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Disciplina: Noções de Igualdade Racial e gênero Nas Ordenações Filipinas, não encontramos, no

Professora: Karla Dias livro V, nenhum tipo de preconceito; pelo contrário, a


escravidão humana existia (negro, índio) e o livro V tratava

Constitucional da matéria, mas nenhum dispositivo condenava o racismo.

 Constituição Federal de 1988 artigos 1º,3º,4º e 5º) Tinham dispositivos que estimulavam o racismo. Por
exemplo: contra os judeus, ciganos, mouros, os quais eram
 Constituição do Estado da Bahia: (Cap. XXIII “ Do
obrigados a usar roupas e chapéus de determinada cor,
Negro”)
forma etc. e, se não o fizessem, estariam praticando uma
Humanos
infração penal.
 Convenção Internacional Sobre a Eliminação de
Em suma, nos primeiros tempos após o
Todas as Formas de Discriminação Racial (Decreto
descobrimento, durante 300 anos, a nossa própria legislação
nº 65.810/69). 
penal estimulava a ação discriminatória, envolvendo certas
 Convenção Sobre Eliminação de Todas as Formas
e determinadas pessoas.
de Discriminação Contra a Mulher (Decreto nº
Proclamada a independência, passamos para o
4.377/02). 
Código Criminal de 1830, no qual não figurava nenhum
Administrativo
dispositivo consagrando ou prestigiando esse procedimento
 Criação da Secretaria de Promoção da Igualdade
preconceituoso, mas também nada dizendo que racismo,
Racial (Lei nº 10.549/06) modificada pela Lei nº
preconceito envolvendo religião, sexo etc., configuraria
12.212/11. 
infração penal.
 Criação da Secretaria de Políticas de Promoção da
A escravidão continuava e no Código Criminal de
Igualdade Racial da Presidência da República (Lei
1830, existia toda uma parte dedicada aos escravos, quando
nº 10.678/03). 
eles infringiam a lei penal. Eles recebiam tratamento
Processual
diferente.
 Lei de Combate ao Genocídio (Lei nº 2.889/56). 
No artigo 60 do Código Criminal do Império, se o
 Lei Caó (Lei nº 7.437/85).  
réu fosse escravo e incorresse em penas que não fossem a
 Estatuto da Igualdade Racial (Lei nº 12.888, de 20
pena capital ou de galés, ele seria condenado à pena de
de Julho de 2010). 
açoites e depois, seria entregue ao seu senhor, que colocaria
 Lei Federal no 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei
nele, escravo, um ferro pelo tempo e maneira que o juiz
Maria da Penha).
designasse.
 Lei Federal no 7.716, de 5 de janeiro de 1989,
Mais ainda, o número de açoites seria fixado na
alterada pela Lei Federal no 9.459 de 13 de maio de
sentença e o escravo, não poderia levar mais de cinqüenta
1997 (Tipificação dos crimes resultantes de
(açoites) por dia.
preconceito de raça ou de cor).
O mesmo se diga do Código da República, de 1890
Penal
que não trazia nenhuma alusão ao preconceito.
 Código Penal Brasileiro (art. 140). Verificado aqui no Brasil o movimento de Vargas,
o Estado Novo, adotamos uma nova codificação penal que é
INTRODUÇÃO o Código Penal de 1940.
Ocorrendo a revolução de 1964, partimos também
 O problema do racismo é antigo. A legislação para um novo código penal; foi o código de 1969, que não
penal positiva brasileira vigora na égide do Código Penal de entrou em vigor, por circunstâncias diversas.Continua em
1940, da era getulista. Voltando no tempo, o código penal vigor o código de 1940, com muitas modificações e
em vigor era o da República, de 1890; antes dele o Código alterações.No código de 1940 não há nenhum dispositivo a
Criminal do Império de 1830 e antes do código do Império, respeito de racismo ou de preconceito.
vigoravam as Ordenações Filipinas, Livro V.
Uma lei de 1951, a lei 1390/51 - Lei Afonso racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito
Arinos, dizia: "constitui infração penal (contravenção penal) à pena de reclusão nos termos da Lei”.
punida nos termos dessa lei, a recusa por estabelecimento Constata-se, contudo, que mesmo após mais de cem
comercial ou de ensino, de qualquer natureza, de hospedar, anos da abolição da escravatura encontramos preconceitos
servir, atender ou receber clientes, comprador ou não, o constrangedores de um indivíduo em relação a seu
preconceito de raça ou de cor". semelhante, resultado de um triste legado da colonização e
O que temos, através dessa lei e de leis posteriores, do imperialismo opressor, dominador e explorador.
é o combate ao preconceito, à chamada ação discriminatória,
que nem sempre envolve raça.  2. Legislações “Anti-discriminação”
Quando falamos em racismo, limitamos a área de
incidência do preconceito. As manifestações 2.1. Lei nº 1.390/1951 – Lei Afonso Arinos
preconceituosas são muitas: podem envolver a raça, cor,  Texto legal de importantíssima relevância na História
idade, sexo, grupo social etc. brasileira, não muito por suas penas, mas pelo simples
Preconceito é uma infração genérica; neste gênero reconhecimento da existência do racismo no Brasil, tão
chamamos de preconceito de: raça, cor, estado civil, sexo, frequente na realidade e não tendo sido reconhecido
inclinação religiosa etc. O preconceito é considerado legalmente até então. Tomou, assim, rumo completamente
contravenção penal. diferente das Leis de condutas omissas que a antecederam.
O que a lei pune é o preconceito apenas de raça e Assim, com a promulgação da referida Lei, não havia mais
cor. Preconceito é gênero; o que se combate realmente é o como negar a existência do racismo. Todavia, tal diploma
preconceito. legislativo sofreu inúmeras críticas, vez que caracterizava as
Em 1985, 34 anos depois da Lei Afonso Arinos, foi ações preconceituosas como meras contravenções penais,
promulgada a lei nº 7437/85. Essa lei continua a considerar puníveis com 1 ano de prisão simples e com multas entre 15
os comportamentos preconceituosos, meramente dias a 3 meses, bem como suas condutas eram pouco
contravenção penal. Pela lei, a contravenção foi estendida abrangentes, o que gerava dificuldade na aplicação da Lei.
para preconceito de: raça, cor, sexo, estado civil. Outra crítica que merece ser tecida com relação à referida
A ideia central continua a ser preconceito, mas a Lei diz respeito à penalização apenas das condutas
lei evoluiu pois aumentou o número de crimes de natureza preconceituosas geradas por preconceito de raça ou cor,
preconceituosa. Preconceito de sexo é não permitir por ignorando aqueles advindos de etnia, religião, procedência
exemplo a entrada de mulheres desacompanhadas em nacional, classe social, sexo e estado civil. Estes dois
determinados lugares; isto acontecia em certos últimos foram remediados pelo legislador com a Lei nº
estabelecimentos em São Paulo, tais como boates, bares 7.437/1985, trazendo nova redação à Lei Afonso Arinos,
dançantes etc. aumentando a gama das possíveis vítimas ao prever também
O legislador constituinte ofereceu proteção à como infração penal o preconceito por sexo ou estado civil.
igualdade entre todos os seres humanos ao definir que “a lei O preconceito por raça surge em patamar constitucional
punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e somente a partir da Carta da República de 1967.
liberdades fundamentais” (art. 5º, inciso XLI, CF). Esse A Lei Afonso Arinos foi derrogada pela Lei 7.716/1989,
trato igualitário entre todos, base das democracias modernas, podendo ainda ser aplicada apenas contra preconceitos por
proíbe a prática de discriminações e preconceitos sexo ou estado civil.
decorrentes de raça, cor, origem étnica, preferência religiosa
e procedência nacional, o que constitui odiosa e histórica  CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988
afronta ao princípio isonômico. (ARTIGOS 1º,3º,4º E 5º)
Mais enfática é, nossa Constituição Federal, ao
estabelecer em seu artigo 5o, XLII, que: “a prática do TÍTULO I - Dos Princípios Fundamentais
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela Min. Celso de Mello, DJ 23/05/90) file:///K|/STF%20-
união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito %20CF.htm (1 of 574)17/08/2005 13:02:39
Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e
tem como fundamentos: I - a soberania;
I - a soberania; “O mero procedimento citatório não produz qualquer
II - a cidadania; efeito atentatório à soberania nacional ou à ordem
III - a dignidade da pessoa humana; pública, apenas possibilita o conhecimento da ação que
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; tramita perante a justiça alienígena e faculta a apresentação
V - o pluralismo político. de defesa”. (CR 10.849-AgR, Rel. Min. Maurício Corrêa, DJ
"Inexistente atribuição de competência exclusiva à União, 21/05/04)
não ofende a Constituição do Brasil norma constitucional
estadual que dispõe sobre aplicação, interpretação e II - a cidadania
integração de textos normativos estaduais, em conformidade "Ninguém é obrigado a cumprir ordem ilegal, ou a ela se
com a Lei de Introdução ao Código Civil. Não há falar-se submeter, ainda que emanada de autoridade judicial. Mais: é
em quebra do pacto federativo e do princípio da dever de cidadania opor-se à ordem ilegal; caso contrário,
interdependência e harmonia entre os poderes em razão da nega-se o Estado de Direito." (HC 73.454, Rel. Min.
aplicação de princípios jurídicos ditos 'federais' na Maurício Corrêa, DJ
interpretação de textos normativos estaduais. Princípios são
normas jurídicas de um determinado direito, no caso, do III - a dignidade da pessoa humana;
direito brasileiro. Não há princípios jurídicos aplicáveis no "A duração prolongada, abusiva e irrazoável da prisão
território de um, mas não de outro ente federativo, sendo cautelar de alguém ofende, de modo frontal, o postulado da
descabida a classificação dos princípios em 'federais' e dignidade da pessoa humana, que representa
'estaduais'." (ADI 246, Rel. Min. Eros Grau, DJ 29/04/05) considerada a centralidade desse princípio essencial (CF,
“Se é certo que a Nova Carta Política contempla um elenco art. 1º, I) significativo vetor interpretativo, verdadeiro valor-
menos abrangente de princípios constitucionais sensíveis, a fonte que conforma e inspira todo o ordenamento
denotar, com isso, a expansão de poderes jurídicos na esfera constitucional vigente em nosso País e que traduz, de modo
das coletividades autônomas locais, o mesmo não se pode expressivo, um dos fundamentos em que se assenta, entre
afirmar quanto aos princípios federais extensíveis e aos nós, a ordem republicana e democrática consagrada pelo
princípios constitucionais estabelecidos, os quais, embora sistema de direito constitucional positivo." (HC 85.988-MC,
disseminados pelo texto constitucional, posto que não é Rel. Min. Celso de Mello, DJ 10/06/05).
tópica a sua localização, configuram acervo expressivo de “A mera instauração de inquérito, quando evidente a
limitações dessa autonomia local, cuja identificação – até atipicidade da conduta, constitui meio hábil a impor
mesmo pelos efeitos restritivos que deles decorrem – impõe- violação aos direitos fundamentais, em especial ao
se realizar. A questão da necessária observância ou não, princípio da dignidade humana”. (HC 82.969, Rel. Min.
pelos Estados-Membros, das normas e princípios inerentes Gilmar Mendes, DJ 17/10/03)
ao processo legislativo, provoca a discussão sobre o alcance “Sendo fundamento da República Federativa do Brasil a
do poder jurídico da União Federal de impor, ou não, às dignidade da pessoa humana, o exame da
demais pessoas estatais que integram a estrutura da constitucionalidade de ato normativo faz-se considerada a
federação, o respeito incondicional a padrões heterônomos impossibilidade de o Diploma Maior permitir a exploração
por ela própria instituídos como fatores de compulsória do homem pelo homem. O credenciamento de profissionais
aplicação. (...) Da resolução dessa questão central, emergirá do volante para atuar na praça implica ato do administrador
a definição do modelo de federação a ser efetivamente que atende às exigências próprias à permissão e que
observado nas práticas institucionais.” (ADI 216-MC, Rel. objetiva, em verdadeiro saneamento social, o endosso de lei
viabilizadora da transformação, balizada no tempo, de
taxistas auxiliares em permissionários.” (RE 359.4, Rel. (CF, art. 4º, VIII), além de haver qualificado o terrorismo,
Min. Carlos Velloso, DJ 28/05/04) para efeito de repressão interna, como crime equiparável aos
“O direito ao nome insere-se no conceito de dignidade da delitos hediondos, o que o expõe, sob tal perspectiva, a
pessoa humana, princípio alçado a fundamento da República tratamento jurídico impregnado de máximo rigor, tornando-
Federativa do Brasil”. (RE 248.869, Rel. Min. Maurício o inafiançável e insuscetível da clemência soberana do
Corrêa, DJ 12/03/04) Estado e reduzindo-o, ainda, à dimensão ordinária dos
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce crimes meramente comuns (CF, art. 5º, XLIII). A
por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos Constituição da República, presentes tais vetores
termos desta Constituição. interpretativos (CF, art. 4º, VIII, e art. 5º, XLIII), não
autoriza que se outorgue, às práticas delituosas de caráter
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da terrorista, o mesmo tratamento benigno dispensado ao autor
República Federativa do Brasil: de crimes políticos ou de opinião, impedindo, desse modo,
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; que se venha a estabelecer, em torno do terrorista, um
II - garantir o desenvolvimento nacional; inadmissível círculo de proteção que o faça imune ao poder
 III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as extradicional do Estado brasileiro, notadamente se se tiver
desigualdades sociais e regionais; em consideração a relevantíssima circunstância de que a
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de Assembleia Nacional Constituinte formulou um claro e
origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de inequívoco juízo de desvalor em relação a quaisquer atos
discriminação. delituosos revestidos de índole terrorista, a estes não
reconhecendo a dignidade de que muitas vezes se acha
Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas impregnada a prática da criminalidade política." (Ext 855,
suas relações internacionais pelos seguintes princípios: Rel. Min. Celso de Mello, DJ
 I - independência nacional; Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a
II - prevalência dos direitos humanos; integração econômica, política, social e cultural dos povos
III - autodeterminação dos povos; da América Latina, visando à formação de uma comunidade
IV - não-intervenção; latino-americana de nações.
V - igualdade entre os Estados;
VI - defesa da paz; TÍTULO II - Dos Direitos e Garantias Fundamentais
VII - solução pacífica dos conflitos;
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo; Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
IX - cooperação entre os povos para o progresso da qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
humanidade; estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
X - concessão de asilo político. vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade,
nos termos seguintes:
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
"O repúdio ao terrorismo: um compromisso ético-jurídico "(...) é consentânea com a Carta da República previsão
assumido pelo Brasil, quer em face de sua própria normativa asseguradora, ao militar e ao dependente
Constituição, quer perante a comunidade internacional. Os estudante, do acesso a instituição de ensino na localidade
atos delituosos de natureza terrorista, considerados os para onde é removido. Todavia, a transferência do local do
parâmetros consagrados pela vigente Constituição da serviço não pode se mostrar verdadeiro mecanismo para
República, não se subsumem à noção de criminalidade lograr-se a transposição da seara particular para a pública,
política, pois a Lei Fundamental proclamou o repúdio ao sob pena de se colocar em plano secundário a isonomia —
terrorismo como um dos princípios essenciais que devem artigo 5º, cabeça e inciso I —, a impessoalidade, a
reger o Estado brasileiro em suas relações internacionais moralidade na Administração Pública, a igualdade de
condições para o acesso e permanência na escola "Promoção de militares dos sexos masculino e feminino:
superior, prevista no inciso I do artigo 206, bem como a critérios diferenciados: carreiras regidas por legislação
viabilidade de chegar-se a níveis mais elevados do ensino, específica: ausência de violação ao princípio da isonomia:
no que o inciso V do artigo 208 vincula o fenômeno à precedente (RE 225.721, Ilmar Galvão, DJ 24/04/2000)."
capacidade de cada qual." (ADI 3.324, voto do Min. (AI 511.131-AgR, Rel.Min. Sepúlveda Pertence, DJ
Marco Aurélio, DJ 05/08/05) 15/04/05)
"A vedação constitucional de diferença de critério de I - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento
admissão por motivo de idade (CF, art. 7º, X) é corolário, na desumano ou degradante;
esfera das relações de trabalho, do princípio fundamental de
igualdade, que se entende, à falta de exclusão constitucional “Limitações à liberdade de manifestação do pensamento,
inequívoca (como ocorre em relação aos militares - CF, art. pelas suas variadas formas. Restrição que há de estar
42, § 1º), a todo o sistema do pessoal civil. É ponderável, explícita ou implicitamente prevista na própria
não obstante, a ressalva das hipóteses em que a limitação de Constituição.” (ADI 869, Rel. Min. Ilmar Galvão, DJ
idade se possa legitimar como imposição da natureza e das 04/06/04) file:///K|/STF%20-%20CF.htm (12 of
atribuições do cargo a preencher." (RMS 21.046, Rel. Min. 574)17/08/2005 13:02:39
Sepúlveda Pertence, DJ 14/1/91). No mesmo sentido: RE
141.357, DJ 08/10/04; RE 212.066, DJ 12/03/9. VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença,
sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e
“O princípio da isonomia, que se reveste de auto- garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto
aplicabilidade, não é - enquanto postulado fundamental de e a suas liturgias;
nossa ordem político-jurídica - suscetível de regulamentação VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de
ou de complementação normativa. Esse princípio – cuja assistência religiosa nas entidades civis e militares de
observância vincula, incondicionalmente, todas as internação coletiva;
manifestações do Poder Público – deve ser considerado, em VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença
sua precípua função de obstar discriminações e de extinguir religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as
privilégios (RDA 5/114), sob duplo aspecto: (a) o da invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e
igualdade na lei e (b) o da igualdade perante a lei. A recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;
igualdade na lei - que opera numa fase de generalidade IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística,
puramente abstrata - constitui exigência destinada ao científica e de comunicação, independentemente de censura
legislador que, no processo de sua formação, nela não ou licença;
poderá incluir fatores de discriminação, responsáveis pela
ruptura da ordem isonômica. A igualdade perante a lei, XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável
contudo, pressupondo lei já elaborada, traduz imposição e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos
destinada aos demais poderes estatais, que, na aplicação da da lei; 
norma legal, não poderão subordiná-la a critérios que ........................................... 
ensejem tratamento seletivo ou discriminatório. A eventual
inobservância desse postulado pelo legislador imporá ao ato § 1º - As normas definidoras dos direitos e garantias
estatal por ele elaborado e produzido a eiva de fundamentais têm aplicação imediata.
inconstitucionalidade.” (MI 58, Rel. Min. Celso de Mello,  § 2º - Os direitos e garantias expressos nesta Constituição
DJ 19/04/91) não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios
por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a
I - homens e mulheres são iguais em direitos e República Federativa do Brasil seja parte. 
obrigações, nos termos desta Constituição;
A Constituição de 1988, em seu art. 5º - inc. XLII, II - manter intercâmbio cultural ou desportivo, através de
passou a considerar a prática do racismo como crime delegações oficiais.
inafiançável e imprescritível.
O legislador falou em racismo, mas na verdade, o Art. 288 - A rede estadual de ensino e os cursos de
que ele queria dizer era preconceito. Preconceito é gênero, formação e aperfeiçoamento do servidor público civil e
do qual o racismo é uma espécie. Por racismo, entende-se militar incluirão em seus programas disciplina que valorize a
um preconceito que abrange a raça e no máximo, a cor das participação do negro na formação histórica da sociedade
pessoas. O racismo não envolve preconceito de sexo, de brasileira.
estado civil ou de outra natureza.
O racismo então deixou de ser mera contravenção Art. 289 - Sempre que for veiculada publicidade estadual
e ganhou o "status" de crime. Mas que crime? - Um crime com mais de duas pessoas, será assegurada a inclusão de
particular, extraordinário, porque esse crime está sujeito uma da raça negra.
sempre à pena de reclusão e mais do que isso, é um crime
inafiançável e mais ainda, um crime imprescritível. Art. 290 - O Dia 20 de novembro será considerado, no
É claro que o racismo é um crime muito grave, mas calendário oficial, como Dia da Consciência Negra.
fazer com que seja um crime imprescritível é um absurdo. É
preciso que o direito de punir do Estado seja limitado no LEI Nº 12.288, DE 20 DE JULHO DE 2010.
tempo; não pode um crime não prescrever nunca. Nos Institui o Estatuto da Igualdade Racial; altera as Leis nos
diplomas penais do mundo moderno, a prescrição começa a 7.716, de 5 de janeiro de 1989, 9.029, de
ser introduzida, pois a prescrição atenua aquele poder do 13 de abril de 1995, 7.347, de 24 de julho de 1985, e 10.778,
Estado de a qualquer hora poder punir. de 24 de novembro de 2003.
Para o Estado, a imprescritibilidade é uma coisa
extraordinária, mas não o é evidentemente, uma garantia O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o
para o cidadão. Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
A prescrição é um instituto moderno e soberano
em todos os códigos de todos os povos modernos. O TÍTULO I
legislador brasileiro retrocedeu séculos quando colocou DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
como imprescritível o crime de racismo. Art. 1o Esta Lei institui o Estatuto da Igualdade Racial,
destinado a garantir à população negra a efetivação da
CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DA BAHIA igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos étnicos
CAPÍTULO XXIII – individuais, coletivos e difusos e o combate à discriminação
“DO NEGRO” e às demais formas de intolerância étnica.
Parágrafo único. Para efeito deste Estatuto, considera-se:
Art. 286 - A sociedade baiana é cultural e historicamente I - discriminação racial ou étnico-racial: toda distinção,
marcada pela presença da comunidade afro-brasileira, exclusão, restrição ou preferência baseada em raça, cor,
constituindo a prática do racismo crime inafiançável e descendência ou origem nacional ou étnica que tenha por
imprescritível, sujeito a pena de reclusão, nos termos da objeto anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou
Constituição Federal. exercício, em igualdade de condições, de direitos humanos e
liberdades fundamentais nos campos político, econômico,
Art. 287 - Com países que mantiverem política oficial de social, cultural ou em qualquer outro campo da vida pública
discriminação racial, o Estado não poderá: ou privada;
I - admitir participação, ainda que indireta, através de II - desigualdade racial: toda situação injustificada de
empresas neles sediadas, em qualquer processo licitatório da diferenciação de acesso e fruição de bens, serviços e
Administração Pública direta ou indireta;
oportunidades, nas esferas pública e privada, em virtude de superação das desigualdades étnicas decorrentes do
raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica; preconceito e da discriminação étnica;
III - desigualdade de gênero e raça: assimetria existente no IV - promoção de ajustes normativos para aperfeiçoar o
âmbito da sociedade que acentua a distância social entre combate à discriminação étnica e às desigualdades étnicas
mulheres negras e os demais segmentos sociais; em todas as suas manifestações individuais, institucionais e
IV - população negra: o conjunto de pessoas que se estruturais;
autodeclaram pretas e pardas, conforme o quesito cor ou V - eliminação dos obstáculos históricos, socioculturais e
raça usado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e institucionais que impedem a representação da diversidade
Estatística (IBGE), ou que adotam autodefinição análoga; étnica nas esferas pública e privada;
V - políticas públicas: as ações, iniciativas e programas VI - estímulo, apoio e fortalecimento de iniciativas oriundas
adotados pelo Estado no cumprimento de suas atribuições da sociedade civil direcionadas à promoção da igualdade de
institucionais; oportunidades e ao combate às desigualdades étnicas,
VI - ações afirmativas: os programas e medidas especiais inclusive mediante a implementação de incentivos e critérios
adotados pelo Estado e pela iniciativa privada para a de condicionamento e prioridade no acesso aos recursos
correção das desigualdades raciais e para a promoção da públicos;
igualdade de oportunidades. VII - implementação de programas de ação afirmativa
destinados ao enfrentamento das desigualdades étnicas no
Art. 2o É dever do Estado e da sociedade garantir a tocante à educação, cultura, esporte e lazer, saúde,
igualdade de oportunidades, reconhecendo a todo cidadão segurança, trabalho,
brasileiro, independentemente da etnia ou da cor da pele, o moradia, meios de comunicação de massa, financiamentos
direito à participação na comunidade, especialmente nas públicos, acesso à terra, à Justiça, e
atividades políticas, econômicas, empresariais, educacionais, outros.
culturais e esportivas, defendendo sua dignidade e seus Parágrafo único. Os programas de ação afirmativa
valores religiosos e constituir-se-ão em políticas públicas destinadas a reparar as
culturais. distorções e desigualdades sociais e demais práticas
discriminatórias adotadas, nas esferas pública e privada,
Art. 3o Além das normas constitucionais relativas aos durante o processo de formação social do País.
princípios fundamentais, aos direitos e garantias
fundamentais e aos direitos sociais, econômicos e culturais, Art. 5o Para a consecução dos objetivos desta Lei, é
o Estatuto da Igualdade Racial adota como diretriz político- instituído o Sistema Nacional de Promoção da Igualdade
jurídica a inclusão das vítimas de desigualdade étnico-racial, Racial (Sinapir), conforme estabelecido no Título III.
a valorização da igualdade étnica e o fortalecimento da
identidade nacional brasileira. TÍTULO II
DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS
Art. 4o A participação da população negra, em condição de CAPÍTULO I
igualdade de oportunidade, na vida econômica, social, DO DIREITO À SAÚDE
política e cultural do País será promovida, prioritariamente,
por meio de: Art. 6o O direito à saúde da população negra será garantido
I - inclusão nas políticas públicas de desenvolvimento pelo poder público mediante políticas universais, sociais e
econômico e social; econômicas destinadas à redução do risco de doenças e de
II - adoção de medidas, programas e políticas de ação outros agravos.
afirmativa; § 1o O acesso universal e igualitário ao Sistema Único de
III - modificação das estruturas institucionais do Estado para Saúde (SUS) para promoção, proteção e recuperação da
o adequado enfrentamento e a saúde da população negra será de responsabilidade dos
órgãos e instituições públicas federais, estaduais, distritais e DO DIREITO À EDUCAÇÃO, À CULTURA, AO
municipais, da administração direta e indireta. ESPORTE E AO LAZER
§ 2o O poder público garantirá que o segmento da população
negra vinculado aos seguros privados de saúde seja tratado Seção I
sem discriminação. Disposições Gerais
Art. 7o O conjunto de ações de saúde voltadas à população Art. 9o A população negra tem direito a participar de
negra constitui a Política Nacional de Saúde Integral da atividades educacionais, culturais,esportivas e de lazer
População Negra, organizada de acordo com as diretrizes adequadas a seus interesses e condições, de modo a
abaixo especificadas: contribuir para o patrimônio cultural de sua comunidade e
I - ampliação e fortalecimento da participação de lideranças da sociedade brasileira.
dos movimentos sociais em defesa da saúde da população Art. 10. Para o cumprimento do disposto no art. 9o, os
negra nas instâncias de participação e controle social do governos federal, estaduais, distrital e municipais adotarão
SUS; as seguintes providências:
II - produção de conhecimento científico e tecnológico em I - promoção de ações para viabilizar e ampliar o acesso da
saúde da população negra; população negra ao ensino
III - desenvolvimento de processos de informação, gratuito e às atividades esportivas e de lazer;
comunicação e educação para contribuir com a redução das II - apoio à iniciativa de entidades que mantenham espaço
vulnerabilidades da população negra. para promoção social e cultural da população negra;
Art. 8o Constituem objetivos da Política Nacional de Saúde III - desenvolvimento de campanhas educativas, inclusive
Integral da População Negra: nas escolas, para que a solidariedade aos membros da
I - a promoção da saúde integral da população negra, população negra faça parte da cultura de toda a sociedade;
priorizando a redução das desigualdades étnicas e o combate IV - implementação de políticas públicas para o
à discriminação nas instituições e serviços do SUS; fortalecimento da juventude negra brasileira.
