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RELATÓRIO

RACISMO INVERSO E VITIMISMO - O POLITICAMENTE CORRETO ESTÁ


INCORRETO?

A luta dos negros é pelos direitos sociais garantidos na Constituição


Federal de 1988. Mas ao longo do caminho, encontramos mentiras, falsas
justificativas e distorções sobre a história africana e afro-brasileira,
especialmente a escravidão e essa história. resultado. Na realidade, as
populações negras enfrentam muitos obstáculos que lhes dificultam o
recebimento de reparações históricas e o acesso aos direitos sociais. Em meio
a essas questões complexas, podemos ver brancos acusando negros de
racismo, ou racismo reverso, mas isso é um absurdo.
Esta é uma tática para confundir os ignorantes, criar apego entre os
opressores e transferir a responsabilidade para as verdadeiras vítimas. Quando
aplicamos uma perspectiva crítica à realidade, percebemos que a maioria da
população negra está excluída da possibilidade de viver uma vida menos
humana. Esta situação resulta, sem dúvida, da manipulação ideológica da
branquitude que reforça as estruturas raciais e retira os negros do poder.
Portanto, qualquer alegação que ignore o observado constitui uma perseguição
injusta e injustificada.
Este caso é interessante do ponto de vista jurídico. Isso porque é
possível analisar se é possível cometer crimes raciais contra pessoas brancas
(“racismo reverso”), especialmente à luz da inovação promovida pelo
acréscimo do artigo 20 na Lei 14.532/2023. C, a Lei 7.716/89 (Lei
Antidiscriminação Racial) dispõe: “Ao interpretar esta lei, os juízes devem
considerar como discriminação qualquer atitude ou tratamento de um indivíduo
ou grupo minoritário que cause vergonha, humilhação, constrangimento, medo
ou nudez... por causa de cor, raça, religião, origem, etc. isso, é um grupo que
geralmente não é excluído de outros grupos.”
Como se pode perceber, trata-se de uma norma hermenêutica que visa
orientar os juízes (e demais operadores do direito) na aplicação da lei,
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especialmente na classificação de crimes de discriminação racial. No entanto,
importa referir que os regulamentos em questão não são apenas contraditórios
do ponto de vista ideológico, mas também estão muito mal redigidos, dando
origem a diferentes entendimentos.
Por exemplo, a primeira tendência defendia que o Artigo 20-C retiraria o
chamado “racismo reverso” da proteção da Lei 7.716/89, de modo que atos de
discriminação contra minorias e pessoas vulneráveis fossem meros crimes de
discriminação racial. A este respeito, Jamila Ribeiro disse: “Não existe racismo
entre negros e brancos, nem existe o famoso racismo reverso que gostam de
chamar.” Primeiro, você precisa se ater ao conceito.”
O racismo é um sistema de opressão e para que o racismo exista é
necessário que haja relações de poder. Os negros não têm o poder
institucional para serem racistas. Os negros enfrentam uma história de
opressão e violência que os exclui. Para que houvesse racismo reverso, teria
que haver navios brancos, mais de trezentos anos de escravidão dos brancos e
a negação dos seus direitos. Os brancos morrem porque são brancos?
Por outro lado, vemos a segunda corrente no sentido de que o artigo
20-C constitui, na verdade, uma norma hermenêutica que pode ser utilizada
para preencher lacunas jurídicas, ampliando o alcance dos tipos de delitos
previstos na Lei 7.716/89. . Outras formas de discriminação e preconceito não
explicitamente previstas neste diploma, desde que tais condutas resultem ou
promovam a marginalização de grupos minoritários. Sob esta premissa, é
possível classificar os atos discriminatórios com base na idade ou na condição
das pessoas com deficiência como, por exemplo, racismo. Essa norma também
servirá de base para fortalecer a tese defendida pelo STF no HC 82.424/RS
(Racismo Social) e mais recentemente na ADO 26/DF. Aqui se estabeleceu o
entendimento de que o comportamento homofóbico é uma característica do
racismo. crime.
A terceira corrente sustenta a inconstitucionalidade do artigo 20-C,
porque viola o objetivo da República estipulado no artigo 3, inciso IV da
Constituição, que preconiza o combate a todas as formas de discriminação ou
discriminação de opinião, ou porque viola leis legais. princípios, especialmente
na visão do “direito definido e definitivo”. Nessa situação, as lições de Eduardo

