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Ref.

OFÍCIO Nº 39/2020/SECPROGRAD/PROGRAD/REITO-UFU

Ao
Ilustre Professor Armindo Quillici Neto
Pró-Reitor de Graduação da Universidade Federal de Uberlândia / PROGRAD

Assunto: Instauração de Processo Administrativo

Prezado Professor,

Mariana Fernandes Pires, Matrícula 11521ODO028, Curso 1441BI –


Graduação em Odontologia : Bacharelado – Integral, diante da ciência sobre o
Processo Administrativo nº 23117.034868/2020-53, vem, por sua advogada (proc.
Anexa), tempestiva e respeitosamente, em razão de denúncia apresentada por
suposta ocupação indevida de vaga reservada à candidatos PPI (candidatos
autodeclarados pretos, pardos e indígenas), apresentar DEFESA nos termos a
seguir aduzidos.

1. Breve exposição

A aluna prestou Vestibular no Processo Seletivo 2015-2 (segundo


semestre de 2015), para a seleção de ingresso no curso de Odontologia junto à
Universidade Federal de Uberlândia, aferindo auto declaração de parda para
enquadramento nas vagas de cotas raciais.

Após alcançar a 1.ª colocação (Doc. 01), ingressou no curso


mencionado, seguindo toda a vida acadêmica com êxito, dedicação e zelo, sempre
obtendo excelentes notas (Doc. 2 – Histórico), participando ativamente de diversos
Congressos (Doc. 03 – Certificados), Monitorias e Projetos (Doc. 04 -
Certificados), inclusive, com apresentação de TCC (Doc. 05), defendida em
05/11/2019 e aprovada com nota máxima de 100,00 (Conforme site:
https://repositorio.ufu.br/handle/123456789/27493 ).
Ocorre que, recentemente, a Aluna foi surpreendida com denúncia de
suposta fraude à vaga cotista quando do ingresso no vestibular da UFU, sob a
alegação de não preenchimento dos requisitos para inclusão na reserva de vagas,
pois seria “fenotípica e socialmente branca”.

Contudo, não há que se falar em fraude, tendo em vista que a Aluna


enquadra-se na condição de parda, como passa a expor.

2. Da distinção de “parda” dada pela lei

Inicialmente, cumpre destacar o que dispõe o art. 1º, parágrafo único,


inciso IV, da Lei nº 12.288, de 20 de julho de 2010 1:

Art. 1o Esta Lei institui o Estatuto da Igualdade Racial, destinado a


garantir à população negra a efetivação da igualdade de
oportunidades, a defesa dos direitos étnicos individuais, coletivos e
difusos e o combate à discriminação e às demais formas de
intolerância étnica.

Parágrafo único. Para efeito deste Estatuto, considera-se: [...] IV -


população negra: o conjunto de pessoas que se autodeclaram
pretas e pardas, conforme o quesito cor ou raça usado pela
Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ou
que adotam autodefinição análoga; (grifo nosso)

A Lei 12.990/20142, aplicada ao caso concreto por determinação da


Administração Pública estabeleceu a autodeclaração como critério de definição dos
beneficiários da política de reserva de vagas para candidatas negras e pardas em
concursos e seleções públicas, in verbis:

Art. 2º Poderão concorrer às vagas reservadas a candidatos negros


aqueles que se autodeclararem pretos ou pardos no ato da
inscrição no concurso público, conforme o quesito cor ou raça
utilizado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
- IBGE. (grifo nosso)

Veja-se que a legislação determina como critério de configuração da


cor parda o parâmetro adotado pelo IBGE, o qual, a seu turno, assim define o que
venha a ser parda (Doc. 06):
cor ou raça (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios)
1
Fonte: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12288.htm .Consulta em 24/06/2020.
2
Fonte: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l12990.htm . Consulta em 24/06/2020.
Característica declarada pelas pessoas com base nas seguintes
opções: branca, preta, amarela (pessoa de origem japonesa,
chinesa, coreana etc.), parda (mulata, cabocla, cafuza, mameluca
ou mestiça de preto com pessoa de outra cor ou raça) ou indígena
(pessoa indígena ou índia).3 (grifo nosso)

A ideia de uma pessoa “parda” não se restringe à estrita identidade


visual com características fenotípicas de uma pessoa “preta”. “Pardo” não é somente
a pessoa mestiça de preto com branco, mas com pessoa de outra cor ou raça: é
parda também, entre outros, a mestiça de preto com indígena. Com efeito, se para
os efeitos de reserva de vagas admitisse-se somente determinada modalidade de
parda, necessariamente tal mister deveria estar explicitamente distinto na lei; se
assim não está, a respectiva prerrogativa estende-se às outras modalidades de
parda.

