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Entender e enfrentar os efeitos psíquicos,

sociais, culturais e económicos do racismo é


fundamentalna engrenagem de construção de
um país mais justo. As instituições modernas,
e em especial a grande mídia enquanto
espaço público de construção de narrativas e
conceitos, têm sido instrumentos de reafirmação
dos estigmas raciais, bem como de negação
de direitos e promoção da violência a partir
destes. E contam com o endosso de práticas
socioculturais profundamente racistas. E no
cotidiano da vida comum, no universo coloquial
e empíricodas relações,onde se calcificaa
cultura racista que nos atormenta. 0 professor
Adilson José Moreira identifica neste ambiente a

prática habitualde humilhação social disfarçada


de graça. humore jocosidadee a relacionacom
FEMINISMOS
a passividadee permissividadedas instituições
jurídicas. 0 raclsnoo recrealzvo, conceito-tese
PIUBAIS
desta obra, servirá como importanteinstrumento COORDENAÇÃO
DJAMIM RIBEIRO
para qualificar a luta histórica pelo direito à
dignidade e à vida populaçãonegra brasileira.

DOUGUS BELCHIOR
Professor e militantedo Movimento Negro Uneafro-Brasil
FEMINISMOS
PIORAIS
COORDENAÇÃO
DJAMlm RIBEIRO

ADILSON
MOREIRA

SÃO PAULO l 2019


Copyright © 2019 Adilson Moreira
Todos os direitos reservados a Pólen Livros, e protegidos pela
Lei 9.610, de 19.2.1998. E proibida a reprodução total ou parcial
sem a expressa anuência da editora.

Este livro foi revisado segundo o Novo Acordo Ortográâlco


da Língua Portuguesa.

Direção editorial
Lizandra Magon de Almeida

Reüsão
Lindsay Viola
Luana Balthazar

Prometo.gráfico e diagramação
Daniel Mantovani

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação(CIP)


Angélica llacqua CRB-8/7057 Dedico este livro a todos os membros de minorias
raciais, pessoas cuja reputação pessoal é constantemente
Moreira, Adilson vilipendiada em função da circulação de estereótipos
Racismo recreativo/ Adilson Moreira. - São Paulo : Sueli Carneiro ; negativos que têm como objetivo perpetuar uma ordem
Pólen, 2019. social injusta. Ofereço um abraço especial às mulheres
232p.(Feminismos Plurais/ coordenaçãode Djamiia Ribeiro) negras deste país, vítimas constantes do humor racista.
ISBN: 978-85-98349-70-1
1. Racismo 2. Disciüninação racial 1. Título 11. Ribeiro, Djamila 111.Série
19-0310 CDD 305.8

? '%.
www.polenlivros.com.br
www.facebook.com/poleiüivros
@;polenlivros
(11) 3675-6077
AGRADECIMENTOS

Meus mais sincerosagradecimentosà Djamila Ribeiro


pelo convite para ser um dos autores da coleção Feminismos
Plurais, projeto de imensa importância para a discussão de
temas muito relevantes para um país que ainda precisa cons-
truir uma cultura pública democrática.
Muitas pessoascontribuíram direta e indiretamentepara
a elaboraçãodestelivro. Sou grato a Arthur Roberto Capella
Giantamassio, Eduardo Altamore Ardente, Ligia Ferreira,
Lúcia melena Betüni, Pedro Avelino Buck, Mau Marçal
Salles e Thomaz Sassi pelos comentários e sugestões que
melhoraram a qualidade desta obra. Também expresso minha
gratidãoa Douglas Belchior, Trago Vinícius de André dos
Santos, Gislene Aparecida dos Santos, Joice Berth e Eunice
Prudente pelas conversas iluminadoras sobre questões raciais.
Este trabalho não teria sido finalizado sem a ajuda de Fábio
Sampaio Mascarenhas, acadêmico que seguramenteterá um
papel importante na evolução dos estudosjurídicos destepaís.
Nenhuma obra consegue vir à tona sem o apoio de amigos
e amigas. Meus agradecimentos a Ana Fátima de Bruto,
Brenno Tardelli, Felipe Chiarello, Danilo Tavares, Mário
André Cabral Machado, José Francisco Siqueira Netto, Cardos
Eduardo Nicoletti Camião e Renato de Moraes Santiagopelo
apoio pessoal e profissional constante.
Um forte abraço para Rafael Polidoro Barbosa e lvar
Martins Harünann por facilitarem acesso a material indispen-
sável para a elaboração destetrabalho.

Um beijo imenso para todos os meus familiares


SUMÁRIO
37
1 - Projeto raciais e processos de racialização
1. 1 Racismo aversivo, racismo simb(51icoe racismo institucional.. 45
1.2 0 conceito de microagressões 51

1.3 A branquitude como significante cultural 54

1.4 A psicologia social dos estereótipos e dos estigmas 58

2 - A psicologia social do humor. 67

2.1 As teoriasdo humor 70

2. 1 . 1 As teorias da superioridade 70

2. 1.2 A teoria psicanalítica do humor 74


2. 1 .3 A teoria da incongruidade. 75

2.2 0 humor racista e seus mecanismos psicológicos . 78

2.3 0 humor racista e a manutenção do püvilégio racial. 84


3 - Racismo recreativocomo política cultural........... 93

3. 1 Racismo recreativo nos meios de comunicação. 98


3.1.1 Tido Macalé, o feio.. 103

3.1.2Mussum,o bêbado 105


3.1.3 Verá Verão, a bicha preta.......... 108
3.1.4Adelaide,a desvairada 111

4 - Injúria racial na doutrinae na jurisprudência 117

4. 1 Definiçãojurídica do crimede injúria 119

4.2 A injúriaracial . ... 122

4.3 0 conceitojurídico de honra: sua dimensão objetivae subjetiva. 125

4.4 A jurisprudência brasileira sobre injúria racial 132

4.5 Um Tópico Especial: O Amigo Negro. 138

5 - Racismo recreativo: definição e modos de operação 147

6 - Racismo recreativo e liberdade de expressão. 159

6.1 Teoriasde Liberdadede Expressão... 160

6.2 As Consequências Psicológicas e Sociais do Humor Racista 172

6.3 A Liberdade de Expressão a Partir do Ponto de Vista do Oprimido 174


7 - Conclusão ... 179

8 - Notas, Referências e anexos .. 183


APRESENTAÇÃO
DjamilaRibeiro

FEMINISMO
FlORAl O objetivo da coleção Feminismos Plurais é trazer
para o grande público questões importantes referentes
aos mais diversos feminismos de Forma didática e
acessível. Por essa razão, propus a organização --
uma vez que sou mestre em FilosoHla e feminista de
uma série de livros imprescindíveis para pensarmos
em produções intelectuaisde grupos historicamente
marginalizados: essesgrupos como sujeitospolíticos.
Nosso foco principal é o feminismo negro, tema
escolhido a fim de explicitar os principais conceitos
e definitivamenteromper com a ideia de que não se
está discutindo projetos. Ainda é muito comum se
dizer que o feminismo negro traz cisões ou separa-
ções, quando é justamente o contrário. Ao nomear
as opressõesde raça, classee gênero,entende-sea n
necessidade de não hierarquizar opressões, de não
criar, como diz Angela Davas, em Mulheres negras na
5-
construção de uma nova utopia, "primazia de uma =;.=
opressão em relação a outras". Pensar em feminismo

13
negro é justamente romper com a cisão criada numa Com vendas a um preço acessível, nosso objetivo
sociedade desigual. Logo, é pensar prqetos, novos é contribuir para a disseminação dessas produções.
marcos civilizatórios,para que pensemosum novo Para além desse tímlo, abordamos também temas
modelo de sociedade. Fora isso, é também divulgar como encarceramento, racismo estrutural, branqui-
a produção intelectual de mulheres negras, e também tude, lesbiandades, mulheres, indígenas e caribenhas,
de homens,colocando-asna condiçãode sujeitose transexualidade, afetividade, interseccionalidade,
seres ativos que, historicamente, vêm fazendo resis- empoderamento, masculinidades. E importante
tência e reexistências. ponmar que essa coleção é organizada e escrita por
Dentro do escopo da coleção, as temáticas são mulheres negras e indígenas, e homens negros de
bastanteabrangentes e muito urgentes.E o caso regiões diversas do país, mostrando a importância de
deste volume, que pela primeira vez aprofunda a pautarmos como sujeitosas questõesque são essen-
discussão da relação entre humor e racismo. Por um ciais para o rompimentoda narrativadominantee
ponto de vista jurídico, o advogado, mestre e doutor não sermos tão somentecapítulosem compêndios
em Direito Adilson Moleira esmiúça os conceitos de que ainda pensam a questão racial como recorte.
racismo e injúria racial, explicitandoo viés racista Grada Kilomba em /)Za /aí/o/zsMemones. Ep/sortes
que a Justiça brasileira deixa claro quando decide ofEverydayRacism, ÕXz.
que produções culturais que reproduzem estereótipos
Esse livro pode ser concebido como um modo
raciais não são discriminatórias porque promovem de "tornar-se um sujeito" porque nessesescri-
a descontração
das pessoas fato recorrenteem tos eu procuro trazer à tona a realidadedo
sentenças sobre a representação de minorias raciais racismo diário contado por mulheres negras
em programas humorísticos. baseadoem suassubjetividades
e próprias
Entendendo a linguagem como mecanismo de percepções.(KJI,OMBA, 2012,p. 12)
manutençãode poder, um dos objetivosda coleção é
o compromisso com uma linguagem didática, atenta Sem termos a audácia de nos compararmos com
a um léxico que dê conta de pensar nossas produções o empreendimentode Kilomba, é o que também
a e articulações políticas, de modo que seja acessível, pretendemos com essa coleção. Aqui estamos falando
como nos ensinam muitas feministas negras. Isso de ''em nosso nome''.'

= forma alguma é ser palatável,pois as produções de =


feministas negras unem uma preocupação que vincula Djamila Ribeiro
a sofisticação intelectual com a prática política.

14 15
INTRODUÇÃO
retratar homens negros, e outros assediavam homens
brancos para representar a suposta sexualidade exacer-
bada da mulher negra. Fotos e vídeos foram divul-
gados nas redes sociais e os foliões soReram críticas
severas. Os que protestaram aíL'maram que a negri-
Mde não é uma íàntasia de carnaval; também disseram
que os trqeitos reproduzidos são estereótiposraciais
derrogatórios, razão pela qual comportamentos como
esses nunca deveriam ocorrer. Várias pessoas brancas
reagiram a esses comentários imediatamente. Elas
afirmaram que eles, os foliões, estavam simples-
mente representando personagens Hlctícios,motivo
E carnaval no Brasil, um momento de alegria e pelo qual não havia qualquertipo de ofensa racial
recreação esperadopor todos. Essa grande festa é envolvida. Esses indivíduos alegaram que os foliões
acompanhadapor muito samba, suor e cerveja. As brancos estavam apenas se divertindo; eles não tinham
pessoas vão para as ruas fantasiadas para celebrar a nenhuma intenção de ofender negros. Alguns falaram
data. Obviamente, elas não se divertem sozinhas. Elas
que essa prática poderia até mesmo ser vista como
sejuntam a blocos que adoram temas específicos para uma forma de homenagem a pessoas negras.z
as fantasias de seus membros. E muito comum ouvirmos o argumento segundo
Em uma ocasião recente, muitos foliões e Folias o qual produções culturais que reproduzem este-
se fantasiaram de negros em uma conhecida cidade reótipos raciais não são discriminatórias porque
turística. Pintaram a cara de preto, vestiram perucas promovem a descontração das pessoas. Isso sempre
com cabelo crespo e acentuaram seus narizes, bocas ocorre durante discussões sobre a representaçãode
e nádegas para se aproximarem da figura estereo- minorias raciais em programas humorísticos. Por
tipada de uma pessoanegra. Alguns desseshomens exemplo, Tião Macalé era um personagem muito
brancos e algumas dessas mulheres brancas reprodu- popular em um passado recente. Vários indiví- a
sHO 'g ziam trejeitos que para eles correspondem à forma duos diziam que o programa do qual ele fazia parte
como pessoas negras se comportam. Alguns faziam propagavao racismo, mas essa afirmaçãosempre
gestos tresloucados ou imitavam pessoas bêbadas para =
C.9
«
:==
'D
era imediatamente rejeitada. As cenas nas quais ele

18 19
aparecia envolviam situações bem similares. Ele estava fala como uma ofensa e o processou por mlúria racial.
sempre em contextos nos quais o elemento cómico O magistrado que julgou o caso afirmou que as pala-
estava associado a sua aparência física: sua pretensão vras do humorista não caracterizam esse crime pela
de se envolver sexualmente ou amorosamente com ausência da intenção de ofender. Para ele, todos os
mulheres brancas era vista como absurda por causa de seguidores do humorista estão cientes de que ele
sua feiura, associada ao fato de ele ser negro. O atou utiliza médias sociais para fazer piadas, motivo pelo
que o interpretava reproduzia expressõesfaciais que qual o que ele fala nessa esfera não pode ser consi-
o faziam parecer um símio. Essa referênciasimbólica derado injúria racial. Aquele é um espaço no qual as
era utilizada para enfatizar o que para muitos era uma pessoas procuram oportunidades de entretenimento e
aparência repulsiva, motivo pelo qual os telespecta- descontração, não havendo intenção racista.3
dores só poderiam rir de sua intenção de ser um par Léo Lins, humoristabranco amigo de Gentili,
romântico de mulheresbrancas. também se vale de mídias sociais para entreter seu
Piadas que retratam a negútude como um público, sendo que piadas desumanizadorassobre
conjunto de características esteticamentedesagradá- minorias raciais o tornaram muito popular. No Him
veis e como sinal de inferioridade moral não são os de 2017, ele fez referência a um incidente racial
únicos temas do humor brasileiro referente aos negros. que causou a demissão de William Waack, famoso
Há também aquelas que os retratam como animais ou apresentar de televisão. Esse apresentador utilizou a
criminosos. Esses são elementos recorrentes no reper- expressão "coisa de preto" para demonstrar sua irri-
tório de humoristas brancos. Quanto maior o número tação com um homem negro, o que o tornou alvo
de piadas de cunho racista, maior a popularidade de muitas críticas. Lins utilizou o termo "grande
deles entre pessoas brancas. Por exemplo, Danilo pica" para se referir ao problema que o apresentador
Gentili é um indivíduo que ganhou grande popula- causou para si mesmo. Fazendo referênciaa um
ridade nos últimos anos, principalmente por meio de tema recorrente em piadas racistas -- a hipersexuali-
mídias sociais. Alguns anos atrás, um de seus segui- zação da identidade negra --, ele disse que o comen-
dores, um homem negro, começou a cúticar comem tário do apresentadorfaria sentidose ele quisesse
CU táíios que ele considerou racistas. O con#onto entre revelar o tamanho do problema que ele criou para si

=
=
os dois se intensiHlcoue o humorista perguntou a esse
seguidor quantas bananas ele queria para que esque-
mesmo. A materialização do tamanho do problema
poderia, sim, ser identi6lcada como "coisa de preto".
5-
0
cessetoda a controvérsia.A vítima interpretouessa Aplausos efusivos seguiram a fala do humorista, que

20 21
ainda disse ser errada a expressão usada pelo apre- Pelo contrário, o comentário não seria uma expressão
sentador por outro motivo. Não deveríamos dizer, racista, mas uma tentativa amistosa de interação
socialcom a vítima por meio do humor. Além disso,
por exemplo,que buzinar é coisa de preto porque
negros não querem chamar atenção para seus carros alegou o órgão julgador, a vítima não deveria se sentir
ofendida com comentários dessanatureza porque sua
roubados. As pessoas presentes riram histericamente
vida social seria particularmente .difícil.s
ao ouvirem tais pensamentos. Posteriormente,
O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro chegou
formadores de opinião classificaram a acusação de
à mesma conclusão em um caso semelhante: referên-
racismo como uma manifestaçãodo politicamente
corneto. como uma tentativa descabida de censura, cias à raça das pessoas Cm tom cómico não podem
ser classi6lcadas
como aros racistas.IJm homem
como um cerceamento de opinião, algo que não
branco se dirigiu a um grupo de adolescentes negros
deveria ocorrer na nossa sociedade.'
É interessante observar como representações e perguntoua eles se iriam botar fogo em algum
culturais sobre negros motivam aros que muitos õnibus, fala seguida de uma grande gargalhada. O
consideram racistas, embora pessoas brancas pensem homem também foi processado, mas o juiz argu-
que são apenas meios aceitáveis de aproximação
mentouque os fatos do caso não poderiamser
caracterizados como crime de injúria racial porque
social, entendimento referendado por nosso sistema
o comentário teria sido feito em tom jocoso, o que
jurídico. Mana era funcionária de um restaurante
na cidade de São Paulo. Seu gerente ordenou que supostamente afastaria a intenção de ofender a honra
dos jovens negros. Não esteve presente nesse caso o
ela comprasseíl'utaspara o estabelecimento.
Uma
mulher branca fortuitamente aproximou-se quando an/mz/s/muar/a/zdz,
a intenção de ofender o decoro e a
honra dos jovens negros, mas sim o a/zímz/sjoca/zdí,
o
ela estava pagando a mercadoria e disse que ela
deveria ter muitos macaquinhos em casa, porque que denota o propósito de utilizar uma situação para
produzir humor.'
estava comprando uma grande quantidade de
bananas. Mana entendeu que foi vítima de injúria Ofensas raciais contra negros na forma de piadas
racial, chamou a polícia e processouessa senhora. e brincadeirasocorrem em todos os lugares,princi-
palmente no ambiente de trabalho, e Requentemente
Meses depois, o Tribunal de Justiça de São Paulo
a)
0 afirmou que o incidente não poderia ser caracteri- com a conivência ou a participação dos emprega-
dores. Mariane trabalhava em uma concessionária

= zado como crime de injúria racial, porque não houve =
= 0 de veículos. Seu chefe sempre fazia comentários de
intenção de ofender o decoro ou a honra da vítima.

22 23
cunho racista, o que tornou o ambiente de trabalho anos atrás, Edílson Capelinha atribuiu o empate de
muito estressante. Certo dia, ele comparou seu cabelo um jogo entre dois times da primeira divisão ao fato
a uma vassoura, o que motivou piadas entre funcio- que Boieiros negros são incompetentes, para ele; o
nários brancos por vários dias. Em sede recursal, a Palmeiras teria vencido a partida se seu goleiro fosse
empresa a6umou que os comentários eram apenas branco. Ele ainda mencionou uma conversa que teve
brincadeiras que não expressavam intenção de cons- em outro jogo com uma pessoa que teria perguntado
tranger a funcionária.' JefFersonera funcionário de a ele se ninguém marcaria um gol. Edílson disse a ela
uma rede de supermercados.Seus chefessempre que isso provavelmente ocorreria porque o goleiro de
utilizavam expressões derrogatórias para se referirem um dos times era negro, sinal de que ele cometeria
a ele como sac/, fffão e p/co/édep/c#e.Ele também algum erro. O goleiro falhou nos acréscimos, fato
processou a empresa, instituição que classificou classificado por Capelinha como evidência de que
os fatos como inverídicos, porque sempre trata os negros não deveriam jogar nessa posição. Enquanto
funcionários de maneira decente, aHnmação que o um dos comentaristas brancos ria histericamente
relator do caso considerou falsa.aFábio trabalhava depois que ouviu Edílson utilizar a expressão
em uma loja de peças. Ele processou a empresa 'goleiro negro", o outro retrucou seus comentários
por danos morais porque alguns de seus superiores, mencionando Dida, um dos mais famosos goleiros
durante uma festa natalina, vestiram-se como da história do futebol brasileiro. Edílson imediata-
membros da seita racista Ku Klux Klan para cons- mente lembrou que ele era pardo e não negro, suge-
tranger os empregados, episódio que foi seguido da rindo, assim, que a miscigenação do atleta teoria
demissão de várias pessoas negras. A empresa negou impedido que ele fosse um atleta de menor valor.
o ocorrido e aHumou que possíveis brincadeiras entre Quase todos os órgãos que noticiaram o incidente
chefes e funcionários apenas reíletiam o ambiente não classi6lcarama fala desse indivíduo como um
descontraído que existia na instituição.9 comentário racista. Como é prática comum em
O uso do humor para produzir descontração está casos como esses, eles utilizaram expressões como
amplamente presente na atividade recreativa favo- 'opinião polêmica" ou "comentário infeliz"."
rita dos brasileiros, embora as pessoas se recusem a Adriana é uma mulherbranca que estavaem um n
HO interpretar esses aros como ofensas raciais. Insultos estádio torcendo para seu time de futebol, equipe que 5«
racistas estão amplamente presentes nos campos de não estava tendo uma boa performance.A torcida
=c =
C/3 0 futebol e também em programas esportivos, sem que fazia o possível para diminuir a motivação dos joga-
-« 'o
isso cause qualquer tipo de consternação. Alguns dores do time adversário, inclusive por meio de frases

24 25
que faziam referências ofensivas à raça dos joga- seu comportamento não pode ser considerado um
dores, as mesmas presentes nas representações cultu- incidente isolado, mas sim uma prática recorrente dos
rais e nos programas humorísticos aqui citados. Ela torcedoresdo time, motivo para punição.''
começou a utilizar expressões racistas para ofender o A circulação de estereótipos negativos desti-
goleiro do outro time, ato que foi ílagrado por várias nados a promover entretenimento para pessoas
câmeras.Ela, Adriana,foi processadapor injúria brancas motivam supostas brincadeiras que podem
racial. Seus advogadosafirmaram que elanão deveria ter consequênciasfatais. Max Rogério, Antõnio
ser responsabilizadapor tal ato porque a garota fez a Novély, Tomas Almeida e Eron Oliveira eram quatro
adolescentesbrancos que estavamvoltando para casa
l mesma coisa que outros torcedores estavam fazendo.
Segundo eles, ela teria sido contagiada pelo compor- de manhã quando avistaram um homem indígena
dormindo em uma parada de õnibus. Eles pensaram
tamento de outras pessoas e feito comentários que
não representamsua percepçãoreal dos membros que aquela situação seria uma grande oportunidade
da raça negra; o que ela disse só teria significação para diversão. Atearam fogo na vítima ainda incons-
naquela circunstância. Para seus defensores, o campo ciente, o que causou sua morte. Durante o depoi-
de futebol é um espaço distinto de outros porque é mento, os adolescentes aHlrmaram que resolveram
um lugar de recreação, motivo pelo qual seus aros fazer isso para poderem rir com o susto que aquela
não poderiam serjulgados com o mesmo rigor que se pessoa teria. Um deles disse que seria muito engra-
tivessem ocorrido em outro espaço. çado ver aquele homem indígena acordar e perceber
Vale a pena observarque os advogadosde que o lugar ao seu redor estavaem chamas.Os
Adriana mobilizaram argumentos largamente utili- adolescentes disseram que não poderiam ter previsto
zados pela sociedadebrasileira para negar a exis- nem a possibilidadede danos Hisicosgraves, nem a
tência do racismo. Por exemplo, eles disseram que sua morte por causa do fogo. A juíza de primeira
instância indeferiu o pedido do Ministério Público
ela mantinha interações sociais sequentes com
pessoas negras, evidência incontestável de que não para que os jovens fossemcondenadospor homi-
é uma pessoa racista. A cordialidade racial seria um cídio doloso, o que expressa a intenção de causar a
elementocentral de seu caráter, motivo pelo qual morte da vítima. O crime foi desclassificadopara 0
8
HO 'g ela não poderiaser responsabilizada
por um ato lesão corporal seguida de morte, um ilícito penal bem
que ocorreu em um espaço de descontração. Porém, menos grave, que os livrou do tribunal do júú. Ela ;aB
-=
c/) o
- cõ segundo o Superior Tribunal de Justiça Desportiva, argumentou que os autores do crime não queimama

26 27
morte da vítima, nem assumiram o risco de chegar particularmentecurioso: não podemos afirmar que a
a esse objetivo porque certamente não tinham essa expressãoem questão tem um caráter discriminatório,
motivação psicológica, pois pretendiam apenas se porque essa hipótese contradiz a cordialidade que
divertir com o susto causado a elâ.i2 marca as relações raciais em nossa sociedade. Os que
Os casos aqui narrados nos permitem identificar classificam os episódios analisados como racistas esta-
elementos comuns a inúmeras representações cultu- riam inalando conflitos em um país no qual pessoas de
rais construídas por pessoas brancas, ao compor- diferentesraças convivem de forma harmónica. Para
tamento público de pessoas brancas e também a os que defendem a insignificância social do humor
decisões judiciais elaboradas por pessoas brancas. racista, o fato de as pessoas rirem dessas mensagens
Eles estão presentes em atos que muitos pensam ser não significa que elas desprezam minorias raciais ou
racistas, mas essa interpretação é rejeitada por algum que agirão de maneira discriminatória em relação
ator que faz parte da situação em questão, seja pelos aos membros desses grupos em outros contextos.
autores desses atos, seja por aqueles responsáveis por Os processosmentais que fazem as pessoasrirem só
julgar a legalidade ou pelos que analisam a mora- teriam significação naquele momento específico, não
lidade deles. Os argumentos mencionados anterior- exercendo influência negativa em outras situações.
mente estão baseados na noção de que as mensagens Os fatosdos casosnarradose a formacomo
em questão expressamuma intenção cómica e que agentessociais avaliam a relevância do humor racista
o humor não pode ser interpretado como racismo, levantam algumas questões que precisam ser anali-
porque tem um caráter recreativo. Eles alegam que sadasde forma detalhada.Os estereótipos
raciais
o incidente não deve ser classiHícadocomo racista negativos presentes em piadas e brincadeiras racistas
porque o agenteteve apenas a intenção de dizer algo são os mesmos que motivam práticas discriminató-
engraçado ou produzir um efeito cómico, o que não rias contra minorias raciais em outros contextos.E
revela hostilidade em relação a membros de mino- mesmo possível aHumarque piadas e brincadeiras
rias raciais. que reproduzem estigmas raciais não afetam a vida
Alguns desses indivíduos ainda se defendem dos membros dessesgrupos, sendo então socialmente
CU
dizendo que seus atou não são racistas porque irrelevantes? Muitas teorias psicológicas demonstram
0 convivem com pessoas negras, o que elimina a hipó- que o humor não é uma mera reação reflexa, mas
=

tese de que a expressão usada possa ter intenção ofen- sim produto do contextocultural no qual as pessoas
0
=

=
siva. Também notamos a presença de um argumento vivem. Isso significa que ele adquire sentido a partir

28 29
dos valores presentes no espaço público. Ele manifesta
a hostilidade por pessoas que possuem status social projeto de dominação que chamaremos de racismo
recreativo. Esse conceito designa um tipo específico
inferior. Podemos realmente argumentar que o humor
de opressão racial: a circulação de imagens derroga-
baseado em estereótipos raciais tem uma natureza
tórias que expressam desprezo por minorias raciais
benigna porque procura apenas produzir um efeito na forma de humor, favor que compromete o status
cómico e não promover animosidade contra minorias
cultural e o status material dos membros desses
raciais? Uma análise do conteúdo de piadas racistas
grupos. Esse tipo de marginalização tem o mesmo
demonstra que ele perpetua os mesmos elementos
objetivode outras formas de racismo: legitimar
que estavam presentes em políticas públicas de caráter hierarquias raciais presentes na sociedade brasileira
eugênico destinadas a promover a eliminação da de forma que oportunidades sociais permaneçam nas
herança afhcana por meio da transformação racial mãos de pessoasbrancas. Ele contém mecanismos
da população brasileira. Podemos mesmo dizer que
que também estão presentes em outros tipos de
o humor racista tem apenas a função de produzir um
racismo, embora tenha uma característica especial:
efeitocómico ou devemospartir do pressupostode o uso do humor para expressarhostilidaderacial,
que ele serve como veículo para uma política cultural estratégiaque permite a perpetuação do racismo,
destinada a legitimar estruturas hierárquicas?
mas que protege a imagem social de pessoas brancas.
Vivemos em uma nação queprofessauma cultura O racismo recreativo exemplifica uma manifestação
democrática, o que implica seu compromisso com anualda marginalização social em democracias libe-
o reconhecimento da igualdade moral entre todos
rais: o racismo sem xaczkras.Esse conceito designa uma
os indivíduos. A partir de que parâmetros podemos narrativa na qual os que reproduzem o racismo se
conciliar o interesse na proteção da reputação de recusam a reconhecer que suas ações ou omissões
grupos sociais com o direito à liberdade de expressão? podem contribuir para a permanência de dispari-
O que deve ter prioridade, o direito individual ou os de dades raciais na nossa sociedade.i3
interesse coletivo, na proteção da reputação pessoal? Este livro tem alguns objetivosimportantes.Ele
Ao contrário do que as pessoas envolvidas nos mostra que o racismo não pode ser identificado exclu-
casos aqui descritos argumentam, nós defenderemos sivamente com concepções tradicionais de discri-

=
=
0 a hipótese de que o humor racista não possui uma
natureza benigna, porque ele é um meio de propa-
minação fundamentadas na pressuposição de que a
exclusão decorre apenas de atou intencionais e arbitrá-
5-
gação de hostilidaderacial. Ele faz parte de um rios. O fenómeno social sob análise demonstra que ele
-=

30
31
possui uma natureza dinâmica e múltipla. O racismo problematizar algo presente na doutrina, na legislação
pode assumir diversasformas em diferenteslugares e e na jurisprudência brasileira: a noção de que racismo
em diferentes momentos históricos. Suas váüas mani-
e iiÜúriapossuem naturezas distintas. Todas as ofensas
festações têm o mesmo objetivo: preservar e legitimar raciais possuem uma dimensão coletiva, porque
um sistema de privilégios raciais, o que depende da incidem sobre uma forma de identidade. As pessoas
cüculação contínua de estereótipos que representam são ofendidas porque fazem parte de um determinado
minorias raciais como pessoas incapazes de aduarde grupo, razão pela qual a classificação da mlúria como
forma competente na esfera pública. E também nossa crime dirigido a um indivíduo particular e o racismo
intenção demonstrar que o conceito de racismo recrea- como um delito que ofende uma comunidadede
tivo implica a necessidade de estabelecermos novos pessoascarece de sentido. O sentimento de honra tem
parâmetros para considerarmos a honra como um bem uma dimensão coletiva, porque estigmas raciais afetam
a serjuridicamente protegido. Se as teorias tradicionais a reputação social de todas as pessoas negras.
a compreendem a partir de uma perspectiva predomi- Além disso, estelivro objetiva criticar uma posição
nantemente individualista,(is fenómenos analisados doutrinária e jurisprudencial que exige a demons-
a partir da noção de racismo recreativo demonstram tração da intençãode discriminar para caracterizar os
que ela deve ser examinada também a partir de um crimes de injúria e racismo. Essa exigênciapermite
aspecto simbólico e político. Devemos ter em mente que muitas pessoas responsáveis por práticas discrimi-
que a honra decorre do apreço que as pessoas recebem natórias não sofram qualquer tipo de sanção penal, o
na sociedade e que o humor racista é uma forma de que acontece em função de uma compreensão bastante
degradação pessoal que impede a participação plena restrita do que seja injúria, do que seja honra pessoal e
dos indivíduos na comunidade política." do que sejaracismo. Esse problema reproduz a noção
E também nosso objetivo questionar a tese da de que a ofensa racial não tem consequências sociais,
cordialidade essencialdo povo brasileiro. Será obser- principalmente quando ela se manifesta na forma de
vado ao longo desta obra que o desrespeitoé um humor. Assim, um dos propósitos desta pequena obra
elementocentral da nossa cultura pública. O caráter é expor a cultura pública do desrespeito que existe em
estratégico do racismo recreativo procura mascarar nossa sociedade, realidade inteiramente diversa do
essa realidade ao criar meios para impedir a politização mito da cordialidade essencial do povo brasileiro.'s
= da raça, a mesma tática utilizada na discussão sobre Acreditamos que este sda o primeiro trabalho
= 0 =
a adoção de ações afirmativas.Também queremos a utilizar a expressão rac/smo xecxeczf/vocomo um
<c

