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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

FACULDADE DE COMUNICAÇÃO
COMUNICAÇÃO SOCIAL - JORNALISMO

METODOLOGIA DE PESQUISA: O BOOM DOS INFLUENCIADORES


INDÍGENAS NAS REDES SOCIAIS

Karen Isabela Leite Alcântara

Belém – PA
2023
INTRODUÇÃO

No contexto atual das redes sociais, os influenciadores têm desempenhado um papel


significativo na disseminação de conteúdos e na formação de opiniões. Neste trabalho de
pesquisa intitulado 'Metodologia de Pesquisa: O Boom dos Influenciadores Indígenas nas
Redes Sociais', é apresentada uma análise desse fenômeno em ascensão.
Gostaria de ressaltar que este relatório de metodologia foi elaborado em colaboração
com a discente Júlia Sardo de Oliveira. Ambas compartilharam a execução da pesquisa,
coleta de dados e discussões conjuntas.
Ao longo deste relatório, exploramos as estratégias e procedimentos utilizados para
investigar o fenômeno do boom dos influenciadores indígenas nas redes sociais. Com base
em uma pesquisa criteriosa, buscamos compreender o impacto desses influenciadores na
promoção da cultura indígena, bem como seus desafios e oportunidades.
Esperamos que este estudo contribua para a compreensão do papel dos
influenciadores indígenas e estimule discussões relevantes sobre representatividade e
valorização das vozes indígenas na era digital.
Continua na seção de Metodologia.

1. METODOLOGIA

1.1 METODOLOGIA DE PESQUISA

Compreendendo a subjetividade do objeto de estudo para a construção deste artigo, a


pesquisa é classificada como qualitativa, na qual o principal método usado para analisar o
objeto em questão é o estudo das interações cotidianas. A análise dos 7 influenciadores
indígenas da Amazônia que trazem, cada um, recortes diferentes sobre a mesma pauta, será
feito em 3 etapas:

a) Pesquisa e seleção dos influenciadores: Os influenciadores serão identificados e


selecionados por meio das plataformas de redes sociais, como Instagram, Facebook,
Twitter e TikTok, bem como por meio de sites de notícias. A seleção será baseada em
sua identificação como indígenas da Amazônia e na religião em termos de número de
seguidores orgânicos. Essa etapa visa garantir uma amostra representativa de
influenciadores com alcance e impacto aéreo.
b) Análise individual do conteúdo dos influenciadores: Cada influenciador selecionado
foi analisado individualmente, levando em consideração diversos elementos presentes
em seu conteúdo, como fotos, vídeos, textos, legendas e outros formatos utilizados
nas publicações. Essa análise detalha a construção de uma linha de pensamento dos
discursos, pautas e bandeiras pensadas por cada influenciador.

c) Seleção e realização de entrevistas: Após a coleta e análise do conteúdo dos


influenciadores, será realizada a seleção de, no mínimo, 5 influenciadores para
entrevistas. Essas entrevistas têm como objetivo obter um maior entendimento do
processo de criação de conteúdo de cada influenciador, suas motivações, desafios e
estratégias utilizadas nas redes sociais. As entrevistas fornecem insights valiosos para
uma compreensão mais aprofundada do impacto dos influenciadores indígenas na
comunicação online.

1.2 METODOLOGIA DE COLETA

A metodologia de coleta de dados adotada nesta reportagem seguiu um processo


sistemático e simples. Inicialmente, realizamos uma pesquisa utilizando o botão de busca,
como o Google, e as principais redes sociais da atualidade, incluindo Instagram, Facebook,
Twitter e TikTok. A busca teve como objetivo identificar influenciadores indígenas que estão
ativos nessas plataformas. A coleta de dados foi realizada através dos seguintes métodos:

Pesquisa inicial nos principais interruptores de busca e redes sociais:


Iniciamos a pesquisa pesquisando pelos influenciadores nas principais plataformas de mídia
social, como Google, Instagram, Facebook, Twitter e TikTok. Utilizamos palavras-chave
relacionadas a temas de interesse, como "influenciadores indígenas no Brasil" e "povos
indígenas nas redes sociais". Através dessa pesquisa, identificamos contas relevantes que
abordam pautas indígenas.

Categorização dos influenciadores:


Cada influenciador foi cuidadosamente categorizado com base em informações como
localização geográfica, tribo ou comunidade de origem, idade, profissão, nicho de atuação e
culto social. Essa categorização permitiu uma compreensão mais completa do perfil de cada
influenciador e auxiliou na análise posterior.
Análise de conexões e conexões:
Para expandir ainda mais a busca por influências indígenas, analisamos as conexões por meio
de interações nas postagens. Investigamos as pessoas seguidas por perfis relevantes, como
políticos ou influenciadores indígenas locais, a fim de descobrir outros influenciadores que
produzem conteúdos relacionados às temáticas abordadas nesta pesquisa. Além disso,
exploramos o uso de hashtags relevantes para identificar perfis adicionais de interesse.