II - a melhoria da qualidade dos sistemas de informação do
SUS no que tange à coleta, ao processamento e à análise dos Seção II
dados desagregados por cor, etnia e gênero; Da Educação
III - o fomento à realização de estudos e pesquisas sobre
racismo e saúde da população negra; Art. 11. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de
IV - a inclusão do conteúdo da saúde da população negra ensino médio, públicos e privados, é obrigatório o estudo da
nos processos de formação e educação permanente dos história geral da África e da história da população negra no
trabalhadores da saúde; Brasil, observado o disposto na Lei no 9.394, de 20 de
V - a inclusão da temática saúde da população negra nos dezembro de 1996.
processos de formação política das lideranças de § 1o Os conteúdos referentes à história da população negra
movimentos sociais para o exercício da participação e no Brasil serão ministrados no âmbito de todo o currículo
controle social no SUS. escolar, resgatando sua contribuição decisiva para o
Parágrafo único. Os moradores das comunidades de desenvolvimento social, econômico, político e cultural do
remanescentes de quilombos serão beneficiários de País.
incentivos específicos para a garantia do direito à saúde, § 2o O órgão competente do Poder Executivo fomentará a
incluindo melhorias nas condições ambientais, no formação inicial e continuada de professores e a elaboração
saneamento básico, na segurança alimentar e nutricional e de material didático específico para o cumprimento do
na atenção integral à saúde. disposto no caput deste artigo.
§ 3o Nas datas comemorativas de caráter cívico, os órgãos
CAPÍTULO II responsáveis pela educação
incentivarão a participação de intelectuais e representantes
do movimento negro para debater com Art. 17. O poder público garantirá o reconhecimento das
os estudantes suas vivências relativas ao tema em sociedades negras, clubes e outras formas de manifestação
comemoração. coletiva da população negra, com trajetória histórica
Art. 12. Os órgãos federais, distritais e estaduais de fomento comprovada, como patrimônio histórico e cultural, nos
à pesquisa e à pós-graduação poderão criar incentivos a termos dos arts. 215 e 216 da Constituição Federal.
pesquisas e a programas de estudo voltados para temas Art. 18. É assegurado aos remanescentes das comunidades
referentes às relações étnicas, aos quilombos e às questões dos quilombos o direito à preservação de seus usos,
pertinentes à população negra. costumes, tradições e manifestos religiosos, sob a proteção
Art. 13. O Poder Executivo federal, por meio dos órgãos do Estado.
competentes, incentivará as instituições de ensino superior Parágrafo único. A preservação dos documentos e dos sítios
públicas e privadas, sem prejuízo da legislação em vigor, a: detentores de reminiscências históricas dos antigos
I - resguardar os princípios da ética em pesquisa e apoiar quilombos, tombados nos termos do § 5o do art. 216 da
grupos, núcleos e centros de pesquisa, nos diversos Constituição Federal, receberá especial atenção do poder
programas de pós-graduação que desenvolvam temáticas de público.
interesse da população negra; Art. 19. O poder público incentivará a celebração das
II - incorporar nas matrizes curriculares dos cursos de personalidades e das datas comemorativas relacionadas à
formação de professores temas que incluam valores trajetória do samba e de outras manifestações culturais de
concernentes à pluralidade étnica e cultural da sociedade matriz africana, bem como sua comemoração nas
brasileira; instituições de ensino públicas e privadas.
III - desenvolver programas de extensão universitária Art. 20. O poder público garantirá o registro e a proteção da
destinados a aproximar jovens negros de tecnologias capoeira, em todas as suas modalidades, como bem de
avançadas, assegurado o princípio da proporcionalidade de natureza imaterial e de formação da identidade cultural
gênero entre os beneficiários; brasileira, nos termos do art. 216 da Constituição Federal.
IV - estabelecer programas de cooperação técnica, nos Parágrafo único. O poder público buscará garantir, por meio
estabelecimentos de ensino públicos, dos atos normativos necessários, a preservação dos
privados e comunitários, com as escolas de educação elementos formadores tradicionais da capoeira nas suas
infantil, ensino fundamental, ensino médio e ensino técnico, relações
para a formação docente baseada em princípios de equidade, internacionais.
de tolerância e de respeito às diferenças étnicas.
Art. 14. O poder público estimulará e apoiará ações Seção IV
socioeducacionais realizadas por entidades do movimento Do Esporte e Lazer
negro que desenvolvam atividades voltadas para a inclusão
social, mediante cooperação técnica, intercâmbios, Art. 21. O poder público fomentará o pleno acesso da
convênios e incentivos, entre outros mecanismos. população negra às práticas desportivas, consolidando o
Art. 15. O poder público adotará programas de ação esporte e o lazer como direitos sociais.
afirmativa. Art. 22. A capoeira é reconhecida como desporto de criação
Art. 16. O Poder Executivo federal, por meio dos órgãos nacional, nos termos do art. 217 da Constituição Federal.
responsáveis pelas políticas de promoção da igualdade e de § 1o A atividade de capoeirista será reconhecida em todas as
educação, acompanhará e avaliará os programas de que trata modalidades em que a capoeira se manifesta, seja como
esta Seção. esporte, luta, dança ou música, sendo livre o exercício em
todo o território nacional.
Seção III
Da Cultura
§ 2o É facultado o ensino da capoeira nas instituições Art. 26. O poder público adotará as medidas necessárias
públicas e privadas pelos capoeiristas e mestres tradicionais, para o combate à intolerância com as religiões de matrizes
pública e formalmente reconhecidos. africanas e à discriminação de seus seguidores,
especialmente com o objetivo de:
CAPÍTULO III I - coibir a utilização dos meios de comunicação social para
DO DIREITO À LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA E DE a difusão de proposições, imagens ou abordagens que
CRENÇA E AO LIVRE EXERCÍCIO DOS exponham pessoa ou grupo ao ódio ou ao desprezo por
CULTOS RELIGIOSOS motivos fundados na religiosidade de matrizes africanas;
II - inventariar, restaurar e proteger os documentos, obras e
Art. 23. É inviolável a liberdade de consciência e de crença, outros bens de valor artístico e cultural, os monumentos,
sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e mananciais, flora e sítios arqueológicos vinculados às
garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a religiões de matrizes africanas;
suas liturgias. III - assegurar a participação proporcional de representantes
Art. 24. O direito à liberdade de consciência e de crença e das religiões de matrizes africanas, ao lado da representação
ao livre exercício dos cultos religiosos de matriz africana das demais religiões, em comissões, conselhos, órgãos e
compreende: outras instâncias de deliberação vinculadas ao poder
I - a prática de cultos, a celebração de reuniões relacionadas público.
à religiosidade e a fundação e manutenção, por iniciativa
privada, de lugares reservados para tais fins; CAPÍTULO IV
II - a celebração de festividades e cerimônias de acordo com DO ACESSO À TERRA E À MORADIA ADEQUADA
preceitos das respectivas religiões; Seção I
III - a fundação e a manutenção, por iniciativa privada, de Do Acesso à Terra
instituições beneficentes ligadas às respectivas convicções Art. 27. O poder público elaborará e implementará políticas
religiosas; públicas capazes de promover o acesso da população negra à
IV - a produção, a comercialização, a aquisição e o uso de terra e às atividades produtivas no campo.
artigos e materiais religiosos adequados aos costumes e às Art. 28. Para incentivar o desenvolvimento das atividades
práticas fundadas na respectiva religiosidade, ressalvadas as produtivas da população negra no campo, o poder público
condutas vedadas por legislação específica; promoverá ações para viabilizar e ampliar o seu acesso ao
V - a produção e a divulgação de publicações relacionadas financiamento
ao exercício e à difusão das religiões de matriz africana; agrícola.
VI - a coleta de contribuições financeiras de pessoas naturais Art. 29. Serão assegurados à população negra a assistência
e jurídicas de natureza privada para a manutenção das técnica rural, a simplificação do acesso ao crédito agrícola e
atividades religiosas e sociais das respectivas religiões; o fortalecimento da infraestrutura de logística para a
VII - o acesso aos órgãos e aos meios de comunicação para comercialização da produção.
divulgação das respectivas religiões; Art. 30. O poder público promoverá a educação e a
VIII - a comunicação ao Ministério Público para abertura de orientação profissional agrícola para os trabalhadores negros
ação penal em face de atitudes e práticas de intolerância e as comunidades negras rurais.
religiosa nos meios de comunicação e em quaisquer outros Art. 31. Aos remanescentes das comunidades dos
locais. quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a
Art. 25. É assegurada a assistência religiosa aos praticantes propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os
de religiões de matrizes africanas internados em hospitais ou títulos respectivos.
em outras instituições de internação coletiva, inclusive Art. 32. O Poder Executivo federal elaborará e desenvolverá
àqueles submetidos a pena privativa de liberdade. políticas públicas especiais voltadas para o desenvolvimento
sustentável dos remanescentes das comunidades dos
quilombos, respeitando as tradições de proteção ambiental
das comunidades. CAPÍTULO V
Art. 33. Para fins de política agrícola, os remanescentes das DO TRABALHO
comunidades dos quilombos receberão dos órgãos
competentes tratamento especial diferenciado, assistência Art. 38. A implementação de políticas voltadas para a
técnica e linhas especiais de financiamento público, inclusão da população negra no mercado de trabalho será de
destinados à realização de suas atividades produtivas e de responsabilidade do poder público, observando-se:
infraestrutura. I - o instituído neste Estatuto;
Art. 34. Os remanescentes das comunidades dos quilombos II - os compromissos assumidos pelo Brasil ao ratificar a
se beneficiarão de todas as iniciativas previstas nesta e em Convenção Internacional sobre a
outras leis para a promoção da igualdade étnica. Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, de
1965;
Seção II III - os compromissos assumidos pelo Brasil ao ratificar a
Da Moradia Convenção no 111, de 1958, da Organização Internacional
do Trabalho (OIT), que trata da discriminação no emprego e
Art. 35. O poder público garantirá a implementação de na profissão;
políticas públicas para assegurar o direito à moradia IV - os demais compromissos formalmente assumidos pelo
adequada da população negra que vive em favelas, cortiços, Brasil perante a comunidade internacional.
áreas urbanas subutilizadas, degradadas ou em processo de Art. 39. O poder público promoverá ações que assegurem a
degradação, a fim de reintegrá-las à dinâmica urbana e igualdade de oportunidades no mercado de trabalho para a
promover melhorias no ambiente e na qualidade de vida. população negra, inclusive mediante a implementação de
Parágrafo único. O direito à moradia adequada, para os medidas visando à promoção da igualdade nas contratações
efeitos desta Lei, inclui não apenas o provimento do setor público e o incentivo à adoção de medidas similares
habitacional, mas também a garantia da infraestrutura nas empresas e organizações privadas.
urbana e dos equipamentos comunitários associados à § 1o A igualdade de oportunidades será lograda mediante a
função habitacional, bem como a assistência técnica e adoção de políticas e programas de formação profissional,
jurídica para a construção, a reforma ou a regularização de emprego e de geração de renda voltados para a população
fundiária da habitação em área urbana. negra.
Art. 36. Os programas, projetos e outras ações § 2o As ações visando a promover a igualdade de
governamentais realizadas no âmbito do Sistema Nacional oportunidades na esfera da administração
de Habitação de Interesse Social (SNHIS), regulado pela Lei pública far-se-ão por meio de normas estabelecidas ou a
no 11.124, de 16 de junho de 2005, devem considerar as serem estabelecidas em legislação
peculiaridades sociais, econômicas e culturais da população específica e em seus regulamentos.
negra. § 3o O poder público estimulará, por meio de incentivos, a
Parágrafo único. Os Estados, o Distrito Federal e os adoção de iguais medidas pelo setor privado.
Municípios estimularão e facilitarão a participação de § 4o As ações de que trata o caput deste artigo assegurarão
organizações e movimentos representativos da população o princípio da proporcionalidade de gênero entre os
negra na composição beneficiários.
dos conselhos constituídos para fins de aplicação do Fundo § 5o Será assegurado o acesso ao crédito para a pequena
Nacional de Habitação de Interesse produção, nos meios rural e urbano, com ações afirmativas
Social (FNHIS). para mulheres negras.
Art. 37. Os agentes financeiros, públicos ou privados, § 6o O poder público promoverá campanhas de
promoverão ações para viabilizar o acesso da população sensibilização contra a marginalização da mulher negra no
negra aos financiamentos habitacionais. trabalho artístico e cultural.
§ 7o O poder público promoverá ações com o objetivo de incluir cláusulas de participação de artistas negros nos
elevar a escolaridade e a qualificação profissional nos contratos de realização de filmes, programas ou quaisquer
setores da economia que contem com alto índice de outras peças de caráter publicitário.
ocupação por trabalhadores negros de baixa escolarização. § 1o Os órgãos e entidades de que trata este artigo incluirão,
Art. 40. O Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao nas especificações para contratação de serviços de
Trabalhador (Codefat) formulará políticas, programas e consultoria, conceituação, produção e realização de filmes,
projetos voltados para a inclusão da população negra no programas ou peças publicitárias, a obrigatoriedade da
mercado de trabalho e orientará a destinação de recursos prática de iguais oportunidades de emprego para as pessoas
para seu financiamento. relacionadas com o projeto ou serviço contratado.
Art. 41. As ações de emprego e renda, promovidas por meio § 2o Entende-se por prática de iguais oportunidades de
de financiamento para constituição e ampliação de pequenas emprego o conjunto de medidas sistemáticas executadas
e médias empresas e de programas de geração de renda, com a finalidade de garantir a diversidade étnica, de sexo e
contemplarão o estímulo à promoção de empresários negros. de idade na equipe vinculada ao projeto ou serviço
Parágrafo único. O poder público estimulará as atividades contratado.
voltadas ao turismo étnico com enfoque nos locais, § 3o A autoridade contratante poderá, se considerar
monumentos e cidades que retratem a cultura, os usos e os necessário para garantir a prática de iguais oportunidades de
costumes da população negra. emprego, requerer auditoria por órgão do poder público
Art. 42. O Poder Executivo federal poderá implementar federal.
critérios para provimento de cargos em comissão e funções § 4o A exigência disposta no caput não se aplica às
de confiança destinados a ampliar a participação de negros, produções publicitárias quando abordarem especificidades
buscando reproduzir a estrutura da distribuição étnica de grupos étnicos determinados.
nacional ou, quando for o caso, estadual, observados os
dados demográficos oficiais. TÍTULO III
DO SISTEMA NACIONAL DE PROMOÇÃO DA
CAPÍTULO VI IGUALDADE RACIAL
DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO (SINAPIR)
Art. 43. A produção veiculada pelos órgãos de comunicação CAPÍTULO I
valorizará a herança cultural e a participação da população DISPOSIÇÃO PRELIMINAR
negra na história do País. Art. 47. É instituído o Sistema Nacional de Promoção da
Art. 44. Na produção de filmes e programas destinados à Igualdade Racial (Sinapir) como forma de organização e de
veiculação pelas emissoras de televisão e em salas articulação voltadas à implementação do conjunto de
cinematográficas, deverá ser adotada a prática de conferir políticas e serviços destinados a superar as desigualdades
oportunidades de emprego para atores, figurantes e técnicos étnicas existentes no País, prestados pelo poder público
negros, sendo vedada toda e qualquer discriminação de federal.
natureza política, ideológica, étnica ou artística. § 1o Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão
Parágrafo único. A exigência disposta no caput não se participar do Sinapir mediante adesão.
aplica aos filmes e programas que abordem especificidades § 2o O poder público federal incentivará a sociedade e a
de grupos étnicos determinados. iniciativa privada a participar do Sinapir.
Art. 45. Aplica-se à produção de peças publicitárias
destinadas à veiculação pelas emissoras de televisão e em CAPÍTULO II
salas cinematográficas o disposto no art. 44. DOS OBJETIVOS
Art. 46. Os órgãos e entidades da administração pública Art. 48. São objetivos do Sinapir:
federal direta, autárquica ou fundacional, as empresas
públicas e as sociedades de economia mista federais deverão
I - promover a igualdade étnica e o combate às nesta Lei aos Estados, Distrito Federal e Municípios que
desigualdades sociais resultantes do racismo, inclusive tenham criado conselhos de promoção da igualdade étnica.
mediante adoção de ações afirmativas; CAPÍTULO IV
II - formular políticas destinadas a combater os fatores de DAS OUVIDORIAS PERMANENTES E DO ACESSO À
marginalização e a promover a integração social da JUSTIÇA E À SEGURANÇA
população negra; Art. 51. O poder público federal instituirá, na forma da lei e
III - descentralizar a implementação de ações afirmativas no âmbito dos Poderes Legislativo e Executivo, Ouvidorias
pelos governos estaduais, distrital e municipais; Permanentes em Defesa da Igualdade Racial, para receber e
IV - articular planos, ações e mecanismos voltados à encaminhar denúncias de preconceito e discriminação com
promoção da igualdade étnica; base em etnia ou cor e acompanhar a implementação de
V - garantir a eficácia dos meios e dos instrumentos criados medidas para a promoção da igualdade.
para a implementação das ações afirmativas e o Art. 52. É assegurado às vítimas de discriminação étnica o
cumprimento das metas a serem estabelecidas. acesso aos órgãos de Ouvidoria Permanente, à Defensoria
CAPÍTULO III Pública, ao Ministério Público e ao Poder Judiciário, em
DA ORGANIZAÇÃO E COMPETÊNCIA todas as suas instâncias, para a garantia do cumprimento de
Art. 49. O Poder Executivo federal elaborará plano nacional seus direitos.
de promoção da igualdade racial contendo as metas, Parágrafo único. O Estado assegurará atenção às mulheres
princípios e diretrizes para a implementação da Política negras em situação de violência, garantida a assistência
Nacional de Promoção da Igualdade Racial (PNPIR). física, psíquica, social e jurídica.
§ 1o A elaboração, implementação, coordenação, avaliação Art. 53. O Estado adotará medidas especiais para coibir a
e acompanhamento da PNPIR, bem como a organização, violência policial incidente sobre a
articulação e coordenação do Sinapir, serão efetivados pelo população negra.
órgão responsável pela política de promoção da igualdade Parágrafo único. O Estado implementará ações de
étnica em âmbito nacional. ressocialização e proteção da juventude
§ 2o É o Poder Executivo federal autorizado a instituir negra em conflito com a lei e exposta a experiências de
fórum intergovernamental de promoção da igualdade étnica, exclusão social.
a ser coordenado pelo órgão responsável pelas políticas de Art. 54. O Estado adotará medidas para coibir atos de
promoção da igualdade étnica, com o objetivo de discriminação e preconceito
implementar estratégias que visem à incorporação da praticados por servidores públicos em detrimento da
política nacional de promoção da igualdade étnica nas ações população negra, observado, no que couber,
governamentais de Estados e Municípios. o disposto na Lei no 7.716, de 5 de janeiro de 1989.
§ 3o As diretrizes das políticas nacional e regional de Art. 55. Para a apreciação judicial das lesões e das ameaças
promoção da igualdade étnica serão elaboradas por órgão de lesão aos interesses da população negra decorrentes de
colegiado que assegure a participação da sociedade civil. situações de desigualdade étnica, recorrer-se-á, entre outros
Art. 50. Os Poderes Executivos estaduais, distrital e instrumentos, à ação civil pública, disciplinada na Lei no
municipais, no âmbito das respectivas esferas de 7.347, de 24 de julho de 1985.
competência, poderão instituir conselhos de promoção da CAPÍTULO V
igualdade étnica, de caráter permanente e consultivo, DO FINANCIAMENTO DAS INICIATIVAS DE
compostos por igual número de representantes de órgãos e PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL
entidades Art. 56. Na implementação dos programas e das ações
públicas e de organizações da sociedade civil representativas constantes dos planos plurianuais e dos orçamentos anuais
da população negra. da União, deverão ser observadas as políticas de ação
Parágrafo único. O Poder Executivo priorizará o repasse dos afirmativa a que se
recursos referentes aos programas e atividades previstos
refere o inciso VII do art. 4o desta Lei e outras políticas crescente dos programas de ação afirmativa nos orçamentos
públicas que tenham como objetivo promover a igualdade de anuais a que se refere o § 2o deste artigo.
oportunidades e a inclusão social da população negra, § 4o O órgão colegiado do Poder Executivo federal
especialmente no que tange a: responsável pela promoção da igualdade racial acompanhará
I - promoção da igualdade de oportunidades em educação, e avaliará a programação das ações referidas neste artigo nas
emprego e moradia; propostas orçamentárias da União.
II - financiamento de pesquisas, nas áreas de educação, Art. 57. Sem prejuízo da destinação de recursos ordinários,
saúde e emprego, voltadas para a melhoria da qualidade de poderão ser consignados nos orçamentos fiscal e da
vida da população negra; seguridade social para financiamento das ações de que trata
III - incentivo à criação de programas e veículos de o art. 56:
comunicação destinados à divulgação de matérias I - transferências voluntárias dos Estados, do Distrito
relacionadas aos interesses da população negra; Federal e dos Municípios;
IV - incentivo à criação e à manutenção de microempresas II - doações voluntárias de particulares;
administradas por pessoas autodeclaradas negras; III - doações de empresas privadas e organizações não
V - iniciativas que incrementem o acesso e a permanência governamentais, nacionais ou internacionais;
das pessoas negras na educação fundamental, média, técnica IV - doações voluntárias de fundos nacionais ou
e superior; internacionais;
VI - apoio a programas e projetos dos governos estaduais, V - doações de Estados estrangeiros, por meio de convênios,
distrital e municipais e de entidades da sociedade civil tratados e acordos internacionais.
voltados para a promoção da igualdade de oportunidades TÍTULO IV
para a população negra; DISPOSIÇÕES FINAIS
VII - apoio a iniciativas em defesa da cultura, da memória e Art. 58. As medidas instituídas nesta Lei não excluem
das tradições africanas e brasileiras. outras em prol da população negra que tenham sido ou
§ 1o O Poder Executivo federal é autorizado a adotar venham a ser adotadas no âmbito da União, dos Estados, do
medidas que garantam, em cada exercício, a transparência Distrito Federal ou dos Municípios.
na alocação e na execução dos recursos necessários ao Art. 59. O Poder Executivo federal criará instrumentos para
financiamento das ações previstas neste Estatuto, aferir a eficácia social das medidas previstas nesta Lei e
explicitando, entre outros, a proporção dos recursos efetuará seu monitoramento constante, com a emissão e a
orçamentários destinados aos programas de promoção da divulgação de relatórios periódicos, inclusive pela rede
igualdade, especialmente nas áreas de mundial de computadores.
educação, saúde, emprego e renda, desenvolvimento agrário, Art. 60. Os arts. 3o e 4o da Lei no 7.716, de 1989, passam a
habitação popular, desenvolvimento regional, cultura, vigorar com a seguinte redação:
esporte e lazer. “Art. 3o ........................................................................
§ 2o Durante os 5 (cinco) primeiros anos, a contar do Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, por motivo
exercício subsequente à publicação deste Estatuto, os órgãos de discriminação de raça, cor, etnia, religião ou procedência
do Poder Executivo federal que desenvolvem políticas e nacional, obstar a promoção funcional.” (NR)
programas nas áreas referidas no § 1o deste artigo “Art. 4o ........................................................................
discriminarão em seus orçamentos anuais a participação nos § 1o Incorre na mesma pena quem, por motivo de
programas de ação afirmativa referidos no inciso VII do art. discriminação de raça ou de cor ou práticas resultantes do
4o desta Lei. preconceito de descendência ou origem nacional ou étnica:
§ 3o O Poder Executivo é autorizado a adotar as medidas I - deixar de conceder os equipamentos necessários ao
necessárias para a adequada implementação do disposto empregado em igualdade de condições com os demais
neste artigo, podendo estabelecer patamares de participação trabalhadores;
II - impedir a ascensão funcional do empregado ou obstar baseada no gênero, inclusive decorrente de discriminação ou
outra forma de benefício profissional; desigualdade étnica, que cause
III - proporcionar ao empregado tratamento diferenciado no morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à
ambiente de trabalho, especialmente mulher, tanto no âmbito público quanto no
quanto ao salário. privado.