32 33
conceito que engloba a pluralidade de fenómenos a pessoasnegras por causa de sua maior oconência e
que analisaremos ao longo das páginas seguintes. signiâícaçãohistórica.
Obviamente,estamoscientesde que vários outros O estudo do fenómeno em questão seguirá os
autores já elaboraram análises importantes sobre seguintespassos Começaremos com uma análise do
temas relacionados a ele. O humor racista tem sido conceito de p/dera faria/, perspectiva que nos permi-
amplamente estudado por psicólogos e sociólogos, tirá entendero caráter dinâmico e plural do racismo.
bem como suas relaçõescom a defesada neutra- Examinaremos também os pressupostos de algumas
lidade racial.:' Outros autores também já defen- teorias sobre o aspecto psicológico, sociológico e insti-
deram a tese de que ele pode ser classificado como mcional desse sistema de opressão. Falaremos depois
discurso de ódio. Os leitores e as leitoras desta obra sobre algumas teorias do humor, o que nos ajudará
encontrarão nas notas de rodapé referências a várias a compreender as características, os propósitos e as
Obras cuja leitura permitirá um aprofundamento consequências do humor racista. O exame das mani-
do conhecimentosobre os tópicos aqui tratados. festaçõesdo racismo recreativoterá início com uma
Utilizaremos a análise de personagensde programas análise das representações de minorias raciais em
humorísticos e decisões judiciais como base empí- programas humorísticos, o que será seguido de um
rica para fundamentar nossa teoria. A pesquisa em estudo sobre as formas como ele aparece em deci-
sites de tribunais de justiça e tribunais regionais do sõesda justiça criminal e da justiça do trabalho.Após
trabalho nos permitiu compilar 88 decisões judiciais isso, ofereceremos uma definição e apontaremos os
nas quais atores sociais utilizam o humor racista para modos de operação desse tipo de dominação racial.
se referir a minorias raciais. Obviamente, o leitor Discutiremos, por último, as relações entre racismo
poderá encontrar dezenas de milhares de decisões recreativo e liberdade de expressão.
sobre injúria racial na justiça criminal e na justiça
do trabalho. Nós apenas selecionamos casos que
utilizama retóricado humor como estratégiade
defesa. A pesquisa jurisprudencial foi realizada em
tribunais estaduais e regionais que correspondem a n
HO áreas com maior concentração de população negra.
=c Embora esse problema afere brasileiros de diversas
=
G-3
c/)
:=: origens, focaremos nossa atenção nas piadas dirigidas
-«C 'o u.&

34 35
1. PROJETOS RACIAIS E
PROCESSOS DE RACIALIZAÇAO
de discriminação direta: uma ação intencional e arbi-
trária baseada em um critério de tratamento ilegítimo,
o que pode colocar as pessoas em uma situação de
desvantagemtemporária ou duradoura.:8
Não há dúvidas de que essa deHmiçãocongrega
uma variedade signiâcativa de situações que acon-
tecem em diferentes países e em diferentes momentos
históricos. Porém, ao contrário do que sugerem
muitos sociólogos e juristas, o termo racismo tem
uma pluralidade de significados, sendo que eles nos
ajudam a compreender suas várias dimensões. Certas
teorias sobre esse assunto enfatizam seu caráter inter-
Uma análise da literatura brasileira sobre racismo
pessoal, algumas o seu aspecto cultural e outras,
demonstra que muitos o compreendem como um ato
ainda, sua dimensão instiUcional. Embora todas
ou uma fala de caráter discriminatório baseados no
elas sejam relevantes para analisarmos as formas
pressuposto de que todos os membros de uma minoria
como ele se manifesta, a variedade de formulações
racial possuem os mesmos traços. Esses traços, classi-
teóricas sobre esse tema levanta obstáculos para seu
ficados como inferiores, são transmitidos biologica- entendimento.:9 A noção de raça enfrenta o mesmo
mente, o que os torna imutáveis. Haveria, assim, uma
problema. Muitos a definem como uma realidade
relação entre características 6enotípicase a qualidade
biológica, enquanto outros afirmam que ela não
moral das pessoas.'7Além disso, uma leitura da legis-
pode ser um critério válido de classificação dos seres
lação nacional sobre esse tema também sugere que humanos porque não tem validade cientí6lca.Há
esse termo tem um significado estático. Ele aparece também aqueles que a descrevem como uma cons-
como um ato intencional e arbitrário de um indivíduo
trução social cuja signiHlcação
muda ao longo do
em relação a outro, ação baseada em julgamentos
tempo, o que permite a criação e a transformação de
negativos sobre os membros de outro grupo racial.
8
=0 'g Essa seria a forma como o racismo se manifesta em
identidades raciais. Certos autores argumentam que
ela é uma categoria jurídica necessária para a classi6-
todos os tempos e em todas as sociedades. Ates
cação dos indivíduos em certos contextospor ser um =
- co
racistas seriam exemplos clássicos do que chamamos
parâmetro efetivo para a medição das desigualdades
C-9 : =
« 'D
e '<

38 39
sociais.20O caráter mutante dos conceitos de raça e de
racismo nos coloca diante de muitas questões, motiva
pelo qual alguns autores, em tempos recentes, prefe-
riram abandonar teorias genéricas sobre essestemas membros de minorias raciais e não a partir de estraté-
para analisar os processos que garantem a constante gias de dominação."
presença de mecanismos de dominação racial, apesar A realidadeda raça na vida dos indivíduos indica
da luta permanente contra ele.21 a necessidade de adotarmos outra perspectiva para
Em função dessas questões, Michael Omi e pensarmos as consequências concretas dessa forma
Howard Winant propuseram o conceito de pr#e a de classificaçãosocial. É por isso que os referidos
rac/a/.Para essesautores,o racismo é uma ideologia autores empregam o termo xac/a/ízaç:ão para classi-
e uma prática que está em constante transformação, õlcaros mecanismos a partir dos quais sentidos cultu-
razão pela qual ele pode assumir diferentesformas rais são atribuídos a certas características Hisicaspara
em diferentes momentos históricos. Observamos em que um grupo seja visto como diferente. A raciali-
todas as suas manifestações como diferenças de status zação seria uma forma de construção e de diferen-
cultural e status material se reforçam mutuamente na ciação dos indivíduos, prática que possui um obje
reprodução da marginalizaçãode minoúas raciais. uivoespecífico: a raça é uma marca que representa
Todo projeto racial atribui sentidos especíHlcosà raças as relaçõesde poder presentesem dada sociedade.z'
ela possuirá significados particulares a partir da forma Não há, portanto, brancos e negros,mas sim meca-
de domínio que se pretende construir. Se em alguns nismos de atribuição de sentido a traços fenotípicos
momentos históricos ela indicava o lugar que os para que a dominaçãode um grupo sobreoutro
grupos humanos ocupam no processo evolutivo,hoje possa ser legitimada. Assim, devemos entender a
ela tem sido deHlnidacomo uma categoria sem rele- raça como uma construção social que procura validar
vância, posição central dos sistemasde dominação projetos de dominação baseados na hierarquização
racial que procuram impedir que ela se torne um entre grupos com características físicas distintas. Ao
critério de mobilização política.22Sendo o racismo um se construir minorias raciais como grupos com traços
CU
tipo de dominação social que procura manter o poder morais específicos,membros do grupo racial domi-
5-
=

0 nas mãos do grupo racial dominante, suas formas de nante podemjustinlcar um sistema de dominação que
=
=

legitimaçãoprecisam também se modificar, pois suas procura garantir a permanência de oportunidades =


práticas excludentes são sempre questionadas. Seu sociais nas suas mãos."
<(

40 41
O que chamaremos de branquitude e de negri-
tude são duas formas de identidade historicamente
produzidas a partir de alguns favoresimportantes.

=::.==1:===.:1=::='; ==.=:;.===
A príineira tem origem na hegemonia que a cultura
europeia passou a ter ao longo dos últimos séculos eu
função da escala mundial do prometocolonial. Esse sociais entre negros e brancos. Assim, essas duas
processo permitiu que o sistema económico, os valores identidades são construídas a partir de uma lógica
religiosos, a estrutura política e a tradição cultural dos oposicional na qual grupos de pessoas são raciali-
países europeus se tornassem parâmetros universais. zadas de formas distintas em função das relações de
Temos aqui algo muito importante para entender o poder que possuem dimensões culturais, políticas,
processo de racialização: todos esses aspectos são históricas e económicas.''
aparentemente impessoais, mas estão associados a Em filnção de seu caráter discursivo, produzido
um grupo racial específico.Ao serem alçados a pers- por sentidos culturais, um prqeto racial permite a
pectivas universais, eles tornaram pessoas brancas consü'uçãode narrativas que detemiinam as manifes-
parâmetros implícitos da representação do que seja tações do senso comum sobre a relevância da raça e
o humano, embora isso permaneça encoberto. Ser do racismo em uma sociedade.Portanto, mais do que
branco situa as pessoas em um lugar específico dentro criar e legitimar representações culturais, um prometo
das hierarquias sociais em função da significação que racial influencia a percepção do significado da raça, o
o pertencimento ao grupo racial dominante possui no que determina a percepção dos vários agentes sociais
mundo contemporâneo. À identidade racial branca na vida cotidiana. Dessa forma, o conceito de trans-
estão associados diversos predicados positivos, como cendência racial, aspecto central das narrativas raciais
superioridade cultural, beleza estética, integridade brasileiras, demonstra como as pessoas percebem a
moral, sucesso económico e sexualidade sadia.2ó questão racial: muitas delas reproduzem a noção de
Obviamente,há um processoparalelode cons- que a raça não tem importância no nosso pais, motivo
trução dos outros grupos raciais como pessoas neces- pelo qual argumentamque piadas de cunho racista
sariamente diferentes e inferiores. A negritude surge não causam danos reais na vida das pessoas.28Vemos, n
0
=
a partir da atribuição negativa de características assim, que nossa capacidade de interpretar relações 5-
;a
= morais a traços fenotípicos das populações africanas. raciais decorre das percepções dos significados da =
0
Ela aparece em um momento histórico no qual a raça raça, o que adquire sentido dentro das narrativas
se torna um objeto de reflexão, o que produz diversas culturais sobre ela em uma comunidade. Mais do que

42 43
culturais e históricos
isso, os sentidos culturais da raça também organizam específicas dentro de contextos

hm:n:=.=;;,::=WÇ;
o funcionamento das institucionais públicas e privadas
e determinam o tratamento dispensado a minorias.29
Em resumo, o conceito depn:@íoxacfa/nos oferece lendo dos interessesmateriaisdos grupos domi-
uma perspectiva interessante para compreendermos o nantes. Assim, o processo de racialização de grupos
sentido da expressão domzfzafãoxac/a/.Ao contrário da humanos é um exercício de poder que proporciona os
posição bastante difundida que classiHlcaa raça como instrumentos para a dominação de certas populações,
uma categoria sem relevância, essa teoria enfatiza seu pois elas são criadas como diferentes e inferiores.3'
aspecto simbólico, pois está baseada nas significações
culturais atribuídas a traços fenotípicos. Assim, raça 1.1 Racismo aversivo, racismo simbólico
ê uma representaçãocultural que estrutura relações e racismo institucional
de poder dentro de uma sociedade; ela pode ser utili-
zada para a legitimação de normas legais que tratam A importância da análise do caráter dinâmico do
indivíduos de forma arbitrária ou pode permanecer racismo é ainda mais evidentequando examinámos a
invisível em sociedades nas quais privilégios raciais influência das mudanças culturais e políticas em suas
sistemáticos tornam a discriminação direta uma diversas manifestações. Embora muitos atores sociais
forma obsoleta de manutenção de hierarquias enfie o classifiquem como um comportamento irracional de
negros e brancos. Aqueles grupos que possuem poder indivíduos específicos, os especialistas sobre o assunto
político e económico criam sentidos culturais que os mosüam uma realidade muito diferente:estereótipos
permitem atribuir valores a certos traços a partir das racistas estão presentes nas mentes de praticamente
quais identidades e lugares sociais são instituídos. todas as pessoas, sendo elemento central da história
Portanto, o conceito de raça é produto de um processo social e psíquica das nações ocidentais.3zObservamos,
de atribuição de significados que expressa o poder de certamente,grandes mudanças na moralidade social
grupos maioritários de construir sentidos que corro- em relação à expressão pública do racismo ao longo
boram relações raciais hierárquicas. Por ser uma cons- das últimas décadas em diversas democracias liberais
trução cultural, a raça pertence ao mundo simbólico. Sua utilização como elemento central de plataformas 0
a)

= expressando sentidos que são criados com o propó- políticas tem sido condenada, atos abertamente 5-
-=
sito específico de dominação." Isso significa que ela racistas são reprovados pela moralidade pública no =
0
não possui signiHlcadosamos,mas adquire conotações mundo atual. Porém, isso não significa que as atitudes

44 45
social. Os racistas aver-
dos indivíduos tenham sido caIR
madas, nem que representações n de maneira cordial, mas
cola
rias raciais tenham um caráter espontâneo, sendo
desaparecido. uivos
Podemos identiHlcar no
de racismo recreativo que estamos abertamente racistas, o
Como éo
caso de pessoas
lares àquelas presentes em unto dpçses indivídUOS também decorre de
rtani
Demonstraremos nos capítulos de superioridade em relação a mino-
ele não seja necessariamenteum
vação psicológica por trás do M
algumas características do para suas interações sociais e post-
de xncísmo czvers/vo. ponto Eles podem não discriminar pessoas a
os sentimentos conscientes e ccão mas possivelmente não contes-
sustentam atitudes negativas em sociais responsáveis pela opressão
são ancorados pelo deles se limitará na maior parte do
humano. Nós raciocinamospor uin do tratamento igualitário entre todos.
processo dc
percepção, classi6lcação e
generalização, elementc Certos autores afirmam ainda que a tendência a evitar
responsáveis pela criação de
:squemas mentais a partir contato com negros também tem um caráter estrato
dos quais pessoas e situações são interpretadas. Mais Bico: ela parte do interesse deles em não serem vistos
do que meras consüuções cognitivas, eles possuem como racistas Interações sociais com minorias raciais
conteúdos fonnados por representações sociais dos são, portanto conte de ansiedade para pessoasbrancas,
diferentesgrupos. Esse é um dos motivos pelos quais motivo pelo qual muitas delas procuram evitar contato
pessoas podem defender a nu! il. rirulHIHHIEI l social com membros desses grupos. Mas, embora
todos os indivíduos, mas ainda assim sereminfh convivam quase exclusivamente com pessoas do
dadas por sentimentos que as motivam a se Feia( mesmo grupo racial, esses indivíduos rejeitam enfati-
narem preferencialmente com pessoas que Eaz camente a sugestão de que sejam racistas em função
8 parte do mesmo grupo racial. O racismo amei da sua crença em ideais igualitários, o que efetiva-
ocorre principalmente pela expressãode preconcel mente pode corresponder às suas convicções " g'''
8
MO
'ã sutis, mas persistentes, que indicam o desprazernz 0 que certos autores chamam de racismo s/móÓ//c:o
interação social com negros, motivo pe]o qual pes construções culturais que estruturam a forma
brancas tentam evitar contado com eles ou os tratar como minorias raciais são representadas. Elas são um
-e:C '0

46 47
ponto de partida para as ações de indivíduos parti- indivíduos, como também parâmetros para a atri-
culares e também de agentesinstitucionais. Para Joel buição de sentido ao mundo. A presença hegemónica
Kovel, a dimensão simbólica do racismo seria produto de pessoas brancas nas produções culturais molda a
de um processo psicológico e histórico a partir do percepçãodo valor socialdos grupos minoritários a
qual as concepções do outro são construídas e trans-
partir dos traços dos membros dessegrupo.ss
formadas, movimento responsável pela diferenciação Além dos conceitos de nnakmo avezszvo e racismo
de status cultural entre grupos raciais. Para o autor. símÓÓ//co,ouça forma de racismo tem importância
símbolos adquirem sentido dentro de um processo considerável
para a análisedo projetoracialque
de diferenciação cultural no qual certos elementos chamamos de racismo recreativo. O conceito de racismo
adquirem conotações distintas, o que possibilita a Ínsfzfc/o/za/designa práticas institucionais que podem
utilização deles na designação de diferentes objetos. ou não levar necessariamente a raça em consideração,
Um símbolo faz referência a diversas cadeias de signi- mas que mesmo assim afetam certos grupos raciais
ficação que determinam a percepção do mundo exte- de fobia negativa. Segundo os autores que elabo-
rior e dos otÜetosaos quais ele está relacionado. Mais raram essa teoria, as ações discriminatórias de pessoas
do que isso, conteúdos simbólicos são parâmetros brancas contra negros podem ser classiâcadas como
para a formação do ego, instância que será estruturada uma forma de racismo aberto e individual porque
a partir dos significados culturais relacionados com os ocorrem nas relações interpessoais e estão baseadas em
sentidos presentes em uma determinada sociedade. estereótipos negativos em relação a minorias raciais.
Se as construçõesculturais que reproduzem a Essas ações acarretam perdas de oportunidades para
noção da superioridademoral das pessoas brancas suas vítimas porque elas deixam de ter acesso a opor-
operam como um ego ideal, como um ideal moral tunidades educacionais ou profissionais.3ó
a que a pessoa aspira, a negritude está ligada a uma Atou praticados por representantes de institui-
série inHmitade significações de caráter negativo do ções públicas e púvadas contra minorias raciais que
qual as pessoas procuram se afastar. As associações prqudicam o status social dos membros dessesgrupos
da negritude com a escuridão, com a falta de caráter expressam o racismo institucional. Ele pode assumir
e com a degradação moral estruturam a atitude de a forma de discriminação direta ou então fazer parte =
= 'g desagrado que pessoas brancas sentem em relação
a negros. A ela estão relacionadas fantasias que são
da operação de instituições cujas ações não são neces-
sariamentedirigidas a minorias raciais. Enquanto o
5-
; aB
G/3 C
0 =
utilizadas para a formação da personalidade dos racismo individual pode ser explícito, o segundo tipo
« 'D
L.u a.

48 49
não tem um caráter necessariamenteintencional. o outros grupos. Mas, mesmo condenando práticas
racismo institucional torna-se parte do funciona. racistas, esses indivíduos dão suporte a institui-
mento normal de instituições públicas e privadas ções que perpetuam.a discriminação racial. Vemos,
que não levam em consideração o impacto de suas assim, que aros individuais de racismo podem não
decisões ou de suas omissões na vida dos diferentes ser frequentes em uma sociedade, mas práticas insti-
grupos raciais. Ele também ocorre quando elas imple- mcionais racistas podem ser parte integrantede uma
mentam medidas que excluem grupos raciais de bene- nação. Grupos raciais minoritários podem ter direitos
fícios sociais. Como essas práticas discriminatórias iguais aos grupos raciais dominantes, porém isso não
fazem parte da operação normal dessas organizações, significa que eles terão acesso a condições materiais
elas não são analisadasda mesma forma que aros necessáriaspara o gozo deles em função do trata-
individuais de racismo.37 mento discríininatório que podem soíter dentro e por
O racismo institucionalpode assumir quatro meio de muitas instituições que são controladaspor
formas. Ele pode ocorrer quando pessoas não têm pessoas brancas."
acesso aos serviços de uma instituição, quando os
serviços são oferecidos de forma discriminatória, 1.2 0 conceito de microagressões
quando as pessoas não conseguem ter acesso a postos
de trabalho na instituição ou quando as chances de O racismo recreativo difere de outras expressões
ascensãoprofissional dentro dela são diminuídas por dessesistema de dominação por outro motivo impor-
causa da raça. Esse tipo de prática discriminatória tante. Vivemos em um mundo no qual manifestações
encontra sua sustentação na presença de atitudes abertasde intolerância racial são legal e moralmente
culturais racistas que permeiam as normas que condenadas. Isso significa que demonstrações explí-
regulam instituições públicas e privadas, e também citas de ódio e desprezoracial não são toleradase
na mentalidade daqueles que amuamde forma racista fitos dessa natureza podem ser objeto de condenação
quando as representam. Essas atitudes discriminató- criminal. Muitos pensariam que isso seria evidência
rias despertam o sentimento de superioridade racial de uma mudança nos padrões da moralidade pública.
em pessoasbrancas, o quejustiâca a subordinação de Entretanto, não devemos pensar que tal processo
HO outros grupos raciais. Como essas mesmas sociedades
condenam manifestações abertas de racismo, muitas
possa ser indicação de uma transformação radical das 5«
=c atitudes de pessoas brancas. Como bem disse Chester
=
c/) o
- CD pessoas aHumam que não discriminam membros de Pierce, o racismo é um problema de saúde pública
-« 'o

50 51
porque possui uma natureza contagiosa. Ele permite indivíduos que evitam interações sociais com minorias,
a propagação de estereótipos que procuram legi- que não tratam mmonas com a mesma cortesia que
timar práticas discriminatórias contra negros." Esse dispensam a pessoas do próprio grupo.
psiquiatra americano estava especialmenteinteres- Os microinsultossão formas de comunicação
sado no segundo aspectodo racismo, o seu poder de que demonstram de maneira expressa ou enco-
criar imagens deturpadas do outro, o que induz a uma berta uma ausência de sensibilidade à experiência,
série de comportamentos conscientes e inconscientes à tradição ou à identidadecultural de uma pessoa
de natureza sutil que expressam desprezo por mino- ou um grupo de pessoas. Microinsultos podem ser
rias raciais. Esses comportamentosnão são apenas não propositais, embora sejam manifestações de um
fitos abertamente racistas. Chester Pierce classificou sentimento de superioridade que uma pessoa sente
essas ações que se manifestam na forma de expressões em relação à outra por fazer parte do grupo domi-
verbais, de representações culturais e de reações físicas nante. Então, microinsultos decorrem de valorações
como rituais sociais que demonsüam desprezo por culturais que atribuem importância distinta a grupos
minorias raciais. Eles estão baseados em sentimentos sociais e suas vivências de opressão ou das tradições
de natureza negativa em relação a membros de grupos culturais. Eles também podem assumir a forma de
minoritários, sentimentosdecorrentes de diferenças de mensagens ou representações culturais derrogatórias
status cultural entre grupos raciais presentes em uma quando símbolos ou ritos sinalizam desprezo por
sociedade. Esses aros, mensagens e representações membros de grupos minoritários.
seriam então o que ele chamou de m/c;roagxessões.40 O terceiro tipo, as microinvalidações, ocorre
Certos autores identiâcam três tipos de microa- quando sujeitos deixam de atribuir relevância às
gressões: mítxoa.sscz#os, m/cpoínsz//fos e m/ao/nva/ída- experiências, aos pensamentos e aos inteJ'essesde um
ç&s. O primeiro designa um ato que expressa atitudes membro específico de uma minoria. Por exemplo, o
de desprezo ou de agressividadede uma pessoa em indivíduo atribui valor a pessoas de sua própúa raça
relação a outra em função de seu pertencimento social. quando fiam sobre situaçõesde estresseemocional,
Isso pode ocorrer por meio de falas ou comporta- mas deixa de fazer o mesmo quando minorias alinham
CU mentos físicos que pressupõem uma diferença de valor que soõ'em mentalmente em fiinção de tratamentos 0
0 entre pessoasl eles geralmente são conscientes e propo- discriminatórios. Parte-se do pressuposto de que a 5-
sitais, sendo então expressões de estereótipos negativos experiência da pessoa tem natureza diferenteda que ;aE
=
=

0
=

ela percebe, o que acontece, por exemplo, quando


em relação ao outro. Estamos aqui diante daqueles

52 53
homossexuaiscontam casos de discrüninação.A indica um lugar de privilégio em função do perten-
desconsideração da seriedade do relato desses indivÍ. ciínento ao grupo racial dominante. Se, de um lado,
duos tem sido âequentemente utilizada como estro. estereótipos raciais afirmam uma suposta inferiori-
tégia para negar a relevância da homofobia.': dade de pessoas negras, de outro, eles reproduzem a
noção de que brancos são inerentemente superiores.a
1.3 A branquitude como significante cultural Um estudo sobre o racismo precisa examinar não
apenas a natureza dos estereótipos negativos asso-
Vimos neste capítulo que a raça deve ser pensada ciados a minorias raciais, mas também os meios pelos
como uma consüução social porque ela estrutura quais práticas sociais e sentidos culturais reforçam
relações de poder. Ela determina qual é o lugar que privilégios de pessoas brancas. O estabelecimento de
um indivíduo pode ocupar dentro de várias hierar- um grupo racial como parâmetro cultural universal
quias presentes em uma comunidade política. Sendo permite que as características de seus membros,
um produto de processosque fabricam sentidos,a sejam elas reais ou imaginadas, possam ser institu-
racialização dos indivíduos cria diferentes tipos de cionalizadas por meio da construção da identidade
identidade que terão diferentes valores em uma socie- desse grupo como expressão única da humanidade.
dade. Se a racialização de pessoas de origem africana Esse é o motivo pelo qual discussõessobre racismo
como negras designaum lugar de subordinação,a são muitas vezes inílutíferas, já que deixam de inter-
racialização de pessoas de origem europeia como rogar a motivação social daqueles que discriminam.
brancas indica uma forma de identidade que goza de É importante termos em mente que pessoas brancas
status privilegiado. Então, um aspecto central dessa não tratam pessoas negras de forma arbitrária por pura
discussão é o seguinte: a associação da negritude animosidade. Elas o fazem em ftlnção do interessena
com elementosnegativose a associaçãoda branqui- reprodução de sentidos culturais responsáveis pela
tude com elementospositivos permite que as pessoas afirmação delas como únicas pessoas que podem ser
brancas sejam representadas como sujeitos superiores vistas como agentes sociais competentes. A convicção
e também os únicos capazes de aduar de forma compe- de superioridade racial é produto direto da transfor-
cg tente na esfera pública. Isso significa que a identidade mação dos membros do grupo racial dominante como e

a>
0 racial.branca é um lugar de poder social e também um referência cultural, como referência estética, como
=

mecanismo de reprodução de relações raciais hierár- referência de superioridade moral, de superioridade


0
=

-=
quicas. Mais do que uma mera designaçãoracial, ela intelectual, de superioridade sexual e de superioridade
<(

54 55
de classe. Mais uma vez, a raça não é um simples parâ- das qualidades positivas associadas às pessoas brancas.
metro de classiHcaçãobiológica, mas sim uma iden- Isso significaque a identidaderacial que estamos
tidade social que posiciona os indivíduos dentro das chamando de branquitude não se confunde com uma
relações hierárquicas existentes em uma sociedade.4s categoriabiológica porque está relacionada aos inte-
Sendo um lugar de poder social, a branquitude resses materiais das pessoas brancas. Vemos também
engloba propriedades que são importantes para a que a branquitude está associada à violência porque
manutenção da dominação racial. Primeiro, essa ela motiva membros do grupo racial dominante a
identidade racial implica uma forma de percepção propagaremestereótiposque reproduzem a ideia de
racializada da realidade que deHne a identidade indi- uma inferioridade essencial de pessoas negras. A bran-
vidual das pessoas. Esse parâmetro faz com que os quitude surge então como uma propriedade estrutural
indivíduos interpretem os arranjos sociais a partir de das práticas sociais, porque determina o funciona-
uma perspectiva específica que corresponde à posição mento das instituições e também das representações
que eles ocupam. Segundo, a raça designa uma culturais, colocando certos grupos raciais em situação
situação de vantagem estrutural das pessoas dentro de de privilégio e outros em condição de subordinação.«
diversas formas de hierarquias. Como as instituições Como aponta Richard Dyer, representações
públicas e privadas operam para reproduzir privilé- culturais têm papel central nas relações raciais. A
gios raciais, pessoas socialmente classificadas como forma como grupos humanos são retratados deter-
brancas possuem acesso privilegiado ou exclusivo a mina o valor que eles possuem, indicando assim o
diversas oportunidades. Terceiro, a identidade social status cultural e também o status material deles.
das pessoasbrancas é tomada como um parâmetro Essa forma de representaçãoindicará, por exemplo,
cultural básico a partir da qual todos os outros grupos a possibilidade de acesso a oportunidades profissio-
são julgados. As qualidades morais, as qualidades nais, as maneiras como as pessoas serão tratadas nas
intelectuais e também as qualidades estéticas social- interaçõessociais, as chances de acesso a parceiros
mente valorizadassão estabelecidasa partir do refe- sexuais, o tratamento que elas receberão de agentes
rencial desse grupo. Esse é um dos motivos principais públicos e privados. Ser classificado como branco
pelos quais pessoas brancas se sentem psicologica- significaque esse indivíduo não pertence a um grupo
= 'Ê
=0 mente motivadas a profeú'em injúrias raciais contra racial porque apenas minorias raciais possuem raça; 5«
negros: representaçõesculturais que sustentam seus pessoas brancas são apenas seres humanos. Por não =
privilégios constroem pessoas negras como o oposto serem socialmente marcados, pessoas brancas se

56 57
percebem apenas como indivíduos. O lugar racial no relações assimétricas de poder. As falsas generaliza-
qual são inseridas permite que seus privilégios sociais ções sobre membros de grupos minoritários permitem
sejam inteiramente invisíveis porque eles não são que a marginalização deles seja mantida, uma vez que
interrogados. Se negros são o tempo inteiro reconhe- são vistos como pessoas que não possuem caracterís-
cidos como membros de um grupo racial, brancos ticas necessárias para amarem na esfera pública de
são apenas pessoas. Assim, a branquitude aparece forma competente. Esse processo tem importância
como uma identidade racial socialmente invisível por centralpara a manutenção dos vários privilégios dos
um lado, e também altamente visível por outro. Se ser membros do grupo racial dominante, razão pela qual
branco significa ter acesso a uma série de privilégios eles estão empenhados em reproduzir falsas generali-
que são mascarados pelo discurso da meritocracia, zações sobre minorias. Portanto, estereótipos não são
ser branco também é uma forma de grande visibili- meras percepções inadequadas sobre certos grupos de
dade quando analisamos a presença quase exclusiva indivíduos. Eles possuem uma dimensão claramente
de certos grupos raciais em produções culturais.'s política,pois são meios de legitimaçãode arranjos
sociais excludentes.a
1.4 A psicologia social dos Como tem sido afirmado, estereótipossão fHsas
estereótipos e dos estigmas generalizações sobre membros de determinados
segmentossociais. Eles podem descrevero comporta-
Não podemos discutir o tema do racismo recrea- mento de alguns deles, mas certamente não de todos.
tivo sem uma análise,mesmo que breve, da psico- Os indivíduos podem ter traços comuns com outras
logia social dos estereótipos.Vimos anteriormente pessoas,o que os tornammembrosde certogrupo,
que o pensamentohumano opera por um processo mas há entre eles uma variedade significativa, fator que
de percepção, categorização e generalização, o que torna essasgeneralizaçõesproblemáticas.Assim, um
permite a formação de esquemas mentais a partir dos estereótipopode ser visto como uma presunção incor-
quais as pessoas compreendem a si mesmas e também rera, porque ele não pode abarcar todos os indivíduos
o mundo. Mas esses sentidos não são necessariamente de um grupo social. É possível que muitas pessoasde
neutros, pois são produto de valores culturais desen- origem asiática sejam boas em matemática, mas elas n
Q)
0 volvidos em uma realidade marcada por vários tipos têm interessesmuito diversos, o que torna tal represen-
= de hierarquias. O caráter desigual dessas relações está tação incapaz de determinar as inclinações profis-
= C
0 =
associado ao fato de que elas estão permeadas por sionais de todos essesindivíduos. Estereótipos são