Critérios de seleção dos influenciadores:


Para garantir a fidelidade dos influenciadores escolhidos, estabelecemos critérios claros. Os
influenciadores precisam estar ativamente engajados nas redes sociais durante o período da
pesquisa e possuir no mínimo mil seguidores. Esses critérios visavam garantir a
representatividade e a atualidade dos dados coletados.

Contato e participação dos influenciadores:


Por meio de mensagens diretas (DMs) ou e-mails, entramos em contato com um total de 62
influenciadores selecionados. Apresentamos a proposta da pesquisa e oferecemos a
participação por meio de um esboço elaborado no Google Formulários. No entanto, apenas 7
influenciadores aceitaram participar da pesquisa e responderam ao teste.

Através desses métodos de coleta de dados, buscamos garantir a diversidade de perfis


e abordagens dos influenciadores indígenas da Amazônia, bem como a atualidade e a
representatividade das informações transmitidas. Essa abordagem sistemática permitirá uma
análise mais abrangente e embasada dos discursos e das estratégias de comunicação adotadas
por esses influenciadores.

1.3 MATERIAL COLETADO

Devido à distância geográfica e para padronizar e agilizar o processo da pesquisa, realizamos


um questionário no Google Formulários que continha uma apresentação breve, seguida de 5
seções de perguntas, sendo elas: Sobre o influenciador indígena; Sobre as redes sociais;
Interações e feedbacks; Atuação além das redes sociais; Desafios e oportunidades. Cada
seção apresenta em média 4 perguntas formuladas para gerar um perfil e dialogar sobre as
questões que envolvem a criação de conteúdo digital, e o reflexo destes conteúdos para o
consumidor destes perfis.

1ª Seção: Sobre o influenciador indígena


Na primeira seção, foi utilizada a técnica de resposta curta, para que o influenciador pudesse
inserir manualmente suas respostas, visto que a variedade de povos, tribos ou comunidades
estaria limitada na opção de múltipla escolha. Com o título “Sobre o influenciador indígena”,
perguntamos: Nome do influenciador indígena, Localização geográfica; Povo/comunidade de
origem. Se outro, por favor especificar; Idade; Profissão; Nicho nas redes sociais; E-mail;
Os dados obtidos nessa seção foram importantes para visualizar onde, geograficamente,
temos concentrados mais ativamente nas redes sociais. Dos 62, os 7 influenciadores que
responderam ao questionário foram:

Nome: Sergio Suruí

Comunidade: Paiter Suruí

Local de origem: Terra Indígena Sete de Setembro -

Idade: 27 anos

Profissão: Comunicador Indígena/Criador de conteúdo digital

Nicho: Vlog/mostrando meu dia dia

Nome: Orlando Ruy Lobo Saraiva

Comunidade: Tribo dos Andirás

Local de origem: Belém - PA

Idade: 46 anos

Profissão: Servidor Públicos Estadual, formado em Direito

Nicho: Posts Católicos


Nome: Kokokaroti Txukahamãe Metuktire

Comunidade: Povo Kayapó

Local de origem: Peixoto de Azevedo - MT

Idade: 20 anos

Profissão: Influenciadora e comunicadora

Nicho: Causa indígena e a importância das culturas tradicionais para da visibilidade nas
nossas lutas como indígenas

Nome: José Neto

Comunidade: Tupinambá

Local de origem: Capanema - PA

Idade: 29 anos

Profissão: Engenheiro de Produção

Nicho: Amazônia e Povos Indígenas

Nome: Mateus Wera

Comunidade: Guarani Mbya

Local de origem: Terra Indigena do Jaraguá - SP

Idade: 27 anos

Profissão: Professor de língua materna e educação indigena infantil

Nicho: Vlog, fotografia e ativismo indigena


Nome: Evelin Cristina

Comunidade: Tupinambá Matei ( Belém)

Local de origem: Belém - PA

Idade: 26 anos

Profissão: Professora de Geografia

Nicho: Coletiva de mulheres indígenas e negras quilombolas

Nome: Eanes Silva

Comunidade: Povo kanela

Local de origem: Balsas - MA

Idade: 39 anos

Profissão: Jornalista

Nicho: Direitos dos povos tradicionais e originários, direitos humanos e socioambiental

Com este recorte, pudemos analisar que a maioria são jovens que apesar de terem uma
profissão tradicional, ainda priorizam a rede social como meio de disseminação de seus
ideais, pautas e cultura. Esses influenciadores usam ativamente as plataformas digitais para
compartilhar suas perspectivas, fortalecer suas comunidades e promover a conscientização
sobre questões indígenas.

