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RESUMO
O presente artigo científico investiga o papel dos influenciadores digitais indígenas no
Instagram como uma forma de manifestação identitária e ativista para os povos
indígenas da Amazônia brasileira. A pesquisa analisa como esses influenciadores
utilizam a plataforma para reforçar o processo auto-identitário e de pertencimento
indígena, além de promover a conscientização sobre questões indígenas, preservação
ambiental e lutas por direitos (HALL, 2006; BOURDIEU, 1997; DESLANDES, 2018).
O estudo baseia-se na Análise de Conteúdo de postagens de cinco influenciadores
indígenas (BARDIN, 2011). Os resultados revelam a importância do Instagram como
uma ferramenta para fortalecer a identidade indígena, empoderar as comunidades e
ampliar o alcance de suas vozes. Este resultado leva-nos a concluir que as redes sociais
têm sido utilizadas como meio para manifestação de uma minoria étnica e como espaço
de inclusão e discussão sobre a situação dessas comunidades, antes com pouca
visibilidade e representatividade na mídia tradicional.
ABSTRACT
This scientific article investigates the role of indigenous digital influencers on Instagram
as a form of identity and activist manifestation for indigenous peoples in the Brazilian
Amazon. The research analyzes how these influencers use the platform to reinforce the
self-identity and indigenous belonging process, in addition to promoting awareness of
indigenous issues, environmental preservation and struggles for rights (HALL, 2006;
BOURDIEU, 1997; DESLANDES, 2018). The study is based on Content Analysis of
posts by five indigenous influencers (BARDIN, 2011). The results reveal the
importance of Instagram as a tool to strengthen indigenous identity, empower
communities and broaden the reach of their voices. This result leads us to conclude that
social networks have been used as a means for the manifestation of an ethnic minority
and as a space for inclusion and discussion about the situation of these communities,
previously with little visibility and representation in traditional media.
1
Trabalho apresentado para obtenção de nota final na disciplina Teorias da Cultura, Territórios e Saberes
Amazônicos
2
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação PPGCOM-UFRR, email:
isabelabastospio6@gmail.com.
3
Orientador do trabalho. Professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da PPGCOM-UFRR, email:
rafael.hoff@yahoo.com.br.
4
Orientadora do trabalho. Professora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da PPGCOM-UFRR, email:
vangela.morais7@gmail.com.
1
1. Introdução
A presença dos povos indígenas no Brasil e principalmente na região Amazônica
vem de muito antes da chegada dos colonizadores. Ainda assim, a violência com que
foram tratados causou danos irreparáveis (Ribeiro, 2005). Tão grave quanto o genocídio
geral praticado em toda a América Latina contra esses povos, foi o processo de
imposição violenta de uma mentalidade eurocêntrica que eliminou diversas formas de
pensamento, e condenou ao esquecimento conhecimentos tradicionais de muitos povos
indígenas. Mesmo após séculos dessas agressões culturais, ainda persiste uma imagem
pautada nessa colonialidade do pensamento (QUIJANO, 2007; MALDONADO-
TORRES, 2007), que enxerga essas populações de forma estática, romantizada; e
entende que apenas vivendo isolados da vida urbana e das tecnologias esses povos
podem continuar a preservar as características culturais e o modo de vida tradicional
para serem considerados indígenas.
Assim sendo, a presente pesquisa se destaca não apenas por sua atualidade, mas
também por sua relevância. Ela aborda a valorização e o reconhecimento das lutas dos
5
Disponível em: https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2022/03/23/onu-denuncia-ataques-de-
bolsonaro-aos-indigenas-e-cita-violacao-de-tratados.htm. Acesso em 05 jul. 2023.