58 59
descritiva e uma dimensão prescritiva. A primeira
muito mais do que generalizaçõesutilizadas para
atribuirmos sentido às nossas experiências. Eles designa supostas características de membros de
cumprem uma função ideológica porque permitem grupos minoritários, característicasque são atri-
buídas a todos eles em todas as situações.Esses
a reprodução de relações assimétricas de poder exis-
tentes em uma sociedade. Os grupos maJoritârios traços podem ser positivos ou negativos, sendo que
reproduzem estereótiposcom o propósito de moldar essa classificação depende do status cultural do
grupo. Pessoas de ascendência africana são repre-
a percepção da realidade social a partir de certa pers-
sentadas como menos inteligentes, uma generali-
pectiva. Por esse motivo, estereótipossão sempre
usados para a manutenção de processos de estratiHl- zação que tem o objetivo específicode legitimar
cação porque perpetuam as desvantagens que afetam práticas discriminatórias direcionadas a esse grupo
grupos minoritários e reforçam o status privilegiado nos espaços acadêmicos e profissionais. Pessoas
de ascendência asiática são percebidas como indi-
dos grupos dominantes. As desigualdadesduráveis
promovidas pela circulação dessas falsas generaliza- víduos inclinados para as ciências exatas, estereó-
ções convencemmuitas pessoas de que os arranjos tipo que os confinam apenas a essas ocupações. A
sociais existentescorrespondema formas natu- segunda dimensão dos estereótipos designa o lugar
que os indivíduos que pertencem a certos segmentos
rais de organização social, o que leva indivíduos a
podem ocupar. O valor diferenciado deles serve para
responsabilizarem minorias pela situação na qual
se encontram. Estereótipos precisam ser constante- justiHlcaras funções que podem desempenhar. Uma
vez que homens brancos são vistos como os mais
mente repetidospara que se tornem uma forma de
conhecimento compartilhado, o que pode ocorrer inteligentes,eles não encontram obstáculos quando
concorrem a posições de gerência. O mesmo não
por diversasformas de produções culturais, inclusive
ocorre com mulheres, porque são percebidas como
pelo humor. A constantecirculação de estereótipos pessoas que não possuem capacidade de comando.
provoca a internalização de percepções negativas
Por esse motivo, elas devem estar em posições subor-
que operam na forma de automatismosmentais: a
dinadas. Vemos então que essas duas dimensões dos
interação com membros de minorias remete o indi- U
estereótipos sustentam a dinâmica de diferenças de
víduo a uma rede de significaçõesque pode gerar
0 comportamentos discriminatórios.'' status cultural e de staMS material entre negros e 5-
= 0
=

É importante termos algo em mente para o nosso


brancos. Se as produções culturais refletema ideia =
de que brancos podem desempenhar quaisquer
=

debate: os estereótipos possuem uma dimensão


<c

61
60
lugares, elas também afirmam que negros só podem forma, estigmas correspondem a percepçõesque são
estar em lugares específicos. Veremos adiante que a comungadas por parcelas significativas dos membros
presença de negros em posições de poder e prestígio da sociedade.4P
causa reações racistas imediatas, já que contraria a Como estigmas são criados e disseminados em
ideia de que brancos sempre devem estar em uma função de relações de poder, devemos identificar seus
posição social privilegiada. O avanço de pessoas mecanismos de atuação. Primeiro, estigmas operam
negras opera como uma ameaça subjetiva a muitas como elementos que limitam o acesso a oportuni-
pessoas brancas, o que pode ser explicado pela dialé- dades sociais, servindo como ponto de partida para
tica das dimensões aqui descritas.48 aros discriminatórios em diversas esferas da vida dos
A lógica dos estereótipos está diretamente ligada grupos afetados. Eles motivam o comportamento de
à lógica dos estigmas. Os estudiosos do tema aíimiam agentespúblicos e privados, pois moldam a percepção
que um estigma é uma característica a partir da qual sobre o valor social das pessoas. Segundo, a discrüni-
uma pessoa ou um grupo de pessoas sobe desvan- nação produz exclusão social e acaba por confirmar a
tagens sistemáticas. Assim, esse termo descreve um percepção social depreciativa sobre os grupos estigma-
processo a partir do qual sentidos negativos são atri- tizados. Assim, as expectativas sociais sobre os grupos
buídos a pessoas que possuem característicassocial- são confirmadas, o que gera mais exclusão dos grupos
mente desprezadas. Estigmas são responsáveis pela estigmatizados. Terceiro, grupos minoritários também
construção de identidades sociais culturalmente internalizam esses estigmas e passam a perceber a si
desprezadas porque designam pessoas supostamente mesmose também os membros do próprio grupo a
diferentesou inferiores. Sob essa lógica, traços como partir deles. Assim, eles se comportam de maneira a
raça ou sexualidadesão marcas que indicam dispo- confirmar as expectativas sociais sobre eles. Quarto,
sições naturais negativas, sendo que elas se tornam representaçõesnegativas geram uma ameaça à identi-
parâmetrosa partir dos quais as pessoaspassam a dadede minorias, o que provoca situaçõesconstantes
aduar para discriminar as pessoas. Embora todas as de estresseemocional nas pessoas que são estigma-
pessoas possam criar estereótipossobre membros tizadas. Elas geram tensõesemocionais, sentimentos
de outros grupos, os membros do grupo dominante de conformidade e de inadequação, o que dificulta a
estão em situação diferenciada em função do poder mobilização contra os estigmas sociais.s'
HO =:
t.u

que possuem de criar, disseminar e moldar o flincio- O racismo é um sistema de exclusãoque opera
c.a o =
namento das instituições a partir de estigmas. Dessa por meio da estigmatização de grupos populacionais
G.3 :=:
« '0 L.u a--

62 63
que são racializados por possuírem determinadas
características fenotípicas em comum. Elas são repre-
sentadas como traços negativos a partir dos quais
muitos membros do grupo racial dominante passam
a aduar, o que ocorre em quase todas as esferas da
vida de minoriasraciais. Estigmas raciais são repro-
duzidos de forma atavae passiva, estando presentes
não apenas nas falas de indivíduos particulares,
mas também em diversas produções culturais de
forma direta ou encoberta. Estigmas raciais também
informam o comportamento de membros de grupo
minoritário em ftlnção do caráter reflexivo da discri-
minação. Minorias raciais desenvolvemvárias formas
de problemas psicológicos, além de também tratarem
pessoas do mesmo grupo de forma discriminatória,
comportamento baseado na visão negativa que eles
têm de si mesmos. Os estudiosos a6umam que a
mera existência de estigmas raciais é uma violação da
dignidade de minorias raciais porque eles dificultam a
formação do sentimento de valor pessoal.
2. A PSICOLOGIA SOCIAL DO HUMOR
O humor tem o poder tornar as relações humanas
mais agradáveis. Ele produz o resultado cómico
também em função dos significados culturais dos
elementos que estão presentes em uma piada ou em
uma simação. O humor também envolve mecanismos
mentais, pois implica o processamento de estímulos
presentes no ambiente, na evocação de memórias, no
jogo com palavras ou nos símbolos de um modo cria-
tivo. O efeito humorístico requer então uma análise
mental de informações que produzem certo resul-
tado em determinados contextos. Se na maior parte
O humor é comumente definido como o resultado do tempo as pessoas têm objetivos específicos que
de uma ação ou de uma mensagemque induz uma as mantêm em estado de atenção e seriedade, elas
pessoa ao riso em função da naturezajocosa, estranha podem relaxar quando se veem em uma simação que
ou inesperada de certo evento. Essas ações e mensa- permite a elas ter interações mais informais.s2
gens assumem diversas formas: podem ser escritas, Além de processos cognitivos, o humor também
verbalizadas, podem ser expressaspor meios visuais conta com uma dimensão emocional. O efeitocómico
e tambémpor gestos.Elas produzemuma reação produz uma respostapositiva no indivíduo, o que ]he
emocionalque pode variar de um soniso discreto traz uma sensaçãode prazer.Ele atavapartescere-
até gargalhadas. O humor está longe de ser um mero brais responsáveis por emoções relacionadas com a
comportamento reflexo. Certas falas ou situações produção desse sentimento, motivo pelo qual o indi-
produzem efeito cómico em função do contexto víduo procura estar presente em situações dessa natu-
cultural no qual ocorrem. Embora os seres humanos reza. Podemosdizer que o humor é uma emoção
possam sorrir quando estão engajados em atividades provocada por processos cognitivos que articulam infor-
solitárias, como a leitura de um livro, ou quando estão mações responsáveis pela produção do efeito cómico.
vendo um filme, o humor geralmenteocorre dentro Além disso, ele pode servir como meio para as pessoas
= 'ã
de interações sociais cotidianas. Dessa maneira. o aliviarem tensões emocionais e também como forma 5-
humor é algo que implica a noção de que o contado de enâentar adversidades, motivo pelo qual membros =
com as pessoaspode ser uma fonte de prazer.s' de gruposminoritárioscriam uma série de piadas
- CD
G.9 ::=
-« 'D
L.b B-B

68 69
que satirizam suas próprias condições.ss Devemos permite aü'mar a noção de que o indivíduo tem valor
ter em mente que essas emoções estão relacionadas maior do que um membro de outro grupo, pessoa que
ao conteúdo das informações que são processadas. éjulgada a partir de estereótipos negativos ou a partir
Veremos adiante que o humor decorre da comparação dos infortúnios pelos quais ela passa.ss
entregrupos sociais, um meio que as pessoasutilizam Thomas Hobbes aíimtou que a observaçãodo
para afirmar um sentimento de superioridade em infortúnio, das confusões do outro, faz com que nos
relação a membros de outros grupos. Portanto, mais sintamos mais autoconíiantes porque nos comparamos
do que produzir sentimento de prazer, o humor atende com aqueles que são retratados em piadas, manifesta-
também outras necessidades emocionais, notoriamente ções culturais que têm um caráter negativo. Imanente à
a necessidade de distinção em relação a outras pessoas. teoria do ilustre filósofo estava a noção de que o riso é o
O humor racista satisfaz a necessidadede diferenciação resultado de um sentimento de glória pessoal, produto
que pessoas brancas sentem em relação a indivíduos da comparação com situações ridículas pelas quais
considerados inferiores e também cúa um sentimento outraspessoaspassam. O humor não seria outra coisa
de solidariedade enfie os membros dessegrupo." senão um sentimento de superioridade em fiinção da
percepção das circunstâncias humilhantes nas quais
2.1 As teorias do humor pessoas que consideramos inferiores se encontram.só
A teoria da superioridadepropostapor Hobbes
2.1.1 ..4s teor/as da saperfafidade teve desenvolvimentos importantes nos últimos
A teoria da superioridadeé certamentea mais tempos. Certos autores argumentam que a filiação a
antiga das análises sistemáticas sobre o humor, cujas um grupo dominante tem papel central na produção
premissas básicas foram elaboradas pelos gregos do sentimentode superioridade.Assim, uma pessoa
antigos. Desde o início, os autores que a desenvol- experimentaprazer quando percebe que o humor é
veram afirmaram que o humor envolvealgum grau produzido por meio de comparação a segmentos
de malícia, pois sempre rimos de piadas que retratam marginalizados. Aqueles que pertencem aos grupos
situaçõesridículas nas quais certas classesde pessoas dominantes mantêm uma ligação psicológica positiva
U estão envolvidas. A comédia seria então uma repre- com seus membros, não se reconhecendo como parte
0
sentação de sujeitos que consideramos inferiores; ela de classes subordinadas. Assim, o efeito cómico de
= enfatiza esse aspecto de modo a despertarprazer nas
= uma piada decorre da comparação de um indivíduo
pessoas. O prazer decorre do fato de que a piada hostil com membros de outras comunidades.s7 =

70 71
Seguindo as premissas da teoria da superioridade, A identidade social adquire significado especial
Zilman e Cantor, em tempos recentes, argumentaram naquelas situações em que as pessoas classificam a
que os efeitosdo humorracistavariamde acordo si mesmas a partir de categorias que as identiHlcam
com o nível da disposição afetiva que uma pessoa como membros de grupos específicos. Ela se tornará
sente em relação àquela que é objeto de humor. relevanteem função do contextono qual elas se
O distanciamento social faz com que nosso senti-
encontram, e isso significa que as diversas situações
mento de solidariedade seja menor em relação àqueles permitam às pessoas estabelecer comparações com
que são vistos como pessoas de menor prestígio. Por outros grupos, principalmente por meio de avalia-
isso, não nos sentimos constrangidos em contar ou ções positivasde seu grupo em relação a outros. Esse
rir de piadas que expressam hostilidade em relação
mecanismo é particularmente relevante para anali-
a certas classes de indivíduos. Outra vertente impor-
samos expressões de humor derrogatório. Para os
tante da teoria da superioridade é a teoria da identi- autores dessa teoria, esse tipo de humor permite aos
dade social, uma perspectiva que também enfatiza o membros de um determinado grupo manter distinção
relacionamento entre grupos sociais. Ela está baseada social por meio da ênfase em elementos identitários
na premissa segundo a qual grupos humanos estão relevantes. O humor hostil cumpre então uma função
em processo constante de competição por estima importante: preservar a distinção social positiva de
social. Eles estãoà procura do reconhecimentoposi- um grupoem relaçãoa outro por meio da ênfase
tivo de suas característicasla representaçãode um nos aspectosnegativos dos que são representadosem
grupo como superior ao outro significa que ele conse- expressõeshumorísticas. Isso ocorre a todo momento.
guiu alcançar distinção social e seus membros fazem mas principalmente quando o avanço dos direitos de
o possível para que essa diferenciação de status seja minorias ameaça desestabilizar o sentimento de supe-
mantida, inclusive pelo uso do humor derrogatório. rioridade. Esse estado de coisas aumenta a solidarie-
Os que trabalham com essa teoria fazem uma diferen- dade entre os membros do grupo dominante, além
ciação entre identidadesocial e identidadepessoal. de permitir que o próprio indivíduo mantenha uma
A primeira expressa a percepção que um indivíduo percepção positiva de si mcsmo.s9
tem de si mesmo, tendo em vista o pertencimento a
= 'ê
HO um determinado grupo. A segunda está fundamen-
tada no senso de individualidade, na noção de que
2. \.2 A teoria psicanalítica do humor
5-
Ao longo dos últimos séculos, õJóso6ose psicó-
a) o sujeito possui uma história de vida única, o que o logos elaboraram diversas teorias sobre o humor. Todas =
C.3 :==

=
'o
'( distingue de todos os outros membros do grupo.s8 elas levam em consideração seus propósitos. Aquele
72 73
+
que conta piadas não o faz pelo simples objetivo de humor hostilpermite que o indivíduo possa satisfazer
produzir um efeito cómico que traz prazer para as sua agressividade de forma relativamente benigna.
pessoas que ouvem o que ele diz. Sigmund Freud clas- Ele seria uma maneira de o indivíduo produzir uma
sificou o humor como uma operaçãopor meio da qual catarse psicológica: o humor permite a sublimação
o psiquismo humano produz uma descargade energia da energia psíquica que a pessoa investe na repressão
mental. O carátercómico de uma fase ou história faz de seus impulsos. Constitui, assim, uma substituição
com que o indivíduo encontre uma forma de satisfação dos propósitos inconscientes. Experimentou têm dado
psíquica. Diferentes mecanismos mentais permitem suporte, mas também questionadoa teoria da catarse
que o psiquismo vença os padrões culturais internali- proposta por Freud. Enquanto alguns deles afim)am
zados, permitindo ao sujeito vencer a censura Imposta que a exposição a formas de humor derrogatório
pelo superego, instância que representa a cultura diminui nossos impulsos agressivos,outros deixam
dentro do psiquismo. Ele pode entãorir de uma piada claro que ela aumenta a indisposiçãoem relação a
que envolveum membro de outro grupo porque essa ê membros de outros grupos.':
uma fobia aceitávelpara o indivíduo descarregarsua
agressividade.Dessa forma, o humor decorre de um 2.1.3 A teoria da incottgruidade
conjunto de processos mentais que permite a expressão Se os autores das teorias anteriores pensavam
de algum desejo sexual ou impulso agressivo, o que dá que o humor deriva de sentimentos de superiori-
ao indivíduo uma sensação de prazer." dade, outros teóricos aHumamque ele decorre de um
O humor possui, então, finalidades psicológicas processo psicológico distinto do sentimento de hosti-
e sociológicasimportantes.Para Freud, o humor de lidade. Para esses estudiosos, o humor é produto da
caráter hostil ou derrogatório procura atacar uma percepção de que um ato ou um fato se desvia de
pessoaou um grupo de pessoasvistas como diferentes uma norma ou uma expectativaque temossobre
ou inferiores. Ao representar o outro como um ser de como situações ou ações deveriam ser governadas.
menor estatura moral, como uma pessoa desprezível Se os autores ligados à teoria da superioridade
ou como um personagem cómico, nós alcançámos examinam os motivos pelos quais as pessoas riem,
CU satisfação psicológica. O humor hostil encobre nossa os estudiosos da teoria da incongruidade estão inte-
0 agressividade em relação ao outro, o que é uma forma ressados na forma como os indivíduos percebem o 5-
de superar inibições sociais que condenam expres- mundo. De certa maneira, ela pode ser interpretada
= 0 =
=

sões públicas de desprezo e ódio. Segundo Freud, o como produto das transformações ocorridas nos
=

<(

74 75
últimos séculos, quando lugares naturais foram subs- l)a mesma forma, crianças ocupando funções comu-
tituídos pela noção de prestígio social. O compor- Mente desempenhadaspor pessoas adultas também
tamento das pessoas no espaço público começa a provoca risos porque sabemosque elas não tiveram
ser visto como uma medida do valor delas. Além treinamento, nem possuem capacidade para exercer
disso, essa teoria se baseia em estudos Hnosóficos essas procissões.ó3
sobre processos cognitivos, elementos que analisam A incongruidade que gera uma situação cómica
os mecanismos responsáveis pela categorização de pode então se manifestar de várias formas. Pode
estímulos mentais.ó2 ser produto de falas e ates que apresentamalgum
A teoria da incongruidade pressupõe que o humor tipo de inconsistêncialógica, pelo uso de termos
pode ser uma subversãodas expectativasde como as que violam normas gramaticais, pela ação discor-
pessoas deveriam se comportar em certos lugares, da dante com a posição social de um indivíduo ou pela
forma como elas deveriam se vestir em certas circuns- simples violação de convenções culturais que regulam
tâncias ou das pessoascom as quais elas deveriam nossas expectativas. Nosso psiquismo funciona de
interagir. Vemos então que a teoria da incongruidade maneira a evitar formas de ambiguidade para que
tem um caráter comparativo porque parte da premissa nossas ações possam fazer sentido para nós e para os
de que o ato que produziu o humor não se adequa outros. Normas de propriedade regulam quase todas
à maneira como nós pensamos que o mundo deveria as dimensõesde nossas vidas; elas fazem com. que
ser organizado, o que inclui os lugaresque os dife- nos comportemosde uma maneira específica,uma
rentes grupos podem ocupar na sociedade.]iimos das consequências dos papéis sociais que desempe-
de pessoas de elevada posição social que tomam nhamos. Para Noêl Carroll, a incongruidaderespon-
banho de lama, de mulheres cuja aparência Hisica sávelpelo efeito cómico ocorre em função de uma
sugerepureza e inocência, mas que contam piadas violação de nossos sentidos, sejam nossos sentidos
de grande teor sexual. Achamos graça também de sensoriais, sejam nossos sentidos cognitivos, nossos
coisas que carecem de congruência lógica porque não julgamentos estéticos ou nosso senso de polidez.m
correspondem às conclusões a que nós chegaríamos.
Uma pessoa que pede para cortar a pizza gigante em 2.2 0 humor racista e seus mecanismos psicológicos
= 'Ê quadro pedaços ao invés de oito porque precisa comer
HO
menos nos faz iir porque esse pedido burla a noção Para Luvell Anderson, o humor racista tem
=
-
C..9
cn
:==
de que pessoas em dieta não deveriam comer pizzas. alguns aspectos importantes. Primeiro, está baseado =;.

76 77
em mensagensque reproduzem a concepção de que que as raças humanas não possuem o mesmo valor,
membros de certos grupos possuem defeitos morais, pressuposto que legitima diversas práticas discrimi-
motivo pelo qual sempre estão envolvidos em situações natõnas que procuram garanta vantagens materiais
ridículas. Segundo, eles'eproduz estereótiposnegativos e culturaisaos membros do grupo racial dominante.
sobre membros de grupos minoritários, o que reforça O humor racista é uma das formas que pessoasbrancas
a percepção social de seus supostos defeitos morais utilizam para referendar o sistema de opressão social
inatos. Embora nem todo humor que representa g'upas que as beneficiam, mas elas sempre argumentam que
raciais sda racista, há aqueles que são nocivos porque ele é algo benigno.
propagam imagens negativas de minolías raciais. Uma análisedo que estamoschamando
de
Terceiro,esse tipo de humor causa danos psicoló- racismo recreativo requer então a formulação da
gicos e sociais às suas vítimas. Elas se sentemmoral- seguintepergunta:o que torna uma piada racista?
mente degradadas por causa de piadas racistas, além Os estudiosos oferecem respostas distintas a essa
de soíterem danos materiais em função da percepção questão, mas vemos que elas se baseiam na noção de
negativaque as pessoas têm delas. Quarto, sua natu- que piadas racistas expressam ausência de respeito.
reza está relacionada ao contexto cultural no qual sua Eles argumentam que uma piada será racista quando
produção ocorre.'5 Quinto, o humor racista tem um produz dano moral às pessoas, posição que estáfunda-
caráter estratégico: ele existe para perpetuar os estereó- mentada no pressuposto de que ela reproduz a ideia de
tipos responsáveis pela marginalização moral e material que o indivíduo não é visto na sociedade como uma
de minorias raciais. Ele tem sido utilizado como meio pessoa que possui o mesmo valor do que as outras."
de legitimação social. Sexto, o humor racista também Uma piada é racista quando pretende causar
garante satisfação psicológica, especialmente para dano a uma minoria, quando pode ser esperado que
membros do grupo racial dominante. A reprodução de ela terá esse efeito e quando o dano infligido não
estereótipos negativos em relação a grupos minoritá- pode ser moralmente justificado. O humor racista
rios também cria um sentimento de solidaüedade enfie causa dano moral aos indivíduos porque afeta dire-
aqueles que detém poder político e cultural." tamente a expectativa deles de serem tratados de
Não podemos esquecerque o racismo e o humor forma respeitosa em uma sociedade baseada no reco-
são produções culturais. Isso significa que expressam o nhecimento do mesmo status moral dos indivíduos.
0
consenso dos grupos que têm o poder de criar e repro- Piadas são racistas quando propagam estereótipos
0 =
negativos sobre membros de grupos minoritários,
=

duzir sentidos. O racismo está baseado na premissa de


:(

78 79
o que concorre para a reprodução da animosidade estereótiposraciais que circulam dentro de nossa
cultura, tais como a suposta periculosidade do homem
social em relação a eles. Outros alegam que o humor
negro, a sexualidade exacerbada da mulher negra ou
pode ser racista quando está acompanhado de algum
a indolência dos membros dessa raça. Como veremos
tipo de malícia, o que implica uma atitude hostil ou
de desconsideração por minorias raciais. Por esse adiante, esses são os mesmos estereótiposque estão
motivo, certos autores argumentam que uma piada presentes nos casos de assédio moral praticado em
várias empresasbrasileiras.ó9
pode ser racista independentementedo dano causado
a indivíduos específicos porque propaga o ódio em Um ponto importante precisa então ser mencio-
relação a segmentos sociais, o que tem implicações
nado neste estudo. Tendo em vista o fato de que o
significativas na vida de seus membros.'; humor racista se baseia em estereótiposnegativos
Mas muitas pessoas alegam que mensagens sobre minorias raciais, ele não faz referência apenas
racistas não possuem a mesma significação social ou à posição subjetiva do indivíduo, ele não é um mero
psicológica quando ditas em um contexto cómico. produto do psiquismo de um indivíduo particular.
Estaríamos em um cenário distinto de uma situação Palavras comunicam valores culturais e não deixam
de agressão, porque o humor promove descontração. de disseminar sentidos negativos devido a uma
Muitos dizem que piadas depreciativasnão pode- suposta ausência de motivação psicológica. Elas
riam ser classificadas como racistas porque a atitude expressam um consenso social dos membros do grupo
maioritário sobre o valor de pessoas que pertencem a
psicológicado sujeitoque conta a piada e a daquela
minorias raciais. Por esse motivo, o sentido do humor
que ri é distinta de um comentário racista que tem o
objetivode ofender alguém. O verdadeiro motivo da racista deve ser interpretado dentro do contexto social
piada seria então o ridículo em que um membro de no qual ele está inserido e não apenas como uma
um grupo étnico ou racial se encontra, o que também expressão cultural que objetiva produzir um efeito
cómico. Piadas racistas só adquirem sentido dentro
poderia ocorrer com pessoasdo grupo racial domi-
nante. Na ofensa, o indivíduo está tomado pela raiva de uma situação marcada pela opressão e pela discri-
e procura atingir a pessoa naquelespontos que são minação racial; sempre temos a presença de pessoas
H que são minorias raciais ou que são identificadas
mais significativospara ela. Entretanto,uma análise =
a)
0
de piadasracistasdemonstrade forma clara que por serem membros desses grupos. A violência, o 5-
=
essa assertiva é altamente problemática. O humor desprezo e a condescendência são parte integrante =
c:
=

0 depreciativo provoca um efeito cómico porque evoca dessaspiadas. As pessoas que são o tema das piadas

81
80
são identificadas apenas por seu pertencimento racial. Analisemos, por exemplo, a seguinte piada: "Qual
Portanto, o efeito cómico está ligado às representa- é a diferença entre um negro e um cesto de bosta? O
ções culturais sobre os membros desse grupo." cesto!". Identiâcar pessoas negras com excrementos,
Vemos então que a avaliação do valor moral e uma forma de ofensa racial bastante comum no nosso
social de minorias é um elemento central do racismo país, reproduz a noção de que negros não são seres
recreativo; minorias raciais não aparecem nesse humanos, que eles são seresincapazes de desempenhar
contexto de uma forma meramente circunstancial. de forma competente quaisquer ocupações no espaço
Embora não se resuma a isso, a representaçãodelas público. Esse é o mesmo fator que diâculta o acesso de
seguea psicologiasocialdo humor racista:por meio negros ao mercado de trabalho: a noção de que não são
delas os indivíduos podem dar vazão a impulsos capazes de fazer coisa alguma.71
socialmente reprimidos, racionalizar preconceitos E então importante responder a pergunta: quando
que nuvem em relação a certos grupos, aHumar o o humor se torna algo imoral? Para David Benatar, isso
sentimentode superioridade que eles possuem, além ocorre quando causa dano às pessoas ou tem o potencial
de aHumar os vínculos sociais com pessoas que são do de fazer com que isso aconteça. Esse autor argumenta
mesmo grupo racial. Portanto, esses dois polos, ideo- que o termo dano, nessecaso, pode ser entendido como
logias sociais e psicologia individual, precisam ser uma violação do interesseque as pessoaspossuem de
examinados quando falamos sobre o humor racista, não serem desprezadas, insultadas ou vilipendiadas,
motivo pelo qual o caráter recreativo do racismo está uma expectativa constitucionalmente protegida. O
vinculado aos sentidos culturais que expressões derro- humor racista permite que estereótipos negativos sobre
gatórias adquirem denso de certo contexto. Assim, minorias raciais circulem de forma incessante,o que
o humor racista tem um papel importante na perpe- contribui para que estigmasafetem todos os aspectos
tuação do racismo enquanto sistema de opressão: da vida dos indivíduos, razão pela qual elesprovocam a
a reprodução de ideologias sociais que pretendem desigualdadesde status moral e de statusmaterial entre
manter uma determinada ordem racial. O humor grupos raciais. Também afeta de maneira significativa
expressa e consolida sentidos sociais que operam de a vida psíquica das pessoas, porque piadas racistas são
CU forma similar em outros contextos da vida dos indi- um exemplo do amplo sistema de opressão que diz n
0 víduos. Os estereótipos negativos presentes em piadas
racistas são os mesmos que impedem o acesso a opor-
cotidianamentepara pessoas de minorias raciais que
elas nunca gozarão de respeitabilidadesocial, indepen-
5-
= C0 =
=

tunidades profissionais e acadêmicas. dentemente de serem ou não cidadãs exemplares.


u.U

82 83
Ser reconhecido como um agente social compe- estábaseada em um argumento muito simples: piadas
tenteé um interessede todos os membrosde uma racistas são um tipo de mensagem,e como tal elas
comunidade política porque a respeitabilidade não se transmitem uma pluralidade de sentidos. Uma pessoa
resume à hora, mas opera também como fonte de branca que procura degradar negros por meio do
afirmação de nossa integridade psíquica. E impor- humor racista está dizendo que eles são inferiores,
tante ter em mente que danos não decorrem apenas mas também está aHumandoque brancos são neces-
de ações concretas. Na verdade, a mera existência de sariamente superiores a eles. O humor racista não é
estigmas já é uma ameaça à dignidade das pessoas. apenas um veículo de expressão de condescendência
Eles também são fontes de danos porque os seres ou de agressividade,é também uma forma encontrada
humanos amam a partir deles. Veremos adiante que pelas pessoas brancas para defender a posição privi-
os estereótipos presentes no humor racista são os legiadaque ocupam, razão pela qual não podemos
mesmos utilizados na injúria racial no espaço público ignorar seu caráter estratégico."
e também no mercado de trabalho, duas instâncias que O humor racista não pretende apenas fornecer
afetam diretamente o status social dos indivíduos.7z gratiHlcaçãopsicológica para pessoas brancas, ele
também almeja garantir a preservação de uma esüu-
2.3 0 humor racista e a manutenção tura socialbaseadano privilégioracial, o que requer
do privilégio racial a constante circulação de estigmas sobre negros.
Estigmas raciais não ocorrem apenas porque brancos
E importante termos em mente que o humor querem desprezar minorias raciais: esse é um requi-
racista não é apenas um meio de divulgação de sito essencialpara a manutençãodas várias formas
estigmas referentes a membros de minorias raciais. de privilégio associados ao pertencimento ao grupo
Em última instância, ele tem o propósito de aHumar racial dominante.A degradaçãomoral de grupos
a ideia de que os membros do grupo racial dominante subordinados acaneta a perda de oportuúdades mate-
são os únicos amoressociais merecedores de respeito, riais, oportunidadesque são direcionadasàs pessoas
de que são os únicos atores sociais competentes. brancas. Assim, o humor racista cumpre um papel
Dessa forma, o humor racista tem um objetivo impor- central na manutenção da esüati6cação social, uma
KO
tante: convencer os indivíduos de que os arranjos
sociais só podem ser preservados se pessoas brancas
vez que opera como meio de sua legitimação. Ele surge
nesse contexto como um investimento na identidade
5-
=
-
C.3
cn
==
forem mantidas em posições de poder. Essa afirmação branca, um lugar social que permite integraçãosocial
« '0 U. Bn

