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2a EDIÇÃO/2022
1.2. COMPETÊNCIA 7
2.1.1. CONCEITO 8
2.2.2. COMUNICABILIDADE 13
2.3.2. QUALIFICADORAS 19
2.3.2.3. COM EMPREGO DE VENENO, FOGO, EXPLOSIVO, ASFIXIA, TORTURA OU OUTRO MEIO
INSIDIOSO OU CRUEL, OU DE QUE POSSA RESULTAR PERIGO COMUM 23
2.3.2.7. CONTRA AUTORIDADE OU AGENTE DESCRITO NOS ARTS. 142 E 144 DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL, INTEGRANTES DO SISTEMA PRISIONAL E DA FORÇA NACIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA,
NO EXERCÍCIO DA FUNÇÃO OU EM DECORRÊNCIA DELA, OU CONTRA SEU CÔNJUGE,
COMPANHEIRO OU PARENTE CONSANGUÍNEO ATÉ TERCEIRO GRAU, EM RAZÃO DESSA CONDIÇÃO
29
5.2 ABORTO PROVOCADO PELA GESTANTE OU COM SEU CONSENTIMENTO (ART. 124) 43
5.3. ABORTO PROVOCADO POR TERCEIRO, SEM O CONSENTIMENTO DA GESTANTE (ART. 125) 44
5.4. ABORTO PROVOCADO POR TERCEIRO, COM O CONSENTIMENTO DA GESTANTE (ART. 126) 44
6.8. LESÕES CORPORAIS CONTRA POLICIAIS OU INTEGRANTES DAS FORÇAS ARMADAS OU SEUS FAMILIARES
- Art. 129, §12 58
6.9. LESÕES CORPORAIS CONTRA MULHER, POR RAZÕES DA CONDIÇÃO DO SEXO FEMININO - Art. 129, §13
58
9.2.TIPO OBJETIVO 61
9.6.TENTATIVA 62
10.2.OBJETO JURÍDICO 63
10.7. TENTATIVA 64
11.1.4. REQUISITOS 66
11.1.6.SUJEITO ATIVO 67
11.1.9. CONSUMAÇÃO 68
11.1.10. TENTATIVA 68
11.2.2. REQUISITOS 71
11.2.7. CONSUMAÇÃO 72
11.2.8. TENTATIVA 72
11.3.2. REQUISITOS 73
11.3.7. TENTATIVA 74
12.1.5. CONDUTA 85
12.1.5.2. HABITUALIDADE 87
12.1.8. CONSUMAÇÃO 87
12.1.9. TENTATIVA 87
12.2.5. CONDUTA 91
12.2.7. CONSUMAÇÃO 92
São eles:
Percebe-se que o legislador buscou proteger integralmente o direito à vida do ser humano, desde a
concepção, ou seja, previamente ao seu nascimento. 1
OBSERVAÇÃO
● Ao longo do Código Penal existem diversos tipos penais que têm o resultado morte, mas não são crimes
contra a vida, como por exemplo: latrocínio.
1.2. COMPETÊNCIA
No que diz respeito à competência, os crimes previstos neste Capítulo, à exceção da modalidade
culposa do homicídio e, para parcela da doutrina2, do crime de participação em automutilação, são
julgados pelo Tribunal do Júri, na medida em que o art. 5º, XXXVIII, d, da Constituição Federal, confere ao
Tribunal Popular competência para julgar os crimes dolosos contra a vida.
Súmula 605-STF: Não se admite continuidade delitiva nos crimes contra a vida.
Em que pese a Súmula ainda estar vigente, encontra-se superada, visto que foi editada antes da Lei nº
7.209 /84, que reformou a Parte Geral do Código Penal, passando a admitir a continuidade delitiva em crimes
contra a vida, senão vejamos:
1
MASSON, Cleber. Direito Penal: Parte Especial. Vol. 2. 10. ed. Método. 2020. p.11.
2
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
Art. 71. Parágrafo único - Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes,
cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a
culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem
como os motivos e as circunstâncias, aumentar a pena de um só dos crimes, se
idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o triplo, observadas as regras do
parágrafo único do art. 70 e do art. 75 deste Código.
Homicídio simples
2.1.1. CONCEITO
O homicídio consiste na eliminação da vida humana extrauterina provocada por outra pessoa3.
Para o direito penal, pouco importa se a vida humana em questão é viável ou não, sendo irrelevante
se havia ou não possibilidade do ser permanecer vivo, ressalvado os casos de aborto permitido.
3
Gonçalves, Victor Eduardo Rios Direito penal : parte especial / Victor Eduardo Rios Gonçalves. / coord. Pedro Lenza. – 11. ed. – São
Paulo: Saraiva Educação, 2021. p. 150.
A prova da morte pode ser feita de várias formas, todavia, o único critério legal é encontrado na Lei
9434/97, art. 3, que apresenta a morte encefálica como marco que autoriza a extração dos órgãos para
doação, contudo, o médico pode utilizar vários parâmetros para declarar um óbito.
Dolo, direto (vontade livre e consciente de eliminar a vida humana alheia) ou eventual (o agente, com
sua conduta, assume o risco de provocar a morte).4
OBSERVAÇÕES
🔴 TRANSMISSÃO DE VÍRUS HIV: Para Masson , aquele que consciente da letalidade da moléstia,
5
efetua intencionalmente com terceira pessoa ato libidinoso que transmite a doença, matando-a, responderá
por homicídio doloso consumado. Caso a vítima não venha a falecer, ao agente deverá ser imputado o
crime de homicídio tentado.
4
Gonçalves, Victor Eduardo Rios Direito penal : parte especial / Victor Eduardo Rios Gonçalves. / coord. Pedro Lenza. – 11. ed. – São
Paulo: Saraiva Educação, 2021. p. 171.
5
MASSON, Cleber. Direito Penal: Parte Especial. Vol. 2. 10. ed. Método. 2020. p.16.
4. A alegação de que a Vítima não manifestou sintomas não serve para afastar a
configuração do delito previsto no art. 129, § 2, inciso II, do Código Penal. É de
notória sabença que o contaminado pelo vírus do HIV necessita de constante
acompanhamento médico e de administração de remédios específicos, o que
aumenta as probabilidades de que a enfermidade permaneça assintomática. Porém, o
tratamento não enseja a cura da moléstia.
5. Não pode ser conhecido o pedido de sursis humanitário se não há, nos autos,
notícias de que tal pretensão foi avaliada pelas instâncias antecedentes, nem
qualquer informação acerca do estado de saúde do Paciente.
🔴 HOMICÍDIO POR EMBRIAGUEZ NO TRÂNSITO: O CTB foi alterado em 2017, para prevê no art. 302
como homicídio culposo, o que não afasta a possibilidade de homicídio doloso com embriaguez no trânsito,
conforme se entende a partir do estudo da parte especial nas espécies de dolo.
Art. 1º, Lei 8072/90: São considerados hediondos os seguintes crimes, todos
tipificados no Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal,
consumados ou tentados:
🔴 HOMICÍDIO SEM MOTIVAÇÃO: a ausência de motivos não configura qualificadora para efeitos de
motivo fútil (STJ Resp. 769651/SP, quinta turma), sendo assim, homicídio simples.
OBSERVAÇÃO
SUJEITO PASSIVO: o homicídio que envolve irmãos gêmeos que são unidos pelo
corpo (conhecidos como siameses), configura duplo homicídio, ainda que o sujeito
ativo tenha atingido o corpo de apenas um deles, visto que o evento morte de um
leva, necessariamente, à morte do outro.
XIFÓPAGOS
(GÊMEOS SIAMESES) SUJEITO ATIVO: sendo o xifópago autor do delito, se um pratica o crime e o outro
não compartilha da mesma intenção, o que praticou será condenado, mas não será
preso ou cumprirá pena, pois a liberdade do outro prepondera sobre o jus puniend
do estado, não podendo a pena transcender àquele que não participou (sob uma
análise de dolo e culpa) da conduta criminosa.
Segundo Gonçalves (2021, p. 176), “É pacífico o entendimento de que, apesar de a lei mencionar que o
juiz pode diminuir a pena se reconhecido o privilégio, tal redução é obrigatória, na medida em que o art. 483,
IV, do Código de Processo Penal, diz que as causas de diminuição de pena devem ser apreciadas pelos jurados
na votação dos quesitos e, assim, se estes votarem favoravelmente ao reconhecimento do privilégio, a redução
deverá ser aplicada pelo juiz em decorrência do princípio constitucional da soberania dos vereditos do júri (art.
2.2.2. COMUNICABILIDADE
Por ter caráter subjetivo, relacionando-se diretamente com o agente, não se comunica aos demais
coautores e partícipes, em consonância com o regramento do art. 30 do CP.6
Diz respeito aos interesses de toda uma coletividade, logo, nobre e altruístico (ex.: indignação contra
um traidor da pátria, matar um perigoso estuprador que aterroriza mulheres do bairro).7
Atém-se aos interesses individuais, particulares do agente, entre eles os sentimentos de piedade,
misericórdia e compaixão.
Da leitura do §1º é possível perceber que o homicídio poder ser privilegiado pelo Relevante valor
moral, sendo aquele que se relaciona a um interesse particular do responsável pela prática do homicídio,
aprovado pela moralidade prática e considerado nobre e altruísta8. Exemplo: eutanásia.
A eutanásia, apontada como hipótese de homicídio privilegiado pelo relevante valor moral, é
conhecida como morte piedosa. A ortotanásia (retirada do tratamento médico, em caso de doença incurável,
onde o tratamento não tenha eficácia) não se enquadra na tipicidade material, assim não seria punível. A
distanásia (o oposto da eutanásia) não é crime, pois é o uso de todos os recursos médicos para prolongar a
vida do paciente.
Eutanásia ativa Atos positivos com o fim de matar alguém, eliminando ou aliviando seu sofrimento.
6
MASSON, Cleber. Direito Penal: Parte Especial. Vol. 2. 10. ed. Método. 2020. p.20.
7
meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2021/01/29/no-homicidio-privilegiado-diferenca-entre-os-motivos-de-relevante-valor-moral
-e-de-relevante-valor-social-reside-basicamente-na-abrangencia/
8
MASSON, Cleber. Direito Penal: Parte Especial. Vol. 2. 10. ed. Método. 2020. p.22.
Espécie de reação impulsiva imediata, com isso, segundo a doutrina, um dia depois não se
enquadraria na expressão “logo em seguida”.
A emoção deve ser violenta, intensa, capaz de alterar o estado de ânimo do agente.
OBSERVAÇÕES
● A injusta provocação não precisa ser criminosa. Provocação injusta é o comportamento apto a
desencadear a violenta emoção e a consequente prática do crime.9 Exemplos: brincadeira indesejada e
inoportuna, falar mal do agente, encontra a esposa em flagrante adultério.
● O domínio de violenta emoção é compatível com o dolo eventual, quando o agente assume o risco de
matar a vítima. Por outro lado, não há possibilidade do cometimento de homicídio privilegiado de
forma premeditada, pois o lapso temporal que o planejamento exige afasta o domínio de violenta
emoção logo em seguida a provocação.
🔸 Reação imediata: logo em seguida à injusta provocação. Deve-se considerar o instante em que o
sujeito toma ciência da provocação injusta e não aquele em que realmente ocorreu (MASSON, 2011, p.
24)
9
MASSON, Cleber. Direito Penal: Parte Especial. Vol. 2. 10. ed. Método. 2020. p.24.
OBSERVAÇÕES
10
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Motivo torpe e feminicídio: inexistência de bis in idem. Buscador Dizer o Direito, Manaus.
Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/166cee72e93a992007a89b39eb29628b>. Acesso
em: 04/12/2021
Provocação putativa: provocação que não é real, mas que o agente compreende como sendo. Para
Nelson Hungria, se o agente entende a provocação como real, não afasta a privilegiadora.
