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1 Introdução
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Esse trabalho responde ao chamado de produção de um crítica criminológica
efetivamente comprometida com as tensões raciais que pretende denunciar. Diferente
do que hegemonicamente se viu desenvolver no campo consagrado como da
criminologia crítica no Brasil e América Latina, trata-se de uma abordagem que enfrenta
as causas da seletividade penal (racismo, sexismo, heteronormatividade compulsória,
capitalismo e colonialidade) de maneira imbricada.
Estamos afirmando, entre outras coisas, que não basta dizer que há seletividade racial e
de gênero no modo de atuação dos órgãos de justiça criminal. Algo que pode parecer
revelador para importantes representantes da criminologia crítica no Brasil, é
experimentado de maneira indiscutível e secularmente pelos corpos privilegiados do
sistema de (in)justiça criminal que tomamos para análise.
Buscamos um novo ponto de partida, para que seja desenvolvida uma abordagem
estrutural das tensões raciais no Brasil e seus desdobramentos nas relações
institucionais de controle, governo e extermínio de corpos. A racialização do branco
impede que ele se configure como sujeito universal e permite perceber os códigos
através dos quais o racismo opera estruturalmente, conformando brancos, não brancos e
instituições racistas. Ao racializar a crítica criminológica será possível perceber não
apenas os efeitos do racismo institucional dos órgãos de criminalização primária,
secundária e terciária sobre brancos e não brancos, mas também o seu impacto sobre o
funcionamento de outras formas de dominação e opressão. Dito de outra maneira, não
renunciar a categoria raça ajuda a entender melhor como funciona o patriarcado, a
heteronormatividade e a luta de classes. (PIRES, 2017).
Nesse sentido, na primeira parte desse artigo serão recuperadas algumas narrativas que
representam a crítica que pretendemos interpelar, bem como enunciadas algumas das
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Criminologia crítica e pacto narcísico: por uma crítica
criminológica apreensível em pretuguês
O pretuguês, tal como desenvolvido por Lélia Gonzalez, será tratado mais
adequadamente no item 3. Por ora, é suficiente caracterizá-lo como expressão que
destaca que o português culto falado no Brasil é carregado de sonoridade e influência
das muitas línguas faladas no continente africano (trazidas para cá pelos corpos
escravizados) e nas etnias indígenas que viviam no território brasileiro. Ao reconhecer
isso, pretende-se não apenas o reconhecimento linguístico dessa herança, mas
notadamente, racializar para politizar a maneira pela qual se determina ‘quem fala’,
‘quando fala’ e ‘em que termos pode falar’. Falar em pretuguês é falar em primeira
pessoa, assumindo a defesa radical de nossa humanidade negada e impondo a
tonicidade aos aspectos que nos afetam, sem as mediações e traduções distorcidas que
a branquitude insistiu em (re)produzir.
Tomar consciência dos silêncios reproduzidos e códigos pelos quais a branquitude operou
nesse campo de estudos é fundamental para que possamos produzir alternativas
potentes ao brutal e perverso modelo de desumanização de corpos que ancora a
criminologia e sua crítica contemporânea.
Tendo como agenda de pesquisa a disputa por uma decolonialidade de perspectiva negra
e como principal farol de orientação a categoria de amefricanidade proposta por Lélia
Gonzalez, esse espaço se apresenta como lugar privilegiado de reflexão e crítica sobre
contextos nos quais a imbricação entre raça, gênero, classe e colonialidade nos capacita
a confrontar a realidade que herdamos.
Assim como Ana Flauzina se define em recente artigo publicado pela revista Discursos
Sediciosos (FLAUZINA, 2017), me coloco nesse espaço como “visitante do clube
criminológico”, alguém que vem da filosofia política e da teoria constitucional e encontra
na discussão criminológica um, dentre outros caminhos possíveis, para dar conta de
(re)existir em meio ao genocídio. O genocídio do povo negro, problema levantado por
Abdias Nascimento (1978), pelo menos desde a década de 1970, pode oferecer uma
chave de compreensão estrutural sobre os efeitos do racismo no Brasil, notadamente
quando se pretende refletir sobre os mecanismos institucionais através dos quais o
Estado controla, acondiciona, fragiliza e extermina corpos. Tal como será desenvolvido
oportunamente.