6
Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/politica/nenhum-centimetro-de-terra-indigena-como-o-
governo-bolsonaro-agiu-para-cumprir-promessa/. Acesso em 05 jul. 2023
2
povos originários, a importância de se discutir políticas públicas adequadas para essa
população, além de explorar o papel da internet como um canal que transcende
fronteiras territoriais, possibilitando debates e ativismo. Ademais, analisa-se o papel dos
influenciadores digitais indígenas como atores emergentes no cenário midiático das
novas mídias sociais. O corpus de análise é constituído por cinco perfis de jovens
indígenas influenciadores na rede social Instagram. Todos os perfis escolhidos
pertencem a indígenas de etnias oriundas da Amazônia brasileira que se dividem tanto
no contexto aldeado quanto no urbano e compartilham parte de seu dia-a-dia, pautas
sociais e outros temas sensíveis à causa indígena. A principal motivação deste estudo é
entender como ocorre o processo de autoafirmação identitária desses influenciadores
indígenas em meio a essa rede social e de que forma essa plataforma digital é utilizada
por esse grupo para fomentar o ativismo digital em relação às pautas sociais indígenas.
Por fim, esta pesquisa pretende elaborar um panorama dos principais temas
abordados por influenciadores digitais indígenas para entender como esses
influenciadores estão se tornando protagonistas de suas próprias reivindicações no
ciberespaço. Entendemos que essa ocupação promove maior visibilidade sobre a
questão indígena e aumenta o protagonismo dessas pessoas nas relevantes pautas sociais
defendidas em prol dos direitos dos indígenas.
3
O sociólogo Simon Lindgren (2017) aponta que a sociedade atual é digital no
sentido de que “estamos em uma era em que nossas vidas, nossos relacionamentos,
nossa cultura e nossa sociabilidade são digitalizados e afetados por processos digitais.”
(LINDGREN, 2017, p. 16). Da mesma forma, André Lemos (2005) afirma que essas
interações via dispositivos online entre diferentes pessoas e espaços urbanos, vêm
criando novas formas de mobilidade que modificam as relações intersociais e as
manifestações da indústria cultural.
4
apenas 3 milhões de acessos à internet banda larga e 27,3 milhões de acessos à telefonia
móvel. Aliada à região Nordeste, o Norte do país possui os piores indicadores de uso da
internet no Brasil (IDEC, 2022). Essa região enfrenta limitações de acesso à internet
devido à extensa cobertura da floresta amazônica em seu território.
Segundo dados do site Data Reportal (2023), existem 4,95 bilhões de usuários
de internet em todo o globo, o que corresponde a 63% da população mundial e, deste
total, 4,62 bilhões (93,3%) são utilizadores de redes sociais, 10% a mais que em 2021.
A mesma pesquisa ainda indicou que os brasileiros estão entre os que passam mais
tempo conectados à rede de internet com uma média de 10,19 horas por dia, a maior
parte desse tempo é dedicada ao uso de redes sociais. O país é o sexto colocado no
ranking de países com maior tempo de utilização das redes sociais por dia 7, com média
de 3h41min – a média global é de 2h27min – e é o primeiro colocado em número de
plataformas de redes sociais ativas utilizadas mensalmente, com média de 8,6 (usuários
entre 16 e 64 anos).
7
Disponível em: https://forbes.com.br/forbes-tech/2023/03/brasil-e-o-terceiro-pais-que-mais-consome-
redes-sociais-em-todo-o-mundo/. Acesso em 25 jun. 2023.
5
contexto que nos propomos a estudar, podemos entender redes sociais da forma como
propôs Raquel Recuero:
um conjunto de dois elementos: atores(pessoas, instituições ou grupos; os
nós da rede) e suas conexões (interações ou laços sociais). Uma rede, assim, é
uma metáfora para observar os padrões de conexão de um grupo social, a
partir das conexões estabelecidas entre os diversos atores. (Wasserman e
Faus, 1994; Degenne e Forse, 1999 apud Recuero, 2009, p. 24)
Ainda de acordo com Karhawi (2017) para ser capaz de influenciar, em alguma
medida, um grupo de pessoas, pressupõe-se um destaque, prestígio; algum tipo de
distinção em meio ao grupo. Essa compreensão nos é dada com base nas noções de
capital social de Bourdieu. “O volume do capital social possuído por um determinado
agente depende do tamanho da rede de conexões que ele pode efetivamente mobilizar.”
