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716/89)
CRIMES RESULTANTES DE
PRECONCEITOS DE RAÇA OU DE COR.
(LEI Nº 7.437/85)
CONTRAVENÇÕES PENAIS A PRÁTICA
DE ATOS RESULTANTES DE
PRECONCEITO DE RAÇA, DE COR, DE
SEXO OU DE ESTADO CIVIL.
CRIMES RESULTANTES DE PRECONCEITOS DE RAÇA OU DE COR
Lei nº 7.716, de 05 de janeiro de 1989.
FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL
Art. 4º - A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes
princípios:
[...] I. Prevalência dos direitos humanos;
VIII - Repúdio ao terrorismo e ao racismo.
Art. 5º - XLII - A prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de
reclusão, nos termos da lei.
- Inafiançável - Não se admite a fiança para concessão da liberdade provisória. Vale ressaltar que
é possível a liberdade provisória sem fiança.
- Imprescritível - Poderá ser punido a qualquer tempo, não cabendo a causa extintiva da
punibilidade pela prescrição. De acordo com a Constituição Federal, são imprescritíveis apenas o
racismo e a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado
Democrático.
Pena de Reclusão - O legislador ordinário não poderia cominar penas diferentes de reclusão por
causa da previsão constitucional.
ATENÇÃO: É importante que o candidato esteja atento a uma possível redação diferenciada dada
pelo examinador, como, por exemplo, uma possível indagação sobre a existência no Brasil da
Lei Caó. Nesse sentido, seria necessário o conhecimento pelo candidato de que a Lei n.
7.716/1989, Lei do Crime Racial, é apelidada de Lei Caó, pois o autor responsável pelo projeto de
lei que culminou na sua existência foi o Deputado Federal Carlos Alberto Caó.
Os requisitos tratados no Art. 1° servirão como norte para praticamente todas as condutas previstas
na Lei. Ou seja, os crimes previstos nessa Lei dependem do dolo do agente, voltado para esses
tipos de discriminação ou preconceito.
ATENÇÃO: Cabe observar que um ateu não poderá ser vítima de discriminação (sujeito ativo) no
que tange à religião, mas pode ser autor (sujeito ativo).
Art. 2º - (Vetado).
Discriminações resultantes de sexo ou estado civil são tratadas pela Lei 7437/85. Como nessa Lei
as penas cominadas não são de reclusão, entende parte da doutrina que ela é inconstitucional.
Discriminações resultantes de deficiência física ou mental são tratadas pela Lei 7853/89.
ATENÇÃO: Segundo a doutrina, prevalece que as ONGS e o empregador doméstico não estão
abrangidos por esse artigo, de modo que deverá ser aplicado o artigo 20.
Também prevalece que os condomínios residenciais não são abrangidos, devendo-se aplicar o
artigo 20. Todavia, há um precedente antigo que considerou que condomínio poderia ser
equiparado a atividade empresarial para efeito deste artigo (TJSP Ap 141820-3/2).
§ 1º - Incorre na mesma pena quem, por motivo de discriminação de raça ou de cor ou práticas
resultantes do preconceito de descendência ou origem nacional ou étnica:
Observe que no inciso I não se admite a tentativa, pois se trata de crime omissivo. No que se refere
ao inciso III, este não trata apenas de salário, visto que penal o menciona “especialmente”, e não
“exclusivamente”.
Sexo e Estado Civil: Se a discriminação ou preconceito for decorrente do sexo ou estado civil, o
fato caracteriza contravenção penal prevista no art. 9º, da Lei n. 7.437/85.
Deficiência: Se o impedimento se der em razão de deficiência, o fato constitui crime previsto no
art. 8º, inc. III, da 7.853/89, punido com reclusão de 1 a 4 anos e multa.
Art. 10º - Impedir o acesso ou recusar atendimento em salões de cabeleireiros, barbearias, termas
ou casas de massagem ou estabelecimento com as mesmas finalidades.
