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CRIMES DE PRECONCEITO

DE RAÇA OU DE COR – LEI


7.716/89
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1. ASPECTOS INICIAIS
1.1 CONTEXTO
De início, é importante destacar alguns dispositivos constitucionais que vedam a prática do
preconceito/discriminação. São eles:
Art. 3°, CF - Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
outras formas de discriminação.
Art. 4°, CF - A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos
seguintes princípios:
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
Art. 5º, CF - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais;
XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de
reclusão, nos termos da lei;
Os incisos XLI e XLII do art. 5º da Constituição Federal constituem um mandado constitucional
de criminalização. Ou seja, a própria Constituição ordena ao legislador elaborar lei específica com
a finalidade de criminalizar a conduta de racismo/preconceito.
Nesse sentido, foi elaborada a Lei 7.716/89, com a alcunha de Lei Caó, a qual criminaliza
determinadas condutas ligadas à discriminação (não há contravenções penais, apenas crimes). O
apelido “Caó” se dá em razão do autor do projeto, Carlos Alberto Caó – jornalista e ex-deputado
ativista das questões raciais.
Originalmente, a lei trazia a criminalização de condutas de preconceito de raça ou cor. Toda-
via, no ano de 1997, foram introduzidas outras formas de discriminação, a saber: etnia, religião e
procedência nacional.
ͫ Ainda mais recentemente, o STF firmou entendimento de que no conceito de discrimi-
nação em relação à raça, deve ser compreendida também a discriminação em razão da
orientação sexual/identidade de gênero/opção sexual (condutas homofóbicas/transfóbi-
cas), dando interpretação conforme a Constituição.
Existem outras leis que abordam diferentes tipos de preconceitos, são elas:
ͫ Lei 7.437/85 (Lei Afonso Arinos) – traz contravenções penais, as quais estão em vigor
em relação a discriminações de sexo e estado civil (esse é o entendimento majoritário).
* O doutrinador Guilherme de Souza Nucci entende que essa lei não foi recepcionada pela
Constituição Federal de 1988, já que esta ordena que os crimes de preconceito sejam apenados com
reclusão – o que não ocorre com as contravenções penais (contudo, essa orientação é minoritária).
ͫ Lei 13.146/16 (Estatuto da Pessoa com Deficiência) e Lei 7.853/89 – tratam de discrim-
inações relacionadas à deficiência física ou mental.
ͫ Lei 12.984/14 – trata de discriminação contra portadores do vírus HIV.

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O objeto de estudo desse material é apenas a Lei 7.716/89, que trata da discriminação em
razão da raça (incluída a orientação sexual, segundo o STF), cor, etnia, religião, procedência nacional.

1.2 DISCRIMINAÇÃO EM RAZÃO DA ORIENTAÇÃO SEXUAL/ OPÇÃO


SEXUAL/ IDENTIDADE DE GÊNERO
O entendimento antigo estabelecido pelo Supremo Tribunal Federal, apontava que mesmo
se a conduta discriminatória em razão de orientação sexual fosse direcionada a um grupo, não
caracterizaria crime pela Lei 7.716/89. Isso porque, o art. 1º da lei menciona apenas raça, cor,
etnia, religião ou procedência nacional.
Sendo assim, considerava-se não ser possível a inclusão desse tipo de discriminação na Lei
7.716/89, pois ela não está descrita expressamente no art. 1° da lei, bem como porque o Direito
Penal não admite analogia in malam partem (analogia que desfavorece o réu).
Era a jurisprudência no seguinte sentido:
O disposto no artigo 20 da Lei nº 7.716/89 tipifica o crime de discriminação ou preconceito considerada a raça, a
cor, a etnia, a religião ou a procedência nacional, não alcançando a decorrente de opção sexual.
(1ª Turma-STF, Inq 3590/DF, Rel. Min. MARCO AURÉLIO, j. 12/08/2014).
A compreensão atual do STF é no sentido de incluir a discriminação em razão da orientação
sexual como crime pela Lei 7.716/89, pois entende-se a orientação sexual dentro do conceito de
raça (ou seja, houve uma mudança no entendimento).
Ademais, aponta o STF que esse tipo de discriminação estará incluído no contexto da Lei
7.716/89 até que o Congresso Nacional edite legislação específica nesse sentido. O STF também
declarou que não houve analogia ou interpretação extensiva, mas sim interpretação conforme
a Constituição Federal.
O novo posicionamento, conforme declarado pelo próprio Tribunal, possui efeitos prospec-
tivos – ou seja, produz efeitos a partir daquela decisão (efeito ex nunc).

