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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO VIII JUIZADO

ESPECIAL CRIMINAL DA COMARCA DA CAPITAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

LEANDRO LOPES ESCOBAR, brasileiro, solteiro, professor de Artes Marcias,


inscrito no CPF: 092.536.897-06 , portador da carteira de identidade nº 105498372
SSP/Detran, e-mail tatuescobar@hotmail.com, residente e domiciliado na Rua Avenida
Paula e Sousa, 314, apto 306, Maracanã, Rio de Janeiro – RJ, CEP 20271-120., vem, por
intermédio de seu patrono – instrumento procuratório acostado, o qual observa os
ditames do art. 44, do CPP  –, causídico inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil,
sob o nº 210.242, com endereço profissional consignado no timbre deste arrazoado,
onde receberá intimações que se fizeram necessárias, comparece, com o devido
respeito a Vossa Excelência, para, com estribo no art. 147 c/c Art. 140 c/c Art. 69,
ambos do Código Penal, ajuizar a presente   

QUEIXA-CRIME

em desfavor de TARSO MOREIRA DA CUNHA, brasileiro, casado, inscrito no


RG 12003504-3 SSP - DETRAN, residente e domiciliado na Avenida Maracanã, 667,
Bloco 1, Apto 302, Bairro Maracanã, Rio de Janeiro – RJ, CEP: 20550-142, Telefones
para fins de intimação (21) 978454308, (21) 990509642, em razão das justificativas de
ordem fática e de direito, abaixo delineadas.
 
DOS FATOS

 
O Querelante é pessoa idônea, além de muito bem-quisto sua profissão, de
professor de artes marciais.

Entretanto, em que pese essas qualidades, o querelante sofreu com


constantes agressões à sua personalidade, maiormente por meio de
declarações/xingamentos feitos pelo querelado.

No dia 24/10/2021, por volta das 17:30hrs, o querelante estava comprando


uma refeição no restaurante chamado “BAR DO CHICOS”, atividade essa que faz parte
do seu cotidiano, visto que o estabelecimento fica ao lado de sua residência, situado
na Rua General Canabarro, nº 119ª, Bairro Maracanã, Rio de Janeiro -RJ, quando foi
surpreendido pelo querelado dizendo que iria atentar contra sua vida e integridade
física, ainda sendo-lhe atirada uma lata de cerveja. No mesmo sentido, com único
objetivo de ofender a dignidade do querelante, o querelado começou a proferir
injúrias, afirmando que o querelante era “Aidetico, frouxo, Faixa Preta de Merda,
Assexuado e Covarde” e que não tinha coragem de enfrentá-lo.

O querelado, ferindo o decoro do querelante, ainda proferiu inverdades ao


remeter que o querelante era membro de torcidas organizadas, participando de brigas
e arruaças.

Importante frisar, que pela leitura corporal do querelado, o mesmo


transparecia estar bastante alcoolizado.

O querelado, não satisfeito em apenas proferir insultos e tentar agredir ao


querelante, através do ato de atirar uma lata em sua direção, foi em casa, buscou uma
faca (arma branca), a colocou na cintura e reforçou que em breve atentaria contra a
vida do querelante.
Todo o fato foi confirmado pela testemunha que ora está sendo arrolada.

O querelante, em detrimento de sua profissão, bem como para preservar sua


conduta, nada o fez, e no mesmo sentido não respondeu aos insultos proferidos pelo
querelado. Importante citar que o querelante, conforme informando no início da
narrativa possui uma academia de Jiu-jitsu há 8 anos, se preocupando muito com sua
imagem já que é mestre e professor de cerca de 250 alunos, que se espelham nele
diariamente. Uma confusão repercute mal para seu negócio e o querelado sabe disso,
e nesse sentido vem criando situações que levem ao querelante ter uma reação, com
objetivo de prejudicá-lo socialmente e profissionalmente.

O querelante, em virtude de possuir uma academia de artes maciais na


mesma região em que reside o querelado, bem como não ter intenção de reagir ou
revidar às ameaças e agressões, não vê outra maneira de resguardar sua integridade
física, a não ser bater as portas do judiciário, em busca de justiça.

