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Aristides de Sousa Mendes

Aristides de Sousa Mendes foi um diplomata português que, durante a II Guerra


Mundial, salvou mais de 30.000 judeus da perseguição Nazi, sendo considerado como a
maior ação de salvamento realizada por uma pessoa individual.

Nascimento

Aristides de Sousa Mendes do Amaral e Abranches nasceu a 19 de julho de 1885, em


Cabanas de Viriato, concelho de Carregal do Sal, localidade situada a cerca de 30km a
sul de Viseu. Pertencia a uma família aristocrática e católica da Beira-Alta.

Em 1907, juntamente com o seu irmão gémeo César, concluiu a licenciatura em Direito
pela Universidade de Coimbra e instalou-se em Lisboa. No mesmo ano casa com Maria
Angelina Sousa, com quem viria a ter 14 filhos, nascidos nos diversos países em que
trabalhou.

Pouco depois do seu casamento, Sousa Mendes começou a carreira consular que o levaria e si
e à sua família a viver em várias partes do mundo. Assim, desempenhou diversas delegações
consulares em Zanzibar, Guiana Britânica, Brasil, Estados Unidos da América,
Luxemburgo, Espanha ou Bélgica.

Durante este período em que esteve na Bélgica, de1929 a 1928, foi um grande da imagem de
Portugal. Foi condecorado duas vezes por Leopoldo III, rei da Bélgica, tendo-o feito oficial da
Ordem de Leopoldo II e comendador da Ordem da Coroa, a mais alta condecoração belga.
Conviveu, igualmente, com personalidades ilustres, como o escritor Maurice Maeterlinck,
Prémio Nobel da Literatura, e o cientista Albert Einstein, Prémio Nobel da Física.

Em 1938, mesmo nas vésperas do início da Segunda Guerra Mundial, Salazar nomeou-o
Cônsul em Bordéus, França. Nesse mesmo ano, inicia um relacionamento extraconjugal
com uma jovem francesa, Andrée Cibial, de quem terá uma filha e com quem acabará por
casar, em 1949.

Paris, 14 de Junho de 1940

A ascensão ao poder de Adolf Hitler, em 1933, na Alemanha, marca o início da


perseguição aos Judeus.

Em 1940, a França é invadida pela Alemanha. Perante o avanço imparável dos exércitos
de Hitler e sem tempo para mobilizar o apoio militar britânico, o Presidente do
Conselho Francês determina a transferência do governo para Bordéus.
Ao mesmo tempo que os alemães se estabelecem em Paris, o governo francês instala-se
em Bordéu, o que leva a cidade a ficar abarrotada de milhares de pessoas que procuram
fugir do terror da guerra.

Em Bordéus, local onde Aristides de Sousa Mendes era Cônsul, os refugiados


chegam aos milhares numa procura desesperada de vistos na esperança de
conseguirem um visto para a liberdade.

À PROCURA DE VISTOS
Bordéus transformara-se na capital da desordem. Enquanto isso, Paris encontra-se
deserta e silenciosa. Ali impera a ordem. A primeira semana de ocupação deixa no ar
uma sensação de obediência. Nas paredes da cidade são colados cartazes incitando as
populações abandonadas a confiar nos soldados alemães. O contraste com Bordéus não
poderia ser maior. À porta dos consulados estrangeiros vêem-se as primeiras filas de
pessoas que procuram obter vistos, para um qualquer país, a fim de escaparem às tropas
que se aproximam.

A desobediência
Aristides de Sousa Mendes viu-se confrontado com um dilema: por um lado,
ajudar a salvar vidas,  por outro lado, contrariar as ordens recebidas do seu
próprio Governo, que através da circular 14, o impedia de passar vistos a quem
procurava asilo e refúgio seguro. 

A Circular n.º 14, de 11 de novembro de 1939, do Ministério dos Negócios Estrangeiros


português, estabelecia  regras que impediam a concessão de vistos e de passaporte à
maior parte dos refugiados, nomeadamente judeus, exilados políticos e cidadãos
provenientes de países do Leste Europeu, sob pena de vir a ser castigado.

Tocado pelo drama humano que se desenrola sob o seu olhar, Aristides de Sousa
Mendes decide ignorar as ordens recebidas de Portugal e conceder vistos a todos os
que deles precisassem. Sabia perfeitamente que iria colocar a sua carreira de 30 anos
no serviço diplomático em perigo e que iria agravar as dificuldades económicas da sua
extensa família.

