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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL

DA COMARCA DO RIO DE JANEIRO/RJ

ALEXANDRE HENRIQUE FERREIRA DOS SANTOS, brasileiro,


solteiro, portador da cédula de identidade Registro Geral úmero 35.471.271-8, com Cadastro de
Pessoas Físicas sob número 382.222.438-37, residente e domiciliado na Alameda Santos, nº
1.788, 8º andar, conjunto 8513, São Paulo/SP (Doc. 1), vem, respeitosamente, à presença de Vossa
Excelência, por intermédio de seus advogados e bastante procuradores (Doc. 2), requerer, com
fulcro no artigo 144, do Código Penal Brasileiro, a INTERPELAÇÃO JUDICIAL de JEAN
WYLLYS DE MATOS SANTOS, brasileiro, solteiro, jornalista, portador do RG nº
049.549.880.7 e do CPF sob o nº 599.192.305-10, com domicílio à Rua Belfort Roxo, nº 351,
apto 501, bairro Copacabana, Rio de Janeiro/RJ, CEP 22.020-01, pelos motivos de fato e direito
a seguir expostos.

I – DO CABIMENTO DA INTERPELAÇÃO JUDICIAL, DA COMPETÊNCIA E DA


LEGITIMIDADE

O Requerente é fundador do Movimento Brasil Livre (MBL) e atual


Presidente da Associação Movimento Renovação Liberal (MRL), entidade sem fins lucrativos
detentora da marca Movimento Brasil Livre (MBL) (Doc. 3).

O Requerente e os membros do Movimento que coordena e preside foram


diretamente atacados e tiveram sua honra e moral vilipendiadas pela postura caluniosa, eivada de
animus difamatório e injurioso do Requerido.

A fim de tutelar seu interesse pessoal, acautelar-se a fim de instruir futura


medida judicial e, sobretudo, com o intento de esclarecer as equívocas, dúbias e ambíguas
imputações feitas pelo Requerido, o Requerente é parte legitima para apresentar a presente
Interpelação, que tem seu cabimento previsto no artigo 144, do Código Penal.
Vejamos:

Art. 144 - Se, de referências, alusões ou frases, se infere calúnia, difamação ou injúria,
quem se julga ofendido pode pedir explicações em juízo. Aquele que se recusa a dá-las
ou, a critério do juiz, não as dá satisfatórias, responde pela ofensa.

O Autor desconhece o local em que foi praticada a infração penal, motivo pelo
qual a competência territorial para processar e julgar a presente demanda deve observar a regra
insculpida no artigo 73, do Código de Processo Penal (CPP), que assevera que “nos casos de
exclusiva ação privada, o querelante poderá preferir o foro de domicílio ou da residência do réu,
ainda quando conhecido o lugar da infração”.

Ao Juizado Especial Criminal cabe a análise da demanda, em atenção aos


artigos 60 e 61, da lei número 9.099/95, que dispõem que “o Juizado Especial Criminal, provido
por juízes togados ou togados e leigos, tem competência para a conciliação, o julgamento e a
execução das infrações penais de menor potencial ofensivo, respeitadas as regras de conexão e
continência” e que “consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos
desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2
(dois) anos, cumulada ou não com multa”.

Ademais, inobstante o Código de Processo Penal (CPP) não prever o rito que
deverá ser adotado para tramitação da Interpelação Judicial, a melhor doutrina entende que, por
força de seu artigo 3º, as regras do Código de Processo Civil – mais precisamente os artigos 726
e seguintes – têm aplicação subsidiária.

Portanto, resta claro o cabimento da presente Interpelação Judicial, patente a


legitimidade do Requerente para propô-la e, ainda, incontroversa a competência do Juizado
Especial Criminal do domicílio do Requerido para processar e julgar a demanda.

II – DOS FATOS

No dia 03 de novembro de 2021 o perfil DCM-ONLINE postou em sua página


na rede social Twitter matéria intitulada “Moro se junta ao MBL e Danilo Gentili visando 2022”.
O Requerido, então, respondeu a reportagem com a afirmação “Formação de
quadrilha”. Como se nota, o Requerido fez postagem com ilação e narrativa que precisa ser
esclarecida uma vez que tem potencial de ser tida como difamatória, injuriosa e até caluniosa em
relação ao Interpelante e o movimento que representa.

Tal narrativa teoricamente difamatória e caluniosa pode ter alcançado número


expressivo de seus seguidores que somadas as curtidas e compartilhamento das publicações, até
a presente data somam mais de 500 leitores que tomaram conhecimento das palavras dúbias,
ambíguas e equivocadas.

A ilação na publicação tem aparente intenção de difamar, injuriar e caluniar o


Requerente, o Movimento que ele representa e seus membros de fato, sendo certo que as
acusações devem ser esclarecidas pelo Interpelado, a fim de que o Interpelante possa tomar as
medidas que entender cabíveis, se for o caso.