Perdão judicial: não admite pois o homicídio privilegiado é uma modalidade de homicídio doloso.
Segundo Gonçalves (2021, p. 184), “No privilégio, exige-se que o agente esteja sob o domínio de
violenta emoção porque o ato se dá logo em seguida à injusta provocação. Na atenuante (art. 65, III, c), basta
que ele esteja sob influência de violenta emoção decorrente de ato injusto, sem a necessidade de que o ato
homicida ocorra logo em seguida àquele.”
O privilégio somente é aplicável ao homicídio doloso A atenuante genérica é aplicável para qualquer crime
O privilégio reclama o domínio de violenta emoção Para a atenuante genérica basta a influência de
violenta emoção
11
www.dizerodireito.com.br
Homicídio qualificado
§ 2° Se o homicídio é cometido:
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio
insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição
Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública,
no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro
ou parente consanguíneo até 3° grau, em razão dessa condição:
🔸 Qualificadoras do motivo fútil e/ou torpe (art. 121, § 2º, I e II, do CP): SIM. Não há dúvidas
quanto a isso. Trata-se da posição do STJ e do STF.
● 2ª corrente: NÃO. O dolo eventual não se compatibiliza com a qualificadora do art. 121, §
2º, IV (traição, emboscada, dissimulação). Para que incida a qualificadora da surpresa é
indispensável que fique provado que o agente teve a vontade de surpreender a vítima,
impedindo ou dificultando que ela se defendesse. Ora, no caso do dolo eventual, o agente não
tem essa intenção, considerando que não quer matar a vítima, mas apenas assume o risco de
produzir esse resultado. Como o agente não deseja a produção do resultado, ele não
direcionou sua vontade para causar surpresa à vítima. Logo, não pode responder por essa
circunstância (surpresa). STF. 2ª Turma. HC 111442/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
28/8/2012 (Info 677).
Na hipótese de estarem presentes duas ou mais qualificadoras, o magistrado deve utilizar uma
delas para qualificar o crime, e as demais como agravantes genéricas na segunda fase da dosimetria da
pena. Nesse sentido tem entendido o STF:
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. É possível haver homicídio qualificado praticado com dolo eventual?. Buscador Dizer o Direito,
12
Inexiste bis in idem nos casos em que, havendo condenação por homicídio
duplamente qualificado, uma adjetivadora é utilizada para qualificar abstratamente o
delito e a outra para incrementar a pena na segunda fase da dosimetria. (STJ, STJ, HC
562.135, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, 6ª Turma, j. 23.06.2020)
2.3.2. QUALIFICADORAS
▸▸Outro motivo torpe: é uma hipótese genérica que segue as hipóteses casuísticas. É o motivo vil,
repugnante, abjeto, que causa repulsa na sociedade.
III - A qualificadora do motivo torpe para restar configurada, até pela própria
redação do Código Penal, deve assemelhar-se ao crime de homicídio cometido
"mediante paga ou promessa de recompensa", porquanto tem-se aí típica
hipótese de interpretação analógica. Isso significa que o "outro motivo torpe" a que
faz alusão a lei no final do dispositivo deve ter intensidade equiparada às hipóteses
constantes no tipo. (STJ, HC n. 77.309/SP, relator Ministro Felix Fischer, Quinta Turma,
julgado em 6/5/2008, DJe de 26/5/2008.)
OBSERVAÇÕES
■ A vingança nem sempre pode ser considerada motivo torpe, pois existem diversas hipóteses e
situações de vingança, devendo ser analisada à luz do caso concreto.
13
MASSON, Cleber. Direito Penal: Parte Especial. Vol. 2. 10. ed. Método. 2020. p.28.
A vingança, por si só, não torna torpe o motivo do delito. Análise do contexto
fático-probatório.Ainda que reprovável a conduta do réu, mostra-se desarrazoado
imputar a torpeza a ela na situação dos autos, uma vez que o agente haveria
praticado o delito para vingar as ameaças da vítima à vida dele e de sua família, bem
como as agressões físicas e a tentativa de golpes de faca que ele teria sofrido na noite
anterior ao crime.Agravo regimental não provido. (STJ, AgInt no AREsp n.
1.770.465/MT, relator Ministro Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, julgado em
24/5/2022, DJe de 30/5/2022.)
■ O motivo torpe não se confunde com o motivo fútil. Segundo a doutrina, o motivo fútil é aquele
em que trás uma desproporção entre o crime e sua causa moral, enquanto o motivo torpe é aquele que causa
repugnância, nojo (ex: matar os pais para ficar com a herança).
1ª corrente: NÃO. A qualificadora de ter sido o delito praticado mediante paga ou promessa de
recompensa é circunstância de caráter pessoal e, portanto, incomunicável, por força do art. 30 do CP.
Nesse sentido: STJ. 5ª Turma. HC 403263/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 13/11/2018.
"O ciúme, por si só, sem outras circunstâncias, não caracteriza o motivo torpe."(STJ,
HC 123.918/MG, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 13/08/2009,
DJe 05/10/2009).
14
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. A qualificadora da “paga ou promessa de recompensa” também se comunica ao mandante do
crime?. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/b495ce63ede0f4efc9eec62cb947c162>.
15
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Motivo torpe e feminicídio: inexistência de bis in idem. Buscador Dizer o Direito, Manaus.
Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/166cee72e93a992007a89b39eb29628b>.
Segundo MASSON (2017, p.65), “por absoluta incompatibilidade, um motivo não pode ser
simultaneamente fútil e torpe. Uma motivação exclui a outra. É fútil ou torpe, obrigatoriamente”.
■ Todo motivo fútil é injusto, mas nem sempre o motivo injusto pode ser considerado fútil16.
Ex: Maria anuncia que vai se separar de Abel após 10 anos de casamento em razão de ter se
apaixonado por Pedro, vizinho do casal. Inconformado, Abel mata Maria. O motivo é injusto, considerando que
não há justificativa para ceifar a vida de uma pessoa por conta do fim de um relacionamento. Por outro lado,
não se pode dizer que a razão que motivou o agente seja insignificante (desprezível). Nesse sentido: STJ HC
77.309/SP, Rel. Min. Felix Fischer, Quinta Turma, julgado em 06/05/2008.
16
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Homicídio qualificado por motivo fútil e fato que surgiu como uma bobagem, mas virou uma briga. Buscador Dizer
o Direito, Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/884ce4bb65d328ecb03c598409e2b168>.
Acesso em: 07/06/2022
Não incide a qualificadora de motivo fútil (art. 121, § 2°, II, do CP), na hipótese de
homicídio supostamente praticado por agente que disputava "racha", quando o
veículo por ele conduzido — em razão de choque com outro automóvel também
participante do "racha" — tenha atingido o veículo da vítima, terceiro estranho à
disputa automobilística. STJ. 6ª Turma. HC 307617-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Rel. para
acórdão Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 19/4/2016 (Info 583)17.
2.3.2.3. COM EMPREGO DE VENENO, FOGO, EXPLOSIVO, ASFIXIA, TORTURA OU OUTRO MEIO INSIDIOSO OU
CRUEL, OU DE QUE POSSA RESULTAR PERIGO COMUM
▸▸Meio insidioso: é o que consiste no uso de estratagema, de perfídia, de uma fraude para cometer o
crime sem que a vítima perceba.
▸▸Meio cruel: é aquele que proporciona à vítima interno e desnecessário sofrimento físico ou mental,
quando a morte poderia ocorrer de forma menos dolorosa.18
▸▸Meio de que possa resultar perigo comum: é aquele que expõe não somente a vítima, mas
também um número indeterminado de pessoas a uma situação de probabilidade de dano.
OBSERVAÇÕES
■ O veneno, segundo a exposição de motivos do nosso CP, para qualificar o homicídio deve ser
ministrado de maneira insidiosa sem que a vítima perceba. Assim, se numa situação hipotética o agente
amarra a vítima e a obriga beber veneno sabendo do que se trata, não se enquadraria na presente
qualificadora e sim por meio cruel.
17
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Hipótese de inexistência de motivo fútil em homicídio decorrente da prática de "racha".
Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/3bf55bbad370a8fcad1d09b005e278c2>.
18
MASSON, Cleber. Direito Penal: Parte Especial. Vol. 2. 10. ed. Método. 2020. p.32.
■ Para o STJ, meio cruel não é incompatível com o dolo eventual, pois o dolo do agente, direto ou
indireto, não exclui a possibilidade da prática delitiva envolver o emprego de meio mais reprovável.
▸▸Traição: pode ser tanto física quanto moral, valendo-se o agente da confiança que o ofendido nele
previamente depositava para o fim de matá-lo em momento em que ele se encontrava desprevenido e sem
vigilância.19
▸▸Emboscada: é a conhecida tocaia, onde o autor aguarda a vítima, conhecendo seu trajeto e a
surpreende para consumar o delito.
19
MASSON, Cleber. Direito Penal: Parte Especial. Vol. 2. 10. ed. Método. 2020. p.38.
▸▸Outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa da vítima: é uma fórmula genérica,
deve ser interpretada em conformidade com as hipóteses casuísticas.
OBSERVAÇÃO
▸▸Conexão teleológica: o homicídio é praticado para assegurar a execução de outro crime, sendo
desnecessário a efetividade em assegurar a execução do outro delito, bastando a intenção.
OBSERVAÇÕES
20
MASSON, Cleber. Direito Penal: Parte Especial. Vol. 2. 10. ed. Método. 2020. p.39-41.
Trata-se de uma qualificadora objetiva, segundo entendimento do STJ por questões de política
criminal, em razão da finalidade da norma:
FEMINICÍDIO FEMICÍDIO
Homicídio doloso cometido contra mulher por Qualquer homicídio praticado contra mulher, mesmo
razões da condição do sexo feminino. que não seja por razões da condição do sexo
Na lição de Cleber Masson, "é importante destacar que feminicídio e femicídio não se confundem.
Ambos caracterizam homicídio, mas, enquanto aquele se baseia em razões da condição de sexo feminino,
O parágrafo segundo tem natureza de norma explicativa, pois apresenta a explicação dos conceitos
trazidos no inciso VI.
Menosprezo, aqui, pode ser entendido no sentido de desprezo, sentimento de aversão, repulsa,
repugnância a uma pessoa do sexo feminino; discriminação tem o sentido de tratar de forma diferente,
distinguir pelo fato da condição de mulher da vítima.22
Ou seja, nem todo homicídio praticado contra mulher será feminicídio, o qual exige as situações
previstas nos incisos I e II.
Para que se entenda o conceito de violência doméstica, é preciso recorrer à lei 11.34/06 (Lei Maria da
Penha) em seu artigo 5º,:
Art. 5o Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a
mulher qualquer ação ou omissão BASEADA NO GÊNERO que lhe cause morte,
lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial:
21
MASSON, Cleber, Direito Penal Esquematizado, vol. 2, 8ª edição ed. rev. e ampl., São Paulo: Método, 2015, pág. 43
22
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal – Vol. 2.: Parte Especial. 17.ed. Impetus. 2020. p. 14.
■ SUJEITO PASSIVO: Obrigatoriamente deve ser uma pessoa do sexo feminino (criança, adulta, idosa,
desde que do sexo feminino)23.
OBSERVAÇÕES
■ Mulher que mata sua companheira homoafetiva: pode haver feminicídio se o crime foi por
razões da condição de sexo feminino.
■ Homem que mata seu companheiro homoafetivo: não haverá feminicídio porque a vítima deve
ser do sexo feminino. Esse fato continua sendo, obviamente, homicídio.