Portanto, não satisfeito com as ofensas e com as acusações inverídicas, requer


que este juízo CONDENE O QUERELADO sob as penas dos artigos 140 c/c art.147,
todos do Código Penal brasileiro, preenchido os requisitos legais, inclusive aos
Princípios da Ampla Defesa e do Contraditório, a fim de se evitar possíveis nulidades,
uma vez que o Judiciário, que deve à luz de cada caso concreto, agir com Justiça.
                                                      

DOS FUNDAMENTOS

 
Competência  

 
Verifica-se que as colocações fáticas feitas pelo Querelante tendem a atribuir
ao Querelado a concorrência para crime de injúria (CP, art. 140) e o crime de ameaça
(CP, art. 147). As penas máximas cominadas a esses delitos correspondem,
respectivamente, a 01(um) ano e (06) meses.
 
Se as penas fossem somadas, a querelada poderia ser condenada em até
01(um) ano e 06(seis) meses de detenção. Isso, por si só, por conta do concurso de
crimes (CP, art. 69), já excluiria do rol das chamadas “infrações de menor potencial
ofensivo”, acarretando, assim, na competência dos Juizados Especiais.

LEI DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS E CRIMINAIS (Lei 9.099/95)

 
Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os
efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima
não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa.

Nesse sentido:

 
CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. CRIME DE
DANO QUALIFICADO CUJA PENA ULTRAPASSA O
DETERMINADO NO ARTIGO 61 DA LEI Nº 9099/95. DECLÍNIO
DE COMPETÊNCIA PARA VARA CRIMINAL.
Procedência do conflito. Querelada, ex-mulher do
falecido marido da querelante, ora suscitante, que teria
adentrado na empresa da qual a querelante é administradora e
destruído uma fotografia desta com seu marido. Ministério
público, com atuação no âmbito dos juizados especiais
criminais, que reconhecendo a incidência da qualificadora
relativa ao motivo egoístico, se manifestou favoravelmente ao
declínio de competência em favor da justiça comum, sendo a
promoção acolhida pela magistrada de piso. Juízo da 32ª Vara
Criminal da capital que entendendo tratar-se de competência
do juizado criminal, devolveu os autos. Questão acerca da
pertinência ou não da qualificadora em testilha que é
atribuição do juízo de piso, o qual analisará o mérito quando
da colheita de provas feita durante a instrução criminal. Se a
queixa-crime dá conta que a querelada responde pela prática
do crime tipificado no artigo 163, parágrafo único, IV do Código
Penal, cuja pena máxima cominada é de 3 anos, indubitável a
competência da 32ª Vara Criminal da capital para julgar o feito.
Conflito que se conhece e no mérito dá-se procedência ao
pedido, declarando a competência da 32ªvara criminal da
capital para julgar o feito [ ... ]

 No mesmo sentido:

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. JUIZADO


ESPECIAL CRIMINAL E JUSTIÇA COMUM. QUEIXA-CRIME.
DELITOS TIPIFICADOS NOS ARTS. 139, 140 E 141, III DO CP.
AFERIÇÃO DA PENA MÁXIMA EM ABSTRATO. ART. 61 DA LEI
Nº 9.099/95. SOMATÓRIA QUE NÃO EXCEDE O PRAZO DE 2
ANOS. COMPETÊNCIA DO JUIZADO ESPECIAL. CONFLITO
JULGADO PROCEDENTE. DECLARADA A COMPETÊNCIA DO
JUÍZO SUSCITADO. 
1. Trata de queixa-crime ofertada por Claudinei Rocha
Barbosa em face de Jane Pinto Pereira, com fundamento
nos artigos 139, 140 e 141, III do Código Penal. 2. Para se aferir
a competência do Juizado Especial nos casos de crimes,
necessário verificar a pena máxima em abstrato cominada pela
Lei, nos termos do art. 61 da Lei nº 9.099/95 3. No caso, a pena
máxima cominada aos delitos capitulados na queixa-crime não
ultrapassa o limite de dois anos, ainda que considerada a causa
de aumento de pena de 1/3 do art. 141, III do Código Penal e o
concurso de crimes. 4. Conflito de Competência julgado
procedente, reconhecendo a competência do Juízo Suscitado
[ ... ] 

 
 
Por conta disso, prevalece a regra do domicílio ou residência do
Querelado/Réu. (CPP, art. 72, caput).
 
Convém ressaltar o magistério de Edilson Mougenot Bonfim:
 
Quando desconhecido o lugar da infração, a competência será determinada
pelo locado do domicílio ou residência do réu (art. 72, caput, do Código de Processo
Penal). Adotou, assim, o legislador o local do domicílio do réu como subsidiário ou
supletivo, para as hipóteses em que houver impossibilidade de determinar o lugar da
infração do crime.”...