Até 22 de Junho, foram emitidos, no consulado português, milhares de vistos, tarefa


para a qual recebeu a ajuda do genro Kruger que se encarregou de espalhar a notícia
pela cidade de que o cônsul português passaria vistos a todos os que o solicitassem.

Apesar da tentativa feita pelo governo português para o parar, Sousa Mendes continuou,
mesmo na rua e junto à fronteira de Hendaye, a conceder vistos. Só desistiu do seu
objetivo com a chegada dos alemães.

O CÔNSUL INSUBORDINADO
"Que mundo é este em que é preciso ser louco para fazer o que é certo?”
O ato de desobediência consciente de Aristides de Sousa Mendes possibilitou 
salvar um número de pessoas que se estima em mais de  30 mil.

Aristides de Sousa Mendes optou por obedecer à sua consciência e desse modo, à
revelia do governo português, decidiu passar vistos para a liberdade a todos que o
solicitassem, independentemente da sua religião, raça ou credo político. O seu gesto,
para além de afetar os seus filhos, que se viram obrigados a emigrar, valeu-lhe a
instauração de um processo disciplinar que na prática teve como resultado final a
expulsão da carreira diplomática

o PROCESSO DISCIPLINAR
Apesar das dificuldades sentidas, os refugiados podiam aspirar a uma vida nova longe
dos horrores nazis que assombravam grande parte da Europa ocupada. Todavia, o
homem que permitiu a fuga e a esperança a milhares de pessoas seria alvo de um
processo disciplinar que lhe custaria a carreira e a desgraça da família.

A decisão de Oliveira Salazar foi ditada, por despacho, no dia 30 de Outubro de 1940.


Aristides de Sousa Mendes seria condenado a um ano de serviço inactivo com metade
do vencimento a que se deveria seguir a sua aposentadoria. Contudo, no ano seguinte, é-
lhe mantida a inactividade, por decreto de 20 de Março de 1941, por mais um ano.
Posteriormente, a partir de 15 de Julho de 1943, é-lhe atribuída uma pensão provisória,
mensal, baseada em trinta anos de serviço, que se manterá até à data da sua morte.

Aristides de Sousa Mendes passou os últimos anos da sua vida pobre e sem família,
acompanhado apenas por uma sobrinha. Foi obrigado a vender tudo o que tinha para
pagar dívidas e sobreviver com dificuldade. Aristides veio a morrer aos 68 anos,
ignorado, só e em situação de miséria, no dia 3 de abril de 1954, no Hospital da Ordem
Terceira de S. Francisco, em Lisboa. 

A MEMÓRIA DE ARISTIDES DE SOUSA MENDE


“Não poderia agir de outra forma e assim aceito tudo o que me aconteceu com amor.”

O RECONHECIMENTO 

O primeiro reconhecimento veio em 1966 de Israel que declarou Aristides de Sousa


Mendes “Justo entre as Nações”.  Em Outubro de 1967, numa cerimónia realizada no
Consulado Israelita de Nova Iorque, responsáveis do Yad Vashem entregaram à família
de Aristides de Sousa Mendes uma medalha alusiva aos feitos do pai.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros só depois da Revolução de Abril de 1974 é que


mostrou algum interesse por Sousa Mendes. Chegou a ser realizada uma investigação
sobre este assunto, mas o caso voltou a cair no esquecimento. Entretanto, os filhos de
Aristides de Sousa Mendes não desistiram de reabilitar a memória do pai e, por
iniciativa de João Paulo Abranches, uma série de homenagens em sinagogas,
organizações judaicas e na imprensa americana, a partir de 1986, chamaram a atenção
da comunidade internacional para os feitos do pai.
Aristides de Sousa Mendes foi condecorado, a título póstumo, em 1986, com o grau de
Oficial da Ordem da Liberdade e, em 1995, com a Grã-Cruz da Ordem Militar de
Cristo, ambas pelo Presidente Mário Soares e mais recentemente em 2017, com a Grã-
Cruz da Ordem da Liberdade, pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa.

Através da Resolução da Assembleia da República n.º 47/2020, de 24 de julho, o


Parlamento decidiu “homenagear e perpetuar a memória de Aristides de Sousa Mendes,
enquanto homem que desafiou a ideologia fascista, evocando o seu exemplo na
defesa dos valores da liberdade e dignidade da pessoa humana e concedendo-lhe
Honras de Panteão”.

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