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CRIMES DE PRECONCEITO
DE RAÇA OU DE COR – LEI
7.716/89
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1. ASPECTOS INICIAIS
1.2 DISCRIMINAÇÃO EM RAZÃO DA ORIENTAÇÃO SEXUAL/ OPÇÃO
SEXUAL/ IDENTIDADE DE GÊNERO
A compreensão atual do STF, a respeito da discriminação em razão da orientação sexual é
ilustrada pela decisão a seguir.
1. Até que sobrevenha lei emanada do Congresso Nacional destinada a implementar os mandados de criminaliza-
ção definidos nos incisos XLI e XLII do art. 5º da Constituição da República, as condutas homofóbicas e transfó-
bicas, reais ou supostas, que envolvem aversão odiosa à orientação sexual ou à identidade de gênero de alguém,
por traduzirem expressões de racismo, compreendido este em sua dimensão social, ajustam-se, por identidade
de razão e mediante adequação típica, aos preceitos primários de incriminação definidos na Lei nº 7.716, de
08.01.1989, constituindo, também, na hipótese de homicídio doloso, circunstância que o qualifica, por configu-
rar motivo torpe (Código Penal, art. 121, § 2º, I, “in fine”); 2. A repressão penal à prática da homotransfobia não
alcança nem restringe ou limita o exercício da liberdade religiosa, qualquer que seja a denominação confessional
professada, a cujos fiéis e ministros (sacerdotes, pastores, rabinos, mulás ou clérigos muçulmanos e líderes ou
celebrantes das religiões afro-brasileiras, entre outros) é assegurado o direito de pregar e de divulgar, livre-
mente, pela palavra, pela imagem ou por qualquer outro meio, o seu pensamento e de externar suas convicções
de acordo com o que se contiver em seus livros e códigos sagrados, bem assim o de ensinar segundo sua orien-
tação doutrinária e/ou teológica, podendo buscar e conquistar prosélitos e praticar os atos de culto e respectiva
liturgia, independentemente do espaço, público ou privado, de sua atuação individual ou coletiva, desde que tais
manifestações não configurem discurso de ódio, assim entendidas aquelas exteriorizações que incitem a dis-
criminação, a hostilidade ou a violência contra pessoas em razão de sua orientação sexual ou de sua identidade
de gênero; 3. O conceito de racismo, compreendido em sua dimensão social, projeta-se para além de aspectos
estritamente biológicos ou fenotípicos, pois resulta, enquanto manifestação de poder, de uma construção de
índole histórico-cultural motivada pelo objetivo de justificar a desigualdade e destinada ao controle ideológico, à
dominação política, à subjugação social e à negação da alteridade, da dignidade e da humanidade daqueles que,
por integrarem grupo vulnerável (LGBTI+) e por não pertencerem ao estamento que detém posição de hegemonia
em uma dada estrutura social, são considerados estranhos e diferentes, degradados à condição de marginais do
ordenamento jurídico, expostos, em consequência de odiosa inferiorização e de perversa estigmatização, a uma
injusta e lesiva situação de exclusão do sistema geral de proteção do direito.
(Pleno-STF, ADO 26/DF, Rel. Min. Celso de Mello; MI 4733/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgados em 13/6/2019 - Info
944).

1.3 VEDAÇÕES CONSTITUCIONAIS – ART. 5º, XLII, CF


Nos termos da Constituição Federal, o crime de racismo:
» É inafiançável (não cabe fiança);
» É imprescritível (não prescreve);
» É punido com reclusão.
Sendo assim, todos os crimes previstos na Lei 7.716/89 são punidos com reclusão (não há
“detenção” na lei), no tocante à pena privativa de liberdade, visto que se trata de mandamento
constitucional.
Destaca-se que a Constituição Federal não veda a concessão de anistia, graça e indulto ao
crime de racismo. Tais vedações se aplicam aos crimes hediondos e equiparados (o racismo não
é hediondo e nem equiparado a hediondo).

