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SUPERINTENDENTE DO INSTITUTO DE PESOS E MEDIDAS DO – ESTADO DO

PARANÁ – IPEM – PR.

Processo Administrativo Ipem – PR nº: 6001130014515.

CM, pessoa jurídica de direito privado,


inscrita no CNPJ sob o nº 00.0000.000/01, com sede na Avenida
Brasil, nº 333, no município de Cascavel – Estado do Paraná,
conforme procuração anexa, vem mui respeitosamente apresentar
DEFESA ADMINISTRATIVA, no processo Nº 6001130013741, que lhe
move IPEM-PR, pelas razoes de fato e de direito abaixo
indicadas:

1.BREVE RELATO DOS FATOS

Em apertada síntese, trata o presente


processo administrativo, sobre a suposta prática de infração
ao disposto nos artigos 1º e 5º da Lei nº 9933/1999, c/c
artigo 7º da Portaria do Inmetro 262/2012, comercialização de
artigos escolares sem o selo de identificação da conformidade
aprovado pelo Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade,
produto 31 – Compasso Compactor, resultado de uma fiscalização
promovida por este Instituto, no dia 04/07/2019 na cidade de

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Cascavel – Paraná, no estabelecimento comercial SUPERMERCADO
BARRASUL LTDA.

A ora Recorrente, SUPERMERCADO BARRASUL


LTDA, realizou compra de produtos para comercialização em seu
estabelecimento, CONFORME NOTA FISCAL Nº 000.569.659 SÉRIE:
003, PÁGINAS 0001/008, sendo que à página nº 006, consta a
compra de 6 caixas contendo 12 UNIDADES DE COMPASSO ESCOLAR
COMPACTOR JOLY 12 UN, produto devidamente registrado, sendo
que as caixas possuem selo de certificação, Registro
009314/2019 OCP SGS.

No entanto, a conclusão que se pretende


chegar com a devida instrução processual será distinta daquela
obtida até o momento.

Para tanto, requer o recebimento das


seguintes razões e provas que junta em anexo, para o fim de
demonstrar o manifesto descabimento do presente processo.

2. MÉRITO DA DEFESA

Pelos fatos narrados na inicial, resta


demonstrado que a ora Recorrente, EMPRESA SUPERMERCADO
BARRASUL LTDA, realiza venda de diversos produtos em seu
estabelecimento.

Em 04.07.2019 a Recorrente fora autuada por


suposta pratica de infração ao disposto nos artigos 1º e 5º da
Lei nº 9933/1999, c/c artigo 7º da Portaria do Inmetro
262/2012, comercialização de artigos escolares sem o selo de
identificação da conformidade aprovado pelo Sistema Brasileiro
de Avaliação da Conformidade, produto 31 – Compasso Compactor,

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Quanto ao produto objeto do presente Auto
de Infração, cumpre destacar, em que pese tenham sido expostos
fora da Caixa da Embalagem, o COMPASSO ESCOLAR COMPACTOR JOLY
12 UN, É PRODUTO DEVIDAMENTE REGISTRADO, SENDO QUE AS CAIXAS
POSSUEM SELO DE CERTIFICAÇÃO, REGISTRO 009314/2019 OCP SGS.

https://www.compactor.com.br/produto/compasso-jolly/.

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Cumpre destacar ainda que a Recorrente,
realizou a compra dos referidos produtos, de Empresa Idônea,
qual seja Empresa Comercial Destro Ltda, empresa atacadista
regularmente inscrita sob o CNPJ sob o nº 76.062.488/0007-39.

Ocorre que os artigos escolares foram


apreendidos indevidamente, eis que todos possuem
selo de registro e identificação INMETRO em suas embalagens
originais (caixas), sendo que o que ocorreu foi apenas a
exposição desses produtos em prateleiras, fora das embalagens
originais, de modo a facilitar o acesso dos clientes.

Caso o nobre agente fiscalizador,


solicitasse no momento das autuações as caixas dos
produtos, ou até mesmo, questionasse junto a empresa
sobre a regularidade das mercadorias, certamente os
funcionários das mesmas, iriam demonstrar através
inspeção, que os produtos eram e encontram-se em
conformidade com a legislação por simples amostragem
das embalagens, o que não ocorreu.

Dessa forma a conduta da Recorrente não


traz em nenhum momento prejuízo ao consumidor que pudesse
culminar nos autos de infração sofridos e ainda em tamanha
penalidade imposta com cobrança de multa.

Assim, ante o exposto os Autos de Infração


impugnados são nulos de pleno direito,
ante a falta de causa que justifique a sua lavratura,
encontrando-se revestidos de arbitrariedade e abuso de
poder.

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2.1 DESPROPORCIONALIDADE DA PENA.

