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Informativo de Jurisprudência do TJDFT

Edição especial – 2º semestre de 2022

Direito Administrativo
Contaminação e morte por COVID-19 em hospital público – ausência de
responsabilidade estatal
Hospital público não é civilmente responsável pela contaminação por COVID-19
dentro das dependências hospitalares se não comprovada omissão estatal no
tratamento do paciente ou na adoção das medidas preventivas conhecidas e
disponíveis à época do contágio. Viúva ajuizou ação indenizatória por danos materiais
e morais contra o Distrito Federal em razão de o marido ter contraído COVID-19
enquanto estava internado em hospital da rede pública. Alegou que o cônjuge realizou
cirurgia de úlcera perfurada e estava em recuperação quando foi contaminado pelo
novo coronavírus e, em decorrência de complicações pulmonares, veio a falecer. O Juízo
de origem julgou improcedentes os pedidos. Inconformada, apelou. Ao analisarem as
razões recursais, os Desembargadores destacaram que o mundo enfrentava, em 2020,
o início da pandemia por COVID-19, sem imunizantes disponíveis nem consenso sobre
tratamento e medidas preventivas; em razão disso, os hospitais estavam lotados de
pacientes contaminados. Ressaltaram que o isolamento, por mais rígido que seja, pode
ser suscetível de falhas, devido ao alto grau de proliferação e contaminação da doença
pelas vias aéreas. Os Magistrados afirmaram que, mesmo diante da suspeita de contato
com outro interno infectado, é possível também que o finado tenha sido contaminado
pelos familiares que o visitavam. Frisaram que, quando constatada a infecção pelo novo
coronavírus, o de cujus foi transferido para área isolada – exclusivamente com pessoas
contaminadas – e, em momento posterior, para outro nosocômio público, onde
continuou a receber tratamento referente ao pós-operatório e à COVID-19. Nesse
contexto, entenderam que não houve qualquer ato omissivo ou comissivo do hospital
ou das equipes médica e de enfermagem. Os Julgadores ainda lembraram que o falecido
tinha comorbidades e se recuperava de cirurgia, portanto, mais vulnerável ao vírus e aos
desdobramentos nefastos. Assim, depreenderam que o óbito foi uma fatalidade. A
Turma concluiu que a mera contaminação pelo novo coronavírus em hospital público
não configura responsabilidade estatal, principalmente no contexto de Estado de
Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional – ESPIN em que o país se
encontrava. Alfim, o Colegiado negou provimento ao recurso.
Acórdão 1429019, 07059681220218070018, Relator: Des. LUÍS GUSTAVO B. DE
OLIVEIRA, Terceira Turma Cível, data de julgamento: 2/6/2022, publicado no DJe:
17/6/2022. (Informativo 461)