§ 2o Ficará sujeito às penas de multa e de prestação de ...................................................................................” (NR)
serviços à comunidade, incluindo atividades de promoção da Art. 64. O § 3o do art. 20 da Lei no 7.716, de 1989, passa a
igualdade racial, quem, em anúncios ou qualquer outra vigorar acrescido do seguinte
forma de recrutamento de trabalhadores, exigir aspectos de inciso III:
aparência próprios de raça ou etnia para emprego cujas “Art. 20. ......................................................................
atividades não justifiquem essas exigências.” (NR) .............................................................................................
Art. 61. Os arts. 3o e 4o da Lei no 9.029, de 13 de abril de § 3o ...............................................................................
1995, passam a vigorar com a seguinte redação: .............................................................................................
“Art. 3o Sem prejuízo do prescrito no art. 2o e nos III - a interdição das respectivas mensagens ou páginas de
dispositivos legais que tipificam os crimes resultantes de informação na rede mundial de computadores.
preconceito de etnia, raça ou cor, as infrações do disposto ...................................................................................” (NR)
nesta Lei são passíveis das seguintes cominações: Art. 65. Esta Lei entra em vigor 90 (noventa) dias após a
...................................................................................” (NR) data de sua publicação.
“Art. 4o O rompimento da relação de trabalho por ato Brasília, 20 de julho de 2010; 189o da Independência e 122o
discriminatório, nos moldes desta Lei, além da República.
do direito à reparação pelo dano moral, faculta ao LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
empregado optar entre: Eloi Ferreira de Araújo
...................................................................................” (NR) Este texto não substitui o publicado no DOU de 21.7.2010
Art. 62. O art. 13 da Lei no 7.347, de 1985, passa a vigorar
acrescido do seguinte § 2o, renumerando-se o atual LEI Nº 7.716/1989
parágrafo único como § 1o:  
“Art. 13. ........................................................................ Considerada um expressivo avanço jurídico e
§ 1o ............................................................................... político, a denominada Lei Caó (por força do parlamentar
§ 2o Havendo acordo ou condenação com fundamento em Carlos Alberto Caó, autor do projeto de Lei na Câmara dos
dano causado por ato de discriminação étnica nos termos do Deputados), ou ainda Lei “Antidiscriminação” ou Lei “Anti-
disposto no art. 1o desta Lei, a prestação em dinheiro preconceito”, veio para suprir as falhas que foram deixadas
reverterá diretamente ao fundo de que trata o caput e será pela Lei Afonso Arinos.
utilizada para ações de promoção da igualdade étnica, Aparece a Lei Caó no cenário jurídico por força da
conforme definição do Conselho Nacional de Promoção da Constituição de 1988, que conferiu suporte constitucional ao
Igualdade Racial, na hipótese de extensão nacional, ou dos legislador ordinário. Promulgada em 5 de janeiro de 1989, a
Conselhos de Promoção de Igualdade Racial estaduais ou Lei Caó inovou ao caracterizar a prática de racismo como
locais, nas crime, em um cenário aonde este era considerado apenas
hipóteses de danos com extensão regional ou local, uma contravenção penal, ensejando às pessoas que
respectivamente.” (NR) cometessem atos discriminatórios os benefícios da
Art. 63. O § 1o do art. 1o da Lei no 10.778, de 24 de primariedade, do simples pagamento de multas etc., sem
novembro de 2003, passa a vigorar com a seguinte redação: que, de fato, fossem condenadas e cumprissem pena em
“Art. 1o ....................................................................... estabelecimentos carcerários. Ou seja, a prática do racismo
§ 1o Para os efeitos desta Lei, entende-se por violência vinha sendo estimulada de forma crescente, sem que o
contra a mulher qualquer ação ou conduta,
Estado, detentor de uma máquina policial-judiciária lenta e legislação que a precedia), relegando ao esquecimento
ineficiente viesse a punir os culpados. àquelas resultantes de preconceito por etnia, religião,
Nesta linha, a antiga Lei Afonso Arinos representou à sua procedência nacional, preferência sexual ou classe social.
época seu papel, que guarda extrema importância na Assim, fizeram-se necessárias alterações legislativas nesse
História, porém, imperiosa era a promulgação de uma nova sentido, e isto se deu através das Leis 8.081/90, 8.882/94 e
Lei, que representasse fielmente a realidade. 9.459/97, sendo que esta última representou a modificação
Não obstante a frequente negação – talvez por conta de uma mais importante.
vergonha moral – de que o Brasil represente um país de Esta última Lei modificadora deu nova redação ao artigo
discriminadores, resta claro que estes existem e agem 1o da Lei Caó, passando este a ter como conduta criminosa
sorrateiramente, nos balcões de lojas, hotéis, locais públicos, não apenas os atos praticados por discriminação ou
ou ainda em simples gracejos cotidianos. Por esse prisma, preconceito por raça ou cor, mas também aqueles advindos
salta aos olhos a importância jurídica da Lei 7.716/89. de discriminação ou preconceito por etnia, religião ou
  procedência nacional.
 LEI 7.716 DE 05/01/1989 - DOU 06/01/1989 Lamentável porém foi o legislador ordinário não ter tratado,
nesta última alteração legislativa, dos atos discriminatórios
Define os Crimes Resultantes de Preconceitos de por sexo, estado civil  ou orientação sexual. Vale lembrar
Raça ou de Cor. que estes dois primeiros permanecem como simples
ART. 20 - Praticar, induzir ou incitar, pelos meios contravenções penais por conta da Lei nº 7.437/1985. Já
de comunicação social ou por publicação de qualquer com relação ao preconceito por orientação sexual, não há lei
natureza, a discriminação ou preconceito de raça, cor, que trate do assunto, o que gera impunidade, uma vez que os
religião, etnia ou procedência nacional (grifo nosso). homossexuais são frequentemente vítimas de discriminação
Pena: reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos. e preconceito.
É apenas através da mídia, através da imprensa. A Outra importante alteração trazida pela Lei nº 9.459/97 foi a
Lei, limitou esses atos, característicos de crime, à chamada introdução do artigo 20 na Lei Anti-discriminação, qual
publicação, aos anúncios em jornais e outros meios de seja:
comunicação. “Art. 20 - Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou
Antes da lei, haviam anúncios de empregados preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência
procurados nos jornais, que davam preferência a candidatos nacional. Pena: reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos e multa.
nisseis, candidatos de orígem alemã, americana e assim por § 1º - Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular
diante, criando uma barreira às pessoas de outras símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda
nacionalidades. que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de
divulgação do nazismo. Pena: reclusão de 2 (dois) a 5
2.3. Alterações legislativas da Lei 7.716/1989 (cinco) anos e multa. § 2º - Se qualquer dos crimes
  previstos no caput é cometido por intermédio dos meios de
A Lei 7.716/89, à sua promulgação, não trouxe condutas comunicação social ou publicação de qualquer natureza:
típicas inovadoras, reproduzindo grande parte da Lei Afonso Pena: reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos e multa. § 3º -
Arinos, Lei combatente ao racismo que estava vigendo à No caso do parágrafo anterior, o juiz poderá determinar,
época. ouvido o Ministério Público ou a pedido deste, ainda antes
Tal fato fez com que referida Lei fosse alvo de críticas, por do inquérito policial, sob pena de desobediência: I - o
parte dos movimentos de grupos discriminados, bem como recolhimento imediato ou a busca e apreensão dos
pela doutrina especializada, isso porque a Lei 7.716/89, tão exemplares do material respectivo; II - a cessação das
importante por elevar a prática de racismo de contravenção respectivas transmissões radiofônicas ou televisivas. § 4º -
penal a crime, continuou a penalizar apenas as condutas Na hipótese do § 2º, constitui efeito da condenação, após o
preconceituosas por raça ou cor (exatamente como a
trânsito em julgado da decisão, a destruição do material Art 3º - Recusar hospedagem em hotel, pensão, estalagem
apreendido.” ou estabelecimento de mesma finalidade, por preconceito de
Este artigo aumentou consideravelmente a possibilidade da raça, de cor, de sexo ou de estado civil.
adequação típica das condutas preconceituosas, pois, Pena - prisão simples, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e
tratando-se de crime de execução livre, qualquer prática, multa de 3 (três) a 10 (dez)
induzimento ou incitação à discriminação ou preconceito vezes o maior valor de referência (MVR).
por força de raça, cor, etnia, religião ou procedência Art 4º - Recusar a venda de mercadoria em lojas de
nacional tipifica o crime. qualquer gênero ou o atendimento
Esta última alteração ainda modificou o art. 140 do Código de clientes em restaurantes, bares, confeitarias ou locais
Penal, acrescentando-lhe seu parágrafo 3o, prevendo a semelhantes, abertos ao
injúria qualificada pelos elementos de raça, cor, etnia, público, por preconceito de raça, de cor, de sexo ou de
religião e origem, dando-lhe a mesma pena do crime do estado civil.
artigo 20, caput, da lei especial. Pena - prisão simples, de 15 (quinze) dias a 3 (três) meses, e
o
O §3  do artigo 140 do Código Penal, recebeu nova multa de 1 (uma) a 3 (três) vezes o maior valor de referência
alteração pela Lei nº 10.741/2003, acrescentando-lhe ainda, (MVR).
além da injúria qualificada dita acima, também aquela por Art 5º - Recusar a entrada de alguém em estabelecimento
força de pessoa idosa ou portadora de deficiência. Bem público, de diversões ou deesporte, por preconceito de raça,
como, a partir da Lei 12.033/09, passou a ser perseguido de cor, de sexo ou de estado civil.
mediante ação penal pública mediante representação do Pena - prisão simples, de 15 (quinze) dias a 3 (três) meses, e
ofendido (art. 145, parágrafo único, do Código Penal). multa de 1 (uma) a 3 (três) vezes o maior valor de referência
Christiano Jorge Santos comenta ainda que não obstante as (MVR).
três alterações providenciadas na Lei 7.716/89, não cuidou o Art 6º - Recusar a entrada de alguém em qualquer tipo de
legislador de alterar-lhe o texto do epígrafe, constando ainda estabelecimento comercial ou de prestação de serviço, por
que os crimes são os resultantes apenas de raça e cor. preconceito de raça, de cor, de sexo ou de estado civil.
Pena - prisão simples, de 15 (quinze) dias a 3 (três) meses, e
 LEI CAÓ multa de 1 (uma) a 3 (três) vezes o maior valor de referência
LEI Nº 7.437, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1985 (MVR).
Incluí, entre as contravenções penais, a prática de atos Art 7º - Recusar a inscrição de aluno em estabelecimento de
resultantes de preconceito de raça, de cor, de sexo ou de ensino de qualquer curso ou grau, por preconceito de raça,
estado civil, dando nova redação à Lei nº 1.390, de 3 de de cor, de sexo ou de estado civil.
julho de 1951 - Lei Afonso Arinos. Pena - prisão simples, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e
multa de 1 (uma) a 3 (três) vezes o maior valor de referência
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA , faço saber que o (MVR).
Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Parágrafo único - Se se tratar de estabelecimento oficial de
Art 1º - Constitui contravenção, punida nos termos desta ensino, a pena será a perda do cargo para o agente, desde
Lei, a prática de atos resultantes de preconceito de raça, de que apurada em inquérito regular.
cor, de sexo ou de estado civil. Art 8º - Obstar o acesso de alguém a qualquer cargo público
Art 2º - Será considerado agente de contravenção o diretor, civil ou militar, por preconceito de raça, de cor, de sexo ou
gerente ou empregado do estabelecimento que incidir na de estado civil.
prática referida no art. 1º desta Lei. Pena - perda do cargo, depois de apurada a responsabilidade
em inquérito regular, para o funcionário dirigente da
DAS CONTRAVENÇÕES repartição de que dependa a inscrição no concurso de
habilitação dos candidatos.
Art 9º - Negar emprego ou trabalho a alguém em autarquia, V - Secretaria da Justiça e Direitos Humanos - SJDH, para
sociedade de economia mista, empresa concessionária de Secretaria da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos -
serviço público ou empresa privada, por preconceito SJCDH.
de raça, de cor, de sexo ou de estado civil. Art. 3º - Ficam criadas as seguintes Secretarias:
Pena - prisão simples, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e I - Secretaria de Relações Institucionais - SERIN;
multa de 1 (uma) a 3 (três) vezes o maior valor de referência II - Secretaria de Promoção da Igualdade - SEPROMI;
(MVR), no caso de empresa privada; perda do cargo para o III - Secretaria de Desenvolvimento e Integração
responsável pela recusa, no caso de autarquia, sociedade de Regional ?" SEDIR;
economia mista e empresa IV - Secretaria de Turismo - SETUR.
concessionária de serviço público. Art. 4º - Ficam transferidas as seguintes atividades, funções,
Art 10 - Nos casos de reincidência havidos em fundos, órgãos e entidades:
estabelecimentos particulares, poderá o juiz determinar a I - da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte -
pena adicional de suspensão do funcionamento, por prazo SETRE, para a Secretaria de Desenvolvimento Social e
não superior a 3 (três) meses. Combate à Pobreza - SEDES:
Art 11 - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. a) a Superintendência de Assistência Social;
Art 12 - Revogam-se as disposições em contrário. b) o Fundo Estadual de Assistência Social, de que trata a
Brasília, em 20 de dezembro de 1985; 164º da Lei 6.930/95;
Independência e 97º da República. c) o Fundo Estadual de Atendimento à Criança e ao
JOSÉ SARNEY Adolescente, de que trata a Lei 6975/96;
Fernando Lyra d) a Fundação da Criança e do Adolescente - FUNDAC;
e) o Conselho Estadual de Assistência Social - CEAS;
LEI 10549/06 | LEI Nº 10.549 DE 28 DE DEZEMBRO f) o Conselho Estadual da Criança e do Adolescente -
DE 2006 DA BAHIA CECA;
   g) a Comissão Interinstitucional de Defesa Civil - CIDEC;
Modifica a estrutura organizacional da Administração h) a Coordenação de Defesa Civil - CORDEC;
Pública do Poder Executivo Estadual e dá outras II - da Secretaria de Desenvolvimento Social e Combate à
providências.  Pobreza - SEDES, para a Casa Civil, o Fundo Estadual de
O GOVERNADOR DO ESTADO DA BAHIA, faço saber Combate e Erradicação da Pobreza - FUNCEP, instituído
que a Assembleia Legislativa decreta e eu sanciono a pelo art. 4º da Lei7.988/2001;
seguinte Lei: III - da Secretaria de Desenvolvimento Social e Combate à
Art. 1º - A Administração Pública Estadual fica modificada Pobreza - SEDES, para a Casa Civil:
na forma da presente Lei. a) a Diretoria Executiva do FUNCEP criada pelo art. 2º, II,
Art. 2º - Ficam alteradas as denominações das seguintes e § 8º da Lei 7.988/2001, com as alterações introduzidas
Secretarias de Estado: pela Lei 9.509/2005, exceto a Coordenação de Orçamento e
I - Secretaria do Trabalho, Assistência Social e Esporte - Finanças;
SETRAS, para Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e b) o Conselho de Políticas de Inclusão Social;
Esporte - SETRE; c) a Câmara Técnica de Gestão de Programas;
II - Secretaria de Combate à Pobreza e às Desigualdades IV - da Casa Civil:
Sociais - SECOMP, para Secretaria de Desenvolvimento a) para a Secretaria de Relações Institucionais " SERIN: as
Social e Combate à Pobreza - SEDES; funções de coordenação de assuntos legislativos;
III - Secretaria de Governo - SEGOV para Casa Civil; b) para o Gabinete do Governador, órgão vinculado
IV - Secretaria de Cultura e Turismo - SCT, para Secretaria diretamente ao Governador: a Ouvidoria Geral do Estado, a
de Cultura - SECULT; Secretaria Particular do Governador, o Escritório de
Representação do Governo, o Cerimonial e a Assessoria da Secretaria de Relações Institucionais " SERIN, conforme
Especial do Governador; dispuser o Regulamento.
V - da Secretaria de Cultura para a Secretaria de Turismo - Art. 7º - A Secretaria de Promoção da Igualdade -
SETUR: SEPROMI tem por finalidade planejar e executar políticas
a) a Superintendência de Investimentos em Pólos Turísticos; de promoção da igualdade racial e proteção dos direitos de
b) a Empresa de Turismo da Bahia S/A " BAHIATURSA; indivíduos e grupos étnicos atingidos pela discriminação e
VI - da Secretaria da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos demais formas de intolerância, bem assim, planejar e
- SJCDH, para a Secretaria de Promoção da Igualdade - executar as políticas públicas de caráter transversal para as
SEPROMI: mulheres.
a) o Conselho de Desenvolvimento da Comunidade Negra; § 1º - A Secretaria de Promoção à Igualdade - SEPROMI
b) o Conselho de Defesa dos Direitos da Mulher; tem a seguinte estrutura básica:
VII - da Secretaria do Planejamento - SEPLAN para a I - Órgãos Colegiados:
Secretaria de Desenvolvimento e Integração Regional - a) Conselho de Desenvolvimento da Comunidade Negra;
SEDIR: b) Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Mulher;
a) os Conselhos Regionais de Desenvolvimento; II - Órgãos da Administração Direta:
b) a Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional ?" a) Gabinete do Secretário;
CAR. b) Diretoria de Administração e Finanças;
Art. 5º - As estruturas básicas da Secretaria de Relações c) Superintendência de Políticas para as Mulheres;
Institucionais - SERIN, da Secretaria de Promoção da d) Superintendência de Promoção da Igualdade Racial.
Igualdade - SEPROMI e da Secretaria de Desenvolvimento § 2º - A Superintendência de Políticas para as Mulheres tem
e Integração Regional - SEDIR, não conterão a Diretoria por finalidade orientar, apoiar, coordenar, acompanhar,
Geral prevista no art. 2º da Lei 7.435/98. controlar e executar programas e atividades voltadas à
Parágrafo único - Fica criada a Diretoria de Administração e implementação de políticas para as mulheres, implementar
Finanças em cada uma das Secretarias referidas neste artigo ações afirmativas e definir ações públicas de promoção da
e no Gabinete do Governador, tendo por finalidade o igualdade entre homens e mulheres e de combate à
planejamento e coordenação das atividades de programação, discriminação.
orrnamentação, acompanhamento, avaliação, estudos e § 3º - A Superintendência de Promoção da Igualdade Racial
análises, administração financeira e de contabilidade, tem por finalidade orientar, apoiar, coordenar, acompanhar,
material, patrimônio, serviços, recursos humanos, controlar e executar programas e atividades voltadas à
modernização administrativa e informática. implementação de políticas e diretrizes para a promoção da
Art. 6º - A Secretaria de Relações Institucionais - SERIN igualdade  e da proteção dos direitos de indivíduos e grupos
tem por finalidade a coordenação política do Poder raciais e étnicos, afetados por discriminação racial e demais
Executivo e de suas relações com os demais Poderes das formas de intolerância.
diversas esferas de Governo, com a sociedade civil e suas § 4º - Fica acrescida à composição do Conselho de
instituições. Desenvolvimento da Comunidade Negra e do Conselho
§ 1º - A Secretaria de Relações Institucionais - SERIN tem a Estadual de Defesa dos Diretos da Mulher, de que tratam as
seguinte estrutura básica: alíneas a e b do art. 17 da Lei nº 4.697/87, a representação
a) Gabinete do Secretário; da Secretaria de Promoção da Igualdade - SEPROMI.
b) Diretoria de Administração e Finanças; Art. 8º - A Secretaria de Desenvolvimento e Integração
c) Coordenação de Assuntos Legislativos; Regional - SEDIR tem por finalidade planejar e coordenar a
d) Coordenação de Assuntos Federativos; execução da política estadual de desenvolvimento regional
e) Coordenação de Articulação Social. integrado; formular, em parceria com o Conselho Estadual
Parágrafo único - As Coordenações têm por objetivo o de Desenvolvimento Econômico e Social, os planos e
planejamento, a execução e o controle das atividades a cargo programas regionais de desenvolvimento; estabelecer
estratégias de integração das economias regionais; coordenar, executar e acompanhar as ações e programas de
acompanhar e avaliar os programas integrados de fomento à economia solidária.
desenvolvimento regional. Art. 11 - A Secretaria de Desenvolvimento Social e
§ 1º - A Secretaria de Desenvolvimento e Integração Combate à Pobreza - SEDES tem por finalidade planejar,
Regional - SEDIR tem a seguinte estrutura básica: coordenar, executar e fiscalizar as políticas de
I - Órgãos Colegiados: desenvolvimento social, segurança alimentar e nutricional e
a) Conselhos Regionais de Desenvolvimento. de assistência social.
II - Órgãos da Administração Direta: § 1º - A Superintendência de Apoio à Inclusão Social, passa
a) Gabinete do Secretário; a ser denominada Superintendência de Inclusão e
b) Diretoria de Administração e Finanças; Assistência Alimentar, com a finalidade de promover as
c) Coordenação de Políticas do Desenvolvimento Regional; ações de inclusão social e de assistência alimentar, conforme
d) Coordenação de Programas Regionais; dispuser o regulamento.
III - Entidade da Administração Indireta: § 2º - Fica extinta a Superintendência de Articulação e
a) Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional - CAR. Programas Especiais.
§ 2º - As coordenações têm por objetivo o planejamento, a Art. 12 - A Secretaria de Desenvolvimento Social e
execução e o controle das atividades a cargo da Secretaria de Combate à Pobreza - SEDES tem a seguinte estrutura
Desenvolvimento e Integração Regional - SEDIR, conforme básica:
dispuser o regulamento. I - Órgãos Colegiados:
Art. 9º - O Gabinete do Governador, órgão de assistência a) Comissão Interinstitucional de Defesa Civil - CIDEC;
direta e imediata ao Governador, tem a seguinte estrutura b) Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do
básica: Adolescente - CECA;
a) Chefia do Gabinete; c) Conselho Estadual de Assistência Social - CEAS;
b) Ouvidoria Geral do Estado; d) Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional do
c) Secretaria Particular do Governador; Estado da Bahia - CONSEA ?" BA;
d) Cerimonial; II - Órgãos da Administração Direta:
e) Assessoria Especial do Governador; a) Gabinete do Secretário;
f) Assessoria Internacional; b) Diretoria Geral;
g) Escritório de Representação do Governo; c) Superintendência de Assistência Social;
h) Diretoria de Administração e Finanças. d) Superintendência de Inclusão e Assistência Alimentar;
Parágrafo único - Fica criado o cargo de Chefe de Gabinete III - Órgãos em Regime Especial de Administração Direta:
do Governador, ao qual são asseguradas as prerrogativas,  a) Coordenação de Defesa Civil - CORDEC.
representação, remuneração e impedimentos de Secretário IV - Entidade da Administração Indireta:
de Estado, cabendo-lhe a supervisão e a coordenação dos a) Fundação da Criança e do Adolescente - FUNDAC.
órgãos integrantes da estrutura do Gabinete do Governador, Parágrafo único - O Secretário do Desenvolvimento Social e
a elaboração da agenda e o exercício de outras atribuições Combate à Pobreza - SEDES passa a integrar na condição de
designadas pelo Governador. presidente, o Conselho Estadual de Assistência Social -
Art. 10 - A Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e CEAS, o Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do
Esporte - SETRE tem por finalidade planejar e executar as Adolescente - CECA e a Comissão Interinstitucional de
políticas de emprego e renda e de apoio à formação do Defesa Civil - CIDEC.
trabalhador, de economia solidária e de fomento ao esporte. Art. 13 - A Secretaria de Turismo - SETUR tem por
Parágrafo único - Fica criada na Secretaria do Trabalho, finalidade planejar, coordenar e executar políticas de
Emprego, Renda e Esporte - SETRE a Superintendência de promoção e fomento ao turismo.
Economia Solidária, com a finalidade de planejar, § 1º - A Secretaria de Turismo - SETUR tem a seguinte
estrutura básica:
I - Órgãos da Administração Direta: Parágrafo único - As modificações de que trata o inciso II
a) Gabinete do Secretário; deste artigo incluem a abertura de créditos especiais
b) Diretoria Geral; destinados, exclusivamente, à criação de categorias de
c) Superintendência de Investimentos em Pólos Turísticos; programação indispensáveis ao funcionamento de órgãos
d) Superintendência de Serviços Turísticos. criados ou decorrentes desta Lei, respeitado o Art. 7º da Lei
II - Entidade da Administração Indireta: Orçamentária de 2007. Citado por 1
a) Empresa de Turismo da Bahia S/A - BAHIATURSA. Art. 18 - Fica o Poder Executivo autorizado a praticar os
§ 2º - A Superintendência de Serviços Turísticos tem por atos necessários à continuidade dos serviços, até a definitiva
finalidade planejar e executar programas e projetos de estruturação dos órgãos criados ou reorganizados por esta
qualificação de serviços e mão-de-obra, capacitação Lei.
empresarial, certificação de qualidade, regulação e Art. 19 - Esta Lei entrará em vigor em 1º de janeiro de
fiscalização de atividades turísticas. 2007.
Art. 14 - Ficam criadas: Art. 20 - Revogam-se as disposições em contrário.