Inicialmente, é importante destacar que a conversa proposta nesse artigo só faz sentido
entre perspectivas teóricas comprometidas com uma abordagem crítica do direito,
especialmente do direito penal e processual penal, abordando o sistema de justiça
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Criminologia crítica e pacto narcísico: por uma crítica
criminológica apreensível em pretuguês
Com enfoque multidisciplinar, crítico e radical pensadores como Rosa del Olmo, Lola
Aniyar, Tosca Hernández, Myrla Linares, Eduardo Novoa, Alvaro Bunster, Luis Marcó Del
Ponto, Roberto Bergalli, Emilio Méndez, Elías Carranza, Gustavo Cosavoc, Juan Pegoraro,
Enrique Marí, Raúl Zaffaroni, Heleno Fragoso, Ester Kosovski, Nilo Batista, Juarez
Tavares, Juarez Cirino, Emiro Sandoval, Fernando Rojas, Mauricio Martínez e Juan
Sepúlveda denunciaram os problemas específicos da região: “estrutura social muito
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criminológica apreensível em pretuguês
Esse é o projeto que para nós faz sentido disputar. Buscamos recuperar o contato com
os criminológos críticos que, a partir da demonstração da racialização do sistema penal e
da seletividade racial do controle social promovido pela norma penal, tornaram-se
aliados históricos dos movimentos negros e evidenciar alguns dos motivos que nos
distanciou nesse mesmo percurso. Juntamo-nos, assim, aos esforços já desenvolvidos
por Ana Flauzina (2008, 2016 e 2017), Felipe Freitas (2016), Evandro Piza, Camila
Prando, Ricardo Cappi e Marcia Calazans (2016).
Nesse sentido, pode-se aproximar essa leitura daquelas que Guerreiro Ramos identifica
como abordagens do “negro-tema”, perspectivas que tomam o negro como mero objeto
mumificado, tornado transparente (1995, p. 215). Apesar de divergentes nas
conclusões, pode-se aproximar a leitura do negro que subjaz à crítica criminológica
daquelas que forjaram a auto-imagem oficial do negro no Brasil, como as desenvolvidas
por Sylvio Romero, Euclides da Cunha, Alberto Torres, Oliveira Viana e Nina Rodrigues,
para citar apenas os autores com os quais Guerreiro Ramos se confrontou mais
diretamente. Racismo institucional é algo que não ocorre apenas nos órgãos de
criminalização, mas que opera, inclusive, entre aqueles e aquelas que se dispuseram a
pensar criticamente o campo criminológico, exatamente porque não romperam com o
pacto narcísico de sua branquitude.
A luta antirracista é uma disputa de branco(a)s e não branco(a)s, cada um(a) do seu
lugar, entendo as nuances em que o racismo opera sobre cada experiência. Se é certo
que o racismo forja branca(o)s e não branca(o)s, é preciso que não se esqueça de que o
sistema de desvantagens sistêmicas que afetam negra(o)s, tem na sua contra-face o
modelo de privilégios e vantagens históricas usufruídos por branca(o)s.
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Análises que se intitulam comprometidas com a denúncia da seletividade racial do
sistema penal, mas que menosprezam ou sequer consideram a agenda política dos
movimentos negros, de mulheres e indígenas no Brasil só podem ser compreendidas se
os códigos da branquitude estiverem visíveis. Apesar de se esconder em uma suposta
invisibilidade, a identidade racial branca é anunciada ou tornada invisível, dependendo
dos interesses em conflito. Entender os meandros de operação do pacto narcísico é
fundamental para que possamos repactuar (criminologia crítica e movimentos negros,
por exemplo) o compromisso comum pela luta antirracismo.
Falar em racismo ou nos seus efeitos sem se comprometer na análise é um dos sintomas
do pacto narcísico. De acordo com Cida Bento (2002) há um acordo tácito entre os
brancos de não se reconhecerem como parte essencial na permanência das tensões
raciais no Brasil. A referência ao passado colonial-escravista é feita em termos que
isentam o branco desse legado. É como se ele só tivesse produzido pobreza,
desumanidade e violência para negros, mulheres, indígenas, lésbicas, gays,
transvertigêneros, não cristãos, não proprietários, pessoas com deficiências, mas qual foi
o resultado para os homens, brancos, heteros, cristãos, proprietários e sem deficiência?
Evitar focalizar o branco é evitar discutir as diferentes dimensões do privilégio e tem
um forte componente narcísico de autopreservac�ão.
que nesses termos se enuncie. A herança branca da escravidão só pode ser resguardada
em um contexto que reforça a inferioridade negra, bem como sua memória, saberes e
agência.