Morte de detento por choque elétrico – falha no dever jurídico de


proteção estatal do custodiado – danos morais
A morte de preso após sofrer choque elétrico dentro da cela em que cumpria pena
justifica a condenação do Distrito Federal ao pagamento de danos morais a familiar da
vítima, principalmente quando comprovada a ausência de manutenção na rede
elétrica do lugar, pelo poder público. Uma mulher ajuizou ação de indenização por
danos morais contra o Distrito Federal, em razão do falecimento do irmão, ocasionado
por choque elétrico após, supostamente, ter tentado produzir bebida alcoólica de forma
amadora, na cela onde cumpria medida restritiva de liberdade, no Centro de Internação
de Reeducando – CIR. O pedido foi julgado procedente e a Fazenda Pública condenada
ao pagamento de cinquenta mil reais, a título de danos morais. Ao analisarem os
recursos de ambas as partes, os Desembargadores explicaram que, segundo a teoria do
risco administrativo, em regra, o Estado responde objetivamente pelos danos causados
a terceiros, à exceção das hipóteses de caso fortuito, força maior ou culpa exclusiva da
vítima (art. 37, § 6º, da Constituição Federal). Lembraram que apenas em situações
excepcionais admite-se a adoção da teoria do risco integral, a qual preconiza a
responsabilização do ente por qualquer dano, de forma irrestrita. No caso concreto, os
Julgadores ponderaram que, apesar das alegações da defesa de que o detento estaria
produzindo bebida alcoólica de forma artesanal por meio de ligação elétrica clandestina,
não houve apreensão de matéria-prima ou de insumos que comprovassem a produção
rudimentar. Não obstante, as provas demonstraram que, de fato, o interno tentou
acender uma lâmpada, diretamente no bocal, quando levou o choque e, como o
atendimento demorou, faleceu por eletroplessão e asfixia. A Turma esclareceu que o
prédio possui estrutura antiga e precária, com relatos de problemas de iluminação. A
própria vítima já teria sido alertada para não fazer reparos nas instalações elétricas.
Nessas circunstâncias, o Colegiado entendeu que foi violado o dever jurídico específico
de proteção da integridade física do detento (art. 5º, XLIX, da CF), em vista do nexo
causal entre o falecimento dele e a possibilidade que o Estado tinha de impedir o
resultado morte. Assim, concluiu que o DF poderia ter evitado o óbito. Em acréscimo,
afirmou que a morte de um irmão causada por omissão estatal caracteriza dano moral
in re ipsa, porquanto, na espécie, fica dispensada a prova de sua configuração. Destacou,
entretanto, que o valor da indenização deve observar os elementos do caso concreto,
como a gravidade da conduta omissiva, a extensão da lesão e a situação socioeconômica
dos envolvidos. Evidenciados esses parâmetros, os Magistrados aduziram que, a
despeito da negligência estatal na manutenção das condições do cárcere, a vítima
agravou o risco já existente, ao adotar comportamento inadequado no manuseio de
equipamentos elétricos sem o necessário cuidado (art. 945 do CC). Por outro lado, não
houve comprovação da presença de laços de afetividade e de convivência entre a autora
e o irmão falecido, até porque a ação foi ajuizada decorridos quatro anos desde a morte.
Dessa forma, reduziram o valor da indenização para dez mil reais.
Acórdão 1439432, 07006017020228070018, Relator: Des. FABRÍCIO FONTOURA
BEZERRA, Sétima Turma Cível, data de julgamento: 20/7/2022, publicado no DJe:
15/8/2022. (Informativo 464)