Pena: Reclusão de 1 a 3 anos.
O legislador pode, por vezes, se mostrar repetitivo. Isso demonstra a intenção de não se deixar
dúvidas quanto à possibilidade ou legitimidade de discriminação em razão das circunstâncias
elencadas no art. 1º.
Art. 11º - Impedir o acesso às entradas sociais em edifícios públicos ou residenciais e elevadores
ou escada de acesso aos mesmos:
Pena: Reclusão de 1 a 3 anos.
Sujeito Ativo: Crime próprio. Pessoa responsável pela disciplina e/ou controle de acesso.
Sujeito Passivo: Estado (mediato) + Pessoa discriminada (imediato).
Imaginemos os seguintes cenários: “A”, porteiro de um prédio comercial, impede que “B” nele
ingresse simplesmente por ser de religião diversa. “A” estará cometendo o crime do art. 11? Nesse
caso, não, pois, conforme disposto acima, a lei não cita locais comerciais. Porém, poderá incorrer
no artigo 5º.
Importante: A mera exigência de ingressos em prédios em geral pela porta de serviço, em relação
às pessoas que estão promovendo entregas e realizando obras ou trabalhos específicos a
moradores e demais ocupantes do edifício não configura o crime. É fundamental que haja o intuito
de discriminação racial.
Art. 12º - Impedir o acesso ou uso de transportes públicos, como aviões, navios barcas, barcos,
ônibus, trens, metrô ou qualquer outro meio de transporte concedido.
Pena: Reclusão de 1 a 3 anos.
Sujeito Ativo: Pessoa que exerce atividade de controle de acesso nos transportes públicos.
Sujeito Passivo: Estado (mediato) + Pessoa discriminada (imediato).
ATENÇÃO: Atente-se para o fato de que o artigo 12 aplica-se aos casos de táxis, pois estes
tratam-se de serviço de transporte autorizado.
Dessa maneira, entende-se que o artigo não será aplicado em casos de transportes piratas,
podendo ser reservado a estes o artigo 20.
Observe que, por se tratar de delito plurissubsistente, cabe a tentativa em relação a essa espécie
de delito. No entanto, não se exige o resultado naturalístico, por se tratar de delito formal.
Art. 13º - Impedir ou obstar o acesso de alguém ao serviço em qualquer ramo das Forças
Armadas.
Pena: Reclusão de 2 a 4 anos.
Sujeito Ativo: Crime próprio. Comete o crime quem tem o poder de impedir ou o responsável pelo
recrutamento.
Sujeito Passivo: Estado (mediato) + Pessoa discriminada (imediato).
O art. 13 abrange as forças militares estaduais?
1ª corrente: Sim, pois se trata de força auxiliar e reserva do Exército (art. 144, § 6º, da CF) – Nucci
2ª corrente: Não, pois seria analogia in malam partem. Porém, pode ser aplicado o art. 20.
Art. 14º - Impedir ou obstar, por qualquer meio ou forma, o casamento ou convivência familiar e
social.
Pena: Reclusão de 2 a 4 anos.
OBS: Os crimes previstos nos artigos desta lei, somente restarão configurados se a recusa, o
impedimento ou a obstrução ocorrer por preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência
nacional.
Importante: As ofensas são caracterizadas como crimes contra a honra. Encontra previsão no
Código Penal o crime de injúria qualificada (injúria racial).
EFEITO DA CONDENAÇÃO
Constituem efeitos da condenação a perda do cargo ou função pública, para o servidor público, e a
suspensão do funcionamento do estabelecimento particular por prazo não superior a três meses.
Os efeitos da condenação previstos no artigo 16º da lei 7.716/89 não são automáticos, ou seja, o
juiz deverá fundamentar a decisão para que ocorra a aplicação desses efeitos, conforme o artigo
18º da lei 7.716/89.
Art. 16º - Constitui efeito da condenação a perda do cargo ou função pública, para o servidor
público, e a suspensão do funcionamento do estabelecimento particular por prazo não superior a
três meses.