84 85
que influenciam diversos aspectos de nossas vidas
privilegiada. A branquitude é uma forma de identidade cotidianas, desde que elas não pertençam a mino-
que possui um valor económico significativo, razão rias sexuais.Devido ao fato de que essadinâmica
pela qual está sempre sendo estimulada, e as outras
identidades sempre sendo depreciadas. O pertenci- permanece invisível, muitos indivíduos argumentam
mento ao grupo racial dominante constitui uma forma
que chegaram ao lugar que ocupam em função de
suas capacidades. Infelizmente, essa invisibilidade
de identidade privilegiada porque permanece imune
aumenta ainda mais as relações assimétricas de poder
aos estigmas que limitam o acesso a oportunidades.
devido a seu caráter sistêmico. Essas pessoas podem
Devemos então ver o ser branco como um tipo de iden-
discordar frontalmentedo que afirmamos, mas elas
tidade social que é sistematicamente investido de signi-
certamente não querem ser tratadas como a polícia
ficações positivas em função dos benefícios trazidos às
trata negros neste país."
pessoas que são racializadas como brancas.7' Um exemplo pode nos ajudar a entender o papel
Como afimiamos anteriormente, ser branco
do humor racista na perpetuação dessa relação entre
designa uma identidade e um lugar social de vanta- identidadebranca e privilégio racial. A degradação
gens materiais e simbólicas. Elas não decorrem do sexual de membros de minorias raciais é um dos
esforço pessoal, mas em grande parte dos benefí-
exemplos clássicos do racismo recreativo. Piadas
cios associados ao status de membro do grupo que sobre a virilidade de homens asiáticos e de homens
concentra o poder político e económico. E importante
negros são muito comuns entre nós. Os primeiros
ah'mar que eles não são necessariamente procurados
são representados como pessoas que carecem desse
pelas pessoas brancas; elas também não estão neces- atributo em função do suposto tamanho diminuto de
sariamente alimentando esse sistema de dominação.
seus membros sexuais. Por sua vez, os membros do
O privilégio opera independentemente dos indiví-
segundo segmento são retratados como indivíduos
duos por causa do seu caráter estrutural. Ser branco
sexualmente bem dotados. Muitas pessoas riem histe-
garante solidariedade imediata com os membros do ricamente de comentários que retratam homens asiá-
grupo que controla praticamente todas as instituições
ticos como sujeitos incapazes de satisfazer mulheres
públicas e privadas, o que permite acesso a diversas
sexualmente, bem como de piadas que tratam homens
oportunidades. Julgamentos morais são feitos em
a)
ftlnção do simplesfato de o indivíduo ser branco: a
negros como atletas sexuais.7ó 5«
= Porém, precisamos analisar as várias dimensões
conexão entre ser branco e ser honesto significa que -=
= das mensagens que estão presentes nas representações
uma pessoa branca contará com a simpatia de pessoas

87
86
sexuais de homens asiáticos e negros. Ao pressupor Da mesma maneira, a construção do homem
que todos os homens asiáticos não são suficiente- negro como um animal sexual implica que ele carece
mente dotados, essas piadas estão dizendo que eles de capacidaderacional, requisitobásico para que
não são amantesideais. O mesmo se aplica aos uma pessoa possa desempenhar quaisquer atividades
homens negros. A alegada potência do homem negro proHlssionais.Estamos então diante de uma estratégia
sugere que ele é uma besta sexual, sendo então um que pretende garantir vantagens sociais não apenas
parceiro inadequado. Ao propagar a inadequação no espaço privado, mas também no espaço público,
sexual de negros e asiáticos, essas piadas estão real- vantagem essa que tem sido muito bem-sucedida.
mente dizendo que homens brancos são os únicos A construção do homem branco como parceiro
parceiros sexuais socialmente aceitáveis. Estamos sexual ideal garante a ele acesso sexual privilegiado
diante de um tipo de mensagem que tem o objetivo de às mulheres e sua representação como o único agente
valorizar sexualmenteo homem branco, embora ela social competente permite que seja visto como o
não os mencione. Nesse modo, essas piadas utilizam único capaz de comandar a sociedade. Quase todas
a degradação sexual para provar uma suposta superio- as posições de direção no setor privado são ocupadas
ridade dos membros do grupo racial dominante. por homens brancos, o que lhes garante vantagens
Mas a degradação sexual de minorias raciais materiais significativas. Essas vantagens materiais
presenteem piadas racistas tem outros propósitos. reforçam a percepção de que eles são parceiros român-
Ao reproduzirema ideia de que homens asiáticos ticos ideais, processo que os situa em uma posição
carecem de potência sexual, elas também estão afir- estrutural de privilégio.77
mando que eles não são suHlcientemente assertivas, O humor racista contribui para que arranjos
que eles não são agressivos, que eles não capazes de sociais sejamvistos como expressão do funcionamento
se impor, qualidades culturalmente associadas à vüi- normal da realidade ao referendar o entendimento de
lidade. Portanto, mais do que representar homens que as pessoas estão no lugar que estão em função de
asiáticos como parceiros sexuais inadequados, piadas esforço pessoal. A influência dos círculos de relações
dessa natureza sugerem que homens asiáticos não aos quais elas pertencem em função da raça, o perten-
são capazes de aduar de forma competente no espaço cimento a um grupo racial cujos traços são tidos como e
HO público, que eles não podem exercer funções que referências universais e a construção desses traços
como parâmetros para o julgamento do valor moral
=-
=c exigem capacidade de comando, algo também corre-
lacionado com a virilidade. de membros de todas as outras raças faz com que as
-« 'o

88 89
várias formas de privilégio racial permaneçam enco-
bertas. Mais do que isso, a correlação entre princípios
liberais e narrativas culturais permite a celebração do
méüto individual como uma arma retórica destinada
a combater quaisquer políticas públicas que procurem
promover a integração de minorias raciais. O humor
racista, ao mesmo tempo que permite a expressão da
hostilidade racial, também possibilita a reprodução
de estigmas destinados a afirmar a identidade branca
como expressãoda superioridade moral.
3. RACISMO RECREATIVO COMO POLÍTICA CUUURAL
tratamento desfavorável a eles em outras situações.
Vemos então que, mais do que simples mensagens
que fazem as pessoas rirem, o humor assume a
forma de um mecanismo responsável por medidas
que legitimam arranjos sociais existentes. Os estereó-
tipos derrogatórios sobre minorias raciais expressam
então entendimentos sobre os lugares que os diversos
grupos sociais devem ocupar, as supostas caracterís-
ticas dessaspessoas, os limites da participação delas
na estruturapolítica, a valoraçãoculturalque eles
podem almejar e ainda as oportunidades materiais às
quais podem ter Rcesso.78
Ao contrário do que muitos atores sociais As observações elaboradas anteriormente nos
pensam, o humor não é mero produto de ideias que permitem afirmar que produções humorísticas
surgem espontaneamente nas cabeças das pessoas. As precisam ser compreendidas como uma forma de
piadas que elas contam são produtos culturais, são política cultural porque são utilizadas para justiHlcar
manifestações de sentidos culturais que existem em diversas hierarquias sociais. Pensamos que o racismo
dada sociedade. Por esse motivo, o humor não pode recreativo é uma política cultural característica de
ser reduzido a algo independentedo contexto social uma sociedade que formulou uma narrativa espe-
no qual existe.A produção do efeitocómico depende cífica sobre relações raciais entre negros e brancos:
dos significados culturais existentes nas mensagens a transcendência racial. Esse discurso permite que
que circulam nas interações entre os indivíduos. Ele é, pessoas brancas possam utilizar o humor para
portanto, um tipo de mensagem que expressa o status expressar sua hostilidade por minorias raciais e ainda
cultural de que as pessoasgozam em uma determi- assim aHumar que elas não são racistas, reproduzindo
nada comunidade.
então a noção de que construímos uma moralidade
Uma análise histórica das produções humorís- pública baseada na cordialidade racial. Esse projeto =
= 'g ticas em nossa sociedade demonsüa que elas sempre
HO
reproduziram ideias derrogatórias sobre minorias
de dominação racial expressa a aversão que brancos 5«
sentemem relação a negros,mas permiteque eles
raciais, as mesmas que eram utilizadas para conferir =
-
G.3

cn
:==
'0
ainda assim apareçam como pessoas comprometidas

94 95
com a igualdade. Dessa forma, o caráter aversivo e de várias produções humorísticas que ao longo da
o caráter simbólico do racismo recreativo operam nossa história referendaram representações especi-
paralelamente para referendar uma ordem política ãcas da relevância da raça na nossa nação. Em certos
que cria mecanismos culturais e legais para impede Momentos o humor racista refletia as concepções da
a mobilização política em torno da questão racial. iiúerioridade essencial da raça negra, motivo pelo qual
Analisaremos neste e nos próximos capítulosmani- seus membros deveriam permanecer em servidão. Em
festaçõesdo racismo recreativoem duas dimensões. outros, ele surgia para legitimar medidas eugênicas
o que nos permitirá observar como sentidosculturais baseadas na classificação da herança africana como
motivam atitudes profundamente nocivas para as um obstáculo à transformação do nosso país em uma
relações sociais e para a saúde mental de membros nação branca, o que supostamente tuna o progresso
de minoiías raciais. Examinaremos como o racismo nacional. O humor racista aparecia nesse contexto
recreativo aparece em programas humorísticos e em para afirmar a necessidadede uma política do bran-
decisõesjudiciais, o que nos permitirá explorar suas queamento para que essas pessoas, vistas como infe-
dimensões culturais e institucionais. riores, pudessem adquirir os elementos necessários
E muito importante observar que os estereó- para serem gradativamente integradas à vida social
tipos descritivos e prescritivos expressos em piadas à medida que se aproximassemdas pessoasbrancas
racistas são produto de percepções que naturali- por meio da miscigenação." Verificaremos entãouma
zaram a condição inferior do negro na nossa socie- continuidadeem todas essas formas do humor racista
dade. Como afirma Gislene Aparecida dos Santos, a nas manifestaçõesdo racismo recreativo.
condição subordinada da população negra brasileira Mais uma vez, os estereótipos presentes em
deve ser compreendida a partir das diversas políticas piadas e brincadeiras racistas reproduzem imagens
culturais que foram utilizadas para legitimar dife- negativasque foram utilizadas na nossa história para
rentes processos de marginalização racial. Entre elas legitimar a opressão de minorias raciais. Eles possuem
estavamas noções da iiúerioridade moral e intelec- um elemento comum a todas as ideologias criadas
tual, de uma sexualidade degradada, da incapacidade nestepaís para excluir negros e indígenas: a noção de
de viverem dentro de uma sociedade organizada, que membros desses segmentos não são atores sociais
C.D
HO
';;
da indolência constitutiva, da inferioridade estética, competentes. A ideia da inferioridade moral do negro
imagens que os aproximavam mais de animais do que e do indígena estava por trás das doutrinas religiosas =
de seres humanos.79Essas ideias estavam no centro que foram utilizadas para legitimar a escravidão; a
G.9 :==

96 97
noção da indolência dos membros dessesgrupos era são exemplos de política cultural porque veiculam
referendada por teorias científicas que motivaram ideiasque permitem a transformação da branquitude
políticas migratórias que procuravam substituir o como um tipo de capital cultural, e a negritude coma
üabalhador nacional pelo trabalhador estrangeiro: elemento de inferioridade moral. Assim, sentidos
a associaçãoentre feiura e negritudepreocupavaas culturais são transmitidos todo o tempo por um
autoridades que promoveram políticas eugênicas instrumento que influencia a percepção .de dezenas
destinadas à eliminação da influência africana na de milhões de pessoas, sendo que ele é integralmente
nação brasileira, o que era visto como condição para o controlado por membros do grupo racial dominante.
progresso nacional.8: Isso signiâca que o humor cons- Eles o utilizam para manter o status cultural privi-
truído a partir de estereótipos raciais produz o mesmo legiadode que gozam, seja pela afirmação direta
efeito que discursos culturais e políticos destinados a da inferioridade moral de minorias raciais, seja pela
reproduzir a opressão racial: a pxesz/nfão
de geleaPe w completa invisibilidade dessessegmentos. Os meios de
pessoas brancas são merecedoras de respeitabilidade social comunicação são, portanto, um meio pelo qual se cria
porque só elas devem ser cou.sidwadas como agentes capazes um ca/npo /epxese/zfaaofza/no qual grupos lutam pelo
de aduar deforma competente no espaço público, o que, no controle sobre os significados das imagens de seus
contractoda modernidade, é um requisito.Mndamentalpara membros. Também vemos nessa instância as mesmas
o reconhecimento da plena humanidade dos indivíduos. relações de poder que permeiam outras dimensões da
vida social, sendo que ela tem importância significa-
3.1 Racismo recreativo nos meios de comunicação tiva porque influencia diretamentea reputação social
dos vários grupos raciais."
Dizer que o racismo recreativo é um tipo de polí- A televisão como expressão de um campo repre-
tica cultural significa reconhecer seu caráter discursivo. sentacional levanta debates sobre os sentidos das
implica a necessidade de examinarmos os processos representações sobre grupos raciais em função de sua
responsáveis pela produção das representações derro- relevância para a formação da percepção dos indiví-
gatóüas sobre minorias raciais. A televisão tem sido duos nos mais variados contextos. As imagens produ-
um dos meios mais importantes na criação de signifi- zidas nessemeio de comunicação podem ser formas de =
8
KO 'Ê cações culturais sobre grupos minoritários, um lugar de disseminação de estereótipos descritivos e prescritivos
divulgação de representações cotidianas da negritude sobre grupos raciais. Essas falsas generalizações não =
em nossa cultura. As imagens exibidasna televisão fazem apenas referências à questão racial. O tema da
1« 'U

98 99
raça aparece associado a diversas outras questões eu coisas, a percepção das pessoas sobre quais grupos
discursos que procuram referendar medidas de segu- merecem atenção estatal e apreço social.w
rança pública, as respostas do governo a demandas de Mas não podemos esquecer o fato de que
direitos, a valoração moral dos diversos grupos que imagens negativas também são construídas a partir
fazem parte da comunidade política. Assim, mais do da prática da invisibilidadede minorias raciais,
que representações específicas da raça, a televisão é o que cria nas pessoas a percepção de que apenas
um lugar de legitimação de vários outros aspectos pessoasbrancas podem ocupar posições sociais de
responsáveis pela reprodução da hegemonia social destaque. Obviamente, a presença hegemónica de
das pessoas brancas. Um sistema de opressão como o pessoasbrancas nos meios de comunicação decorre
racismo não opera isoladamente;o domínio de certos da lógica do mercado: todas as produções televisivas
segmentos sobre outros também depende da exclusão são dirigidas à classe média branca e à classe alta
económica, da marginalização cultural e da ausência branca porque partem do pressuposto de que apenas
de representação política.83 essessegmentostêm poder de consumo. De qualquer
As representações da negritude na televisão brasi- modo, devemos analisar os meios de comunicação
leira são em grande parte as mesmas que sempre esti- como um espaço representacionalde produção de
veram presentes nas formas de expressão do humor cultura popular, um lugar no qual as sensibilidades
racista na história da nossa imprensa. Essas repre- das pessoas são formadas a partir das relações de
sentações variam de acordo com o sexo. Homens poder existentes na sociedade. E importante também
negros são sempre imaginados como pessoas avessas enfatizar,como diz Herman Gray, que a produção
ao trabalho, com especial disposição para a bebida e da negritude depende dos discursos sobre a criação
com extremo interesse sexual por mulheres brancas. da branquitude. Essa outra produção discursiva
Mulheres negras são também retratadascomo corresponde aos ideais morais de superioridade dos
sujeitos excessivamentesexualizados e infantili- membros do grupo racial dominante, uma vez que
zados. Assim, muitas produções culturais retratam as identidades são construídas a partir de uma lógica
a figura do negro a partir de imagens estáticas de oposicional baseada na marginalização da diferença.
pessoasque se apresentamda mesma forma, em Negros não podem ser apresentadoscomo pessoas n
8
no 'Ê todas as situações e em todos os tempos. Essas repre- que possuem o mesmo status cultural e material que 5«
=c sentaçõescriam sentidos que são reproduzidos em brancos, porque isso contradiz a lógica da diferen- ;-=aB
- cn diversas áreas da vida social, deHlnindo, entre outras ciação que governa o processo de racialização.'s
G.3 :=:
L.b Bn
« ':a:l

100 101
O que estamos chamando de racismo recreativa que expressam uma clara aversão por negros, embora
não pode ser visto como um tipo de comportamento apareçam na Forma de humor.
individual porque está presente em diversas formações
culturais, notoriamente nos meios de comunicação. 3.1.1 7?ão ]Uaca/é, ole/o
Embora essas manifestações sejam apresentadas como Tião Macalé era um personagem de programa
humor, elas são manifestações de estereótipos que humorístico bastante popular algumas décadas atrás.
reproduzem conteúdos racistas sobre grupos minoritá- Era interpretado por um atar negro que tinha cerca de
rios. Observaremos que as generalizações sobre negros cinquenta anos, indivíduo que aparecia na maior parte
presentes nesses programas humorísticos são as mesmas dos quadros sem a maioria dos dentes superiores e infe-
que animam as formas racistaspresentesnas decisões riores. Esse fato particular era um ponto central dos
sobre injúria racial, o que demonstra a continuidade quadros nos quais aparecia, uma vez que sua feira era
cultural de uma forma em relação a ouça. Também o elemento do efeito cómico que se pretendia produzir.
devemos estar atentos ao fato de que os conteúdos desses Assim, quase todos os quadros nos quais aparecia
estereótipos raciais possuem uma continuidade histó- estavam marcados pela ideia da incongruência, pela
rica. Diversas associaçõespresentesnas várias formas violação das percepçõesculturais de quem pode ser
de racismo recreativo reproduzem noções que estavam considerado como bonito, de quem pode ser visto como
associadas com os proJetos eugênicos governamentais um parceiro sexual aceitável, de quem pode ocupar
nas píiineiras décadas do século passado. Além disso, posições de prestígio. Observamos na utilização de sua
essas formações racistas expressam ideias que estão aparência característicascentrais do humor racista: a
claramente interligadas, sendo que a associação entre associação entre 6eiura e negritude, entre negritude e
raça, estética e moralidade está presente em todas elas. imoralidade, entre negritude e inferioridade.8óMais do
Alguns elementos importantes caracterizam produções que isso, suas várias expressões faciais tinham o propó-
humorísticas sobre negros na cultura popular brasileira: sito de fazer com que ele se assemelhasse a um símio,
a incongruência entre os objetivos dos membros desse um dos principais traços de estereótiposraciais, a asso-
grupo e os lugares sociais que nossa sociedade auibui a ciação de negros com animais. Tião Macalé exempli-
eles, o retrato de pessoas negras como o oposto do ideal ãca um dos pontos característicos do imaginário social
5-
CU

estético e moral caracterizado pelas pessoas brancas sobre os negros: a noção de que eles não são parceiros
0
= e também diversas 6omlas de representações simbó- sexuais socialmente aceitáveis em função de sua raça.
= =
0
licas que fundamentam narrativas racistas, aspectos Como outros personagenshumorísticos, seus traços
<c

102 103
fenotípicos eram exagerados de forma propositada brasileira. Seus criadores tinham o propósito de
para enfatizar a distância dele com o ideal de beleza gerar um efeito cómico a partir de sua apresentação
branco. Assim, o humor produzido dentro dos quadros como malandro, um dos principais estereótipos sobre
estava centrado na tentativa de reproduzir um senti- negros pobres que circulam na sociedade brasileira.
mento de repugnânciapela aparência do ator, o que Seus quadros eram exemplos de como o humor pode
era conseguido pelo escurecimento de sua pele, que ser construído a partir da disseminação das ideias
o tornava ainda mais negro, ainda mais grotesco aos de qualidades necessariamente associadas a certos
olhos dos espectadores.87 grupos e também dos lugares que eles podem ocupar
De forma característica do humor racista brasileiro, na sociedade. Mussum estava quase sempre em
a negritudede Tido Macalé operavacomo um meio um bar ou em uma situaçãoque envolviabebidas.
para negar sua masculinidade, mas também sua huma- Em qualquer contexto que estivesse,sempre falava,
nidade. Ele era comparado a animais em muitas situa- andava ou gesticulava como uma pessoa bêbada.
ções. Associações entre negros e macacos eram feitas Aliás, uma das característicasque mais faziam as
com sequência no programa no qual aparecia de fomla pessoasrirem era exatamentea forma como ele
direta e também indireta. Os personagensbrancos falava, característica de quem está embriagado, mas
diziam que animaisnão poderiamenfiar no cinema, aqui em um tom claramenteexagerado.Ele era um
mas que abririam exceçãopara ele. Eles também se refe- exemplo do tipo de humor construído em torno da
riam a outros homens negros como colegasde galho de premissa da superioridade do homem branco em
árvores de pião Macalé.a8Ele era retratado de forma relação ao homem negro porque os personagens
infandlizada, como pessoapouco inteligente,ou como brancos eram sempre representados como pessoas
a figura típica do malandro ou ladrão, o indivíduo que sóbrias. Mussum era a representação cultural da
sempre procura ter uma vida fácil trapaceando ou enga- clássica Hlgurado malandro, personagem associado
nando as pessoas.89Vemos que os quadros humorísticos à vadiagem e à bebida. Vários quadros mostravam
nos quais ele aparecia o retratavam em situações ridí- de forma clara como essa Êlgura era construída para
culas, o que permitia pessoas brancas rirem e afirmarem produzir efeito cómico. Ele criava estratégiaspara
seu senso de superioridade. assediar mulheres brancas, para não pagar as contas
HO do bar nos quais bebia, para conseguir ter acesso a 5-
3.1.2 ]14#ss#m, o óêóado bebidas. Quase todas as situações em que aparecia =
C/3 0
G.9 ::=
Mussumfoi provavelmente
um dos mais giravam em torno da possibilidade de ele conseguir
« '0
populares personagens humorísticos da televisão atingir esse objetivo.ç'

104 105
Referências derrogatórias à negritude também exemplo, em uma delas, Mussum aparece como uma
mulher branca anunciando um creme de beleza. Ele
estavam presentes nas situações retratadas, ocasiões em
diz que a pele dele tinha espinhas, sardas, manchas,
quejogos de palavraseram utilizadospara mostrara
motivo pelo qual as pessoas o chamavam de crioulo.
incongruência entre manifestações de comportamento
Ele apresentaum pote de tinta preta e diz que a pele
e expectativassociais. Ele dizia que era um homem
preto,mas não uma ambulânciapreta, razão pela qual dele melhorou muito depois que passou a usar um
não poderia levar uma mulher grávida para o hospital; produto que se chamava pichelina. Ele então pergunta
outros personagenssempre se referiam a ele com como as pessoas passaram a chama-lo depois do
uso do produto. Um dos personagens brancos grita:
termos derrogatórios como "negro" ou "crioulo"; sua
'frango de macumbal".93 Diversos traços do humor
inteligência era necessariamente inferior em função
racista estão presentes nessa cena. Seu elemento
de sua raça e sua cor de pele era também apresentada
cómico tem início com sua apresentaçãocomo uma
como algo grotesco que precisavaser corrigido ou
como motivo de deboche. Comparações com ananás mulher branca, uma paródia de uma propaganda de
também estavam sempre presentes.91Como no caso cosméticos vendidos na época. Enquanto o produto
de Tião Macalé, os relacionamentosque tinha com tinha o propósito de melhorar a aparência de pessoas
brancas, o quadro procura fazer as pessoas rirem ao
mulheres negras também eram representadosde forma
negativa. Essas mulheres estavam longe do ideal das tornar uma pessoa negra ainda mais negra, o que
mulheres brancas que sempre eram retratadas como deveria então produzir o elemento jocoso porque
um ideal estéticoe moral. Mulheres negras nunca eram isso acentuada ainda mais sua negritude,elemento
culturalmente representado como esteticamente desa-
parceiras desejáveis. Ele procurava sempre se afastar
delas e tratava as mulheres brancas como tipos ideais. gradável. Observamos aqui uma clara manifestação
De qualquer modo, os quadros nos quais aparecia apre- do caráter simbólico do racismo: a representaçãoda
sentavam a opção por ele como algo cómico porque negritude como algo ridículo, como algo estetica-
uma mulher branca escolheuum homem negro ou mente inferior, o que convence pessoas brancas da
própria superioridade moral.
porque ele teria conseguido se redimir socialmente ao
alcançar a atenção de uma mulher branca.9z
MO
A interiorização estética e moral da negritude 3.1.3 Hera )krõoJ a ólc&aprefa
Verá Verão foi ouço personagem humorístico
5-
=c estavasempre presente,mas algumas cenas conse- =
G.0 0 bastante popular da televisão brasileira. Ela era na
CD guiam ser especialmenteracistas e degradantes. Por
--« 'o

106 107
verdade um homem negro homossexual bastante alto,
Verá Verão se concebiacomo uma mulher. Ela
com um corpo muito esguio, que se apresentavacomo sempre fazia questão de dizer que era mais atraente,
mulher. A tonalidade bem escura de sua pele era um mas feminina, mais bonita do que as mulherescom
aspecto ao qual estavam ligados vários comentârtos as quais disputava os homens brancos que apareciam
que eram feitos para provocar risos nas pessoas. Sem nos quadros. Essa fHa transmitia a mensagem de que
dúvida alguma, sua sexualidade era o ponto de partida todos os homossexuais são efeminadas e de que há
do qual outros estereótiposeram construídos para criar uma relação direta entre orientação sexual e identi-
o efeito cómico. Um ponto comum aparecia em todos dade de gênero. Poi'tanto, todos eles são homens que
os quadros nos quais o personagemaparecia: a sexua- querem ser mulheres. Dessa maneira, Verá Verão
lidade exacerbada, um dos elementos mais comuns em representava, ao mesmo tempo, uma imagem cari-
piadas sobre pessoas negras. Verá Verão sempre era cata da mulher negra e do homossexualnegro, o que
apresentada a diferenteshomens em relação aos quais permitia a pessoas brancas heterossexuais se sentirem
ela sempre fazia comentários bastante diretos, demons- superiores a negros e homossexuais, grupos que eram
trando. assim, seu interessesexualpor eles. E impor- assim retratados como inferiores e ridículos. Seu
tante frisar que todos eles eram brancos, outro elemento personagem era, portanto, um tipo de humor cons-
central do humor racista brasileiro: a busca do parceiro truído a partir da marginalização de minorias dentro
branco como salvação social de pessoas negras. de minorias.95
Em todas as situações ela se mostrava pronta Devemos estar atentosao fato de que o personagem
para se enganarem relações sexuais com homens que sempre recusava ser chamada de bicha, embora incor-
ela tinha acabado de conhecer, o que reforçava a ideia porasse exatamente todos os traços desse tipo social:
o homem homossexual efeminado. Esse era outro
bastante diftmdida da promiscuidade de homossexuais
e também da busca pelo branqueamento por meio do motivo em função do qual as pessoas riam de forma
casamento com pessoas brancas." intensa: porque ela negava ser exatamente aquilo que
Percebemos
nos quadrosem que Verá Verão fazia questão de demonstrar todos os dias. Seu protesto
aparecia uma alusão direta à ideia difundida da sexua- contra o rótulo social era seguido da conârmação
. lidade exacerbada de homossexuais. Isso exige uma desteporque era um homem imenso se apresentando e
F análise das formas como as relações entre homosse- como mulher. Esse era então um dos traços cómicos 5«
g xualidade e feminilidade eram apresentadas nesse do personagem: o contraste entre o estereótipo do
= =
8 programa humorístico. Como era sempre enfatizado, homem negro como exemplo último da masculinidade
8
108 109
e a extrema feminilidade do personagem. Portanto, um associação da negritude como a antítese do ideal esté.
homem negro fora de seu lugar social.9ó taco que vigora dentro da sociedade brasileira, ideal
E interessante observar que Verá Verão estava integralmente associado à pessoa branca. Os rotei-
sempreacompanhada de um homem negro que se ristas reproduziam um ponto importante dos estereó-
apresentava como seu companheiro. Ele cumpria tipos raciais: a imagem da mulher negra como um ser
outra função cómica no programa humorístico: o da cuja subjetividade gira em torno do sexo. Obviamente.
masculinidade negra subordinada. O personagem associações racistas baseadas na relação entre negri-
Azeitona era um homem negro bem pequeno e com tude e escuridão, negritude e animais, negritude e
voz de criança, o que acentuavaa distânciado ideal sexo também estavam presentes nas situações nem
da masculinidade hegemónica. Certas mulheres que ela aparecia
declaravamseu amor por ele, o que tinha como
propósito fazer as pessoas rirem, porque ele era um 3.1.4 Adelaide, a desvairada
homem pequeno e também negro, sendo, portanto, Adelaide era também personagem de um
o oposto da masculinidade ideal apresentada no programa de televisão muito popular no qual circu-
próprio programa: o homem branco. Obviamente, lavam vários elementos do imaginário social sobre
essas mulheres eram brancas, o que enfatizava ainda mulheres negras pobres. IJm deles era sua feiura. o
mais o que era apresentadocomo situação ridícula: o que era sempre associado à sua pobreza. Ela era inter-
desejo sexual de uma mulher branca por um homem pretada por um homem que tinha o rosto pintado de
que, além de negro, era tambémbem pequeno,o preto. Como não poderia deixar de ser, seu nariz era
contrário do ideal da virilidade.9' significativamente aumentado, seu cabelo não era
Como não poderia deixar de ser, a questão racial penteado e suas roupas eram velhas. Observamos
tinha um papel preponderante em todas as situações. nas situações em que ela aparecia uma variedade de
Da mesma forma que os outros personagensnegros manifestações de formas de humor. O tema da incon-
que sempre estavam em busca de parceiros brancos, gruência estava sempre presente nas situações em que
grande parte do efeito cómico provocado por Verá ela se apresentava:ela era uma pessoa pobre, mas
CU Verão se baseava em sua pretensão de ser um objeto tinha bens incompatíveis com sua condição social.
de interesse sexual de homens brancos, o que adquiria
5-
a)
0 O personagem também era construído para reforçar
= um efeito absurdo porque Verá Verão era um homem a superioridade moral de pessoas brancas de classes
= C
0 =
e, além disso, negro. Ou seja, mais uma vez temos a superiores porque ela representava vários elementos
<(