Concurso público – formação acadêmica superior à exigida no edital –


mestrado
O edital, como norma que rege o concurso público, deve ser interpretado de forma
sistemática, de modo a abranger, quanto à escolaridade exigida para o cargo, as
formações mais aprofundadas, como o mestrado e o doutorado na área de
conhecimento pertinente, haja vista que o objetivo último de referido processo
seletivo é a escolha de candidatos mais bem preparados para o exercício da função
almejada. Candidato aprovado em primeiro lugar em concurso público para o cargo de
analista em tecnologia da informação, no Banco de Brasília – BRB, ingressou com ação
judicial após ter sido impedido de tomar posse. O banco justificou a negativa porque a
graduação do autor foi em engenharia elétrica, área diversa da exigida para a
contratação. O pedido foi julgado improcedente pelo Juízo a quo, em razão da ausência
de preenchimento dos requisitos previstos no edital. Ao analisarem o recurso da defesa,
entretanto, os Desembargadores constataram que, além da formação como
engenheiro, o recorrente concluiu o mestrado na área de ciência da computação, na
Universidade de Brasília – UnB, em data anterior à convocação para entrega dos
documentos exigidos para a posse. Além disso, comprovou estar cursando doutorado
na referida área científica, objeto do certame. Segundo os Magistrados, a qualificação
do recorrente, muito superior à exigida pelo certame, supera a ausência de graduação
na área de tecnologia da informação e não pode representar um empecilho para a
contratação. Os Julgadores explicaram que as normas do edital, assim como as leis,
devem obedecer a métodos interpretativos para se extrair seu real sentido. O critério
gramatical, utilizado para o indeferimento do pedido em primeira instância, privilegia o
sentido literal do enunciado e cria uma base inicial para a interpretação. Mencionada
técnica, todavia, não deve ser utilizada isoladamente, mas, sim, em conjunto com outras
técnicas interpretativas, para, ao final, se obter entendimento mais justo e adequado.
Aduziram que a norma regente da disputa não veda expressamente a comprovação de
escolaridade por títulos de mestrado ou de doutorado, porquanto a capacitação obtida
pela graduação também pode ser alcançada pelos mencionados títulos. Para os Juízes,
pensar de forma diferente seria contrariar a regra de hermenêutica segundo a qual
“quem pode o mais pode o menos”. De tal modo, o Colegiado asseverou que a intenção
do edital era garantir que fossem selecionados os candidatos mais qualificados para o
exercício do cargo, com garantia de isonomia entre os concorrentes. O autor obteve o
primeiro lugar na classificação geral e demonstrou ter conhecimento mais aprofundado
que os demais competidores, motivo pelo qual está claramente apto ao exercício do
cargo. Por fim, o Colegiado deu parcial provimento ao recurso para determinar a
nomeação do recorrente ao cargo vindicado e indeferiu o pedido de recebimento dos
valores retroativos ao período em que não houve efetivo exercício.
Acórdão 1622782, 07005453720228070018, Relator: Des. ARNOLDO CAMANHO, Quarta
Turma Cível, data de julgamento: 5/10/2022, publicado no DJe:
19/10/2022. (Informativo 469)

Direito Ambiental 
Descoberta fortuita de animais silvestres em cativeiro – serendipidade –
validade de provas
Segundo a teoria da visão aberta, as provas originadas do encontro acidental de crime
durante a investigação de delito diverso são consideradas válidas, ainda que não se
relacionem com o fato para o qual os agentes policiais foram inicialmente designados.
Um homem foi condenado pela prática de crime contra a fauna, por manter em cativeiro
cinco pássaros sem a devida autorização ambiental, previsto no art. 29, § 1º, III, da Lei
9.605/1998 (Lei de Crimes Ambientais). Na análise do recurso da defesa, os Juízes
explicaram que a entrada de policiais em residência não autoriza que o interior dela seja
vasculhado para a busca de provas de outros crimes, na conhecida atividade de
"pescaria probatória" (fishing expedition). Aduziram, entretanto, que tal hipótese não
se confunde com a teoria da visão aparente ou aberta (plain view doctrine), que ocorre
quando se admite a apreensão de objetos ilícitos ao alcance de todos, mesmo que a
busca seja direcionada a outro alvo. Na hipótese, os agentes foram autorizados pelos
moradores a entrar na casa para investigar maus-tratos supostamente praticados contra
uma cadela quando, casualmente, notaram a existência de gaiolas na varanda do imóvel.
O Colegiado asseverou que, no caso de encontro fortuito de provas (serendipidade), é
justa a apreensão de bens ilícitos que estejam visíveis, ainda que o objeto da busca seja
distinto, inclusive como medida útil para cessar a prática da infração. No dia dos fatos,
os servidores foram atender ocorrência determinada e, incidentalmente, se depararam
com provas de outro crime, à plena vista. Tais circunstâncias tornam admissível o acervo
probatório, elucidaram os Magistrados. Em relação à posse de três pássaros silvestres
em cativeiro, asseveraram tratar-se de crime de perigo abstrato, dispensada a
comprovação de dano ambiental, pois a lesão é presumida pela referida lei. Os
Julgadores deduziram, em acréscimo, que os animais não nasceram em cativeiro,
porquanto foram aprisionados atrás da área do zoológico. Entenderam, ainda, pela
impossibilidade de aplicação do princípio da insignificância ou da adequação social da
conduta, dada a relevância do bem jurídico violado. Na oportunidade, afastaram pedido
para concessão de perdão judicial, com fundamento na reincidência do réu e no fato de
os animais serem espécies ameaçadas de extinção. Ao final, deram parcial provimento
ao recurso, apenas para reconhecer a atenuante da confissão espontânea e reduzir a
pena do crime ambiental.
Acórdão 1434033, 00000635920198070011, Relatora: Juíza RITA DE CÁSSIA DE
CERQUEIRA LIMA ROCHA, Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais do Distrito
Federal, data de julgamento: 24/6/2022, publicado no PJe: 8/7/2022. (Informativo 462)

