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FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO: NACIONALIDADE, COR,

GÉNERO, RELIGIÃO E ORIENTAÇÃO SEXUAL

1. Discriminação Racial

 Qual a dimensão da problemática do racismo?


Uma das piores formas de discriminação é a feita em função da origem
étnica, atingindo a dignidade e integridade do outro. Num contexto de grande
mobilidade transfronteiriça, a questão do racismo e das modalidades de
acolhimento e integração de imigrantes maioritariamente oriundos dos países
do sul e de ex-países do Leste, assim como de populações nómadas (ciganos)
é um elemento central para a compreensão das múltiplas problemáticas
sociais.

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Neste cenário revestem-se de particular importância as disposições legais
emitidas a favor dos trabalhadores imigrantes, e o desenvolvimento de uma
abordagem que favoreça e valorize a multiculturalidade e interculturalidade,
quer seja a nível da educação, da saúde, da formação ou do emprego.

 Que direitos têm os estrangeiros, apátridas e cidadãos europeus


face à Constituição da República Portuguesa?
1.Os estrangeiros e os apátridas que se encontrem ou residam em Portugal
gozam dos direitos e estão sujeitos aos deveres do cidadão português;
2.Exceptuam-se do disposto no número anterior os direitos políticos, o
exercício das funções públicas que não tenham carácter predominantemente
técnico e os direitos e deveres reservados pela Constituição e pela lei
exclusivamente aos cidadãos portugueses;
3. Aos cidadãos dos países de língua portuguesa podem ser atribuídos,
mediante convenção internacional e em condições de reciprocidade, direitos
não conferidos a estrangeiros, salvo o acesso à titularidade dos órgãos de
soberania e dos órgãos de governo próprio das regiões autónomas, o serviço
nas forças armadas e a carreira diplomática;
4. A lei pode atribuir a estrangeiros residentes no território nacional, em
condições de reciprocidade, capacidade eleitoral ativa e passiva para a eleição
dos titulares de órgãos de autarquias locais. A lei pode ainda atribuir, em
condições de reciprocidade, aos cidadãos dos Estados-membros da União
Europeia residentes em Portugal o direito de elegerem e serem eleitos
Deputados ao Parlamento Europeu.

 O que se entende por discriminação racial?


Entende-se por discriminação racial qualquer distinção, exclusão, restrição
ou preferência em função da raça, cor, ascendência, origem nacional ou étnica,
que tenha por objetivo ou produza como resultado a anulação ou restrição do
reconhecimento, fruição ou exercício, em condições de igualdade, de direitos,
liberdades e garantias ou de direitos económicos, sociais e culturais.

 Quais são as práticas consideradas discriminatórias?

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Consideram-se práticas discriminatórias as ações ou omissões que, em razão
da pertença de qualquer pessoa a determinada raça, cor, nacionalidade ou
origem étnica, violem o princípio da igualdade, designadamente:
1. A adoção de procedimento, medida ou critério, diretamente pela
entidade empregadora ou através de instruções dadas aos seus trabalhadores
ou a agência de emprego, que subordine a fatores de natureza racial a oferta
de emprego, a cessação de contrato de trabalho ou a recusa de contratação;
2. A produção ou difusão de anúncios de ofertas de emprego, ou outras
formas de publicidade ligada à pré-seleção ou ao recrutamento, que
contenham, direta ou indiretamente, qualquer especificação ou preferência
baseada em fatores de discriminação racial;
3. A recusa de fornecimento ou impedimento de fruição de bens ou
serviços, por parte de qualquer pessoa singular ou coletiva;
4. O impedimento ou limitação ao acesso e exercício normal de uma
atividade económica por qualquer pessoa singular ou coletiva;
5. A recusa ou condicionamento de venda, arrendamento ou
subarrendamento de imóveis;
6. A recusa de acesso a locais públicos ou abertos ao público,
7. A recusa ou limitação de acesso aos cuidados de saúde prestados em
estabelecimentos de saúde públicos ou privados;
8. A recusa ou limitação de acesso a estabelecimento de ensino público
ou privado;
9. A constituição de turmas ou a adoção de outras medidas de
organização interna nos estabelecimentos de ensino público ou privado,
segundo critérios de discriminação racial, salvo se tais critérios forem
justificados pelos objetivos referidos na lei;
10. A adoção de prática ou medida por parte de qualquer órgão,
funcionário ou agente da administração direta ou indireta do Estado, das
Regiões Autónomas ou das autarquias locais, que condicione ou limite a
prática do exercício de qualquer direito;
11. A adoção por entidade empregadora de prática que no âmbito da
relação laboral discrimine um trabalhador ao seu serviço;
12. A adoção de ato em que, publicamente ou com intenção de ampla
divulgação, pessoa singular ou coletiva emita uma declaração ou transmita

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uma informação em virtude da qual um grupo de pessoas seja ameaçado,
insultado ou aviltado por motivos de discriminação racial.