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Além disso, também não há vedação à concessão de liberdade provisória sem fiança (consi-
derando que se trata de um crime inafiançável, não cabe liberdade provisória com fiança).

1.4 ESQUEMATIZAÇÃO
A Lei 7.716/89 possui 22 artigos, sendo 18 em vigor. Ela pode ser subdividida em:
ͫ Aspectos iniciais;
ͫ Características gerais dos crimes;
ͫ Crimes em espécie – arts. 3º a 14 e art. 20.

2. CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS CRIMES


2.1 ELEMENTO SUBJETIVO E AÇÃO PENAL
De início, importante destacar que todos os crimes da Lei 7.716/89 são dolosos!
Ainda, a doutrina classifica tais delitos como crimes de tendência, ou seja, que exigem um
elemento subjetivo específico, que está implícito na conduta.
Só haverá crime se for verificada a tendência de discriminar/segregar/superioridade. É o
mesmo raciocínio utilizado nos crimes contra a honra, portanto, não haverá crime se estiver
presente o animus jocandi (tom de brincadeira) ou animus criticandi (tom de crítica).
Nesse sentido é a jurisprudência do STF:
(...) Asseverou que, consoante se depreende do discurso proferido pelo acusado em relação a comunidades
quilombolas, as afirmações, embora consubstanciem entendimento de diferenciação e até de superioridade,
são desprovidas da finalidade de repressão, dominação, supressão ou eliminação, razão pela qual, tendo em
vista não se investirem de caráter discriminatório, são incapazes de caracterizarem o crime previsto no art. 20,
“caput”, da Lei 7.716/1989. Considerou que os pronunciamentos do parlamentar contidos na peça acusatória estão
vinculados ao contexto de demarcação e proveito econômico das terras e configuram manifestação política que
não extrapola os limites da liberdade de expressão (...)
(STF. 1ª Turma. Inq. 4694/DF, Rel. Min. MARCO AURÉLIO, julgamento: 11/9/2018)
Prosseguindo, todos os crimes da Lei 7.719/89 são processados e julgados mediante ação
penal pública incondicionada, sem exceção.

2.2 BEM JURÍDICO E CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA


O bem jurídico (ou objeto jurídico) é o bem fundamental que a norma jurídica buscou proteger
ao criminalizar determinada conduta. Posto isso, o bem jurídico que se quer proteger aqui na Lei
7.716/89 é a dignidade da pessoa humana.
» Conforme já estabelecido anteriormente, todos os crimes dessa lei são dolosos,
sem exceção.
» A maioria dos delitos são crimes próprios, ou seja, são delitos que exigem uma
condição especial do autor.
» Contudo, dois crimes são classificados como comuns (pode ser praticados por
qualquer pessoa): art. 14 e art. 20.

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» A maioria dos crimes são comissivos. Apesar disso, existe um delito notadamente
omissivo, qual seja o art. 4º, §1º, inciso I.
» Os crimes da lei em estudo são crimes formais, portanto dispensam a produção
de um resultado naturalístico.
» Admite-se a forma tentada, quando a conduta for plurissubsistentes (aquelas que
podem ser fracionados em mais de um ato).

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2. CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS CRIMES


2.3 COMPETÊNCIA PARA PROCESSO E JULGAMENTO
Via de regra, a competência para processo e julgamento dos crimes da Lei 7.716/89 é da
Justiça Estadual.
* É possível que a competência seja da Justiça Federal, em especial na ocorrência do art. 109,
inciso V da Constituição Federal.
Art. 109, CF. Aos juízes federais compete processar e julgar:
V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução
no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente;