Direito Civil e Processual Civil 


Uso exclusivo de imóvel por ex-cônjuge durante vigência de medida
protetiva – arbitramento de aluguéis
Nos casos de afastamento do lar em razão de medida protetiva, revela-se incabível o
arbitramento de aluguéis em favor do agressor. A decisão que julga além dos limites
da lide (ultra petita) não precisa ser anulada, sendo suficiente a eliminação da parte
que constitui excesso. Na hipótese, ex-marido apresentou ação de extinção de
condomínio e cobrança de aluguéis contra sua ex-esposa. O autor relatou que as partes
foram casadas até 2012, ano em que se divorciaram, tendo reatado o relacionamento
até 2016, quando romperam definitivamente a relação. Durante o período de
reconciliação, o casal teria adquirido, por meio de contrato particular de cessão de
direitos, a posse de uma casa em área ainda não regularizada no Distrito Federal. Após
a separação em 2016, o ex-parceiro intentou ação de dissolução de união estável, a qual
foi julgada improcedente e, por essa razão, não fora realizada a partilha do imóvel.
Desde então, a requerida usufrui de forma exclusiva o bem comprado à época por quase
oitocentos mil reais. Em decorrência desses fatos, postulou o fim do condomínio
mediante a alienação judicial do imóvel e a repartição igualitária do produto da venda,
abatendo-se os aluguéis pela fruição exclusiva da casa. A requerida alega, por sua vez,
que não houve união estável e, por isso, pugna pela divisão do valor da propriedade na
proporção do esforço de cada um, sob pena de enriquecimento indevido – uma vez que
teria arcado com mais de 90% para a compra do bem, além de postular o desconto pelas
benfeitorias necessárias. O Juízo singular esclareceu que não se trata de extinção de
condomínio, porque irregular o imóvel, o qual não dispõe de registro em cartório
imobiliário. Entretanto, reconheceu o pedido para pôr fim à situação de composse, uma
vez que o bem possui expressão econômica apta a viabilizar venda judicial e a
consequente repartição do produto em favor dos compossuidores. Assim, analisada a
contribuição de cada parte para o negócio, julgou parcialmente procedente o pedido
para determinar a alienação judicial, observado o direito de preferência dos
compossuidores, com posterior divisão do valor na proporção de 55,3% para o autor e
44,6% para a requerida, abatendo-se em favor do requerente o percentual de 46% do
valor locatício do bem, arbitrado em cinco mil reais, a partir do início da utilização
exclusiva da casa, em setembro de 2016. Interposta apelação pela ré, pleiteando o
reconhecimento de 90% de seu direito sobre a casa, os Desembargadores explicaram
que a controvérsia recai sobre a proporção de contribuição de cada compossuidor para
a compra do imóvel e a possibilidade de arbitramento de aluguéis. Com efeito, apesar
do aporte financeiro superior do ex-companheiro para a aquisição do bem, os
Magistrados reconheceram vício na sentença que estabelecera percentual além do
pedido, uma vez que a inicial requer a divisão igualitária do imóvel. Nesse ponto, diante
do julgamento ultra petita, ponderaram pelo decote da parte que constitui excesso, sem
anular a sentença, conforme orienta o precedente do Superior Tribunal de Justiça no
AgInt no AREsp 1339385/SP. Em relação ao arbitramento de aluguéis, verificaram os
Julgadores que o ex-companheiro fora obrigado a sair do lar conjugal em decorrência de
