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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

DEPARTAMENTO DE LETRAS
DISCIPLINA: PORTUGUÊS INSTRUMENTAL
PROF. DR. ANDRÉ CAVALCANTE
TURMA: EA
ESTUDANTE: ATHILA DA SILVA GALINDO SANTOS

RESENHA CRÍTICA

ALMEIDA, Silvio de. Racismo e economia. In: ALMEIDA, Silvio de. Racismo
Estrutural. Belo Horizonte: Letramento, 2018.

A resenha crítica a seguir tem como objeto de análise a obra Racismo


Estrutural, do autor Silvio de Almeida – Doutor em Direito pela Universidade de São
Paulo, Mestre em Direito Político e Econômico pela Mackenzie, Bacharel em Direito
pela Mackenzie e graduado em Filosofia pela Universidade de São Paulo. Seu
trabalho apresenta dados estatísticos e discute como o racismo está na estrutura
social, política e econômica da sociedade brasileira. O livro é estruturado em 8
ensaios que investigam o racismo no direito, economia, ideologia etc. Será apenas
resenhado o capítulo final: “Racismo e Economia''.
Ao pensar o corpo social brasileiro é imprescindível entender o seu processo
de formação e a interseccionalidade entre raça e classe. É nesse sentido que Silvio
Almeida, intelectual brasileiro renomado e especialista na questão racial, busca se
esmiuçar sobre a interação do racismo e da economia política. Surgem de imediato
provocações a respeito sobre a divisão racial do trabalho, onde a população preta e
parda - maioria étnica/racial1 - exerce os trabalhos mais precarizados.
Apesar das ações afirmativas no Brasil terem começado a ser implementadas
desde 20032, quando investigamos a eficácia delas é facilmente constatada a
permanência da dificuldade de penetração dos pretos e pardos em espaços
acadêmicos, profissões liberais, cargos de liderança ou de atividade intelectual.

1
IBGE. Conheça a população: Cor ou Raça, c2019. Educação. Disponível em:
<https://educa.ibge.gov.br/jovens/conheca-o-brasil/populacao/18319-cor-ou-raca.html>. Acesso em: 06 de out. de
2022.
2
NASCISMENTO, Aline Souza do. O que são e como surgiram as políticas afirmativas?. Sim a igualdade racial,
c2020. Disponível em:
<https://simaigualdaderacial.com.br/site/o-que-sao-e-como-surgiram-as-politicas-afirmativas/>. Acesso em: 12 de
out. de 2022.
Como por exemplo nas universidades, onde menos de 3% delas se encontram com
o corpo docente distribuído de forma equitativa com a distribuição racial do estado3.
O que justifica a permanência desse quadro mesmo após quase 20 anos de
políticas afirmativas de combate à desigualdade racial? Silvio Almeida tenta explicar
o racismo e a desigualdade se utilizando de diversas teorias sociais. Há uma
ressalva para as teorias de Gunnar Myrdal e Oliver Cox, pois

Ainda que de maneiras muito distintas(…)têm em comum o fato de


não tratarem o racismo como algo exterior à economia, mas como parte
integrante das relações socioeconômicas. A solução do racismo implicaria
em algum tipo de mudança institucional e reorientação moral - segundo
Myrdal - ou até mesmo estrutural e revolucionária - segundo Cox -, que de
um modo ou de outro, exigiriam interferências na relação Estado/Mercado, e
não apenas comportamentais. (ALMEIDA;2018, p. 125).