(BOURDIEU, 1997, p. 247).
Ao desenvolver o conceito de capital social, Recuero (2009) aponta que ele tem
dois componentes, um ligado ao sentimento de pertencimento e as relações mantidas
6
dentro de um grupo e o outro ligado ao conhecimento e reconhecimento dos
participantes como pares dentro desse universo, este último é o responsável por fazer a
mudança do capital social em simbólico. “O capital social em Bourdieu está diretamente
relacionado com os interesses individuais, no sentido de que provém de relações sociais
que dão a determinado ator determinadas vantagens. Trata-se de um recurso
fundamental para a conquista de interesses individuais.” (RECUERO, 2009, p. 47).
Logo, a quantidade de capital social que um sujeito consegue acumular está diretamente
ligada ao tamanho das redes de conexão que ele consegue mobilizar. Esse processo de
aquisição de capital social é ininterrupto uma vez que o reconhecimento deve ser
continuamente reafirmado. Além disso, não é possível ser detentor do capital social já
que este “[...] não está nos sujeitos, mas nas relações entre as pessoas” (Recuero, 2014,
p. 49).
Por muito tempo a única imagem que se tinha do indígena foi perpetuada por
uma perspectiva colonizadora que entendia os membros dos povos originários como
seres romantizados e inferiores. O sociólogo peruano Aníbal Quijano (2010), argumenta
que a realidade da América, mais especificamente da América Latina, foi mundialmente
7
“imposta”. Ao desenvolver o conceito de “colonialidade do poder”, o teórico aponta que
a população de todo o mundo foi classificada por identidades “raciais” e dividida entre
os dominantes/superiores, que seriam os europeus, e os dominados/inferiores, os não
europeus. Portanto, todo e qualquer conhecimento não eurocêntrico passou a ser
excluído e invalidado. Segundo o autor, essa concepção é o que será denominado como
“a modernidade” (QUIJANO, 2010, p. 73-74).
Dessa forma, Mohamed et al. (2020) apontam para a necessidade de adotar uma
mentalidade decolonial para mudar a estrutura desses pensamentos, buscando “desfazer
os mecanismos coloniais de poder, economia e linguagem. No exercício da
decolonização estrutural, é pertinente refletir sobre a identidade dos povos indígenas na
atualidade. De acordo com Domingues (2017), o uso das mídias digitais por parte dos
indígenas tem gerado debates em relação ao distanciamento das formas tradicionais de
representação, o que poderia ser interpretado como uma perda de identidade étnica. Essa
percepção baseia-se na ideia de que os indígenas devem permanecer estáticos para
preservar sua cultura.
A imagem divulgada nos materiais didáticos das escolas e perpetuada pela forma
de ensino da história do Brasil ainda é a do índio romantizado e estereotipado:
Os povos indígenas são oportunamente lembrados nas aulas de História que
tratam da ‘descoberta do Brasil’, da montagem do sistema colonial e,
eventualmente, em momentos pontuais da recente história brasileira [...]. A
escola nacional criou historicamente o mito do índio genérico – que fala o
tupi, adora Tupã, vive nu nas florestas etc., representado nas escolas repleto
de estereótipos, sobretudo por ocasião do dia 19 de abril, data comemorativa
do dia do índio. Tal situação vem sendo questionada nas últimas décadas e as
propostas curriculares sobre a temática indígena vêm sendo repensadas.
(KAYAPÓ, 2019, p. 58).
8
Apesar da tentativa de engessar a identidade do indígena a uma imagem
estereotipada, diversos estudos teóricos apontam que o entendimento de identidade não
é imutável. De acordo com Hall (2006), a ideia de uma identidade unificada, completa,
segura e coerente é irreal. O autor argumenta que à medida que os sistemas de
significação e representação cultural se multiplicam, nos deparamos com uma variedade
de identidades possíveis, com as quais podemos nos identificar temporariamente ou
não.“O sujeito assume identidades diferentes em diferentes momentos, identidades que
não são unificadas ao redor de um ‘eu’ coerente” (HALL, 2006, p. 13).