Art. 18º - Os efeitos de que tratam os arts. 16 e 17 desta Lei não são automáticos, devendo ser
motivadamente declarados na sentença.
Art. 20º - Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou
procedência nacional.
Pena - Reclusão de 1 a 3 anos e multa.
TJRJ – Se um compositor de música popular, ao elaborar a letra de uma de suas músicas, utilizou-
se de expressão considerada de teor racista, mas sem ter a intenção de ofender quem quer que
seja, pois agiu com o único propósito de realçar predicado de determinada pessoa de sua
relação, não há que se falar em preconceito de raça, para cuja configuração não é bastante a
mera referência à cor e aos cabelos da pessoa que teria inspirado, sendo necessário para
aperfeiçoar o tipo delituoso o especial fim de agir, traduzindo na vontade livre e consciente de
defender a um número indeterminado de pessoas da mesma raça.
§ 3º - Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes à raça, cor, etnia, religião, origem
ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência:
Pena - Reclusão de 1 a 3 anos e multa.
De acordo com o parágrafo primeiro, o fato de alguém ser “nazista” não incorre nesse crime, pois
seria direito penal do autor. A proibição refere-se aos atos de fabricar, comercializar, distribuir ou
veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica
ou gamada, para fins de divulgação do nazismo, ou seja, consiste em um direito penal do fato.
Já no caso de comercialização de camisas, com a imagem de Hitler para fins de divulgação do
nazismo, a ação poderá incorrer neste artigo, pois abrange a sua imagem.
ATENÇÃO: A utilização de imagens afetas ao nazismo para uma peça teatral com fins históricos
não constitui crime.
O que é a Suástica:
Suástica nazista
O símbolo da cruz suástica se popularizou a partir do movimento Nazista, que adotou esta imagem
como ícone do seu partido, a partir de 1920.
Atualmente, devido às atrocidades cometidas pelo Nazismo durante a Segunda Guerra Mundial, a
cruz suástica ganhou um significado negativo, pois representa a memória dos atos desumanos
praticados pelos membros do III Reich.
Em alguns países, por exemplo, o uso da suástica é proibido. No Brasil, o indivíduo que utilizar a
cruz suástica como uma apologia aos ideais nazistas pode ser punido com até 05 anos de prisão.
No entanto, o que muita gente não sabe, é que originalmente a suástica possui um simbolismo
positivo, representando o desejo de “boa sorte e felicidade”.
Saiba mais sobre o significado do Nazismo.
Origem da Suástica
Acredita-se que a suástica exista há mais de 07 mil anos, utilizada por povos que habitavam a
região da Eurásia, durante o Período Neolítico, e também por antigas civilizações da América do
Norte e América Central.
Etimologicamente, a palavra “suástica” deriva do sânscrito svastika, que quer dizer “boa
sorte” ou “condutora do bem-estar”.
Tradicionalmente, para a maioria das civilizações em que era utilizada, a suástica era tida como um
símbolo solar, representando o nascimento e renascimento da vida, uma fonte de energia capaz de
criar todas as coisas no mundo.
Forma qualificada
§ 2º - Se qualquer dos crimes previstos no caput é cometido por intermédio dos meios de
comunicação social ou publicação de qualquer natureza:
Pena: reclusão de 2 a 5 anos e multa.
EXERCÍCIOS
01. Constitui crime o fato de determinado clube social recusar a admissão de um cidadão, em
razão de preconceito de raça, salvo se o respectivo estatuto atribuir à diretoria a faculdade de
recusar propostas de admissão, sem declinação de motivos.
Certo ( ) Errado ( )
02. Considere que Tânia, proprietária de um salão de beleza especializado em penteados afros,
recuse atendimento a determinada pessoa de pele branca e cabelos ruivos, sob a justificativa de o
atendimento, no salão, restringir-se a afrodescendentes. Nessa situação, a conduta de Tânia não
constitui crime, visto que, sendo proprietária do estabelecimento, ela tem o direito de restringir o
atendimento a determinados clientes.