110 111
considerados qual o ator fazia questão de acentuar certas expres-
que ao longo do tempo vêm sendo sões faciais para acentuar o que era então apresen-
como traços ligados a pessoas inferiores: a impureza tado como uma aparência horrenda. Sua cara pintada
moral associada à pobreza e a degradação moral
de preto e seu nariz de borracha foram elaborados
como produto da condição racial: . para fazer as pessoas riem por ela representar o que
Adelaide estava sempre pedindo esmolas para
é sempre referido como exemplo máximo da feiura.
passageiros do metro para que pudesse comprar coisas Outros personagensfazem comparaçõese comentá-
para seus vários filhos. Ela encarnava o estereonpo rios derrogatórioscomuns na vida social brasileira
segundo o qualpessoas pobres não conseguemcontrolar em relação a negros: associam sua aparência Hlsica
sua vida sexual, motivo pelo qual têm muitos filhos,
com piche, com urubus, com fezes, com escuridão
dependendo assim da assistência de outras pessoas todas referências simbólicas que ao longo do tempo
ou das ir.stituições estatais. Embora estivessepedindo
relacionam a negritude com algo negativo, como
pequenas quantias de dinheiro para os passageiros, ela indício de uma moralidade inferior, como ausência
bilha celulares e tablets, o que fazia as pessoas se recu- de humanidade.ioo
sarem a dar qualquer ajuda, sendo que algumas vezes
Se as pessoas brancas às quais ela pedia esmola
ela dava dinheiro para os passageiros brancos.98 A
eram referências de respeitabilidadesocial, Adelaide
incongruência também surgia como elemento cómico
representa o que pode haver de mais desprezível na
em função de sua pretensão de se comparar a pessoas sociedade: uma mulher negra pobre. A convergência
brancas de classe média, indivíduos sempre represen'
de estereótiposraciais e sexuais fazia com que essa
tados como o extremo oposto dela. Adelaide ridicula-
condição fosse associada à falta de higiene, à incapa-
rizava mulheres brancas que estavam no metro, afir- cidade de controle da sexualidade, à total indolência.
mando que elas não estavam à altura do ideal no.qual
Sua filha tinha a mesma aparênciae os mesmos
se miravam. O elemento cómico também deconia do
modos que causavam constrangimentonas pessoas.
fato de que a personagemnão consideravaelementos A menina também tinha sua cara pintada de preto,
básicos de etiqueta social. As pessoas ficavam fllriosas
seu cabelo era crespo e seu nariz era acentuado, para
porque ela fazia referências à aparência delas, à roupa deixar clara a distância do ideal estéticorepresentado
U =
.. que vestiam, o que deixava todos em uma situação de
e? grande desconforto.99 . . l..
pela mulher branca. Como não poderia deixar de ser, 5-
a desqualificação sexual de minorias raciais aparece
= A negritude da personagem era o fator-chave aqui como outro fator importante para a produção
=
8 nesse processo. É claramente um humor Hisico, no l.u a--

8
113
112
do humor racista. Embora a personagem algumas
vezes se mostrasse mais perspicaz do que as pessoas
brancas, ela reproduzia a imagem folclórica da mulher
negra desvairada que, obviamente, era casada com
um cachaceilo.ioi

H
l.g.J ,«

HO
n '=
=c 0
C/3
&.9 :::
-l« '0

114
4. INJURIA RACIAL NA DOUTRINA
E NA JURISPRUDÊNCIA
Várias decisões judiciais referendam esse argumento e
impedem que atos claramente racistas sejam punidos.
Vemos também em muitos casos a utilização dessa
tesepara rqeitar o racismo institucional.A injúria
racial é algo comum no ambiente de trabaUio.De
forma similar ao que acontece em casos da justiça
criminal, as empresas processadas sempre procuram
descaracterizara injúria afirmando que os incidentes
em questão são apenas brincadeiras que não podem
ser interpretadas como ofensa à honra pessoal.
Examinaremos neste capítulo uma série de deci-
sões da justiça criminal e da justiça do trabalho que
O fenómeno que estamos analisando neste livro tratam casos de injúria. Essa análise será mais uma
se manifestaem diferentessetoresda vida social evidência de que o racismo recreativo pode ser carac-
brasileira. Ele está presente em várias produções terizado como um elemento da cultura pública brasi-
culturais e também em formas de interação social, leira. Além de identificar estratégias utilizadas por
seja no contado entre pessoas que possuem relações atoresjurídicos para descaracterizara relevânciado
sociais regulares, sda entre pessoas que são inteira- racismo nas relações sociais, também examinaremos
mente estranhas. Muitas vezes, as manifestações de como esse tipo de racismo opera a partir de estereó-
humor racista geram processosjudiciais, o que torna tipos. Nosso interesse é nos meios a partir dos quais
a análise deles muito importante para nossos propo- indivíduos recorrerem a uma representaçãoda socie-
sitos. O ponto comum a todos é a afirmação feita por dade brasileiracomo uma nação marcada por rela-
diferentes atores envolvidos nesses processos de que o ções cordiais para encobre o racismo.
evento não pode ser compreendido como ato racista
por ser uma mera expressãode humor. O humor, 4.1 Definição jurídica do crime de injúria
mesmo que tenha um tom racista, tem sempre um
caráter benigno. Muitos usam esse argumento em A doutrina classiHlcaa injúria como crime que 5-
casos de injúria racial, o que fundamentaa defesa consiste na ofensa da dignidade e do decoro de ;aB
-=
da ausênciado elementosubjetivodo tipo penal uma pessoa por meio de expressãode desprezoe

119
a um indivíduo. A injúria será considerada dínzfcz
nesse
desrespeito. A mensagem daquele que a pratica
caso, mas pode assumir a forma //zdznefa
quando uma
expressa imagens negativas em relação à vítima,
terceira pessoa é atingida a partir de uma ofensa diri-
o que afeta a concepção que ela tem de si mesma.
Dessa forma, afirmam os autores, a injúria viola o gida a alguém. Ela será e#)/alfa ou /lnp/ü/fase expressar
sentimento individual de dignidade, ideal que pres- ofensa a uma pessoade forma direta ou encoberta.
Esse crime será consumado quando o agentepassivo
supõe um senso de honorabilidade, algo que possui
tomar conhecimento da imputação negativa que Ihe
valor social significativo. O crime em questão se
6oiatribuída pelo sujeito ativo do crime.'"
consolida quando a pessoa toma conhecimento da
Um elementocentral do crime de injúria é a
mensagemdo sujeito ativo, o que prova a pertur-
consideração sobre sua motivação psicológica, o que
bação de seu sentimento de dignidade e decoro. Esse
inclui a análise dos tipos de a/limasque conduz uma
delito possui um caráter imputativo: ele consiste
pessoaa ofender a honra e o decoro de outra. Há
na atribuição de qualidades ou condutas negativas conüovérsia entre doutrinadores sobre a necessidade
a uma determinada pessoa, o que pode abalar a
de identiHlcaçãode um a/zzmz/s
específico para a carac-
representação de dignidade que um indivíduo tem terização do crime sob análise. Alguns afirmam que
de si mesmo. Ela pode assumir formas diversas,
o anímm /ngunandzé o elemento específicodo crime
tais como expressõesverbais,escritasou simbó-
de injúria, motivo pelo qual ele não pode ser caracte-
licas. Obviamente, sua caracterização depende do
rizado na sua ausência. Outros argumentam que não
contexto no qual a expressão de desprezo ocorre,
podemos confundir o elemento subjetivo do tipo com
porque só dessa maneira poderá ser verificada se a
o próprio tipo penal, o que exige uma consideração
ação do agenteteve o propósito de ofender a honra
ou o decoro da vítima.:" da situação específica na qual o crime ocorreu. Por
exemplo,para Cezar Bitencourt, o a/zimzzs/nyz/r/anca
é
Esse crime pode ser executado de diversas
uma exigência para a caracterização de crimes contra
maneiras, sendo, portanto, um delito de forma livre.
a honra; o dolo de dano seria um requisito para a exis-
De acordo com Luiz Regas Prado, a mensagem que
tência do crime. Além dessa manifestação específica
tem o propósito de atingir a honra e o decoro de uma
do dolo, seria necessária a presença do que ele chama n
N pessoa pode ter expressão por vários meios: gestos,
de elemento subjetivo especial do tipo que é a intenção
Ê palavras, imagens, desenhos, escritos ou caricaturas. especíâca do agente em injuriar uma determinada
= E, portanto, um crime que não se resume a um tipo =
= pessoa. O mesmo autor enfatiza a importância do
ã de ofensa proferida por meio de palavras diretamente
8
121
120
a/z/mz/s fnyuna/zdí principalmente no caso da injúria empregandomeios que são aviltantespor sua natu-
qualificada, situação na qual precisa ser demonstrada reza e também pela forma utilizada.:"
a intençãodo indivíduode ofenderalguémpor meia O crime de injúria não precisa ser nominal porque
da menção a certos traços específicos.:" seu conteúdo pode permitir a identiHlcaçãoda pessoa
Juristas estrangeiroscomo Carlos Fontán Balestra à qual o comentário desabonador se dirige. Portanto,
compreendemque o dolo é um elementosuficiente a menção genérica a grupos sociais não pode ser
para a caracterizaçãodo crime de injúria, pois Ja caracterizada como injúria porque ela implica a ação
demonstra o conhecimento de que a ofensa poderá contra uma dimensão de um indivíduo específico.i07
atingir a dignidade e a reputação de alguém. Essa A injúria pode ser simples, mas também quali-
posição está baseada em sua interpretação do. dolo ficada. Isso ocorre quando o legislador atribui uma
como elemento ético, o que implica a consciência consequência jurídica mais grave à injúria em função
de que um ato contraria a ordem jurídica, e também de sua maior reprovação social. Aqui estamos diante
como elemento psicológico da vontade, o que expressa do caso de ofensas morais a grupos que são particu-
o desejo do indivíduo de proferir uma ofensa a outrem. larmente vulneráveis em função da circulação de este-
Isso significa para o autor que a injúria não requer um reótipos negativos sobre eles na sociedade. Segundo
aníMusespecíficopara ser caracterizada, embom deva Cezar Bitencourt, uma conduta terá maior desvalor
ser considerada quanto ao seu conteúdo específico.'" dependendo de seu potencial lesivo, o que requer a
análise da forma como o sujeito agua, o meio utili-
zado, a finalidade visada e o resultado dela. O meio
4.2 A injúria racial
que o sujeito utiliza para operar a ofensa a um bem
Nosso sistema jurídico elenca diferentes manifes- jurídico protegido designa o desvalor da ação; a expo-
tações de injúria. Ela pode ser simples quando se apre- sição do bem jurídico protegido a uma situação de
senta da forma até aqui examinada: opinião pessoal perigo indica então a maior reprovação do resultado.
de um agente sobre outro por meio de qualquer Esses conceitos são importantes para exami-
tipo de condutaque expressedesrespeitoà vítima. narmos os motivos pelos quais o legislador estabeleceu
U Também é classificadacomo real, uma forma qualiõ- uma diferenciação entre os tipos de injúria. Ele consi-
cada que envolve agressão Hisicaà vítima. Temos aqui derou que algumas de suas manifestações são mais
0
= a pessoa que recorre a lesão corporal com o objetivo graves do que outras, razão pela qual ela é classificada
= C =
0 de injuriar para atacar a integridade moral da pessoa, como qualificada. A injúria racial é tida como um tipo

122 123
consumação ocorre quando a ofensa ao decoro e à
de ação de maior desaprovaçãoem função da maior
honra chega ao conhecimento da pessoa ofendida.
gravidade de seu conteúdo ofensivo.:08 Muitos doutrinadores brasileiros enfatizam a rele-
A injúria racial é um tipo de crime qualiÊlcadoem
vância da presença inequívoca do elemento subjetivo
função de sua maior reprovação social, julgamento
do tipo para a caracterização do crime, o que inclui
decorrente da utilização de elementos negativos rela-
a identificação clara do an/mz/s zngz/na/zd/do agente
cionadosà raça para proferir ofensa a uma pessoa.
ativo. Isso seria necessário em ftlnção da gravidade da
Sua maior condenação está baseadaem sua signifi-
pena atribuída ao crime de injúria qualificada.'''
cação social: a reprodução de estereótipos sobre indi-
víduos que possuem uma longa história de exclusão
social. Por esse motivo ela é classificadacomo mlüria 4.3 0 conceitojurídico de honra:
sua dimensão objetivo e subjetiva
preconceituosa, por fazer menção a características
individuais que têm o potencial de promover a Rag-
mentação social por meio da estigmatização de
A honra é um dos parâmetrosa partir dos quais
um indivíduo concebe a si mesmo e também a maneira
membros de certos grupos. Tendo em vista o fato de
como as outras pessoas o percebem. Mais do que isso,
que o racismo causa a marginalização,o legislador
reconhece a natureza especialmente perniciosa dessa o sentunento de honorabilidade expressa a expecta-
tiva das pessoas de terem sua dignidade reconhecida
prática. Esse novo tipo de mgúria surgiu porque vamos
crimes de racismo eram classiâcados como crimes de em uma sociedade fundada no princípio da igualdade
injúria, uma estratégia utilizada por operadores do
de direitos.Cabe ao sistemajurídico protegeressa
expectativa, uma vez que o sentimento de dignidade
direito para minimizar a gravidade da situação racial
das pessoas possui uma dimensão intersubjetiva:ele
em nosso país. A introdução da mlúria racial atende
o interessede minorias raciais em expandir a efetivi- é produto das formas de reconhecimentomútuo que
deveriam existir em uma sociedade democrática.
dade da legislação antidiscriminatória em nosso pais,
Devemos analisar o caráter intersubjetivo da hora,
o que, obviamente, depende também da forma como
um requisito central para a nossa reflexão.''i
o Judiciário interpreta e aplica essa norma jurídica.'" A honlratem sido classificadacomo um bem n
. Para os doutrinadores brasileiros, a injúria racial
e possui muitos dos elementos da chamada injúria protegido pelo sistema jurídico em função de sua rele- 5-
g simples: é um crime que pode ser cometido por vância na lógica das interações sociais. O sentimento ;aE
=
de honorabilidade é um bem individual porque faz
ã qualquer agente, pode assumir diversas formas, sua
8
125
124
reputação que uma pessoa tem em uma sociedade, e
parte de nossa personalidade,sendo um elemento
também garantir a ela a afirmação de seu reconheci-
que possui uma dimensão psicológica central para
a formação de nossa integridade pessoal. Penalistas mento como membro digno da comunidade política
Os crimes contra a honra expressam o interesse público
afirmam que a honra possui uma dimensão interna ou
subjetiva e também uma dimensão externa ou obje- de proteger o sentimento de dignidade das pessoas, um
requisito para que as formas de sociabilidadepossam
tiva. A primeira está relacionada com a valoração que
cada indivíduo possui de si mesmo, o que corresponde ocorrer da maneira mais adequada possível. Da mesma
forma que os sereshumanos têm o direito de manter
à expectativa de ser objeto digno de respeito por todos
os membros da comunidade política. Embora o senti- seu patrirnõnio, afirma Nelsonl:iungria, eles também
mento de honra pessoal possa variar inHlnitamente devem ter a proteção de sua respeitabilidade,o que é
entre os indivíduos, a norma jwídica trabalha com a um requisitopara a integraçãosocial.::'
A injúria racial seria então uma violação do senti-
hipótese de que a honra é devida a todas as pessoas,
mento de estima pessoal que resulta em perturbação
motivo pelo qual todos os cidadãos podem demandar
psicológica dos indivíduos ao verem sua expecta-
proteção jurídica dessa pretensão. 1:2Essa dimensão da
honra decorre de sua relação com a noção de direitos tiva de respeito pessoal ser ignorada. Personalidade
e dignidade estão relacionadas na medida em que a
da personalidade, o que, por sua vez, encontra funda-
mento na função do sistema jurídico de garantir da formação da segunda depende do reconhecimento
forma mais efetiva possível o lide desenvolvimento do indivíduo pelos outros como um ser humano, o
da personalidade. A honra, nesse aspecto, expressada que atesta a dimensão intersubjetiva do conceito de
o direito que as pessoas têm de gozar de estima social, honra. A estima pessoal seria então o produto da
de serem reconhecidas como agentes morais compe- percepçãoque os outros têm do indivíduo, o que o
tentes na esfera pública.:" permite desenvolver um senso de respeito próprio.''5
A injúria é um dos crimes contra a honra previstos A proteção penal da honra tem o objetivo de proteger
em nossa legislação. O direito penal tem se preocupado os indivíduos contra falas queperturbam a concepção
com a proteção juúdica da honra desde a Antiguidade, que ele tem de si mesmo porque o desrespeito está
. consequêncianatural do papel que ela possui na relacionado ao estigma, construção que cria obstá-
e projeção social da personalidade. Assim como a
culos ao gozo de estima social. A ofensa atribui algum 5-
:g calúnia e a difamação, o crime de injúria consisteem tipo de estigma ao individuo, fazendo então que ele -=
sejavisto como pessoa que não merecerespeito.:''
ã uma figura jurídica que tem o propósito protegera
8
126 127
a dimensão individual e a dimensão social, a honra
A honra objetiva compreende os julgamentos
permite então a construção de um senso interior de
que outras pessoas fazem do nosso comportamento dignidadena medida em que a percepçãoque os
a partir de valores culturais estabelecidos, o que pode indivíduos possuem de si mesmos é referendada pela
ser uma avaliação positiva ou negativa, fator que deter- sociedade como um todo. Assim, a honra representa
mina a reputação que temos na comunidade na qual a dimensão psicológica da dinâmica dos valores que
vivemos. Essa dimensão da honra também possui UH
estruturam um aspecto relevante da personalidade
sentido normativo porque a reputação de uma pessoa humana, que é a noção de estima social.'';
é um bem jurídico de importância significativa.Como A estima social possui grande relevância para as
acontece com a dimensão subjetiva, ela está rela-
pessoas porque o desenvolvimento de um sentimento
cionada com os meios a partir dos quais as pessoas de orgulho pessoal pode ser visto como uma demanda
podem funcionar de forma adequada dentrodo espaço de respeito.A lógica social requer que o sujeito se
social. Assim, o aspecto objetivo da honra diz respeito comporte de acordo com valores culturalmente
às condiçõesnecessáriaspara a valoração do sujeito compartilhados, o que garante seu reconhecimento
dentro das diversas formas de interação de que ela pela comunidadecomo uma pessoa honrada. As
participa. Dessa forma, a noção objetiva de hora está sociedades humanas são reguladas por valores cujos
relacionada às maneiras como o desprezo pode afetar
ideais devem ser seguidos por seus membros. Esses
de forma negativa a reputação de uma pessoa.''' valores criam a expectativa de que as pessoas que se
O conceito de honra está diretamente ligado às comportamde acordo com elas serão consideradas
valorações culturais existentesem uma sociedade honradas, o que permite a continuidade da normativi-
concreta,uma vez que elas estabelecemos meiosa dade social, aspecto essencial da estabilidade das rela-
partir dos quais as pessoas serão tratadas. Isso significa ções políticas. Assim, a honra está ligada a um sentido
que nossas ações são analisadas a partir de suas impli- mais amplo que é a própria possibilidadede gover-
cações sociais, o que nos leva a aduare a nos repre- nabilidade, porque referenda padrões de sociabili-
sentar a partir de parâmetros específicos. O conceito dade.ti90 reconhecimento social da honra decorrente
de hora não se forma a partir da subjetividade,mas da ideia de civilidade permite que a pessoa adquira
. também a partir das convençõesque regulam nossas
Ê ações. A honra é então o sentimentode valoração
elementos para a formação da sua personalidade, 5'-
uma vez que os direitos são mecanismos importantes ;aE
= pessoal que a pessoa tem de si mesma e a forma como -=
para a afirmação dela. Nas sociedades democráticas, = ..Õ
H a sociedade a reconhece. Sendo um valor que conecta
=

8
129
128
a hora confere status político ao indivíduo, embora todos os membros de uma comunidade política orde-
as bases de julgamento possam variar em função do nada de acordo com os princípios da liberdadee da
pluralismo de valores.i:' igualdade. A noção de hora como digtudade está rela-
O processo de identi6cação com valores culturais, cionada ao conceito de respeito, requisito para que uma
o comportamento coMorme a esses valores e a conse- pessoa possa ser reconhecida como açor social compe-
tente. Nosso sentimento de valor pessoal está atrelado à
quente expressão de estima social que ocorre em função
nossa reputação,à forma como a sociedadenos trata.
desseprocesso permite que uma pessoa construa uma
reputação. A noção de honra como reputação decorre A perda da dignidade pode resultar na exclusão do
do reconhecimentoda validadeda demandade estima reconhecimento proporcionado pelas regras de civi-
social em função do comportamentoindividual. A lidade que regulam as normas de interaçãodentro de
análisedesse tema não se limita à apreciaçãomoral uma comunidade política. Elas são importantespara
do indivíduo. Outro aspecto importante ê o exame a diferenciação do comportamento das pessoas, entre
da reputação pessoal como propriedade, produto da aquelas que possuem honra e as que são excluídas dela
forma como as pessoas classi6cam o sujeito nas rela- em função de aros que se desviam de ideais morais.
Dessa forma, as sançõesquanto aos crimes contra a
ções económicas. A honra como propriedade não
está relacionada apenas à aspiração de reconheci- honra protegem os indivíduos contra ações que violam
mento da estatura moral, mas também ao esforço que o direito de ser visto como agente capaz de aduar na
uma pessoa faz para adquirir confiabilidade.Atentar esfera pública. O respeito próprio está ligado ao respeito
contra essa dimensão da reputação individual signi6ca que obtemos da sociedade, instância que deve proteger
comprometer o esforço laboral que uma pessoa fez para a expectativa de que seus membros serão tratados de
acordo com regras de civilidade, nomias que almejam
adquirir respeitabilidade social dentro da comunidade.
O caráter do indivíduo é medido por sua capacidade garantir o statusmoral dos indivíduos.Vemos então
de realização, sendo que a atribuição de aros desabona- que o senso de digiudade pessoal possui uma dimensão
dores poderá comprometer sua imagem no mercado. A intersubjetiva porque ele não decorre apenas de nosso
sentimento de valor. Ele depende do reconhecimento do
noção de reputação como propriedade pessoal afirma
outro. As normas que protegem a honra são destinadas e
que a pessoa foi capaz de construir um nome que ]he
5-
CU

traz benefícios de ordem material.::: a preservar a dignidade pessoal e também a manter a


0
Mas a reputação também signiãca dignidade, unidade social ao legitimar fom)as adequadas de trata- ;aB
= =
mento enfie as pessoas. O conceito de honra como
CD sentido que refletea noção de que esse é um atributo de

131
130
dignidade pressupõe a existência de uma sociedade fazem brincadeiras que mencionam a questão racial,
guiada pela noção de inclusão: as pessoasprecisam ter evidência da inexistência da intenção de ofender.'2'
seu direito de integração social garantido, o que requer Esses atos caracterizados como brincadeiras
a exclusão de agressõesà honra delas.i2z entre pessoas adultas que não expressariam desprezo
ou ódio racial reproduzem uma série de estereótipos
4.4 A jurisprudência brasileira sobre injúria racial raciais. Entretanto, verificamos que essas manifesta-
ções podem ser classificadascomo injúrias porque
Uma análise de decisões da justiça criminal e da comunicam hostilidade racial por meio do humor. O
justiça trabalhista demonstra a presença disseminada principal deles é a noção de que negros não são capazes
do racismo recreativo na sociedade brasileira. Um de atuar de forma adequada na esferapública, o que
ponto comum está presente em todas essas decisões: a pode ser tido como um exemplo de como o humor
demanda de descaracterização do crime de injúria por racista concorre para a formação de um sentimento
meio da alegação da inexistência do elemento subje- de superioridade de brancos em relação a negros. Isso
tivo do tipo penal, ou sqa, o não propósito de ofender aparece em supostas piadas que atribuem conotações
o decoro ou a honra da vítima. Os atores sociais negativasà atuação de pessoas negras, o que sugere
envolvidos afimiam que o conteúdo da mensagem que apenas pessoasbrancas são capazes de desen-
entendidacomo ofensivanão é nada mais do que volver atividades de forma adequada. Assim, um erro
uma brincadeira, motivo pelo qual ela não poderia cometido por uma pessoa negra designa a incapaci-
ser considerada um crime. Vemos então os respon- dade de todos os negros de aduar de forma compe-
sáveis por crime de injúria afirmarem que não houve tente, o que justiHlca o status inferior que eles ocupam
a presença do anlmus /nyzzna/zdí,mas sim do an/mm dentro do sistema ocupacional, ideia que sempre
Jocandz.Se o primeiro expressa a vontade de ofender, acompanhou pessoas da raça negra na história brasi-
o segundo apenas indica o uso da menção à questão leira. Entretanto, essas brincadeiras estão baseadas
racial para a produção de um efeito humorístico.i:3 em estereótipos; elas são proferidas mesmo quando
Algumas estratégias são sempre utilizadas para o não há quaisquer questões profissionais envolvidas.
CU alcance desse objetivo: a alegação da existência de rela- Há então uma dimensão constitutiva dessa falsa gene-
a)
0 ções cordiais enfie os envolvidoslo fato de o ofensor ralização: a noção de que negrosestão destinadosa 5«
ter amigos negros, o que seria evidência da ausência ocupar uma posição subordinada dentro da socie-
-=
=

c:
=

0 de racismo; a existência de um ambiente no qual todos dade brasileira devido a uma suposta inferioridade

132 133
constitutivados membros desse grupo racial.:zs A comparar um grupo de pessoas a animais, negar que
utilização do humor para a6umar a superioridade de elas possam ser vistas como seres racionais, signi-
pessoas brancas também está presente em casos nos fica negar a própria humanidade desses indivíduos,
quais pessoas negras são sempre vistas como indo- implica não serem agentes sociais capazes. Esse subs-
lentes, como pessoas que não gostam de trabalhar.i2ó trato cultural emerge em várias piadas contadas no
Outro elemento presente em casos de injúria espaço público e no ambiente laboral, ocasiões nas
racial é a comparação de negros a animais, fatos que quais alguémutiliza o humor racistas para reproduzir
referendo a noção de que eles não estão aptos a parti- a ideia da inferioridade moral constitutiva de pessoas
cipar da vida social da mesma forma que pessoas negras em relação a pessoas brancas.i28
brancas por não serem propriamente seres humanos. A questão da discriminação estética também
Pessoas da raça negra são comparadas a animais, está presente nesses comentários que supostamente
principalmente a macacos, outra evidência de que não expressam uma intenção humorística dos ofensores,
podem receber o mesmo nível de apreço social desti- piadas que são claras manifestações do racismo
nado a indivíduos da raça branca. Como negros não simbólico. São comuns os comentários a respeito de
fazem parte da mesma espécie que brancos, apenas certas características Hisicasdas pessoas negras, noto-
estes podem ser considerados como seres humanos. riamente a referência da cor da pele como algo que
Obviamente, a comparação de negros a animais expressa degradação humana, a inferioridade moral
afirma a noção de que eles não possuem o mesmo inerenteaos membros dessegrupo racial. A negritude
nível de humanidade que as pessoas brancas, motivo aparece associada como expressão de feiura, de pericu-
pelo qual não deveriam circular ou ter o mesmo nível losidade e de ausência de caráter. Ela sempre aparece
de direitos que pessoas brancas possuem. ':' em muitos casos de discriminação de caráter estético
Imanente à comparação de negros a animais porque é interpretada como a antítese da branquitude.
está a pressuposição de que eles são seres destituídos Se esta é associada a traços socialmente prestigiados,
de racionalidade. O humor racista se manifesta em a negritude representa aquilo que não pode ser moral
muitos casos de injúria envolvendo piadas para e esteticamente apreciado. Observamos nesses casos
expressar a ideia de que negros não são capazes de se a forma como o humor racista opera para reproduzir
a)
0 comportar de forma racional, requisito para que indi- a identidade do grupo racial dominante como um
= víduos possam ser reconhecidos como pessoascapazes tipo de capital cultural que as pessoas brancas podem =
=

0
de comportamento moral adequado. Obviamente, utilizar a favor delas em várias situações.i29
<c

134 135
A aHumação do caráter negativo da negritude acompanham minorias raciais em todas as dimensões
aparece ainda na jurisprudência em função da sua de suas vidas. Essas piadas são exemplos de uma estra-
correlação com outras formas de identidades estig- tégia que pessoas brancas utilizam para afirmar sua
matizadas. Um ponto comum é a correlação entre suposta superioridade, para obterem satisfação narcí-
gêneroe raça, motivo pelo qual muitos dos comentá- sica e para impedirem que negros possam ter a mesma
rios injuriosos são feitos contra a mulher negra. Elas estima social que elas. Vemos aqui a operação de este-
são apresentadas como pessoas moralmente degra- reótiposraciais negativosque surgiram ao longo da
dadas em função de uma sexualidade corrompida, o história da nossa sociedade, falsas representações que
influenciam a mente de agentespúblicos e privados
que torna a presençadelas indesejávelno ambiente
de trabalho. De forma similar, o racismo se junta à quando interagem com negros.:''
homofobia nos casos de racismo recreativo para enfa- E comum a associaçãoda negritudeà feiura, o
tizar ainda mais a inadequação moral das pessoas que opera como o elemento cómico de supostas brin-
negras para o desempenho de atividades laborais cadeiras, mecanismos que permitem pessoas brancas
Então, às piadas sobre negros são acrescidas as piadas expressarem hostilidade racial por meios cultural-
mente mais aceitáveis. As a6umações aparecem
a respeito de homossexuais, o que reafirma ainda
mais a noção de que pessoas negras não são agentes dentro de um contexto de uma suposta intimidade
sociais competentes."' entre as pessoas envolvidas, o que descaracterizada
Um elemento comum nos casos de injúria racial é o crime de injúria. Outras vezes os comentários são
a atribuição da criminalidade a pessoas negras, princi- dirigidosnão a uma pessoaespecífica,mas a toda a
palmente a homens negros. Essas articulações ocorrem raça negra, o caso dos termos nego, neguinho, nega
de diferentesmaneiras. Algumas vezes elas aparecem e neguinha. Vemos nessas situações uma referência à
como uma representação do homem negro como o imagem das pessoas da raça negra como um todo, mas
típico malandro, pessoa que vive sem emprego fixo, o conteúdo racista dessas falas é descaracterizado por
outras vezes na forma de seleção racial. E importante demonstrarem ausência de vontade de ofender porque
notar que essa atribuição de comportamento criminoso a pessoaproferiu as palavrasem um tom jocoso ou
a negros ocorre em situações completamente desco- porque reproduz formas culturais nas quais o ódio e o n
a)
0 nectadas com quaisquer fatos que poderiam sugerir desprezo racial estariam ausentes. Podemos ver então 5-
= uma associação entre negritude e criminalidade, o que a discriminação estética é um dos componentes =
0 centrais do racismo recreativo.nz
que demonstra a forma como estereótiposneganvos

136 137
Um caso notório do que acabamos de mencionar nós. Muitos autoresargumentamque isso teria
ocorreu em um processo de uma música que falava permitido a transformação das tradições dos diversos
sobre o cabelo da mulher negra. Ele é equiparado a UU grupos que formaram a nossa população como refe-
material utilizado na limpeza pesada, o que denota rências universais para a construção de identidades
sua qualidade estéticainferior. A música faz referência individuais e coletivas. Assim, classificaçõesraciais
ainda a supostos cheiros característicos de mulheres não fariam sentido entre nós porque os brasileiros não
negrasl o autor se sente incomodado por se sentir utilizam a raça como um critériopara a construção
auaído por uma mulher que não possui qualidades, de parâmetrosidentitários.Dentro dessa lógica, a
o que denota a tradicional noção de que as mulheres percepção de pessoas negras como um grupo diferen-
negras servem apenas como um objeto de satisfação ciado seria algo sem sentido porque elas não possuem
sexual, mas nunca como uma pessoa que merece abeto uma experiência ou uma existência distinta por causa
e adoração. A música poder ser caracterizada como da miscigenação e da consequente assimilação deles.
um exemplo típico de microinsultosaos quais negros Essa realidade seria então responsável por uma forma
estão expostos em uma sociedade em que representa- de socialização na qual as pessoas são vistas como
ções culturais derrogatórias são comuns.i33 iguais porque classificações raciais não fazem sentido
na sociedadebrasileira. Nós seriamos moralmente
4.5 Um tópico especial: o amigo negro superiores a outros povos que criaram regimes segre-
gacionistas, sociedades que utilizaram a raça como
Decisões sobre injúria racial são importantes para um critério essencial de divisão entre os grupos.is'
analisarmos uma dimensão de uma narrativa cultural A tese da cordialidade racial brasileira encontra
bastante influente na nossa sociedade: a cordiali- grande validação no humor racista, formando o pano
dade essencialdo povo brasileiro. De acordo com de fundo de uma estratégiade defesaprocessualde
seus elaboradores,nós conseguimosconstruir uma pessoasacusadas de injúria racial. Ela estábaseada em
cultura pública igualitária em função da miscigenação uma lógica cujos elementosoperam paralelamente:a
significativa da nossa população. Como a escolha de inocência por associação e a culpabilidade por asso-
CU membros de minorias raciais como parceiros sexuais ciação. Muitos acusados de injúria racial argumentam c'''>n

=
0
e românticos supostamente demonstra a assimilação
estrutural deles, a miscigenação racial seria, assim,
que a conivência com pessoas negras comprova que
são inocentes. Eles afimlam que não podem ser consi-
5-
evidência incontestável da irrelevância da raça entre -=
derados pessoas racistas porque possuem parentes ou
u.&

138 139
amigos negros, sendo que a segunda armação é a Vemos então que a estratégia do amigo negro
mais comum. Esse raciocínio segue a seguintelógica. cumpre uma função importante na defesa de acusados
O comportamento deles não pode ser discriminatória de injúria racial: demonstrar a ausência da intenção
porque esse seria um tipo de atitude existente apenas de ofender minorias raciais porque a pessoa mantém
em pessoas suprematistas, de pessoas que se recusam relações cordiais com pessoas negras. O elemento
a manter quaisquer interações sociais com membros subjetivo do tipo penal não está presente na situação
de outras raças, de pessoas que praticam o racismo em questão porque o cantata com negros faz com
cotidianamente.
Apenas elas têm a intenção de que o dolo não exista. A inocência por associação
discriminar negros; os que convivem com eles, os que não opera sozinha em casos de injúria racial. Os que
possuem relações familiares com eles não podem ser utilizam esse argumento esperam que promotores e
vistos como racistas porque a convivência demonstra juízes, quase todos brancos, se solidarizem com eles
a ausência de malícia ou de desprezoem relaçãoa e desconsiderem as acusações. O discurso da trans-
minorias raCiaiS.'J' cendênciaracial opera aqui como uma tentativade
De acordo com esse argumento, atou ou falas blindagem legal de pessoas brancas, indivíduos que
racistas não expressam necessariamente sentimentos não podem ser racistas porque convivem com negros,
racistas, o que não pode existir na mente de pessoas sendo a cordialidade uma marca do comportamento
que têm proximidade social ou afetiva com negros. A social de brancos no nosso país. Os que utilizam essa
convivência implica o reconhecimentoda igual digni- tese e os juízes que a consideram válida utilizam a
dade entre negros e brancos; a cordialidade significa estratégia da culpabilidade por associação: condena-
que ofensasraciais ou piadas racistas foram feitas em ções de pessoas brancas por mlúria racial afetam a
um momento específico e por esse motivo isso não imagem coletiva de pessoas brancas enquanto grupo
releva uma atitude permanente das pessoas. A convi- social, o que contraria o interesse histórico delas
vência seria então um favor que impediria o cultivo em demonstrarque o racismo não tem relevância
de atitudes racistas; um ato racista não significa que a na nossa sociedade. E importante minimizar a rele-
pessoa seja racista, principalmente se ela tem pessoas vância do racismo para que não se crie a percepção
negras no seu círculo de convivência. Um ato único de que ele é uma prática cotidiana, porque isso pode
= 'g de racismo não pode ser visto como algo suHlciente prqudicar a imagem coletiva dos membros do grupo
KO
para a condenação penal de alguém porque ele não racial dominante. Assim, a estratégia do amigo negro
=
-
C..9
CD
::=
faz parte da prática cotidiana dos acusados.i3ó aparece é um exemplo de como narrativas culturais
« 'u
L.b a.