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Cabette são valiosas no que diz respeito à norma em questão: Em última
análise, este dispositivo requer habilidades de adivinhação sobre-humanas do
juiz. A necessidade de inferir, por assim dizer, se “o constrangimento, a
humilhação, o constrangimento, o medo ou a exposição injustificada” é
“normalmente” infligida a certos grupos sociais com base na “cor da pele, etnia,
religião ou origem nacional”. é. (...) a hermenêutica de que no microssistema
dos crimes racistas, elementos normativos gerais ou permanentes
completamente indeterminados não podem florescer face ao "rigoroso princípio
da legalidade". Para introduzir a norma de orientação no mundo do direito, o
seguinte ensaio é necessário. O significado é claramente definido e
estabelecido semanticamente.
Na verdade, é necessário justificar os proponentes desta última
tendência e reconhecer a inconstitucionalidade da secção 20C da Lei de
Discriminação Racial com base em todos os argumentos listados acima. Se
limitarmos a caracterização de crimes racistas a atos de segregação contra os
chamados grupos minoritários, como propõe a primeira tendência aqui
delineada, então o comportamento em questão é, em última análise, não
caracterizaria os crimes de pessoas e de povos afro-americanos.
Contudo, como salientámos, a Constituição proíbe todas as formas de
discriminação, exceto, claro, as formas afirmativas de discriminação. É por esta
razão que atravessamos momentos difíceis, o discurso de ódio contra as
minorias é celebrado como um exemplo da chamada superioridade moral, em
que o relato humanístico dos processos civilizatórios é posto em causa.
A “construção” do racismo reverso é um exemplo, especificamente no
caso do Brasil, que representa uma grave falha na explicação da realidade
histórica da nossa constituição social, associada a uma concepção distorcida
dos movimentos sindicais no Brasil, aos olhos de uma classe que sempre
detém os meios e bens de produção. Por fim, o Estado brasileiro nunca
incentivou a repressão sistemática dos estilos de vida e hábitos de grupos
sociais, nunca incentivou o assédio de seitas e crenças ancestrais à religião de
seus súditos, nunca explorou veementemente as culturas e os corpos dos
indivíduos, com exceção dos negros. Reafirmamos, portanto: não existe
racismo reverso.

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Referências:

CABETTE, Luiz Eduardo Santos. Nova lei sobre discriminação racial


conforme Lei 14.532/2023. Leme, SP: Mizuno, 2023. p. 45.

DOUGLAS, William. Todo racismo é racismo: lei 14.532/2023, racismo


extremo e racismo reverso. Disponível: ConJur – William Douglas: Todo
racismo é racismo – Lei 14.532/2023. Acessado em 1º de novembro de 2023.

BRASIL. Lei nº 3.353, de 13 de maio de 1888. Declarada extinta a


escravidão no Brasil. Coleção de leis do Império do Brasil. Disponível em:
https://cutt.ly/szyZMux. Acessado em 2 de novembro de 2023.
CAMPOS, Luiz Augusto. Racismo tridimensional: uma abordagem crítico-
realista. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 32, nº 95, pág. 1 a 19 de
janeiro de 2017. Disponível em: https://cutt.ly/BzyKYDp. 2 de novembro de
2023.
FONSECA, Marcus Vinicius. A arte de construir o invisível: o negro na
história da educação brasileira. Revista Brasileira de História da Educação,
v. 13 de janeiro de 2007. Disponível em: https://cutt.ly/Kzye3U5. 02 tháng 11
2023.
RIBEIRO, Djamila. Quem tem medo do feminismo negro? São Paulo:
Companhia das Letras, 2018, tr. 41.

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