■ No caso dos transexuais, a doutrina majoritária entende mulher como conceito legal e não
biológico, assim, se juridicamente a identificação da pessoa é como mulher (mudança no registro), ela é sujeito
passivo de tal crime. Para o STJ, compete ao Júri decidir:
■ O crime pode ser praticado contra a empregada doméstica, visto que se insere em ambiente
doméstico.
O art. 121, §7º, do CP prevê uma série de hipóteses que configuram causa de aumento de pena ao
crime de feminicídio, vejamos:
23
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Motivo torpe e feminicídio: inexistência de bis in idem. Buscador Dizer o Direito, Manaus.
Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/166cee72e93a992007a89b39eb29628b>.
ATENÇÃO
O artigo 24-A da lei Maria da Penha, prevê como crime autônomo o descumprimento de medida
protetiva. Entretanto, se para executar o crime de homicídio, o agente descumpra a medida protetiva, o autor
responde apenas pelo feminicídio com causa de aumento, é a posição defendida por Rogério Sanches.
2.3.2.7. CONTRA AUTORIDADE OU AGENTE DESCRITO NOS ARTS. 142 E 144 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL,
INTEGRANTES DO SISTEMA PRISIONAL E DA FORÇA NACIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA, NO EXERCÍCIO DA
FUNÇÃO OU EM DECORRÊNCIA DELA, OU CONTRA SEU CÔNJUGE, COMPANHEIRO OU PARENTE
CONSANGUÍNEO ATÉ TERCEIRO GRAU, EM RAZÃO DESSA CONDIÇÃO
São eles:
● Polícia Federal;
● Polícias Civis;
● Polícias Militares;
● Guardas Municipais;
Apesar de divergente, a maior parte da doutrina entende que tal qualificadora possui caráter
subjetivo.
Segunda a doutrina dominante, não incide a qualificadora quando se tratar de filho adotivo, uma
vez que o dispositivo fala expressamente em “parente consanguíneo” e seria analogia in malam partem
abranger outras relações que não de parentesco consanguíneo.24
A Lei 14344/22, denominada “Lei Henry Borel”, acrescentou uma nova qualificadora ao crime de
homicídio, qual seja, homicídio contra menor de 14 anos.
Ademais, trouxe causas de aumento de pena específicas para tal crime, no §2°-B:
24
MASSON, Cleber. Direito Penal: Parte Especial. Vol. 2. 10. ed. Método. 2020. p.53.
✓ Ascendente
✓ Padrasto ou madrasta
✓ Tio
✓ Irmão
✓ Cônjuge, companheiro
✓ Empregador da vítima ou
§ 6o A pena é aumentada de 1/3 até 1/2 se o crime for praticado por milícia
privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de
extermínio.
Crime praticado contra pessoa menor de 14 ou maior de 60 anos: a idade deve ser considerada ao
tempo do crime.
Praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por
grupo de extermínio: Nesse caso, temos um homicídio simples, com causa de aumento de pena, se for
praticado por milícia privada ou por grupo de extermínio. Não se trata de homicídio qualificado!
§ 3º Se o homicídio é culposo:
Trata-se de um tipo aberto, pois há várias formas de se matar culposamente. A culpa constitui-se em
elemento normativo do tipo, uma vez que sua presença deve ser obtida por meio de um juízo de valor, no qual
o magistrado, colocando-se na posição de homem médio, constata se o resultado naturalístico produzido pelo
agente era ou não previsível a um ser humano dotado de inteligência e prudência medianas.25
Ocorre o homicídio culposo quando o agente realiza uma conduta voluntária, com violação do dever
objetivo de cuidado, por negligência, imprudência ou imperícia, produzindo o resultado morte involuntário,
mas objetivamente previsível.
Exemplo: Cirurgião plástico que mata sua paciente por falta de habilidade para
realizar o procedimento cirúrgico.
25
MASSON, Cleber. Direito Penal: Parte Especial. Vol. 2. 10. ed. Método. 2020. p.62.
26
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Especial. 12. Ed. Juspodivm. 2020.
27
MASSON, Cleber. Direito Penal: Parte Especial. Vol. 2. 10. ed. Método. 2020. p.63.
OBSERVAÇÕES
"Irrelevante o fato de a vítima ter falecido imediatamente, tendo em vista que não
cabe ao condutor do veículo, no instante do acidente, supor que a gravidade das
lesões resultou na morte para deixar de prestar o devido socorro". (STJ, AgRg no Ag n.º
1.140.929/MG, Rel. Ministra LAURITA VAZ)
28
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Morte instantânea da vítima nem sempre irá afastar a majorante do § 4º do art. 121 do CP.
Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/17326d10d511828f6b34fa6d751739e2>.
29
Direito Penal esquematizado. Vol. 2., São Paulo: Método, 2014, p. 200)
■ Quanto às causas de aumento de pena no homicídio doloso, para sua incidência é necessário que o
agente conheça ou tenha a possibilidade de conhecer a idade da vítima.
■ “Não é possível utilizar a idade da vítima para aumentar a pena-base (primeira fase da
dosimetria da pena) e para fazer incidir a causa de aumento de pena do art. 121, § 4º, do CP. Se essa
circunstância (tenra idade da vítima) for utilidade em dois momentos diferentes da dosimetria da pena, o caso é
de bis in idem, o que é vedado pelo ordenamento jurídico”30.
A causa de aumento do art. 121, § 4º, do CP não pode incidir com base no mesmo
fato que ensejou a condenação pelo homicídio culposo, sob pena de ocorrência
do vedado bis in idem. (STJ, AgRg no AgRg no Ag em REsp 1.582.317, Rel. Min. Joel Ilan
Paciornick, 5ª turma, j. 15.09.2020)
30
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. A tenra idade da vítima é fundamento idôneo para a majoração da pena-base do crime de
homicídio pela valoração negativa das consequências do crime. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/96e07156db854ca7b00b5df21716b0c6>.
O perdão judicial é instituto pelo qual o juiz, não obstante a prática de um fato típico e antijurídico por
um sujeito comprovadamente culpado, deixa de lhe aplicar o preceito sancionador cabível nas hipóteses
previstas na legislação.31
A sentença que aplica o instituto tem NATUREZA DECLARATÓRIA de extinção da punibilidade, não
sendo condenatória, conforme informa a Súmula 18 do STJ.
Para o STJ, ainda, o perdão judicial é uma condição a ser aferida pelo julgador, não bastando o
sofrimento, necessitando de um laço afetivo prévio, seja de parentesco ou afetividade e, posteriormente,
causando sofrimento.
O perdão judicial não pode ser concedido ao agente de homicídio culposo na direção
de veículo automotor (art. 302 do CTB) que, embora atingido moralmente de forma
grave pelas consequências do acidente, não tinha vínculo afetivo com a vítima nem
sofreu sequelas físicas gravíssimas e permanentes. (STJ. 6ª Turma. REsp 1455178-DF,
Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 5/6/2014) (Info 542)33
31
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Especial. 12. Ed. Juspodivm. 2020.
32
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Perdão judicial deve ser aplicado com cautela. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível
em: https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/4ffb0d2ba92f664c2281970110a2e071>. Acesso em:
05/12/2021
33
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Perdão judicial e homicídio culposo na direção de veículo automotor. Buscador Dizer o Direito,
Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/39e4973ba3321b80f37d9b55f63ed8b8>. Acesso em:
05/12/2021
O perdão judicial não se confunde com o perdão do ofendido, o qual necessita de aceite e é oferecido
pela vítima.
§ 3º A pena é duplicada:
O tipo penal ora em comento foi reformulado com o advento da Lei nº 13.968/19, possuindo diversas
novidades que merecem atenção e cuidado.
Dentre muitas mudanças, uma das mais notáveis é a inclusão da participação em automutilação,
uma vez que antes da reforma só havia a previsão da participação em suicídio. Ademais, o crime deixou de ser
crime material e passou a ser crime formal, com isso, consuma-se mesmo que a vítima não consiga se suicidar
ou se automutilar.
NÃO CONFUNDA34
É possível, mas apenas nas hipóteses em que o agente tem o dever jurídico de
AUXÍLIO POR OMISSÃO
evitar o resultado (suicídio ou automutilação) e, intencionalmente, não o faz.
OBSERVAÇÕES
■ O tipo penal não pune o suicídio, a automutilação ou quem tenta tirar a própria vida (princípio da
alteridade), mas sim aquele, terceiro, que de alguma forma participa instigando, induzindo ou auxiliando
alguém a suprimir sua própria vida ou a mutilar-se.
■ Com as alterações legislativas, o crime deixou de exigir resultado naturalístico, para ser apenas
de perigo. Não há necessidade de ocorrer o suicídio ou automutilação, a simples instigação ou induzimento
(participação moral) já configura o delito, consequentemente não se admite a tentativa. Porém, caso haja
resultado morte ou mutilação, teremos uma figura qualificada.
34
Gonçalves, Victor Eduardo Rios Direito penal : parte especial / Victor Eduardo Rios Gonçalves. / coord. Pedro Lenza. – 11. ed. – São
Paulo: Saraiva Educação, 2021. (Coleção Esquematizado®). p. 290.
OBSERVAÇÕES
■ Para a doutrina majoritária, se a vítima for menor de 14 anos ou não tiver capacidade nenhuma de
resistência e o crime resultar em morte ou lesão, o autor responde por homicídio ou lesão corporal.
■ Para a incidência do delito, é necessário que a conduta seja dirigida a uma ou a várias pessoas
determinadas. Dessa maneira, se houver o induzimento genérico (a pessoas desconhecidas e
indeterminadas) não haverá o crime do art. 122. Exemplo clássico de induzimento genérico é a obra literária
que aborde o suicídio e que de alguma forma incentive sua prática.
■ Pacto de morte. No pacto de morte, se uma das pessoas morrer é preciso análise do caso concreto,
vejamos exemplo: Se A e B combinam de se matar por sufocamento com gás, B abre a válvula e morre, mas A
sobrevive responderá por auxílio ou instigação ao suicídio ou automutilação. Por sua vez, se A morrer e B
sobreviver, este responderá por homicídio, uma vez que praticou ato executório. Não seria auxílio material, pois
a conduta extrapola a mera ajuda, já que foi execução.
■ Roleta-russa em grupo. Por haver estimulação mútua para apertar o gatilho de uma arma voltada
contra o próprio corpo, os sobreviventes respondem pelo crime de participação em suicídio.
Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o
parto ou logo após:
O infanticídio é o homicídio praticado pela genitora contra o próprio filho, influenciada pelo
estado puerperal, durante ou logo após o parto. O delito é etiquetado pela doutrina como uma forma
especial (privilegiada) de homicídio, considerando os sintomas fisiopsicológicos da gestante.35
Tal crime já tem previsão no ordenamento brasileiro desde 1830, contudo adotava o critério
psicológico, pois descrevia o delito como uma prática para ocultar a desonra da mãe. O nosso código atual
35
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Especial. 12. Ed. Juspodivm. 2020.
Atenção: Se a mãe em estado puerperal mata seu filho sem a intenção, não ocorre feminicídio, pois
não há previsão da modalidade culposa, neste caso incide o homicídio culposo, com a possibilidade do perdão
judicial.
Somente a mãe (parturiente), sob a influência do estado puerperal, pode ser sujeito ativo (crime
próprio).
OBSERVAÇÕES
■ Caso a mãe, sob a influência do estado puerperal, logo após o parto, pensando ser seu filho (vítima
virtual), acaba, por engano, matando filho alheio (vítima real), pratica o crime de infanticídio (INFANTICÍDIO
PUTATIVO), aplicando-se a regra contida no art. 20, §3º, do CP:
Art. 20 (...)
§ 3º - O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta de pena.
Não se consideram, neste caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da
pessoa contra quem o agente queria praticar o crime.
