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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUÍZ DE DIREITO DO ______º JUÍZADO ESPECIAL

CRIMINAL DA COMARCA DE NITERÓI, ESTADO DO RIO DE JANEIRO.

Enrico, brasileiro, solteiro, engenheiro, portador do RG 0000000, ó rgã o


expedidor SSP/RJ e inscrito no CPF. 000.000.000-00, endereço eletrô nico,
residente e domiciliado na Rua XXX, Nº XXX, bairro XXXX, CEP XXXX, cidade de
XXXX. Vem através do seu advogado, que este subscreve (conforme procuração
com poderes especiais anexa), com escritó rio profissional situado na Rua XXX,
Nº XXXX, bairro XXXX, CEP XXXX, cidade XXXXX, UF XXX, onde recebe notificaçõ es e
intimaçõ es de estilo. Vem, mui respeitosamente, com fulcro nos artigos 30, 41 e 44,
todos do Có digo de Processo Penal, artigo 61 da Lei 9.099/95 (Lei dos Juizados
Especiais), bem como nos artigos 100, § 2º, 139 e 140 ambos do Có digo Penal,
perante Vossa Excelência oferecer:

QUEIXA-CRIME

Em face de Helena, brasileira, solteira, portadora do RG 000000, ó rgã o


expedidor SSP/RJ e inscrita no CPF 111.111.111-11, endereço eletrô nico, residente
e domiciliada na Rua XXX, Nº XXX, bairro XXXX, CEP XXXX, cidade de XXXX, pelos
seguintes fatos e fundamentos jurídicos a seguir aduzidos:

DOS FATOS

Enrico, ora o querelante, é engenheiro, residente atualmente na cidade de


Niteró i, Estado do Rio de Janeiro, onde atua profissionalmente no município ora já
citado, em uma empresa de construçã o civil.

Ocorre que, o querelante em pauta, organizou os festejos de seu


aniversá rio, para ser comemorado no dia 19/04/2020, em uma badalada
churrascaria de sua cidade. Logo, na manhã em que ocorreria a festa o mesmo
resolveu entã o, publicar o convite por meio da rede social, de pronto fez a
postagem alusiva à comemoraçã o em seu perfil pessoal, para todos os seus
contatos.

Destarte que, Helena, ora a querelada em epigrafe é vizinha e ex-namorada


do querelante, e também possui perfil na referida rede social, além de estar
adicionada aos contatos de seu ex, forma pela qual soube, assim, da festa e do
motivo da comemoraçã o.

Diante disso, a querelada, em posse de seu computador pessoal, instalado


em sua residência, em um prédio na praia de Icaraí, em Niteró i, acabou por fazer
uma publicaçã o na rede social, onde registrou uma mensagem no perfil pessoal do
querelado. Helena, com o intuito de ofender publicamente o ex-namorado, postou
o seguinte comentá rio: “não sei o motivo da comemoração, já que Enrico não
passa de um idiota, bêbado irresponsável e sem vergonha!”, e com o propó sito
de prejudicar Enrico, ora querelado, perante seus colegas de trabalho e denegrir
sua reputaçã o acrescentou, ainda, “ele trabalha todo dia embriagado! No dia 10
do mês passado, ele cambaleava bêbado pelas ruas do Rio, inclusive, estava
tão bêbado no horário do expediente que a empresa em que trabalha teve que
chamar uma ambulância para socorrê-lo”.

De pronto, o querelante, que estava em sua residência e conectado à rede


social, por meio de seu tablet, recebeu a mensagem e visualizou a publicaçã o com
os comentá rios ofensivos da querelada em seu perfil pessoal. Enrico, atormentado,
nã o sabia o que dizer aos amigos, em especial a Carlos, Miguel e Ramirez, que se
encontravam ao seu lado naquele instante. Muito diminuído, Enrico tentou
disfarçar o constrangimento sofrido, mas perdeu todo o seu entusiasmo, acabando
por fim na suspensã o das comemoraçõ es do seu aniversá rio.