2ª Seção: Sobre as redes sociais:


Na segunda seção utilizamos questões de múltipla escolha, para visualizar graficamente a
distribuição dos influenciadores das plataformas digitais, há quanto atuam nas redes sociais,
como categorizam seus conteúdos e quais as interações mais frequentes que recebem nas
redes. Veja as respostas obtidas nos seguintes anexos:
Anexo 1:
Anexo 2:

Anexo 3:
Ao perguntarmos nesta mesma seção quais seriam as principais pautas e questões que estes
influenciadores abordam em suas postagens, obtivemos exemplos orgânicos e individuais de
cada um deles, sendo Culturas; Evangelização Católica; Cultura tradicional e a causa
indígena; Informações com embasamento teórico sobre a Amazônia, quebra de estereótipos,
conhecimentos sobre povos indígenas, viagens; Demarcação de terras, Amazônia e política;
Educação, povos indígenas, maternidade e questões étnicos raciais; Direitos Humanos e as
questões ambientais. A resposta de cada um demonstra a pluralidade da cultura dos povos
indígenas e o quanto os ambientes digitais auxiliam na disseminação de conhecimentos e na
reconstrução das narrativas dos povos originários.

3ª Seção: Interação e feedback:


Na terceira seção buscamos entender como o público reage e interage aos conteúdos postados
por estes influenciadores. Utilizamos duas perguntas de múltipla escolha e uma subjetiva,
para entender também a visão individual e pessoal do entrevistado. Seguem os anexos com as
respectivas respostas às perguntas citadas acima:
Anexo 1:

Anexo 2:
Ao perguntarmos de que forma as interações do público influenciam suas postagens futuras,
os entrevistados no geral responderam que é uma forma de incentivo para que deem
continuidade nas postagens e no trabalho digital que realizam. Todos disseram que nos
feedbacks dos seguidores é onde percebem a importância das suas criações de conteúdos para
o fortalecimento das culturas tradicionais dos povos indígenas, e enxergam uma inspiração
para os outros criadores de conteúdos iguais à eles, além de entender qual formato funciona
mais e quais temas o público gostaria de consumir. Alguns relataram que quando eu fazem
alguma postagem, o público sempre pede para que aprofundem mais o assunto, e também
sugerem pautas, na grande maioria procuram mais conteúdos sobre sobre demarcações de
terras e outras questões políticas ligadas aos povos indígenas.

4ª Seção: Desafios e oportunidades:

Aqui questionamos quais os principais desafios enfrentados ao utilizar as redes sociais para
disseminar pautas indígenas, e se os influenciadores já enfrentaram algum tipo de
discriminação, preconceito ou resistência em relação ao seu trabalho nas redes sociais.
Também questionamos quais oportunidades eles enxergavam nas redes sociais para ampliar a
conscientização sobre as questões indígenas. Os entrevistados responderam que ao utilizar as
redes sociais para disseminar pautas indígenas, enfrentam diversos desafios. Entre eles estão
a valorização do conteúdo, a falta de identificação como influenciador, os comentários
negativos, a necessidade de cuidar da saúde mental diante da exposição constante, a
volatilidade das "regras" da internet, o preconceito de algumas pessoas e conforme restrições
impostas pelo equipamento (smartphone) utilizado. Apesar dessas adversidades, os ativistas
indígenas persistem em seus conteúdos, contando com o apoio de suas comunidades e redes
de suporte para promover mudanças e ampliar a representatividade indígena no mundo
digital.

Ao questionar sobre discriminação, preconceito ou resistência em relação ao seu trabalho nas


redes sociais, obtivemos respostas diversas. Enquanto algumas pessoas declararam não terem
enfrentado tais situações, outras compartilharam experiências dolorosas e recorrentes. Uma
jovem indígena destacou o machismo que enfrentou ao ser presente nas redes sociais,
mencionando o impacto negativo em seu bem-estar psicológico. Um participante mencionou
ocorrência ocasional de comentários racistas quando seu conteúdo ultrapassa uma "bolha" de
seguidores. Além disso, houve relatos de mensagens negativas e de ódio nos comentários e
nas mensagens privadas, especialmente durante o período eleitoral de 2022.