É proibido despedir, aplicar sanções ou prejudicar por qualquer outro


meio o trabalhador por motivo do exercício de direito ou de ação judicial contra
prática discriminatória.

 Qual o regime sancionatório previsto na lei?


1.A prática de qualquer ato discriminatório previsto na lei por pessoa
singular constitui contraordenação punível com coima graduada entre uma e
cinco vezes o valor mais elevado do salário mínimo nacional mensal, sem
prejuízo da eventual responsabilidade civil ou da aplicação de outra sanção
que ao caso couber;
2. A prática de qualquer ato discriminatório previsto na lei por pessoa
coletiva de direito privado constitui contraordenação punível com coima
graduada entre duas e dez vezes o valor mais elevado do salário mínimo
nacional mensal, sem prejuízo da eventual responsabilidade civil ou da
aplicação de outra sanção que ao caso couber;
3. Em caso de reincidência, os limites mínimo e máximo são elevados
para o dobro;
4. A tentativa e a negligência são puníveis;
5.Sempre que a contraordenação resulte da omissão de um dever, a
aplicação da sanção e o pagamento da coima não dispensam o infrator do seu
cumprimento, se este ainda for possível.

 Quais as sanções acessórias previstas na lei?


Podem ainda ser determinadas as seguintes sanções acessórias, em
função da gravidade da infração e da culpa do agente:
1. Perda de objetos pertencentes ao agente;
2. Interdição do exercício de profissões ou atividades cujo exercício
dependa de título público ou de autorização ou homologação de autoridade
pública;
3. Privação do direito a subsídio ou benefício outorgado por entidades ou
serviços públicos;
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4. Proibição do direito de participar em feiras ou mercados;
5. Proibição do direito de participar em arrematações ou concursos públicos
que tenham por objeto a empreitada ou a concessão de obras públicas, o
fornecimento de bens e serviços públicos e a atribuição de licenças ou alvarás;
6. Encerramento de estabelecimento cujo funcionamento esteja sujeito a
autorização ou licença de autoridade administrativa;
7. Suspensão de autorizações, licenças e alvarás. As sanções referidas nas
alíneas b) a g) do número anterior têm a duração máxima de dois anos,
contados a partir da decisão condenatória definitiva.

 Como e onde me devo dirigir para proceder à denúncia de práticas


discriminatórias?
Qualquer pessoa ou instituição que tenha conhecimento de uma situação
suscetível de ser considerada contraordenação deve comunicá-la a uma das
seguintes entidades:
1. Membro do governo que tenha a seu cargo a área da igualdade;
2. Alto-comissário para a Imigração e Minorias Étnicas;
3. Comissão para a Igualdade e contra a Discriminação Racial;
4. Inspeção-geral competente em razão da matéria.

As entidades referidas em 1), 2) e 3), que tomem conhecimento de uma


contraordenação enviam o processo para a inspeção-geral competente, que
procederá à sua instrução.

 Que entidades têm competência na aplicação das coimas?


Instruído o processo, o mesmo é enviado à Comissão para a Igualdade e
contra a Discriminação Racial, acompanhado do respetivo relatório final. A
definição da medida das sanções e a aplicação das coimas e das sanções
acessórias correspondentes é da competência do Alto-Comissário para a
Imigração e Minorias Étnicas, ouvida a comissão permanente mencionada no
n.º 2 do artigo 7.º da Lei n.º 134/99, de 28 de agosto.

 Existem alguns casos de denúncia obrigatória?

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O art.º 242.º do Código Processo Penal dispõe que:
1 - A denúncia é obrigatória, ainda que os agentes do crime não sejam
conhecidos:
a) Para as entidades policiais, quanto a todos os crimes de que tomarem
conhecimento;
b) Para os funcionários, na aceção do artigo 386.º do Código Penal, quanto a
crimes de que tomarem conhecimento no exercício das suas funções e por
causa delas.
2 - Quando várias pessoas forem obrigadas à denúncia do mesmo crime, a
sua apresentação por uma delas dispensa as restantes.
3 - O disposto nos números anteriores não prejudica o regime dos crimes
cujo procedimento depende de queixa ou de acusação particular.”