MATERIALIDADE

A condenação criminal é resultante de uma soma de certezas: Certeza da


materialidade e certeza da autoria do imputado. Pelo que se depreende das provas
produzidas, fica perfeitamente demonstrada a materialidade, culminando na imediata
condenação da querelada.

DO DIREITO

Art. 38 – Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu representante


legal, decairá do direito de queixa ou representação, se não o exercer dentro do prazo
de 6(seis) meses, contado do dia em que vier a saber quem é o autor do crime, ou, no
caso do art. 29, do dia em que se esgotar o prazo para oferecimento da denúncia.

 
Art. 107 – Extingue-se a punibilidade:
(..)
IV – pela prescrição, decadência ou perempção;  

 
 Nesse contexto, este é o pensamento de Norberto Avena:

 
“Como regra geral, o direito de queixa deverá ser exercido no prazo de seis
meses, contados do dia em que o ofendido, seu representante legal ou cada uma das
pessoas do art. 31 do CPP (no caso de morte da vítima ou de sua ausência) vierem a
saber quem foi o autor do crime, conforme reza o art. 38 do CPP...

 
                                          No particular, emerge da jurisprudência o seguinte
aresto: 

 
PENAL E PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. 1.
IMPETRAÇÃO SUBSTITUTIVA DO RECURSO PRÓPRIO. NÃO
CABIMENTO. 2. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. DECADÊNCIA
DO DIREITO DE QUEIXA. ART. 38 DO CPP. PRAZO PENAL.
DISCIPLINA DO ART. 10 DO CP. 3. PRORROGAÇÃO DO TERMO
FINAL. APLICAÇÃO DO ART. 798, § 3º, DO CPP.
IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES. 4. HABEAS CORPUS NÃO
CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO.
1. O Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de
Justiça, diante da utilização crescente e sucessiva do habeas
corpus, passaram a restringir sua admissibilidade quando o ato
ilegal for passível de impugnação pela via recursal própria, sem
olvidar a possibilidade de concessão da ordem, de ofício, nos
casos de flagrante ilegalidade. 2. Consta dos autos que foi
apresentada queixa-crime contra a paciente em 17/9/2018.
Contudo, o impetrante afirma que a querelante tomou
conhecimento da suposta ofensa e da sua autoria em
17/3/2018, motivo pelo qual o prazo decadencial de 6 meses,
previsto no art. 38 do Código de Processo Penal, se esgotou em
16/9/2018, conforme contagem disciplinada pelo art. 10 do
Código Penal. 3. As instâncias ordinárias, com fundamento no
art. 798, § 3º, do Código de Processo Penal, consideraram
possível a prorrogação do termo final da decadência para o
primeiro dia útil, motivo pelo qual não reconheceram a
decadência do direito de queixa. No entanto, conforme
explicitado na decisão que deferiu o pedido liminar, a norma
do art. 798, § 3º, do Código de Processo Penal foi utilizada de
forma equivocada, uma vez que é norma de direito processual,
e o prazo decadencial é penal. Dessa forma, não há se falar em
prorrogação do termo final do prazo decadencial,
encontrando-se, portanto, extinta a punibilidade da paciente.
4. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida de ofício,
para reconhecer a extinção da punibilidade da paciente com
relação à Ação Penal n. 0001989-10.2018.8.21.0112 [ ... ]

DOS CRIMES

AMEAÇA

O crime praticado pelo querelado, encontra capitulação no Art. 147 do Código


Penal, senão vejamos:

Art. 147  - Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer


outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave:

Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

Parágrafo único  - Somente se procede mediante representação.


Desta feita, a conduta do querelado amolda-se claramente ao tipo penal
descrito acima eis que, livre e consciente da licitude de sua conduta ameaçou o
querelante afirmando que iria atentar contra sua vida, com uma faca na cintura.

Na tipificação subjetiva de Julio Fabbrini Mirabete, temos que:

”A ameaça é crime doloso, exigindo-se a vontade de ameaçar,


acompanhada do elemento subjetivo do injusto que é a intenção de
intimidar (dolo específico para a teoria tradicionalista).”

Desta feita, à medida que se impõe é a instauração da competente ação penal


afim de que o querelado seja processado e ao final considerado culpado pelo crime de
ameaça.

INJÚRIA

O tipo penal disposto no artigo 140 do Código Penal, é configurado pela


ofensa a honra subjetiva do sujeito passivo:

Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro: Pena -


detenção, de um a seis meses, ou multa.