140 141
influenciam o andamento de processos judiciais e fitos racistas, ela também surge naquele contexto para
como juízes amuam como agentes ideológicos.:" negar a necessidade dessas políticas governamentais.
Obviamente, esses argumentos não possuem Certos magistrados afirmam que elas comprometem
flzndamentação legítima. Como tem sido afirmado nossa imagem internacional como uma democracia
por diversos estudiosos, a cordialidade brasileira opera racial. O que está por trás desse argumento é a culpa-
como um dispositivo discursivo que pretende encobrir a bilidade por associação: ações a6lrmativas signi-
natureza hierárquica das interações raciais entre negros ficam que toda a sociedade é racista, que negros não
e brancos nesta sociedade. A natureza assimétrica delas conseguem ter acesso a oportunidades por causa do
indica que essa suposta cordialidade permanece apenas racismo branco, fatos que o sujeito não pode admitir
quando as diferenças de status entre negros e brancos
como verdadeiros.Cotas raciais associamuma
estão claramentemantidas. Quaisquer alteraçõesa prática moralmente reprovável a todas as pessoas
essa ordem, quaisquer conflitos provocam reações brancas, o que não pode ser tolerado. Aqui também
racistasimediatas.Mais do que isso, a estratégiado vemos pessoas brancas utilizarem uma estratégia
amigo negro ignora o aspecto aversivo e simbólico do discursiva para protegerem a imagem social delas.
racismo. Pessoas brancas podem conviver socialmente As tremendas disparidades entre negros e brancos
com negros,podem defendera igualdadeformal entre não têm importância; ações aHumativassugerem que
as raças, podem até mesmo ser casadas com pessoas brancos discriminam negros de maneira sistemática
negras, mas isso não signi6ca que elas não sejam racistas. e isso pode ser ruim para a imagem do país, argu-
Estigmas raciais circüam socialmente e influenciam a mento que obviamente encobre a preocupação de
percepçãodos indivíduos, motivo pelo qual o fato de parte do Judiciário brasileiro com a imagem social
pessoas terem parentes ou amigos negros não impede de pessoas brancas.na
que elas tenham atitudes racistas ou que sejam racistas. Assim, a inocência e a culpabilidadepor asso-
Além disso, a análise da injúria racial não deve ser .ciação operam de acordo com uma lógica que tem
analisada apenas a partir da motivação do acusado, mas como propósitodeíletir a culpa não apenas da
também a partir do dano causado à vítima. pessoa acusada de racismo, mas de todas as pessoas
É interessante observar os paralelos entre essa brancas. A intenção de ofender precisa ser encoberta,
discussão e o debate sobre ações afirmativas. Da precisa ser minimizada, precisa ser negada, para que
mesma forma que a ideologia da transcendência a percepçãode que hierarquiasraciais são produto
=
=

0 racial aparece aqui como uma desculpa para encobrir do desprezo generalizado de brancos em relação ==.

142 143
a negros não seja vista como elemento central das
relações raciais na nossa nação. A condenação de
pessoasbrancas por injúria e racismo produz inquie-
tação entre muitas delas porque contradiz os pres-
supostos da ideologia da democracia racial, um dos
parâmetros fundamentais do nosso processo de socia-
lização, uma narrativa baseada na premissa de que
a raça não tem relevância social. Essa tese permite
a atribuição de desigualdades raciais aos próprios
membros dos grupos minoritários ou a disparidades
de classe produzidas pela operação impessoal do
mercado. Condenações por racismo causam inquie-
tação psicológica em muitas pessoas brancas porque
sugerem que elas são membros de um grupo racial
especíHlco,que elas ocupam um lugar privilegiado
dentro das hierarquiasraciais, que elas possuem
algum tipo de responsabilidadena formação delas.
Condenar uma pessoa branca por racismo ou injúria
pode produzir transformações simbólicas significa-
tivas porque uma instituição estatal está afirmando
que o desprezo e o ódio racial são componentes das
relações cotidianas entre negros e brancos no Brasil.
O mecanismo psicológico da negação adquire aqui
uma dimensão institucional: é preciso desconhecer
a naturezaracista de um ato ou fala para que o
funcionamento do psiquismo coletivo permaneça
=0 inalterado. Por esse motivo, magistrados inocentam
=c
pessoas brancas, para impedir que a raça seja uma
G.D ::=
forma de mobilização política nesta sociedade.

144
5. RACISMO RECREATIVO:
DEFINIÇÃO E MODOS DE OPERAÇÃO
capazes de aduarcomo agentes sociais competentes.
O racismo recreativo contribui para a reprodução
da hegemonia branca ao permitir que a dinâmica da
assimetria de status cultural e de status material sda
encobertapela ideia de que o humor racista possui
uma natureza benigna. Embora ele almeje salientar
a suposta degradação moral de minorias raciais por
meio do humor, ele expressa também a intenção de
impedir a mobilização política em torno da raça. Essa
Forma de política cultural possibilita a preservação de
narrativas sociais baseadas na noção de neutralidade
racial, elementoresponsávelpela manutençãode uma
As discussões desenvolvidas nos capítulos ante- imagem positiva dos membros do grupo racial domi-
riores nos permitem agora formular uma definição nante que praticam crimes de injúria e racismo.
do conceito de racismo recreativo e de seus modos de O racismo recreativo opera a partir de alguns
operação. Ele deve ser visto como um prometode domi- mecanismos que precisam ser examinados detalha-
nação que procura promover a reprodução de relações damente. Primeiro, ele não pode ser interpretado
assiméuicas de poder entre grupos raciais por meio de apenas como um tipo de comportamento individual,
uma política culturalbaseada na utilização do humor produto da falta de sensibilidadede um indivíduo em
como expressão e encobrimento de hostilidade racial. relação a outro. O racismo significa neste contexto
O racismo recreativo decorre da competição entre um sistemade dominaçãoe isso significaque atos
grupos raciais por estima social, sendo que ele revela racistas operam de acordo com uma lógica e com um
uma estratégia empregada por membros do grupo propósito que transcendem a motivação individual
racial dominante para garantir que o bem público da Práticas racistas devem ser compreendidas dentro de
respeitabilidade permaneça um privilégio exclusivo de um esquema no qual membros do grupo racial domi-
CU
pessoas brancas. A posse exclusiva desse bem público nante amuamcom o objetivo de legitimar as formas =
0 garante a elas acesso privilegiado a oportunidades mate- de manutenção do status privilegiado que sempre
= possuíram. O que estamos chamando de racismo
riais porque o humor racista tem como consequência a
perpetuação da ideia de que elas são as únicas pessoas recreativo deve ser interpretado como um prometode

148 149
condescendência. Dessa maneira, as diferenças de
dominação racial que opera de acordo com premissas status cultural cntre grupos raciais são referendadas,
específicas da cultura pública brasileira. Embora ele enquanto acusações de racismo são defletidas em
esteja baseado na noção de inferioridade moral de função da representação de pessoasbrancas como indi-
minorias raciais, ele está associado a um aspecto da
víduos comprometidos com o tratamento racial igua-
doutrina racial brasileira que procura mitigar a rele-
litário. Esse comportamento propaga um elemento-
vância dessa prática social: a ideia de cordialidade chave da ideologiabrasileira da democracia racial,
essencial do nosso povo."'
narrativa cultural que tem sido historicamente empre-
Segundo, ele busca a gratificação psicológica gada para diHlcultara afirmação da raça como uma
dos membros do grupo racial dominantepor meio categoria socialmente relevante. Tudo isso permite
da a6umação da suposta inferioridade de minorias que os indivíduos responsáveis pela propagação do
raciais. Isso permite que eles obtenham compensação
racismo recreativo pensem que não são responsáveis
de caráter narcisista a partir do humor racista. Como
pelo conteúdo de suas falas racistas porque apenas
já observamos,o humor é um meio a partir do qual reproduzem o que circula na sociedade.
as pessoas podem expressar sentimentos de superio- Quarto, o racismo recreativo almeja preservar
ridade em relação a outras que são vistas como infe- um sistema de representações culturais que legitima
riores, que estqam em situações ridículas por causa de a dominação branca por meio da desqualificação
sua suposta inferioridade moral. Representar mino- sistemática de minorias raciais. Embora sejam cons-
rias em situaçõesjocosas é entãoum meio de afir- truções culturais, elas determinam a vida material
mação da identidade social comum entre as pessoas de minorias raciais. Ele está âindamentado em este-
brancas, o que traz a elas a satisfação de se sentirem reótipos decorrentes do poder de pessoas brancas de
diferenciadas em relação a minorias raciais.
criar sentidosculturais que se expressam na forma de
Terceiro, ele possui um caráter estratégico.O
estigmas que estabelecem diferenças de status cultural
racismo recreativo permite que pessoas brancas
entre os vários segmentos raciais. Essas falsas gene-
mantenham uma representação positiva de si mesmas
ralizações embasam cognições sociais, formas de
ao encobrir a hostilidade racial por meio do artifício conhecimento compartilhado por certos segmentos a =
.
=
do humor. Ele possibilita a perpetuação da falsa
representação da irrelevância do racismo no nosso
partir dos quais eles passam a aduar. O humor racista
é um tipo de categorização daqueles que merecem
5-
=
= g país ao classificar piadas racistas derrogatórias sobre estima social e dos que não devemter acessoa ela,
8 negros como ates que não expressam desprezo ou
8
151
150
o que permite pessoas brancas afirmarem um senso elemento central do racismo recreativo: seu aspecto
de superioridade.:'o Em resumo, o humor racista é simbólico. A piada racista é um tipo de fala que possi-
um meio pelo qual falsas percepções sobre as quali- bilita a circulação de sentidos culturais negativos,
dades e os lugares que minorias raciais podem ocupar sendo então um meio pelo qual esse tipo de racismo
dentro da sociedade são reproduzidas. E importante encontra expressão.'ai
perceber que esse processo demonstra o carâter aver- Mais do que isso, piadas e brincadeirasracistas
sivo do racismo recreativo porque os estereótipos referendam consüuções culturais responsáveis
são empregados por pessoas que sempre rechaçam pela aâumaçãoda branquitudecomo um referen-
acusações de racismo porque elas mantêm relações cial de superioridade moral. Dessemodo, a cons-
cordiais com minorias raciais. O caráter aversivo do trução simbólicada negritudecomo uma caracte-
racismo recreativo difere das expressõestradicionais rística estéticae moralmenteinferior à branquitude
de racismo baseadas na defesa aberta da superiori- é um dos elementoscentrais do racismo recreativo.
dade branca. Ele está integrado à moralidade liberal Observamos em inúmeras produções culturais a asso-
contemporânea, embora expresse os sentimentos ciação frequente de traços positivos a pessoas brancas,
negativos decorrentes de estereótipos depreciativos grupo que tem o poder de determinar a forma como
que ainda circulam na sociedade. suas característicassão apresentadasnos meios de
Quinto, esse pro)eto racial assume à forma de comunicação em função do controle que exercem
uma violência simbólica, o que dificulta a criação de sobre eles. Neles, os membros do grupo racial domi-
um sentimento de pertencimento social entre negros. nante aparecem como o padrão de moralidade, como
Além disso, o humor racista comprometea reputação padrão estético e como referência de sexualidade
social de minorias raciais, o que serve para legitimar sadia. O racismo recreativoopera então como uma
formas de exclusão. Mas ele também cria um senti- forma de defesada pureza moral de pessoas brancas
mento de identidade comum entre pessoas brancas, heterossexuais em função da oposição entre as quali-
motivo pelo qual elas se sentem legitimadas a praticar
dades morais dos brancos e dos defeitosmorais de
ou rir do humor racista. Ele legitima representações negros. Por representar um ideal social, ser branco
H é uma fonte de privilégios que se estende por todas
CU derrogatórias de pessoas negras, o que são formas
de microagressões, mecanismos discriminatórios as esferas da vida social. Verificamos então que a
0
que expressam condescendência ou desprezo por afirmação da superioridade da branquitude é um
= c: =
=

0 minorias. Assim, o humor racista determina outro elemento central do racismo recreativo porque ela

152 153
está por trás da satisfaçãopsicológica que elas obtêm construídosa partir da noção de que certos grupos
humanos são inerentemente distintos e inferiores aos
ao reproduzir piadas racistas.
Sexto, o racismo recreativo opera como uma peda- membros do grupo racial dominante. Verificamos que
gogia da subordinação racial. A reprodução de estereó- quase todas as manifestações do racismo recreativo
tipos negativosvalida um tipo de interação entre negros estãobaseadas na noção de que negros são moral, inte-
e brancos baseada na premissa de uma integração lectual, sexual e esteticamente inferiores a brancos. O
subordinada.Ela tem o propósito de referendarposi- racismo recreativotambém está centrado na noção de
çõeshierárquicasassimétücase naturalizadas.O humor antipatia racial, uma vez que as expressões cómicas de
racista ensina pessoasnegras que elas não podem racismo expressam desprezo por membros de minorias
almqar a mesma respeitabilidade destinada a pessoas raciais. A hostilidade presente em expressõeshumorís-
brancas. O racismo recreativo seguea lógica tradicional ticas encobre uma forma de antipatia dirigida princi-
de cordialidade versus hostilidade,que caracteriza as palmente a pessoas negras, o que está relacionado à
6onnas de sociabilidade na nossa sociedade: negros pressuposição de que eles não são pessoas capazes de
podem ter acesso a algum nível de inclusão, desde que aduarde forma competente na esfera pública.i43
não questionem a ordem social baseada no privilégio Oitavo, não são apenas pessoas brancas que
branco. O racismo recreativo diminui a possibilidade utilizam o humor racista para degradar pessoas
de tensão enfie grupos raciais ao afirmar uma cordia- negras. A discriminação possui uma dimensão refle-
lidade de caráter assimétrico: ele pemlite que brancos xiva e isso significa que minorias raciais também inter-
expressem hostilidade racial, sendo que eles estão certos nalizam estigmas e passam a tratar outras pessoas que
que tal comportamentonão terá consequênciaslegais pertencem ao mesmo grupo de forma depreciativa.
Acusações de racismo são vistas por pessoasbrancas Além disso, não podemos esquecer o fato de que mino-
como uma violação da prerrogativa que elas acreditam rias raciais lutam entre si por estima social. Elas podem
ter de poder humilhar pessoas negras. A utilização utilizar o racismo recreativo contra ouros segmentos
do humor procura invisibilizara relevânciasocial da que estão em uma situação de desvantagem.'a
raça, fato responsávelpelo surgimento de ordem social Nono, o que estamoschamandode racismo
CU racista na qual não há pessoas racistas.:a recreativo também possui uma clara dimensão insti- U
a) Sétimo, o racismo recreativo está baseado nas tucional. Isso porque práticas discriminatórias contra
0
= noções de itifériodzaçãosocial e de antipatiasocial.A. minorias raciais que operam na forma de humor
= 0
=

muitas vezes não são consideradascomo crimes -=


primeira decorre dos sistemasde opressão que foram U. 6-s

154 155
porque instituições públicas, como o Judiciário, ou
instituiçõesprivadas, como empresas,são em grande
parte controladas por pessoas brancas. Esses indiví-
duos partem do pressuposto de que a raça não tem
relevância social, de que o humor racista não expressa
ofensa, de que os brasileiros são pessoas cordiais por
natureza, premissas que ignora a dimensão aver-
siva do racismo e também o fato que manifestações
racistas reforçam valores culturais que motivam atos
discriminatórios diretos e indiretos. O racismo recrea-
tivo cria obstáculos signiâcativos para a proteção
legal de minorias raciais porque agentes públicos e
privados se unem para reproduzir uma narrativa que
almqa encobrir a natureza estruturalmenteracista
das instituições brasileiras.

1.-i.J ,«

c..a '6s.-
UJ
=0

- c/]
G= =
« '0

156
6. RACISMO RECREATIVO E
LIBERDADE DE EXPRESSÃO
ódio por minorias. Mais do que isso, elas classificam
a demanda de proibição de quadros humorísticos
que reproduzem estereótiposraciais como um tipo
de censura,o que não pode ocorrer em um estado
democrático. Essa linha argumentativaprecisa ser
analisada com cuidado em função da sua prevalência
nos debates públicos sobre a representação do negro
nos meios de comunicação brasileiros.
O direito à liberdade de expressão é certamente
um dos pilares da vida política contemporânea. Ele
procura garantir a possibilidade de todas as pessoas
poderem expressar suas ideias, mesmo aquelas que
6.1 Teorias de liberdade de expressão são contrárias às opiniões e aos interesses dos que
detêm o poder. Ele permite a livre circulação de
O que estamos chamando de racismo recreativo pensamentos,o que é consideradoessencialem um
representauma forma de política cultural que tem regime político no qual os indivíduos possuem dife-
um objetivo específico: perpetuar a concepção de que rentes concepções sobre a forma como as instituições
minorias raciais não são atores sociais competentes. devem operar. A liberdade de expressãoconcorre
Isso impõe a necessidade de analisarmos as conexões para a revitalizaçãodo processopolítico ao viabi-
entre o tema deste trabalho e o princípio constitu- lizar a consideraçãode diferentesperspectivasnas
cional da liberdade de expressão. Vimos que o humor deliberações sobre temas importantes para a comuni-
racista está presente em várias produções culturais dade. Se esse direito tinha o propósito primordial de
que representam pessoas negras de forma desumani- proteger a circulação de posições políticas nos primór-
zadora ao reproduzir estereótiposraciais negativos. dios do constitucionalismo moderno, seu campo de
Muitos afirmariam que não podemos classificar o que proteção começou a ser ampliado na medida em
ge personagens de programas de televisão dizem como que a dinâmica das democraciasliberais se tornou =
HO mensagensracistas porque eles apenas expressam cada vez mais complexa. A democracia pretende
conteúdo humorístico, situação distinta daquela garantir o bem comum e esse objetivo só pode ser ;a=
-
C..3 :=
c/)
pessoa cuja fala ou cujo comportamento expressa alcançado pela participação das pessoas no processo
B..h Hn

160 161
democrático, o que requertroca de ideias sobre como A doutrina aponta uma função importante do
conduzir os interessespúblicos. Portanto, a liberdade direito à liberdade de expressão: a descoberta da verdade.
de expressão tem importância instrumental para A supressão da opinião individual causa um duplo
a defesa da soberania popular porque apenas um problema para a comunidade política: ela restringe
regime que garante um debate público vigoroso pode o direito de participaçãoe também impedeque todos
criar os mecanismos para que todos os seguimentos possam ter acesso a informações relevantes. O ato de
sociais estejam adequadamente representados.:'s supressão de opiniões prdudica o debate público porque
Mais recentemente, a liberdade de expressão os indivíduos poderiam ter chegado ao conhecimento de
adquiriu o status de um direito fundamental por algo importante para a govemabilidadeda sociedade. O
causa de sua relevância na proteção da liberdade debate entre diferentes amorespolíticos pode promover
individual. Essa concepção está relacionada ao a elucidação de questões cuja solução é importante
processo de subjetivaçãodo direito ocorrido na para todos. A censwa daniâca então a esferapública
modernidade, momento histórico no qual diversas que idealmenteopera para permitir que os membros da
categorias de direitos políticos foram consagradas comunidade política, por meio do debate democrático,
em textos constitucionais.Poder expressaro pensa- possam atingir interesses comuns.:''
mento aparece dentro desse contexto como a possi- Relacionada com a teoria da descoberta da
bilidade de o indivíduo exercer sua autonomia. A verdade está a noção do mercado de ideias. Segundo
verdade não está necessariamente nas regulações os que esposam essa perspectiva, o espaço público
estabelecidas por aqueles que ocupam posições de deve ser abordado como uma instância que funciona
poder, mas sim no processo aberto aos indivíduos de maneira similar ao mercado: da mesma forma que
de exercerem a liberdade de pensar e expressar suas os indivíduos consomem ou rejeitam mercadorias,
percepções baseadas no exercício da razão. A vida eles também podem referendar ou legitimar discursos
política moderna tem então um elemento central: a políticos. Os indivíduos devem ter a liberdade de
liberdade produzida pelo pensar enseja uma cons- analisar as diferentes mensagens existentes presentes
tante invenção e reinvenção da comunidade política, no espaço público e eles decidirão quais delas são legí-
bem como da própria existência individual. Assim, a timas e quais não são, motivo pelo qual elas devem 0
ser abandonadas. Proibir o conteúdo do discurso
HO expressãodo pensamento é um ponto-chave do exer-
dificulta o amadurecimento da sociedade como um

=c cício de autodeterminação das pessoas do ponto de ;aE
c.o o vista individual e coletivo.í4ó =
G.D ::= todo porque a supressão impede o entendimentoda
-« 'o

162 163
lógica dessesraciocínios e os problemas deles decor- política cultural. Observamos ao longo desta obra
rentes. Essa teoria tem sido amplamente criticada que o humor racista não pode ser interpretado como
algo espontâneo, mas sim como uma ação deliberada
por diversos autores porque nem todas as pessoas
têm o mesmo poder de produzir e circular discursos que procura afirmar a noção de que minorias raciais
dentro do espaço público; há também dentro da esfera são pessoas inerentemente inferiores. Isso significa
pública a concentração de poder do discurso, o que que o racismo recreativo dificulta a integração social
situa indivíduos e grupos em posições distintas.:" de minorias raciais, requisito para que esses sujeitos
Doutrinadores também armam que a liber- soam reconhecidoscomo agentessociaiscompe-
dade de expressãoestaria legitimada no interesseem tentes. É por esse motivo que classificamos essa forma
defender a autonomia das pessoas. Esse direito seria de política cultural como um tipo de discurso de ódio
então um mecanismo relevante para que a pessoa pelos motivos que analisaremos a seguir.
Richard Delgado nos informa que o conceito de
possa afirmar sua personalidadedentro da esfera
discurso de ódio corresponde a uma forma de comu-
pública. Parte-sedo pressupostode que express.aro
nicação que expressa hostilidade em relação a deter-
pensamento significa projetar a personalidade indi-
vidual, fator necessário para a realização humana. minados grupos. Esse tipo mensagem por ser anali-
sado a partir de diversas perspectivas. O discurso de
Ligada a essa justificação da liberdade de expressão
está a posição segundoa qual o direito em questão ódio pode ser direto ou indireto, expresso ou enco-
tem a função de promover a tolerância. O encontro berto; uma mensagem pode expressarhostilidade ao
com o outro produz, com o conhecimentoda reali- fazer menção direta a um grupo de pessoas ou então
dade na qual ele vive, a necessidade de regulação da essa menção pode ocorrer a partir de traços que estão
associados à identidade social dos membros desse
expressão de sentimentos pessoais decorrentes das
diversas interações sociais."' grupo. O discurso de ódio pode ocorrer uma única
Se uma defesa liberal do direito à liberdade vez ou pode ser produtode uma repetiçãode atos
de comunicação que se repetem ao longo do tempo.
de expressão baseada na possibilidade irrestrita de
Dessa forma, eie se dirige a um grupo de pessoas cuja
quaisquer discursos nos parece amplamente proble-
identidade está ligada a elementossocialmente rele- n
5-
. mítica, a consideração da liberdade de expressão
g como proteção da capacidade de autogoverno abre vantes como a raça ou o sexo. Ele está baseado em
uma série de estereótipos negativos sobre membros
g possibilidades para nós pensarmos as implicações da =
= dessegrupo, estereótiposque são produto do status
ã circulação permanente do racismo recreativo como
8
165
164
cultural inferior que eles ocupam. Essas mensagens como um bem público. O discurso de ódio impede que
de hostilidade expressam e referendam as relações esse bem público seja preservado porque cria divisões
hierárquicas presentes em uma dada sociedade, rela- entre grupos sociais e impede que as pessoassejam
ções que situam indivíduos de forma diferenciada vistas como indivíduos que podem ser atores sociais
nas várias estruturassociais. Mensagens hostis trans- competentes. O discurso de ódio remete as pessoas a
mitem ideias da suposta inferioridade constitutiva regimes passados nos quais certos seguimentoseram
dos membros de minorias, motivo pelo qual eles não tratados como inferiores, o que compromete o reco-
podem gozar de apreço social, não podem ser inte- nhecimento do outro como um igual.'sl
grados às instituições, razão pela qual eles devem ser O referido autor argumenta que a presença do
segregados ou eliminados.'s' discurso de ódio expressa mais do que hostilidade de
As reflexões elaboradas até o presente momento grupos maioritários em relação a grupos minoritários.
nos levam a adotar uma posição contrária às defesas Ele não permite que eles sejam vistos como membros
liberais do direito à liberdade de expressão, princi- valorosos da sociedade, como pessoas que merecem
palmente aquela que encontra fundamento na teoria ocupar posições sociais relevantes, como sujeitos que
do espaço público como um mercado de ideias. Por podem aduarde forma competentena esferapública.
esse motivo, pensamos que as reflexões de Jeremy O discurso de ódio cria obstáculospara a preservação
Waldron sobre a questão do discurso de ódio são da harmonia social e impede que membros de grupos
particularmente importantes para nossa argumen- minoritários possam desenvolver o sentimento de
tação. Esse celebradojurista afirma que as sociedades pertencimento, de que as instituições sociais funcio-
genuinamente democráticas estão comprometidas narão para proteger seus direitos. Esse tipo de comu-
com a inclusão. Essas sociedadessão muito diversi- nicação tem como propósito específico comprometer
ficadas, motivo pelo qual seus participantes devem um objetivocentral do processo democrático: o reco-
estar cientes de que a prática democrática deve estar nhecimento da dignidade moral de todas as pessoas,
voltada à proteção dos interesses de todos os membros um interessefundamental de todas elas. É por isso que
da sociedade e não apenas dos grupos aos quais eles a circulação de estereótipos descritivos e prescritivos
CU pertencem. O senso de segurança que as pessoas por meio do humor sobre minorias raciais corrompe o
q)
0 desenvolvem em função da percepção da operação da
democracia garante a elas certeza psicológica, motivo
funcionamento do regime democrático, porque viola
um bem público central da ordem política. O discurso
5-
=
=

0 =
pelo qual nós devemos compreender esse processo de ódio compromete então um elemento de extrema