Quer se dizer com isso, que a configuração de uma pessoa como


parda não pode se restringir ao que subjetivamente uma comissão entende ou não.
Essa questão é tão evidente, que nem mesmo a lei conferiu a pessoas além da
titular a afirmação de parda. Tanto o é, que se aplica ao caso o princípio geral de
direito segundo o qual Ubi lex non distinguit nec nos distinguere debemus (onde a lei
não distingue, não pode o intérprete distinguir): se a lei não distinguiu que tipo de
parda tem direito à reserva de vagas, restringindo-se a dizer que a definição de
parda é aquela delineada pelo IBGE, então a interpretação é inexoravelmente no
sentido de que todas as modalidades contidas em tal delineamento do que
venha a ser parda são contempladas. Consequentemente, se o IBGE afirma que a
cor parda pressupõe não só a mestiça de preto com pessoa de outra cor ou raça
mas também a mulata, cabocla, cafuza e a mameluca, então também estas devem
ser compreendidas para efeito de reserva de vagas.

Carlos Maxmiliano bem elucida a questão:

Ubi lex non distinguit nec nos distinguere debemus: “Onde a lei
não distingue, não pode o intérprete distinguir.” Quando o texto
dispõe de modo amplo, sem limitações evidentes, é dever do

3
BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Anuário estatístico do Brasil. Rio de Janeiro:
IBGE, 2016, v. 76, p. 152. Dispoível em
https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/20/aeb_2016.pdf . Acesso em 18 de junho de 2020 .
interprete aplicá-lo a todos os casos particulares que se
possam enquadrar na hipótese geral prevista explicitamente;
não tente distinguir entre as circunstâncias da questão e
as outras; cumpra a norma tal qual e, sem acrescentar
condições novas, nem dispensar nenhuma das expressas.
4
(grifo nosso)

Nesse sentido:

RECURSO ESPECIAL. ADMINISTRATIVO. CONSELHO REGIONAL


DE ENFERMAGEM. COMPETÊNCIA DE FISCALIZAÇÃO.
ENFERMEIROS MILITARES. INTERPRETAÇÃO RESTRITIVA
DAS REGRAS DE EXCEÇÃO. RECURSO DESPROVIDO.
[...] 7. Se as Leis 5.905/73 e 7.498/86 não fizeram restrições, é
vedado ao intérprete fazê-las, sob pena de violar o princípio da
separação dos poderes. Aliás, é princípio basilar da hermenêutica
que não pode o intérprete restringir onde a lei não restringe ou
excepcionar onde a lei não excepciona. [...] 13. Recurso especial
desprovido. (STJ, REsp 853.086/RS, Rel. Ministra DENISE
ARRUDA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 25/11/2008, Dje
12/02/2009, grifo nosso)

Com efeito, é princípio geral de direito que a lei não contém palavras
inúteis (verba cum effectu sunt accipienda), pelo que bem a propósito é o
esclarecimento de Brett M. Kavanaugh:

Se possível, toda palavra e toda expressão deve ser dada


efeito (verba cum effectu sunt accipienda). Nenhuma deve ser
ignorada. Nenhuma deve receber desnecessariamente uma
interpretação que faça com que duplique outra expressão ou
não tenha nenhuma consequência.5

Assim, quando a lei estipula expressamente que o quesito cor ou raça


deve ser o usado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), revela-se claramente que não se adstringe o pardo a quem o seja em razão
de afrodescendência próxima, ou bem assim o seja em razão de serem somente os
pais branco e preto respectivamente.