A acusação, dubiedade e ambiguidade que podem ter causado a expressivo


número de leitores do interpelado, se infere na publicação a seguir (Doc. 4):
Como já mencionado, é dúbia e ambígua a narrativa e afirmação acima
transcrita, motivo pelo qual a presente Interpelação Judicial se faz imperiosa, uma vez que não
fica claro se as ilações ventiladas pelo Requerido tentam imputar ao Requerente, ao Movimento
e seus membros condutas ilícitas, imorais e criminosas, sendo indiscutível que as imputações
levantadas pelo Interpelado podem consistir em calúnia, injúria e difamação, podendo ter sido
realizadas de forma intencional, racional e orquestrada por ele, razão pela qual urge o deferimento
da presente Interpelação.

III – DO DIREITO

O artigo 5º, da Constituição Federal, traz em várias oportunidades a garantia


à liberdade de expressão, sempre, no entanto, condenando o ataque à honra e à moral de outrem.

Vejamos a dicção dos incisos V e X, do citado dispositivo constitucional:

V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por


dano material, moral ou à imagem;

X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,


assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação;

Assim, temos que a liberdade de expressão não é absoluta, sendo que,


traduzindo um preceito do liberalismo, o direito à livre expressão não pode ofender o direito à
honra e à imagem de outrem, sob pena de ser assegurado ao ofendido o direito de resposta e a
correspondente indenização pelo dano observado.

Como amplamente aduzido, o Requerido suscitou narrativa tendente a ultrajar


a honra e a imagem do Requerente e dos membros do Movimento Brasil Livre, aparentemente
imputando-lhes falsamente fato definido como crime e fatos ofensivos à sua reputação, bem como
ofendendo lhes a dignidade.

Sobre o artigo 144, do Código Penal, o professor Guilherme de Souza Nucci


(em “Curso de Direito Penal”, Ed. Forense, 2019) ensina que:

Ainda assim, o artigo em questão vincula-se à dubiedade de referências que uma pessoa
faz à outra, sem evidenciar, com clareza, o seu intuito. Estaríamos diante de um crime
camuflado ou de um flagrante equívoco. Se a frase foi emitida sem qualquer maldade ou
intenção de ofender, inexiste o fato típico: caso tenha sido proferida com vontade de
caluniar, difamar ou injuriar, há crime. O sujeito se sente ultrajado, mas não tem certeza
da intenção do autor, pode pedir explicações em juízo.

No mesmo passo é a lição de Cleber Rogério Masson (em “Direito Penal”, Ed.
Método, 2014):

Inferência é o processo lógico do raciocínio baseado em uma dedução. Parte-se de um


argumento para se chegar a uma conclusão. No campo dos crimes contra a honra, tem
lugar quando uma pessoa se vale de uma frase equívoca, pela qual, mediante uma
dedução, pode-se concluir que se trata de uma ofensa a alguém.

Da mesma forma, o decano do Supremo Tribunal Federal, Ministro Celso de


Mello, em voto condutor culto e acertado, delimitou:

O pedido de explicações constitui típica providência de ordem cautelar, destinado a


aparelhar ação penal cautelar, destinado a aparelhar ação penal principal, tendente a
sentença penal condenatória. O interessado, ao formulá-lo, invoca, em juízo, tutela
cautelar penal, visando a que se esclareçam situações revestidas de equivocidade,
ambigüidade ou dubiedade, a fim de que se viabilize o exercício futuro de ação penal
condenatória. (HC – RT 694/412)

No mesmo trilhar é o entendimento do Superior Tribunal de Justiça. Vejamos


(com grifos nossos):

PROCESSO CIVIL. INTERPELAÇÃO JUDICIAL. AÇÃO PRINCIPAL EM INSTÂNCIA


DIVERSA. COMPETÊNCIA DO STJ. NÃO CONFIGURAÇÃO. 1. A interpelação
judicial se destina à prestação de esclarecimentos pelo demandado, a fim de eliminar
dubiedade, equivocidade ou ambiguidade a respeito de fato jurídico relevante. 2. O
processamento da interpelação judicial no STJ somente se justifica nos casos de sua
competência originária para o processamento e julgamento da ação principal. 3. Petição
inicial indeferida. (IJ 141/MT, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, CORTE
ESPECIAL, julgado em 07/12/2016, DJe 16/12/2016)

Senão vejamos o posicionamento jurisprudencial dos Tribunais de Justiça


pátrios (com grifos nossos):
APELAÇÃO CRIME. INTERPELAÇÃO JUDICIAL.PROCEDIMENTO DE NATUREZA
CAUTELAR.MEDIDA PREPARATÓRIA DE PROCESSO-CRIME REFERENTE A
DELITOS CONTRA A HONRA (ART.144 DO CP). EXTINÇÃO DO FEITO PELO JUÍZO
DE PRIMEIRO GRAU, AO ENTENDIMENTO DE QUE O PEDIDO CONFIGURA
NÍTIDO ABUSO DE DIREITO.IMPOSSIBILIDADE DE CONTROLE JURISDICIONAL
ACERCA DO CABIMENTO OU NÃO DA MEDIDA, OU SEJA, DA LEGITIMAÇÃO OU
DO INTERESSE JURÍDICO DO REQUERENTE. RECURSO PROVIDO. 2 A
interpelação judicial, como procedimento preparatório e facultativo de instauração de
processo-crime para a apuração de crime contra a honra deve ser conhecida tão somente
para fins homologatórios, sendo inadmissível ao julgador o indeferimento in limine do
pedido de explicações (que só ocorrerá na incidência da decadência ou de outra causa
extintiva da punibilidade), bem como qualquer aferição ou valoração das explicações
prestadas pela parte interpelada. 3 I. (TJPR - 2ª C.Criminal - AC - 1547470-3 - Pérola -
Rel.: Desembargador José Maurício Pinto de Almeida - Unânime - J. 29.09.2016)