Recorremos novamente a Ana Flauzina (2015), para afirmar que há uma miopia
generalizada que impede que se enxergue o sistema de justiça criminal como
instrumento apoiado, fundamentalmente, na vulnerabilização e exploração de mulheres
negras em todos os níveis de sua intervenção, pelo engendramento do terror sexual e do
terror racial como a matriz central da punição.
Se é para seguir aplicando à criminologia crítica o método da teoria social, porquê não
substituir Florestan Fernandes por Guerreiro Ramos, Virgínia Leoni Bicudo, Lélia
Gonzalez e demais pensadora(e)s que trabalharam o racismo na perspectiva do
negro-vida e do branco como ser histórica e socialmente racializado? Os processos de
normalização questionados pelas lentes de classe precisam alcançar outros padrões a ele
imbricados, sob pena de não ser possível descolonizar a criminologia. A ótica de classe
não racializada e não genderizada produziu interpretações sobre a realidade que
negaram a dimensão estrutural e estruturante da raça e gênero e desenvolveram chaves
de compreensões capazes de se aplicar apenas à classe trabalhadora branca, masculina,
hétero.
Conforme enunciado acima, partimos do pressuposto de que uma das formas através
das quais o sistema de justiça criminal opera é através do sequestro da palavra. Mesmo
nas experiências mais garantistas, a palavra segue subtraída dos sujeitos envolvidos
com a prossecução penal.
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Criminologia crítica e pacto narcísico: por uma crítica
criminológica apreensível em pretuguês
Durante séculos temos carregado o peso dos crimes e dos erros do eurocentrismo
‘científico’, os seus dogmas impostos em nossa carne como marcas ígneas da verdade
definitiva. Agora devolvemos ao obstinado segmento ‘branco’ da sociedade brasileira as
suas mentiras, a sua ideologia de supremacismo europeu, a lavagem cerebral que
pretendia tirar a nossa humanidade, a nossa identidade, a nossa dignidade, a nossa
liberdade.
Conforme Lélia Gonzalez defendeu: “(...) o risco que assumimos aqui é o do ato de falar
com todas as implicações. Exatamente porque temos sido falados, infantilizados (...), o
lixo vai falar, e numa boa” (GONZALEZ, 1983, p. 225). “O lixo vai falar” e vai confrontar
aquilo que não se quer ver, ouvir e se responsabilizar. Nesse sentido, se tivéssemos que
responder à pergunta colocada por Spivak (2010), poderíamos defender, a partir de
Lélia, que para nós, negra(o)s no Brasil, a possibilidade efetiva de fala só é possível em
pretuguês.
Tem-se por objetivo, mobilizar as categorias de análise desenvolvidas por Lélia Gonzalez
para propor uma crítica criminológica decolonial que “carrega na tinta”, que busca
racializar para politizar as disputas em torno do significado da política criminal, direito
penal e processo penal, segurança pública e direitos humanos, de modo a ser
apreensível pelos corpos que secular e desproporcionalmente aguentam os ônus dos
modelo de extermínio, controle e punição hegemônicos.
[...] Seu valor metodológico, a meu ver, está no fato de permitir a possibilidade de
resgatar uma unidade específica, historicamente forjada no interior de diferentes
sociedades que se formaram numa determinada parte do mundo. Portanto, a Améfrica,
enquanto sistema etnográfico de referência, é uma criação nossa e de nossos
antepassados no continente em que vivemos, inspirados em modelos africanos. [...]
Embora pertençamos a diferentes sociedades do continente, sabemos que o sistema de
dominação é o mesmo em todas elas, ou seja: o racismo, essa elaboração fria e extrema
do modelo ariano de explicação, cuja presença é uma constante em todos os níveis de
pensamento, assim como parte e parcela das mais diferentes instituições dessas
sociedades. (1988, p.76-77)
[É preciso] construir uma força política nesse país baseada no povo negro. Uma força
política capaz de disputar com um projeto que seja elaborado a partir da sua própria
perspectiva, do seu próprio lugar. Não o lugar da subordinação em que a sociedade tem
tentado nos atirar ao longo dos séculos, mas, o lugar do sujeito político, responsável por
seu próprio destino. Para além disso, outro aspecto que eu considero super importante
na colocação do MNU, é que não se trata de um projeto político do negro para o negro,
que seja o negro pensando para dentro de sua comunidade, mas sim o negro pensando
para a sociedade brasileira como um todo e levando em conta todos os povos, todas as
raças que a compõem. Considero que isso que dá a mudança efetiva de qualidade deste
projeto que o MNU pretende. Estamos apostando hoje na possibilidade de disputar não
mais um espaço dentro de outros projetos para as nossas questões, que são tidas como
menores. Mas nós estamos apostando na possiblidade de que, através das nossas
questões, nós consigamos efetivamente tocar, e tocar muito fundo, nas questões
nacionais, nas questões que dizem respeito à sociedade como um todo. (BAIRROS,
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Criminologia crítica e pacto narcísico: por uma crítica
criminológica apreensível em pretuguês
1991, p. 9.)