Assim, Almeida (2010) aponta a adaptação dos povos indígenas, sobretudo dos
movimentos indígenas, aos constantes fluxos de mudança. Desde o aprendizado do
português, passando pela participação nas discussões políticas e reivindicação de
direitos. Segundo a autora, ao participar da sociedade dos brancos e agir conforme as
diretrizes impostas pelas regras de convívio social dos não indígenas, esses povos não
perdem sua identidade, mas sim conseguem ter a ampla compreensão de como agir e
defender seus interesses. “São os próprios índios hoje que não nos permitem mais
pensar em distinções rígidas entre índios aculturados e índios puros.” (ALMEIDA,
2010, p. 20).
Nessa mesma ótica, o cacique Pina Tembé (2019) apud Miranda e Corradi
(2021) também aponta que a cultura indígena é dinâmica, logo, é impensável que os
indígenas vivessem à parte das mudanças que ocorreram no país desde a invasão e
colonização dos portugueses. Para o cacique, o preconceito ainda é o maior entrave para
a quebra do pensamento colonial acerca da utilização de tecnologias por indígenas.
“Nós não somos tutelados da sociedade brasileira, nós temos o direito de viver aquilo
que nós achamos que temos que viver” (Piná Tembé, informação verbal, 2019 apud
Miranda e Corradi, 2021).
9
conectada propõe torna possível a desvinculação de uma imagem estática do que deve
ser a identidade. “Quanto mais a vida social se torna mediada pelos sistemas de
comunicação interligados, mais as identidades se tornam desvinculadas de tempos,
lugares e tradições” (GUIMARÃES, 2011, p. 47). Nesse contexto, os indígenas usam
esse espaço para se tornar protagonistas de sua própria história, tomando para si
narrativas que por muito tempo estiveram nas mãos de outros e buscando reverter um
imaginário coletivo ainda pautado no pensamento colonial.
5. Ciberativismo
10
Sobre o potencial difusor da internet, Rigitano (2003) ressalta que ela torna-se
uma ferramenta imprescindível nas lutas sociais contemporâneas, uma vez que
possibilita ao usuário comum ser o provedor das informações, rompendo, assim, com o
monopólio de informação das mídias tradicionais, além do poder de mobilização sem
limitações geográficas em prol de uma causa local ou até mundial.
Segundo Vegh (2003) o ativismo digital pode ser classificado em três áreas:
conscientização/advocacia, envia ou recebe informações a partir de fontes alternativas
de informação; organização/mobilização, pede ação ou é chamado a partir da internet
para ações, que podem ser on-line ou presenciais (ou mesmo as duas); e ação/reação,
quando inicia diretamente uma ação ou reage a uma, podendo ser enquadrado aqui o
ativismo hacker.
Deslandes (2018) afirma que o ativismo digital imprime uma nova dimensão ao
se organizar nas redes sociais. Ainda de acordo com a autora, a suspensão de fronteiras
geográficas, a materialização das realidades não presenciais, além da ampla e célere
disseminação de toda sorte de informações e ideologias, possibilitam uma agremiação
em torno de vivências e/ou ideias comuns, experiências essas que podem ser efêmeras
ou duradouras.
11
possibilidade do internauta de silenciar pautas que não lhe agradem, o que segundo a
autora deixa de promover um debate vigoroso entre pessoas com opiniões diferentes:
Nesse exercício pobre de diálogo com os diferentes (e oponentes em ideias),
mesmo quando postagens “indesejadas” eventualmente aparecem, temos
ainda os diversos recursos de “bloquear”, “deixar de seguir”, “silenciar” seu
emissor. Assim, cada vez menos exercitamos o diálogo, a enunciação de
argumentos para o convencimento (fundamental à ação política!) e a escuta
respeitosa com nossos oponentes políticos ou dos que de nós discordam.
(DESLANDES, 2018, p. 3134).
