16 | JULHO | 2020

LUIZ GAMA: O PRECURSOR

DO PENSAMENTO CRÍTICO
ENTRE DIREITO E RAÇA NO
BRASIL
PLATAFORMA FEMINISMOS PLURAIS

ARTIGO SEMANAL - TIAGO VINÍCIUS

Tem ganhado cada vez mais espaço no campo

acadêmico jurídico quanto a assuntos relacionados a
direito e raça, o pressuposto de que a ideia de
democracia racial se encontra superada, ou seja, a
miscigenação cultural e biológica entre negros e brancos
não é compreendida de forma absoluta como um
impeditivo de práticas discriminatórias. Ao contrário,
constitui-se como uma espécie de discurso de
manutenção do status quo racial que subordina a
população negra. Trata-se de uma constatação
importante, pois, a produção acadêmica tem ganhado
diversidade e empregado sentidos distintos sobre a
compreensão do racismo. Assim, seria possível afirmar de
forma breve que temos três perspectivas sobre o
pensamento teórico que envolve as relações entre direito
e raça. Uma perspectiva mais conservadora entende que
o Estado deve reconhecer a igualdade de todos perante a
lei e isso, por si só, é suficiente para a eliminação das
desigualdades. Uma perspectiva mais liberal, entende
que o estado brasileiro deve sair de uma posição de
neutralidade para assegurar a igualdade entre brancos e
"CONSTITUI-SE COMO UMA
negros. Para estes acadêmicos, apenas a criminalização
de comportamentos discriminatórios, como a Lei 7.716/89, ESPÉCIE DE DISCURSO DE
é insuficiente para assegurar a justiça sócio-racial e por MANUTENÇÃO DO STATUS
isso são necessárias políticas de promoção da igualdade, QUO RACIAL QUE SUBORDINA
como as cotas raciais nas universidades públicas, por A POPULAÇÃO NEGRA."
exemplo. Uma outra perspectiva adota um pensamento
crítico sem desconsiderar as medidas de enfrentamento
ao racismo apontadas pelos liberais, contudo se
apresenta de forma distinta para o debate. Para estes
acadêmicos a implementação de direitos é insuficiente
dentro de um projeto emancipatório da população negra,
na medida em que o racismo faz parte da normalidade
das práticas institucionais (racismo institucional) e está
presente em todas as dimensões da vida da população
negra e branca (racismo estrutural). Eu pretendo escrever
em um futuro breve sobre estas três perspectivas do
pensamento aqui na Plataforma Feminismos Plurais, mas
o que gostaria de chamar a atenção neste texto é com
relação ao pensamento crítico a fim de dialogarmos com
a vida e obra de Luiz Gama: um jurista negro, ex-
escravizado, escritor, poeta, jornalista, abolicionista,
republicano, enfim, uma das personalidades brasileiras
mais representativas de nossa história.

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