2.4 RACISMO X INJÚRIA RACIAL/ PRECONCEITUOSA/ DISCRIMINATÓRIA


a. Diferenciação dos crimes
Art. 140, §3º, Código Penal – injúria racial. Nesse delito, o autor ofende a honra subjetiva
da vítima. Ou seja, afeta aquilo que a própria vítima sente sobre si mesma (a visão que ela tem
sobre si).
Ainda, o objetivo do autor é ofender uma pessoa determinada (individualmente conside-
rada). Para isso, o autor se vale de ofensas relacionadas à raça, cor, etnia, origem, pessoa idosa
e pessoa com deficiência.
ͫ Exemplo: jogador de futebol negro que está atuando em uma partida. Um torcedor do
time rival o chama de “macaco” e joga uma banana no campo. Trata-se de injúria racial
ou preconceituosa, pois a conduta foi direcionada a pessoa de forma individualizada.
Lei 7.716/89 – racismo. Trata-se de uma discriminação dirigida ao grupo/coletividade de
determinada raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.
Nesse sentido é a jurisprudência a seguir.
1. A diferenciação entre o delito de discriminação religiosa e a injúria qualificada reside no elemento volitivo do
agente. Se a intenção for ofender número indeterminado de pessoas ou, ainda, traçar perfil depreciativo ou segre-
gador de todos os frequentadores de determinada igreja, o crime será de discriminação religiosa, conforme precei-
tua o art. 20 da Lei 7.716/89. Contudo, se o objetivo for apenas atacar a honra de alguém, valendo-se para tanto de
sua crença religiosa - meio intensificador da ofensa -, caracteriza-se nesse caso o delito o de injúria disciplinado
no art. 140, § 3º, do Código Penal. (...).
(Corte Especial-STJ, APn 612/DF, Rel. Min. CASTRO MEIRA, j. 17/10/2012)
b. Ação penal
Os crimes da Lei 7.716/89 são processados mediante ação penal pública incondicionada,
enquanto o crime de injúria racial é processado mediante ação penal pública condicionada à
representação da vítima (art. 145, p.ú, CP).
c. Imprescritibilidade
Conforme já estabelecido anteriormente, os crimes da Lei 7.716/89 são imprescritíveis, nos
termos do art. 5º, XLII, da Constituição Federal.
Sobre o crime de injúria racial, a Constituição nada menciona. Todavia, o entendimento atual
do STF/STJ e de parte da doutrina é também pela imprescritibilidade desse delito.

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ͫ Na doutrina de Guilherme de Souza Nucci, a injúria racial não é apenas um crime contra
à honra, mas também uma modalidade de prática de racismo. Por essa razão, o autor
entende que é crime imprescritível, inafiançável e punido com reclusão.
1. Nos termos da orientação jurisprudencial desta Corte, com o advento da Lei n. 9.459/97, introduzindo a denomi-
nada injúria racial, criou-se mais um delito no cenário do racismo, portanto, imprescritível, inafiançável e sujeito à
pena de reclusão (...).
(6ª Turma-STJ, AgRg no REsp 1849696/SP, Rel. Min. SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, j. 16/06/2020)
(...) 2. O crime de injúria racial reúne todos os elementos necessários à sua caracterização como uma das espécies
de racismo (...). 3. A simples distinção topológica entre os crimes previstos na Lei 7.716/1989 e o art. 140, § 3º, do
Código Penal não tem o condão de fazer deste uma conduta delituosa diversa do racismo, até porque o rol pre-
visto na legislação extravagante não é exaustivo. 4. Por ser espécie do gênero racismo, o crime de injúria racial é
imprescritível.
(Plenário-STF, HC 154248/DF, Rel. Min. Edson Fachin, j. 28/10/2021 – inf. 1036)
A respeito da inafiançabilidade, o STJ entende que é aplicável ao crime de injúria racial, con-
forme se vê na primeira jurisprudência acima. Por sua vez, o STF, como se nota na segunda juris-
prudência exposta acima, nada menciona sobre a fiança.

2.5 EFEITOS DA CONDENAÇÃO – ARTS. 16 E 18


São dois os possíveis efeitos da condenação aplicáveis aos delitos da Lei 7.716/89 de forma
geral:
ͫ Perda do cargo/função pública (aplicável aos servidores públicos);
ͫ Suspensão do funcionamento do estabelecimento particular (que não pode ser por
período superior a três meses).
Destaca-se que ambos os efeitos não são automáticos, ou seja, devem ser motivados pelo
juiz no momento da sentença condenatória.