Ao abordar as oportunidades oferecidas pelas redes sociais para aumentar a conscientização


sobre as questões indígenas, as respostas variaram. Alguns participantes enfatizaram a
oportunidade de mostrar a realidade e lutar por meio das plataformas digitais, destacando a
importância de levar a luta indígena para um público mais amplo. A utilização de animação
3D foi mencionada como uma oportunidade para envolver e atrair a atenção das pessoas.
Outros participantes destacaram a capacidade de provocar o subconsciente das pessoas,
mostrando a diversidade e o símbolo dos povos indígenas em diferentes contextos. Além
disso, foi ressaltada a criação de espaços para ampliar o alcance e estabelecer conexões com
outros coletivos.

5ª Seção: Atuação além das redes sociais:

A quarta seção foi focada nas ações ou projetos fora das redes sociais relacionados às pautas
indígenas. Perguntamos aos influenciadores como viam o impacto do seu trabalho fora das
redes sociais e qual a percepção dos resultados tangíveis em termos de conscientização ou
mudanças. Ao questionar a participação em ações ou projetos fora das redes sociais
relacionadas às suas pautas, alguns participantes afirmaram não ter participado de tais
iniciativas, enquanto outros mencionaram seu envolvimento em diferentes projetos e
mobilizações.

Um entrevistado mencionou ser membro da Renovação Carismática Católica, indicando seu


engajamento em uma organização religiosa com possíveis atividades voltadas para a
promoção de causas sociais, porém sem envolvimento direto com a pauta indígena. Outra
pessoa destacou sua participação em mobilizações como o Acampamento Terra Livre (ATL),
a Marcha Mundial das Mulheres, e mobilizações contra o Marco Temporal das Terras
Indígenas (PL 490), e como essas experiências ampliaram sua compreensão sobre a causa
indígena e a importância de divulgar suas lutas. Outros participantes afirmaram se envolver
em diversas atividades além das redes sociais que não envolviam embate político direto,
como produção de oficinas, aulas, palestras, consultorias e organização de eventos. Além
disso, eles mencionaram a participação em coletivos e projetos específicos, como o Coletivo
Abraço Itakupe, Coletivo Fundo Amazônico, Coletivo Bem Viver, Coletivo Jornalistas
Livres e o Projeto Horta Sustentável nas Escolas.

Outros exemplos de ações e projetos mencionados incluem o Encontro de Pajés, Levante


Tupinambá, Encontro de Mulheres Indígenas, Acampamento Terra Livre, Marcha das
Mulheres Indígenas e Encontro Nacional de Estudantes Indígenas. Além disso, houve
menção à participação em iniciativas como a Campanha Nacional em Defesa do Cerrado, a
Rede de Notícias da Amazônia, a Rede Eclesial Pan-Amazônica e a Teia dos Povos e
Comunidades Tradicionais do Maranhão. Essas respostas evidenciam a diversidade de
esforços e engajamentos dos cuidados além das redes sociais, revelando um compromisso
ativo com a defesa e promoção das pautas indígenas em diferentes âmbitos e projetos
coletivos.

Ao questionarmos o impacto do trabalho fora das redes sociais, as respostas dos entrevistados
mostraram satisfação pelos resultados tangíveis em termos de conscientização e mudanças.
Alguns mencionaram a conscientização de jovens indígenas sobre a importância das redes
sociais como ferramenta para o cotidiano, enquanto outros destacam o impacto da partilha de
conhecimento ancestral para a perpetuação da cultura.

Foi muito enfatizado a importância de combinar o trabalho online com a atuação offline,
acreditando que grupos de pessoas possam, por meio de exemplos, mudar suas atitudes e
buscar conhecimentos sobre as pautas abordadas por estes influenciadores. Embora a
sociedade esteja começando a entender, um dos entrevistados mencionou que é necessário
mais trabalho para que todos compreendam que a luta não é apenas dos indígenas, mas sim
de todos.

Outros destacaram que seu trabalho impacta mais as pessoas dentro de seu círculo social, o
que é especialmente significativo em ambientes como as universidades e as escolas. Além
disso, houve relatos de experiências compartilhadas por outras pessoas que aprenderam com
o conteúdo das redes sociais, como relatos de professores que utilizaram materiais fornecidos
por um dos entrevistados em suas aulas. Também foi mencionado que durante o Enem 2022,
muitas pessoas afirmaram que os conteúdos disponibilizados ajudaram na abordagem da
redação sobre os desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil.

Essas respostas demonstraram que, apesar de experiências diferentes, todos reconhecem o


impacto de seu trabalho fora das redes sociais na conscientização e na promoção de
mudanças, seja por meio do engajamento de jovens indígenas, da disseminação de cultura
ancestral, da transformação de atitudes e conhecimentos, ou fazer compartilhamento de
experiências e materiais que influenciam a educação e o pensamento crítico.

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