■ Por ser um crime que exige uma qualidade especial tanto do sujeito ativo (mãe), quanto do sujeito
passivo (filho), é denominado pela doutrina de crime bipróprio.
Para a comprovação da pertubação psíquica, deve-se comprovar por meio de perícia. Vejamos o que
diz a Exposição de Motivos do CP:
Durante o parto (dilatação do colo do útero ou incisão das camadas abdominais), ou logo após.
Ademais, não basta que a mulher esteja em estado puerperal, é fundamental que se demonstre o nexo causal
entre esse estado e a conduta praticada, conforme a exposição de motivos do Código Penal.
● Logo após: a doutrina majoritária entende que esse intervalo compreende todo o período do estado
puerperal, circunstância a ser analisada pelos peritos médicos no caso concreto
NÃO CONFUNDA
Há situações nas quais o estado puerperal poderá ocasionar outra e enfermidade (exemplo: depressão pós
parto) que possa ocasionar a inimputabilidade.
36
Gonçalves, Victor Eduardo Rios Direito penal : parte especial / Victor Eduardo Rios Gonçalves. / coord. Pedro Lenza. – 11. ed. – São
Paulo: Saraiva Educação, 2021. (Coleção Esquematizado®). p. 306..
Embora haja intensa discussão acerca da natureza do delito, prevalece que o infanticídio é crime
próprio, razão pela qual admite coautoria e participação.
Temos ainda outras duas correntes, minoritárias, a primeira, diz que o estado puerperal seria um
elementar personalíssima e portanto, o coautor ou partícipe responderiam por homicídio. A segunda, adora
um critério misto, pois se o terceiro ajuda a mãe em estado puerperal a matar o filho, seria infanticídio, já se
este executa a criança a pedido da mãe em estado puerperal, ele responderia por homicídio.
Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque:
Forma qualificada
Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de 1/3,
se, em consequência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a
gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer
dessas causas, lhe sobrevém a morte.
Aborto necessário
O aborto é um crime contra a vida humana intrauterina e pode ocorrer a partir da nidação
(implantação no óvulo fecundado nas paredes do útero materno). Assim, se a gravidez for ectópica (nas
trompas de falópio), não há aborto.
Pouco importa se a gravidez é natural ou fruto de inseminação artificial, em ambos os casos haverá a
prática do crime se houver a interrupção intencional da gravidez, salvo os casos permitidos.
No julgado da ADI 3510, o Ministro Ayres Britto argumenta que a colocação do embrião in vitro, antes
da introdução no útero, não provoca nidação para o aborto, assim, é necessária nidação no útero para que
possa ocorrer o aborto.
5.2 ABORTO PROVOCADO PELA GESTANTE OU COM SEU CONSENTIMENTO (ART. 124)
O art. 124 traz duas formas de aborto criminoso: o autoaborto e o aborto praticado com o
consentimento da gestante.
OBSERVAÇÃO
Trata-se de crime próprio, admitindo concurso de As duas condutas só podem ser praticadas
agentes na forma de coautoria. diretamente pela mulher grávida, tratando-se de
crime de mão própria, sendo possível a participação
de terceiros mas não a coautoria.
OBSERVAÇÃO
Há quem defenda que o sujeito passivo seria somente o Estado, uma vez que o feto não seria titular
de direitos.
5.3. ABORTO PROVOCADO POR TERCEIRO, SEM O CONSENTIMENTO DA GESTANTE (ART. 125)
A modalidade de aborto do art. 125 espelha a forma mais grave do crime, verificando -se quando o
aborto é provocado por terceiro, sem o consentimento da gestante.
OBSERVAÇÕES
■ O art. 125 é um crime de dupla subjetividade passiva, porque a gestante não consente com o
aborto, sendo assim vítima, juntamente com o feto.
■ Se o aborto for cometido em gestante que seja menor de 14 anos ou pessoa incapaz, considera-se
que não houve consentimento, respondendo o agente pelo crime do art. 125 do CP.
5.4. ABORTO PROVOCADO POR TERCEIRO, COM O CONSENTIMENTO DA GESTANTE (ART. 126)
O tipo penal pune o terceiro que provoca o aborto com o consentimento da gestante.
OBSERVAÇÃO
37
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Especial. 12. Ed. Juspodivm. 2020.
38
MASSON, Cleber. Direito Penal: Parte Especial. Vol. 2. 10. ed. Método. 2020. p.87.
■ Dissenso presumido: o art. 126, parágrafo único, desconsidera a vontade positiva da gestante
quando menor de 14 anos, alienada ou débil mental ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave
ameaça ou violência. Nesse caso, aplica-se ao terceiro provocador o art. 125, ficando a gestante isenta de
sanção penal.
O art. 127 traz causas de aumento de pena (e não forma qualificada). Pela simples leitura do
dispositivo legal, percebe-se que as causas de aumento somente se aplicam aos crimes definidos nos arts.
125 e 126, uma vez que o direito penal não pune a autolesão nem o ato de matar-se. Assim, não é aplicável
ao crime do art. 124.39
Se o houver tentativa de aborto e lesão grave/morte da mulher, seria possível aplicar a causa de
diminuição do art. 14, II e causa de aumento do 127?
1ª CORRENTE 2ª CORRENTE
Se a gestante sofrer lesão ou óbito, o autor responde Se houve dolo de abortar, mas não aconteceu a
por aborto consumado e mais a causa de aumento consumação, apesar da lesão grave ou morte da
do art. 127 (seguindo o raciocínio da súmula 610 do gestante, o agente responde por tentativa, mais
STF sobre latrocínio), sendo crime preterdoloso. causa de aumento do art. 127.
🔸 Não se pune o aborto praticado por médico se não há outro meio de salvar a vida da
gestante: aborto necessário ou terapêutico.
🔴 Requisitos:
✓ Deve ser praticado por médico: caso outra pessoa sem habilitação profissional de médico
pratique o aborto nessa situação, apesar de o fato ser típico, estará o agente acobertado pela descriminante do
estado de necessidade.40
39
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Especial. 12. Ed. Juspodivm. 2020.
40
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Especial. 12. Ed. Juspodivm. 2020.
Traz a situação de aborto no caso de gravidez resultante de estupro. O motivo de tal permissão legal
consiste em que nada justificaria impor-se à vítima do atentado sexual uma maternidade que talvez lhe fosse
odiosa e que sempre lhe lembraria o crime sofrido.41
🔴 Requisitos:
✓ Deve ser praticado por médico: se a interrupção se der pela gestante ou por outra pessoa que
não médico, o fato será típico e ilícito. Porém, é de se reconhecer a incidência de uma dirimente, fundada na
inexigibilidade de conduta diversa (causa supralegal de exclusão da culpabilidade).42
OBSERVAÇÕES
■ Para a doutrina majoritária, o art. 128 traz duas causas especiais de exclusão da ilicitude.43
■ A hipótese de aborto permitido em razão do risco de vida da gestante é uma escolha do legislador,
sendo assim, mesmo que a gestante escolha salvar o filho e morrer, o médico não pode permitir tal escolha.
Ademais, como a vida é um bem indisponível, não é exigível o consentimento da gestante, podendo o médico
fazer o procedimento mesmo sem o consentimento daquela. Para a doutrina majoritária, trata-se de um estado
de necessidade na parte especial do código.
■ Ambas as hipóteses de aborto permitido, previstas no art. 128, não exigem autorização judicial.
■ Aborto De Feto Anencefálico: O STF entendeu que é permitido, sendo conduta atípica. Vejamos:
41
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Especial. 12. Ed. Juspodivm. 2020.
42
MASSON, Cleber. Direito Penal: Parte Especial. Vol. 2. 10. ed. Método. 2020. p.99.
43
MASSON, Cleber. Direito Penal: Parte Especial. Vol. 2. 10. ed. Método. 2020. p.97.
§ 1º Se resulta (grave):
II - perigo de vida;
IV - aceleração de parto:
§ 2° Se resulta (gravíssima):
II - enfermidade incurável;
IV - deformidade permanente;
V - aborto:
Diminuição de pena
44
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Interrupção da gravidez no primeiro trimestre da gestação. Buscador Dizer o Direito, Manaus.
Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/db9e6eef2eb4f0d8c55ecc7beaf2d78d>. Acesso
em: 05/12/2021
Substituição da pena
§ 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de detenção
pela de multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis:
§ 6° Se a lesão é culposa:
Aumento de pena
Violência Doméstica
§ 10. Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo (lesão grave, gravíssima e
seguida de morte), se as circunstâncias são as indicadas no § 9o deste artigo
(violência doméstica), aumenta-se a pena em 1/3.
§ 12. Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e
144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de
Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu
cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até 3° grau, em razão dessa
condição, a pena é aumentada de 1/3 a 2/3.
§ 13. Se a lesão for praticada contra a mulher, por razões da condição do sexo
feminino, nos termos do § 2º-A do art. 121 deste Código (Considera-se que há razões
de condição de sexo feminino quando o crime envolve: I - violência doméstica e
familiar; II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher): (LEI 14188/21)
OBSERVAÇÃO
A pluralidade de lesões praticadas no mesmo contexto fático, configura um crime único. O número de
lesões será considerado como circunstâncias desfavoráveis na fixação da pena base. (art. 59).
▸ Lesão por omissão: É possível responder, desde que o omitente tenha o dever jurídico de evitar a
lesão, isto é, seja garantidor
OBSERVAÇÕES
■ Se a autolesão é para fraudar seguro, é crime de estelionato (art. 171, §2º, do CP).
■ Vias de fato: Não se pode confundir o crime de lesão corporal com a contravenção penal de vias de
fato (art. 21 LCP), vez que nesta não existe (e sequer é a intenção do agente) qualquer dano à incolumidade
física da vítima (exemplo: mero empurrão).45
■ Eritema e dor (vermelhidão): Se não acompanhados de ferimentos não configuram o crime de lesão
corporal, já a equimose e hematomas são considerados.46
■ Intervenção médica: Tradicionalmente as cirurgias médicas são classificadas como exercício regular
do direito, principalmente quando se trata de risco de vida e impossibilidade de demonstração do
consentimento do paciente. Logo, não configuram o crime estudado.
■ Lesão em atividades esportivas: Nos esportes em que ferimentos decorrem naturalmente de sua
prática, como boxe, judô, karatê e demais artes marciais, não há crime em razão da exclusão da ilicitude pelo
exercício regular do direito.47
■ Corte de cabelo: Pode configurar crime de injúria real se a intenção é humilhar a vítima. Ou lesão
corporal de acordo com parte da doutrina, porque o cabelo integra o corpo.
45
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Especial. 12. Ed. Juspodivm. 2020.
46
MASSON, Cleber. Direito Penal: Parte Especial. Vol. 2. 10. ed. Método. 2020. p.108.
47
MASSON, Cleber. Direito Penal: Parte Especial. Vol. 2. 10. ed. Método. 2020. p.112.
OBSERVAÇÃO
Não é possível tentativa de lesão corporal culposa e preterdolosa, porque tais crimes não admitem
tentativa.
Para os fins de caracterização do caput do art. 129 do CP, é possível que se configure o crime de lesão
corporal mesmo que a vítima sofra “apenas” um dano “mental”?48
SIM. Conforme lição de Nelson Hungria, o crime de lesão corporal consiste “em qualquer dano
ocasionado por alguém, sem animus necandi, à integridade física ou a saúde (fisiológica ou mental) de outrem”.
Assim, também pratica o referido delito aquele que causa lesão à saúde mental de outrem. Ainda conforme
Nelson Hungria, “mesmo a desintegração da saúde mental é lesão corporal, pois a inteligência, a vontade ou a
memória dizem com a atividade funcional do cérebro, que é um dos mais importantes órgãos do corpo. Não se
concebe uma perturbação mental sem um dano à saúde, e é inconcebível um dano à saúde sem um mal
corpóreo ou uma alteração do corpo”. (Comentários ao código penal. 5ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1979. v. 5;
fls. 337-340).