166 167
relevância' para a estabilidade social e para a estabili- expressa hostilidade em relação a certos grupos, ele
dade psicológica das pessoas: a dignidade."' possui efeitos negativos significativos porque legitima
O conceito de dignidade tem um sentido bastante práticas sociais destinadas a promover ou preservar
específico nesse contexto. Jeremy Waldron define esse hierarquias entre grupos sociais, especialmenteentre
termo como a posição social que uma pessoa ocupa grupos raciais. É importanteentão enfatizar este
dentro de uma comunidade, a reputação que um indi- ponto: o discursode ódio concorrepara agravara
vulnerabilidade social de certas classes de pessoas, o
víduo possui dentro de seu meio, o que o permite ser
tratado como pessoa igualmente digna. Os cidadãos que é claramente incompatível com a lógica inclusiva
têm o direito de serem vistos como pessoasplena- da democracia.O discursode ódio é um assaltoà
mente capazes de operar de acordo com regras cultu- dignidade das pessoas, uma violação da posição social
delas dentro de uma sociedade na qual deveriam ser
rais, o que garante a estima social. Por esse motivo, o
discurso de ódio é um assalto à reputação de membros reconhecidas como agentes competentes, como porta-
dores de direitos. Ataques desse tipo impedem que os
do grupo ao qual ele é dirigido. A reputação não,se
restringe apenas a pessoas específicas, ela também seres humanos possam gozar de igualdade de status
se refere a comunidades de pessoas que possuem cultural e de status material, dois interessespessoais
traços comuns, cujos membros são vistos como porta- e coletivos que as instituições estatais devem proteger
dores de uma mesma identidade. Assim, mensagens por serem expectativas legítimas dos membros da
de ódio contra minorias prejudicaa reputaçãodas comunidade política. A proteção dessa igualdade de
pessoas porque estas também são membros de um status é um compromisso de toda a sociedade porque
grupo social. Estereótipos negativos sobre minorias ele requer o reconhecimento recíproco da nossa igual
promovem estigmas que comprometem quase todas dignidade. Não podemos nos comportar de forma
as dimensões da vida dos seus membros, motivo pelo calculada para impedir que as pessoas possam ter sua
qual a circulação deles deve ser restringida.:;' dignidade reconhecida.is'
O discurso de ódio concorre para a vulnerabilidade Classiíicamos o racismo recreativocomo uma
social dos membros de grupos minoritários porque ele manifestação de discurso de ódio exatamente em
m propaga a ideia de que essas pessoas não são agentes função dessesmotivos aqui descritos. Ele é um tipo de =
= sociais competentes,além de comprometer o bem política cultural que procura arruinar a reputação social 5-
g público que é a ah'mação da igualdademoral entre de minorias raciais, o que é a base para que elas possam -=
= ser vistas como pessoas socialmente competentes.
lã todas as pessoas. Mais do que uma motivação que
8
169
168
Embora apareça na forma de humor, o racismo recrea- A desqualificação sexual de grupos minoritários é um
tivo reproduz estereótiposque são responsáveispela elemento que prqudica a vida afetiva dessas pessoas,
circulação de ideias que afirmam a noção de que mino- principalmenteda mulher negra. E claro que não
rias raciais não são pessoas que merecem o mesmo pode haver expressão de ódio mais grave, nenhuma
respeito dirigido a pessoas brancas. O humor racista agressão ao status de membros de um grupo pode ser
propaga estereótipos muito graves, estereótipos derro- mais danosa do que a comparação delesa animais.
gatórios que são responsáveis pela perda de oportuni- Chamar uma pessoa negra de macaco significa emitir
dades sociais dos membros desse grupo. Isso ocorre a mais perniciosa forma de ódio: é dizer que ela não
porque eles corrompem ou impedem que minadas pode ser vista como um ser humano. Uma sociedade
raciais possam ter uma reputação social positiva, o que permite a circulação de discursos que negam a
que afeta a vida dessesindivíduos de diferentes formas. humanidade de um grupo de pessoas permite que eles
Além de minar a possibilidade de criação de um senti- possam ser discriminados, segregados e exterminados
mento de solidariedade social, ele cria obstáculos para porque propaga a ideia de que eles não são merece-
que minorias raciais possam desenvolverum senti- dores de empatia. Isso é exatamente o que ocorre no
mento de pertencimento. Ele também compromete nosso país: o racismo recreativo é um tipo de discurso
toda a sociedade porque mantém oportunidades nas de ódio corrente que torna o sofrimento de negros
mãos de pessoasbrancas, aquelas que são vistas como algo intensamentedesejado para alguns e inteira-
os únicos agentes sociais competentes. mente indiferente para muitos.'ss
Podemos observar isso quando examinámoso E importante mencionar um aspecto importante
conteúdo das piadas racistas que são diariamente da argumentação do autor citado. A aHinnaçãode que
reproduzidas na nossa sociedade,sda pelos meios de o racismo recreativoé um tipo de discurso de ódio
comunicação,sela nas interaçõessociais no espaço não significa que ele é uma mera ofensa. A proteçãa
público e no espaço privado. Representações de negros contra o discurso de ódio não tem apenas o propó-
e de indígenas como pessoas indolentes reforçam um sito de proteger os sentimentos das pessoas, embora
imaginário que reduz as chances de eles terem acei- possamos considerar isso um interesse legítimo. O
c6 tação no mercado de trabalho ou de serem promo- compromisso com a democracia implica a proteção =
a)
0 vidos; as diversas piadas que reproduzem sentidos das pessoas contra mensagens que as desqualiHicam
como atores sociais competentes por pertencerem a
5-
=
=
negativos sobre a negritude faz com que negros não =
0 sejam percebidos como parceiros sexuais adequados. minorias. As normas que criminalizam o discurso

170 171
de ódio procuram proteger membros de minorias plano político, notoriamente a Ragmentação social,
o que traz consequências sérias ao longo do tempo.
de estigmasque criam obstáculospara a integração
social deles. As normas jurídicas que restringem
Mensagens de conteúdo discriminatório diri-
discurso de ódio não pretendem apenas proteger os gidos a um indivíduo específicopodem gerar danos
signiHlcativospara ele. Um incidente racista como
sentimentos das pessoas, mas a possibilidade delas
uma piada que reproduz estereótiposde naMreza
terem condições de existência digna dentro de uma
negativa gera alterações Hisicas imediatas na pessoa,
sociedade. As pessoas devem ter o direito de viverem
como aumento da pressão sanguínea, mudança do
livres de estigmasporque elas não devem ser moral-
padrão de respiração e comportamentos agressivos.
mente degradadas, nem devem ser impedidas de Tendo em vista o fato que estereótiposnegativos
serem reconhecidas como seres capazes de atear da sobreminorias atuam de forma incessantedentro
esferapública, porque isso impede que elas possam do nosso universo cultural, outros problemas podem
exercera cidadania de forma plena. ocorrer: baixa autoestima, diminuição da aspiração
pessoal e comportamentos depressivos. Estudos
6.2 As consequências psicológicas
sugerem que certas doenças particularmente comuns
e sociais do humor racista
entre grupos minoritários, como alterações de
Nossa reflexão sobre o humor racista levanta pressão cardíaca e também de diabetes, estão asso-
ciadas ao estresseemocional devido à exposiçãoa
uma questãoque não pode deixar de ser consi- tratamentos discriminatórios.:só
derada. Esse tipo de mensagem afeta apenas a
Vemos então que os danos psicológicosdecor-
expectativa das pessoas de serem tratadas de forma rentes de tratamentos discriminatórios legitimados
adequada dentro do espaço público? As consequên-
por estereótipos são significativos. Eles incluem
cias do racismo recreativo não se resumem à ilus-
medos patológicos e retraimento social. O indi-
tração do exercício de direitos, o que já é problema víduo faz todo o possívelpara evitar as situações
considerável. Mensagens depreciativas sobre grupos
minoritários causam danos psicológicos significa- que provocaram estresseemocional, o que torna a
vida em sociedade uma fonte de ameaça constante. a
1.8.J r«
c..D '6
ao
UJ &.-
tivos. A circulação contínua de estereótipos nega-
tivos também pode provocar danos psicológicos de Essas pessoas podem desenvolver um sentimento de 5-
desconfiança permanente em relação a membros dos
longa duração nos indivíduos. Além dos problemas =
grupos dominantes, algo muito grave, uma vez que
C/3 0
- CD surgidos no plano pessoal, temos ainda questões no
G.9 ::=
1« '0

173
172
ela está em contato com eles todo o tempo. Mas algo ódio contra as pessoas.Os defensoresdessa pers-
ainda mais problemático pode ocorrer, porque essas pectiva acreditam que as instituições estatais devem
pessoas podem internalizar o ódio expresso nas repre- ter uma postura neutra sobre esse tema porque não
cabe a elas restringir o conteúdo de discursos sociais.
sentações racistas e procurar se afastar do próprio
Essa postura mostra-se particularmente problemática
grupo social, o que significase afastar de si mesma.
Outros indivíduos recorrem a meios problemáticos quando é defendida em uma sociedade que construiu
uma narrativa social baseada na noção de neutrali-
para reagir ao problema do racismo, fazendo uso de
dade racial. Ela permite que o discurso de ódio seja
drogas ou desenvolvendo os mais diversos sintomas
classificado como uma mera grosseria, o que contribui
psicossomáticos. Desgraçadamente, a consciência de
que nunca serão respeitadoscompromete seriamente para a marginalização cultural de minorias raciais.ts8
o desenvolvimento psicológico. As pessoas podem As consequências psicológicas do discurso de
responder a estereótipos racistas de forma agressiva ódio apontam a necessidade de criarmos uma inter-
ou então passiva, sendo que nos dois casos os danos pretação dessetema que parta da perspectiva daqueles
psicológicos são signiÊcativos."' que sarem as inúmeras consequências da margi-
nalização cultural propagada pelo humor racista. E
6.3 A liberdade de expressão necessário levar em consideração, em primeiro lugar,
a partir do ponto de vista do oprimido a forma como o discurso de ódio afeta a reputação
de todos os membros de um grupo racial, favor que
Seguindo a argumentação proposta por . Alar comprometea vida psíquica e também a vida mate-
Freeman, penso que a interpretação liberal do direito
rial dos indivíduos. O direito de uma pessoaou um
à liberdade de expressão tem um grande problema: grupo de pessoaspoderem exprimir hostilidade racial
ela representa a perspectiva do opressor. Essa posição
não pode ter um peso maior do que o statusmoral
e o status material de todos os membros de mino-
privilegia a análise do conteúdo do discurso e também
do direito individual sobre os interesses coletivos de rias raciais. O argumento presenteno debatepúblico
grupos minoritários. Muitos pensam que a circulação brasileiro de que o humor racista apenas expressa
do discurso de ódio tem plena compatibilidade com crenças individuais ignora de forma voluntária os
5-
l-i.J ,«

UJ L-
c..9 '6 o sistema democrático porque todo tipo de discurso danosque ele causa na vida de todos os membros
HO de minorias raciais: estereótipos negativos os acom-
deve circular; o próprio sistema político será respon' =
=c panham em todos os âmbitos de suas vidas e por
-
G.D
(D
::=
sável pelo descrédito de mensagens que veiculam
« 'u
H <(

175
174
toda a vida deles. Os mesmos conteúdosderrogató- de um tipo de unidade baseada na ideia de que todos
rios sobre negros presentes em programas humorís- os seres humanos podem atuar de forma competente
ticos também estão presentes nas diversas mlúrias na esfera pública. O discurso de ódio compromete
essa dimensão política da civilidade porque reproduz
raciais que ocorrem no mercado de trabalho. Mais
concepções de que apenas certas pessoas podem ser
do que causar danos à vida material dessesgrupos de consideradas como seres humanos.isP
pessoas, eles expressam a ideia de que negros não são
pessoas, de que não merecem apreço social, elemento
que possui um caráter estratégicono processo de
manutenção da hegemonia branca.
Interpretar o direito à liberdade de expressão a
partir da perspectiva dos grupos subordinados implica
ainda a necessidade de considerarmos a função social
das regras sobre civilidade. Elas são importantes para
a promoção da coesão social porque exigem que as
pessoas direcionem suas ações a partir de nomias que
podem ser moralmente justificadas. Regras de civili-
dade exigem que reconheçamos o fato de que todos
os membros da comunidade política são membros
capazes de atuar na esfera pública. A formação da
nossa consciência moral está diretamente relacionada
à nossa experiência na vida em sociedade, motivo
pelo qual regras de civilidade permitem que os grupos
humanos possam ter uma reputação positiva. Elas não
são meras normas de cordialidade, mas mandamentos
que nos pemntem reconhecer as outras pessoas como
B pessoas que são merecedoras de apreço social. Mais
5-
CU

0 do que normas que permitem a cooperação cotidiana


= entre pessoas, as regras de civilidade têm uma ftlnção =
= 0
bem mais relevantepara uma sociedade: a formação
=

177
176
7. CONCLUSÃO
afetando, então, o status social que elas ocupam dentro
da sociedade.Essa forma de políticaculturalpossui
os mesmos objetivos da tradicional narrativa cultural
da democracia racial: afirmar a superioridade moral
da população branca brasileira em relação a parcelas
brancas de outros países em função da inexistência de
um problema racional na nossa sociedade.
O percurso traçado nesta obra mostra que o
racismo recreativo deve ser visto como uma política
cultural cÜa consequência indireta é a manutenção de
arranjos sociais responsáveispela marginalização de
Nossa análise do fenómenodo racismo recreativo minorias raciais. Ele reproduz uma série de estereó-
nos permitiu identificar um tipo de racismo caracte- tipos negativos que também estão presentes em todos
rístico da sociedade brasileira, uma forma de política os outros mecanismos nos quais podemos identificar
cultural que utiliza o humor como veículo de hostili- a intenção específica de discriminar minorias raciais.
dade racial. A representaçãodo humor racista como Dessa fobia, ele congregaelementoscomuns da
algo benigno compromete a reputação social de mino- produção do humor, como as noções de superioridade,
rias raciais, o que referenda práticas discriminatórias em de incongruência, de satisfação de impulsos hostis para
todos os aspectos da vida social. Podemos classificar o reproduzir o mesmo elemento dos discursos manifestos
racismo recreativo como uma estratégiade dominação de ódio: a suposta inferioridade constitutiva de pessoas
em função do seu papel em mascarar a hostilidade negras, da incapacidade de essas pessoas poderem
generalizada em relação a minorias raciais no nosso aduarde forma competentena esfera pública. Assim,
país. Membros do grupo racial dominante podem obter a degradação moral da população negra, alvo principal
satisfação psicológica ao afimiar sua suposta superiori- do racismo recreativo, forma uma unidade cultural com
dade e ao mesmo tempo manter uma imagem social de várias outras manifestações de racismo, razão pela qual
pessoas que não são racistas. A presença persistente do a distinção entre racismo e injúria carece de sentido. Os e
racismo recreativo em diferentes esferas da vida social dois iUcitos dizem respeito exatamente à mesma coisa,
0
=
=
é um mecanismo responsável pela perda de oportuni- qual sqa, um ataque à reputação da pessoa em ftlnção ;aB
=
dades sociais de minorias raciais em diferentesesferas, do pertencimento dela a uma minoria racial.

180 181
NOTAS. REFERÊNCIAS E ANEXO
10. Danielle Barbosa. Edilson revolta palmeirenses com comentário
Notas sobre Jaílson: "goleiro negão sempre toma gol". Disponíve!
No original: "(-.) in our game". HALL, Stuart. Cultural em: <https://wwwtorcedores.com/noticias/2018/02/edil-
Identity and Disporá. h: RUTHERFOR]), Jonathan(ed.). son-revolta-p almeirens es-com-comentário-s obre j anson-go -
IdmüU Commz nf C / re Z)íWnerzce.London: Lawrence and leito-negam-sempre-toma-um-gola.Acesso em: 12jun. 2017.
Whishart Limited, 1990, p. 222. 11 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça Desportiva. Recurso
Para uma breve análise das implicações culurais desse fenó- 211/2014.Órgão Julgador: Tribunal Pleno, Relator: Paulo
meno, ver Djamila Ribeiro, Q m rm medada.árminismonqro? Casar SalomãoFilho, 26 set. 2014. Pessoasprocessadaspor
São Paulo: Companhia das Letras, 2018, p. 58-62 injúria racial comumente usam esse expedientepara afirmar
que não são pessoas preconceítuosas. Para uma análise da utili-
BRASIL. Tribunal de Justiça de São Paulo, 10' Vara Criminal,
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Processo n. 0104664-15.2012.8.26.0050, Juiz: Marcelo Manas
Crimes de preconceito e discriminação. 2. ed. São Paulo
Peneira, 24 abr. 2014.
Saraiva, 2010, p. 41-45
Marcos Sacramento, Efeito Waack: comediante amigo de
12 BRASIL. Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Terdtóríos.
Genüli dobra o racismo do jornalista da Globo em show
Processo n. 17901. Juíza: Sandra de Santas,9 set. 1997.
Disponível em: <https://wwwdiariodocenüodomundo.com
br/efeito-waack-comediante-amigo-de-gentili-dobra-o-ra- 13 A análiseclássica do $enâmenopode ser encontradana obra de
Eduardo Bonilla-Salva. .Raclsm u,/fÊoz/z xacísB; cozer-Z)//nd xacZsm

Acesso em: 12 jul. 2018. and {he pafsistance of nada! inequaliW in the United Status. Nana
York: Rowman & Littleãeld, 2006. Para um estudo sobre a
q BRASIL. Tribunal de Justiça de São Paulo. Apelação Criminal
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n. 990.08.068488-44,Órgão Julgador: 16' Câmara de Direito
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6. BRASIL. Tribunal de Justiça do Rio de.Janeiro. Apelação 830-868,2017.
Criminal n. 128222-95.2011.8.19.0001,Órgão Julgador: 7'
14. Ver nesse sentido Robert N. Bellah, "The meaning of defama-
Câmara Criminal, Relator: Sito Darlan de Oliveira, 5 jun
tion in American Society". Cü/@m/alaw Rwlel,i/,v. 74, n. 3, p.
2012
743-756,1986;Antânio Jorge Fernandes de Oliveira Mendes,
7. BRAS]L. Tribunal Regional do Trabalho da 15' Região, Recurso O dfrüfa ci #o/znne sua fe/ape/za/.Coimbrã: Almedina, 1997
Ordinário n. 0012635-56.2016.5.15.0051, Órgão Julgador: l
15 A nanativa da cordialidade racial do povo brasileiro tem
Turma, Relator: rosé Otávio de Souza Ferreira.
sido sistematicamente
contestadaao longo das últimas três
U 8. BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da .6' Região, Recurso décadas. Ver, por exemplo, Jessé Souza, .4 xn# ónmiíe/ru.Qzlem =
CU

a)
Ordinário n. 000030-44.2011.5.06.0014, Orgão Julgador: 4'
Turma, Relatora: Nise Pedroso Lins de Souza, 31 jul. 2014
é e comov/ve. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2009; Carlos
Hasenbalg. DÍscdminaçãoe desigualdades raciaisno Brasií. Belo 5-
= 9. BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 4' Região, Recurso Horizonte: Editora UFMG; Rio de Janeiro: IUPERJ, p. =
= C Ordinário n. 0021351.2015.5.04.0001, Relator: Tania Rosa 172-203
Maciel de Oliveira, 31 mar. 2017. LA... Bw

185
184
24. Para uma análise do conceitoem questão,ver SteveGarner,
16. Ver, por exemplo, Thomas E. Ford & Maré A. Ferguson, Sacia/
.Racísms, an /nfrodudó/z. Londres: Sage, 2010, p. 19-33
catwquences of disparagnmettl humor; a prdudiced nora lheoO" .
" Parsonalityand SocialPsychologyReview". v. B, n. \ , P. 19-94, 25. Ver nesse sentido lan Haney Lopez, "The social construcdon of
2004; Ronaldo Laurentino SalesJúnior, Raça ejasüça.'o mirada race: some observations on illusion, fabrication, and choice:
dalzioaaaa gula/e o racismofnsfiMciom/no.pmo d2Juslffg. Recite: Rama d Civil Rights, Ci:üt LibertiesLaw Reüew, v. 29, n. \, p.
Fundação Joaquim Nabuco, 2009. 1-62, 1994

t'%R.!un;mmu;zx
26. Para uma análise desse processo, ver Nela Irvin Painter, Zhe
é&fo?of wàzfe
peap/e.Nova York: Norton & Company, 2010;
Theodore Allen, T%e ílzpmaofz of f/ze wÃ/fe Mare.Rarfa/ o2prPssz'olz
Netto et al. lzEls/ardopena/especfa/.3. ed., São Paulo: Saraiva, a dsocüz/ c:on/70/.Londres: Verso, 1994
2010, v. 2, P. 67-99. 27. Ver nesse sentido Matthew Desmond & Mustafa Emirbayer,
18. Ver Adilson José Moreira, O gz/eé díscnmínação? Belo Horizonte: Racial domination,radaíprogress. ThesocioÍogyof facein AmeHca.
Leüamento/Justificando, 2017. Nova York: McGrall HiR, 2009, p. 49-101
19. Para uma análise das diversasteorias sobre o racismo, ver espe- 28 Para uma análise da percepção social do humor racista no judi-
cialmenteRobert Males & Malcolm Brown, .Rczc/sm.
Nova ciário brasileiro, ver Camila Tavares de Moura Brasil Matos.
York! Routledge, 2004. A percepçãoda injúria e do racismo entre os operadores
20. Ver nesse sentido rosé Jorre de Carvalho, Inc/üsão é íca e rapa/
do direito. Dissertação(Mestrado em Direito) Faculdade
no Brmli. São Paulo: Alar Editorial, 2006; Joaquim Balbosa de Direito. Universidade de São Paulo. São Paulo. 2016:
Mana Letícia Puglisi Munhoz, Direitos humanos e conflitos
Comes. Ação a$mtaciva e o prindpio constitucional da {gu+aldade
Rio de Janeiro: Renovar, 2001 raciais.Uma contribuiçãoda teoriada branquidade
para
a análise da jurisprudência brasileira sobre a conduta da
discriminação racial prevista na legislação. Tese(Doutorado
em Direito) Faculdade de Direito, Universidade de São
Paulo, São Paulo, 2015
lvan Hannaford, face, fbe Ifzfe/erma/ #isfoW of na ídea flz f#e
29. Para uma análisedo tema ver sobretudoRobertFriedman.
IHaf. Baltimore=John Hopkins University Press, 1996; Justin
Desaltes-Stein. "Race as a legal concept". Co/umbfa Jozlma/ af 'lnstiUtional racism: how to discrinlinate without really
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0
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= 0
=
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23. Michael Omi & Howard Winant, Racha/jormarlolz flz #e t/nlfed
Sfafes.3. ed. Nova York: Routledge, 2014, op- cit, P. 124-130. a diHerent calor: European immigrants and the alchemy of

187
186
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45 Ver nesse sentido Karla Perez Partira. Rednzsszn8
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0
41 Para uma análise da dinâmica social e psicológica sobre a
branquitude,ver sobretudoEdith Piza et al. Ps/ro/agia
sana/
53 Aaron Kozbelt & Kana Nishioka, "Humor
humor production and insight: an exploratory study". nümor,
comprehension,
5-
do lacísma.Petrópolis:Editora Vozes, 2002; Steve Garner v. 23, n. 3, p. 375-401,2010. =
=
=

%/fe/zess.afz !fzfroduraolz. Nova York: Routledge, 2007 54. Rod A. Martin, "Psychology of humor'', op. cit., p. 44. L.U B-n

<c

189
188
72. Ver nesse sentidoMlchael Philips, "Racists acta and racist humor'
55. Mare Ferguson & Thomas Ford, "Disparagementhumor: a
theoretical and empiúcal review of psychoanalytic, superiority
n. "Canadzan Joa/vza/ af PBI/asopÀy", v. 14, n. 1, p. 75-96. 1984;
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31, n. 2, p. 169-187, 2012
56. Tbomas E. "Ford & Mark" A. Ferguson, op. cit. P- 292-293.
74. Ver a clássicaobra de GeorgeLipsitz, "The possessiveinvest-
57. Idem,p. 296-298. ment on whiteness. How white people beneHitfrom identity
58. Thomas E. "Ford & Maik" A. Ferguson, op. cit., P. 298-299. politica". Filadélíia: Zemp/eUnlversfQ /'urss, 2006
59. Rod A. Martin, op. cit., P. 33. 75 Para uma análise da lógica do privilégio,ver Linda Blake &
60. Tthomas E. "Ford & Mark" A. Ferguson, op- cit., P. 283-285.
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Nova York: Pallgrave, 2005, p. 63-64.
76. Para uma análise de piadas derrogatóriassobre negros, ver
Dagoberto José Fonseca, você confere ag e/a.zSão Paulo:
62. Noel Caroll, "Humor, a very short introduction". Oxford: O;ç/brd Summus, 2012.
UnÍversÍ Press, 2014, P. 16-18.
77. Para uma análise da estrati6cação racial no mercado de trabalho,
63. Idem, p. 22-23. ver Edward Telles, ''Race in another America: the importance
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v. 4, n. 1, p. 1-7, 1997
66. Ver a obra e referênciasbibliográficaspresentesem Aaron
Smuts, TheerÀiksof # mor canyoursemfof AKmoíbfmono?Ef#íc 79. Ver Gislene Aparecida dos Santos, .4 i benção da ser negro.'zlm
7%eoTandamora/
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67. Para uma análise das característ cas do humor racista, ver Luvell
Anderson, op. cit, P. 501-509. 80. Ver Leonardo Dallacqua de Carvalho, Os maços da /zmzdlzarzedade.'
co ruça e mgenla lzol?nas!/.Cuiitiba: Prismas, 2015.
68. Ver CharlesHusband, "The mass media and the ftjnctionsof
ethnichumour", In: Anüony Chapman(Ed.), l/k a-@nny f#inE, 81 Para uma análisedas relaçõesentreraça e políticana história
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2005
5-
= =
= 0
= 82. Herman Gray, Watchhg rale: televisionand thesüuggleüorblack-
71. David Benataí, "Prejudice in )est: when racial and gender humor ness.Minneapolis: Un/vm19ofi141nfzesoia
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hamls". .fbb/if JWain Qua#nly, v. 13, n. 2, 1999, P. 191-196.
<(

191
190
83 Ver nesse sentido Darnell M. Huna, "Making pense of blackness
on television". In: Darnell Hunt (Ed.). C#a/zne//ingó/actness
on telnision and face in America. Oxford: Oxfmd UniversityPress,
T Rio de Janeiro. Disponívelem: <https://wwwyoutube.com/
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de Televisão. Rio de Janeiro. Disponível em: <https://www
2005, P. 1-24. youmbe.com/watch?v=KlhFmY9W00A>. Acesso em: 23
84. Para um estudo detalhadoda imagemdo negrona telenovela jun. 20 18; OS TRAPALHÕES. Tido Macalé substitui Mussum
brasileira, ver Zito Arado, .X negaçãodo .B/zzsÜo nqro na fe/e/zo- em Os Trapalhões. Rede Globo de Televisão. Rio de Janeiro
veZaó/asl/rixa.São Paulo: Senac, 2004. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=w-
tDlowdg7w>. Acesso em: 22 jun. 2018.
85. Herman Gray, op.cit., P 1-10.
89 Ver, por exemplo,OS TRAPALHOES. Mussum e Tião Macalé,
86. Ver OS TRAPAI,IÕES. Tido Macalé, ih, nojento, tchaml os mestresdo 171. Rede Globo de Teleüsão. Rio de Janeiro
Rede Globo de Televisão.Rio de Janeiro. Disponível em
Disponível em: <https://wwwyoutube.com/watch?v=TQA-
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OS TRAPALHÕES. Tido Macalé é papal.Rede Globo de
Televisão. Rio de Janeiro. Disponível em: <https://www 90 Ver, por exemplo,OS TRAPALHÕES. Mussum no bar. Rede
Globo de Televisão.Rio de Janeiro. Disponível em: <https://
youtube.com/watch?v=n.HA4swIG-U>. Acesso em: 22 jun
2018 wwwyoutube.com/watch?v=rWCuBBuZ51A>. Acesso em:
24jun. 2018;OS TRAPALHÕES. Mussum nobar do portu-
87 Ver, por exemplo, OS TRAPALHÕES Boa .noite(com guês. Rede Globo de Teleüsão. Rio de Janeiro. Disponível
Renato Aragão e Tião Macalé). Rede Globo de Televisão.
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197
196
delitocontra I'onore secondoil codiceepende italiano. Melão: teria dito para outra ficar de olho em um homem negro porque
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Teoria generaledel dei delitti congro I'onore. Romã: Libreria Minas Gerais, Apelação criminal n. 1.000.00.152296-0/000,
RicerceEditrice, 1953,p. 17-51 órgão julgador: 3' Câmara Criminal, Relator: KelsenCarneiro
(alegandoque, apesardas provasque afirmarama presença
112.CarlosFontán Balestra, op. cit., v. 4, p. 421-424; de brincadeiras de cunho racial, a parte não conseguiu
113.Luiz RegasPrado, op. cit., v. 2, p. 275. comprovar a existência da intenção de ofensa racial); BRASIL
114.Nelson Hungria. Comenránosao ród@opma/. Rio de Janeiro: Tribunalde Justiça de Minas Gerais, Apelação
. Criminal
Forense,1955,v. 6, p. 36. n. 1.0000.00.152296-0/000,Orgão Julgador: 3'' Câmara
Criminal. Relator: Kelsen Carneiro, 30 nov. 1999(indeferindo
115.Antõnio Jorge Fernandes de Oliveira Mendes, op. cit., p. 19-21. recurso sob o argumento de que não o apelante não produziu
116.Glenn Loury. "The anatomy of racial inequality". CamóndEe.' provas de que as brincadeiras que faziam referênciaà raça do
21amardUnlvenf i3xzss,2002, P. 55-109. indivíduo como, por exemplo, "preto que nasceu bom, nasceu
117.Cezar Roberto Bitencourt, op. cit., v. 2, p. 330-331 morto" tellham conotação racista); BRASIL. Tribunal de
Justiça do Rjo de Janeiro, Apelação Cível n. 2008.050.01548.
118.Salvatore Messina, Zeona gelzera/e deí de/í í colzfro /'onoxe. Romcz.'
órgão Julgador: I' Câmara Cível, Relator: Antânio Jayme
Libreria Ricerce, 1952,p. 78-95. Boente,2 abr. 2009(absolvendoo acusadode injúriaracial por
119.Julian Pitt-Rivers. "Honour and social status" . In: J. G. Perisdany acreditarque a expressão"Olha lá, a negrinha foi pra lál").
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120. Anel Honneth. .4 /lirapor r cofz&ecfmen/o.
São Paulo: Editora Relator: Diógenes Vicente Hassan Ribeiro, 07 nov. 2013
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122.Idem, p. 707-708. Julgador: 7' Câmara de Direito Privado, Re]ator: 13 ju]. 2005
123.BRASIL. Tribunal de Justiça de São Paulo, Apelação Criminal (solicitando revisão de sentença condenatória sob o argumento
n. 327.399-3/5.Orgão Julgador: 3' Câmara Crüninal, Relator: de que mantinha relações cordiais com a pessoa que teria ofen-
Oliveira Ribeiro, 29 maio 2001(classiHícandoo uso do termo dido ao dizer que "só podia ser coisa de preto")l BRASIL
U urubu para se referir a uma pessoa negra como um ultraje, mas Tribunal Regional Federal da 2' Região, Apelação Criminal n.
insuficiente para caracterizar a intenção de ofender uma pessoa 200050010031876, Orgão Julgador: 2' Turma Especializada,
0 negra); BRASIL. Tribunal de Justiça de São Paulo, Apelação Relator: André Fontes, 6 maio 2009(afirmando que sua
= Criminal n. 9132135-76.2007.8.26.0000,
Órgão Julgador: 8' classificação de negros como indolentes não pode ser tipiâ- =
= 0 =

Câmara Criminal, Relator: Pedra de Alcântara, 15 ago. 2012 cada como racismo porque ele tem um 6Hhoe muitos amigos
(negando a existência da intenção de ofender a uma pessoa que negros); Tribunal Regional do Trabalho da I' Região. Recurso

199
198
'v
Ordinário n. 0186000-30.2007.5.01.0481, Orgão Julgador: I' de origem haitiana como indivíduos avessosao trabalho);
Tumba, Relator: Gustavo Tadeu Alckimin, 26 abr. 2011(a6r- BRASIL. Tribunal de Justiça de São Paulo, Apelação Cível
mando que relações pessoais não são motivos suãcientes para n. 9132135-76.2007.8.26.0000, Órgão Julgador: 8a Câmara
justiâcar o uso de expressõesracistas). de Direito Privado, Relator: Pedro de Alcântara,15 ago. 2012
125.Ver,por exemplo,BRASIL. Tribunal de Justiça do Rio Grande (acusado classiÊcando como brincadeira o comentário feito na
do Sul, Apelação Cível n. 70054174610,órgão Julgador: 3' dente de colegas para que eles ficassem de olho em homem
Câmara Criminal, Relator: Diógenes Vicente Hassan Ribeiro, 7 negro porque senão ele não trabalhada); BliASIL. Tribunal
nov. 2013(comparando a qualidade do üabalho de um homem Regionaldo Trabalho da 2' Região, Órgão Julgador: 16'
Turma, Relatora: Damia Aboli(Empresa classi6cando como
negroa um tipo de macaquice,o que atestadasua capaci-
racismo bases de um dos chefesque aquele local não era um
dade de ser um empregadoda empresa);BRASIL. Tribunal
de Justiça de São Paulo, Apelação Criminal n. 0000650- shopping e que os funcionários negros teriam que trabalhar
68.2012.8.26.0247,
Órgão Julgador: 2' Câmara Criminal de qualquer maneira); BRASIL. Tribunal Regional Federal
Extraordinária, Relatora: Cláudia Lúcia FonsecaFanucchi, 14 da 2' Região, Apelação Cijminal n. 200050010031876, Orgão
jun. 2016(negandoque seu comportamentode ter chamado Julgador: 2' Turma Especializada, Relator: André Fontes, 6
uma pessoa de macaco possa ser visto como racismo porque maio 2009(acusado a6umandoque categorizaçãode negros
ela tem amigos e ftlncionários negros); Tribunal Regional como indolentes e preguiçososnão podem ser vistas como
do Trabalho da I' Região. Recurso Ordinário n. 0186000 racistas porque foram ditas em tom de brincadeira)
30.2007.5.01.0481, Órgão Julgador: I' Turma, Relator: 127.Ver, por exemplo, BRAStl. Tribunal de Justiça de São Paulo,
GustavoTadeu Alckimin, 26 abr. 2011(acusadasutilizando Apelação Criminal n. 327.399-3/5,Orgão Julgador: 3' Câmara
supostasbrincadeiras para se refere à funcionária negra que Criminal, Relator: oliveira Ribeiro, 29 maio 2001(acusado
não fazia suas atividades de acordo com suas estritas expec- comparandouma mulher negra a um urubu); BliASIL
tativas);Ver, por exemplo,BRASIL. Tribunal Regionalda I' Tribunal de Justiça dolUo Grande do Sul, Apelação Cível n
Região, 2' Vara do Trabalho de Macaé, Processo n. 0100314- 70054174610, Órgão Julgador: 3' Câmara Criminal, Relator:
52.2016.5.01.0482,
Juiz: Johnny GonçalvesVieira, 12 out. Diógenes Vicente Hassan Ribeiro, 7 nov. 2013(acusado
2016(empresa alegando que comentários do chefe que afir- dizendo que seu ato de comparar negros com macacos não
mavam a inferioridade moral de negros, o que os incapacita era nada mais do que uma bilncadeira); BRASIL. Tribunal de
de trabalhar de forma adequada, eram apenas brincadeiras). Justiça do Rio Grande do Sul, Apelação Cível n. 70056042021,
126.Ver, por exemplo, BRASIL. Tribunal de Justiça de São Pauta, Orgão Julgador: 3' Câmara Criminal, Relator: Nereu José
Apelação Cííminal n. 9132135-76.2007.8.26.0000, Orgão GiacomoH1, 19 set. 2013(acusado alegando que jogar uma
Julgador: 8'. Câmara Criminal, Relator: Pedra de Alcântara, banana em direção a uma mulher negra e chama-la de macaca
U 15.08.2012(classücando a afirmação de que negros não era apenas uma brhcadeíra); BRASIL. Tribunal de Justiça,
10' Vara Criminal, Processo n. 0104664-15.2012.8.26.0050 e
a} gostam de üabalhar como uma brincadeira);BliASIL.
0 (absolvendo humorista que perguntou a homem negro quantas «
Tribunal Regional da 2' Região, Recurso Ordinário n. 0001178-
= 0 bananas ele queda para parar com sua acusaçãode racismo);
70.2014.5.02.0435,órgão julgador: 16' turma, Relatora: =
=

BRASIL. Tribunal de Justiça de São Paulo, Apelação Cível n.