ordem judicial, proferida para proteger a vítima de novas violências domésticas. Assim,
o Colegiado entendeu que, no caso de afastamento do agressor do lar, é incabível o
arbitramento de valores durante esse período, a título locatício, em desfavor da parte
ofendida, pois o suposto agressor deve sofrer as restrições econômicas de sua conduta.
Nessa linha, apesar do fim do processo da medida protetiva ter-se dado em 2018, não
houve, após essa data, oposição ou notificação judicial para que a apelante pagasse
qualquer valor ou deixasse o imóvel, razão pela qual o termo inicial da obrigação para
adimplir os pretendidos aluguéis deve ser a partir da citação dessa ação, momento em
que a ex-consorte teve ciência inequívoca da insatisfação do autor. Dessa forma, a
Turma deu parcial provimento ao recurso, para estabelecer novo termo a quo para
cálculo dos aluguéis, reconhecendo a divisão de 50% para cada litigante em relação aos
direitos sobre o imóvel.
Acórdão 1426171, 07072548720198070020, Relator: Des. FÁBIO EDUARDO MARQUES,
Sétima Turma Cível, data de julgamento: 25/5/2022, publicado no DJe: 28/6/2022.
(Informativo 461)
Divulgação de imagens íntimas após fim de relacionamento amoroso –
dano moral
A divulgação não consentida de imagens íntimas por ex-parceiro amoroso é passível
de reparação por dano moral à vítima, em razão de ofensa a direitos da personalidade.
Na origem, uma mulher ingressou com ação de indenização por danos morais contra o
ex-parceiro porque este divulgou imagens íntimas dela após o fim do relacionamento.
Relatou que soube do vazamento das fotos por meio de redes sociais, após alerta de
terceiros. O Juízo Sentenciante julgou procedente o pedido para condenar o requerido
ao pagamento de indenização por danos morais no valor de seis mil reais. Autora e réu
interpuseram recurso de apelação. Na análise dos apelos, os Desembargadores
consignaram que o direito à imagem, como espécie do gênero dos direitos da
personalidade, não pode ser alienado, renunciado ou cedido a outrem em definitivo.
Entretanto, por ser também disponível, o titular tem a faculdade de autorizar sua
utilização a terceiros. Em contrapartida, explicaram que a “falta de consentimento ou
de voluntariedade da exposição representam fatores essenciais para a reparabilidade
do dano à imagem”. Os Julgadores ressaltaram que o direito à integridade moral
compreende aspectos relacionados à intimidade, ao segredo e à imagem, e a violação
desses atributos gera o dever de reparação, sempre que a afronta atingir a honra ou
revelar objetivos comerciais não consentidos pelo titular. Destacaram, ademais, que, no
caso dos autos, a responsabilidade do réu sobre os fatos narrados foi estabelecida em
condenação criminal transitada em julgado pela prática do crime de divulgação de cena
de sexo ou de pornografia em âmbito doméstico e familiar (art. 218-C do Código Penal).
Com isso, o Colegiado entendeu ser inquestionável a reparação moral decorrente da
divulgação não permitida de imagens íntimas da apelante – com objetivo de denegrir a
reputação da mulher – e manteve o valor arbitrado pelo Juízo monocrático. Em
conclusão, a Turma negou provimento aos apelos.
Acórdão 1600739, 07122362120218070006, Relator: Des. ROMEU GONZAGA NEIVA,
Sétima Turma Cível, data de julgamento: 27/7/2022, publicado no DJe: 15/8/2022.
(Informativo 464)