Assim, ou as situações de práticas discriminatórias são do conhecimento


oficioso pelo que, por imperativo legal, impõe-se a sua notícia, ou não são e
devem ser denunciadas através dos Órgãos de Polícia Criminal, que para o
efeito as encaminhará para o Alto Comissário para a Imigração e Minorias
Étnicas, organismo competente no caso.

2. Discriminação em função do Género

 O que significa discriminação em função do sexo?


É indicadora de prática discriminatória, nomeadamente, a desproporção
considerável entre a taxa de trabalhadores de um dos sexos ao serviço do
empregador e a taxa de trabalhadores do mesmo sexo existente no respetivo
ramo de atividade.

 Quais são os direitos de igualdade e não discriminação em função


do sexo no sector privado?
Os direitos de igualdade e não discriminação em função do sexo no sector
privado são os seguintes:
 Direito a ausência de discriminação baseada no sexo, nomeadamente
pela referência ao estado civil ou à situação familiar;

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 Direito à igualdade no acesso a qualquer emprego, profissão ou posto
de trabalho;
Direito à igualdade na formação profissional;
 Direito a que os anúncios de ofertas de emprego e outras formas de
publicidade ligadas à pré-seleção e ao recrutamento não contenham
qualquer restrição, especificação ou preferência baseada no sexo;
 Direito a que o recrutamento para qualquer posto de trabalho se faça
exclusivamente com base em critérios objetivos, não sendo permitida a
formulação de exigências físicas que não tenham relação com a
profissão ou com as condições do seu exercício;
 Direito à igualdade de remuneração por um trabalho igual ou de valor
igual prestado à mesma entidade patronal;
 Direito à igualdade no desenvolvimento de uma carreira profissional que
permita atingir o mais elevado nível hierárquico da profissão, bem como
ao preenchimento dos lugares de chefia e à mudança de carreira
profissional;

É proibido à entidade patronal despedir, aplicar sanções ou por qualquer
forma prejudicar trabalhadoras ou trabalhadores por alegarem
discriminação.

 Quais são as obrigações em termos de convenções conectivas de


trabalho?
As convenções coletivas de trabalho não podem:
 Referir profissões e categorias profissionais que se destinem
especificamente a pessoal feminino ou a pessoal masculino;
 Estabelecer remunerações inferiores para as mulheres;
 Estabelecer remunerações inferiores para os aprendizes do sexo
feminino.

 Quais são os direitos de igualdade e não discriminação em função


do sexo na Administração Pública?

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Os direitos de igualdade e não discriminação em função do sexo na
Administração Pública são os seguintes:
 Direito a ausência de discriminação baseada no sexo, nomeadamente
pela referência ao estado civil ou à situação familiar;
 Direito à igualdade nas condições de trabalho, orientação e formação
profissional;
 Direito à igualdade no acesso ao exercício de quaisquer funções ou
cargos públicos;
 Direito à igualdade de remuneração por um trabalho igual ou de valor
igual;
 Direito à igualdade no desenvolvimento de uma carreira profissional que
permita atingir o mais elevado nível hierárquico da profissão, bem como
ao preenchimento dos lugares de chefia e à mudança de carreira
profissional;
 Direito a que os avisos dos concursos de ingresso e de acesso e os
anúncios de ofertas de emprego e outras formas de publicidade ligada à
pré-seleção e ao recrutamento não contenham qualquer restrição,
especificação ou preferência baseada no sexo;
 Direito a que o recrutamento se faça exclusivamente com base em
critérios objetivos, não sendo permitida a formulação de exigências
físicas que não tenham relação com a profissão ou com as condições do
seu exercício;
É proibido a qualquer entidade proceder disciplinarmente, aplicar sanções
ou por qualquer forma prejudicar trabalhadoras ou trabalhadores por alegarem
discriminação, sendo sujeitos a procedimento disciplinar os dirigentes e
trabalhadores cuja ação tiver sido julgada discriminatória.

 Qual é o papel das associações sindicais?


As associações sindicais representativas de trabalhadores/as ao serviço de
entidade que desrespeite o direito à igualdade de tratamento podem propor,
junto dos tribunais competentes, ações tendentes a provar qualquer prática
discriminatória. Podem intervir, como assistentes, no processo

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contraordenacional, beneficiando da isenção do pagamento da taxa de justiça e
das custas.