Bem a propósito explica José Eustáquio Diniz Alves:

4
MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e aplicação do direito. 20. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011, p. 201.
5
No original: “If possible, every word and every provision is to be given effect (verba cum effectu sunt
accipienda). None should be ignored. None should be needlessly be given an interpretation that
causes it to duplicate another provision or to have no consequence”. In KAVANAUGH, Brett M. Fixing
Statutory Interpretation. Harvard Law Review, Harvard, v. 129, n. 8, jun. 2016, p. 2.163.
Fica evidente pela definição do manual do recenseador do IBGE que
pardo não é “marrom”, “trigueiro”, “escurinho” ou uma outra
tonalidade de cor entre o branco e o preto. Pardo, na definição do
manual é uma mistura de cor, ou seja, é uma pessoa gerada a
partir de alguma miscigenação, seja ela “mulata, cabocla, cafuza,
mameluca ou mestiça”. Sem dúvida são pardos os filhos de
indivíduos brancos (ou indígenas) com pretos – afrodescendentes. 6
(grifo nosso)

E no caso em tela, a aluna prova por meio da prova anexa, que tem em
sua ancestralidade a aludida “mistura de cor”, na medida em que fora gerada a partir
de uma miscigenação entre seus ascendentes, bem como, antes disso, entre os
ascendentes destes.

3. Da existência de traços fenotípicos de parda da aluna. Da possibilidade de


prova por meio de fotos.

Em que pese a denúncia perpetrada, não se trata de declaração falsa,


pois a Aluna preenche todas as caracacterísticas fenótipas do conceito de parda.

No presente caso, conforme fotos em anexo, a Aluna se enquadra


perfeitamente ao fenótipo pardo ao contar com características próprias da raça que
não são publicamente consideradas brancas.

Outrossim, a se julgar pelos traços característicos, verifica-se que


simples cotejo visual das fotos do pai e dos avós paternos da Aluna (Docs. 07, 08
e 10) já denotam a condição de parda. Ainda, apresenta fotos dos tios paternos
(Doc. 09) e avós maternos (Doc. 11), que corroboram a condição de parda.

E mais: resta claro, pela análise de suas fotos pessoais, que a aluna
possui traços fenotípicos que a caracterizam como parda.

Ressalte-se que a prova dos traços fenotípicos por meio de fotos é


admitida, conforme já vaticinou a jurisprudência:

6
Disponível em https://www.ecodebate.com.br/2010/06/28/a-definicao-de-corracado-ibge-artigo-de-jose-
eustaquio-diniz-alves/ . Consultado em 18 de junho de 2020.
AGRAVO INTERNO EM MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO
PÚBLICO PARA CARGO DE ANALISTA AMBIENTAL. COTAS
RACIAIS. COMPROVAÇÃO DO FENÓTIPO. DECISÃO
MONOCRÁTICA QUE DEFERIU A LIMINAR PLEITEADA.
PRESENÇA DOS REQUISITOS PARA A CONCESSÃO DA
LIMINAR. MANUTENÇÃO DA DECISÃO AGRAVADA. AGRAVO
INTERNO IMPROVIDO. UNANIMIDADE. I. No caso em análise,
presente o fumus boni iuris, especialmente porque a impetrante
demonstrou por meio de resultados de avaliação de outros
concursos, além de cópias de fotos dela e de seus familiares,
possuir fenótipo com característica de afrodescendência e, o
periculum in mora, uma vez que a agravada logrou aprovação em 1º
lugar na cota racial e em 3º lugar na ampla concorrência do certame
e podendo perfeitamente prosseguir nas demais etapas. II. Restou
devidamente comprovados os requisitos autorizadores da concessão
da liminar, ou seja, a relevância do direito invocado e a possibilidade
de lesão irreparável ou de difícil reparação, devendo ser mantida a
decisão ora agravada. III. O agravante não apresentou nenhum
argumento que contrarie os fundamentos da decisão atacada. IV.
Agravo interno improvido. Unanimidade. (TJMA, Primeiras Câmaras
Reunidas, Agravo Interno nº 030881/2017, Rel. Des. Raimundo
Barros, julgado em 17/11/2017, publicado em 23/11/2017, grifo
nosso)

ADMINISTRATIVO. CONCURSO PÚBLICO. COTAS RACIAIS.