Destarte, passam-se, entã o, a determinar individualmente, os crimes


cometidos pela querelada, no que se fará uso dos textos publicados pela mesma na
rede social do querelado, visto o tamanho do dano ora causado à sua honra, de
pronto, o querelante instaurou inquérito policial para maiores esclarecimentos e
averiguaçõ es dos fatos ora praticados.
DO DIREITO

Da Competência dos Juizados Especiais:

O objeto em questã o é de competência deste douto juízo, vista que, a pena


em abstrato dos crimes imputados nã o perpassa 2 (dois) anos, atendendo desta
maneira as condiçõ es do artigo 61 da Lei 9.099/95 (Lei dos Juizados Especiais),
que nos diz:

Art. 61 – Consideram-se infraçõ es de menor potencial ofensivo, para os efeitos


desta Lei, as contravençõ es penais e os crimes a que a lei comine pena má xima nã o
superior a 2 (dois) anos, cumulada ou nã o com multa.

Feito deste modo, a obrigatoriedade de aplicaçã o dos fatos delitivos


imputados a querelada neste feito em concurso formal a pena má xima em concreto
nã o passará dos limites legais.

Faz-se necessá rio ressaltar que a Suprema Corte Brasileira vem tendo
diversos entendimentos jurisprudenciais em relaçã o à competência para julgar os
crimes cometidos na internet. Devendo ser observado o princípio da
territorialidade, na falta deste será o domicílio do réu. Se nã o vejamos:

AÇÃ O PENAL PRIVADA. CRIME CONTRA A HONRA. DIFAMAÇÃ O.


ARTIGO 139 DO CÓ DIGO PENAL. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO CONHECIDO
COMO APELAÇÃ O PELO PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE. REJEIÇÃ O DA QUEIXA-
CRIME. DECISÃ O REFORMADA. 1. No â mbito do JECrim, é cabível apelaçã o da
decisã o que rejeita a queixa (art. 82, caput, da Lei 9.099/95). 2. A competência no
Direito Processual Penal tem como regra o lugar da infraçã o (art. 70 do Có digo de
Processo Penal). Em se tratando de crimes de menor potencial ofensivo, tem-se a
regra do art. 63 da Lei nº 9.099/95, que dispõ e: “A competência do Juizado será
determinada pelo lugar em que foi praticada a infraçã o penal.” Tratando-se de
crime cometido através da INTERNET, por ser acessível pelos mais variados meios
(notebooks, tablets, celulares, lan houses), impossível a aferiçã o quanto ao local da
infraçã o. Portanto, aplicá vel ao caso a regra do art. 72 do Có digo de Processo Penal:
‘Nã o sendo conhecido o lugar da infraçã o, a competência regular-se-á pelo local do
domicílio ou residência do réu’. No caso específico dos autos, ambos (local da
infraçã o e domicílio do réu) remetem a competência ao juízo da comarca de Tapes.
3. Nã o se aplica, na espécie, o critério residual da prevençã o, pois o caso em tela
nã o se enquadra em nenhum dos casos elencados no art. 83, do CPP (arts. 70, § 3º,
71, 72, § 2º, e 78, II, c). RECURSO EM SENTIDO ESTRITO CONHECIDO COMO
APELAÇÃ O E PROVIDO. (ARE 864724/RS – Ministro LUÍS ROBERTO BARROSO.
1ªT - PRIMEIRA TURMA. J. 19/02/2015 – DJe 26/02/2015).
Desse modo, caberá a este douto juízo proceder com a instruçã o criminal e
posterior julgamento do contendo.

Da Difamação e da Injúria

Meritíssimo, de acordo com os fatos supracitados nesta exordial, é sabido


que a senhora Helena, ora querelada, incidiu nos crimes tipificados taxativamente
no có digo penal nos artigos 139 e 140, respectivamente, Difamaçã o e Injú ria, senã o
vejamos:

Art. 139 – Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputaçã o:

Pena – detençã o, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.

