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1. INTRODUÇÃO
Mais enfática é, nossa Constituição Federal, ao estabelecer em seu artigo 5o, XLII,
que: “a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à
pena de reclusão nos termos da Lei”.
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Assim, com a promulgação da referida Lei, não havia mais como negar a existência
do racismo. Todavia, tal diploma legislativo sofreu inúmeras críticas, vez que
caracterizava as ações preconceituosas como meras contravenções penais,
puníveis com 1 ano de prisão simples e com multas entre 15 dias a 3 meses, bem
como suas condutas eram pouco abrangentes, o que gerava dificuldade na
aplicação da Lei[1].
Outra crítica que merece ser tecida com relação à referida Lei diz respeito à
penalização apenas das condutas preconceituosas geradas por preconceito de raça
ou cor, ignorando aqueles advindos de etnia, religião, procedência nacional, classe
social, sexo e estado civil. Estes dois últimos foram remediados pelo legislador
com a Lei nº 7.437/1985, trazendo nova redação à Lei Afonso Arinos, aumentando
a gama das possíveis vítimas ao prever também como infração penal o preconceito
por sexo ou estado civil.
A Lei Afonso Arinos foi derrogada pela Lei 7.716/1989, podendo ainda ser aplicada
apenas contra preconceitos por sexo ou estado civil.
Aparece a Lei Caó no cenário jurídico por força da Constituição de 1988, que
conferiu suporte constitucional ao legislador ordinário. Promulgada em 5 de
janeiro de 1989, a Lei Caó inovou ao caracterizar a prática de racismo como crime,
em um cenário aonde este era considerado apenas uma contravenção penal,
ensejando às pessoas que cometessem atos discriminatórios os benefícios da
primariedade, do simples pagamento de multas etc., sem que, de fato, fossem
condenadas e cumprissem pena em estabelecimentos carcerários. Ou seja, a
prática do racismo vinha sendo estimulada de forma crescente, sem que o Estado,
detentor de uma máquina policial-judiciária lenta e ineficiente viesse a punir os
culpados.
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Nesta linha, a antiga Lei Afonso Arinos representou à sua época seu papel, que
guarda extrema importância na História, porém, imperiosa era a promulgação de
uma nova Lei, que representasse fielmente a realidade.
Não obstante a frequente negação – talvez por conta de uma vergonha moral – de
que o Brasil represente um país de discriminadores, resta claro que estes existem e
agem sorrateiramente, nos balcões de lojas, hotéis, locais públicos, ou ainda em
simples gracejos cotidianos. Por esse prisma, salta aos olhos a importância
jurídica da Lei 7.716/89.
Tal fato fez com que referida Lei fosse alvo de críticas, por parte dos movimentos
de grupos discriminados, bem como pela doutrina especializada[2], isso porque a
Lei 7.716/89, tão importante por elevar a prática de racismo de contravenção
penal a crime, continuou a penalizar apenas as condutas preconceituosas por raça
ou cor (exatamente como a legislação que a precedia), relegando ao esquecimento
àquelas resultantes de preconceito por etnia, religião, procedência nacional,
preferência sexual ou classe social.
Esta última Lei modificadora deu nova redação ao artigo 1o da Lei Caó, passando
este a ter como conduta criminosa não apenas os atos praticados por
discriminação ou preconceito por raça ou cor, mas também aqueles advindos de
discriminação ou preconceito por etnia, religião ou procedência nacional.
Lamentável porém foi o legislador ordinário não ter tratado, nesta última
alteração legislativa, dos atos discriminatórios por sexo, estado civil ou orientação
sexual. Vale lembrar que estes dois primeiros permanecem como simples
contravenções penais por conta da Lei nº 7.437/1985. Já com relação ao
preconceito por orientação sexual, não há lei que trate do assunto, o que gera
impunidade, uma vez que os homossexuais são frequentemente vítimas de
discriminação e preconceito.
