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Exclusão do herdeiro por

indignidade.

Giselda Maria Fernandes Novaes Hironaka


Professora Titular de Direito Civil da FDUSP
Exclusão do herdeiro por indignidade
• Herdeiros ou legatários, não obstante legitimados a suceder, podem
restar excluídos da sucessão, em razão de terem cometido um ato
que a lei considera indigno.
• Tal indignidade, não combina com a condição de sucessível desta
pessoa que assim age.
• “A indignidade – sendo uma pecha em que incorre o herdeiro,
fazendo-o perder o havido – é, por isso mesmo, determinada em lei,
não podendo ser admitidos outros casos, senão aqueles que a lei
expressamente especifica”.
(Itabaiana de Oliveira, Tratado de Direito das Sucessões, v. 1, p. 145)
Exclusão do herdeiro por indignidade:
arts. 1814 a 1818 CC
Art. 1814 CC São excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários:

I - que houverem sido autores, coautores ou partícipes de homicídio


doloso, ou tentativa deste, contra a pessoa de cuja sucessão se
tratar, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente;
II - que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da
herança ou incorrerem em crime contra a sua honra, ou de seu
cônjuge ou companheiro;
III - que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou obstarem
o autor da herança de dispor livremente de seus bens por ato de
última vontade.
I - que houverem sido autores, coautores ou
partícipes de homicídio doloso, ou tentativa deste,
contra a pessoa de cuja sucessão se tratar, seu
cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente
• Autor – é aquele único indivíduo que pratica o delito, possuindo domínio
sobre a consumação do fato.
• Coautores – são os que praticam, em conjunto, a ação criminosa, dividindo
as tarefas; uns realizam materialmente a conduta; outros a imaginaram e
ordenaram.
• Partícipes – são aqueles que, sem cometer uma ação tipificada no âmbito
penal, contribuem para a ação criminosa (fornece a arma, por exemplo).
• Não é tida como indignidade (para as consequências do direito sucessório) o
homicídio simplesmente culposo, ou cometido em legítima defesa.
Homicídio doloso tentado ou consumado
I - que houverem sido autores, coautores ou partícipes de homicídio doloso, ou
tentativa deste, contra a pessoa de cuja sucessão se tratar, seu cônjuge,
companheiro, ascendente ou descendente

• O dolo exigido na consumação do delito, é o dolo do Código Penal.


• Revela-se pela vontade de causar o resultado.
• Não se exige prévia condenação penal. A prova da indignidade pode ser
produzida no juízo cível.
• A absolvição por inexistência material do delito (homicídio doloso) ou que
negue ser a autoria do crime imputável àquele que se quer excluir, impedirá
a discussão da matéria no juízo civil.
• O rol de vítimas se estende para além da pessoa do agora autor da herança.
Calúnia, injúria, difamação ou denunciação caluniosa
II - que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da herança ou incorrerem em crime
contra a sua honra, ou de seu cônjuge ou companheiro

• Conduta do herdeiro que seja considerada desviante do


comportamento esperado de quem herda ou pode herdar.
• Condutas qualificadas como ilícitos penais ou como imorais.
• São suficientemente graves e atentatórias e geram, por isso, a
exclusão do indigno.
• Essas condutas, então, compõem o conceito de indignidade
sucessória, que enseja a exclusão do sucessor.
• A exclusão alcança tanto os herdeiros legítimos, como os herdeiros
testamentários e os legatários.
Calúnia, injúria, difamação ou denunciação caluniosa
II - que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da herança ou incorrerem em
crime contra a sua honra, ou de seu cônjuge ou companheiro

• Não há exigências no sentido de que tenha havido decisão judicial


condenatória no âmbito penal, nem seu trânsito em julgado.
• Basta a prova que se faça, no juízo cível, do fato delituoso (reprovação
moral).
• A decisão no juízo criminal, que conclui pela extinção da punibilidade,
não impede o ajuizamento da ação de exclusão do herdeiro e a
decisão cível nesse sentido.
Calúnia, injúria, difamação ou denunciação caluniosa
II - que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da herança ou incorrerem em
crime contra a sua honra, ou de seu cônjuge ou companheiro

• Crimes que ofendem a honra do falecido.


• São estes os crimes contra a honra: a calúnia, a difamação e a injúria.
• STJ entende que quando se diz “juízo”, se está referindo a juízo
criminal (e não outro) – Resp 1185122.
• Há doutrinadores que não admitem essa distinção (para julgar e
decidir) entre o juízo criminal e o juízo civil. Ex: Maria Helena Diniz e
Silvio Rodrigues. Pessoalmente, sigo esta orientação doutrinária.
Ter inibido, limitado ou impedido o falecido de
elaborar seu próprio testamento como desejasse.

• Condutas atentatórias à liberdade de testar, cometidas pelo herdeiro


ou legatário com intuito de beneficiar-se a si mesmo, ou a outro
herdeiro, ou terceiro.
• Comprometimento da higidez do testamento.
• Comportamento violento ou fraudulento das pessoas que cometeram
essa indignidade.
Natureza e efeitos da exclusão por indignidade
• Natureza: não se dá automaticamente; exige comprovação e decisão
judicial.
• A ação só pode ser aberta após a morte do autor da herança, em
autos distintos dos de inventário judicial.
• Legitimados a excluir: herdeiros legítimos (descendentes,
ascendentes, colaterais) e o cônjuge ou o companheiro, sobrevivo.
• Os descendentes do herdeiro excluído podem estar legitimados a
suceder o morto, por força do direito de representação.
• Portanto, a exclusão gera efeitos apenas quanto ao herdeiro excluído
(não se estende aos descendentes ou sucessores).
Natureza e efeitos da exclusão por
indignidade
• Os credores do espólio não estão legitimados a pedir exclusão de herdeiro.
• Reabilitação: a exclusão pode ser afastada pelo perdão.
• O perdão pode ter ocorrido mesmo antes do falecimento do autor da herança,
sendo ele próprio quem perdoa (testamento ou documento público), ou pelo seu
cônjuge ou companheiro sobrevivos (quando estes são os ofendidos).
• O perdão pode ocorrer depois de aberta a sucessão, pelos descendentes ou
ascendentes do ofendido, agora morto.
• Só pode perdoar quem foi diretamente ofendido. Não se admite efeito reflexo.
• Na hipótese de homicídio, não cabe a reabilitação, tornando definitiva a exclusão.

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