Porém, Deslandes (2018) aponta que apesar desses entraves, é inegável que a
internet possibilitou o acesso a informações que antes não tinham qualquer
possibilidade de circular nas mídias dominantes, o que permite permite elevar e
qualificar o debate político. Essas interações no ambiente virtual aumentam as chances
do controle social sobre o uso de verbas públicas e sobre decisões políticas e de gestão
quanto à implementação de soluções para os problemas encontrados. “Sem contar que
possibilita a circulação de expressões identitárias, modos de sexualidade, corporalidade
e moralidades diversos dos ‘estabelecidos’, sugerindo outras agendas micro e
macropolíticas em saúde, outras governanças”(DESLANDES, 2018, p. 3135).
Por meio de redes sociais como o Instagram, o ativismo digital ganhou uma
nova vertente e teve seu uso potencializado por meio do advento de smartphones e a
tecnologia que disponibiliza pacote de dados para uso móvel, que conecta o usuário
onde quer que este esteja, sem a necessidade de uma zona wi-fi. O ingresso do indígena
nas redes sociais teria, potencialmente, como principal desdobramento o combate a
representações hegemonicamente impostas, que desvalorizam sua cultura desde a
colonização.
6. Método
A base teórica utilizada para realizar a Análise de Conteúdo (AC) neste estudo é
de autoria de Laurence Bardin. Essa metodologia compreende um conjunto de técnicas
de análise das comunicações que tem ganhado relevância como metodologia para
estudar discursos no ambiente digital (LINDGREN, 2017). A ferramenta abarca
diversas abordagens sistemáticas que permitem a investigação de conteúdos publicados
nas plataformas digitais, incluindo indicadores (quantitativos ou qualitativos) que
facilitam a inferência de informações relacionadas às condições de produção e recepção
de mensagens (BARDIN, 2011).
12
Para seguimento nesse formato de análise, é necessário realizar quatro etapas
fundamentais: organização da análise, codificação dos dados, categorização e
inferência. Ao começar pela organização, em que se reúne o corpus de análise com
todos os documentos que vão passar pelo processo da AC. A codificação implica a fase
de enumeração e agregação, com base na leitura flutuante, hipóteses, objetivos e
elaboração de indicadores que fundamentam a interpretação. A terceira etapa consiste
na construção de critérios e a classificação dos dados em conjunto, segundo suas
semelhanças e por diferenciação, em função de características comuns. A última etapa
caracteriza a interpretação dos dados e das categorias a partir dos contextos da análise.
6.1 Contextualização
8
A aprovação ocorreu no dia 24 de maio, por 324 votos a favor e 131 contra. Disponível em:
https://www.camara.leg.br/noticias/965416-camara-aprova-urgencia-para-marco-temporal-na-
demarcacao-de-terras-indigenas. Acesso em 25 jun. 2023.
13
caciques de diversas etnias, o foco era permanecer no local até o dia da votação da pauta
pelo STF, no dia 7 de junho de 2023 (PORTELA e ALCÂNTARA, 2023).
Portanto, com base nos tópicos levantados é possível entender melhor tanto o
cenário político-social em que foram publicados os conteúdos analisados nesta pesquisa,
como ampliar a visão sobre a importância dessas pautas para os influenciadores
indígenas selecionados para este trabalho.
6. 2 Corpus da pesquisa
Embora não haja garantias de que o dono do perfil analisado realmente reside na
Amazônia, ao optar por etnias da região a probabilidade é expandida. Também foram
considerados perfis públicos – que dispensam a necessidade de autorização para análise
– e que se identificam na rede social como “criador(a) de conteúdo digital”,
“blogueiro(a)”, “figura pública” ou “artista”. Por fim, foram selecionados perfis com
mais de 10 mil seguidores, que são considerados micro influenciadores digitais
14
(INFLUENCYME, 2022), delimitados em cinco perfis. Os perfis (Figura 1) estão
listados na ordem decrescente de número de seguidores, com a imagem das informações
do perfil do Instagram.
Fonte: Instagram
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fundamentam a interpretação final da pesquisa. Portanto, como já falado anteriormente
na pesquisa, o corpus a ser analisado compreende as publicações feitas no feed de
notícias de cada perfil no período de 15 de maio a 15 de junho de 2023. Como todos são
perfis públicos, não é necessária autorização para análise do conteúdo.