I - na Secretaria da Agricultura - SEAGRI: a PALÁCIO DO GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA, em
Superintendência de Agricultura Familiar, com a finalidade 28 de dezembro de 2006.
de orientar, apoiar, coordenar, acompanhar, controlar e PAULO SOUTO
executar programas e atividades voltados ao fortalecimento Governador Ruy Tourinho Secretário de Governo
da agricultura familiar. Armando Avena Filho
II - na Secretaria da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos - Secretário do Planejamento Ana Lúcia Barbosa Castelo
SJCDH: Branco Secretária da Administração
a) a Coordenação Executiva de Defesa dos Direitos da Walter Cairo de Oliveira Filho
Pessoa com Deficiência, com a finalidade de promover e Secretário da Fazenda
fortalecer o desenvolvimento dos programas e ações Pedro Barbosa de Deus
voltados para a defesa dos direitos da pessoa portadora de Secretário da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária
deficiência; Anaci Bispo Paim Secretária da Educação
b) a Coordenação de Políticas para os Povos Indígenas, Cláudio Melo
vinculada à Superintendência de Apoio e Defesa aos Secretário de Infra-Estrutura
Direitos Humanos. Sérgio Ferreira
Art. 15 - Para atender à implantação dos novos órgãos Secretário da Justiça e Direitos Humanos
criados por esta Lei e às adequações na estrutura da José Antônio Rodrigues Alves
Administração Pública Estadual, ficam criados 04 (quatro) Secretário da Saúde
cargos de Secretário de Estado e os cargos em comissão José Luiz Pérez Garrido
constantes do Anexo Único desta Lei. Secretário da Indústria, Comércio e Mineração
Art. 16 - Ficam extintos os cargos em comissão constantes Eduardo Oliveira Santos
do Anexo Único desta Lei. Secretário do Trabalho, Assistência Social e Esporte
Art. 17 - Fica o Chefe do Poder Executivo autorizado a Edemilson Nunes de Almeida Secretário da Segurança
promover, no prazo de 120 (cento e vinte) dias: Citado por 3 Pública
I - a revisão e a elaboração dos regimentos, estatutos e Paulo Renato Dantas Gaudenzi
outros instrumentos regulamentadores para adequação das Secretário da Cultura e Turismo Clodoveo Piazza Secretário
alterações organizacionais decorrentes desta Lei; de Combate à Pobreza e às Desigualdades Sociais
II - as modificações orçamentárias necessárias ao Rafael Lucchesi
cumprimento desta Lei, respeitados os valores globais Secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação
constantes do orçamento do exercício de 2007. Roberto Moussallem de Andrade
Secretário de Desenvolvimento Urbano
Vladimir Abdala Nunes da Saúde, da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos, do
Secretário de Meio Ambiente e Recursos Hídricos Trabalho, Emprego, Renda e Esporte e da Segurança
Secretário de Meio Ambiente e Recursos Hídricos Pública;
III - 12 (doze) representantes da sociedade civil, sendo:
LEI Nº 12.212 DE 04 DE MAIO DE 2011 a) 05 (cinco) membros de organizações de mulheres,
Modifica a estrutura organizacional e de cargos em legalmente constituídas;
comissão da Administração Pública do b) 02 (duas) de notória atuação na luta pela defesa dos
Poder Executivo Estadual, e dá outras providências. direitos da mulher;
c) 01 (uma) da comunidade acadêmica vinculada ao estudo
O GOVERNADOR DO ESTADO DA BAHIA, faço saber da condição feminina;
que a Assembleia Legislativa decreta e eu sanciono a d) 01 (uma) das trabalhadoras rurais;
seguinte Lei: e) 01 (uma) das trabalhadoras urbanas;
Art. 1º - A estrutura da Administração Pública do Poder f) 01 (uma) das mulheres negras;
Executivo Estadual fica modificada, na forma da presente g) 01 (uma) indígena.
Lei. § 1º - As titulares do Conselho e suas suplentes serão
Art. 2º - Fica criada a Secretaria de Políticas para as nomeadas pelo Governador do Estado, sendo que as
Mulheres - SPM, com a finalidade de planejar, coordenar e referidas nos incisos II e III, deste artigo, serão indicadas
articular a execução de políticas públicas para as mulheres, pelos respectivos órgãos e entidades.
tendo a seguinte estrutura organizacional básica: § 2º - O Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da
I - Órgão Colegiado: Mulher manterá a atual composição até a definitiva
a) Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Mulher - indicação e nomeação dos representantes dos órgãos e
CDDM; entidades que o compõem, conforme estabelecido nos
II - Órgãos da Administração Direta: incisos II e III deste artigo.
a) Gabinete da Secretária; Art. 5º - O Gabinete da Secretária tem por finalidade prestar
b) Diretoria de Administração e Finanças; assistência ao Titular da Pasta, em suas tarefas técnicas e
c) Coordenação de Articulação Institucional e Ações administrativas.
Temáticas; Art. 6º - A Diretoria de Administração e Finanças tem por
d) Coordenação de Planejamento e Gestão de Políticas para finalidade o planejamento e coordenação das atividades de
as Mulheres. programação, ornamentação, acompanhamento, avaliação,
Art. 3º - O Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da estudos e análises, administração financeira e de
Mulher - CDDM,órgão consultivo, tem por finalidade contabilidade, material, patrimônio, serviços, recursos
estabelecer diretrizes e normas relativas às políticas e humanos, modernização administrativa e informática.
medidas que visem eliminar a discriminação e garantir Art. 7º - A Coordenação de Articulação Institucional e
condições de liberdade e equidade de direitos para a mulher, Ações Temáticas tempor finalidade integrar as políticas para
assegurando sua plena participação nas atividades políticas, as mulheres nas áreas de educação, saúde, trabalho e
sociais, econômicas e culturais do Estado. participação política, visando o combate à violência contra a
Parágrafo único - As normas de funcionamento do CDDM mulher e a redução das desigualdades de gênero e a
serão estabelecidas em Regimento próprio. eliminação de todas as formas de discriminação
Art. 4º - O Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da identificadas.
Mulher - CDDM tem a seguinte composição: Art. 8º - A Coordenação de Planejamento e Gestão de
I - a Secretária de Políticas para as Mulheres, que o Políticas para as Mulheres tem por finalidade apoiar a
presidirá; formulação e a implementação de políticas públicas de
II - 06 (seis) servidoras estaduais, representantes das gênero, de forma transversal.
Secretarias de Promoção da Igualdade Racial, da Educação,
Art. 9º - Fica alterada a denominação da Secretaria de raciais e étnicos, afetados por discriminação racial e demais
Promoção da Igualdade - SEPROMI para Secretaria de formas de intolerância.
Promoção da Igualdade Racial - SEPROMI, que passa a ter Art. 16 - A Coordenação de Políticas para as Comunidades
por finalidade planejar e executar políticas de promoção da Tradicionais tem por finalidade formular políticas de
igualdade racial e de proteção dos direitos de indivíduos e promoção da defesa dos direitos e interesses das
grupos étnicos atingidos pela discriminação e demais formas comunidades tradicionais, inclusive quilombolas, no Estado
de intolerância. da Bahia, reduzindo as desigualdades e eliminando todas as
Art. 10 - Ficam excluídas da finalidade e competências da formas de discriminação identificadas.
SEPROMI as atividades pertinentes ao planejamento e Art. 17 - A estrutura de cargos em comissão da SEPROMI
execução das políticas públicas de caráter transversal para as fica alterada, na forma a seguir indicada:
mulheres. I - ficam extintos 02 (dois) cargos de Superintendente,
Parágrafo único - Fica transferido da SEPROMI para a símbolo DAS-2A;
Secretaria de Políticas para as Mulheres - SPM o Conselho II - ficam criados 02 (dois) cargos de Coordenador
Estadual de Defesa dos Direitos da Mulher - CDDM. Executivo, símbolo DAS-2B;
Art. 11 - A Secretaria de Promoção da Igualdade Racial III - ficam remanejados, da extinta Superintendência de
passa a ter a seguinte estrutura organizacional básica: Políticas para as Mulheres para a Coordenação de Políticas
I - Órgão Colegiado: para as Comunidades Tradicionais, ora criada, 01 (um)
a) Conselho de Desenvolvimento da Comunidade Negra - cargo de Coordenador I, símbolo DAS-2C, 01 (um) cargo de
CDCN; Coordenador II, símbolo DAS-3, 01 (um) cargo de
II - Órgãos da Administração Direta: Coordenador III, símbolo DAI-4 e 01 (um) cargo de
a) Gabinete do Secretário; Secretário Administrativo I, símbolo DAI-5.
b) Diretoria de Administração e Finanças; Art. 18 - Fica criado, na estrutura de cargos em comissão da
c) Coordenação de Promoção da Igualdade Racial; SEPROMI, alocado na Diretoria de Administração e
d) Coordenação de Políticas para as Comunidades Finanças, 01 (um) cargo de Coordenador II, símbolo
Tradicionais. DAS-3.
Art. 12 - O Conselho de Desenvolvimento da Comunidade Art. 19 - Fica criada a Secretaria de Administração
Negra - CDCN, órgão colegiado, tem por finalidade estudar, Penitenciária e Ressocialização - SEAP, com a finalidade de
propor e acompanhar medidas de relacionamento dos órgãos formular políticas de ações penais e de ressocialização de
governamentais com a comunidade negra, visando resgatar o sentenciados, bem como de planejar, coordenar e executar,
direito à sua plena cidadania e participação na sociedade. em harmonia com o Poder Judiciário, os serviços penais do
Art. 13 - O Gabinete do Secretário tem por finalidade Estado, tendo a seguinte estrutura organizacional básica:
prestar assistência ao Titular da Pasta, em suas tarefas I - Órgãos Colegiados:
técnicas e administrativas. a) Conselho Penitenciário - CP;
Art. 14 - A Diretoria de Administração e Finanças tem por b) Conselho de Operações do Sistema Prisional;
finalidade o planejamento e coordenação das atividades de II - Órgãos da Administração Direta:
programação, orçamentação, acompanhamento, avaliação, a) Gabinete do Secretário;
estudos e análises, administração financeira e de b) Ouvidoria;
contabilidade, material, patrimônio, serviços, recursos c) Corregedoria do Sistema Penitenciário;
humanos, modernização administrativa e informática. d) Coordenação de Monitoramento e Avaliação do Sistema
Art. 15 - A Coordenação de Promoção da Igualdade Racial Prisional;
tem por finalidade orientar, apoiar, coordenar, acompanhar, e) Diretoria Geral;
controlar e executar programas e atividades voltadas à f) Superintendência de Ressocialização Sustentável;
implementação de políticas e diretrizes para a promoção da g) Superintendência de Gestão Prisional:
igualdade e da proteção dos direitos de indivíduos e grupos 1. Sistema Prisional;
h) Central de Apoio e Acompanhamento às Penas e Medidas avaliação do Programa Nacional de Ações Afirmativas e na
Alternativas da Bahia - CEAPA: promoção do acompanhamento da implementação de
1. Núcleos de Apoio e Acompanhamento às Penas e legislação de ação afirmativa e definição de ações públicas
Medidas Alternativas. que visem o cumprimento dos acordos, convenções e outros
Art. 20 - O Conselho Penitenciário - CP, órgão consultivo e instrumentos congêneres assinados pelo Brasil, nos aspectos
fiscalizador da execução penal, tem por finalidade relativos à promoção da igualdade e de combate à
estabelecer diretrizes e normas relativas à política criminal e discriminação racial ou étnica, tendo como estrutura básica
penitenciária no Estado. o Conselho Nacional de Promoção da Igualdade
Parágrafo único - As normas de funcionamento do CP Racial - CNPIR, o Gabinete e até três Subsecretarias.
serão estabelecidas em Regimento próprio.         Art. 3 o   O CNPIR será presidido pelo titular da
Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade
Lei nº 10.678-03 - Cria a Secretaria Especial de Políticas Racial, da Presidência da República, e terá a sua
de Promoção da Igualdade Racial composição, competências e funcionamento estabelecidos
em ato do Poder Executivo, a ser editado até 31 de agosto de
Cria a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da 2003.
Igualdade Racial, da Presidência da República, e dá outras         Parágrafo único.  A Secretaria Especial de Políticas de
providências. Promoção da Igualdade Racial, da Presidência da República,
        Faço saber que o Presidente da República adotou a constituirá, no prazo de noventa dias, contado da publicação
Medida Provisória nº 111, de 2003, que o Congresso desta Lei, grupo de trabalho integrado por representantes da
Nacional aprovou, e eu, Eduardo Siqueira Campos, Segundo Secretaria Especial e da sociedade civil, para elaborar
Vice-Presidente, no exercício da Presidência da Mesa do proposta de regulamentação do CNPIR, a ser submetida ao
Congresso Nacional, para os efeitos do disposto no art. 62 Presidente da República.
da Constituição Federal, com a redação dada pela Emenda         Art. 4 o   Ficam criados, na Secretaria Especial de
constitucional nº 32, combinado com o art. 12 da Resolução Políticas de Promoção da Igualdade Racial, da Presidência
nº 1, de 2002-CN, promulgo a seguinte Lei: da República, um cargo de natureza especial de Secretário
   Art. 1 o   Fica criada, como órgão de assessoramento Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e um
imediato ao Presidente da República, a Secretaria Especial cargo de Secretário-Adjunto, código DAS 101.6.
de Políticas de Promoção da Igualdade Racial.         Parágrafo único.  O cargo de natureza especial referido
        Art. 2 o   À Secretaria Especial de Políticas de no caput terá prerrogativas, garantias, vantagens e direitos
Promoção da Igualdade Racial compete assessorar direta e equivalentes ao de Ministro de Estado e a remuneração de
imediatamente o Presidente da República na formulação, R$ 8.280,00 (oito mil, duzentos e oitenta reais).
coordenação e articulação de políticas e diretrizes para a         Art. 5 o  Esta Lei entra em vigor na data de sua
promoção da igualdade racial, na formulação, coordenação e publicação.
avaliação das políticas públicas afirmativas de promoção da         Congresso Nacional, em 23 de maio de 2003; 182 º da
igualdade e da proteção dos direitos de indivíduos e grupos Independência e 115 º da República.
raciais e étnicos, com ênfase na população negra, afetados
por discriminação racial e demais formas de intolerância, na Senador EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS 
articulação, promoção e acompanhamento da execução dos Segundo Vice-Presidente da Mesa do Congresso 
programas de cooperação com organismos nacionais e Nacional , no exercício da Presidência
internacionais, públicos e privados, voltados à Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 26.5.2003
implementação da promoção da igualdade racial, na
formulação, coordenação e acompanhamento das políticas
transversais de governo para a promoção da igualdade DECRETO Nº 65.810, DE 8 DE DEZEMBRO DE 1969.
racial, no planejamento, coordenação da execução e
    Promulga a Convenção Internacional sobre a     Considerando que as Nações Unidas têm condenado o
Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial. colonialismo e todas as práticas de segregação e
    O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, HAVENDO o discriminação a ele associados, em qualquer forma e onde
Congresso Nacional aprovado pelo Decreto Legislativo nº quer que existam, e que a Declaração sobre a Conceção de
23, de 21 de junho de 1967, a Convenção Internacional Independência, a Partes e Povos Coloniais, de 14 de
sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação dezembro de 1960 (Resolução 1.514 (XV), da Assembléia
Racial, que foi aberta à assinatura em Nova York e assinada Geral afirmou e proclamou solenemente a necessidade de
pelo Brasil a 07 de março de 1966; levá-las a um fim rapido e incondicional,
    E HAVENDO sido depositado o Instrumento brasileiro de     Considerando que a Declaração das Nações Unidas sobre
Ratificação, junto ao Secretário-Geral das Nações Unidas, a eliminação de todas as formas de Discriminação Racial, de
27 de março de 1968; 20 de novembro de 1963, (Resolução 1.904 ( XVIII) da
    E TENDO a referida Convenção entrada em vigor, de Assembléia-Geral), afirma solemente a necessidade de
conformidade com o disposto em seu artigo 19, parágrafo 1º, eliminar rapidamente a discriminação racial através do
a 04 de janeiro de 1969; mundo em todas as suas formas e manifestações e de
    DECRETA que a mesma, apensa por cópia ao presente assegurar a compreensão e o respeito à dignidade da pessoa
Decreto, seja executada e cumprida tão inteiramente como humana,
ela nele contém.     Convencidos de que qualquer doutrina de superioridade
    Brasília, 08 de dezembro de 1969; 148º da Independência baseada em diferenças raciais é cientificamente falsa,
e 81º da República. moralmente condenável, socialmente injusta e perigosa, em
    Emílio G. Médici que, não existe justificação para a discriminação racial, em
    Mário Gibson Barbosa teoria ou na prática, em lugar algum,
    A CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE A     Reafirmando que a discriminação entre os homens por
ELIMINAÇÃO DE TODAS AS FORMAS DE motivos de raça, cor ou origem étnica é um obstáculo a
DISCRIMINAÇÃO RACIAL. relações amistosas e pacíficas entre as nações e é capaz de
    Os Estados Partes na presente Convenção, disturbar a paz e a segurança entre povos e a harmonia de
    Considerando que a Carta das Nações Unidas baseia-se pessoas vivendo lado a lado até dentro de um mesmo
em princípios de dignidade e igualdade inerentes a todos os Estado,
seres humanos, e que todos os Estados Membros     Convencidos que a existência de barreiras raciais repugna
comprometeram-se a tomar medidas separadas e conjuntas, os ideais de qualquer sociedade humana,
em cooperação com a Organização, para a consecução de      Alarmados por manifestações de discriminação racial
um dos propósitos das Nações Unidas que é promover e ainda em evidência em algumas áreas do mundo e por
encorajar o respeito universal e observancia dos direitos políticas governamentais baseadas em superioridade racial
humanos e liberdades fundamentais para todos, sem ou ódio, como as políticas de apartheid, segregação ou
discriminação de raça, sexo, idioma ou religião. separação.
    Considerando que a Declaração Universal dos Direitos do     Resolvidos a adotar todas as medidas necessárias para
Homem proclama que todos os homens nascem livres e eliminar rapidamente a discriminação racial em, todas as
iguais em dignidade e direitos e que todo homem tem todos suas formas e manifestações, e a prevenir e combater
os direitos estabelecidos na mesma, sem distinção de doutrinas e práticas raciais com o objetivo de promover o
qualquer espécie e principalmente de raça, cor ou origem entendimento entre as raças e construir uma comunidade
nacional, internacional livre de todas as formas de separação racial e
    Considerando todos os homens são iguais perante a lei e discriminação racial,
têm o direito à igual proteção contra qualquer discriminação     Levando em conta a Convenção sobre Discriminação nos
e contra qualquer incitamento à discriminação, Emprego e Ocupação adotada pela Organização
internacional do Trabalho em 1958, e a Convenção contra
discriminação no Ensino adotada pela Organização das pessoas ou instituições e fazer com que todas as autoridades
Nações Unidas para Educação a Ciência em 1960, públicas nacionais ou locais, se conformem com esta
    Desejosos de completar os princípios estabelecidos na obrigação;
Declaração das Nações unidas sobre a Eliminação de todas     b) Cada Estado Parte compromete-se a não encorajar,
as formas de discriminação racial e assegurar o mais cedo defender ou apoiar a discriminação racial praticada por uma
possível a adoção de medidas práticas para esse fim, pessoa ou uma organização qualquer;
    Acordaram no seguinte:     c) Cada Estado Parte deverá tomar as medidas eficazes, a
    PARTE I fim de rever as politicas governamentais nacionais e locais e
    Artigo I para modificar, ab-rogar ou anular qualquer disposição
    1. Nesta Convenção, a expressão "discriminação racial" regulamentar que tenha como objetivo criar a discriminação
significará qualquer distinção, exclusão restrição ou ou perpetrá-la onde já existir;
preferência baseadas em raça, cor, descendência ou origem     d) Cada Estado Parte deverá, por todos os meios
nacional ou étnica que tem por objetivo ou efeito anular ou apropriados, inclusive se as circunstâncias o exigiria, as
restringir o reconhecimento, gozo ou exercício num mesmo medidas legislativas, proibir e por fim, a discriminação
plano,( em igualdade de condição), de direitos humanos e racial praticadas por pessoa, por grupo ou das organizações;
liberdades fundamentais no domínio político econômico,     e) Cada Estado Parte compromete-se a favorecer, quando
social, cultural ou em qualquer outro domínio de vida for o caso as organizações e movimentos multirraciais e
pública. outros meios próprios a eliminar as barreiras entre as raças e
    2. Esta Convenção não se aplicará ás distinções, a desencorajar o que tende a fortalecer a divisão racial.
exclusões, restrições e preferências feitas por um Estado     2) Os Estados Partes tomarão, se as circunstâncias o
Parte nesta Convenção entre cidadãos e não cidadãos. exigirem, nos campos social, econômico, cultural e outros,
    3. Nada nesta Convenção poderá ser interpretado como as medidas especiais e concretas para assegurar como
afetando as disposições legais dos Estados Partes, relativas a convier o desenvolvimento ou a proteção de certos grupos
nacionalidade, cidadania e naturalização, desde que tais raciais ou de indivíduos pertencentes a estes grupos com o
disposições não discriminem contra qualquer nacionalidade objetivo de garantir-lhes, em condições de igualdade, o
particular. pleno exercício dos direitos do homem e das liberdades
    4. Não serão consideradas discriminação racial as fundamentais.
medidas especiais tomadas com o único objetivo de     Essas medidas não deverão, em caso algum, ter a
assegurar progresso adequado de certos grupos raciais ou finalidade de manter direitos grupos raciais, depois de
étnicos ou de indivíduos que necessitem da proteção que alcançados os objetivos em razão dos quais foram tomadas.
possa ser necessária para proporcionar a tais grupos ou     Artigo III
indivíduos igual gozo ou exercício de direitos humanos e     Os Estados Partes especialmente condenam a segregação
liberdades fundamentais, contando que, tais medidas não racial e o apartheid e comprometem-se a proibir e a eliminar
conduzam, em conseqüência, à manutenção de direitos nos territórios sob sua jurisdição todas as práticas dessa
separados para diferentes grupos raciais e não prossigam natureza.
após terem sidos alcançados os seus objetivos.     Artigo IV
    Artigo II     Os Estados partes condenam toda propaganda e todas as
    1. Os Estados Partes condenam a discriminação racial e organizações que se inspirem em ideias ou teorias baseadas
comprometem-se a adotar, por todos os meios apropriados e na superioridade de uma raça ou de um grupo de pessoas de
sem tardar uma política de eliminação da discriminação uma certa cor ou de uma certa origem étnica ou que
racial em todas as suas formas e de promoção de pretendem justificar ou encorajar qualquer forma de ódio e
entendimento entre todas as raças e para esse fim: de discriminação raciais e comprometem-se a adotar
    a) Cada Estado parte compromete-se a efetuar nenhum ato imediatamente medidas positivas destinadas a eliminar
ou prática de discriminação racial contra pessoas, grupos de qualquer incitação a uma tal discriminação, ou quaisquer
atos de discriminação com este objetivo tendo em vista os     ii) direito de deixar qualquer pais, inclusive o seu, e de
princípios formulados na Declaração universal dos direitos voltar a seu país;
do homem e os direitos expressamente enunciados no artigo     iii) direito de uma nacionalidade;
5 da presente convenção, eles se comprometem     iv) direito de casar-se e escolher o cônjuge;
principalmente:     v) direito de qualquer pessoa, tanto individualmente como
    a) a declarar delitos puníveis por lei, qualquer difusão de em conjunto, à propriedade;
ideias baseadas na superioridade ou ódio raciais, qualquer     vi) direito de herda;
incitamento à discriminação racial, assim como quaisquer     vii) direito à liberdade de pensamento, de consciência e de
atos de violência ou provocação a tais atos, dirigidos contra religião;
qualquer raça ou qualquer grupo de pessoas de outra cor ou     viii) direito à liberdade de opinião e de expressão;
de outra origem técnica, como também qualquer assistência     ix) direito à liberdade de reunião e de associação pacífica;
prestada a atividades racistas, inclusive seu financiamento;     e) direitos econômicos, sociais culturais, principalmente:
    b) a declarar ilegais e a proibir as organizações assim     i) direitos ao trabalho, a livre escolha de seu trabalho, a
como as atividades de propaganda organizada e qualquer condições equitativas e satisfatórias de trabalho à proteção
outro tipo de atividade de propaganda que incitar a contra o desemprego, a um salário igual para um trabalho
discriminação racial e que a encorajar e a declara delito igual, a uma remuneração equitativa e satisfatória;
punível por lei a participação nestas organizações ou nestas     ii) direito de fundar sindicatos e a eles se filiar;
atividades.     iii) direito à habitação;
    c) a não permitir as autoridades públicas nem ás     iv) direito à saúde pública, a tratamento médico, à
instituições públicas nacionais ou locais, o incitamento ou previdência social e aos serviços sociais;
encorajamento à discriminação racial.     v) direito a educação e à formação profissional;
    Artigo V     vi) direito a igual participação das atividades culturais;
    De conformidade com as obrigações fundamentais     f) direito de acesso a todos os lugares e serviços
enunciadas no artigo 2, Os Estados Partes comprometem-se destinados ao uso do publico, tais como, meios de transporte
a proibir e a eliminar a discriminação racial em todas suas hotéis, restaurantes, cafés, espetáculos e parques.