Entretanto, em resposta a uma visão estruturalista e que busque encarar o


racismo como uma marca de nosso modo de organização social, outras teorias
aparecem na tentativa de esquematizar o racismo como um preconceito que nasce a
contar do sujeito.
Além disso, o racismo ganha forma de preconceito e é visto como uma
eventual falha de mercado ou erro dos agentes por ignorância e falta de informação.
Desse modo, economistas de vertente ortodoxa tentam, por meio de suas teorias,
reforçar uma “concepção individualista do racismo”(ALMEIDA;2018, p. 126), onde é
evitada uma conclusão intervencionista na sociedade capitalista.
Ademais, Silvio Almeida apresenta pontos fortes para o vislumbre do racismo
em sua forma estrutural, porque doravante o entendimento da construção histórica
do Brasil, devemos destacar o racismo como herança de um passado escravocrata.
Isto é, as relações materiais entre um povo anteriormente escravizado e o modo de
produção ainda vigente permanece.
Dessa maneira, consoante com as condições objetivas que estabelecem a
estrutura de relações racistas, as condições subjetivas são necessárias para
perpetuação da mesma no imaginário coletivo.
Como ferramenta para a consolidação das condições subjetivas estão os
canais de comunicação de massa e produtos culturais produzidos desde já da

3
Correio Braziliense. Menos de 3% dos professores universitários do Brasil são negros, c2021. Desafios.
Disponível em:
<https://www.correiobraziliense.com.br/brasil/2021/11/4964642-menos-de-3-dos-professores-universitarios-do-br
asil-sao-negros.html>. Acesso em: 12 de out. de 2022 .
perspectiva da classe dominante. Enfim há um desenvolvimento da subjetividade
desse sujeito a partir dos produtos culturais e do meio que se encontra presente,
tendo como consequência reforçar esses preconceitos.
Vale salientar que além da construção de uma subjetividade por meio de
produtos culturais, durante o início do século 20 existiam hipóteses científicas que
tentavam validar concepções de superioridade racial. Ou seja, sistematicamente o
nosso modo de produção sempre busca a desvalorização de grupos minoritários de
maneira a justificar o usufruto de sua força de trabalho a um custo menor.
O racismo cumpre o papel de tornar imigrantes, latinos ou negros sujeitos
inferiorizados, o que é de interesse da classe dominante de acordo com o período -
seja na era da escravidão ou exercendo atividades por baixa remuneração.
Um outro ponto relevante é a reflexão que Almeida traz sobre o problema da
desigualdade: seria uma questão de raça ou classe?
Genuinamente ele faz o uso de Florestan Fernandes para defender a
conexão entre elas e o reconhecimento de exigências diferenciais para diferentes
tipos de grupos minoritários: alguns sofrem apenas por fatores de desigualdade
econômica, entretanto existe uma parcela considerável de trabalhadores pretos que
clamam por outras demandas. Assim, as trabalhadoras pretas também terão
reivindicações para combater os preconceitos e discriminações que sofrem.
Sendo assim, é imprescindível a identificação da complexidade que abrange
as realidades que enfrentam os grupos minoritários, além do entendimento que o
que os dá coesão por uma agenda de pautas e reivindicações é seu status de classe
trabalhadora que luta contra os abusos do capital, que vive da sucção de seu
trabalho.
Silvio Almeida também arruma espaço neste capítulo para tecer uma crítica
no tocante às teorias desenvolvimentistas, pois elas emergiram na américa latina
durante a metade do século 20 e não debatiam a questão racial. Para Almeida, é um
fator indispensável levar em consideração tais aspectos ao tratar de países que
possuem raiz escravocrata. Num neodesenvolvimentismo brasileiro, urge a
necessidade de pautar a questão racial como essencial na distribuição de riqueza e
combate às desigualdades mais acentuadas de acordo com a origem racial.
Em síntese, a obra de Silvio Almeida é bastante útil e indicada para todos os
brasileiros que queiram entender a complexidade das relações sociais presentes na
sociedade. Ela se apresenta como um guia introdutório bem embasado e
fundamentado numa análise material de grande relevância, agregando para os
setores acadêmicos e também para o povo brasileiro em geral. Num período tão
conturbado da história geral, o combate à desinformação e a disseminação dos
problemas sistêmicos que enfrentamos é um ato que deve ser trabalhado
cotidianamente.

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