➽ O crime se prova através de exame de corpo de delito complementar, conforme estabelece o art.
168 do CPP. Porém, a falta de exame pericial pode ser suprida por prova testemunhal, caso tenham
desaparecidos os vestígios.
48
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. A qualificadora prevista no art. 129, § 2º, IV, do Código Penal (deformidade permanente) abrange somente lesões
corporais que resultam em danos físicos. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/4aee31b0ec9f7bb7885473d95961e9a6>. Acesso em: 08/06/2022
STF. 2ª Turma. HC 114567/ES, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 16/10/2012 (Info
684).
➽ Só admite o preterdolo (dolo na conduta e culpa no resultado), pois se a vontade for de matar,
deve o agente responder por tentativa de homicídio.
OBSERVAÇÕES
■ A recuperação de membro, sentido ou função por meio cirúrgico ou ortopédico não acarreta a
exclusão da qualificadora.
■ Se houver perda total do membro, sentido ou função o crime passa a ser lesão corporal gravíssima
(129, §2º, III).
2. Como bem leciona Guilherme de Souza Nucci, os membros do corpo humano são
os braços, as mãos, as pernas e os pés. Os dedos são apenas partes dos membros, de
modo que a perda de um dos dedos constitui-se em debilidade permanente da
mão ou do pé. (in Código Penal Comentado, 19ª edição, pág. 797).(STJ, AgRg no AREsp
1895015/TO, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado
em 17/08/2021, DJe 20/08/2021)
A lesão corporal que provoca na vítima a perda de dois dentes tem natureza grave
(art. 129, § 1º, III, do CP), e não gravíssima (art. 129, § 2º, IV, do CP). A perda de dois
dentes pode até gerar uma debilidade permanente (§ 1º, III), ou seja, uma dificuldade
maior da mastigação, mas não configura deformidade permanente (§ 2º, IV). STJ. 6ª
Turma. REsp 1620158-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 13/9/2016 (Info
590).
🔸 Aceleração de parto
➽ Ocorre quando, em decorrência da lesão, o feto é expulso, com vida, antes do tempo normal (parto
prematuro).
➽ É imprescindível que o agente saiba (ou pudesse saber), em razão das circunstâncias de fato, estar
a ofendida grávida.50
ATENÇÃO
49
MASSON, Cleber. Direito Penal: Parte Especial. Vol. 2. 10. ed. Método. 2020. p.117-118.
50
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Especial. 12. Ed. Juspodivm. 2020.
➽ A incapacidade deve ser para o trabalho e não para qualquer ocupação habitual.
➽ A doutrina entende que esta qualificadora só se aplica se a vítima ficar incapacitada para qualquer
trabalho e não apenas para o trabalho que ela exercia ao tempo da agressão. Em outras palavras, a
incapacidade para o trabalho deve ser genérica.
🔸 Enfermidade incurável
➽ Enfermidade incurável é aquela que não tem previsão de cura na medicina atual, ainda que
posteriormente seja descoberta a cura.
51
MASSON, Cleber. Direito Penal: Parte Especial. Vol. 2. 10. ed. Método. 2020. p.119.
OBSERVAÇÕES
■ Em se tratando de órgãos duplos (ex. rins), a lesão para ser qualificada como gravíssima deve atingir
ambos.
🔸 Deformidade permanente
➽ A deformidade permanente consiste no dano estético, aparente e considerável, sendo capaz de
provocar constrangimento a quem possui e em quem ver.
➽ A deformidade precisa ser permanente, mas não eterna e irreversível. Ex. Uma queimadura na face
que deixe cicatriz e que seja possível reparar com tratamentos estéticos.
Pratica o tipo penal fundamental da lesão corporal aquele que ofende a integridade
corporal ou a saúde física ou mental de outrem. Contudo, conforme entendimento
firmado por ambas as turmas que compõem a Terceira Seção desta Corte Superior de
Justiça, a qualificadora prevista no art. 129, § 2º, inciso IV, do Código Penal
(deformidade permanente), deve representar lesão estética de certa monta, capaz de
causar desconforto a quem a vê ou ao seu portador, abrangendo, portanto, somente
as condutas que resultam em lesão física. No caso, a vítima, após o evento danoso,
fora acometida de transtorno de estresse pós-traumático e alteração
permanente da personalidade, circunstância que não se enquadra no inciso IV
do § 2.o do art. 129 do Código Penal. (STJ, HC 689.921, Rel. Min. Laurita Vaz, 6ª
Turma, j. 08.03.2022)
🔸 Aborto
➽ Pune-se a título de dolo a lesão e a título de culpa o abortamento, logo, trata-se de crime
necessariamente preterdoloso.
➽ Se o dolo é provocar o aborto e, a título de culpa, a mulher sofre lesão grave, estaremos diante do
crime de aborto qualificado pela lesão gravíssima.
52
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. A qualificadora prevista no art. 129, § 2º, IV, do Código Penal (deformidade permanente) abrange somente lesões
corporais que resultam em danos físicos. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/4aee31b0ec9f7bb7885473d95961e9a6>. Acesso em: 08/06/2022
NÃO CONFUNDA53
Homicídio doloso
Dolo no antecedente Ex: ao desferir os golpes, o agente queria não apenas que a vítima
+ fosse lesionada, mas também que morresse.
Dolo direto no resultado agravador Caso este resultado aconteça, ou seja, a vítima morra, o agente
responderá por homicídio.
Homicídio doloso
Crime preterdoloso.
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Lesão corporal qualificada pelo resultado morte e nexo de causalidade. Buscador Dizer o
53
ATENÇÃO
Se o agente comete vias de fato (ato agressivo sem intenção de lesionar) e disso decorre a morte da
vítima — o agente responde apenas por homicídio culposo54.
Chamado pela doutrina de LESÃO CORPORAL PRIVILEGIADA, cujas considerações foram feitas na
parte referente a homicídio.
Victor Eduardo Rios Gonçalves ressalta que a sua incidência, se presentes os requisitos legais, é direito
subjetivo do réu.
Para a aplicação do art. 129, § 4º, do Código Penal (lesão corporal privilegiada), é
necessário que o agente cometa o delito sob o domínio de violenta emoção logo em
seguida à injusta provocação da vítima. (STJ, AgRg no HC 559.005/SP, Rel. Ministro
JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 13/04/2020, DJe 20/04/2020)
É pública condicionada à representação (art. 88 da 9.099/95). Mas, o STF, na ADI 4424, decidiu que,
nos casos de lesão culposa decorrentes de violência doméstica ou familiar contra a mulher, a ação é pública
incondicionad54.
Lesão corporal culposa no trânsito: configura crime mais grave (art. 303 do CTB)
54
Direito Penal: Parte Especial / Victor Eduardo Rios Gonçalves ; coord. Pedro Lenza. – 12. ed. – São Paulo : SaraivaJur, 2022. (Coleção Esquematizado®)
Não cabe acordo de não persecução penal em crime que envolva violência doméstica ou familiar
contra mulher (art. 28-A, §2°, IV, CPP).
Não confundir com a lei 11.430/06, pois o §9° tem aplicação abrangente, não se resumindo à
mulher. Contudo, os institutos peculiares da Lei Maria da Penha só se aplicam quando a vítima for mulher.
Em casos de lesão grave, gravíssima e seguida de morte no contexto de violência doméstica (§9°),
aumenta-se a pena em 1/3.
Quando cometido contra pessoa com deficiência (física e mental) no contexto de violência doméstica
(§9°), aumenta-se a pena em 1/3.
Ação Penal: no crime de lesão leve qualificado pela violência doméstica ou familiar contra mulher a
ação penal é pública incondicionada.
6.8. LESÕES CORPORAIS CONTRA POLICIAIS OU INTEGRANTES DAS FORÇAS ARMADAS OU SEUS
FAMILIARES - Art. 129, §12
Para que seja aplicada essa causa de aumento é preciso que a vítima seja agredida no exercício da
função policial ou em razão desta.
6.9. LESÕES CORPORAIS CONTRA MULHER, POR RAZÕES DA CONDIÇÃO DO SEXO FEMININO - Art. 129, §13
Condição especial da vítima juntamente com uma motivação específica do agente. Há necessidade,
portanto, que a vítima seja mulher, não se encaixando em tal hipótese o homem.
Art. 133 - Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou
autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos
resultantes do abandono:
§ 2º - Se resulta a morte:
Aumento de pena
55
https://cursofmb.com.br/2021/08/10/lesao-corporal-praticada-contra-mulher-por-razoes-da-condicao-do-sexo-feminino/
Deve ter a vítima sob seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade (crime próprio).
O crime exige o dolo de expor a vítima a perigo por meio do abandono. Caso o dolo seja de dano,
como na situação que o agente abandona um idoso para que venha a morrer, haverá alteração da capitulação
legal do delito (homicídio consumado ou tentado).
Tanto o §1º quanto o §2º trazem qualificadoras, sendo que em todas elas estamos diante de um crime
preterdoloso, ou seja, dolo quanto ao abandono, culpa quanto ao consequente, uma vez que o agente não
tinha a intenção de causar a morte ou a lesão grave. Por sua vez, o §3º traz hipóteses de causas de aumento de
pena, tratando-se de um rol taxativo e que não admitindo a analogia in malam partem.
§ 2º - Se resulta a morte:
O motivo do abandono (ocultar desonra própria) faz com que o crime seja tratado como uma forma
privilegiada do crime previsto no Art. 133 (abandono de incapaz).56
56
MASSON, Cleber. Direito Penal: Parte Especial. Vol. 2. 10. ed. Método. 2020. p.162.
Exige-se o dolo específico de ocultar desonra própria. Para a consumação, é desnecessário que a
mulher consiga efetivamente ocultar a desonra própria.
Tanto o §1º quanto o §2º trazem qualificadoras, sendo que em todas elas estamos diante de um crime
preterdoloso, ou seja, dolo quanto ao abandono para ocultar a desonra, culpa quanto ao consequente, uma vez
que o agente não tinha a intenção de causar a morte ou a lesão grave.
Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal,
à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo
ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da
autoridade pública:
9.2.TIPO OBJETIVO
● Falta de assistência imediata: o agente pode prestar o socorro pessoalmente à pessoa que
dele necessita, e não o faz. só se configura, nos termos da lei, quando a prestação do socorro não põe em risco
a vida ou a incolumidade física da pessoa, que, em verdade, não precisa realizar atos heroicos, que podem ter
como consequência a própria morte. Se a prestação de socorro implicar produção de risco à terceira pessoa, a
omissão não constituirá crime57.
57
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
A omissão de socorro dispensa a existência de vínculo especial entre os sujeitos ativo e passivo,
diferentemente do que ocorrer nos crimes dos arts. 133 e 134.
Dolo.
9.6.TENTATIVA
O parágrafo único traz uma causa de aumento de pena quando da omissão resulta lesão corporal ou
morte.
Se a morte do periclitante for inevitável, o agente não responderá de forma majorada pela omissão,
uma vez que a atuação do omitente não evitaria o resultado.
Rixa é um crime plurissubjetivo ou de concurso necessário onde três ou mais pessoas brigam
entre si com condutas contrapostas.
Exige ações materiais que causem perigo ou ofendam a integridade física, ações morais como
palavrões não configuram a rixa.
10.2.OBJETO JURÍDICO
Em que pese o crime atente contra a ordem social e a paz pública, o bem jurídico tutelado é a
incolumidade física e mental da pessoa humana.58
Qualquer pessoa.