7. Resultados e discussões
16
foram identificados 35 posts com características ativistas, 12 posts de caráter
identitário , 27 posts de cunho pessoal e 16 posts foram classificados como “outros”,
porque não se encaixam em nenhuma das três categorias anteriores. Em relação a
parcerias, foram identificados 3 posts em dois dos cinco perfis analisados, o que
corresponde a 3,22% do total de posts analisados. Todos os perfis publicaram algum
tipo de post de caráter identitário e, embora o número de posts ativistas seja o maior
entre as categorias, eles foram identificados em quatro dos cinco perfis analisados.
Partindo para uma análise qualitativa, vejamos perfil a perfil que tipo de
conteúdo predominou para entender melhor o engajamento de cada um dos
influenciadores frente às categorias já apontadas na pesquisa. As considerações serão
feitas seguindo a ordem decrescente de seguidores de cada um dos influenciadores.
17
Fonte: Instagram
18
Fonte: Instagram
19
Fonte: Instagram
Durante o período analisado o perfil fez quatro publicações, dessas, metade tinha
cunho pessoal e mostrava trechos da rotina do proprietário da página. Uma dessas
publicações feitas no período foi fixada e colocada em destaque no perfil, trata-se de
uma foto com a cantora Lana Del Rey durante uma passagem da artista pelo Brasil 9. Por
se tratar de uma artista mundialmente conhecida, a foto colabora para aumentar o capital
social do influenciador (Figura 5). Nenhuma das publicações compartilhadas durante o
período tinha caráter identitário, ativista ou fazia relação à parcerias pagas com
empresas.
9
Lana Del Rey visitou uma comunidade indígena em junho deste ano: Disponível em:
https://gshow.globo.com/tudo-mais/tv-e-famosos/noticia/lana-del-rey-visita-comunidade-indigena-em-
manaus.ghtml . Acesso em 20 jul. 2023.
20
Fonte: Instagram
O quinto perfil analisado pertence à Ira Maragua, indígena da etnia Baré, que
reside em uma comunidade ribeirinha no interior do Amazonas. Em sua apresentação
ela se identifica como blogueira e, assim como os outros perfis analisados, disponibiliza
contatos para parcerias pagas a também coloca no perfil as marcas com quem
atualmente faz parceria comercial.
Uma publicação em vídeo faz relação ao ativismo digital. O post feito no dia 30
de maio de 2023 traz uma mensagem de conscientização a respeito dos malefícios do
Projeto de Lei 490. Além disso, foram feitas três publicações nesse período que são
fruto de parcerias pagas com marcas comerciais, o que mais uma vez reforça a ideia de
crédito proposta por Charaudeau (2013).
21
Fonte: Instagram
Considerações
Além disso, é possível verificar que o Instagram tem sido utilizado pelos povos
indígenas também como um espaço no qual encontram suporte para ampliar a
comunicação dirigida às etnias brasileiras. Ao compartilhar histórias, imagens e
experiências culturais autênticas, os usuários podem desafiar as estruturas de poder e
promover uma diversidade de perspectivas. Além disso, a internet permite a formação
de comunidades virtuais em torno de interesses étnicos compartilhados, fornecendo um
espaço seguro para a expressão dessas identidades que ainda hoje sofrem com a
marginalização (DESLANDES, 2018).
22
dos povos tradicionais. Por fim, essa ocupação e utilização do Instagram colaboram para
o equilíbrio da prática jornalística enquanto espaço de diversidade e respeito às
diferenças.
Por fim, o estudo abre brechas para o aprofundamento desta pesquisa com os
influenciadores indígenas nesta rede social. Uma nova análise considerando fatores
como uso de tags, publicações nos stories - postagens que duram apenas 24h - e
entrevistas com os proprietários dos perfis para entender melhor seus objetivos na rede
social. Portanto, a pesquisa não se encerra aqui, mas tem potencial para se desdobrar em
novas análises futuras.
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