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3. CRIMES EM ESPÉCIE
3.1 CRIME ART. 3º
Art. 3° - Impedir ou obstar o acesso de alguém, devidamente habilitado, a qualquer cargo
da Administração Direta ou Indireta, bem como das concessionárias de serviços públicos.
Pena: reclusão de dois a cinco anos.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, por motivo de discriminação de raça, cor,
etnia, religião ou procedência nacional, obstar a promoção funcional.
O ato de impedir é o impedimento total, enquanto o ato de obstar significa dificultar, criar
obstáculos para o acesso a cargo da administração pública direta ou indireta e, também, as con-
cessionárias de serviços públicos, por aquele que é devidamente habilitado para tanto.
No parágrafo único, temos a conduta daquele que obsta a promoção funcional.
Sujeito ativo: trata-se de crime próprio, pois só pode ser praticado por pessoa capaz de dar
acesso/posse a cargo da administração pública ou de viabilizar a progressão funcional.
ͫ Exemplo: examinador de prova oral que reprova candidato, apto intelectualmente, por
motivo de discriminação racial.
Sujeito passivo: a pessoa discriminada.
A consumação do delito se dá com a prática dos verbos, caracterizando um crime formal –
não exige produção de resultado naturalístico para a consumação.
É possível a figura da tentativa, desde que a conduta seja plurissubsistente (praticada em
mais de um ato).

3.2 CRIME ART. 4º


Art. 4° - Negar ou obstar emprego em empresa privada.
Pena: reclusão de dois a cinco anos.
§ 1° - Incorre na mesma pena quem, por motivo de discriminação de raça ou de cor ou prá-
ticas resultantes do preconceito de descendência ou origem nacional ou étnica:
I - deixar de conceder os equipamentos necessários ao empregado em igualdade de condi-
ções com os demais trabalhadores;
II - impedir a ascensão funcional do empregado ou obstar outra forma de benefício
profissional;
III - proporcionar ao empregado tratamento diferenciado no ambiente de trabalho, espe-
cialmente quanto ao salário.
§ 2° - Ficará sujeito às penas de multa e de prestação de serviços à comunidade, incluindo
atividades de promoção da igualdade racial, quem, em anúncios ou qualquer outra forma
de recrutamento de trabalhadores, exigir aspectos de aparência próprios de raça ou etnia
para emprego cujas atividades não justifiquem essas exigências.
Note que o art. 4º traz foco ao âmbito privado, ao contrário do art. 3º analisado anteriormente,
o qual trata da Administração Direta, Indireta ou concessionárias de serviço público.

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A figura equiparada do §2º consiste em exigir aspectos de aparência próprios de raça ou etnia
para emprego cujas atividades não justifiquem tais exigências.
ͫ Não apresenta pena privativa de liberdade, mas apenas pena de multa e prestação de
serviços à comunidade (que inclui atividades de promoção da igualdade racial).
ͫ Exemplo: hotel que, para a contratação de camareiro, exige que a pessoa seja branca.
Não existe qualquer justificativa para essa exigência e fica caracterizado o crime.
ͫ * Se houver justificativa plausível para a exigência em relação às atividades desempen-
hadas, não há o crime.
Quanto ao §1º, inciso I, trata-se de um crime omissivo, vez que a conduta é deixar de conceder
equipamentos necessários ao empregado.
Sujeito ativo: trata-se de crime próprio, pois só pode ser praticado pelo responsável pelas
contratações, fornecimentos de equipamentos e demais atividades mencionadas.
Sujeito passivo: a pessoa discriminada.
A consumação do delito se dá com a prática dos verbos, sendo um crime formal.
É possível a tentativa, desde que a conduta seja plurissubsistente.
ͫ Não é cabível a tentativa somente na hipótese do art. 4º, §1º, inciso I, por se tratar de
crime omissivo próprio.

3.3 CRIME ART. 5º


Art. 5° - Recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial, negando-se a servir, atender
ou receber cliente ou comprador.
Pena: reclusão de um a três anos.
O crime consiste na recusa ou impedimento de acesso a estabelecimento comercial, motivado
por discriminação (do contexto da Lei 7.719/89).
Na hipótese de recusa ou impedimento motivada por classe social ou poder aquisitivo, haverá
o crime do art. 7º, inciso I, da Lei 8.137/90, conforme se depreende da doutrina de Guilherme
de Souza Nucci.
Sujeito ativo: trata-se de crime próprio, pois é exigida condição especial (aquele que pode
recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial).
Sujeito passivo: a pessoa discriminada.
A consumação do delito se dá com a prática dos verbos, sendo um crime formal.
É possível a tentativa, desde que a conduta seja plurissubsistente.