Art. 140 – Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:

Pena – detençã o, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa.

Segundo Cezar Roberto Bitencourt a difamaçã o e a injú ria sã o


respectivamente:

Difamaçã o é a imputação a alguém de fato ofensivo à sua


reputaçã o. Difamar consiste em atribuir fato ofensivo à reputaçã o do imputado —
acontecimento concreto — e nã o conceito ou opiniã o, por mais gravosos ou
aviltantes que possam ser.

Injuriar é ofender a dignidade ou o decoro de alguém. A injú ria, que é a


expressã o da opiniã o ou conceito do sujeito ativo, traduz sempre desprezo ou
menoscabo pelo injuriado. É essencialmente uma manifestaçã o de desprezo e de
desrespeito suficientemente idô nea para ofender a honra da vítima no seu aspecto
interno. (Tratado de Direito Penal, Parte Especial 2, Dos Crimes Contra a Pessoa,
Ed. Saraiva, 12ª ed. – 2012, Sã o Paulo, pá ginas. 839-840/864.)

Ao denegrir a imagem e a honra do querelante, depreciando-lhe sua


subjetividade perante a sociedade, ofendendo-lhe sua boa reputaçã o, o acusado
incidiu no crime de Difamaçã o quando transcreveu as palavras “(...não passa de
um idiota, bêbado, irresponsável e vagabundo)” e “(ele trabalha todo dia
embriagado, [...] estava tão bêbado na hora do expediente que a empresa em
que trabalha teve que chamar uma ambulância para socorrê-lo)".

Ao analisar o caso concreto, nã o resta dú vidas de que a Srª. Helena, ora


querelada, por meio do envio de mensagem ofensiva através da rede social,
desestabilizou a honra e o respeito do querelante, Sr. Enrico, acusando-lhe de ter
praticado atos que desabonaram sua pró pria imagem.
Ressalta-se ainda que o Có digo Penal dispõ e, ainda, em seu artigo 141,
inciso III, que:

“Art. 141 – As penas cominadas neste Capitulo aumentam-se de 1/3 (um terço), se
qualquer dos crimes é cometido:

III – na presença de vá rias, ou por meio que facilite a divulgaçã o da calú nia, da
difamaçã o ou da injú ria;”

Dessa forma, vale ressaltar que Helena, além de cometer crime contra a
honra, previsto no artigo 139, caput, o fez por intermédio de rede social de grande
abrangência, causando, assim, maior divulgaçã o da mensagem entre todos os
contatos do querelante, razã o pela qual deve incidir na causa de aumento de pena
descrita no artigo 141, inciso III, do Có digo Penal.

Cabe dizer ainda que, em conformidade ao artigo 145 do Có digo Penal, este
tipo penal somente se procede mediante Açã o Penal Privada, eis o porquê do
oferecimento da presente Queixa-Crime.

Nã o obstante, é evidente o dolo específico da querelada, na clara intençã o


de macular a imagem do ex-namorado, ora querelante, que o difamou em meio de
acesso a amigos e empregadores, tendo ciência que tal ato o prejudicaria.

Sendo assim, a querelada cometeu o crime de difamaçã o tipificado no artigo


139 do Có digo Penal, incidindo, ainda, na causa de aumento prevista no artigo 141,
inciso III do mesmo có digo.

Da Autoria e Materialidade Delitivas

A Autoria e a materialidade delitiva sã o incontestes e serã o comprovadas


em instruçã o processual, pois trata-se de delito cujo meio de prova pode e deve ser
comprovado por depoimentos testemunhais, entre outros meios probató rios em
direito admitidos, neste sentido:

No entanto, a conduta do acusado se configuraria crime mesmo que nã o


tivesse causados todos os transtornos que causou na vida do querelante. Com
efeito, a legitimidade ativa ad causam é do ofendido, ou seja, caberá a este a
titularidade da Açã o Penal por se tratar da regra nos crimes contra a honra,
afastando assim as hipó teses de exceçã o.