CRITÉRIO DE AUTODECLARAÇÃO. COMISSÃO DE
VERIFICAÇÃO. CRITÉRIO DE HETEROIDENTIFICAÇÃO.
IRREGULARIDADE NA AVALIAÇÃO. FUNDAMENTAÇÃO
PRECÁRIA. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA. 1. Não há ilegalidade
na adoção de critério misto ou complexo para aferição da condição
de 'candidato afro-brasileiro negro', já que o método encontrado pela
Universidade para distinção dos cotistas não delega ao aluno a
prerrogativa inquebrantável de, juiz de si mesmo, decidir, com foros
de definitividade e sem qualquer juízo posterior, sobre o seu próprio
enquadramento na reserva de cotas (AI n.º 5013014-
94.2012.404.0000, 4ª Turma, julgado em 05/12/2012; AC n.º
0002572-96.2009.404.7102, 3ª Turma, D.E. 22/09/2011; AG n.º
5010581-15.2015.404.0000, 3ª Turma, julgado em 25/03/2015).
2. Em contrapartida, nada impede que se questione a avaliação
procedida pela comissão avaliadora, quando equivocada ou ausente
fundamentação razoável. Daí a exigência de fundamentação no
parecer da comissão, com lastro em elementos de prova
consistentes. Conforme já atentado pela Desembargadora Vivian
Josete Pantaleão Caminha, a necessidade de a entidade realizar
algum tipo de controle para coibir os abusos e usos indevidos
do sistema de cotas raciais não torna, por si só, legítima a
simples avaliação física para verificação subjetiva do fenótipo
ou aparência do candidato, sendo imprescindível uma análise
de seu histórico familiar e pessoal e também cultural e ancestral.
Caso contrário, a decisão da comissão pode beirar a arbitrariedade.
3. As fotos que instruem a inicial (evento 1 - INIC1, OUT18,
FOTO9, evento 11 - FOTO4 e FOTO5 da ação originária) indicam,
sobretudo no tocante ao fenótipo cor da pele e tipo de cabelo,
que ela pode ser qualificada, no mínimo, como de cor parda, o
que é corroborado pelos traços aparentes de sua mãe (evento 1 -
OUT17). Como observou o juiz, a autora, embora parda, comprovou
que a mãe (Ambosina Duarte Balhego é negra conforme as fotos
juntadas no evento 1, INIC1 e evento 1, OUT7 e evento 1, RG5, de
modo que milita em seu favor o critério de ancestralidade. (TRF4, AC
5004683- 31.2015.4.04.7110, TERCEIRA TURMA, Relatora MARGA
INGE BARTH TESSLER, juntado aos autos em 19/02/2016, grifo
nosso)

In casu, conforme análise das fotos dos familiares e da própria Aluna,


verifica-se que ela possui traços fenotípicos de parda, inclusive de parda mestiça de
afrodescendente.

4. Da validade da autodeclaração de parda por expressa disposição legal e


ausência de quesitos objetivos. Do histórico familiar, pessoal, cultural e
ancestral da Aluna (pertencimento).

O histórico familiar e cultural da Aluna confirma a condição de parda e,


consequentemente, a validade da autodeclaração.

Segundo a Lei nº 12.711/12 7, em seu artigo 1º, caput, "As instituições


federais de educação superior vinculadas ao Ministério da Educação reservarão, em
cada concurso seletivo para ingresso nos cursos de graduação, por curso e turno,
no mínimo 50% (cinquenta por cento) de suas vagas para estudantes que tenham
cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas.".

O artigo 3º, caput, da mesma lei determina:

Art. 3º. Em cada instituição federal de ensino superior, as vagas de


que trata o art. 1o desta Lei serão preenchidas, por curso e turno, por
autodeclarados pretos, pardos e indígenas e por pessoas com
deficiência, nos termos da legislação, em proporção ao total de vagas
no mínimo igual à proporção respectiva de pretos, pardos, indígenas
e pessoas com deficiência na população da unidade da Federação
onde está instalada a instituição, segundo o último censo da
Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE.

Logo, o critério da autodeclaração para caracterização da candidata


como pessoa parda decorre da expressa determinação legal, sem nenhuma

7
Fonte: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12711.htm Consulta em 25/06/2020.
previsão de quesitos objetivos para a confirmação da autodeclaração.

Ademais, em qualquer análise a respeito de acatamento de


autodeclaração de etnia de candidato, avalia-se algo de caráter quase subjetivo
através de seus traços mais detectáveis objetivamente, como avaliação física,
histórico familiar e pessoal e também cultural e ancestral.

Observa-se das FOTOS mencionadas no tópico anterior e que


acompanham esta defesa, que a Aluna cresceu com a ideia de pertencimento,
especialmente através do vínculo paterno, à condição de parda.

Repita-se: não é legítima a simples avaliação física por uma comissão


da Universidade, para verificação subjetiva do fenótipo ou aparência da candidata.

Nesse sentido:

ADMINISTRATIVO. CONCURSO PÚBLICO. COTAS RACIAIS.