ATENÇÃO
O crime de rixa possui um aspecto sui generis, pois cada participante é ao mesmo tempo sujeito ativo
e passivo do crime. É ainda classificado como crime de condutas contrapostas, pois os rixosos atuam uns contra
os outros.59
Dolo (de perigo). Por ser crime de perigo, não é necessário que qualquer dos rixosos sofra lesões corporais.
DE IMPROVISO OU “EX IMPROVISO” surge sem previsão, de forma súbita, sem ordenação das condutas
pelos participantes.
58
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Especial. 12. Ed. Juspodivm. 2020.
59
MASSON, Cleber. Direito Penal: Parte Especial. Vol. 2. 10. ed. Método. 2020. p.191.
CAPEZ, 2005, p. 219/220
60
A doutrina diverge quanto à possibilidade da tentativa no crime de rixa, para Nelson Hungria, se a rixa
fosse inesperada (não planejada), como numa confusão repentina, não caberia tentativa. Já, se houvesse
premeditação, haveria a possibilidade se assim não se consumasse por razões alheias à vontade dos agentes.
OBSERVAÇÃO
Mesmo que o envolvido na rixa só apanhe, se houver morte ou lesão grave responderá pela rixa
qualificada. Portanto, é um dos resquícios de responsabilidade penal objetiva no nosso código penal. Assim, se
for possível identificar quem realizou a conduta gravosa que causou a lesão corporal ou a morte, este
responderá por rixa mais lesão grave ou homicídio na forma do concurso material de crimes.
Caso a morte ou lesão grave ocorrer antes da entrada do rixoso, este não responderá pela rixa
qualificada pois não deu causa ao resultado.
61
https://jus.com.br/artigos/56403/crime-de-rixa-e-a-responsabilidade-penal-do-agente
Autores não identificados: Se for identificado apenas um indivíduo envolvido, mas se sabe que
houve rixa, ele poderá ser punido.
Vias de fato e lesão: Quem se envolve na rixa e pratica lesão, responde por lesão e pelas vias de fato
porventura praticadas no contexto. Contudo, quanto à pessoa que pratica apenas via de fato, há debate na
doutrina quanto à sansão a ser aplicada.
Rixa e legítima defesa: Quem entra para separar, não responde conforme expressa previsão no
artigo. Já se alguém entra para defender um terceiro que está sendo agredido, se enquadra em legítima defesa.
Contudo, se alguém participante da rixa age de forma a impedir algum rixoso de agir com força
desproporcional (com uma arma, por exemplo) e vem a mata-lo, ele agiu com legítima defesa, entretanto
responderá pela rixa qualificada por ser responsabilidade penal objetiva.
Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime:
Exceção da verdade
I - se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi
condenado por sentença irrecorrível;
III - se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por
sentença irrecorrível.
O crime de calúnia tutela a honra objetiva, isto é, o bom nome, a reputação das pessoas perante o
grupo social. Em poucas palavras, honra objetiva é o que os outros pensam a respeito dos atributos morais de
alguém.62
Na calúnia, o agente atribui a prática de um fato criminoso a outrem, ou seja, narra que alguém
teria cometido um crime. Como a calúnia dirige-se à honra objetiva, é necessário que essa narrativa seja
feita a terceiros e não ao próprio ofendido. Dessa maneira, a título de exemplo, não basta que o agente
chame alguém de ladrão, corrupto ou assassino, pois é necessário imputar um fato específico que configure
crime.
🔸 Inequívoca ou explícita: Ocorre quando a ofensa é feita às claras, sem deixar qualquer margem
de dúvida em torno da intenção de ofender.
🔸 Reflexa: Quando o agente quer caluniar uma pessoa, mas, na narrativa do fato, acaba também
atribuindo crime a uma outra. Em relação a esta última, a calúnia é reflexa.
A honra é um bem jurídico disponível, por essa razão o consentimento do ofendido exclui a ilicitude
do fato (causa supralegal de exclusão de ilicitude).
11.1.4. REQUISITOS
✓ Imputação de fato concreto definido como crime: logo, se o infrator acusa a vítima de ter
cometido uma contravenção penal ou fato atípico comete DIFAMAÇÃO.
✓ Falsidade da imputação: a imputação tem que ser falsa, se for verdadeira não há crime. A
falsidade pode se referir tanto aos fatos quanto à autoria.
Trata-se do dolo de ofender a honra objetiva da vítima, é o que se chama de animus injuriandi vel diffamandi.64
62
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
63
Direito Penal: Parte Especial / Victor Eduardo Rios Gonçalves ; coord. Pedro Lenza. – 12. ed. – São Paulo : SaraivaJur, 2022. (Coleção
Esquematizado®)
64
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
■ A doutrina majoritária admite a figura do dolo eventual quando o agente está em dúvida quanto a
veracidade dos fatos ou da autoria e mesmo assim resolver falar, comprovando-se posteriormente que a
imputação era falsa.
■ Exige-se seriedade na conduta, pois, se a narrativa é feita por brincadeira (jocandi animu), o fato é
atípico por falta de dolo.
11.1.6.SUJEITO ATIVO
Pode ser qualquer pessoa, inclusive a que não tem capacidade de discernir a ofensa, pois o crime
atinge a honra objetiva da vítima perante terceiros, pouco importando se a mesma se sentiu ofendida.
OBSERVAÇÕES
■ Em relação aos mortos, existe previsão expressa no art. 138, § 2º, do Código Penal, no sentido de
que é punível a calúnia contra os mortos. Ressalta-se, todavia, que o sujeito passivo, em tal caso, não é o
falecido, que não mais é titular de direitos, mas sim os familiares, interessados na manutenção do bom nome
do morto.
2. Por se tratar de crime de calúnia contra pessoa morta (art. 138, § 2.º, do Código
Penal), os Querelantes - mãe, pai, irmã e companheira em união estável da vítima
falecida - são partes legítimas para ajuizar a ação penal privada, nos termos do
art. 24, § 1.º, do Código de Processo Penal ("§ 1.º No caso de morte do ofendido ou
quando declarado ausente por decisão judicial, o direito de representação passará ao
cônjuge, ascendente, descendente ou irmão").
■ Em regra, pessoas jurídicas não podem cometer fato definido como crime, não podem também
ser sujeito passivo da calúnia. Excepcionalmente, é possível caluniar uma pessoa jurídica imputando-lhe
O STF entende que pessoa jurídica somente pode ser sujeito passivo do crime de difamação.
A pessoa jurídica não pode ser sujeito passivo dos crimes de injúria e calúnia,
sujeitando-se apenas à imputação de difamação. (STF, Pet-AgR 2.491, Rel. Min.
Maurício Corrêa, 1ª Turma, j. 14.06.2002)
Pode ser cometida de forma verbal, por escrito, por gestos ou por qualquer outro meio simbólico.
11.1.9. CONSUMAÇÃO
Como a calúnia é crime formal, o delito pressupõe que o agente queira afetar o bom nome da vítima
(honra objetiva), mas se consuma quando a imputação chega ao conhecimento de terceiro, ainda que a
reputação da vítima não seja efetivamente abalada.
11.1.10. TENTATIVA
É possível tentativa de calúnia na forma escrita, porém, não é possível tentativa na forma oral.66
65
https://jus.com.br/artigos/22390/pessoa-juridica-como-sujeito-passivo-nos-crimes-contra-a-honra
66
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Especial. 12. Ed. Juspodivm. 2020.
▸ se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível.
O crime de calúnia pressupõe que a imputação seja falsa. Se ela for verdadeira, o fato é atípico. A
falsidade da imputação é presumida, sendo, entretanto, uma presunção relativa, uma vez que a lei permite que
o acusado (ofensor) se proponha a provar, no mesmo processo, por meio de exceção da verdade, que sua
imputação é verdadeira.67
OBSERVAÇÃO
67
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
68
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
1) Intenção de atingir a honra (crime contra a honra 1) Intenção de prejudicar a vítima perante as
objetiva); autoridades (crime contra a administração da justiça);
Exceção da verdade
69
Direito Penal: Parte Especial / Victor Eduardo Rios Gonçalves ; coord. Pedro Lenza. – 12. ed. – São Paulo : SaraivaJur, 2022. (Coleção
Esquematizado®)
Assim como o crime de calúnia, o crime de difamação tutela a honra objetiva, isto é, o bom nome, a
reputação da pessoa perante o grupo social.
Difamar significa causar má fama, arranhar o conceito de que a vítima goza perante seus pares, abalar
sua reputação.
11.2.2. REQUISITOS
✓ Imputação de fato determinado que não seja definido como crime: ou seja, imputação de
contravenção ou fato atípico que cause desonra no meio social é difamação.
✓ Desnecessidade de falsidade da imputação: não se exige que a imputação seja falsa, podendo,
portanto, ser verdadeira. Em outras palavras, a lei tenciona que cada um tome conta da própria vida e evite
fazer comentários desairosos sobre a vida alheia, pois, ainda que verdadeiros, constituirão crime de difamação.
70
Dolo direto ou eventual. É necessário dolo de afetar negativamente a honra alheia (animus diffamandi).
Qualquer pessoa.
Qualquer pessoa ainda que não tenha condições de entender a ofensa, pois o objeto tutelado é a
reputação social da vítima.
OBSERVAÇÃO
A difamação contra mortos não é descrita como crime no código penal, mas tão apenas a calúnia.
Pode ser cometida de forma verbal, por escrito, por gestos ou por qualquer outro meio simbólico.
11.2.7. CONSUMAÇÃO
70
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
Como na difamação a veracidade da imputação não afasta a tipicidade, evidente que, em tal infração
penal, a exceção da verdade é incabível, pois não geraria qualquer efeito prático. Entretanto, de forma
excepcional o art. 139, parágrafo único, do CP, prevê a possibilidade de exceção da verdade se o fato é
imputado a funcionário público e diz respeito ao exercício de suas funções.
CALÚNIA DIFAMAÇÃO
1) O fato imputado deve ser definido como crime. 1) O fato imputado deve ser desonroso,
§ 2º – INJÚRIA REAL: Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua
natureza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes:
Protege a honra subjetiva da vítima, ou seja, o sentimento que cada um tem acerca de seus próprios
atributos físicos, morais ou intelectuais. É um crime que afeta a autoestima da vítima, seu amor-próprio.
Atribuição de qualidade negativa a outrem.71
11.3.2. REQUISITOS
OBSERVAÇÕES
■ Pessoa jurídica não pode ser vítima de injúria por não ter honra subjetiva.
2. A pessoa jurídica, por não ser uma pessoa natural, não possui honra subjetiva,
estando, portanto, imune às violências a esse aspecto de sua personalidade, não
podendo ser ofendida com atos que atinjam a sua dignidade, respeito próprio e
autoestima (REsp 1.573.594/RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em
10/11/2016, DJe 14/11/2016). Preliminar acolhida em relação às expressões dirigidas à
pessoa jurídica. 3. Expressões utilizadas de caráter genérico, sem se referir
objetivamente a nenhum fato concreto, tornam impossível a adequação típica
dos delitos de difamação e injúria majoradas. Preliminar que se confunde com o
mérito. Atipicidade da conduta com consequente absolvição sumária. (STJ, APn
969/DF, Rel. Ministro OG FERNANDES, CORTE ESPECIAL, julgado em 03/03/2021, DJe
17/03/2021)
71
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
11.3.6. CONSUMAÇÃO
OBSERVAÇÕES
■ A ofensa não precisa ser explícita, pode ser implícita, desde que as pessoas entendam a ofensa.
■ Injúria contra funcionário público, referente ao desempenho de suas funções: só pode ser
cometido na ausência da vítima, pois se for em sua presença, comete crime de desacato (art. 331, CP).
11.3.7. TENTATIVA
A tentativa só é possível na forma escrita. Na forma verbal, o crime é unissubjetivo e não admite
tentativa.