Ressalta-se, oportunamente, que a todo o momento a querelada agiu de


forma dolosa, pois possuía absoluto conhecimento da extensã o que suas
publicaçõ es teriam, tendo em vista, o tempo que esta é participante desta rede
social.

Do Concurso Formal

Dessa forma, enfatiza-se a importâ ncia de que seja aplicada a querelada o


conteú do do artigo 70 do Có digo Penal, visto que, suas açõ es caracterizaram dois
crimes, destaca-se:

Art. 70. Quando o agente, mediante uma só açã o ou omissã o, pratica dois ou


mais crimes, idênticos ou nã o, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se
iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até
metade. As penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a açã o ou omissã o é
dolosa e os crimes concorrentes resultam de desígnios autô nomos, consoante o
disposto no artigo anterior.

Há de verificar se a querelada publicou um ú nico post ofensivo, apesar de


haver tecido diversas palavras, o que configura assim a natureza do concurso
formal.

DOS PEDIDOS

Ante o Exposto, requer a Vossa Excelência:

1. Seja designada audiência preliminar, na forma do artigo 72 da


Lei 9.099/95 (Lei dos Juizados Especiais) para eventual composiçã o e transaçã o
penal, e em caso de impossibilidade de conciliaçã o, requer seja recebida a
presente, CITADA a querelada para responder aos termos da açã o penal; e nã o
sendo a mesma encontrada, sejam os autos enviados para a Justiça Criminal
Comum, a fim de citá -la por EDITAL, bem como para realizaçã o da instruçã o
processual, abrindo-lhe a oportunidade para COMPOR OS DANOS CIVIS;

2. A intimaçã o do Ilustre Representante do Ministério Pú blico para se


manifestar no feito, nos termos do artigo 45 do Có digo de Processo Penal;

3. A intimaçã o e oitiva das testemunhas abaixo arroladas, bem como a


produçã o de todas as provas admitidas em direito;

4. E ao final desta, depois de confirmada judicialmente a autoria e


materialidade dos delitos dos autos, seja a querelante condenada, julgando-se
procedente a presente Queixa-Crime, nas penas cominadas nos
Artigos 139 e 140 do Có digo Penal pá trio, como também seja a pena má xima em
concreto aplicada em conformidade com o artigo 70 do Có digo Penal Brasileiro.

Protesta provar o alegado por todos os meios de prova admitidos em


Direito inseridos nesta exordial, como também especialmente pela juntada
posterior de documentos, ouvida do noticiado, depoimentos das testemunhas
abaixo arroladas, perícias, diligências e tudo mais que se fizer necessá rio para a
prova real no caso “sub judice”.

Nestes termos,

Niteró i-RJ, 20 de Setembro de 2020.

________________________________________________________
ASSINATURA DO ADVOGADO
OAB (Nº DA INSCRIÇÃO)

ROL DE TESTEMUNHAS

1. Carlos , nacionalidade, estado civil, profissã o, portador do RG de Nº XXX


SSP/RJ e inscrito no CPF de Nº XXXXX, e-mail: XXXX, residente e domiciliado na
Rua XXXX, Nº XXX, bairro XXXXXX, CEP XXXXX, cidade/UF.

2. Miguel , nacionalidade, estado civil, profissã o, portador do RG de Nº


XXX SSP/RJ e inscrito no CPF de Nº XXXXX, e-mail: XXXX, residente e domiciliado
na Rua XXXX, Nº XXX, bairro XXXXXX, CEP XXXXX, cidade/UF.

3. Ramirez , nacionalidade, estado civil, profissã o, portador do RG de Nº


XXX SSP/RJ e inscrito no CPF de Nº XXXXX, e-mail: XXXX, residente e domiciliado
na Rua XXXX, Nº XXX, bairro XXXXXX, CEP XXXXX, cidade/UF.

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