 Como se processa a fiscalização e punição de práticas laborais


discriminatórias?
1. Intervenção da Inspeção-geral do Trabalho (IGT):
A todo o tempo, por sua iniciativa ou quando solicitada a intervenção por
entidade idónea, deve a IGT proceder à verificação concreta de prática
discriminatória no prazo máximo de 30 dias;
A ação inspetiva, baseada em parecer da Comissão para a Igualdade no
Trabalho e no Emprego (CITE), pode ser acompanhada por técnicos da CITE;
nos restantes casos a IGT deverá informar a CITE, no prazo de 60 dias, do
resultado da inspeção.
2. Pareceres da CITE:
Os pareceres da CITE que confirmem ou indiciem a existência de prática
laboral discriminatória são comunicados de imediato à IGT para efeitos da
intervenção acima referida.

3. Discriminação em função da Religião

 O que significa discriminação em função da religião?


Existem vários sentidos para a palavra discriminação. A discriminação com
base na religião é apenas uma das formas de distinguir. A palavra religião tem
várias origens, mas em qualquer uma delas diz respeito a um conjunto de
preceitos nos quais se baseia a fé, sendo que cada religião assenta em
determinadas normas e fomenta certas práticas.

 O que diz a lei?


O artigo 13.º da Constituição da República Portuguesa estabelece que em
Portugal os cidadãos não podem ser alvo de discriminação de base religiosa,
entre outras:

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“Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer
direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça,
língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas,
instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual”.

Quer isto dizer que qualquer pessoa pode optar pela religião que bem
entender, sem ser ferido na sua cidadania com base nessa escolha. A religião
é uma escolha livre de cada cidadão que deve ser respeitada pelos seus pares.

Legislação europeia, aprovada em 2000, proíbe toda e qualquer


discriminação, quer religiosa, com base na raça, deficiência, sexual ou na
idade. A discriminação pode ser direta, quando uma pessoa recebe um
tratamento diferente com base numa determinada condição, ou indireta,
quando um determinado critério parece isento mas, no fundo, não o é,
discriminando só por si.

4. Discriminação em função da Orientação Sexual

 O que significa discriminação em função da orientação sexual?


A homossexualidade e a bissexualidade, tal como a heterossexualidade,
são orientações sexuais. Significam que um indivíduo sente atracão física,
psicológica e emocional por outro indivíduo do mesmo sexo ou de ambos os
sexos, respetivamente, ao contrário dos heterossexuais que o sentem apenas
por pessoas do sexo oposto.
Por homofobia entende-se o medo e o desprezo pelos homossexuais e é
um termo usado para descrever o ódio generalizado aos homossexuais.
Heterossexismo, por seu lado, é utilizado para designar o sistema ideológico
que assume a heterossexualidade como superior, promovendo a opressão,
negação e discriminação das pessoas de orientação sexual diferente da
heterossexual.
Acredita-se que a orientação sexual dos indivíduos possa ser resultado de
fatores biológicos e ambientais. Muitos investigadores consideram que, em
geral, ela já se encontra definida nos primeiros anos de vida, mas sim com
comportamentos de risco.
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 De que maneira são discriminados os homossexuais?
A nível social, mostrar livremente à sociedade as relações amorosas que
vivem pode significar ostracismo, insultos ou mesmo agressão. No caso dos
jovens, a discriminação na escola, na família e na sociedade em geral leva a
que haja uma incidência no mínimo três a cinco vezes superior de depressões,
de baixa autoestima e de tentativas e concretização de suicídio.
Ao nível profissional, alguns homossexuais podem ter mais probabilidade
de serem despedidos, de não serem promovidos ou de não chegarem a ser
contratados devido à sua orientação sexual. A nível religioso, são muitas vezes
rejeitados. A nível jurídico, os homossexuais ainda não têm exatamente os
mesmos direitos que os heterossexuais, sobretudo no que diz respeito às suas
relações conjugais, tendo apenas os mesmos deveres.

 O que posso fazer para combater esta discriminação?


As pessoas que têm menos preconceitos contra os homossexuais são
aquelas que contactam diretamente com eles. Na verdade, as atitudes
negativas contra os homossexuais são baseadas apenas em estereótipos. O
importante é procurar, no quotidiano, evitar essas ideias feitas e tratá-los como
indivíduos que são, respeitando a sua integridade física e moral.
Mais e melhor informação poderá também contribuir para reduzir a
discriminação e o preconceito para com pessoas homo e bissexuais e fazer
com que, aos poucos, estas pessoas se sintam mais à vontade para se
assumir, partilhar os seus sentimentos e viver as suas relações amorosas com
pessoas do mesmo sexo de modo visível.

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