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O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO- ALLAN KARDEC

CAPÍTULO XXVII:  PEDI E OBTEREIS

ITENS 9 a11: AÇÃO DA PRECE. TRANSMISSÃO DO PENSAMENTO

“A prece é uma invocação: por ela nos pomos em relação com o ser a
que nos dirigimos. Ela pode ter por objeto um pedido, um agradecimento ou
um louvor. Podemos orar por nós mesmos, ou pelos outros, pelos vivos ou
pelos mortos. As preces dirigidas a Deus são ouvidas pelos Espíritos
encarregados da execução dos seus desígnios; as que são dirigidas aos Bons
Espíritos vão também para Deus. Quando oramos para outros seres, e não
para Deus, aqueles nos servem apenas de intermediários, de intercessores,
porque nada pode ser feito sem a vontade de Deus.”

Assim, inicia Allan Kardec suas explicações sobre a ação da prece,


definindo-a como uma conversa que se entabula com o ser a quem se dirige,
na qual quem ora, expressa o que sente no momento, e se abre, se expõe,
porque confia nesse recurso sublime percebido pelo homem desde o início do
seu desenvolvimento espiritual, variando a maneira do seu uso.

Todo o universo se origina do fluido cósmico universal, a matéria


elementar primitiva, que vem de Deus, através do qual o pensamento se
expande, porque esse fluido se constitui no seu veículo, assim como o ar é o
veículo do som. Ao contrário, porém, das vibrações sonoras que são
circunscritas em um determinado espaço, as vibrações “do fluido universal se
ampliam ao infinito.” (1)

Assim, todo pensamento que se dirige a alguém, de encarnado para


encarnado, de desencarnado para desencarnado, de encarnado para
desencarnado e vice-versa, forma uma corrente fluídica, entre o que emite o
pensamento e a quem ele se dirige.

Evidentemente, que a força dessa corrente fluídica se equivale à


energia do pensamento e da vontade de quem pensa.

“É assim que a prece é ouvida pelos Espíritos onde quer que eles se
encontrem; é assim que os Espíritos se comunicam entre si, que nos
transmitem as suas inspirações, e as relações que se estabelecem à distância
entre os próprios encarnados.”

Na questão 495 de O Livro dos Espíritos, no último parágrafo da


resposta de São Luís e Santo Agostinho, lemos: “São essas comunicações de
cada homem com o seu Espírito familiar que fazem médiuns todos os
homens, médiuns hoje ignorados, mas que mais tarde se manifestarão,
derramando-se como um oceano sem bordas para fazer  refluir a
incredulidade e a ignorância”

É através da mediunidade generalizada, que todos possuem, em


desenvolvimento, que todos se comunicam espiritualmente, entre si.

É por isso que a morte não separa os que se amam, visto estarem
unidos pelas vibrações dos pensamentos amorosos. O mesmo pode
acontecer entre os que se odeiam.

A diferença está nas sensações agradáveis de quem pensa e recebe


com amor, e nas sensações desagradáveis de quem pensa e recebe com
sentimento negativo.

Assim, a prece pode ter ação direta e positiva, quando sai do íntimo do
ser, com confiança, com humildade, chegando até o ser a quem se dirige,
recebendo a resposta segundo a sua necessidade espiritual, sob a vontade
de Deus, que quer o melhor para seus filhos.

Desse modo, a resposta ao pedido de algo que ainda não pode


receber, virá no fortalecimento das suas energias para vencer a situação
difícil, no estímulo a perseverar na resignação ativa, no cumprimento dos
seus deveres.

A prece atrai os bons Espíritos, que auxiliam, sempre, inspirando boas


ideias, estimulando o esforço de correção de erros, ou o esforço de afastar-se
do mal, resistindo às tentações internas, enfim o socorro sempre virá.

No estágio evolutivo em que vivemos, o recuso da prece se constitui


em uma vacina contra nossas tentações internas de acomodação, de
conformação aos valores terrenos, ao mesmo tempo, que se constitui no
remédio para as nossas fraquezas morais, estimulando-nos ao esforço
contínuo de renovação interior, expressando-se para o exterior. 