formas e a garantir o direito de cada uma à igualdade     Artigo VI
perante a lei sem distinção de raça , de cor ou de origem     Os Estados Partes assegurarão a qualquer pessoa que
nacional ou étnica, principalmente no gozo dos seguintes estiver sob sua jurisdição, proteção e recursos efetivos
direitos: perante os tribunais nacionais e outros órgãos do Estado
    a) direito a um tratamento igual perante os tribunais ou competentes, contra quaisquer atos de discriminação racial
qualquer outro orgão que administre justiça; que, contrariamente à presente Convenção, violarem seus
    b) direito a segurança da pessoa ou à proteção do Estado direitos individuais e suas liberdades fundamentais, assim
contra violência ou ou lesão corporal cometida que por como o direito de pedir a esses tribunais uma satisfação ou
funcionários de Governo, quer por qualquer individuo, repartição justa e adequada por qualquer dano de que foi
grupo ou instituição. vitima em decorrência de tal discriminação.
    c) direitos políticos principalmente direito de participar às     Artigo VII
eleições - de votar e ser votado - conforme o sistema de     Os Estados Partes, comprometem-se a tomar as medidas
sufrágio universal e igual direito de tomar parte no Governo, imediatas e eficazes, principalmente no campo de ensino,
assim como na direção dos assuntos públicos, em qualquer educação, da cultura e da informação, para lutar contra os
grau e o direito de acesso em igualdade de condições, às preconceitos que levem à discriminação racial e para
funções públicas. promover o entendimento, a tolerância e a amizade entre
    d) Outros direitos civis, principalmente, nações e grupos raciais e éticos assim como para propagar
    i) direito de circular livremente e de escolher residência ao objetivo e princípios da Carta das Nações Unidas da
dentro das fronteiras do Estado; Declaração Universal dos Direitos do Homem, da
Declaração das Nações Unidas sobre a eliminação de todas     Artigo IX
as formas de discriminação racial e da presente Convenção.     1. Os Estados Partes comprometem-se a apresentar ao
    PARTE II Secretário Geral para exame do Comitê, um relatório sobre
    Artigo VIII as medidas legislativas, judiciárias, administrativas ou outras
    1. Será estabelecido um Comitê para a eliminação da que tomarem para tornarem efetivas as disposições da
discriminação racial (doravante denominado "o Comitê) presente Convenção:
composto de 18 peritos conhecidos para sua alta moralidade     a) dentro do prazo de um ano a partir da entrada em vigor
e conhecida imparcialidade, que serão eleitos pelos Estados da Convenção, para cada Estado interessado no que lhe diz
Membros dentre seus nacionais e que atuarão a título respeito, e posteriormente, cada dois anos, e toda vez que o
individual, levando-se em conta uma repartição geográfica Comitê o solicitar. O Comitê poderá solicitar informações
equitativa e a representação das formas diversas de complementares aos Estados Partes.
civilização assim como dos principais sistemas jurídicos.     2. O Comitê submeterá anualmente à Assembleia Geral,
    2. Os Membros do Comitê serão eleitos em escrutínio um relatório sobre suas atividades e poderá fazer sugestões e
secreto de uma lista de candidatos designados pelos Estados recomendações de ordem geral baseadas no exame dos
Partes, Cada Estado Parte poderá designar um candidato relatórios e das informações recebidas dos Estados Partes.
escolhido dentre seus nacionais. Levará estas sugestões e recomendações de ordem geral ao
    3. A primeira eleição será realizada seis meses após a data conhecimento da Assembleia Geral, e se as houver
da entrada em vigor da presente Convenção. Três meses juntamente com as observações dos Estados Partes.
pelo menos antes de cada eleição, o Secretário Geral das     Artigo X
Nações Unidas enviará uma Carta aos Estados Partes para     1. O Comitê adotará seu regulamento interno.
convidá-los a apresentar suas candidaturas no prazo de dois     2. O Comitê alegará sua mesa por um período de dois
meses. O Secretário Geral elaborará uma lista por ordem anos.
alfabética, de todos os candidatos assim nomeados com     3. O Secretário Geral da Organização das Nações Unidas
indicação dos Estados partes que os nomearam, e a foi necessários serviços de Secretaria ao Comitê.
comunicará aos Estados Partes.     4. O Comitê reunir-se-à normalmente na Sede das Nações
    4. Os membros do Comitê serão eleitos durante uma Unidas.
reunião dos Estados Partes convocada pelo Secretário Geral     Artigo XI
das Nações Unidas. Nessa reunião, em que o quorum     1. Se um Estado Parte Julgar que outro Estado igualmente
será alcançado com dois terços dos Estados Partes, serão Parte não aplica as disposições da presente Convenção
elitos membros do Comitê, os candidatos que obtiverem o poderá chamar a atenção do Comitê sobre a questão. O
maior número de votos e a maioria absoluta de votos dos Comitê transmitirá, então, a comunicação ao Estado Parte
representantes dos Estados Partes presentes e votantes. interessado. Num prazo de três meses, o Estado destinatário
    5. a) Os membros do Comitê serão eleitos por um período submeterá ao Comitê as explicações ou declarações por
de quatro anos. Entretanto, o mandato de nove dos membros escrito, a fim de esclarecer a questão e indicar as medidas
eleitos na primeira eleição, expirará ao fim de dois anos; corretivas que por acaso tenham sido tomadas pelo referido
logo após a primeira eleição os nomes desses nove membros Estado.
serão escolhidos, por sorteio, pelo Presidente do Comitê.     2. Se, dentro de um prazo de seis meses a partir da data do
    b) Para preencher as vagas fortuítas, o Estado Parte, cujo recebimento da comunicação original pelo Estado
perito deixou de exercer suas funções de membro do destinatário a questão não foi resolvida a contento dos dois
Comitê, nomeará outro períto dentre seus nacionais, sob Estados, por meio de negociações bilaterais ou por qualquer
reserva da aprovação do Comitê. outro processo que estiver a sua disposição, tanto um como
    6. Os Estados Partes serão responsáveis pelas despesas o outro terão o direito de submetê-la novamente ao Comitê,
dos membros do Comitê para o período em que estes endereçando uma notificação ao Comitê assim como ao
desempenharem funções no Comitê. outro Estado interessado.
    3. O Comitê só poderá tomar conhecimento de uma uma controvérsia entre os Estados Partes provocar sua
questão, de acordo com o parágrafo 2 do presente artigo, formação.
após ter constatado que todos os recursos internos     6. Todas as despesas dos membros da Comissão serão
disponíveis foram interpostos ou esgotados, de divididos igualmente entre os Estados Partes na controvérsia
conformidade com os princípios do direito internacional baseadas num cálculo estimativo feito pelo Secretário-Geral.
geralmente reconhecidos. Esta regra não se aplicará se os     7. O Secretário Geral ficará autorizado a pagar, se for
procedimentos de recurso excederem prazos razoáveis. necessário, as despesas dos membros da Comissão, antes
    4. Em qualquer questão que lhe for submetida, Comitê que o reembolso seja efetuado pelos Estados Partes na
poderá solicitar aos Estados-Partes presentes que lhe controvérsia, de conformidade com o parágrafo 6 do
forneçam quaisquer informações complementares presente artigo.
pertinentes.     8. As informações obtidas e confrontadas pelo Comitê
    5. Quando o Comitê examinar uma questão conforme o serão postas à disposição da Comissão, e a Comissão poderá
presente Artigo os Estados Partes interessados terão o direito solicitar aos Estados interessados se lhe fornecer qualquer
de nomear um representante que participará sem direito de informação complementar pertinente.
voto dos trabalhos no Comitê durante todos os debates.     Artigo XIII
    Artigo XII     1. Após haver estudado a questão sob todos os seus
    1. a) Depois que o Comitê obtiver e consultar as aspectos, a Comissão preparará e submeterá ao Presidente
informações que julgar necessárias, o Presidente nomeará do Comitê um relatório com as conclusões sobre todas as
uma Comissão de Conciliação ad hoc (doravante questões de fato relativas à controvérsia entre as partes e as
denominada " A Comissão", composta de 5 pessoas que recomendações que julgar oportunas a fim de chegar a uma
poderão ser ou não membros do Comitê. Os membros serão solução amistosa da controvérsia.
nomeados com o consentimento pleno e unânime das partes     2. O Presidente do Comitê transmitirá o relatório da
na controvérsia e a Comissão fará seus bons ofícios a Comissão a cada um dos Estados Partes na controvérsia. Os
disposição dos Estados presentes, com o objetivo de chegar referidos Estados comunicarão ao Presidente do Comitê
a uma solução amigável da questão, baseada no respeito à num prazo de três meses se aceitam ou não, as
presente Convenção. recomendações contidas no relatório da Comissão.
    b) Se os Estados Partes na controvérsia não chegarem a     3. Expirado o prazo previsto no parágrafo 2º do presente
um entendimento em relação a toda ou parte da composição artigo, o Presidente do Comitê comunicará o Relatório da
da Comissão num prazo de três meses os membros da Comissão e as declarações dos Estados Partes interessadas
Comissão que não tiverem o assentimento do Estados aos outros Estados Parte na Comissão.
Partes, na controvérsia serão eleitos por escrutínio secreto     Artigo XIV
entre os membros de dois terços dos membros do Comitê.     1. Todo o Estado parte poderá declarar e qualquer
    2. Os membros da Comissão atuarão a título individual. momento que reconhece a competência do Comitê para
Não deverão ser nacionais de um dos Estados Partes na receber e examinar comunicações de indivíduos sob sua
controvérsia nem de um Estado que não seja parte da jurisdição que se consideram vítimas de uma violação pelo
presente Convenção. referido Estado Parte de qualquer um dos direitos
    3. A Comissão elegerá seu Presidente e adotará seu enunciados na presente Convenção. O Comitê não receberá
regimento interno. qualquer comunicação de um Estado Parte que não houver
    4. A Comissão reunir-se-a normalmente na sede nas feito tal declaração.
Nações Unidas em qualquer outro lugar apropriado que a     2. Qualquer Estado parte que fizer uma declaração de
Comissão determinar. conformidade com o parágrafo do presente artigo, poderá
    5. O Secretariado previsto no parágrafo 3 do artigo 10 criar ou designar um órgão dentro de sua ordem jurídica
prestará igualmente seus serviços à Comissão cada ver que nacional, que terá competência para receber e examinar as
petições de pessoas ou grupos de pessoas sob sua jurisdição
que alegarem ser vitimas de uma violação de qualquer um     8. O Comitê incluirá em seu relatório anual um resumo
dos direitos enunciados na presente Convenção e que destas comunicações, se for necessário, um resumo das
esgotaram os outros recursos locais disponíveis. explicações e declarações dos Estados Partes interessados
    3. A declaração feita de conformidade com o parágrafo 1 assim como suas próprias sugestões e recomendações.
do presente artigo e o nome de qualquer órgão criado ou     9. O Comitê somente terá competência para exercer as
designado pelo Estado Parte interessado consoante o funções previstas neste artigo se pelo menos dez Estados
parágrafo 2 do presente artigo será depositado pelo Estado Partes nesta Convenção estiverem obrigados por declarações
Parte interessado junto ao Secretário Geral das Nações feitas de conformidade com o parágrafo deste artigo.
Unidas que remeterá cópias aos outros Estados Partes. A     Artigo XV
declaração poderá ser retirada a qualquer momento mediante     1. Enquanto não forem atingidos os objetivos da
notificação ao Secretário Geral mas esta retirada não resolução 1.514 (XV) da Assembleia Geral de 14 de
prejudicará as comunicações que já estiverem sendo dezembro de 1960, relativa à Declaração sobro a concessão
estudadas pelo Comitê. da independência dos países e povos coloniais, as
    4. O órgão criado ou designado de conformidade com o disposições da presente convenção não restringirão de
parágrafo 2 do presente artigo, deverá manter um registro de maneira alguma o direito de petição concedida aos povos
petições e cópias autenticada do registro serão depositadas por outros instrumentos internacionais ou pela Organização
anualmente por canais apropriados junto ao Secretário Geral das Nações Unidas e suas agências especializadas.
das Nações Unidas, no entendimento que o conteúdo dessas     2. a) O Comitê constituído de conformidade com o
cópias não será divulgado ao público. parágrafo 1 do artigo 8 desta Convenção receberá cópia das
    5. Se não obtiver repartição satisfatória do órgão criado petições provenientes dos órgãos das Nações Unidas que se
ou designado de conformidade com o parágrafo 2 do encarregarem de questões diretamente relacionadas com os
presente artigo, o peticionário terá o direito de levar a princípios e objetivos da presente Convenção e expressará
questão ao Comitê dentro de seis meses. sua opinião e formulará recomendações sobre petições
    6. a) O Comitê levará, a título confidencial, qualquer recebidas quando examinar as petições recebidas dos
comunicação que lhe tenha sido endereçada, ao habitantes dos territórios sob tutela ou não autônomo ou de
conhecimento do Estado Parte que, pretensamente houver qualquer outro território a que se aplicar a resolução 1514
violado qualquer das disposições desta Convenção, mas a (XV) da Assembleia Geral, relacionadas a questões tratadas
identidade da pessoa ou dos grupos de pessoas não poderá pela presente Convenção e que forem submetidas a esses
ser revelada sem o consentimento expresso da referida órgãos.
pessoa ou grupos de pessoas. O Comitê não receberá     b) O Comitê receberá dos órgãos competentes da
comunicações anônimas. Organização das Nações Unidas cópia dos relatórios sobre
    b) Nos três meses seguintes, o referido Estado submeterá, medidas de ordem legislativa judiciária, administrativa ou
por escrito ao Comitê, as explicações ou recomendações que outra diretamente relacionada com os princípios e objetivos
esclarecem a questão e indicará as medidas corretivas que da presente Convenção que as Potências Administradoras
por acaso houver adotado. tiverem aplicado nos territórios mencionados na alínea "a"
    7. a) O Comitê examinará as comunicações, à luz de todas do presente parágrafo e expressará sua opinião e fará
as informações que forem submetidas pelo Estado parte recomendações a esses órgãos.
interessado e pelo peticionário. O Comitê só examinará uma     3. O Comitê incluirá em seu relatório à Assembleia um
comunicação de peticionário após ter-se assegurado que este resumo das petições e relatórios que houver recebido de
esgotou todos os recursos internos disponíveis. Entretanto, órgãos das Nações Unidas e as opiniões e recomendações
esta regra não se aplicará se os processos de recurso que houver proferido sobre tais petições e relatórios.
excederem prazos razoáveis.     4. O Comitê solicitará ao Secretário Geral das Nações
    b) O Comitê remeterá suas sugestões e recomendações Unidas qualquer informação relacionada com os objetivos
eventuais, ao Estado Parte interessado e ao peticionário.
da presente Convenção que este dispuser sobre os territórios objetar a essas reservas, deverá notificar ao Secretário Geral
mencionados no parágrafo 2 (a) do presente artigo. dentro de noventa dias da data da referida comunicação, que
    Artigo XVI não aceita.
    As disposições desta Convenção relativas a solução das     2. Não será permitida uma reserva incompatível com o
controvérsias ou queixas serão aplicadas sem prejuízo de objeto e o escopo desta Convenção nem uma reserva cujo
outros processos para solução de controvérsias e queixas no efeito seria a de impedir o funcionamento de qualquer dos
campo da discriminação previstos nos instrumentos órgãos previstos nesta Convenção. Uma reserva será
constitutivos das Nações Unidas e suas agências considerada incompatível ou impeditiva se a ela objetarem
especializadas, e não excluirá a possibilidade dos Estados ao menos dois terços dos Estados partes nesta Convenção.
partes recomendarem aos outros, processos para a solução     3. As reservas poderão ser retiradas a qualquer momento
de uma controvérsia de conformidade com os acordos por uma notificação endereçada com esse objetivo ao
internacionais ou especiais que os ligarem. Secretário Geral. Tal notificação surgirá efeito na data de
    Terceira Parte seu recebimento.
    Artigo XVII     Artigo XXI
    1. A presente Convenção ficará aberta à assinatura de     Qualquer Estado parte poderá denunciar esta Convenção
todo Estado Membro da Organização das Nações Unidas ou mediante notificação escrita endereçada ao Secretário Geral
membro de qualquer uma de suas agências especializadas, da Organização das Nações Unidas. A denúncia surtirá
de qualquer Estado parte no Estatuto da Corte Internacional efeito um ano após data do recebimento da notificação pelo
de Justiça, assim como de qualquer outro Estado convidado Secretário Geral.
pela Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas a     Artigo XXI
torna-se parte na presente Convenção.     Qualquer Controvérsia entre dois ou mais Estados Parte
    2. A presente Convenção ficará sujeita à ratificação e os relativa a interpretação ou aplicação desta Convenção que
instrumentos de ratificação serão depositados junto ao não for resolvida por negociações ou pelos processos
Secretário Geral das Nações Unidas. previstos expressamente nesta Convenção, será o pedido de
    Artigo XVIII qualquer das Partes na controvérsia. Submetida à decisão da
    1. A presente Convenção ficará aberta a adesão de Corte Internacional de Justiça a não ser que os litigantes
qualquer Estado mencionado no parágrafo 1º do artigo 17. concordem em outro meio de solução.
    2. A adesão será efetuada pelo depósito de instrumento de     Artigo XXII
adesão junto ao Secretário Geral das Nações Unidas.     Qualquer Controvérsia entre dois ou mais Estados Partes
    Artigo XIX relativa à interpretação ou aplicação desta Convenção, que
    1. Esta convenção entrará em vigor no trigésimo dia após não for resolvida por negociações ou pelos processos
a data do deposito junto ao Secretário Geral das Nações previstos expressamente nesta Convenção será, pedido de
Unidas do vigésimo sétimo instrumento de ratificação ou qualquer das Partes na controvérsia, submetida à decisão da
adesão. Corte Internacional de Justiça a não ser que os litigantes
    2. Para cada Estado que ratificar a presente Convenção ou concordem em outro meio de solução.
a ele aderir após o depósito do vigésimo sétimo instrumento     Artigo XXIII
de ratificação ou adesão esta Convenção entrará em vigor no     1. Qualquer Estado Parte poderá formular a qualquer
trigésimo dia após o depósito de seu instrumento de momento um pedido de revisão da presente Convenção,
ratificação ou adesão. mediante notificação escrita endereçada ao Secretário Geral
    Artigo XX das Nações Unidas.
    1. O Secretário Geral das Nações Unidas receberá e     2. A Assembleia-Geral decidirá a respeito das medidas a
enviará, a todos os Estados que forem ou vierem a torna-se serem tomadas, caso for necessário, sobre o pedido.
partes desta Convenção, as reservas feitas pelos Estados no     Artigo XXIV
momento da ratificação ou adesão. Qualquer Estado que
    O Secretário Geral da Organização das Nações Unidas Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou
comunicará a todos os Estados mencionados no parágrafo 1º o decoro:
do artigo 17 desta Convenção. Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
    a) as assinaturas e os depósitos de instrumentos de § 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena:
ratificação e de adesão de conformidade com os artigos 17 e I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou
18; diretamente a injúria;
    b) a data em que a presente Convenção entrar em vigor, II - no caso de retorsão imediata, que consista em outra
de conformidade com o artigo 19; injúria.
    c) as comunicações e declarações recebidas de § 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que,
conformidade com os artigos 14, 20 e 23. por sua natureza ou pelo meio empregado, se considerem
    d) as denúncias feitas de conformidade com o artigo 21. aviltantes:
    Artigo XXV Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da
    1. Esta Convenção, cujos textos em chinês, espanhol, pena correspondente à violência.
inglês e russo são igualmente autênticos será depositada nos § 3º Se a injúria consiste na utilização de elementos
arquivos das Nações Unidas. referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição
    2. O Secretário Geral das Nações Unidas enviará cópias de pessoa idosa ou portadora de deficiência: (Redação dada
autenticadas desta Convenção a todos os Estados pela Lei nº 10.741 , de 2003)
pertencentes a qualquer uma das categorias mencionadas no Pena - reclusão de um a três anos e multa. (Incluído pela Lei
parágrafo 1º do artigo 17. nº 9.459 , de 1997)
    Em fé do que os abaixo assinados devidamente Disposições comuns
autorizados por seus Governos assinaram a presente
Convenção que foi aberta a assinatura em Nova York a 7 de COMENTÁRIO
março de 1966. Na medida em que ocorre uma progressiva positivação
    Retificação interna dos direitos humanos, principalmente como normas
    Na página 10.537, 1ª coluna, na Convenção Internacional constitucionais, aumenta-se o quadro valorativo em que o
anexa ao Decreto, na alínea "a" do artigo IV, onde se lê: legislador encontrará validade para a criação da lei penal.
    ...outra origem técnica,... Isto porque, como acima mencionado, o Direito Penal possui
    Leia-se: como sua primordial função a proteção dos bens jurídicos
    ...outra origem ética,... mais relevantes para a sociedade.
    Na 3ª coluna, no item 1 do artigo IX, onde se lê: Desse modo, os bens jurídicos a serem protegidos na esfera
    ...o Comitê silicitar,... penal, se identificados como direitos fundamentais ou
    Leia-se: reconhecidos como direitos humanos, se verão integrados,
    ...o Comitê o solicitar,... expressa ou implicitamente, no quadro valorativo da
    Na página 10.538, 4ª coluna, suprima-se: Constituição e de vários tratados de direitos humanos, de
    "Artigo XXI sorte que a Constituição e os tratados passam a desempenhar
    Qualquer controvérsia entre dois ou mais Estados partes uma forte função de limite e fundamento para o Direito
relativa à interpretação ou aplicação desta convenção, que Penal.
não for resolvida por negociações ou pelos processos Por sua vez, sem adentrar na discussão doutrinária acerca de
previstos expressamente nesta Convenção, será o pedido de qual seja o statusnormativo dos tratados internacionais de
qualquer das partes da controvérsia, submetida à decisão da direitos humanos
Corte Internacional de Justiça a não ser que os ligantes (status supranacional,status constitucional, status supralegal
concordem em outro meio solução." ou status de lei ordinária), a nossa Constituição, no art.5º,
§3º, com a redação dada pela EC nº 45.2004, passou a dispor
CP - Decreto Lei nº 2.848 de 07 de Dezembro de 1940 que “os tratados e convenções internacionais sobre direitos
humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso conformidade com seu direito interno, medidas eficazes
Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos para prevenir e sancionar severamente a ocorrência de
respectivos membros, serão equivalentes às emendas tráfico internacional de menores definido nesta
constitucionais”. Convenção” (art.7º).
Mesmo os tratados de direitos humanos que não se Na Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e
sujeitaram ao processo de aprovação referido no art. 5º, §3º, Erradicar a Violência Contra a Mulher (Convenção de
da CF, possuem lugar de destaque em nosso ordenamento Belém Do Pará), os “Estados Partes condenam todas as
jurídico, conforme se deflui do próprio §3º do art.5º e de seu formas de violência contra a mulher e convêm em adotar,
§2º. por todos os meios apropriados e sem demora, políticas
Como bem destacou o Ministro Gilmar Mendes em seu voto destinadas a prevenir, punir e erradicar tal violência e a
proferido no julgamento do Recurso Extraordinário empenhar-se em: (…) b) agir com o devido zelo para
466.343-1/SP: prevenir, investigar e punir a violência contra a mulher; c)
Se tivermos em mente que o Estado constitucional incorporar na sua legislação interna normas penais, civis,
contemporâneo é também um estado cooperativo – administrativas e de outra natureza, que sejam necessárias
identificado pelo Professor Peter Häberle como aquele que para prevenir, punir e erradicar a violência contra a
não mais se apresenta como um Estado Constitucional mulher, bem como adotar as medidas administrativas
voltado para si mesmo, mas que se disponibiliza como adequadas que forem aplicáveis” (art. 7º).
referência para outros Estados Constitucionais membros de Em relação à tortura, na Convenção Contra a Tortura e
uma comunidade, e no qual ganha relevo o papel dos Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou
direitos humanos e fundamentais -, se levarmos isso em Degradantes (promulgada pelo Decreto nº 40, de
consideração, podemos concluir que acabamos de dar um 15.12.1991), “cada Estado Membro assegurará que todos
importante passo na proteção dos direitos humanos em os atos de tortura sejam considerados crimes segundo a
nosso país e em nossa comunidade latino-america. sua legislação penal. O mesmo aplicar-se-á à tentativa de
Nesse quadro de relevo dos tratados internacionais de tortura e a todo ato de qualquer pessoa que constitua
direitos humanos, estes devem funcionar como limite e cumplicidade ou participação na tortura” (art.4º).
fundamento para o legislador no processo de criminalização. Ainda sobre a tortura, a Convenção Interamericana para
Quando se diz que os tratados passam a atuar como limites, Prevenir e Punir a Tortura (ratificada pelo Brasil em 20 de
significa sua função de garantia do indivíduo contra o poder julho de 1989) prevê em seu art. 6º que“os Estados
estatal, uma vez que o Direito Penal não possui atuação Membros tomarão medidas efetivas a fim de prevenir e
livre, devendo observar os direitos fundamentais e os punir a tortura no âmbito de sua jurisdição. Os Estados
humanos. Ademais, não se deve esquecer que o criminoso Membros assegurar-se-ão de que todos os atos de tortura e
merece o devido tratamento de acordo com sua condição de as tentativas de praticar atos dessa natureza sejam
ser humano. considerados delitos em seu Direito Penal, estabelecendo
Por outro lado, os tratados internacionais sobre direitos penas severas para sua punição, que levem em conta sua
humanos passam a serfundamento de validade para que os gravidade. Os Estados Membros obrigam-se também a
direitos humanos sejam reconhecidos como bens jurídicos tomar medidas efetivas para prevenir e punir outros
sujeitos a proteção e promoção pela via penal. tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes, no
Nessa perspectiva, verifica-se que o Brasil em vários âmbito de sua jurisdição”.
tratados se comprometeu a criar crimes para promover a Na Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as
proteção dos direitos humanos. Formas de Discriminação Racial (Promulgada pelo Decreto
Na Convenção Interamericana sobre Tráfico Internacional nº 65.810, de 8 de dezembro de 1969), o Brasil se
de Menores, assinada na Cidade do México em 18 de março comprometeu: a declarar como delitos puníveis por lei
de 1994 (Promulgada pelo Decreto nº 2.740, de 20 de agosto qualquer difusão de idéias que estejam fundamentadas na
de 1998), o Brasil se comprometeu a “adotar, em superioridade ou ódio raciais, quaisquer incitamentos à
discriminação racial, bem como atos de violência ou conceito de bem jurídico para legitimar a criação de novos
provocação destes atos, dirigidos contra qualquer raça ou tipos, caracterizando, assim, uma função com sentido
grupo de pessoas de outra cor ou de outra origem étnica, criminalizador.
como também a assistência prestada a atividades racistas, Entretanto, essa blindagem amparada por interpretação
incluindo seu financiamento (art. 4º, “a”). isolada de princípios do Direito Penal liberal dos séculos
Nesse cenário, observa-se que os direitos humanos figuram XVIII e XIX não mais se justifica. A nova ordem
com destaque em nosso Estado Constitucional, de sorte que constitucional constituidora, dirigente e programática exige
se mostram merecedores de proteção pelo Direito Penal. uma intervenção estatal no sentido de concretizar os direitos
Mais do que o reconhecimento dos direitos humanos e dos fundamentais e humanos de segunda e terceira gerações,
direitos fundamentais, a preocupação é a sua efetividade, mesmo que para isso seja necessária a utilização do Direito
que nas palavras de Barroso significa: Penal.