Certo ( ) Errado ( )
03. Um determinado hotel negou-se a hospedar uma família de índios, alegando que não havia
nenhum quarto vago. Posteriormente, restou demonstrado que existiam vagas e que a recusa
derivou do fato de que o gerente do hotel tinha proibido a hospedagem de índios no
estabelecimento. Nessa situação, o referido gerente comete infração penal.
Certo ( ) Errado ( )
04. Pedro pediu em casamento Carolina, que tem 16 anos de idade, e ela aceitou. O pai de
Carolina, porém, negou-se a autorizar o casamento da filha, pelo fato de o noivo ser negro.
Todavia, para não ofender Pedro, solicitou a Carolina que lhe dissesse que o motivo da sua recusa
era o fato de ele ser ateu. Nessa situação, o pai de Carolina cometeu infração penal.
Certo ( ) Errado ( )
GABARITO: 01 – E, 02 – E, 03 – C, 04 – C.
INCLUI, ENTRE AS CONTRAVENÇÕES PENAIS A PRÁTICA DE ATOS RESULTANTES DE
PRECONCEITO DE RAÇA, DE COR, DE SEXO OU DE ESTADO CIVIL, DANDO NOVA
REDAÇÃO À LEI Nº 1.390, DE 3 DE JULHO DE 1951.
Lei nº 7.437, de 20 de dezembro de 1985.
Art. 1º. Constitui contravenção, punida nos termos desta lei, a prática de atos resultantes de
preconceito de raça, de cor, de sexo ou de estado civil.
Das Contravenções
Art. 4º. Recusar a venda de mercadoria em lojas de qualquer gênero ou o atendimento de clientes
em restaurantes, bares, confeitarias ou locais semelhantes, abertos ao público, por preconceito de
raça, de cor, de sexo ou de estado civil.
Pena - Prisão simples, de 15 dias a 3 meses, e multa de 1 a 3 vezes o maior valor de referência
(MVR).
Art. 5º. Recusar a entrada de alguém em estabelecimento público, de diversões ou de esporte, por
preconceito de raça, de cor, de sexo ou de estado civil.
Pena - Prisão simples, de 15 dias a 3 meses, e multa de 1 a 3 vezes o maior valor de referência
(MVR).
Art. 7º. Recusar a inscrição de aluno em estabelecimento de ensino de qualquer curso ou grau, por
preconceito de raça, de cor, de sexo ou de estado civil.
Pena - Prisão simples, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa de 1(uma) a três) vezes o maior
valor de referência (MVR).
Parágrafo único. Se se tratar de estabelecimento oficial de ensino, a pena será a perda do cargo
para o agente, desde que apurada em inquérito regular.
Art. 8º. Obstar o acesso de alguém a qualquer cargo público civil ou militar, por preconceito de
raça, de cor, de sexo ou de estado civil.
Pena - Perda do cargo, depois de apurada a responsabilidade em inquérito regular, para o
funcionário dirigente da repartição de que dependa a inscrição no concurso de habilitação dos
candidatos.
Art. 9º. Negar emprego ou trabalho a alguém em autarquia, sociedade de economia mista,
empresa concessionária de serviço público ou empresa privada, por preconceito de raça, de cor, de
sexo ou de estado civil.
Pena - Prisão simples, de 3 meses a 1 ano, e multa de 1 a 3 vezes o maior valor de referência
(MVR), no caso de empresa privada; perda do cargo para o responsável pela recusa, no caso de
autarquia, sociedade de economia mista e empresa concessionária de serviço público.
Art. 10. Nos casos de reincidência havidos em estabelecimentos particulares, poderá o juiz
determinar a pena adicional de suspensão do funcionamento, por prazo não superior a 3 (três)
meses.
BONS ESTUDOS!