Entendemos que ao agir como narrado nos fatos, o QUERELADO atingiu o


decoro do QUERELANTE que, segundo o Dicionário Aurélio[1] é o “respeito de si
mesmo e dos outros”, “decência; vergonha; dignidade” e “conformidade do estilo com
a elevação do assunto”.
Darcy Arruda Miranda[2], citando a lição de Nélson Hungria, define o crime de
injúria como:

(...) O bem jurídico lesado é prevalentemente, a


chamada honra subjetiva, isto é, o sentimento da própria
honorabilidade ou respeitabilidade pessoal. E estabelecendo a
distinção entre dignidade e decoro, acrescenta: "É sutil a
diferença entre uma e outro: a dignidade é o sentimento da
nossa própria honorabilidade pessoal. Assim, se um indivíduo
chama a outro cachorro, canalha, invertido, está ofendendo a
sua dignidade; se o chama ignorante, burro, sifilítico, ofende-
lhe apenas o decoro. A insinuação mímica de que alguém é um
ladrão constitui ofensa à dignidade; um adeus de mão fechada
ou a esputação sobre alguém constituem ofensa ao decoro.
Sem dúvida, a injúria pode também atingir a reputação
(honra objetiva) do ofendido, desprestigiando-o perante a
opinião de quantos tenham tido conhecimento dela; mas tal
resultado é um epifenômeno indiferente à configuração do
crime" (grifo)

A ofensa ao decoro do QUERELANTE é clarividente, visto que seu único intuito


foi denegrir a imagem do querelante, em um local público, ao lado de sua residência,
em um ambiente conhecido. Deve ser levado em consideração a atividade laboral do
querelante (professor), que lida com crianças desde os 3 anos de idade, até senhores
da terceira idade. Tal atitude em face ao querelante não pode continuar.

Assim, o decoro é a expressão da dignidade pessoal, uma projeção da


personalidade em relação ao meio social em que o indivíduo vive, enquanto a
dignidade se refere à honra pessoal. A honra subjetiva engloba a dignidade moral, a
dignidade profissional, a dignidade intelectual etc.

DO CONCURSO MATERIAL
No caso em tela, o QUERELADO mediante pluralidade de conduta, praticou
uma pluralidade de crimes: a) ameaça e b) injúria.

É cediço que os dois crimes, ora analisados, não são da mesma espécie. Assim,
ocorrerá a incidência do concurso material prevista no art. 69 do CP, que estabelece
que os delitos praticados devem ser somados:

Art. 69 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica


dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas
privativas de liberdade em que haja incorrido. No caso de aplicação
cumulativa de penas de reclusão e de detenção, executa-se primeiro aquela.

Portanto, não satisfeito com as ofensas e com as acusações inverídicas, requer


que este juízo CONDENE O QUERELADO sob as penas dos artigos 140 c/c art.147,
todos do Código Penal brasileiro, preenchido os requisitos legais, inclusive aos
Princípios da Ampla Defesa e do Contraditório, a fim de se evitar possíveis nulidades,
uma vez que o Judiciário, que deve à luz de cada caso concreto, agir com Justiça.

DOS PEDIDOS

Isto posto requer:

a) Que a cabível ação penal seja instaurada e o réu seja enquadrado nas penas
dispostas no artigo 147 e 140 da Legislação Substantiva Penal, tendo em vista as
injustas e descabidas ameaças e injúrias, que reiteradamente vem fazendo ao
querelante, roubando-lhe a paz de espírito e a tranquilidade;

b) Se digne V. Exa. determinar a imediata instauração de Inquérito Policial,


para apuração dos fatos alegados e sejam tomadas as providências cabíveis ao caso;

c) Oferece desde já o rol de testemunhas;


d) A oitiva do D. Representante do Ministério Público, para os fins de direito e
JUSTIÇA!;

e) Requer também que sejam fixados os valores de reparação do dano de que


trata o art. 387, IV, CPP.

Termos em que,

P. E. Deferimento

Nestes termos pede deferimento.

Rio de Janeiro, 10 de novembro de 2021.

Jorge Luiz da Silva Filho

OAB/RJ 169.984

José Décio Ribeiro de Souza Júnior

OAB/RJ 210.242

Roll de Testemunhas:

Luiz Carlos Vieira Monteiro

RG: 31431505 IFP / CPF: 535.874.487-87

Rua General Canabarro, 55, Apto 404, Bairro Maracanã, Rio de Janeiro – RJ

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