Enquanto alguns setores sociais ainda olham com desconfiança a adoção da raça como
categoria de análise para a compreensão das relações étnico-raciais e das formas de
racismo que operam em nossa sociedade e nos demais países latino-americanos, o
movimento negro brasileiro, desde as suas primeiras organizações no início do século
XX, explicita e comprova a centralidade da raça de diferentes formas e por meio de
diversas abordagens. Ao ressignificar e politizar a raça, compreendida como construção
social, o movimento negro reeduca e emancipa a sociedade e a si próprio, produzindo
novos conhecimentos e entendimentos sobre as relações étnico-raciais e o racismo no
Brasil, em conexão com a Diáspora Africana.
Para além dessa dimensão de projeto político interseccional para o Brasil, na categoria
da amefricanidade há um inegável compromisso com o rompimento com qualquer
resquício do colonialismo imperialista, notadamente em termos epistêmicos. Em termos
metodológicos, a categoria da amefricanidade permite o resgate de uma unidade
específica propiciada pela experiência histórica comum do povo negro em diáspora. Os
quilombos, cimarrones, cumbes, palenques, marronages e marron societies
oferecem-nos uma ideologia de libertação e modelos alternativos de punição derivada da
nossa experiência diaspórica, historicamente situada e culturalmente particular.
Se essas experiências constituídas na luta por liberdade dizem muito sobre os modelos
punitivos desenvolvidos no Brasil, de outro lado, podem informar práticas alternativas,
não racistas e não sexistas de lidar com as ações socialmente definidas como desviantes.
No processo de enfrentamento a esse perverso sistema de (in)justiça criminal, múltiplas
foram as estratégias de resistência e modelos experimentados de comprometimento
coletivo com “desvios” individuais. De processos que podem ser identificados como
restaurativos a medidas abolicionistas, há um rico e complexo espectro de possibilidades
que podem ser desvelados para a criminologia crítica, caso se debruce sobre essas
práticas sem as hierarquias míopes impostas pela branquitude.
Como nos ensina Fanon, sujeitos não-brancos tem sua subjetividade deslocada através
de olhares alheios que não os reconhecem em seus próprios termos. Estamos falando
das implicações de estar na “zona do não ser” (FANON, 2008), de enfrentar o secular
processo de desumanização que se impôs a negros e indígenas, por processos de
extermínio permanente ou das mais variadas práticas de morte em vida que marcam
nossas trajetórias.
Essas reorientações têm por objetivo responder ao mundo herdado, e não ao mundo
idealizado. A normalização de nossa condição marginal, encobre a apoteose da guerra a
que estamos submetidos e acaba por reproduzir e naturalizar o genocídio dos povos
negros e indígenas nas Américas, como um dos pilares de manutenção da colonialidade.
Genocídio que se materializa nas suas mais variadas formas de expressão (FLAUZINA,
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Criminologia crítica e pacto narcísico: por uma crítica
criminológica apreensível em pretuguês
O genocídio como prática imposta ao povo negro no Brasil oferece uma chave de
explicação bastante concreta sobre o modo de operação do racismo sobre nossos corpos.
Se tomarmos a convenção da ONU de 1948, podemos destacar algumas práticas
impostas aos amefricanos e ameríndios e que nos habilitam a falar em genocídio, na
medida em que os seus múltiplos aspectos podem ser observados: 1ª) assassinatos de
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membros desses grupos ; 2ª) imposição de dano grave à integridade física ou mental
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dos membros desses grupos ; 3ª) submissão intencional do grupo a condições de
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existência que lhe ocasionem a destruição física total ou parcial ; 4ª) medidas
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destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo ; e, por fim, 5ª) transferência
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forçada de menores do grupo para outro grupo .
Se o “pessoal é politico”, é preciso dar conta da questão de gênero e raça em todas suas
imbricações. Conforme nos ensina Ochy Curiel, compreender a imbricação das opressões
não se trata de colocar categorias que conformam um somatório de experiências ou uma
intersecção de categorias analíticas. Trata-se de entender como estas experiências tem
atravessado historicamente nossa região desde o colonialismo até a colonialidade
contemporânea e como se tem expressado em certos sujeitos que não experimentaram
privilégios de raça, classe, sexo e sexualidade, como as mulheres negras, indígenas e
campesinas da região (CURIEL, 2016).