Outra importante alteração trazida pela Lei nº 9.459/97 foi a introdução do artigo
20 na Lei Anti-discriminação, qual seja:
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Esta última alteração ainda modificou o art. 140 do Código Penal, acrescentando-
lhe seu parágrafo 3o, prevendo a injúria qualificada pelos elementos de raça, cor,
etnia, religião e origem, dando-lhe a mesma pena do crime do artigo 20, caput, da
lei especial.
O §3o do artigo 140 do Código Penal, recebeu nova alteração pela Lei nº
10.741/2003, acrescentando-lhe ainda, além da injúria qualificada dita acima,
também aquela por força de pessoa idosa ou portadora de deficiência. Bem como,
a partir da Lei 12.033/09, passou a ser perseguido mediante ação penal pública
mediante representação do ofendido (art. 145, parágrafo único, do Código Penal).
Christiano Jorge Santos comenta ainda que não obstante as três alterações
providenciadas na Lei 7.716/89, não cuidou o legislador de alterar-lhe o texto do
epígrafe, constando ainda que os crimes são os resultantes apenas de raça e cor.
O artigo 140, § 3o do Código Penal trazido pela Lei nº 9.459/97, diz respeito à
injúria preconceituosa, sendo esta, modalidade de injúria qualificada. Esta Lei
acrescentou um tipo qualificado ao delito de injúria, impondo pena de reclusão, de
1 a 3 anos e multa. Tal dispositivo, que na prática, muito se assemelha ao crime de
racismo disposto em Lei especial, visa à proteção da honra subjetiva da vítima, é
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dizer, sua dignidade ou decoro. “Na sua essência, é a injúria uma manifestação de
desrespeito e desprezo, um juízo de valor depreciativo capaz de ofender a honra da
vítima no seu aspecto subjetivo.”[3]
Deste modo, o valor que o agente atinge é imaterial, interior, superior à própria
dor ou sofrimento físico que o agente possa sentir, é o seu valor espiritual, a
própria alma, é aquilo que interiormente o motiva a continuar a aventura humana
na Terra: a sua honra pessoal. O corpo, a saúde, a integridade ou incolumidade
são atingidos reflexamente.[4]
Referida alteração legislativa surgiu pelo fato de que os réus acusados da prática
de crime de racismo descrito na Lei Especial frequentemente alegavam ter
praticado somente delito de injúria, ou seja, de menor gravidade, sendo assim,
beneficiados pela desclassificação.
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Outra crítica que merece ser lançada diz respeito à pena cominada à discriminação
contra pessoa idosa por qualquer motivo. Mais uma vez andou mal o legislador,
pois no caso de discriminação por motivo de raça, cor, etnia, religião, ou
procedência nacional contra pessoa idosa, estar-se-ia caracterizado o crime
incurso no art. 96, §1o do Estatuto do Idoso, sendo esta pena menor do que se
fosse incurso nos crimes de preconceito previstos na Lei Caó. Ou seja, o Estatuto
do Idoso, que objetiva trazer normas protetivas a pessoas nessa condição, acabou
por abrandar a situação do agente que pratica discriminação por raça, cor etc.
contra pessoa idosa.
3. CONCLUSÃO
Nos nossos dias, onde atos, fatos e práticas racistas se desencadeiam sutilmente,
acobertadas por gracejos e negadas pelo senso comum, desvelar o racismo
subjacente às práticas havidas exige prudente trabalho, contrariando o cinismo,
hipocrisia, ignorância ou má-fé daqueles que juram que no Brasil predomina a
“democracia racial” e que tais condutas são normais, corriqueiras, inocentes etc.
Na nossa atual evolução, temos que toda e qualquer conduta criminosa motivada
por discriminação ou preconceito racial, étnico, religioso entre outros, ofende a
própria essência do ser humano, impede o progresso do ser humano, da
civilização.
4. BIBLIOGRAFIA
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NOTAS
Autor
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SILVA, Jaime Luiz Rodrigues da. Crime de racismo e normas jurídicas atinentes.
Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 21, n. 4830, 21 set.
2016. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/35518. Acesso em: 6 dez. 2022.
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