A realização do Direito, o desempenho concreto de sua No Brasil, temos o exemplo do meio ambiente, previsto em
função social. Ela representa a materialização, no mundo capítulo específico da Constituição, inclusive com a
dos fatos, dos preceitos legais e simboliza a aproximação, determinação da atuação do legislador ordinário para a
tão íntima quanto possível, entre o dever-sernormativo e criação de lei penal para efetivar a sua proteção (mandado
o ser da realidade social (BARROSO, Luís Roberto. O constitucional de criminalização). Ademais, o Brasil faz
Direito Constitucional e a Efetividade de suas Normas. Rio parte de inúmeros tratados sobre a proteção ao meio
de janeiro: Renovar, 2003, p. 85). ambiente. A título de exemplo, podem ser citados os
Entretanto, se por um lado é assente a necessidade de seguintes compromissos:
efetivação de direitos humanos e dos fundamentais, por - Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do
outro, parte da doutrina penal se opõe à utilização do Direito Clima (promulgada pelo Decreto nº 2.652, de 01 de julho de
Penal como instrumento de proteção dos direitos humanos 1998);
relacionados a bens jurídicos supraindividuais, relacionados - Convenção de Viena para a Proteção da Camada de
aos direitos humanos de segunda e terceira “gerações”, uma Ozônio
vez que o Direito Penal estaria sendo utilizado prima ratio, e do Protocolo de Montreal sobre Substâncias que Destroem
como função promocional de políticas públicas e sociais, em a Camada de Ozônio (promulgada pelo Decreto nº 99.280,
detrimento dos princípios penais da subsidiariedade e de 6 de junho de 1990);
fragmentariedade. - Convenção Internacional sobre Preparo, Resposta e
Nesse ponto, sustenta-se que na verdade não mais se protege Cooperação em Caso de Poluição por Óleo (promulgada
bem jurídico, mas funções, consistentes em objetivos pelo Decreto nº 2.870, de 10 de dezembro de 1998);
perseguidos pelo Estado, ou, ainda, condições prévias para a - Convenção sobre Diversidade Biológica (promulgada pelo
fruição de bens jurídicos individuais. Decreto nº 2.519, de 16 de março de 1998);
Como se não bastasse, argumenta-se que muitos dos bens - Convenção Internacional de Combate à Desertificação nos
jurídicos supraindividuais (direito à ordem socieconômica, Países afetados por Seca Grave e/ou Desertificação,
direto ao meio ambiente equilibrado etc) são formulados de Particularmente na África (promulgada pelo Decreto nº
modo vago e impreciso, ensejando a denominada 2.741, de 20 de agosto de 1998);
desmaterialização (espiritualização ou liquefação) do bem - Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança da
jurídico, em virtude de estarem sendo criados sem qualquer Convenção sobre Diversidade Biológica (promulgado pelo
substrato material, distanciando-se da lesão perceptível dos Decreto nº 5.705, de 16 de Fevereiro de 2006);
interesses dos indivíduos. - Acordo-Quadro sobre Meio Ambiente do Mercosul
Assim, ao contrário do Direito Penal de tradição liberal (que (promulgado pelo Decreto nº 5.208 de 17 de setembro de
se refere primordialmente com os direitos humanos de 2004);
primeira geração), no qual o bem jurídico teria cumprido um - Convenção de Estocolmo sobre Poluentes Orgânicos
papel limitador, o Direito Penal atual vem utilizando o Persistentes.
Assim, diante desse quadro, resta difícil argumentar que o Discriminação contra a Mulher, assinada pela República
Direito Penal não deva ser utilizado na proteção do meio Federativa do Brasil, em Nova York, no dia 31 de março de
ambiente, interesse de patamar constitucional e de relevo 1981, com reservas aos seus artigos 15, parágrafo 4, e 16,
entre os direitos humanos, bem como de outros direitos parágrafo 1, alíneas (a), (c), (g) e (h);
humanos de segunda e terceira geração. Considerando que, pelo Decreto Legislativo nº 26, de 22 de
Registre-se, aqui, o seguinte trecho da decisão do STF (AP junho de 1994, o Congresso Nacional revogou o citado
439, Relator: Min. Marco Aurélio, Tribunal Pleno, julgado Decreto Legislativo nº 93, aprovando a Convenção sobre a
em 12/06/2008): Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a
A finalidade do Direito Penal é justamente conferir uma Mulher, inclusive os citados artigos 15, parágrafo 4º, e 16,
proteção reforçada aos valores fundamentais compartilhados parágrafo 1º, alíneas (a), (c), (g) e (h);
culturalmente pela sociedade. Além dos valores clássicos, Considerando que o Brasil retirou as mencionadas reservas
como a vida, liberdade, integridade física, a honra e em 20 de dezembro de 1994;
imagem, o patrimônio etc., o Direito Penal, a partir de Considerando que a Convenção entrou em vigor, para o
meados do século XX, passou a cuidar também do meio Brasil, em 2 de março de 1984, com a reserva facultada em
ambiente, que ascendeu paulatinamente ao posto de valor seu art.29, parágrafo 2;
supremo das sociedades contemporâneas, passando a
compor o rol de direitos fundamentais ditos de 3ª geração D E C R E T A:
incorporados nos textos constitucionais dos Estados Art. 1º A Convenção sobre a Eliminação de Todas as
Democráticos de Direito. Formas de Discriminação contra a Mulher, de 18 de
Parece certo, por outro lado, que essa proteção pela via dezembro de 1979, apensa por cópia ao presente Decreto,
do Direito Penal justifica-se apenas em face de danos com reserva facultada em seu art.29, parágrafo 2, será
efetivos ou potenciais ao valor fundamental do meio executada e cumprida tão inteiramente como nela se contém.
ambiente; ou seja, a conduta somente pode ser tida como Art. 2º São sujeitos à aprovação do Congresso Nacional
criminosa quando degrade ou no mínimo traga algum risco quaisquer atos que possam resultar em revisão da referida
de degradação do equilíbrio ecológico das espécies e dos Convenção, assim como quaisquer ajustes complementares
ecossistemas. (grifei) que, nos termos do Art.49, inciso I, da Constituição,
Ou seja, independentemente da escolha dos bens jurídicos acarretem encargos ou compromissos gravosos ao
considerados relevantes para a sociedade (dignidade penal patrimônio nacional.
do bem), ainda é imprescindível para a legitimidade da tutela Art. 3º Este Decreto entra em vigor na data de sua
penal a observância dos princípios da subsidiariedade e publicação.
ofensividade, de sorte que não justifica o afastamento do Art. 4º Fica revogado o Decreto nº 89.460, de 20 de março
Direito Penal da esfera de proteção dos direitos humanos de de 1984.
segunda e terceira geração. Brasília, 13 de setembro de 2002; 181º da Independência e
114º da República.
DECRETO Nº 4.377, DE 13 DE SETEMBRO DE 2002 FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
Promulga a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Osmar Chohfi
Formas de Discriminação contra a Mulher, de 1979, e
revoga o Decreto nº 89.460, de 20 de março de 1984. Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação contra a Mulher
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição Os Estados Partes na presente convenção,
que lhe confere o Art.84, inciso VIII, da Constituição, e CONSIDERANDO que a Carta das Nações Unidas reafirma
Considerando que o Congresso Nacional aprovou, pelo a fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no
Decreto Legislativo nº 93, de 14 de novembro de 1983, a valor da pessoa humana e na igualdade de direitos do
Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de homem e da mulher,
CONSIDERANDO que a Declaração Universal dos Direitos AFIRMANDO que o fortalecimento da paz e da segurança
Humanos reafirma o princípio da não-discriminação e internacionais, o alívio da tensão internacional, a cooperação
proclama que todos os seres humanos nascem livres e iguais mútua entre todos os Estados, independentemente de seus
em dignidade e direitos e que toda pessoa pode invocar sistemas econômicos e sociais, o desarmamento geral e
todos os direitos e liberdades proclamadas nessa Declaração, completo, e em particular o desarmamento nuclear sob um
sem distinção alguma, inclusive de sexo, estrito e efetivo controle internacional, a afirmação dos
CONSIDERANDO que os Estados Partes nas Convenções princípios de justiça, igualdade e proveito mútuo nas
Internacionais sobre Direitos Humanos tem a obrigação de relações entre países e a realização do direito dos povos
garantir ao homem e à mulher a igualdade de gozo de todos submetidos a dominação colonial e estrangeira e a ocupação
os direitos econômicos, sociais, culturais, civis e políticos, estrangeira, à autodeterminação e independência, bem como
OBSEVANDO as convenções internacionais concluídas sob o respeito da soberania nacional e da integridade territorial,
os auspícios das Nações Unidas e dos organismos promoverão o progresso e o desenvolvimento sociais, e, em
especializados em favor da igualdade de direitos entre o conseqüência, contribuirão para a realização da plena
homem e a mulher, igualdade entre o homem e a mulher,
OBSERVANDO, ainda, as resoluções, declarações e CONVENCIDOS de que a participação máxima da mulher,
recomendações aprovadas pelas Nações Unidas e pelas em igualdade de condições com o homem, em todos os
Agências Especializadas para favorecer a igualdade de campos, é indispensável para o desenvolvimento pleno e
direitos entre o homem e a mulher, completo de um país, o bem-estar do mundo e a causa da
PREOCUPADOS, contudo, com o fato de que, apesar destes paz,
diversos instrumentos, a mulher continue sendo objeto de TENDO presente a grande contribuição da mulher ao bem-
grandes discriminações, estar da família e ao desenvolvimento da sociedade, até
RELEMBRANDO que a discriminação contra a mulher agora não plenamente reconhecida, a importância social da
viola os princípios da igualdade de direitos e do respeito da maternidade e a função dos pais na família e na educação
dignidade humana, dificulta a participação da mulher, nas dos filhos, e conscientes de que o papel da mulher na
mesmas condições que o homem, na vida política, social, procriação não deve ser causa de discriminação, mas sim
econômica e cultural de seu país, constitui um obstáculo ao que a educação dos filhos exige a responsabilidade
aumento do bem-estar da sociedade e da família e dificulta o compartilhada entre homens e mulheres e a sociedade como
pleno desenvolvimento das potencialidades da mulher para um conjunto,
prestar serviço a seu país e à humanidade, RECONHECENDO que para alcançar a plena igualdade
PREOCUPADOS com o fato de que, em situações de entre o homem e a mulher é necessário modificar o papel
pobreza, a mulher tem um acesso mínimo à alimentação, à tradicional tanto do homem como da mulher na sociedade e
saúde, à educação, à capacitação e às oportunidades de na família,
emprego, assim como à satisfação de outras necessidades, RESOLVIDOS a aplicar os princípios enunciados na
CONVENCIDOS de que o estabelecimento da Nova Ordem Declaração sobre a Eliminação da Discriminação contra a
Econômica Internacional baseada na eqüidade e na justiça Mulher e, para isto, a adotar as medidas necessárias a fim de
contribuirá significativamente para a promoção da igualdade suprimir essa discriminação em todas as suas formas e
entre o homem e a mulher, manifestações,
SALIENTANDO que a eliminação do apartheid, de todas as CONCORDARAM no seguinte:
formas de racismo, discriminação racial, colonialismo, PARTE I
neocolonialismo, agressão, ocupação estrangeira e Artigo 1º
dominação e interferência nos assuntos internos dos Estados Para os fins da presente Convenção, a expressão
é essencial para o pleno exercício dos direitos do homem e "discriminação contra a mulher" significará toda a distinção,
da mulher, exclusão ou restrição baseada no sexo e que tenha por objeto
ou resultado prejudicar ou anular o reconhecimento, gozo ou
exercício pela mulher, independentemente de seu estado exercício e gozo dos direitos humanos e liberdades
civil, com base na igualdade do homem e da mulher, dos fundamentais em igualdade de condições com o homem.
direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos Artigo 4º
político, econômico, social, cultural e civil ou em qualquer 1. A adoção pelos Estados-Partes de medidas especiais de
outro campo. caráter temporário destinadas a acelerar a igualdade de fato
Artigo 2º entre o homem e a mulher não se considerará discriminação
Os Estados Partes condenam a discriminação contra a na forma definida nesta Convenção, mas de nenhuma
mulher em todas as suas formas, concordam em seguir, por maneira implicará, como conseqüência, a manutenção de
todos os meios apropriados e sem dilações, uma política normas desiguais ou separadas; essas medidas cessarão
destinada a eliminar a discriminação contra a mulher, e com quando os objetivos de igualdade de oportunidade e
tal objetivo se comprometem a: tratamento houverem sido alcançados.
a) Consagrar, se ainda não o tiverem feito, em suas 2. A adoção pelos Estados-Partes de medidas especiais,
constituições nacionais ou em outra legislação apropriada o inclusive as contidas na presente
princípio da igualdade do homem e da mulher e assegurar Convenção, destinadas a proteger a maternidade, não se
por lei outros meios apropriados a realização prática desse considerará discriminatória.
princípio; Artigo 5º
b) Adotar medidas adequadas, legislativas e de outro caráter, Os Estados-Partes tornarão todas as medidas apropriadas
com as sanções cabíveis e que proíbam toda discriminação para:
contra a mulher; a) Modificar os padrões sócio-culturais de conduta de
c) Estabelecer a proteção jurídica dos direitos da mulher homens e mulheres, com vistas a alcançar a eliminação dos
numa base de igualdade com os do homem e garantir, por preconceitos e práticas consuetudinárias e de qualquer outra
meio dos tribunais nacionais competentes e de outras índole que estejam baseados na idéia da inferioridade ou
instituições públicas, a proteção efetiva da mulher contra superioridade de qualquer dos sexos ou em funções
todo ato de discriminação; estereotipadas de homens e mulheres.
d) Abster-se de incorrer em todo ato ou prática de b) Garantir que a educação familiar inclua uma compreensão
discriminação contra a mulher e zelar para que as adequada da maternidade como função social e o
autoridades e instituições públicas atuem em conformidade reconhecimento da responsabilidade comum de homens e
com esta obrigação; mulheres no que diz respeito à educação e ao
e) Tomar as medidas apropriadas para eliminar a desenvolvimento de seus filhos, entendendo-se que o
discriminação contra a mulher praticada por qualquer interesse dos filhos constituirá a consideração primordial em
pessoa, organização ou empresa; todos os casos.
f) Adotar todas as medidas adequadas, inclusive de caráter Artigo 6º
legislativo, para modificar ou derrogar leis, regulamentos, Os Estados-Partes tomarão todas as medidas apropriadas,
usos e práticas que constituam discriminação contra a inclusive de caráter legislativo, para suprimir todas as
mulher; formas de tráfico de mulheres e exploração da prostituição
g) Derrogar todas as disposições penais nacionais que da mulher.
constituam discriminação contra a mulher. PARTE II
Artigo 3º Artigo 7º
Os Estados Partes tomarão, em todas as esferas e, em Os Estados-Partes tomarão todas as medidas apropriadas
particular, nas esferas política, social, econômica e cultural, para eliminar a discriminação contra a mulher na vida
todas as medidas apropriadas, inclusive de caráter política e pública do país e, em particular, garantirão, em
legislativo, para assegurar o pleno desenvolvimento e igualdade de condições com os homens, o direito a:
progresso da mulher, com o objetivo de garantir-lhe o
a) Votar em todas as eleições e referenda públicos e ser b) Acesso aos mesmos currículos e mesmos exames, pessoal
elegível para todos os órgãos cujos membros sejam objeto docente do mesmo nível
de eleições públicas; profissional, instalações e material escolar da mesma
b) Participar na formulação de políticas governamentais e na qualidade;
execução destas, e ocupar cargos c) A eliminação de todo conceito estereotipado dos papéis
públicos e exercer todas as funções públicas em todos os masculino e feminino em todos os níveis e em todas as
planos governamentais; formas de ensino mediante o estímulo à educação mista e a
c) Participar em organizações e associações não- outros tipos de educação que contribuam para alcançar este
governamentais que se ocupem da vida pública e política do objetivo e, em particular, mediante a modificação
país. dos livros e programas escolares e adaptação dos métodos
Artigo 8º de ensino;
Os Estados-Partes tomarão todas as medidas apropriadas d) As mesmas oportunidades para obtenção de bolsas-de-
para garantir, à mulher, em igualdade de condições com o estudo e outras subvenções para estudos;
homem e sem discriminação alguma, a oportunidade de e) As mesmas oportunidades de acesso aos programas de
representar seu governo no plano internacional e de educação supletiva, incluídos os programas de alfabetização
participar no trabalho das organizações internacionais. funcional e de adultos, com vistas a reduzir, com a maior
Artigo 9º brevidade possível, a diferença de conhecimentos existentes
1. Os Estados-Partes outorgarão às mulheres direitos iguais entre o homem e a mulher;
aos dos homens para adquirir, mudar ou conservar sua f) A redução da taxa de abandono feminino dos estudos e a
nacionalidade.Garantirão, em particular, que nem o organização de programas para aquelas jovens e mulheres
casamento com um estrangeiro, nem a mudança de que tenham deixado os estudos prematuramente;
nacionalidade do marido durante o casamento, modifiquem g) As mesmas oportunidades para participar ativamente nos
automaticamente a nacionalidade da esposa, convertam-na esportes e na educação física;
em apátrida ou a obriguem a adotar a nacionalidade do h) Acesso a material informativo específico que contribua
cônjuge. para assegurar a saúde e o bemestar da família, incluída a
2. Os Estados-Partes outorgarão à mulher os mesmos informação e o assessoramento sobre planejamento da
direitos que ao homem no que diz respeito à nacionalidade família.
dos filhos. Artigo 11
PARTE III 1.Os Estados-Partes adotarão todas as medidas apropriadas
Artigo 10 para eliminar a discriminação contra a mulher na esfera do
Os Estados-Partes adotarão todas as medidas apropriadas emprego a fim de assegurar, em condições de igualdade
para eliminar a discriminação contra a mulher, a fim de entre homens e mulheres, os mesmos direitos, em particular:
assegurar-lhe a igualdade de direitos com o homem na a) O direito ao trabalho como direito inalienável de todo ser
esfera da educação e em particular para assegurarem humano;
condições de igualdade entre homens e mulheres: b) O direito às mesmas oportunidades de emprego, inclusive
a) As mesmas condições de orientação em matéria de a aplicação dos mesmos critérios de seleção em questões de
carreiras e capacitação profissional, acesso aos estudos e emprego;
obtenção de diplomas nas instituições de ensino de todas as c) O direito de escolher livremente profissão e emprego, o
categorias, tanto em zonas rurais como urbanas; essa direito à promoção e à estabilidade no emprego e a todos os
igualdade deverá ser assegurada na educação préescolar, benefícios e outras condições de serviço, e o direito ao
geral, técnica e profissional, incluída a educação técnica acesso à formação e à atualização profissionais, incluindo
superior, assim como todos os aprendizagem, formação profissional superior e treinamento
tipos de capacitação profissional; periódico;
d) O direito a igual remuneração, inclusive benefícios, e proporcionandoassistência gratuita quando assim for
igualdade de tratamento relativa a um trabalho de igual necessário, e lhe assegurarão uma nutrição adequada
valor, assim como igualdade de tratamento com respeito à durante a gravidez e a lactância.
avaliação da qualidade do trabalho; Artigo 13
e) O direito à seguridade social, em particular em casos de Os Estados-Partes adotarão todas as medidas apropriadas
aposentadoria, desemprego, para eliminar a discriminaçãocontra a mulher em outras
doença, invalidez, velhice ou outra incapacidade para esferas da vida econômica e social a fim de assegurar, em
trabalhar, bem como o direito de férias condições de igualdade entre homens e mulheres, os
pagas; mesmos direitos, em particular:
f) O direito à proteção da saúde e à segurança nas condições a) O direito a benefícios familiares;
de trabalho, inclusive a b) O direito a obter empréstimos bancários, hipotecas e
salvaguarda da função de reprodução. outras formas de crédito financeiro;
2. A fim de impedir a discriminação contra a mulher por c) O direito a participar em atividades de recreação, esportes
razões de casamento ou maternidade e e em todos os aspectos da vida cultural.
assegurar a efetividade de seu direito a trabalhar, os Estados- Artigo 14
Partes tomarão as medidas 1. Os Estados-Partes levarão em consideração os problemas
adequadas para: específicos enfrentados pelamulher rural e o importante
a) Proibir, sob sanções, a demissão por motivo de gravidez papel que desempenha na subsistência econômica de sua
ou licença de maternidade e a discriminação nas demissões família, incluído seu trabalho em setores não-monetários da
motivadas pelo estado civil; economia, e tomarão todas as medidasapropriadas para
b) Implantar a licença de maternidade, com salário pago ou assegurar a aplicação dos dispositivos desta Convenção à
benefícios sociais comparáveis, sem perda do emprego mulher das zonas rurais.
anterior, Antigüidade ou benefícios sociais; 2. Os Estados-Partes adotarão todas as medias apropriadas
c) Estimular o fornecimento de serviços sociais de apoio para eliminar a discriminação contra a mulher nas zonas
necessários para permitir que os pais combinem as rurais a fim de assegurar, em condições de igualdade entre
obrigações para com a família com as responsabilidades do homens e mulheres, que elas participem no desenvolvimento
trabalho e aparticipação na vida pública, especialmente rural e dele se beneficiem, e em particular as segurar-lhes-ão
mediante fomento da criação e desenvolvimento deuma rede o direito a:
de serviços destinados ao cuidado das crianças; a) Participar da elaboração e execução dos planos de
d) Dar proteção especial às mulheres durante a gravidez nos desenvolvimento em todos os níveis;
tipos de trabalho comprovadamente prejudiciais para elas. b) Ter acesso a serviços médicos adequados, inclusive
3. A legislação protetora relacionada com as questões informação, aconselhamento e serviçosem matéria de
compreendidas neste artigo será examinada periodicamente planejamento familiar;
à luz dos conhecimentos científicos e tecnológicos e será c) Beneficiar-se diretamente dos programas de seguridade
revista, derrogada ou ampliada conforme as necessidades. social;
Artigo 12 d) Obter todos os tipos de educação e de formação,
1. Os Estados-Partes adotarão todas as medidas apropriadas acadêmica e não-acadêmica, inclusive os relacionados à
para eliminar a discriminação contra a mulher na esfera dos alfabetização funcional, bem como, entre outros, os
cuidados médicos a fim de assegurar, em condições de benefícios de todos os serviços comunitários e de extensão a
igualdade entre homens e mulheres, o acesso a serviços fim de aumentar sua capacidade técnica;
médicos, inclusive os referentes ao planejamento familiar. e) Organizar grupos de auto-ajuda e cooperativas a fim de
2. Sem prejuízo do disposto no parágrafo 1, os Estados- obter igualdade de acesso às oportunidades econômicas
Partes garantirão à mulher assistência apropriadas em mediante emprego ou trabalho por conta própria;
relação à gravidez, ao parto e ao período posterior ao parto, f) Participar de todas as atividades comunitárias;
g) Ter acesso aos créditos e empréstimos agrícolas, aos e) Os mesmos direitos de decidir livre a responsavelmente
serviços de comercialização e às tecnologias apropriadas, e sobre o número de seus filhos e
receber um tratamento igual nos projetos de reforma agrária sobre o intervalo entre os nascimentos e a ter acesso à
e de restabelecimentos; informação, à educação e aos meios que
h) gozar de condições de vida adequadas, particularmente lhes permitam exercer esses direitos;
nas esferas da habitação, dos f) Os mesmos direitos e responsabilidades com respeito à
serviços sanitários, da eletricidade e do abastecimento de tutela, curatela, guarda e adoção dos
água, do transporte e das filhos, ou institutos análogos, quando esses conceitos
comunicações. existirem na legislação nacional.Em todos
PARTE IV os casos os interesses dos filhos serão a consideração
Artigo 15 primordial;
1.Os Estados-Partes reconhecerão à mulher a igualdade com g) Os mesmos direitos pessoais como marido e mulher,
o homem perante a lei. inclusive o direito de escolher
2. Os Estados-Partes reconhecerão à mulher, em matérias sobrenome, profissão e ocupação;
civis, uma capacidade jurídica h) Os mesmos direitos a ambos os cônjuges em matéria de
idêntica do homem e as mesmas oportunidades para o propriedade, aquisição, gestão,administração, gozo e
exercício dessa capacidade.Em particular, disposição dos bens, tanto a título gratuito quanto à título
reconhecerão à mulher iguais direitos para firmar contratos e oneroso.