Retorsão significa revide, isto é, trata-se de hipótese em que uma pessoa ofende outra imediatamente
após ter sido ofendida por esta. Ambas praticaram crimes de injúria. O fato de alguém ter feito xingamento
não torna lícito o revide. O juiz, porém, pode conceder o perdão a ambos.72
A injúria real é figura qualificada do crime de injúria, em que o agente ofende a vítima por meio
de uma agressão física (violência ou vias de fato).
Para a configuração da injúria real, é preciso que a agressão perpetrada seja considerada aviltante
(humilhante).
72
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
Se da violência empregada para ofender resultarem lesões corporais, ainda que leves, o agente
responderá pelos dois crimes.
A qualificadora da injúria, no que diz respeito a pessoas idosas (com mais de 60 anos) ou deficientes,
só se configura quando a ofensa for referente a essa condição pessoal da vítima.
4. A pretensão de ser alterada por meio de provimento desta Corte a sanção penal
prevista em lei para o tipo de injúria qualificada implicaria a formação de uma terceira
lei, o que, via de regra, é vedado ao Judiciário. Precedentes: RE nº 196.590/AL, relator
Ministro Moreira Alves, DJ de 14.11.96; ADI 1822/DF, relator Ministro Moreira Alves, DJ
de 10.12.99; AI (Agr) 360.461/MG, relator Ministro Celso de Mello, DJe de 06.12.2005;
73
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. 11. Ed. Saraiva. 2021.
ATENÇÃO
O Superior Tribunal de Justiça e o Supremo Tribunal Federal têm entendido que, assim como o
racismo, a injúria racial é imprescritível e inafiançável, uma vez que seria espécie do gênero racismo.74
NÃO CONFUNDA75:
INJÚRIA RACIAL
RACISMO
(art. 140, § 3º do CP)
(art. 20 da Lei 7.716/89)
-alguns autores chamam de racismo impróprio-
Art. 140. Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou
ou o decoro: preconceito de raça, cor, etnia, religião ou
procedência nacional.
AgRg no AREsp 734.236/DF, Rel. Min. Nefi Cordeiro, 6ª Turma, julgado em 27-2-2018, DJe 8-3-2018.
74
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. O crime de injúria racial, espécie do gênero racismo, é imprescritível. Buscador Dizer o Direito,
75
O agente ofende, insulta, ou seja, xinga alguém O agente pratica algum ato discriminatório que faz
utilizando elementos relacionados com a sua raça, com que a vítima fique privada de algum direito
cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa em virtude de sua raça, cor, etnia, religião ou
idosa ou portadora de deficiência. procedência nacional. Há um ato de segregação.
A ofensa é praticada contra uma pessoa Também pode ser caracterizado mediante uma
determinada ou um grupo determinado de ofensa verbal (sem um ato de segregação), desde
indivíduos (exs: cinco amigos negros, árabes etc.). que a ofensa seja dirigida a todos os integrantes
de certa raça, cor, etnia, religião etc.
Ex: “seu macaco”. Ex: nesta festa não pode entrar negros.
Ex: “vocês 5 são um bando de terroristas”. Ex: todos os judeus são ladrões.
O agente visa a atingir uma pessoa determinada ou O agente visa a atingir um número indeterminado
determinável. de pessoas (todos que compõem aquela
coletividade).
Trata-se de crime de ação penal pública Trata-se de crime de ação penal pública
condicionada à representação da vítima (art. 145, incondicionada.
parágrafo único, do CP).
SIM. Nunca houve dúvidas quanto a isso, aplicando-se a ele o art. 5º, XLII, da CF/88: Art. 5º (...)XLII - a
prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei;
O crime de injúria racial, previsto no art. 140, § 3º do CP, também é crime imprescritível? A injúria
racial pode ser enquadrada também no art. 5º, XLII, da CF/88? 72
SIM. A prática de injuria racial, prevista no art. 140, § 3º, do Código Penal, traz em seu bojo o emprego
de elementos associados aos que se definem como raça, cor, etnia, religião ou origem para se ofender ou
insultar alguém. Em ambos os casos, há o emprego de elementos discriminatórios baseados na raça para a
Disposições comuns
Art. 141 - As penas cominadas neste Capítulo aumentam-se de 1/3, se qualquer dos
crimes é cometido:
Prevalece o entendimento de que os crimes contra a honra são crimes formais. O crime existe ainda
que não se consuma o resultado naturalístico da desonra.
Concurso de crimes
Parágrafo único - Nos casos I e III, responde pela injúria ou pela difamação quem lhe
dá publicidade.
Natureza jurídica das imunidades: Prevalece na doutrina de que têm a natureza de excludente de
ilicitude.
Decisões importantes
O STF e o STJ entendem inexistir ato ilícito se os fatos divulgados forem verídicos
ou verossímeis, ainda que eivados de opiniões severas, irônicas ou impiedosas,
notadamente quando se tratar de figuras públicas que exerçam atividades típicas
de estado, gerindo interesses da coletividade, e a notícia e a crítica dizerem respeito a
fatos de interesse geral e conexos com a atividade desenvolvida pela pessoa
noticiada. Além de verdadeira, a informação deve ser útil; isto é, deve haver
interesse público no fato noticiado. Se uma notícia ou reportagem sobre
determinada pessoa veicula um dado que, de fato, interessa à coletividade, a balança
pende para a liberdade de imprensa. Do contrário, preservam-se os direitos da
personalidade (REsp 1.297.660/RS). Somado à veracidade e ao interesse público, a
mídia tem o dever de evitar que o conteúdo difundido afronte os direitos da
personalidade de outrem. A liberdade de informação não pode ser exercida com o
intuito de difamar, injuriar ou caluniar. (STJ, AgInt no AREsp 1588394/SP, Rel.
Ministro MOURA RIBEIRO, TERCEIRA TURMA, julgado em 08/06/2021, DJe 11/06/2021)
A imunidade judicial, prevista no art. 142, inciso I, do Código Penal, não alcança o
delito de calúnia e não tem aplicação quando a ofensa é dirigida ao juiz da
causa. Precedentes. (STJ, REsp 1374213/MG, Rel. Ministro CAMPOS MARQUES
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/PR), QUINTA TURMA, julgado em 13/08/2013,
DJe 19/08/2013)
Retratação
Cabe somente na calúnia e na difamação, visto que retratação é desmentir o fato imputado e apenas
nestes dois institutos ocorre a imputação de fato.
A teor do art. 143 do Código Penal, para que se conheça a causa extintiva da
punibilidade, pela retratação, o agente deve voltar atrás, de forma cabal e
completa, naquilo que afirmou, reconhecer que se equivocou e retificar o
alegado, não bastando o simples pedido de desculpas. (STJ, REsp 1374213/MG, Rel.
Ministro CAMPOS MARQUES (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/PR), QUINTA
TURMA, julgado em 13/08/2013, DJe 19/08/2013)
Deve ocorrer até sentença de 1ª instância. Se ocorrer em grau de recurso, não extingue a
punibilidade.
Ato unilateral, não depende de aceitação da vítima para que se extinga a punibilidade.
Art. 145 - Nos crimes previstos neste Capítulo somente se procede mediante queixa
(ação penal privada), salvo quando, no caso do art. 140, § 2º, da violência resulta
lesão corporal.
NÃO CONFUNDA
▸ Admite retratação;
▸ Admite retratação;
▸ Xingamentos/acusações genéricas;
II – contra mulher por razões da condição de sexo feminino, nos termos do § 2º-A
do art. 121 deste Código; (LEI 14132/21)
O art. 147-A do Código Penal revoga expressamente o art. 65 da Lei das Contravenções Penais. Houve
abolitio criminis?
Conforme Rogério Sanches, não necessariamente. As contravenções penais até então existentes, mas
com características do novo tipo penal vão continuar sendo perseguidas, observando-se, é claro, as penas do
art. 65 da Lei das Contravenções Penais, pois a penalidade agora está mais severa (princípio da continuidade
normativo-típica). Agora, se a contravenção penal da perturbação não tiver características do novo tipo
incriminador (sem reiteração), haverá abolitio criminis.
Exige que o agente tenha: Não exigia nenhuma dessas três condutas.
76
https://www.dizerodireito.com.br/2021/04/lei-141322021
Se praticado na modalidade majorada por violência doméstica contra a mulher, não se aplicam tais
institutos despenalizadores, por força do artigo 41 da Lei 11.340/0677.
Não cabe acordo de não persecução penal, pois o delito admite transação penal, podendo ainda
incidir as proibições de crime habitual ou praticado com violência doméstica (artigo 28-A, §2º, do CPP)67.
Liberdade individual, abalada por condutas que constrangem alguém a ponto de invadir severamente
sua privacidade e de impedir sua livre determinação e o exercício de liberdades básicas.
Crime comum, não se exigindo dos sujeitos do crime qualquer característica especial (crime
bicomum).
OBSERVAÇÃO
Se a vítima é criança, adolescente, idoso ou mulher perseguida por razões da condição do sexo
feminino, a pena será aumentada de metade (§ 1º).
12.1.5. CONDUTA
OBSERVAÇÃO
O núcleo perseguir, além de significar “ir freneticamente no encalço de alguém”, também tem um
sentido de importunar, transtornar, provocar incômodo ou tormento, inclusive com violência ou grave ameaça
(essa é a principal conotação que faz provocar o crime de perseguição do art. 147-A).
77
https://www.conjur.com.br/2021-abr-06/academia-policia-stalking-crime-perseguicao-ameacadora
🔸 Ameaçar a integridade física ou psicológica: o tipo incorpora o crime de ameaça, que consiste em
ameaçar alguém por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e
grave (violência psicológica, que está conceituado no art. 7º, II, da Lei Maria da Penha).
OBSERVAÇÃO
O ato de perseguição não se restringe às situações de violência doméstica e familiar contra a mulher
(aliás, não se limita nem mesmo a vitimar mulheres, embora seja o mais comum).
OBSERVAÇÕES
Na vigência do art. 65 da Lei das Contravenções Penais, decidiu o STJ que a contratação de um
detetive particular não é suficiente para justificar ação penal por perturbação da tranquilidade.
Para Rogério Sanches, o raciocínio não será diferente diante do novo tipo do art. 147-A do Código
Penal. Não custa lembrar que a Lei 13432/2017 regulamentou a profissão de detetive particular, criando
normas a serem observadas para o seu regular exercício. Assim, quando no regular exercício, observando os
limites legais, não há que se cogitar de crime.
E nos casos dos fotógrafos que perseguem celebridades e pessoas públicas para obterem
imagens inéditas (paparazzi)? Para Sanches, a tendência é não reconhecer o crime quando o “alvo” está em
local público. A figura criminosa, contudo, pode ser cogitada quando a conduta do paparazzi, reiteradamente,
invadir ou perturbar a esfera de liberdade ou privacidade da celebridade ou pessoa pública.
O tipo penal é expresso sobre a necessidade de a perseguição ser praticada reiteradamente. Apenas
um ato importuno, ainda que restrinja momentaneamente a capacidade de locomoção ou invada a privacidade
de alguém, não caracteriza este crime, embora seja possível que a conduta de adeque a outro tipo penal, como
a ameaça, por exemplo.
✓ O motivo do autor para praticar a conduta é um interesse pessoal, como admiração, crença,
interesse relacional ou vingança; e
✓ A vítima, por conta da repetição, deve se sentir incomodada em sua privacidade e/ou temerosa por
sua segurança.
Dolo genérico (ou seja, desacompanhado de elemento subjetivo), embora seja comum que os atos de
perseguição tenham o propósito de alterar o estado de ânimo da vítima, de lhe provocar medo e de limitar sua
liberdade, o tipo não pressupõe nenhuma finalidade específica.