Dâmia Aboli, 4 maio 2016(gerentese dirigindo a empregados
<(
502.034-04/0-00,Órgão Julgador: 5' Câmara de Direito Cível,

200 201
0011351-79.2017.4.02.0000, Orgão Julgador: Turma Especial
Relator: Oscarlino Moeller, 20 jun. 2007(acusando classi-
Pena[, Re]ator: Antânio ]van Athié, 25 out. 2017(concedendo
6tcandocomo brincadeira seu ato de deixar uma foto de um
habeascorpus porquenão idendíicou intençãode ofendertoda
macaco no quadro de aMsos de empresa para se refere a um uma raça na frase ''Pra ninguémachar que eu gostosó de loiras
subordinado negro).
e ruivas deliciosas, minha negra ficou uma delícia. Eita negra
128.Ver, por exemplo, BRASIL. Tribunal Regional da I' Região, cheirosa, gostosaaaal111111
1Eita lasqueira."); BRASIL. Tribunal
Recurso Ordinário n. 0000657-71.2011.5.01.0302,
Orgia Regional do Trabalho da I' Região, Recurso Ordinário n.
Julgador: 10' Turma, Relatora: Rosada Salim Vitela 0000346-06.2010.5.01.0047,
C)rgão Julgador: 8' Tumba,
Travesedo.20 fev. 2013(chefe fazendo comparação entre Relatora; Edita Mana Corrêa Tourhho, 30 ago. 2011(empresa
ftlncionário e animais, para afirmar sua diferença constitutiva classificando comentários racistas e homofóbicos de um chefe
de pessoas brancas). em relação a um funcionário como meras brincadeiras que não
129.BRASIL. Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, Apelação Cível poderiam ter ofendido o autor do processo).
n. 16893/2000,Orgão Julgador: 16' Câmara Cível, Relator 131.BRASIL. Thbunal Regional da 2' Região, Recurso ordinário
Mano Roberto Mannheimer. 24 fev. 2005(acusado caractere n. 027800075200950200085,
Órgão Julgador: 10' Tumba,
zando o cabelo crespo como um sinal de feiura, de inferiori- Relatora: Cândida Alces Leão Leão(gerente afirmando
dade moral e estética);BRASIL. Tribunal de Justiça do Ria que três ou quatro negros juntos estariam fazendo advidade
Grande do Sul, Apelação Criminal n. 71002130425, Orgão criminosas); BRASIL. Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro
Julgador: 3' Tulha Recursal Cível, Relator: Eugênio Fachini Apelação Cijminal n. 128222-95.2011.8.19.0001,
Orgão
Neto. 29 out. 2009(acusado classiâcando como brincadeira a Julgador:'7' Câmara Crimina], Re]ator: Siro])arlan de
comparação entre o cabelo de uma mulher negra com cabelo Oliveira, 5 jun. 2012(mantendo decisão inferior que absolveu
do cobra. feita com um megafone em local público)l BRASIL. homem branco que perguntou a jovens negros se eles iriam
Tribunal de Justiça de São Paulo, Apelação Cível n. 0017188- roubar outroânibus).
33.2008.8.26.0161,
Orgão Julgador: 10' Câmara de Direita
132.Ver, por exemplo, BRASIL. Tribunal Regional da I' Região,
Público. Relator: Antânico Carlos Villen, 17 nov. 2002(profes- 2' Vara do Trabalho de Macaé, Processo n. 0100314-
sora aHumando que uma aluna negra só poderia se encontrada
em ambientes escuros se ela sorrisse).
52.2016.5.01.0482,Juiz: Johnny Gonçalves Vieira, 12 out
2016
130.Ver, por exemplo, BRASIL. Tribunal de ,Justiça do Rio de 133.BRASIL. Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, Apelação Cível
Janeiro, Apelação Cível n. 16893/2000,Orgão Julgador: 16' n. 16893/2000,Orgão Julgador: 16' Câmara Cível, Relator:
Câmara Cível, Relator: Mano RobertoMannheimer,24 fev.
Mano Robert Manheimer, 29 jun. 2004. Para uma análise
2005(fazendo referência à imagem social da mulher negra de representaçõeshumorísticasda mulher negra na cultural
como uma expressãode sua sexualidade);BRASIL. Segunda e
pública brasileira, ver Kia Lüly Caldwell, Look at her hairl The
CU

a)
Vara do Trabalho de Contagem, Processo n. 01597-2009-030-
03-00-1.Juíza: Katia Fleury Costa Carvalho,20 jun. 201a body politics of black womanhood in Brazil. Transforming 5-
0
= Anthropology, v. 11, n. 2, p. 18-29,2004. ;aB
(superior fazendo brincadeiras que continham ideias demo =
= 0
=

gatóriasde uma funcionáriapor ser negrae por selmulher) 134.Ver nessesentidoRoberta Fragoso Kauítnan. .4fõesa@nvnafívas
à
BRASIL. Thbunal Federal da I' Região, Habeas Corpus n bnm//nm. necess/dado o mira. Curitiba: Livraria do Advogado,

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Fundação Joaquim Nabuco, 2009, p. 125-156;Christiano
135.BRASIL. Superior Tribunal de Justiça, Agravo em Recurso Jorge Santos, Comes deprefoncelfa e de dísmmzlzafão. São Paulo
Especial n. 1192028, Relator: Arnaldo Saldanha Pinheiro, 5 Saraiva, 2010, p. 41-43
fev.2018(utilizando testemunhonegro que afirmou ser amigo
137.Ver nesse sentido Seü Racusen, 7he zdeo&)Wof lzaüa/z a zd f#e
do acusadopor vários anos e que nunca o viu praticaratos
racistas); BRASIL. Tribunal de Justiça do Paraná, Apelação Brmilian tegatthe07y of legal discdminatiotl. Social Idmtities, v. \Q,
Criminal n. 1205303.Orgão Julgador: I' Câmara Criminal, n. 6, 775-809,
2004.
Relator: Roberto de Vicente, 2 out. 2014(aíimiando que não 138 Ver, por exemplo, BlZASIL. Supremo Tribunal Federal,
chamar uma muher negra de encardida não configura crime Medida Cautelar em Arguição de Descumprimentode
de injúria racial e dizendo que o indivíduo doa dinheiro para Preceito Fundamental n. 186-2, Relator: Gilmar Mendes
uma organização afhcana, sinal de que não pode ser racista); (questionando se o governo brasileiro não estaria abando-
BliASIL. Tribunal de Justiça dolho Grande do Sul, Apelação nando a ideia do Brasil como uma sociedademiscigenada ao
Criminal n. 70063548614,Orgão Julgador: 10' Câmara Cível, adotaruma compreensãodo país como uma nação bicolor);
Relator: ÁdarceloCezar Muller, 30 abr. 2015(mantendo BRASIL. ll:ribunal de Justiça do Espírito Santo, Ação Direta
decisão que negou procedimento à ação sob o argumento de de Inconstitucionalidade n. 100070023542, Orgão Julgador:
que a pessoa acusada tinha amigos negros); BRASIL Tribunal Tribunal Pleno. Voto Arnaldo Santos Souza, 22 set. 2001
de Justiça do Rio Grande do Sul, Apelação Criminal n. (classiâcando ações aãmiativas como uma política social que
70012729406,Orgão Julgador: 5' Câmara Criminal, Relatora promove o separatismo porque os brasileiros são identiâcados
Genaceia da SalvaAlberton, 9 ago. 2006(revertendoa conde- internacionalmente por traços que expressam nosso orgulho na
nação do acusado sob o argumento de que ele possui vários ausência de separações como o samba, o futebol e a capoeira);
amigos negros, sinal de que estava apenas alterada quando Tribunal de Justiça de Santa Cataiina, Apelação Cível, n
chamou a vítima de "negra suja"); BRASIL. Tribunal de 2008.012214-4,C)rgão Julgador: I' Câmara de Direito Público,
Justiça de São Paulo, Apelação Cível, n. 2016.0000615671 Relator: Vanderlei Romer, 8 jan. 2009(afirmando que os brasi-
Órgão Julgador: 7' Câmara de Direito Privado,Relator leiros assistem com horror episódios de discriminação racial
Romolo Russo, 26 ago. 2016(mantendo decisão de instância em outros países e celebram o fato de que vivem em uma países
iiúerior sob o argumentode que o fato do padrinho do 6Hho sem divisões, motivo pelo qual ações afirmativas são políticas
ser negro não inocenta a pessoa do ato racista); BRASA. sociais perniciosas)
Tribunal de Justiça de Minas Gerais, Apelação Criminal n 139 Para uma análise da noção de transcendência racial como um
10290150047030001, Orgão Julgador: 3' Câmara Criminal. tipo de dominaçãosocial,ver Michael Hanchard, ''Orpheus
Relator: Antânio Cardos Cruvinel(alegando que o fato da n
and power: The movimento negro of Rio de Janeiro and São
5-
&

c6
a) pessoa ser casada com um negro não anula os fatos do crime Paulo: 1945-1988", Piinceton, Pnmefon Univezs/VPnzss, 1994,
de injúria). P. 43-77
=
= 0 =
136.Sigo aqui a argumentaçãoproposta por Baratunde Thurston. 140 Ver, nessesentido,Richard Delgado, "Words that wound: a tort
/Zaw fo óe ó/ack. Nova York: Hal:per Collins, 2012, p. 79-88

205
204
acüon for racial insu]ts, epithets, and name-ca]]ing". ]!amand 152.Autores ligados à teoria racial crítica defendem a mesma pers-
c»IZRÜÃzs-C7ld.L/Z)exrlesZ.aw.Rw/al,t/,
v. 17,n. 1, p. 142-144,1982. pectiva. Ver sobretudo Mary Matsuda et al. Mo/zZs rãaf wozzzzd.
cdtica} facetheofy,assaultivespeechand theFirst.ilmendment.Nana
141.Para uma profunda análise da psicologia dos estereótipose de
York: Westview Press, 1993
seus usos políticos ver David Scheneider, 7%ePWc#o!&gy of
srexeo0p/ng.Nova York: Gulford Press, 2005, p. 64-113. 153.Jeremy ÀValdron,op. cit., p. 52-61.
142.Sigoaqui asconclusõesde Ronaldofales Jr. elaboradasno seu 154.JeremyWaldron, op. cit., p. 77-89
artigo, "Democracia racial: o não-dito racista". Tempo Social, 155.VernessesentidoJeremy Wàldron, op. cit., p. 4-5
v. 18, n. 2, p. 230-258,2006.
156.Diversos estudos comprovam os danos psicológicos causados
143.BLUM, Lawrence. /'m nof a r2císr, óaf. . . 7%e mora/ gua/zdaW of pela intolerância social na saúde mental de minorias. Ver,
rnce.Ithaca: Cornell University Press, 2001, p. 8-9. por exemplo, Carole Aneshensel. ''Social stress: theory
144.Parauma análise das diversasdimensões da discriminação ver and research"..4/znz/a/
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145.Jonatas Eduardo Machado. Llóe/zíade' de expressão. dome ões cons- minorities". Jaz/rm/ of JZomosexua/fg, v. 60, p. 1011-1034,
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146.Ingo Sarlet, Luiz Marinoni; Daniel Mitidiero, Curso de dlxe/fo
157.Ricardo Delgado & meanStefancic, Undexsrafzdíng
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consfffufíozza/.4. ed. São Pauta: Saraiva, 2015* p. 485-504,
Jonatas Eduardo Machado, op. cit., p. 57-61;Martin Redish, woz//zd.Westview Press, 2004, p. 12-13
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149.Erwin Chemeiinsky, op. cit., p. 1203-1204.
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=

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214 215
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BliASIL. Tribunal Regional do Trabalho da I' Região. Recurso Bl:ASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 2' Região, Recurso
10' Ordinário n. 0239900-85.2009.5.02.0203,
Orgão Julgador: 7' Turma
Ordinário n. 0000657-71.2011.5.01.0302, órgão Julgador
Relator: José Roberto Carolino.
Turma, Relatora: RomanaSelim Vilella Travesedo, 20 fev. 2013.
BRASIL. Thbunal Regional do Trabalho da I' Região, Processo n BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 2' Região, Recurso
O100314-52.2016.5.01.0482,Juiz:JohnnyGonçalvesVieira,
12out.2016 Ordinário n. 00042176920125020201,
Orgão Julgador: 5' Turma.
Relator: domarLuz de Vassimon Ferreira.
BRASIL. Thbunal Regional do Trabalho da 2' Região,Recurso
Tribunal Regional do Trabalho da 2' Região Ordinário n. 00004102620155020075,Orgão Julgador: 13' Turma,
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 2' Região, Relator: Antânio Sampaio da Salva
Recurso Ordinário n 000421769012520201, órgão Julgador BRASIL. Tribunal Regionaldo Trabalho da 2' Região, Recurso
) Turma, Relator: Jomar Luz de Vassimon Frestas. Ordinário n. 0000654-91.2014.5.02.0041,
Orgão Julgador: 12'
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 2' Região, Recurso Turma, Relatora: Mana Elisabeth MoscardoNunes, 12 mar. 2015
Ordinário n. 0001400-46.2012.5.02.0261,
Relatora: Claüdia Mau
FreirasMundin.
Tribunal Regional do Trabalho da 3' Região
BRASIL. Thbunal Regional do Trabalho da 2' Região, Recurso
Ordinário n. 0001176-60.2011.5.02.0062,
Órgão Julgador: 17: BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 3' Região, Recurso
Turma, Relator: SérgtoJ. B. Junqueira Machado, 11 set. 2014. Ordinário n. 0011683-12.2015.5.03.0095,
Orgão Julgador: 10:
Turma, Relatora: Lucilde D'Ajuda Lyra de Almeida, 30 mar. 2016.
BRASIL. Tribunal Regionaldo Trabalho da 2' Região, Recurso
Ordinário n. 0000654.91.2014.5.02.0041
, Órgão Julgador: Relator BRASIL. Tribunal Regionaldo Trabalho da 3' Região, Recurso
Ordinário n. 0010917-88.2015.5.03.0149,
Órgão Julgador: 6' Turma,
12' Turma, Relatora: Maré.a Elizabeth Mostardo Nunes, 12 mar. 2015.
Relator: Anemar PeneiraAmaral, 07 mar. 2017
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 2' Região,
Recurso Ordinário 0001178-70.2014.5.02.0435, Orgão BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 3' Região, Recurso
16' Turma, Relatora: Dâmia A:voli, 4 maio 2016. Ordinário n. 0001710-73.2011.5.03.0030,Órgão Julgador: I' Tumba,
Julgador:
Relator: Emerson José ResendeChaves Jr., 25 set. 2013
BRASIL. Tribunal Regionaldo Trabalho da 2' Região, Recurso
Ordinário n. 0000557-93.2014.5.02.0202,
Órgão Julgador: 10' BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 3' Região, Recurso
C)rdinário n. 0000713-30.2014.5.03.0113, C)rgãoJulgador: I' Turma,
Turma, Relatora: Ana Mana Moraes Barbosa Macedo, 8 mar. 2016.
Relator: Luiz atavio Linhares Alves Lage, 11 mar. 2016.
BRASIL. Thbunal Regional do Trabalho da 2' Região, Recurso
Ordinário n. 02780007520095020085,
Orgão Julgador: 10' Turma. BRASIL. Thbunal Regional do Trabalho da 3' Região, Recurso
Ordinário n. 0012004-68.2014.5.03.0164,Órgão Julgador: 5' Tumba, n
5-
Relatora: Cândida Alves Leão.
Relator: Márcio Fiado Salem Vidigal, 06 dez. 2016.
0 BRASIL. Tribunal Regionaldo Trabalho da 2' Região, Recurso
= Ordinário n. 0000037-75.2013.5.02.0362,
Órgão Julgador: I' Turma. BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 3' Região, Recurso
= 0 Ordináüo n. 00997-2010-018-03-00-0, C)rgão Julgador: 4' Turma,
Relatora: Beatriz de Lima Pereira.
Relator: Ferrando Luas G. Rios Neto, 13 abr. 2001

216 217
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 3' Região, Recurso
T BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 5' Região, Recurso
Ordinárion. 01597-2009-030-03-00-1,
ÓrgãoJulgador:5' Turina, Ordinário no 0000285-40.2016.5.05.0463,
órgão Julgador: I'
Turma, Relator: Edilton Meireles, 4 maio 2017
Relator: Paulo Roberto SihientesCosta, 07 dez. 2010
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 5' Região, Recurso
Ordinário n. 00716-2008-029-05-00-7,
Órgão Julgador: 2' Turma.
Tribunal Regional do Trabalho da 4' Região Relatora: Dalila Andrade, 12 mar. 2009.
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 4' Região, Recurso
Ordinárion. 0020359-07.5.04.0411,
Orgão Julgador:3' Tumba,
Tribunal Regional do Trabalho da 6' Região
Relator: Gilberto Souza dos Santos, 8 nov. 2017.
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 6' Região, Recurso
BRASIL. Tribunal Regionaldo Trabalho da 4' Região, Recurso
Ordinário n. 0000300-44.201 1.5.06.0014,Órgão Julgador: 4' Turma
Ordinário n. 0021351-68.2015.5.04.0001 , Orgão Julgador: 2' Turma,
Relatora: Nise Pedroso Lins de Sousa, 31 jul. 2014
Relatora: Ténia Rosa Maciel de Oliveira, 30 mar. 2017.
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 6' Região, Recurso
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 4' Região, Recurso
Ordinário n. 0020757-37.2016.5.04.035 1, Orgão Julgador: 8' Turma. Ordinário n. 01595-2008-013-06-00-0,
Órgão Julgador: I' Turina,
Relatora: Mana Clara Saboya Bemardino, 01 dez. 2009
Relator: Francisco Rossal de Araújo. 18 out. 2017.
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 4' Região, Recurso
Ordinário n. 230581-05.2010.5.05.0000,Orgão Julgador: 2' Turma. Tribunal Regional do Trabalho da 10' Região
Relatora: Delaíde Miranda Amantes,05 ago. 2015 BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 12' Região, Recurso
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 4' Região,Recurso Ordinário n. 0001550-44.2015.5.12.0002,
Orgão Julgador: 3:
Ordinário n. 0020302-60.2015.5.04.0334,
Órgão Julgador: 8' Tumba. Câmara, Relator; filmar Cavalieri, 20 set. 2016
Relatora: Ehrenbrick, 3 mar. 2016. BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 12' Região, Recurso
Ordinário n. 0005582-13.2012.5.2.0030, órgão Julgador: 3' Câmara,
Relator: Nelson Hamilton Leiria, 3 set. 2014.
Tribunal Regional do Trabalho da 5' Região
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 5' Região. Recurso BRASIL. Tribunal Regionaldo Trabalho da 12' Região,Recurso
Órgão Julgador: 2' Turma, Ordinário n. 01663-2008-002-12-00-4,
órgão Julgador: 6' Câmara,
Ordinário n. 00389-2008-020-05-00-6,
Relator: José Ernesto Manzi, 9 maio 2011
Relatora: Luiza Lomba, 30 abr. 2009.
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 12'. Região, Recurso
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 5' Região. Recurso
' Turma, Ordinário n. 0001798-45.2012.5.10.0010,Órgão Julgador: 3' Turma.
Ordinário n. 0000464-12.2011.5.05.0022, C)rgão Julgador: 2
Relator: Paulo Henrique Blair de Oliveira. n
5-
CU
Relatora: Luiza Lomba, 10 set. 2014.
0 BRASJL. Tribunal Regional do Trabalho da 5' Região, Recurso
= =
= 0 Ordinário no 01404-2008-039-05-00-8,Órgão Julgador: 2: Turma, Tribunal Regional do Trabalho da 15' Região
Relatora: Luiza Lomba, 24 mar. 2010.
BRASIL. Thbunal Regional do Trabalho da 15' Região, Recurso
.:(

219
218
BRASIL. Tribunal de Justiça de Minas Gerais, Apelação Criminal n
Ordinário n. 0000344-08.2011.5.15.0113, Orgão Julgador: Quarta
10290150047030001 , Órgão Julgador: 3' Câmara Criminal, Relator
Tumba, Relator: João Batista da Salva, 13 dez. 2017. Antânio Carlos Cruvinel
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 15' Região, Recurso
Ordinário n. 0012468-15.2014.5.01 14, Orgão Julgador: 2' Turina.
Relator: Hélcio Dantes Lobo Junior, Tribunal de Justiça do Paraná

BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 15' Região, Recurso BRASIL. Tribunal de Justiça do Paraná, Apelação Criminal n.
Ordinário n. 0012635-56.20 16.5.15.0051, Orgão Julgador: I' Turma. 1205303,C)rgãoJulgador: I' Câmara Criminal, Relator: Roberto de
Relator: rosé Otávio de Souza Ferreira, 10 out. 2017 Vicente, 2 out. 2014.
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 15' Região, Recurso
Ordinário n. 0010438-04.2016.5. 15.0060,Órgão Julgador: 3' Turma, Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro
Relator: Jorre Luiz Costa, 2 maio 2017. BRASIL. Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, Apelação Cível n
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 15' Região, Recurso 2008.050.01548,C)rgãoJulgador: I' Câmara Cível, Relator: Antânio
Ordinário n. 00]0039-2014.5.15.0096,
Órgão Julgador: Antõnia Jayme Boente, 2 abr. 2009
Resina Tancini Pestana, 12 set. 2016. BRASIL. Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, Apelação Cível n.
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 15' Região, Recurso 16893/2000,Orgão Julgador: 16' Câmara Cível, Relator: Mano
Ordinário n. 0010160-50.2014.5.15.0067,Órgão Julgador: 4' '11urma, RobertoMannheimer,24fev.2005.
Relator: Caludinei Zapata Roddgues, 28 abr. 2015.
BRASIL. Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Apelação Criminal
n. 128222-95.2011.8.19.0001, Órgão Julgador: 7' Câmara Criminal,
Tribunal de Justiça do Espírito Santo Relator: Silo Darlan de Oliveira, 05jun. 2012
BRASIL. Tribunal de Justiça do Espírito Santo, Ação Direta
de ]nconstitucionalidade n. 100070023542, Orgão Julgador Tribunal deJustiça do Rio Grande do Sul
TribunalPleno,Voto Arnaldo SantosSouza, 22 set. 2001 BRASIL. Tribunal de Justiça do Rjo Grande do Sul, Apelação Cível
n. 70054174610,Órgão Julgador: 3' Câmara Criminal, Relator:
Tribunal de Justiça de Minas Gerais Diógenes Vigente Hassan Ribeiro, 7 nov. 2013.

BRASIL. Tribunal de Justiça de Minas Gerais, Apelação criminal BRASIL. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, Apelação Cível
n. 1.000.00.152296-0/000, órgão julgador: 3' Câmara Criminal, n. 70056042021,Orgão Julgador: 3' Câmara Criminal, Relator:
Nereu José Giacomolli, 19 set. 2013. =
Relator: Kelsen Carneiro, 30 set. 1999.

0 BRASIL. Tribunal de Justiça de Minas Gerais, Apelação Cível n BRASIL. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, Apelação
= 1.0024.08.200130-6/001, Orgão Julgador: 4' Câmara Cível, Relator Criminal n. 71002130425,Órgão Julgador: 3' Turma RecursalCível, =
= 0 Relator: Eugênio Fachini Neto, 29 out. 2009.
Moleira Diniz, 20 set. 2016.

221
220
BRASIL. Tribunalde Justiça do Rio Grande do Sul, Apelação BRASIL. Tribunal de Justiça de São Paulo, Apelação Cível n
Criminal n. 70063548614,Orgão Julgador: 10' Câmara Cível. 0017188-33.2008.8.26.0161, Órgão Julgador: 10' Câmara de Dkeito
Relator: Marcelo Cezar Muller, 30 abr. 2015. Público, Relator: Antânico CardosVillen, 17 nov. 2002
BRASIL. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, Apelação BRASIL. Tribunal de Justiça de São Paulo. Apelação Criminal n
Criminal n. 70012729406,Orgão Julgador: 5' Câmara Criminal, 990.08.06848844,Órgão Julgador: 16' Câmara de Direito Ctíminal
Relatora: Genaceia da Sirva Alberton, 9 ago. 2006. Relator: Pedra Menir, 18 nov. 2008.

Tribunal de Justiça de Santa Cataiina BRASIL. Tribunal de Justiça de São Paulo. Apelação Cível n
406.692/-4/1,órgão Julgador: 10' Câmara de Direito Privado
Tribunal de Justiça de Santa Catarina, Apelação Cível, n Relator: Maurício Vidigal, 27 out. 2009.
2008.012214-4,Orgão Julgador: I' Câmara de Direito Pública
Relator: Vanderlei Romer, 8 jan. 2009. BRASIL. Tribunal de Justiça de São Paulo. Apelação Cível n
0017188-33.2008.8.26.0161,
C)rgãoJulgador: 10' Câmara de Direito
Público, 17 dez. 2012
Tribunal de Justiça de São Paulo
BRASIL. Tribunal de Justiça de São Paulo. Apelação Cível n
BRASIL. Tribunal de Justiça de São Paulo, Apelação Criminal n. 502.034-4/0-00,Órgão Julgador: 5' Câmara de Direito Privado
327.399-3/5,Órgão Julgador: 3' Câmara Criminal, Relator: Oliveira Relator: Oscarlino Moeller, 20 jun. 2007
Ribeiro, 29 maio 2001
BRASIL. Tribunalde Justiçade São Paulo.ApelaçãoCível n.
BRASIL. Tribunal de Justiça de São Paulo.
Paulo, Apelação 0190627-40.2009.8.26.0100,
Órgão Julgador: 10' Câmara de Direito
Criminal n. 9132135-76.2007.8.26.0000,
Órgão Julgador: 8: Privado, Relator: Jogo Carlos Sarletti, 3 6w. 2015.
Câmara Criminal, Relator:Pedro de Alcântara, 15 ago. 2012.
BRASIL. Tribunal de Justiça de São Paulo, Apelação Cível, n
BRAS]L. Tribunal de Justiça de São Pauta, Apelação Cível n. 2016.0000615671,
órgão Julgador: 7' Câmara de Direito Privado
1000520-59.2014.8.26.0322,
Orgão Julgador: 7' Câmara de Direito Relator: Romolo Russo, 26 ago. 2016.
Privado,Relator: 13jul. 2005.
BRASIL. Tribunal de Justiça de São Paulo, Apelação Criminal n
0000650-68.2012.8.26.0247,
Orgão Julgador: 2' Câmara Criminal
Extraordinária, Relatora: Cláudia Lúcia Fonseca Fanucchi, 14 jun
2016
BRASIL. Thbunal de Justiça de São Paulo, Apelação
CU Criminal n. 9132135-76.2007.8.26.0000,
C)rgão Julgador: 8;
Câmara Criminal, Relator: Pedro de Alcântara, 15 ago. 2012.
0
= BRASIL. Tribunal de Justiça de São Paulo, Apelação Cível n.
= 0
=

502.034-04/0-00,
Orgão Julgador: 5' Câmara de Direito Cível. =
Relator: Oscarlino Moeller, 20 jun. 2007.

222 223
Adilson José Moreira é mestre e doutor
l

em Direito Constitucional Compal


IBlhlillB l: ela

Faculdade de Direito da Universidade de


Harvard. Bacharel em Direito e Psicologia
pela Universidade Federal de Minas Gerais
Pesquisador visitante na Faculdade
l de
Direito da Universidade de Vale, 2002
2003. Professor da Faculdade de Direito
da Universidade Presbiteriana Mackenzie
Especialista em Direito Constitucional
Impresso em março de 2019 na Rettec Gráfica e
Editora, nas fontesCalisto MT e BebasNeue, em Comparado, Hermenêutica Constitucional
Pólen SoR 80g no miolo e Ningbo 250gna capa. DireitoAntidiscriminatório,
Psicologia
Jurídica,
Direitos Humanos, Direitos de Minorias
Sociologia Jurídica e Políticas de Diversidade

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