APELAÇÃO. CRIMES CONTRA A HONRA. PEDIDO DE EXPLICAÇÕES. DECISÃO


REFORMADA. Trata-se de interpelação judicial com pedido de explicações em juízo,
tendo os apelantes demonstrado que, de fato, os termos empregados pelo apelado causam
dúvida quanto aos destinatários das mensagens, mas contém indícios de que se referem
às apelantes e familiares seus. Assim sendo, entende-se que há legitimidade dos
apelantes, devendo ser provido o apelo para que o feito tenha seguimento. Apelação
provida. (Apelação Crime, Nº 70076960459, Primeira Câmara Criminal, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Manuel José Martinez Lucas, Julgado em: 07-11-2018)

PROCESSUAL. INTERPELAÇÃO JUDICIAL. REJEIÇÃO LIMINAR. NÃO


PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS À SUA PROPOSITURA.
INEXISTÊNCIA DE AFIRMAÇÕES EQUÍVOCAS, DÚBIAS OU AMBÍGUAS POR
PARTE DOS INTERPELADOS. AUSÊNCIA DE DÚVIDAS, POR PARTE DO
INTERPELANTE, QUANTO AO CONTÉUDO DAS ALEGAÇÕES. RECURSO NÃO
PROVIDO. A interpelação judicial no âmbito criminal tem como requisitos de
admissibilidade a existência de afirmações equívocas, dúbias ou ambíguas por parte do
suposto autor do delito contra a honra do interpelante e a ausência de dúvidas, por
parte do requerente, quanto ao conteúdo de tais alegações. Assim, demonstrado, no caso
concreto, o não preenchimento dos aludidos requisitos necessários à propositura da
interpelação judicial, deve ser mantida a sentença que a rejeitou liminarmente. (Acórdão
924655, 20150111129853APR, Relator: ROMÃO C. OLIVEIRA, 1ª TURMA CRIMINAL,
data de julgamento: 3/3/2016, publicado no DJE: 8/3/2016. Pág.: Sem Página
Cadastrada.)

No caso sub judice, percebe-se que o Interpelado imputou fatos equivocados,


dúbios e ambíguos ao Requerentes e aos membros do Movimento Brasil Livre, motivo pelo qual
a presente Interpelação Judicial se faz necessária para que o Requerido explique-se perante esse
Douto Juízo Criminal, sob pena de, não o fazendo ou fazendo de forma insatisfatória, responder
pelas ofensas.

A presente demanda tem natureza cautelar, uma vez que, caso o Interpelado
não dê explicações convincentes sobre as ilações lançadas em desfavor do Requerente e seu
Movimento, poderá responder na forma da lei pela prática dos crimes de calúnia, difamação e
injúria.

Vejamos:

Art. 138 – Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime:
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação:


Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:


Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

Portanto, é a presente para interpelar judicialmente o Requerido a fim de que


esclareça o conteúdo de sua postagem.

IV – DOS PEDIDOS

Por tudo o exposto, requer se digne Vossa Excelência a:

a) Deferir o pedido inicial para INTERPELAR JUDICIALMENTE o Requerido a


esclarecer a narrativa exposta na postagem em sua rede social do Twitter, explicando a
veracidade e a autoria dos fatos suscitados, respondendo os questionamentos a seguir
sugeridos:
I) Com base em que fundamento afirma que o MBL, Sérgio Moro e Danilo Gentile
juntos formam uma quadrilha?
II) O que quis dizer com a afirmação de que o MBL, Sérgio Moro e Danilo Gentile
juntos formam uma quadrilha?
III) Houve algum crime praticado? Se sim, por quem, quais e o que os liga ao MBL?
IV) Há documentos ou outro meio probatório que possam comprovar o alegado?

b) Requer provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos.

c) Requer que todas as publicações em Diário Oficial sejam realizadas em nome dos
patronos do Requerente, sob pena de nulidade: RUBENS ALBERTO GATTI NUNES,
OAB/SP 306.540 e PAULO HENRIQUE FRANCO BUENO, OAB/SP 312.410.

Termos em que,
Pede deferimento.
De São Paulo para o Rio de Janeiro, 03 de novembro de 2021.

RUBENS ALBERTO GATTI NUNES PAULO HENRIQUE FRANCO BUENO


OAB/SP 306.540 OAB/SP 312.410

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