12.1.8. CONSUMAÇÃO
12.1.9. TENTATIVA
Não é possível, pois é crime habitual, que exige reiteração de condutas para a sua configuração.
🔸 Contra criança, adolescente ou idoso: nestes casos, sequer há necessidade de o crime estar
inserido em contexto de violência doméstica ou familiar ou de violência de gênero. Poderia o legislador ter
avançado mais e previsto tal majorante na proteção de pessoa com deficiência, se a intenção é proteger
78
https://www.conjur.com.br/2021-abr-06/academia-policia-stalking-crime-perseguicao-ameacadora
🔸 Contra mulher por razões da condição de sexo feminino, nos termos do § 2º-A do art. 121
deste Código: só há incidência do aumento quando exista violência doméstica e familiar, ou menosprezo ou
discriminação à condição de mulher, na esteira da fórmula do feminicídio.
➽ Falsa identidade: No caso de utilização de perfis falsos para a prática delituosa, o agente
responderá pelo crime do art. 147-A em concurso com o art. 307 do CP, pois não é necessário que todo
stalkeador encubra sua identidade, ou seja, a falsa identidade não deve ser considerada ante factum impunível
do referido delito, já que não é meio de execução ordinário do crime de perseguição.
● se o agente possuir porte de arma, responderá apenas pelo crime de perseguição, incidindo a
causa de aumento de pena (art. 147-A, § 1º, III do CP);
● se o agente não possuir porte de arma de fogo, mas a utilizar única e exclusivamente para
perseguir a vítima, responderá apenas pelo crime de perseguição majorado (art. 147-A, § 1º, III
do CP). O crime de porte ilegal de arma de fogo fica absorvido (princípio da consunção), sendo
considerado meio para a prática do crime fim.
● se o agente portar ilegalmente a arma de fogo em contexto fático distinto, seja antes de iniciar
as investidas em desfavor da vítima ou depois da perseguição, responderá pelo crime do art.
147-A, caput, em concurso material com o crime do Estatuto do Desarmamento (art. 14 ou 16,
conforme o caso). Não se cogita da majorante do crime de perseguição nessa hipótese para
evitar o bis in idem.
A ação penal é pública condicionada à representação do ofendido. A regra se aplica inclusive nos
casos em que incidem as disposições da Lei Maria da Penha, pois o legislador, embora tenha majorado a pena
do crime cometido segundo a definição do art. 5º daquela lei, não impôs nenhuma exceção à regra da ação no §
3º. Contudo, não se aplicam os institutos despenalizadores da Lei 9.099/95, por força do art. 41 da Lei
11.340/06.
Art. 147-B. Causar dano emocional à mulher que a prejudique e perturbe seu
pleno desenvolvimento ou que vise a degradar ou a controlar suas ações,
comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento,
humilhação, manipulação, isolamento, chantagem, ridicularização, limitação
do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que cause prejuízo à sua saúde
psicológica e autodeterminação: (LEI 14188/21)
Pena - reclusão, de 6 meses a 2 anos, e multa, se a conduta não constitui crime mais
grave (LEI 14188/21)
O direito fundamental a uma vida livre de violência tanto na esfera pública como na esfera privada,
em especial a liberdade da ofendida de viver sem medo, traumas ou fragilidades emocionais impostos
dolosamente por terceiro.
Para Rogério Sanches, é uma infração de menor potencial ofensivo, de competência do JECRIM, o que,
em tese, possibilita a transação penal e a suspensão condicional do processo.
Eventualmente admitida a transação penal, fica inviabilizado o acordo de não persecução penal, nos
exatos termos do art. 28-A, § 2º, inc. I, do CPP.
Crime comum, razão pela qual pode ser cometido por qualquer pessoa (homem ou mulher).
E a ofendida transgênero? Para Rogério Sanches, inclui-se na tutela penal a mulher transgênero,
ainda que não tenha se submetido a cirurgia de redesignação sexual ou alterado o nome e sexo no registro civil.
Basta que se trate de pessoa com identidade de gênero feminina79.
79
https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2021/07/29/comentarios-lei-n-14-1882021/
O legislador iniciou a descrição típica indicando o resultado e, em seguida, traz uma relação
exemplificativa de condutas que podem causar o resultado.
O resultado típico é causar dano emocional à mulher que a prejudique e perturbe seu pleno
desenvolvimento ou que vise a degradar ou a controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões.
O resultado central é causar dano emocional à mulher, já que as locuções seguintes são predicados
alternativos do dano emocional.
OBSERVAÇÕES
■ A redação do tipo penal é muito semelhante à do art. 7º, II, da Lei 11340/2006 (violência psicológica).
■ No conceito de violência psicológica, há comportamentos para o crime de stalking, CP, art. 147-A:
vigilância constante, perseguição contumaz, violação de sua intimidade. Os demais se encaixam no crime agora
estudado (CP, art. 147-B).
■ Definição do que se entende por violência psicológica: Conforme Sanches, é uma forma de slow
violence, uma violência cumulativa que gera, de forma silenciosa e invisível, uma progressiva redução da esfera
de autodeterminação da mulher, com abalos emocionais significativos.
■ Dano psíquico e violência psicológica são sinônimo? Não. A violência psíquica seria causadora de
uma patologia médica; enquanto a psicológica não poderia gerar qualquer tipo de patologia somática, estando
restrita ao campo do sofrimento não qualificável enquanto doença. Ou seja, caso advenha uma patologia
médica, haverá o crime de lesão corporal à saúde psicológica; para o dano emocional (sem a correspondente
patologia) é que haverá o crime do art. 147-B.
■ O art. 147-B só se aplica no contexto doméstico e familiar? Não. O tipo penal não se restringe aos
âmbitos afetivos, doméstico e familiar de que trata a Lei Maria da Penha. Abrange outras formas de
violência contra a mulher ocorridas no âmbito estatal, comunitário, religioso, laborativo (cuidado com a
empregada doméstica, que se aplica a Lei Maria da Penha), etc. O art. 147-B é mais amplo, aplicando-se a
diversas formas de violência de gênero contra a mulher, na linha do que estabelece a Convenção de Belém do
Pará (Decreto 1973/1996).
O crime é doloso quanto à conduta de praticar atos de violência psicológica. O agressor, com
consciência e vontade, ameaça, constrange, humilha, manipula, isola, chantageia, ridiculariza, limita o direito de
ir e vir ou qualquer outro meio que cause prejuízo à sua saúde psicológica e autodeterminação.
Em relação ao resultado, este pode ocorrer tanto a título de dolo quanto de culpa.
12.2.7. CONSUMAÇÃO
Consuma-se com a provocação do dano emocional à vítima. Cuida-se de delito material (o resultado,
contudo, pode ser perseguido ou não pelo agente).
A prova do resultado pode ser feita pelo depoimento da ofendida, por depoimentos de testemunhas,
relatórios de atendimento médico, relatórios psicológicos ou outros elementos que demonstrem o impacto do
crime para o pleno desenvolvimento da mulher, o controle de suas ações, o abalo de sua saúde psicológica ou
algum impedimento à sua autodeterminação.
Considerando que o resultado do crime não é a lesão à saúde psíquica (CP, art. 129, precisando de
prova técnica), mas o dano emocional (dor, sofrimento ou angústia significativos), laudos técnicos não são
necessários.
OBSERVAÇÕES
■ Aplica-se ao crime do art. 147-B, quando cometido fora do contexto doméstico e familiar, o
entendimento do STJ que decidiu que, nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, seria
possível a fixação de valor mínimo indenizatório a título de dano moral, desde que haja pedido expresso da
acusação ou da parte ofendida, ainda que não especializada a quantia e independentemente de instrução
probatória (in re ipsa)? Sim.
■ O crime não é propriamente habitual, podendo se configurar com a prática de apenas um único ato.
Segundo Sanches, o crime poderia ser classificado como habitual impróprio, não se exigindo a reiteração de
condutas para sua tipicidade, mas, se praticadas dentro de um mesmo contexto fático, será considerado crime
único, não desnaturando a unidade do crime, devendo o juiz considerar na aplicação da pena-base (CP, art. 59).
12.2.8. PRESCRIÇÃO
A prescrição será regulada pela prática do último ato de violência psicológica individualizado na
denúncia.
OBSERVAÇÕES
■ Se houve lesão à saúde psicológica comprovada por exame e demonstrado nexo de causalidade,
indicando-se o respetivo CID, haverá o crime do art. 129 do Código Penal. Quando leve, será o § 13. Mas pode
ser grave, quando, por exemplo, causar a incapacidade da vítima para exercer suas ocupações habituais por
mais de trinta dias. Também haverá lesão grave se a doença psicológica gerar ideação suicida, diante do risco à
vida.
■ É possível que o art. 147-B venha a absorver infrações penais menos graves. Será o caso, por
exemplo, dos crimes de ameaça, constrangimento ilegal ou mesmo da contravenção penal de vias de fato, que
inegavelmente carrega o sentido comunicativo de humilhação e constrangimento, uma demonstração de poder
sobre a vítima. Em outros países, a agressão física sem lesão é expressamente indicada como modalidade do
crime de violência psicológica em ambiente doméstico.
■ Conflito aparente de normas entre o stalking ou crime de perseguição (art. 147-A) com o crime de
violência psicológica contra a mulher (art. 147-B), especialmente porque o stalking (art. 147-A) é sujeito a ação
penal pública condicionada à representação, apesar de ter pena mais elevada que a violência psicológica (art.
147-B), diante de causa de aumento de pena prevista no art. 147-A, § 1º, II.
■ É possível o concurso dos dois crimes (CP, arts. 147-A e 147-B)? Em tese, será possível o concurso
efetivo entre o art. 147-A e o 147-B, quando cometidos em contextos fáticos distintos. Logo, se o casal, por
exemplo, está separado, e o ofensor persegue reiteradamente a vítima através de ameaças, que a intimida,
restringem sua liberdade de locomoção e geram um dano emocional à vítima (sofrimento, angustia
significativos), estando presente o mesmo contexto fático, considerando que ambos os delitos estão inseridos
no mesmo título “dos crimes contra a liberdade pessoal”, será possível que o criem mais grave (a perseguição)
venha absorver o menos grave (a violência psicológica), sendo o dano emocional avaliado na fixação da
pena-base (CP, art. 59).
E se não houve representação da vítima em relação ao crime mais grave (CP, 147-A), o que acontece
com a violência psicológica absorvida (CP, art. 147-B)? A violência psicológica, neste caso, voltará hidratado,
podendo o Estado punir o agressor, pois, se estava absorvido, deixou de estar absorvido quando a vítima não
representou o sujeito ativo (sem risco de bis in idem, pois está respondendo pelo fato por um só crime que
tinha sido absorvido, mas deixou de ser absorvido)
NÃO CONFUNDA80
80
https://www.dizerodireito.com.br/2021/07/comentarios-lei-141882021-crime-de.html#:~:text=147%2DA.,dois)%20anos%2C%20e%20
multa.
Art. 147-A. Perseguir alguém, reiteradamente e por Art. 147-B. Causar dano emocional à mulher que a
qualquer meio, ameaçando-lhe a integridade física ou prejudique e perturbe seu pleno desenvolvimento ou
psicológica, restringindo-lhe a capacidade de que vise a degradar ou a controlar suas ações,
locomoção ou, de qualquer forma, invadindo ou comportamentos, crenças e decisões, mediante
perturbando sua esfera de liberdade ou privacidade. ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação,
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e isolamento, chantagem, ridicularização, limitação do
A pena é maior, em razão da causa de aumento do § A pena da violência psicológica é menor que a do
1º, II do art. 147-A. stalking praticado contra mulher por razões da
condição de sexo feminino.
Não se exige produção de resultado naturalístico. Exige a produção de resultado naturalístico (a conduta