administrar bens e dispensar-lhe-ão 2.Os esponsais e o casamento de uma criança não terão
um tratamento igual em todas as etapas do processo nas efeito legal e todas as medidas necessárias, inclusive as de
cortes de justiça e nos tribunais. caráter legislativo, serão adotadas para estabelecer uma
3. Os Estados-Partes convém em que todo contrato ou outro idade mínima para o casamento e para tornar obrigatória a
instrumento privado de efeitojurídico que tenda a restringir a inscrição de casamentos em registro oficial.
capacidade jurídica da mulher será considerado nulo. PARTE V
4. Os Estados-Partes concederão ao homem e à mulher os Artigo 17
mesmos direitos no que respeita àlegislação relativa ao 1. Com o fim de examinar os progressos alcançados na
direito das pessoas à liberdade de movimento e à liberdade aplicação desta Convenção, será estabelecido um Comitê
de escolha deresidência e domicílio. sobre a Eliminação da Discriminação contra a Mulher
Artigo 16 (doravante denominado o Comitê) composto, no momento
1. Os Estados-Partes adotarão todas as medidas adequadas da entrada em vigor da Convenção, de dezoito e, após sua
para eliminar a discriminaçãocontra a mulher em todos os ratificação ou adesão pelo trigésimo-quinto Estado-Parte, de
assuntos relativos ao casamento e às ralações familiares e, vinte e três peritos de grande prestígio moral e competência
emparticular, com base na igualdade entre homens e na área abarcada pela Convenção.Os peritos serão eleitos
mulheres, assegurarão: pelos Estados-Partes entre seus nacionais e exercerão suas
a) O mesmo direito de contrair matrimônio; funções a título pessoal; será levada em conta uma
b) O mesmo direito de escolher livremente o cônjuge e de repartição geográfica eqüitativa e a representação das
contrair matrimônio somente com formas diversas de civilização assim como dos principais
livre e pleno consentimento; sistemas jurídicos;
c) Os mesmos direitos e responsabilidades durante o 2. Os membros do Comitê serão eleitos em escrutínio
casamento e por ocasião de sua dissolução; secreto de uma lista de pessoasindicadas pelos Estados-
d) Os mesmos direitos e responsabilidades como pais, Partes.Cada um dos Estados-Partes poderá indicar uma
qualquer que seja seu estado civil, em matérias pertinentes pessoa entre seus próprios nacionais;
aos filhos.Em todos os casos, os interesses dos filhos serão a
consideração primordial;
3. A eleição inicial realizar-se-á seis meses após a data de 1. Os Estados-Partes comprometem-se a submeter ao
entrada em vigor desta Convenção.Pelo menos três meses Secretário-Geral das Nações Unidas,para exame do Comitê,
antes da data de cada eleição, o Secretário-Geral das Nações um relatório sobre as medidas legislativas, judiciárias,
Unidas dirigirá uma carta aos Estados-Partes convidando-os administrativas ou outras que adotarem para tornarem
a apresentar suas candidaturas, no prazo de dois meses.O efetivas as disposições desta Convenção e sobre os
Secretário-Geral preparará uma lista, por ordem alfabética progressos alcançados a esse respeito:
de todos os candidatos assim apresentados, com indicação a) No prazo de um ano a partir da entrada em vigor da
dos Estados-Partes que os tenham apresentado e comunica- Convenção para o Estado interessado;
la-á aos Estados Partes; e
4. Os membros do Comitê serão eleitos durante uma reunião b) Posteriormente, pelo menos cada quatro anos e toda vez
dos Estados-Partes convocado pelo Secretário-Geral na sede que o Comitê a solicitar.
das Nações Unidas.Nessa reunião, em que o quorum será 2. Os relatórios poderão indicar fatores e dificuldades que
alcançado com dois terços dos Estados-Partes, serão eleitos influam no grau de cumprimento das
membros do Comitê os candidatos que obtiverem o maior obrigações estabelecidos por esta Convenção.
número de votos e a maioria absoluta de votos dos Artigo 19
representantes dos Estados-Partes presentes e votantes; 1. O Comitê adotará seu próprio regulamento.
5. Os membros do Comitê serão eleitos para um mandato de 2. O Comitê elegerá sua Mesa por um período de dois anos.
quatro anos.Entretanto, o Artigo 20
mandato de nove dos membros eleitos na primeira eleição 1. O Comitê se reunirá normalmente todos os anos por um
expirará ao fim de dois anos; imediatamente após a primeira período não superior a duas semanas para examinar os
eleição os nomes desses nove membros serão escolhidos, relatórios que lhe sejam submetidos em conformidade com o
por sorteio, pelo Presidente do Comitê; Artigo 18
6. A eleição dos cinco membros adicionais do Comitê desta Convenção.
realizar-se-á em conformidade com o disposto nos 2. As reuniões do Comitê realizar-se-ão normalmente na
parágrafos 2, 3 e 4 deste Artigo, após o depósito do sede das Nações Unidas ou em qualquer outro lugar que o
trigésimo-quinto instrumento de ratificação ou adesão.O Comitê determine.
mandato de dois dos membros adicionais eleitos nessa Artigo 21
ocasião, cujos nomes serão escolhidos, por sorteio, pelo 1. O Comitê, através do Conselho Econômico e Social das
Presidente do Comitê, expirará ao fim de dois anos; Nações Unidas, informará anualmente a Assembléia Geral
7. Para preencher as vagas fortuitas, o Estado-Parte cujo das Nações Unidas de suas atividades e poderá apresentar
perito tenha deixado de exercer suas funções de membro do sugestões e recomendações de caráter geral baseada no
Comitê nomeará outro perito entre seus nacionais, sob exame dos relatórios e em informações recebidas dos
reserva da aprovação do Comitê; Estados-Partes.Essas sugestões e recomendações de caráter
8. Os membros do Comitê, mediante aprovação da geral serão incluídas no relatório do Comitê juntamente com
Assembléia Geral, receberão remuneração dos recursos das as observações que os Estados-Partes tenham porventura
Nações Unidas, na forma e condições que a Assembléia formulado.
Geral decidir, tendo em vista a importância das funções do 2. O Secretário-Geral transmitirá, para informação, os
Comitê; relatórios do Comitê à Comissão sobre a Condição da
9. O Secretário-Geral das Nações Unidas proporcionará o Mulher.
pessoal e os serviços necessários para o desempenho eficaz As Agências Especializadas terão direito a estar
das funções do Comitê em conformidade com esta representadas no exame da aplicação das disposições desta
Convenção. Convenção que correspondam à esfera de suas atividades.O
Artigo 18 Comitê poderá convidar as Agências Especializadas a
apresentar relatórios sobre a aplicação da Convenção nas
áreas que correspondam à esfera de suas atividades. 1. O Secretário-Geral das Nações Unidas receberá e enviará
PARTE VI a todos os Estados o texto das reservas feitas pelos Estados
Artigo 23 no momento da ratificação ou adesão.
Nada do disposto nesta Convenção prejudicará qualquer 2. Não será permitida uma reserva incompatível com o
disposição que seja mais propícia à obtenção da igualdade objeto e o propósito desta Convenção.
entre homens e mulheres e que seja contida: 3. As reservas poderão ser retiradas a qualquer momento por
a) Na legislação de um Estado-Parte ou uma notificação endereçada com esse objetivo ao
b) Em qualquer outra convenção, tratado ou acordo Secretário-Geral das Nações Unidas, que informará a todos
internacional vigente nesse Estado. os Estados a respeito.A notificação surtirá efeito na data de
Artigo 24 seu recebimento.
Os Estados-Partes comprometem-se a adotar todas as Artigo 29
medidas necessárias em âmbito nacional para alcançar a 1. Qualquer controvérsia entre dois ou mais Estados-Partes
plena realização dos direitos reconhecidos nesta Convenção. relativa à interpretação ou aplicação desta Convenção e que
Artigo 25 não for resolvida por negociações será, a pedido de qualquer
1. Esta Convenção estará aberta à assinatura de todos os das Partes na controvérsia, submetida à arbitragem.Se no
Estados. prazo de seis meses a partir da data do pedido de arbitragem
2. O Secretário-Geral das Nações Unidas fica designado as Partes não acordarem sobre a forma da arbitragem,
depositário desta Convenção. qualquer das Partes poderá submeter à controvérsia à Corte
3. Esta Convenção está sujeita a ratificação. Os instrumentos Internacional de Justiça mediante pedido em conformidade
de ratificação serão depositados com o Estatuto da Corte.
junto ao Secretário-Geral das Nações Unidas. 2. Qualquer Estado-Parte, no momento da assinatura ou
4. Esta Convenção estará aberta à adesão de todos os ratificação desta Convenção ou de adesão a ela, poderá
Estados.A adesão efetuar-se-á através declarar que não se considera obrigado pelo parágrafo
do depósito de um instrumento de adesão junto ao anterior.Os demais Estados-Partes não estarão obrigados
Secretário-Geral das Nações Unidas. pelo parágrafo anterior perante nenhum Estado-Parte que
Artigo 26 tenha formulado essa reserva.
1. Qualquer Estado-Parte poderá, em qualquer momento, 3. Qualquer Estado-Parte que tenha formulado a reserva
formular pedido de revisão desta revisão desta Convenção, prevista no parágrafo anterior poderá retirá-la em qualquer
mediante notificação escrita dirigida ao Secretário-Geral das momento por meio de notificação ao Secretário-Geral das
Nações Unidas. Nações Unidas.
2. A Assembléia Geral das Nações Unidas decidirá sobre as Artigo 30
medidas a serem tomadas, se for o caso, com respeito a esse Esta convenção, cujos textos em árabe, chinês, espanhol,
pedido. francês, inglês e russo são igualmente autênticos será
Artigo 27 depositada junto ao Secretário-Geral das Nações Unidas.
1. Esta Convenção entrará em vigor no trigésimo dia a partir Em testemunho do que, os abaixo-assinados devidamente
da data do depósito do vigésimo instrumento de ratificação autorizados, assinaram esta Convenção.
ou adesão junto ao Secretário-Geral das Nações Unidas.
2. Para cada Estado que ratificar a presente Convenção ou a LEI Nº 2.889, DE 1 DE OUTUBRO DE 1956.
ela aderir após o depósito do vigésimo instrumento de Define e pune o crime de
ratificação ou adesão, a Convenção entrará em vigor no genocídio.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA:
trigésimo dia após o depósito de seu instrumento de
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu
ratificação ou adesão.
sanciono a seguinte Lei:
Artigo 28
Art. 1º Quem, com a intenção de destruir, no todo ou
em parte, grupo nacional, étnico, racial ou religioso, como LEI Nº 11.340, DE 7 DE AGOSTO DE 2006.
tal: Cria mecanismos para coibir a violência doméstica
a) matar membros do grupo; e familiar contra a mulher, nos termos do § 8 o do
b) causar lesão grave à integridade física ou mental de art. 226 da Constituição Federal, da Convenção
membros do grupo; sobre a Eliminação de Todas as Formas de
c) submeter intencionalmente o grupo a condições de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção
existência capazes de ocasionar-lhe a destruição física total   Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a
ou parcial; Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação
d) adotar medidas destinadas a impedir os dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar
nascimentos no seio do grupo; contra a Mulher; altera o Código de Processo
e) efetuar a transferência forçada de crianças do grupo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal;
para outro grupo; e dá outras providências.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que
Será punido:
o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Com as penas do art. 121, § 2º, do Código Penal, no
TÍTULO I
caso da letra a;
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
Com as penas do art. 129, § 2º, no caso da letra b;
o
Art. 1   Esta Lei cria mecanismos para coibir e
Com as penas do art. 270, no caso da letra c;
prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher,
Com as penas do art. 125, no caso da letra d;
nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, da
Com as penas do art. 148, no caso da letra e;
Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Art. 2º Associarem-se mais de 3 (três) pessoas para
Violência contra a Mulher, da Convenção Interamericana
prática dos crimes mencionados no artigo anterior:
para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher
Pena: Metade da cominada aos crimes ali previstos.
e de outros tratados internacionais ratificados pela República
Art. 3º Incitar, direta e publicamente alguém a
Federativa do Brasil; dispõe sobre a criação dos Juizados de
cometer qualquer dos crimes de que trata o art. 1º:
Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; e
Pena: Metade das penas ali cominadas.
estabelece medidas de assistência e proteção às mulheres em
§ 1º A pena pelo crime de incitação será a mesma de
situação de violência doméstica e familiar.
crime incitado, se este se consumar.
Art. 2o  Toda mulher, independentemente de classe,
§ 2º A pena será aumentada de 1/3 (um terço), quando
raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível
a incitação for cometida pela imprensa.
educacional, idade e religião, goza dos direitos fundamentais
Art. 4º A pena será agravada de 1/3 (um terço), no
inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as
caso dos arts. 1º, 2º e 3º, quando cometido o crime por
oportunidades e facilidades para viver sem violência,
governante ou funcionário público.
preservar sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento
Art. 5º Será punida com 2/3 (dois terços) das
moral, intelectual e social.
respectivas penas a tentativa dos crimes definidos nesta lei.
Art. 3o  Serão asseguradas às mulheres as condições
Art. 6º Os crimes de que trata esta lei não serão
para o exercício efetivo dos direitos à vida, à segurança, à
considerados crimes políticos para efeitos de extradição.
saúde, à alimentação, à educação, à cultura, à moradia, ao
Art. 7º Revogam-se as disposições em contrário.
acesso à justiça, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à
Rio de Janeiro, 1 de outubro de 1956; 135º da
cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à
Independência e 68º da República.
convivência familiar e comunitária.
JUSCELINO KUBITSCHEK 
§ 1o  O poder público desenvolverá políticas que visem
Nereu Ramos
garantir os direitos humanos das mulheres no âmbito das
Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 2.10.1956
relações domésticas e familiares no sentido de resguardá-las
de toda forma de negligência, discriminação, exploração, II - a violência psicológica, entendida como qualquer
violência, crueldade e opressão. conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da auto-
§ 2o  Cabe à família, à sociedade e ao poder público estima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno
criar as condições necessárias para o efetivo exercício dos desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas
direitos enunciados no caput. ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante
Art. 4o  Na interpretação desta Lei, serão considerados ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação,
os fins sociais a que ela se destina e, especialmente, as isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz,
condições peculiares das mulheres em situação de violência insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação
doméstica e familiar. do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause
TÍTULO II prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação;
DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA III - a violência sexual, entendida como qualquer
A MULHER conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a
CAPÍTULO I participar de relação sexual não desejada, mediante
DISPOSIÇÕES GERAIS intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a
o
Art. 5   Para os efeitos desta Lei, configura violência comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua
doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou sexualidade, que a impeça de usar qualquer método
omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao
sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem,
patrimonial: suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida de seus direitos sexuais e reprodutivos;
como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer
sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente conduta que configure retenção, subtração, destruição
agregadas; parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho,
II - no âmbito da família, compreendida como a documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos
comunidade formada por indivíduos que são ou se econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas
consideram aparentados, unidos por laços naturais, por necessidades;
afinidade ou por vontade expressa; V - a violência moral, entendida como qualquer
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.
agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, TÍTULO III
independentemente de coabitação. DA ASSISTÊNCIA À MULHER EM SITUAÇÃO DE
Parágrafo único.  As relações pessoais enunciadas VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR 
neste artigo independem de orientação sexual. CAPÍTULO I
o
Art. 6   A violência doméstica e familiar contra a DAS MEDIDAS INTEGRADAS DE PREVENÇÃO
mulher constitui uma das formas de violação dos direitos Art. 8o  A política pública que visa coibir a violência
humanos. doméstica e familiar contra a mulher far-se-á por meio de
CAPÍTULO II um conjunto articulado de ações da União, dos Estados, do
DAS FORMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E Distrito Federal e dos Municípios e de ações não-
FAMILIAR governamentais, tendo por diretrizes:
CONTRA A MULHER I - a integração operacional do Poder Judiciário, do
Art. 7o  São formas de violência doméstica e familiar Ministério Público e da Defensoria Pública com as áreas de
contra a mulher, entre outras: segurança pública, assistência social, saúde, educação,
I - a violência física, entendida como qualquer conduta trabalho e habitação;
que ofenda sua integridade ou saúde corporal; II - a promoção de estudos e pesquisas, estatísticas e
outras informações relevantes, com a perspectiva de gênero
e de raça ou etnia, concernentes às causas, às conseqüências Saúde, no Sistema Único de Segurança Pública, entre outras
e à freqüência da violência doméstica e familiar contra a normas e políticas públicas de proteção, e emergencialmente
mulher, para a sistematização de dados, a serem unificados quando for o caso.
nacionalmente, e a avaliação periódica dos resultados das § 1o  O juiz determinará, por prazo certo, a inclusão da
medidas adotadas; mulher em situação de violência doméstica e familiar no
III - o respeito, nos meios de comunicação social, dos cadastro de programas assistenciais do governo federal,
valores éticos e sociais da pessoa e da família, de forma a estadual e municipal.
coibir os papéis estereotipados que legitimem ou exacerbem § 2o  O juiz assegurará à mulher em situação de
a violência doméstica e familiar, de acordo com o violência doméstica e familiar, para preservar sua
estabelecido no inciso III do art. 1o, no inciso IV do art. 3o e integridade física e psicológica:
no inciso IV do art. 221 da Constituição Federal; I - acesso prioritário à remoção quando servidora
IV - a implementação de atendimento policial pública, integrante da administração direta ou indireta;
especializado para as mulheres, em particular nas Delegacias II - manutenção do vínculo trabalhista, quando
de Atendimento à Mulher; necessário o afastamento do local de trabalho, por até seis
V - a promoção e a realização de campanhas meses.
educativas de prevenção da violência doméstica e familiar § 3o  A assistência à mulher em situação de violência
contra a mulher, voltadas ao público escolar e à sociedade doméstica e familiar compreenderá o acesso aos benefícios
em geral, e a difusão desta Lei e dos instrumentos de decorrentes do desenvolvimento científico e tecnológico,
proteção aos direitos humanos das mulheres; incluindo os serviços de contracepção de emergência, a
VI - a celebração de convênios, protocolos, ajustes, profilaxia das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e
termos ou outros instrumentos de promoção de parceria da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) e
entre órgãos governamentais ou entre estes e entidades não- outros procedimentos médicos necessários e cabíveis nos
governamentais, tendo por objetivo a implementação de casos de violência sexual.
programas de erradicação da violência doméstica e familiar CAPÍTULO III
contra a mulher; DO ATENDIMENTO PELA AUTORIDADE POLICIAL
VII - a capacitação permanente das Polícias Civil e Art. 10.  Na hipótese da iminência ou da prática de
Militar, da Guarda Municipal, do Corpo de Bombeiros e dos violência doméstica e familiar contra a mulher, a autoridade
profissionais pertencentes aos órgãos e às áreas enunciados policial que tomar conhecimento da ocorrência adotará, de
no inciso I quanto às questões de gênero e de raça ou etnia; imediato, as providências legais cabíveis.
VIII - a promoção de programas educacionais que Parágrafo único.  Aplica-se o disposto no caput deste
disseminem valores éticos de irrestrito respeito à dignidade artigo ao descumprimento de medida protetiva de urgência
da pessoa humana com a perspectiva de gênero e de raça ou deferida.
etnia; Art. 11.  No atendimento à mulher em situação de
IX - o destaque, nos currículos escolares de todos os violência doméstica e familiar, a autoridade policial deverá,
níveis de ensino, para os conteúdos relativos aos direitos entre outras providências:
humanos, à eqüidade de gênero e de raça ou etnia e ao I - garantir proteção policial, quando necessário,
problema da violência doméstica e familiar contra a mulher. comunicando de imediato ao Ministério Público e ao Poder
CAPÍTULO II Judiciário;
DA ASSISTÊNCIA À MULHER EM SITUAÇÃO DE II - encaminhar a ofendida ao hospital ou posto de
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR saúde e ao Instituto Médico Legal;
o
Art. 9   A assistência à mulher em situação de III - fornecer transporte para a ofendida e seus
violência doméstica e familiar será prestada de forma dependentes para abrigo ou local seguro, quando houver
articulada e conforme os princípios e as diretrizes previstos risco de vida;
na Lei Orgânica da Assistência Social, no Sistema Único de
IV - se necessário, acompanhar a ofendida para Art. 13.  Ao processo, ao julgamento e à execução das
assegurar a retirada de seus pertences do local da ocorrência causas cíveis e criminais decorrentes da prática de violência
ou do domicílio familiar; doméstica e familiar contra a mulher aplicar-se-ão as normas
V - informar à ofendida os direitos a ela conferidos dos Códigos de Processo Penal e Processo Civil e da
nesta Lei e os serviços disponíveis. legislação específica relativa à criança, ao adolescente e ao
Art. 12.  Em todos os casos de violência doméstica e idoso que não conflitarem com o estabelecido nesta Lei.
familiar contra a mulher, feito o registro da ocorrência, Art. 14.  Os Juizados de Violência Doméstica e
deverá a autoridade policial adotar, de imediato, os seguintes Familiar contra a Mulher, órgãos da Justiça Ordinária com
procedimentos, sem prejuízo daqueles previstos no Código competência cível e criminal, poderão ser criados pela
de Processo Penal: União, no Distrito Federal e nos Territórios, e pelos Estados,
I - ouvir a ofendida, lavrar o boletim de ocorrência e para o processo, o julgamento e a execução das causas
tomar a representação a termo, se apresentada; decorrentes da prática de violência doméstica e familiar
II - colher todas as provas que servirem para o contra a mulher.
esclarecimento do fato e de suas circunstâncias; Parágrafo único.  Os atos processuais poderão realizar-
III - remeter, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, se em horário noturno, conforme dispuserem as normas de
expediente apartado ao juiz com o pedido da ofendida, para organização judiciária.
a concessão de medidas protetivas de urgência; Art. 15.  É competente, por opção da ofendida, para os
IV - determinar que se proceda ao exame de corpo de processos cíveis regidos por esta Lei, o Juizado:
delito da ofendida e requisitar outros exames periciais I - do seu domicílio ou de sua residência;
necessários; II - do lugar do fato em que se baseou a demanda;
V - ouvir o agressor e as testemunhas; III - do domicílio do agressor.
VI - ordenar a identificação do agressor e fazer juntar Art. 16.  Nas ações penais públicas condicionadas à
aos autos sua folha de antecedentes criminais, indicando a representação da ofendida de que trata esta Lei, só será
existência de mandado de prisão ou registro de outras admitida a renúncia à representação perante o juiz, em
ocorrências policiais contra ele; audiência especialmente designada com tal finalidade, antes
VII - remeter, no prazo legal, os autos do inquérito do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público.
policial ao juiz e ao Ministério Público. Art. 17.  É vedada a aplicação, nos casos de violência
§ 1o  O pedido da ofendida será tomado a termo pela doméstica e familiar contra a mulher, de penas de cesta
autoridade policial e deverá conter: básica ou outras de prestação pecuniária, bem como a
I - qualificação da ofendida e do agressor; substituição de pena que implique o pagamento isolado de
II - nome e idade dos dependentes; multa.
III - descrição sucinta do fato e das medidas protetivas CAPÍTULO II
solicitadas pela ofendida. DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA
§ 2o  A autoridade policial deverá anexar ao  Seção I
o
documento referido no § 1  o boletim de ocorrência e cópia Disposições Gerais
de todos os documentos disponíveis em posse da ofendida. Art. 18.  Recebido o expediente com o pedido da
§ 3o  Serão admitidos como meios de prova os laudos ofendida, caberá ao juiz, no prazo de 48 (quarenta e oito)
ou prontuários médicos fornecidos por hospitais e postos de horas:
saúde. I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre
TÍTULO IV as medidas protetivas de urgência;
DOS PROCEDIMENTOS II - determinar o encaminhamento da ofendida ao
 CAPÍTULO I órgão de assistência judiciária, quando for o caso;
DISPOSIÇÕES GERAIS III - comunicar ao Ministério Público para que adote as
providências cabíveis.
Art. 19.  As medidas protetivas de urgência poderão III - proibição de determinadas condutas, entre as
ser concedidas pelo juiz, a requerimento do Ministério quais:
Público ou a pedido da ofendida. a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das
o
§ 1   As medidas protetivas de urgência poderão ser testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre
concedidas de imediato, independentemente de audiência estes e o agressor;
das partes e de manifestação do Ministério Público, devendo b) contato com a ofendida, seus familiares e
este ser prontamente comunicado. testemunhas por qualquer meio de comunicação;
o
§ 2   As medidas protetivas de urgência serão c) freqüentação de determinados lugares a fim de
aplicadas isolada ou cumulativamente, e poderão ser preservar a integridade física e psicológica da ofendida;
substituídas a qualquer tempo por outras de maior eficácia, IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes
sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem menores, ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar
ameaçados ou violados. ou serviço similar;
§ 3o  Poderá o juiz, a requerimento do Ministério V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios.