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3. CRIMES EM ESPÉCIE
3.4 CRIME ART. 6º
Art. 6° - Recusar, negar ou impedir a inscrição ou ingresso de aluno em estabelecimento de
ensino público ou privado de qualquer grau.
Pena: reclusão de três a cinco anos.
Parágrafo único. Se o crime for praticado contra menor de dezoito anos a pena é agravada
de 1/3 (um terço).
Destaca-se que a conduta criminosa consiste na recusa, negação ou impedimento de inscrição
ou ingresso em estabelecimentos de ensino público ou privado, de qualquer grau (pré-escolar,
ensino fundamental, médio, ensino superior, etc).
O parágrafo único apresenta uma causa de aumento de pena (majorante), qual seja a conduta
praticada contra menor de 18 anos.
Sujeito ativo: trata-se de crime próprio, pois é exigida qualidade especial do autor (respon-
sável pela inscrição ou ingresso de aluno).
Sujeito passivo: a pessoa discriminada.
A consumação do delito se dá com a prática de algum dos verbos, tratando-se de um crime
formal.
É possível a tentativa, desde que a conduta seja plurissubsistente.

3.5 CRIMES DO ART. 7º AO 14


Os crimes do art. 7º ao 14 serão abordados conjuntamente, pois possuem diversos pontos
e comum. Sendo assim, todas as características explanadas em seguida são atribuídas a todos os
artigos mencionados.
Sujeito ativo: todos são crimes próprios, pois exigem uma condição especial do autor.
ͫ Exceção: art. 14 – é crime comum, ou seja, pode ser praticado por qualquer pessoa.
Sujeito passivo: será a pessoa discriminada.
A consumação dos delitos se dará com a prática dos verbos, sendo crimes formais.
É possível a tentativa, desde que a conduta seja plurissubsistente (fracionadas em mais de
um ato).
As condutas delituosas são as expostas a seguir:
Art. 7° - Impedir o acesso ou recusar hospedagem em hotel, pensão, estalagem, ou qualquer
estabelecimento similar.
Pena: reclusão de três a cinco anos.
Enquadram-se como “estabelecimentos similares” os motéis, flats, etc.
Art. 8º - Impedir o acesso ou recusar atendimento em restaurantes, bares, confeitarias, ou
locais semelhantes abertos ao público.
Pena: reclusão de um a três anos.

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É necessário que os locais sejam abertos ao público para a configuração do delito.


Art. 9º - Impedir o acesso ou recusar atendimento em estabelecimentos esportivos, casas
de diversões, ou clubes sociais abertos ao público.
Pena: reclusão de um a três anos.
Da mesma forma que o art. 8º, é fundamental que o local seja aberto ao pública para a confi-
guração do crime. Portanto, clubes de associação – que não são abertos ao público, mas somente
para sócios ou convidados – não configuram, a princípio, o delito do art. 9°.
Ressalta-se que há entendimento jurisprudencial acerca de membro associado de clube ou
de indivíduo que pretende se associar e lhe é recusado ou impedido acesso/atendimento, por
motivos de discriminação de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional – nesse caso, fica
caracterizado o delito do art. 9º.
Art. 10 - Impedir o acesso ou recusar atendimento em salões de cabeleireiros, barbearias,
termas ou casas de massagem ou estabelecimento com as mesmas finalidades.
Pena: reclusão de um a três anos.
Art. 11 - Impedir o acesso às entradas sociais em edifícios públicos ou residenciais e eleva-
dores ou escada de acesso aos mesmos:
Pena: reclusão de um a três anos.
Na hipótese de a assembleia do condomínio estabelecer que os prestadores de serviços devem
utilizar o elevador de serviço ao invés do elevador social, sem qualquer contexto de discriminação,
não há crime pela Lei 7.716/89.
Art. 12 - Impedir o acesso ou uso de transportes públicos, como aviões, navios barcas, barcos,
ônibus, trens, metrô ou qualquer outro meio de transporte concedido.
Pena: reclusão de um a três anos.
Art. 13 - Impedir ou obstar o acesso de alguém ao serviço em qualquer ramo das Forças
Armadas.
Pena: reclusão de dois a quatro anos.
Art. 14 - Impedir ou obstar, por qualquer meio ou forma, o casamento ou convivência fami-
liar e social.
Pena: reclusão de dois a quatro anos.

