1751 e 1808. Rio de Janeiro. Editora renovar 2004.

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