Público ou a pedido da ofendida, conceder novas medidas § 1o  As medidas referidas neste artigo não impedem a
protetivas de urgência ou rever aquelas já concedidas, se aplicação de outras previstas na legislação em vigor, sempre
entender necessário à proteção da ofendida, de seus que a segurança da ofendida ou as circunstâncias o exigirem,
familiares e de seu patrimônio, ouvido o Ministério Público. devendo a providência ser comunicada ao Ministério
Art. 20.  Em qualquer fase do inquérito policial ou da Público.
instrução criminal, caberá a prisão preventiva do agressor, § 2o  Na hipótese de aplicação do inciso I,
decretada pelo juiz, de ofício, a requerimento do Ministério encontrando-se o agressor nas condições mencionadas
Público ou mediante representação da autoridade policial. no caput e incisos do art. 6o da Lei no 10.826, de 22 de
Parágrafo único.  O juiz poderá revogar a prisão dezembro de 2003, o juiz comunicará ao respectivo órgão,
preventiva se, no curso do processo, verificar a falta de corporação ou instituição as medidas protetivas de urgência
motivo para que subsista, bem como de novo decretá-la, se concedidas e determinará a restrição do porte de armas,
sobrevierem razões que a justifiquem. ficando o superior imediato do agressor responsável pelo
Art. 21.  A ofendida deverá ser notificada dos atos cumprimento da determinação judicial, sob pena de incorrer
processuais relativos ao agressor, especialmente dos nos crimes de prevaricação ou de desobediência, conforme o
pertinentes ao ingresso e à saída da prisão, sem prejuízo da caso.
intimação do advogado constituído ou do defensor público. § 3o  Para garantir a efetividade das medidas protetivas
Parágrafo único.  A ofendida não poderá entregar de urgência, poderá o juiz requisitar, a qualquer momento,
intimação ou notificação ao agressor. auxílio da força policial.
Seção II § 4o  Aplica-se às hipóteses previstas neste artigo, no
Das Medidas Protetivas de Urgência que Obrigam o que couber, o disposto no caput e nos §§ 5o e 6º do art. 461
Agressor da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código de
Art. 22.  Constatada a prática de violência doméstica e Processo Civil).
familiar contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá Seção III
aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou Das Medidas Protetivas de Urgência à Ofendida
separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência, Art. 23.  Poderá o juiz, quando necessário, sem
entre outras: prejuízo de outras medidas:
I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a
com comunicação ao órgão competente, nos termos da Lei programa oficial ou comunitário de proteção ou de
o
n  10.826, de 22 de dezembro de 2003; atendimento;
II - afastamento do lar, domicílio ou local de
convivência com a ofendida;
II - determinar a recondução da ofendida e a de seus Art. 27.  Em todos os atos processuais, cíveis e
dependentes ao respectivo domicílio, após afastamento do criminais, a mulher em situação de violência doméstica e
agressor; familiar deverá estar acompanhada de advogado, ressalvado
III - determinar o afastamento da ofendida do lar, sem o previsto no art. 19 desta Lei.
prejuízo dos direitos relativos a bens, guarda dos filhos e Art. 28.  É garantido a toda mulher em situação de
alimentos; violência doméstica e familiar o acesso aos serviços de
IV - determinar a separação de corpos. Defensoria Pública ou de Assistência Judiciária Gratuita,
Art. 24.  Para a proteção patrimonial dos bens da nos termos da lei, em sede policial e judicial, mediante
sociedade conjugal ou daqueles de propriedade particular da atendimento específico e humanizado.
mulher, o juiz poderá determinar, liminarmente, as seguintes TÍTULO V
medidas, entre outras: DA EQUIPE DE ATENDIMENTO MULTIDISCIPLINAR
I - restituição de bens indevidamente subtraídos pelo Art. 29.  Os Juizados de Violência Doméstica e
agressor à ofendida; Familiar contra a Mulher que vierem a ser criados poderão
II - proibição temporária para a celebração de atos e contar com uma equipe de atendimento multidisciplinar, a
contratos de compra, venda e locação de propriedade em ser integrada por profissionais especializados nas áreas
comum, salvo expressa autorização judicial; psicossocial, jurídica e de saúde.
III - suspensão das procurações conferidas pela Art. 30.  Compete à equipe de atendimento
ofendida ao agressor; multidisciplinar, entre outras atribuições que lhe forem
IV - prestação de caução provisória, mediante depósito reservadas pela legislação local, fornecer subsídios por
judicial, por perdas e danos materiais decorrentes da prática escrito ao juiz, ao Ministério Público e à Defensoria Pública,
de violência doméstica e familiar contra a ofendida. mediante laudos ou verbalmente em audiência, e
Parágrafo único.  Deverá o juiz oficiar ao cartório desenvolver trabalhos de orientação, encaminhamento,
competente para os fins previstos nos incisos II e III deste prevenção e outras medidas, voltados para a ofendida, o
artigo. agressor e os familiares, com especial atenção às crianças e
CAPÍTULO III aos adolescentes.
DA ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO Art. 31.  Quando a complexidade do caso exigir
Art. 25.  O Ministério Público intervirá, quando não avaliação mais aprofundada, o juiz poderá determinar a
for parte, nas causas cíveis e criminais decorrentes da manifestação de profissional especializado, mediante a
violência doméstica e familiar contra a mulher. indicação da equipe de atendimento multidisciplinar.
Art. 26.  Caberá ao Ministério Público, sem prejuízo Art. 32.  O Poder Judiciário, na elaboração de sua
de outras atribuições, nos casos de violência doméstica e proposta orçamentária, poderá prever recursos para a criação
familiar contra a mulher, quando necessário: e manutenção da equipe de atendimento multidisciplinar,
I - requisitar força policial e serviços públicos de nos termos da Lei de Diretrizes Orçamentárias.
saúde, de educação, de assistência social e de segurança, TÍTULO VI
entre outros; DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS
II - fiscalizar os estabelecimentos públicos e Art. 33.  Enquanto não estruturados os Juizados de
particulares de atendimento à mulher em situação de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, as varas
violência doméstica e familiar, e adotar, de imediato, as criminais acumularão as competências cível e criminal para
medidas administrativas ou judiciais cabíveis no tocante a conhecer e julgar as causas decorrentes da prática de
quaisquer irregularidades constatadas; violência doméstica e familiar contra a mulher, observadas
III - cadastrar os casos de violência doméstica e as previsões do Título IV desta Lei, subsidiada pela
familiar contra a mulher. legislação processual pertinente.
CAPÍTULO IV
DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA
Parágrafo único.  Será garantido o direito de Parágrafo único.  As Secretarias de Segurança Pública
preferência, nas varas criminais, para o processo e o dos Estados e do Distrito Federal poderão remeter suas
julgamento das causas referidas no caput. informações criminais para a base de dados do Ministério da
TÍTULO VII Justiça.
DISPOSIÇÕES FINAIS Art. 39.  A União, os Estados, o Distrito Federal e os
Art. 34.  A instituição dos Juizados de Violência Municípios, no limite de suas competências e nos termos das
Doméstica e Familiar contra a Mulher poderá ser respectivas leis de diretrizes orçamentárias, poderão
acompanhada pela implantação das curadorias necessárias e estabelecer dotações orçamentárias específicas, em cada
do serviço de assistência judiciária. exercício financeiro, para a implementação das medidas
Art. 35.  A União, o Distrito Federal, os Estados e os estabelecidas nesta Lei.
Municípios poderão criar e promover, no limite das Art. 40.  As obrigações previstas nesta Lei não
respectivas competências: excluem outras decorrentes dos princípios por ela adotados.
I - centros de atendimento integral e multidisciplinar Art. 41.  Aos crimes praticados com violência
para mulheres e respectivos dependentes em situação de doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da
violência doméstica e familiar; pena prevista, não se aplica a Lei no 9.099, de 26 de
II - casas-abrigos para mulheres e respectivos setembro de 1995.
dependentes menores em situação de violência doméstica e Art. 42.  O art. 313 do Decreto-Lei no 3.689, de 3 de
familiar; outubro de 1941 (Código de Processo Penal), passa a vigorar
III - delegacias, núcleos de defensoria pública, serviços acrescido do seguinte inciso IV:
de saúde e centros de perícia médico-legal especializados no “Art. 313.  .................................................
atendimento à mulher em situação de violência doméstica e ................................................................
familiar; IV - se o crime envolver violência doméstica e familiar
IV - programas e campanhas de enfrentamento da contra a mulher, nos termos da lei específica, para garantir a
violência doméstica e familiar; execução das medidas protetivas de urgência.” (NR)
V - centros de educação e de reabilitação para os Art. 43.  A alínea f do inciso II do art. 61 do Decreto-
agressores. Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940  (Código Penal),
Art. 36.  A União, os Estados, o Distrito Federal e os passa a vigorar com a seguinte redação:
Municípios promoverão a adaptação de seus órgãos e de “Art. 61.  ..................................................
seus programas às diretrizes e aos princípios desta Lei. .................................................................
Art. 37.  A defesa dos interesses e direitos II - ............................................................
transindividuais previstos nesta Lei poderá ser exercida, .................................................................
concorrentemente, pelo Ministério Público e por associação f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações
de atuação na área, regularmente constituída há pelo menos domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, ou com
um ano, nos termos da legislação civil. violência contra a mulher na forma da lei específica;
Parágrafo único.  O requisito da pré-constituição ........................................................... ” (NR)
poderá ser dispensado pelo juiz quando entender que não há Art. 44.  O art. 129 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de
outra entidade com representatividade adequada para o dezembro de 1940 (Código Penal), passa a vigorar com as
ajuizamento da demanda coletiva. seguintes alterações:
Art. 38.  As estatísticas sobre a violência doméstica e “Art. 129.  ..................................................
familiar contra a mulher serão incluídas nas bases de dados ..................................................................
dos órgãos oficiais do Sistema de Justiça e Segurança a fim § 9o  Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente,
de subsidiar o sistema nacional de dados e informações irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou
relativo às mulheres. tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das
relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. a discriminação protetiva de grupos sociais com dificuldade
.................................................................. de acesso aos direitos constitucionalmente estabelecidos.
§ 11.  Na hipótese do § 9 o deste artigo, a pena será Dentre os grupos minoritários de maior expressão social está
aumentada de um terço se o crime for cometido contra o discriminado por gênero, não se ignorando que a história
pessoa portadora de deficiência.” (NR) da mulher é marcada por uma condição de inferioridade em
Art. 45.  O art. 152 da Lei no 7.210, de 11 de julho de todos os povos e civilizações, minorada após a Revolução
1984 (Lei de Execução Penal), passa a vigorar com a Francesa, mas ainda gritante no século XX.
seguinte redação: A desigualdade feminina fez nascer na
“Art. 152.  ................................................... sociedade brasileira, o que não se apresenta como
Parágrafo único.  Nos casos de violência doméstica contra a peculiaridade única, sendo uma constante em diversos
mulher, o juiz poderá determinar o comparecimento países, com maior ou menor intensidade, uma cultura de
obrigatório do agressor a programas de recuperação e violência oriunda da própria posição de superioridade social
reeducação.” (NR) do homem, incentivada por razões de poder na divisão do
Art. 46.  Esta Lei entra em vigor 45 (quarenta e cinco) mercado de trabalho e de predominância política e, por fim,
dias após sua publicação. pelo silencioso consentimento social, seja das vítimas, seja
Brasília,  7  de  agosto  de 2006; 185o da de terceiros pela cultura de inferioridade da mulher.
o
Independência e 118  da República. A violência contra a mulher tornou-se,
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA  então, invisível aos olhos da sociedade, tolerante e, por isso
Dilma Rousseff mesmo, no exercício de um surdo pacto de silêncio,
Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 8.8.2006 traduzido em ditados populares que bem expressam o
comportamento social: “Em briga de marido e mulher
A LEI MARIA DA PENHA ninguém mete a colher”; “roupa suja se lava em casa”; “a
mulher casada está em seu posto de honra e da rua para fora
I – INTRODUÇÃO nada lhe diz respeito”.
Graças aos movimentos feministas, a partir de 1910,
A desigualdade formal, conquistada com a Revolução tornaram-se públicas as discussões sobre a independência da
Francesa de 1789, foi o paradigma da legislação do mundo mulher, para superação da sua pseudo-inferioridade,
civilizado no curso do século XIX e por quase todo o século anotando-se, a partir dos diversos embates, a gravidade da
XX. violência doméstica.
Ao final da Segunda Guerra, o Mundo Ocidental despertou A discussão pública sobre o tema ficou mais evidente na
para uma nova realidade: de nada valia a outorga de direitos década de 70 e, nos anos 90, com mais veemência, veio à
pelo Estado, se não tinham os titulares formais desses baila o tema, quando os movimentos feministas incipientes
direitos condições de acesso a eles. Para a real aquisição dos mais atuantes fizeram nascer as ONG e as associações, com
direitos outorgados pelo Estado era preciso criar condições militância constante e competente, direcionando-se para um
de acesso, tarefa que não poderia ser deixada para solução objetivo comum: envolver o Estado por via de políticas
ao Estado do laissez-faire, laissez-passer. Era preciso criar públicas e sociais no sentido de acabar com a violência
mecanismos que levassem à igualdade substancial de contra a mulher.
direitos. Ao final do século XX podemos dizer que houve uma
Assim, despertou-se ao final do século XX para a quebra de paradigma, refletida nas chamadas ações
identificação de grupos fragilizados em razão de fatos afirmativas em favor da mulher, a partir do objetivo de
adversos por questão de gênero, raça, nacionalidade, credo, eliminar a violência doméstica ou social contra a mulher.
etc., ao tempo em que se deu início às políticas públicas No decorrer dos estudos em direção ao objetivo da
identificadas como ações afirmativas, que são, em verdade, igualdade, chegou-se à conclusão que o ponto de partida
para a construção de uma política eficiente seria a coleta de
dados estatísticos, possibilitando tais números ao traçado de possibilidade de acordo, ainda na fase policial, impunha
um diagnóstico e, depois, à implantação de um sistema de como condenação o pagamento de uma multa, a entrega de
prevenção eficiente, afastando-se as verdades e mentiras que cestas básicas ou a prestação de serviço à comunidade,
sempre povoaram o imaginário social. apagando por completo a acessão perpetrada.
Quando o Brasil foi convidado para participar do Congresso A suavidade da pena e o desaparecimento da culpa do
Internacional de Mulheres, realizado em Beijing em 1995, agressor pelas tratativas procedimentais levavam à
despertou para a dificuldade em traçar as metas a serem reincidência, ou seja, outra surra, outra agressão,
discutidas pela ausência de dados estatísticos sobre a acompanhada de coação, para que a vítima não usasse o
atuação da mulher brasileira. Ainda hoje ressente-se a Nação suporte legal nos próximos embates.
de precisão numérica de dados. Dispomos apenas dos dados
obtidos do IBGE, dos recenseamentos de 1988 e 2001, de III – PECULIARIDADES
pesquisas isoladas procedidas pelas Secretarias de
Segurança Pública dos Estados e de uma única pesquisa A Lei 11.340/06, chamada de Lei Maria da Penha,
direcionada, realizada pela Fundação Perseu Abramo em inaugurou uma nova fase na história das ações afirmativas
2001. em favor da mulher brasileira.
A partir daí, passou a ser a meta prioritária dos movimentos Não se pode deixar de registrar o motivo que levou o
feministas a produção de dados e indicadores atualizados. legislador a nominar o novo instituto. Sim, porque a Lei
Graças a esta consciência, veio a lume a Lei 10.778/03, Maria da Penha é mais do que um diploma legislativo.
diploma que torna obrigatório aos hospitais e clínicas Trata-se de uma lei que congrega um conjunto de regras
médicas preencher questionário específico de informação penais e extrapenais, contendo princípios, objetivos,
sobre atendimento médico à mulher que chega aos hospitais diretrizes, programa, etc., com o propósito precípuo de
e clínicas com sinais de agressão física ou psíquica. reduzir a morosidade judicial, introduzir medidas
Lamentavelmente, passados quatro anos a lei mencionada despenalizadoras, diminuir a impunidade e, na ponta, como
ainda não foi regulamentada, nem sequer implantada. desiderato maior, proteger a mulher e a entidade familiar.
Maria da Penha é uma professora universitária de classe
II – A LEGISLAÇÃO média, casada com um também professor universitário, que
protagonizou um simbólico caso de violência doméstica
A Constituição Federal de 1988 instituiu como um dos contra a mulher. Em 1983, foi vítima, por duas vezes, do seu
princípios fundamentais do Estado a “dignidade da pessoa marido, que tentou assassiná-la. A primeira vez com um tiro,
humana”, dentro da garantia de que todos são iguais, sem que a deixou paraplégica, e, a segunda, por eletrocussão e
distinção alguma, proibindo, inclusive, diferença salarial, afogamento. A punição pela Justiça só veio vinte anos
diferença de critérios de admissão por motivo de sexo, depois, por interferência de organismos internacionais.
dispositivos que deixam clara a posição de combate à Maria da Penha transformou dor em luta, tragédia em
discriminação. solidariedade, merecendo a homenagem de todos dando
A conquista maior veio com a Lei 9.099/95, diploma que nome à lei que é, sem dúvida, um microssistema de proteção
instituiu os Juizados Especiais, possibilitando maior à família e à mulher.
celeridade e eficácia às punições de delitos de baixo Como principais inovações temos a admissibilidade das
potencial ofensivo, classificando-se como tais os casos mais prisões em flagrante e preventiva, obrigatoriedade do
comuns de violência doméstica contra a mulher. inquérito policial e a só possibilidade de desistência, por
Lamentavelmente, a realidade mostrou-se inteiramente parte da vítima, em juízo, acompanhada de advogada e
diferente da idéia conceitual dos que lutaram pela aprovação ouvido o Ministério Público. Pelos tópicos, verifica-se a
da Lei dos Juizados. Em pouco tempo, chegou-se à absoluta alteração da sistemática procedimental, impondo-se
conclusão que o diploma legal serviu para a legalização da dificuldades para arquivamento de uma denúncia de
“surra doméstica”. Sem flagrante, sem fiança e com a agressão, a fim de evitar a coação. Daí a necessidade de
participação de todos os atores processuais: juiz, advogado e implantação imediata dos Juizados de Violência Doméstica,
Ministério Público. os quais deverão ter funcionamento diferenciado. A previsão
A autoridade policial também fica mais fortalecida na fase de uma equipe multidisciplinar de atendimento de nada
repressiva, podendo efetuar a prisão em flagrante ou servirá se aos processos judiciais não se der diferenciado
representar pela prisão preventiva. tratamento no sentido de dinamizar, descomplicar e,
Têm os doutrinadores questionado o seguinte: aplicava-se ao sobretudo, entender-se o drama familiar que se esconde atrás
crime de violência doméstica, com ou sem lesões corporais, de cada um dos processos. O desafio maior, portanto, é o de
a Lei 9.099/95 – Lei dos Juizados Especiais –, diploma que treinamento adequado.
exigia a representação para o procedimento do crime de
lesões corporais dolosa de natureza leve. Revogada a
aplicação da Lei 9.099/95 pela Lei Maria da Penha, fica a IV – QUESTIONAMENTOS
indagação: continua-se a exigir a representação, ou passa-se
à categoria dos crimes de ação pública? Sem referência Como não poderia deixar de ser, doutrinariamente, não são
jurisprudencial, ainda, tem-se a voz autorizada do Professor poucos os questionamentos em torno do novo diploma.
Damásio de Jesus, entendendo que continua a se exigir, para Primeiro, pela novidade, segundo, pela ousadia legislativa,
a espécie, a representação. e, terceiro, pela falta de hábito, ainda, no trato com as ações
É interessante anotar que a lei em comento se refere à afirmativas. Daí a adjetivação à lei, tida por alguns como
violência contra a mulher, perpetrada no âmbito da unidade preconceituosa por partir da idéia de desigualdade, o que é
doméstica, entendendo-se como tal o espaço de convivência de absoluta intolerância para as feministas.
permanente de pessoas com ou sem vínculo familiar , A lei, efetivamente, reconhece a desigualdade de gênero e
abrangendo, inclusive, os esporadicamente agregados. vem, por isso mesmo, com o intuito de proteger não apenas
Uma grande inovação do diploma aqui analisado é a a mulher, mas também à família. Trata-se de um
explicitação das formas de violência, discriminadas no art. instrumento identificado como de ação afirmativa.
7º (violência física, psicológica, sexual, patrimonial e Para outros, a lei em análise deforma o sistema prisional e
moral), sendo definidas cada uma delas. traz, em conseqüência, um grave problema social, na medida
Mantidas as penas constantes do Código Penal, e que vão de em que, sem a possibilidade de livrar-se solto do processo,
um a três anos de detenção, afastaram-se a pena pecuniária, como ocorria antecedentemente, colocar-se-á na prisão,
a transação penal e a competência dos juizados especiais. durante o curso do processo, um pai de família, um homem
Há na lei um ponto que está a causar perplexidade por com baixa agressividade, no meio de marginais perigosos e
destoar inteiramente do foco de maior repressão: o parágrafo praticantes de delitos de alto potencial ofensivo.
9º do art. 121, depois de ter o acréscimo da qualificação, Entendo que o sistema prisional brasileiro já está
pela Lei 11.340/06, sofreu diminuição da pena máxima inteiramente deformado e não será a Lei Maria da Penha
cominada, passando de seis para três meses de detenção. mais um instrumento de aprofundamento do caos reinante.
Para uns, houve equívoco do legislador, para outros, A avaliação não é por esse prisma, e sim pela constatação de
diferentemente, a intenção foi sistematizar a pena para as que talvez tenhamos uma lei avançada demais para um país
hipóteses de lesões leves. que iguala os segregados pelo Estado, colocando todos no
Muito mais do que um diploma repressivo, a Lei Maria da mesmo patamar, sem estabelecer gradações, ou
Penha é um conjunto sistêmico de medidas protetivas, daí a discriminação, pelo tipo do crime perpetrado. Não temos
prescrição de medidas acautelatórias, tais como: suspensão sistema prisional, e sim depósito de presos, o que precisa de
do porte de arma, afastamento do lar, proibição de contato correção urgente, urgentíssima.
do agressor com a vítima, alimentos provisionais, etc. Alega-se também que a Lei Maria da Penha está na
A Lei 11.340/06, para funcionar e produzir os efeitos contramão da história, porque defasada da nova orientação
desejados, está a exigir do aparelho estatal, especialmente do do Direito Penal, de caráter eminentemente preventivo,
Poder Judiciário, um esforço concentrado, a partir da enquanto o grau de repressão da Lei 11.340/06 é a tônica. A
alegação é inteiramente leviana, na medida em que o âmbito familiar, nos empregos, e que hoje merece a
conteúdo penal do diploma analisado é mínimo. Como já reprimenda penal com o tipo do artigo 216-A do Código
afirmado, trata-se de instrumento legislativo que alberga um Penal; do que faz a sociedade de consumo com as mulheres,
microssistema de proteção à família e, por via de que hoje vivem submetidas aos ditames da ditadura da
conseqüência, à mulher, com alguns dispositivos de forte beleza, que exige juventude, corpo esquálido e hábitos que
repressão. sustentem a rica indústria de cosméticos, de cirurgias
A mais radical crítica à lei é no sentido de plásticas e da moda prêt-à-porter, sem preocupação alguma
taxá-la de inconstitucional, pela quebra do princípio da com o destino existencial da mulher.
igualdade. Ora, se levarmos em conta, em termos absolutos, Ao falar-se da Lei Maria da Penha estar-se-á
o princípio da igualdade formal, todas as ações afirmativas restringindo a análise a uma espécie, a mais drástica e grave
padeceriam de inconstitucionalidade. sob o ângulo pessoal da vítima e da sociedade: a violência
Afinal, ninguém ignora o grave quadro de doméstica.
inferioridade do gênero, conforme demonstram os poucos A Lei 11.340/06 só pode ser interpretada
dados estatísticos existentes. A título exemplificativo, com como diploma que pretende resgatar de forma
números de maio de 2006, temos que a cada quinze principiológica a política pública de proteção à família e de
segundos uma mulher é espancada ou violentada; a cada combate à desigualdade, sem espaço para alegação de
vinte e quatro horas nove ocorrências policiais são inconstitucionalidade.
registradas; uma em cada cinco mulheres já foi agredida; Constituindo-se a Lei Maria da Penha em
mais de cinqüenta por cento das agredidas não procuram uma quebra de paradigma, só funcionará, efetivamente, se
ajuda; trinta e três por cento das mulheres já sofreram algum pelo Estado houver a implementação dos serviços
tipo de agressão física; setenta por cento dos incidentes multidisciplinares previstos no microssistema criado. Por
acontecem dentro da unidade familiar e o agressor é o parte dos atores do processo, dentre os quais juízes e
próprio marido; mais de quarenta por cento das agressões membros do Ministério Público, espera-se que vençam a
resultam em lesões corporais graves; o Brasil perde dez por tradicional morosidade do Judiciário, mediante a aplicação
cento do seu PIB em decorrência da violência contra a da norma de maneira inteiramente nova, sem burocracias e
mulher, considerando-se os gastos da rede de saúde, a sem formalismo.
interrupção do mercado de trabalho pela paralisação da Enfim, no combate à desigualdade é preciso
atividade da mulher agredida e o gasto com a mobilização que cada um cumpra o seu papel.
do aparelho estatal repressivo, polícia e Justiça

V – CONCLUSÕES

Independentemente da valorização da
mulher, em política que tenha por escopo a igualdade do
gênero, não se pode deixar de reconhecer que no Brasil,
como em quase todos os países do mundo ocidental, a
mulher continua sendo alvo de uma sociedade machista e
desigual, em preconceito muitas vezes silencioso, velado e,
lamentavelmente, socialmente consentido. O silêncio da
vítima e a indiferença da sociedade são, sem dúvida, o
combustível mais poderoso para a continuidade da violência.
Não se pretende aqui fazer uma apologia à
mulher, mas é preciso, ao falar de uma específica forma de
violência, a doméstica, lembrar do que ocorre fora do

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