CRITÉRIO DE AUTODECLARAÇÃO. COMISSÃO DE
VERIFICAÇÃO. CRITÉRIO DE HETEROIDENTIFICAÇÃO.
IRREGULARIDADE NA AVALIAÇÃO. FUNDAMENTAÇÃO
PRECÁRIA. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA. [...] a necessidade de
a entidade realizar algum tipo de controle para coibir os abusos
e usos indevidos do sistema de cotas raciais não torna, por si
só, legítima a simples avaliação física para verificação subjetiva
do fenótipo ou aparência do candidato, sendo imprescindível
uma análise de seu histórico familiar e pessoal e também
cultural e ancestral. Caso contrário, a decisão da comissão pode
beirar a arbitrariedade. 3. As fotos que instruem a inicial (evento 1 -
FOTO3 da ação originária) indicam, sobretudo no tocante ao fenótipo
cor da pele e tipo de cabelo, que ela pode ser qualificada, no mínimo,
como de cor parda, o que é corroborado pelos traços aparentes de
sua família. Como observou o juiz, a confirmar o conteúdo da
autodeclaração, as fotos do documento 3 do evento 1,
corroboram, na linha dos fundamentos antes exarados, que a
autora é efetivamente de família de negros. (TRF4, AC 5006241-
38.2015.404.7110, TERCEIRA TURMA, Relatora MARGA INGE
BARTH TESSLER, juntado aos autos em 18/05/2016 – grifamos)

Portanto, devem ser considerados elementos de contexto em que se


insere o cidadão, desde seu trabalho, participação cultural e social sobre a temática
da raça, como forma de demonstrar o pertencimento real à condição
afrodescendente. É necessário que o indivíduo perceba a si mesmo como
pertencente a esse grupo, que a sua identidade esteja a ele vinculado – o que se
resta provado pelos documentos aqui juntados, especialmente fotos.

Por fim, cumpre destacar que o Edital do Processo Seletivo 2015-2


NÃO traçava critérios estritamente objetivos para a conceituação e enquadramento
de parda, tampouco formação de comissão avaliadora. Assim, na falta de
estabelecimento de critérios objetivos, adota-se interpretação em favor da
Candidata/Aluna, porque o direito de acesso à educação é um direito fundamental
previsto na Constituição Federal.

5. Considerações finais

Cumpre destacar que a Aluna alcançou a 1.ª colocação (Doc. 01 –


Classificação no Processo Seletivo) para ingresso no curso de Bacharel em
Odontologia no segundo semestre do ano de 2015, com excelente pontuação (Doc.
01-A – Lista de Aprovados).

Observa-se, ainda, que a Aluna demonstra dedicação ímpar durante


todo o curso, seguindo a vida acadêmica ao longo de todos os semestres desde o
ingresso no curso, com êxito, zelo e destaque, sempre obtendo excelentes notas
(Doc. 02 – Histórico).

Ao longo dos anos, participou ativamente de diversos Congressos


(Doc. 03 – Certificados), além de Monitorias e Projetos (Doc. 04 – Certificados),
destacando-se quanto ao conteúdo dos temas, sempre contribuindo para a pesquisa
e enaltecimento da Universidade junto à classe estudantil e profissional.

Por fim, insta destacar que a Aluna realizou a apresentação de TCC


(Doc. 05), com defesa em 05/11/2019, devidamente APROVADA COM NOTA
MÁXIMA (100,00), conforme disposto no site:
https://repositorio.ufu.br/handle/123456789/27493 .

Desta análise, verifica-se que a Aluna já percorreu mais de 95%


(noventa e cinco por cento) do Curso de Odontologia até o momento, inclusive com
aprovação de TCC cursando, agora, o último semestre para conclusão do curso.

Cumpre destacar que a manutenção da Aluna no Curso de Odontologia


não gera prejuízo para a Universidade, considerando o histórico diferenciado da
estudante, bem como toda a produtividade promovida ao longo da vida acadêmica.

E mais: há que se ressaltar a ausência de má-fé da Aluna, eis que,


conforme provado, a Aluna possui fundadas razões para se declarar parda.

Por todo o acima exposto, pugna pela improcedência da denúncia, com


a consequente manutenção da Aluna no Curso de Odontologia desta r.
Universidade.

Uberlândia, 30 de junho de 2020.

p.p. Kátia Signorini de Freitas


OAB/MG 107.771

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