Ao tratarmos de processo sancionador no


âmbito do Inmetro, a respeito do valor da multa, o artigo 8º
da Lei nº 9.933/99 estabelece uma ordem legal de penalidades.
Vejamos:

Art. 8º - Caberá ao Inmetro ou ao órgão ou


entidade que detiver delegação de poder de
polícia processar e julgar as infrações e
aplicar, isolada ou cumulativamente, as
seguintes penalidades:
I - advertência;
II - multa;
III – interdição;
IV - apreensão;
V - inutilização;
VI - suspensão do registro de objeto; e
VII - cancelamento do registro de objeto.
Parágrafo único. Na aplicação das
penalidades e no exercício de todas as suas
atribuições, o Inmetro gozará dos
privilégios e das vantagens da Fazenda
Pública.

Ou seja, a penalidade a ser aplicada requer


uma proporcionalidade adequada ao caso concreto.

No entanto, trata-se de pena de apreensão,


para a suposta pratica de infração acima descrita, em
manifesta desproporcionalidade, em especial porque:

 NENHUM DANO OU RISCO AO CONSUMIDOR FOI EVIDENCIADO;

 O FORNECEDOR NÃO OBTEVE QUALQUER BENEFÍCIO OU LUCRO QUE


EXORBITASSE O ADEQUADO AO SERVIÇO;

 O FORNECEDOR É MICROEMPRESÁRIO E NÃO REINCIDENTE, PODENDO TER


DANOS IRREVERSÍVEIS DEPENDENDO DO MONTANTE DA PENALIDADE.

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Ademais, não há qualquer evidência de má fé
da empresa, exigindo por parte da Administração Pública uma
avaliação razoável conforme doutrina de Maria Silvia Zanella
Di Pietro:
"Mesmo quando o ilegal seja praticado, é preciso verificar
se houve culpa ou dolo, se houve um mínimo de má fé que
revele realmente a presença de um comportamento
desonesto." (in Direito Administrativo, 12ª ed., p.675)

Desta forma, mesmo que se demonstrasse


comprovada alguma irregularidade, é crucial que seja
evidenciada a inexistência de má fé para fins de adequação da
penalidade a ser imposta em observância à previsão da Lei n°
9784/1999:

Art. 2° A Administração Pública obedecerá, dentre outros,


aos princípios da legalidade, finalidade, motivação,
razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla
defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público
e eficiência.
(...)
Parágrafo único. Nos processos administrativos serão
observados, entre outros, os critérios de: (...)
VI - adequação entre meios e fins, vedada a imposição de
obrigações, restrições e sanções em medida superior
àquelas estritamente necessárias ao atendimento do
interesse público.

Nesse sentido, para Joel de Menezes


Niebuhr, a sanção deve estar intimamente atrelada às
circunstancias do ato, em observância ao princípio da
proporcionalidade:

"O princípio da proporcionalidade aplica-se sobre todo o Direito


Administrativo e, com bastante ênfase, em relação às sanções
administrativas. [...]. Ao fixar a penalidade, a Administração
deve analisar os antecedentes, os prejuízos causados, a boa
ou má-fé, os meios utilizados, etc. Se a pessoa sujeita à

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penalidade sempre se comportou adequadamente, nunca
cometeu qualquer falta, a penalidade já não deve ser a mais
grave. A penalidade mais grave, nesse caso, é sintoma de
violação ao princípio da proporcionalidade." (Licitação Pública e
Contrato Administrativo. Ed. Fórum: 2011, p. 992);

Em sintonia com este entendimento, Eduardo


Arruda Alvim esboça a relevância da conjuntura entre
razoabilidade e proporcionalidade dos atos administrativos, em
especial nos que refletem em penalidades:

"Na fixação da pena (que se dará mediante processo


administrativo, para o qual a Constituição Federal
assegura o contraditório e a ampla defesa, sob pena de
nulidade do processo respectivo - art.5º, LV) de multa,
assim, tomar-se ao por base três verdadeiros conceitos
vagos (gravidade da infração, vantagem auferida, e
condição econômica do fornecedor), que se inter-
relacionam, e devem ser preenchidos diante do caso
concreto, pela autoridade competente, que poderá ser
federal, estadual, do Distrito Federal, ou municipal,
conforme a infração específica e seu âmbito (parágrafo
primeiro do art. 55 deste Código)." (in Código do
Consumidor Comentado, 2ª ed., Biblioteca de Direito do
Consumidor, Editora RT, p. 274:)

Portanto, demonstrada a boa-fé do


fornecedor, a ausência de dano, a atuação imediata para
solucionar a irregularidade, bem como, o pequeno porte da
empresa, não há que se cogitar uma penalidade tão gravosa,
devendo existir a ponderação dos princípios aplicáveis ao
processo administrativo, conforme precedentes sobre o tema:

APELAÇÃO CÍVEL. MULTA APLICADA PELO PROCON.