4 Considerações finais
Ao revelar o pacto narcísico que impediu que se pudesse avançar para além da denúncia
da seletividade do sistema de (in)justiça criminal, buscou-se oferecer uma lente
epistemológica imbricada, preocupada com uma leitura descolonial da criminologia que
carrega na tinta. Ao sinalizar para uma crítica criminológica apreensível em pretuguês,
chamamos atenção para as permanências do racismo e sexismo nas mais variadas
formas de expressão da colonialidade do poder, do ser e do saber.
5 Referências bibliográficas
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século XIX. São Paulo: Annablume, 1987. V. 6.
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EDUFBA, 2008.
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Criminologia crítica e pacto narcísico: por uma crítica
criminológica apreensível em pretuguês
FLAUZINA, Ana Luiza Pinheiro. Corpo negro caído no chão: sistema penal e o projeto
genocida do estado brasileiro. Dissertação (Mestrado) – Pós-Graduação em Direito,
Universidade de Brasília, Brasília, 2008.
FLAUZINA, Ana Luiza Pinheiro. As fronteiras raciais do genocídio. Revista Direito UnB.
Jan.- jun. v. 1, n.1, p. 119-146, 2014.
FLAUZINA, Ana Luiza Pinheiro; FREITAS, Felipe da S. (org). Discursos negros: legislação
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FRANKEMBERG, Ruth. White women, race masters: The social construction of whiteness.
USA: University of Minnesota, 1999.
FREITAS, Felipe da Silva. Novas perguntas para a criminologia brasileira: poder, racismo
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223-244, 1983.
SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Pode o subalterno falar? Trad. Sandra Regina Goulart
Almeida, Marcos Pereira Feitosa e André Pereira Feitosa. Belo Horizonte: Editora UFMG,
2010.
VARGAS, João Helion Costa. A diáspora negra como genocídio. Revista da ABPN. n. 2,
Jul.-Out. , p. 31-65, 2010.
1 Agradeço pela leitura atenta e trocas em torno do texto com Andrea Gill, Ana Flauzina
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criminológica apreensível em pretuguês
e Felipe Freitas.
3 Outro autor que explora o conceito de ladino para retratar essa dificuldade de
integração de indígenas e negros na colonialidade vivenciada no Brasil é Darcy Ribeiro.
Nesse sentido, ver: RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil.
São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
4 No âmbito desses assassinatos perpetrados pelo Estado são contabilizados além dos
atos de violência institucional explícita – como os autos de resistência e desparecimentos
forçados – o não acesso a saúde e os índices desproporcionais de mortes por causas
evitáveis que acometem principalmente as mulheres negras; os extermínios recorrentes
em sociedades colonizadas, como o uso de corpos não brancos como carne de canhão
nos processos de independência e demais processos de luta política, entre outros.
5 Entre esses danos pode-se destacar os gerados pelo encarceramento em massa, pelas
torturas físicas e psíquicas diárias promovidas pelo racismo institucional dos órgãos
públicos, os efeitos do racismo epistêmico que, para além de negar a memória negra e
indígena nos processos políticos de luta por liberdade, reitera a expropriação das
reflexões seculares promovidas por essas comunidades nas Universidades.
7 Nesse sentido, pode-se falar não apenas dos problemas de saúde da população negra,
mas decorrentes também da política de drogas implementada no continente e que gera
o superencarceramento que atinge fundamentalmente homens e mulheres negras.
9 A conversa entre as propostas de Lélia Gonzalez e Ochy Curiel podem inspirar uma
perspectiva feminista decolonial amefricana, preocupada com as seguintes
questões-chave: 1 - Entender como se construiu o sistema-mundo-moderno colonial
ocidental que tomou a raça e o gênero como epistemes centrais para garantir a
expansão capitalista através do colonialism; 2 - Compreender a relação atual entre
acumulação capitalista e desterro. Dito de outra maneira, pautar o racismo ambiental
que desterritorializa gente negra, indígena e campesina pobre para instalar
megaprojetos e multinacionais; e, 3 - Entender a relação entre feminicídios, violências
contra mulheres e as lógicas do militarismo, narcotráfico e lavagem de dinheiro, que
colocam como bala de canhão mulheres, meninas e adolescentes de populações
populares, altamente racializadas.
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