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Nascimento
Em 1907, juntamente com o seu irmão gémeo César, concluiu a licenciatura em Direito
pela Universidade de Coimbra e instalou-se em Lisboa. No mesmo ano casa com Maria
Angelina Sousa, com quem viria a ter 14 filhos, nascidos nos diversos países em que
trabalhou.
Pouco depois do seu casamento, Sousa Mendes começou a carreira consular que o levaria e si
e à sua família a viver em várias partes do mundo. Assim, desempenhou diversas delegações
consulares em Zanzibar, Guiana Britânica, Brasil, Estados Unidos da América,
Luxemburgo, Espanha ou Bélgica.
Durante este período em que esteve na Bélgica, de1929 a 1928, foi um grande da imagem de
Portugal. Foi condecorado duas vezes por Leopoldo III, rei da Bélgica, tendo-o feito oficial da
Ordem de Leopoldo II e comendador da Ordem da Coroa, a mais alta condecoração belga.
Conviveu, igualmente, com personalidades ilustres, como o escritor Maurice Maeterlinck,
Prémio Nobel da Literatura, e o cientista Albert Einstein, Prémio Nobel da Física.
Em 1938, mesmo nas vésperas do início da Segunda Guerra Mundial, Salazar nomeou-o
Cônsul em Bordéus, França. Nesse mesmo ano, inicia um relacionamento extraconjugal
com uma jovem francesa, Andrée Cibial, de quem terá uma filha e com quem acabará por
casar, em 1949.
Em 1940, a França é invadida pela Alemanha. Perante o avanço imparável dos exércitos
de Hitler e sem tempo para mobilizar o apoio militar britânico, o Presidente do
Conselho Francês determina a transferência do governo para Bordéus.
Ao mesmo tempo que os alemães se estabelecem em Paris, o governo francês instala-se
em Bordéu, o que leva a cidade a ficar abarrotada de milhares de pessoas que procuram
fugir do terror da guerra.
À PROCURA DE VISTOS
Bordéus transformara-se na capital da desordem. Enquanto isso, Paris encontra-se
deserta e silenciosa. Ali impera a ordem. A primeira semana de ocupação deixa no ar
uma sensação de obediência. Nas paredes da cidade são colados cartazes incitando as
populações abandonadas a confiar nos soldados alemães. O contraste com Bordéus não
poderia ser maior. À porta dos consulados estrangeiros vêem-se as primeiras filas de
pessoas que procuram obter vistos, para um qualquer país, a fim de escaparem às tropas
que se aproximam.
A desobediência
Aristides de Sousa Mendes viu-se confrontado com um dilema: por um lado,
ajudar a salvar vidas, por outro lado, contrariar as ordens recebidas do seu
próprio Governo, que através da circular 14, o impedia de passar vistos a quem
procurava asilo e refúgio seguro.
Tocado pelo drama humano que se desenrola sob o seu olhar, Aristides de Sousa
Mendes decide ignorar as ordens recebidas de Portugal e conceder vistos a todos os
que deles precisassem. Sabia perfeitamente que iria colocar a sua carreira de 30 anos
no serviço diplomático em perigo e que iria agravar as dificuldades económicas da sua
extensa família.
Apesar da tentativa feita pelo governo português para o parar, Sousa Mendes continuou,
mesmo na rua e junto à fronteira de Hendaye, a conceder vistos. Só desistiu do seu
objetivo com a chegada dos alemães.
O CÔNSUL INSUBORDINADO
"Que mundo é este em que é preciso ser louco para fazer o que é certo?”
O ato de desobediência consciente de Aristides de Sousa Mendes possibilitou
salvar um número de pessoas que se estima em mais de 30 mil.
Aristides de Sousa Mendes optou por obedecer à sua consciência e desse modo, à
revelia do governo português, decidiu passar vistos para a liberdade a todos que o
solicitassem, independentemente da sua religião, raça ou credo político. O seu gesto,
para além de afetar os seus filhos, que se viram obrigados a emigrar, valeu-lhe a
instauração de um processo disciplinar que na prática teve como resultado final a
expulsão da carreira diplomática
o PROCESSO DISCIPLINAR
Apesar das dificuldades sentidas, os refugiados podiam aspirar a uma vida nova longe
dos horrores nazis que assombravam grande parte da Europa ocupada. Todavia, o
homem que permitiu a fuga e a esperança a milhares de pessoas seria alvo de um
processo disciplinar que lhe custaria a carreira e a desgraça da família.
Aristides de Sousa Mendes passou os últimos anos da sua vida pobre e sem família,
acompanhado apenas por uma sobrinha. Foi obrigado a vender tudo o que tinha para
pagar dívidas e sobreviver com dificuldade. Aristides veio a morrer aos 68 anos,
ignorado, só e em situação de miséria, no dia 3 de abril de 1954, no Hospital da Ordem
Terceira de S. Francisco, em Lisboa.
O RECONHECIMENTO