INFRAÇÃO A REGRAS PROTETIVAS AO CONSUMIDOR.
VALOR DA MULTA. PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E
PROPORCIONALIDADE.É patente a antijuricidade da conduta
da empresa, que procedeu à contratação de forma diversa da
requerida pelo consumidor, incluindo serviços não solicitados.
A autuação foi embasada no art.39,IIIeV, doCódigo de Defesa
do Consumidor. Havendo infringência a normas de proteção ao
consumidor, é possível a aplicação de multa pelo PROCON. A

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penalidade, contudo, deve ser "graduada de acordo com a
gravidade da infração, a vantagem auferida e a condição
econômica do fornecedor", nos termos do artigo57doCDC.Foge
dos padrões de razoabilidade e proporcionalidade a multa
fixada em 1.400 UPFs, correspondente à época a R$
21.679,84. Não foi considerada de maneira adequada a
gravidade da infração, tendo em vista o baixo valor em
discussão, R$ 488,17, nem a ausência de vantagem auferida,
pois sequer chegou a ser pago pelo consumidor. A despeito da
ilicitude da conduta, não houve prejuízo de qualquer espécie.
Redução do quantum para 15 vezes o valor da discussão,
totalizando o montante de R$ 7.322,55, que melhor se coaduna
com a situação.APELAÇÃO PARCIALMENTE PROVIDA.
(Apelação Cível Nº 70074897448, Vigésima Primeira Câmara
Cível, Tribunal de Justiça do RS,Relator: Almir Porto da Rocha
Filho,Julgado em 27/09/2017).

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ANULATÓRIA DE PENALIDADE.


PROCON. VIOLAÇÃO DO CÓDIGO DO CONSUMIDOR.
INSCRIÇÃO INDEVIDA NO ÓRGÃO DE PROTEÇÃO DO
CRÉDITO. LEGALIDADE DA AUTUAÇÃO. REDUÇÃO DO
VALOR DA MULTA. Atualmente não há mais dúvidas de que o
Poder Judiciário não mais se limita a examinar os aspectos
extrínsecos da Administração, podendo analisar as razões de
conveniência e de oportunidade, uma vez que estas razões
devem observar critérios de moralidade e de
razoabilidade.Considerando a existência de apenas um fato
violador do Código do Consumidor, vantagem mínima auferida
pelo infrator, de pequena monta o dano provocado ao
consumidor; atenta contra o princípio da razoabilidade e
proporcionalidade a multa aplicada no patamar tão elevado,
impondo-se a sua redução.Honorária bem dimensionada.
Apelação provida parcialmente. (Apelação Cível Nº
70074804592, Vigésima Primeira Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS,Relator: Marco Aurélio Heinz, Julgado em
13/09/2017).

MULTA GRADUADA EM CONFORMIDADE COM OS


PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE.
REDUÇÃO. CABIMENTO. "No caso sub judice, a multa não
respeita os princípios da razoabilidade e proporcionalidade
assegurados constitucionalmente, na medida em que não
considera a gravidade da infração, tampouco a vantagem
auferida pelo fornecedor faltoso. Na verdade, a multa se ajusta
tão-somente à condição econômica do fornecedor. Portanto,
merece redução para o patamar de R$ 7.000,00, em atenção

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às peculiaridades do caso concreto." (trecho da ementa do
Acórdão da Apelação Cível Nº 70074061672). RECURSO
ACLARATÓRIO CONHECIDO E ACOLHIDO COM EFEITO
INFRINGENTE. APELO... PROVIDO EM PARTE. (Embargos
de Declaração Nº 70075058479, Vigésima Segunda Câmara
Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Miguel Ângelo da
Silva, Julgado em 23/11/2017).

Por fim, insta salientar que referida


irregularidade não trouxe qualquer vantagem econômica à
empresa, nem mesmo poderia causar qualquer prejuízo ou dano ao
consumidor, resultando exorbitante a penalidade aplicada.

3. DOS PEDIDOS

1. Diante de todo o exposto, em sede de


DEFESA, requer o recebimento das
presentes razões, para fins de anulação
imediata do processo e ao final, o total
arquivamento do processo sem qualquer
sanção a Recorrente;

2. Requer ainda, para fins de amplo


exercício do contraditório e da ampla
defesa a produção de todas as provas
admitidas em direito.

Nesses termos,
Pedem deferimento.
Cascavel PR, 19 de fevereiro de 2021.

MOACIR FRANCISCO VOZNIAK


OAB/PR 54.148

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Assinatura digital

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