“A prece é a expressão mais alta do pensamento e da vontade. É neste


sentido que Allan Kardec a recomendava aos seus discípulos.” (2)

 Como já temos visto, o espiritismo esclarece que a prece só tem valor


quando o pensamento, refletindo sentimentos nobres, é impulsionado através
do fluido cósmico universal, formando um caminho de luz até a quem a prece é
dirigida.

Para isso, é necessário que esse pensamento expresse ideias claras,


inteligíveis para quem as diz. Ora, como pode uma prece recitada em língua
não conhecida, expressar o que a pessoa sente e pensa, ou o que acompanha
essa prece, sem entendê-la?
Assim também, quando o cristão ora, na sua língua, a prece do Pai
Nosso, por exemplo, se ele apenas a recitar com os lábios, sem perceber, no
momento da oração, as ideias colocadas por Jesus, essa prece não sai de si
mesmo, porque não tem a força fluídica do pensamento para elevar-se, para
transcender-se.

A eficácia da prece não está nunca nas palavras, mas nas ideias
representadas pelas palavras, vindas dos sentimentos de confiança no amor,
na sabedoria, na misericórdia de Deus, que deu esse recurso sublime de
ligação entre Ele, Seus mensageiros do Bem e todos os seus filhos.

Um apelo sincero e confiante: “Inspirai-me, Senhor, neste instante em


que me sinto indeciso, sem saber o que e como decidir”, vale muito mais do
que qualquer oração decorada ou dita com palavras bonitas, mas sem
significado, ininteligíveis, portanto, sem “tocar o coração” de quem a diz.

Considerando a prece uma conversa com alguém superior, que


necessidade tem de repeti-la vezes seguidas? Deus “Inteligência suprema e
causa primária de todas as coisas” precisa dessa repetição?  Quem a diz
muitas vezes em seguida, o faz, realmente com fervor, ao repetir sempre as
mesmas palavras?

Penso que, nessas repetições, valoriza-se mais as palavras em si


mesmas, do que as ideias e os sentimentos que elas representam.

Deus não precisa das nossas preces, nós é que precisamos delas para
nos dirigirmos a Ele e Seus mensageiros, para demonstrarmos nosso amor a
Ele e a nossa confiança n’Ele; para pedirmos o que nos falta, ou algo de que
necessitamos no momento, e que não encontramos dentro de nós; para
agradecer as bênçãos de todos os dias, as agradáveis e as desagradáveis, as
quais nos impulsionam a melhorarmo-nos; para pedirmos auxílio a outros que
desejamos ajudar...

Em assim fazendo, exercitando a prece, continuamente, estamos nos


mantendo ligados aos bons Espíritos, e exercitando a humildade, a caridade, e
todas as virtudes que precisam crescer dentro de nós, a fim de nos tornarmos,
um dia, Espíritos inteligentes e bons.

 Podemos ainda, na primeira frase do texto acima, transferir esses


ensinamentos, para a comunicação entre as pessoas, nos relacionamentos
cotidianos, na necessidade da clareza das frases, da objetividade na expressão
das ideias, evitando-se desentendimentos capazes de gerar desavenças às
vezes bem graves entre amigos e entre adversários.

1 - Para melhor entendimento, ver A Gênese, de Allan Kardec, cap.


XIV: Os Fluidos.
  2 – Leon Denis, citado no livro “Leon Denis na Intimidade” de Claire
Baumard, pág 228 ed. O Clarim, 1ª ed.

“Se eu, pois, não entender o que significam as palavras, serei um estrangeiro
para aquele a quem falo; e o que fala, se-lo-á para mim do mesmo modo. Porque se eu
orar numa língua estrangeira, verdade é que o meu espírito ora, mas o meu entendimento
fica sem fruto. Mas se louvares apenas com espírito, como dirá Amém sobre a tua benção,
o ignorante, depois da tua ação de graças, visto não entender ele o que tu dizes? Verdade
é que tu dás bem as graças, mas o outro não é edificado.” (Paulo, I Coríntios, XIV:11,14,16
E 17)

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