3.6 CRIME DO ART. 20


Art. 20 - Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião
ou procedência nacional.
Pena: reclusão de um a três anos e multa.
§ 1º Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distin-
tivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do
nazismo.
Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.

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§ 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput é cometido por intermédio dos meios de
comunicação social ou publicação de qualquer natureza:
Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.
§ 3º No caso do parágrafo anterior, o juiz poderá determinar, ouvido o Ministério Público ou
a pedido deste, ainda antes do inquérito policial, sob pena de desobediência:
I - o recolhimento imediato ou a busca e apreensão dos exemplares do material respectivo;
II - a cessação das respectivas transmissões radiofônicas, televisivas, eletrônicas ou da
publicação por qualquer meio;
III - a interdição das respectivas mensagens ou páginas de informação na rede mundial de
computadores.
§ 4º Na hipótese do § 2º, constitui efeito da condenação, após o trânsito em julgado da
decisão, a destruição do material apreendido.
O caput e §1º trazem crimes autônomos, enquanto o §2º traz uma qualificadora ao delito
previsto no caput. Por sua vez, o §3º apresenta medidas cautelares e o §4º traz um efeito da con-
denação – ambos aplicáveis na situação da qualificadora prevista no §2°.
Quanto à conduta descrita no caput, existem duras críticas da doutrina no tocante à sua reda-
ção. Segundo Guilherme de Souza Nucci, é um tipo penal muito aberto/genérico e fere o princípio
da taxatividade. Apesar disso, o artigo ainda está em vigor e é aplicável.
Pode-se entender o art. 20, caput como um crime subsidiário. Haverá o delito do art. 20 quando
houver conduta discriminatória em razão de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional não
se enquadre em nenhum dos delitos anteriormente apresentados na lei.
Por sua vez, a qualificadora do §2º diz respeito à prática discriminatória feita através de meios
de comunicação social (TV, Rádio, redes sociais) ou publicação (jornais, revistas). O tratamento
penal é mais duro nessas circunstâncias, tendo em vista o maior grau de abrangência, divulgação
da discriminação veiculada por esses meios.
O §3º apresenta medidas cautelares que podem ser aplicadas na hipótese da qualificadora
anterior (§2º). Falando-se em medidas cautelares, fala-se em medidas que podem ser aplicadas
durante toda a persecução penal, até mesmo antes da instauração do inquérito policial.
O §4º constitui um efeito da condenação, no contexto da qualificadora do §2º. Sendo assim,
havendo condenação transitada em julgado, os materiais de divulgação apreendidos deverão ser
destruídos.
* A doutrina de Mariano Paganini Lauria defende que tal efeito da condenação é automático.
A conduta do §1º envolve a fabricação, comercialização, distribuição ou veiculação de sím-
bolos, emblemas, ornamentos distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada,
para fins de divulgação do nazismo.
Nesse ponto, a doutrina destaca que existe finalidade específica (dolo específico) nesse crime,
consistente na expressão “para fins de divulgação do nazismo”. Portanto, para que se configure o
delito, a conduta deve ser praticada com essa finalidade.
Sujeito ativo: trata-se de um crime comum (tanto o caput quanto o §1°), pois pode ser pra-
ticado por qualquer pessoa.
Sujeito passivo: em relação ao caput é a pessoa que foi discriminada. Por outro lado, em
relação ao §1º, a doutrina entende que o sujeito passivo é a coletividade.

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Há consumação do delito com a prática de qualquer um dos verbos. Em relação ao caput,


trata-se de um crime formal, enquanto o §1º é um crime de mera conduta.
É possível a tentativa em ambas as figuras (caput e §1º), desde que as condutas sejam
plurissubsistentes.

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