Direito Constitucional 
Autorização para aborto de feto com malformação cerebral severa –
competência da Vara da Fazenda Pública e Saúde Pública do DF
Compete à Vara da Fazenda Pública e Saúde Pública do Distrito Federal processar e
julgar ação na qual se pleiteia autorização para aborto de feto com malformações
cerebrais gravíssimas, sem possibilidade de sobrevivência fora do útero, por se tratar
de questão relativa à prestação de serviço público de saúde, excluída a competência
do Júri para tal apreciação. O Juízo da 5ª Vara da Fazenda Pública e Saúde Pública do
Distrito Federal suscitou conflito negativo de competência contra o Tribunal do Júri de
Taguatinga, em razão de pedido para interrupção de gravidez, em hospital da rede
pública, de feto diagnosticado com holoprosencefalia alobar. Argumentou que a
pretensão abrange eventual análise de crime doloso contra a vida. Os
Desembargadores, ao apreciarem o conflito, destacaram que as malformações cerebrais
do feto são incompatíveis com a vida extrauterina, conforme conclusão médica
lastreada em exames pré-natais. Ressaltaram que o Supremo Tribunal Federal
consolidou o entendimento de que é inconstitucional a interpretação de que o aborto
de feto anencéfalo se adequa a uma das figuras típicas que criminalizam a interrupção
da gravidez, previstas nos arts. 124, 126 e 128 do Código Penal (Arguição de
Descumprimento de Preceito Fundamental – ADPF 54). Cientes disso, os Julgadores
lembraram que compete ao Tribunal do Júri o julgamento dos crimes dolosos contra a
vida, conforme determinam a Constituição Federal – inciso XXXVIII do art. 5º e o art. 74,
§ 1º, do Código de Processo Penal. Logo, entenderam que referido Juízo não detém
competência para processar e julgar a demanda, uma vez que não é possível subsumir
a conduta de abortar feto anencéfalo sem chances de sobreviver após o parto, a um dos
tipos penais previstos no Código Penal, no capítulo dos crimes contra a vida. Por outro
lado, os Magistrados salientaram que compete à Vara da Fazenda Pública processar e
julgar as ações em que o Distrito Federal é parte (art. 26 da Lei 11.697/2008) e,
especificamente, incumbe ao Juízo suscitante apreciar as demandas sobre saúde pública
(Resolução 12/2019 do TJDFT). O Colegiado ainda consignou que o procedimento será
realizado no âmbito do sistema público do DF. Nesse contexto, a Turma lembrou que a
Corte Suprema, ao julgar a supracitada ADPF, enalteceu a saúde, a liberdade sexual e
reprodutiva, a dignidade e a autodeterminação das mulheres como valores
constitucionais. Acrescentou, ademais, que, ao prevalecer o entendimento de que o
abortamento de feto com anencefalia constitui fato atípico, ficou em evidência o viés
de saúde pública da questão. Com essas considerações, a Câmara Cível, por maioria,
declarou a competência da 5ª Vara da Fazenda Pública e Saúde Pública do Distrito
Federal para a apreciação da causa. O voto minoritário entendeu que a questão jurídica
preponderante diz respeito à tipicidade penal, de modo que caberia ao Juízo do Tribunal
do Júri verificar a adequação do caso concreto a uma das hipóteses de aborto legal e, se
positivo, autorizar a interrupção da gravidez.
Acórdão 1429350, 07083881020228070000, Relator: Des. ÁLVARO CIARLINI, Segunda
Câmara Cível, data de julgamento: 6/6/2022, publicado no PJe: 21/6/2022. (Informativo
461)

Exclusão de candidato em lista reservada para negros em concurso


público – contradição da banca examinadora
O poder público não pode excluir candidato da lista de cotistas negros sem
fundamentação idônea, em especial quando já o reconheceu com características
fenotípicas afrodescendentes em outros certames públicos, sob pena de ofensa aos
princípios da razoabilidade, da boa-fé objetiva e da segurança jurídica. Concursando
impetrou mandado de segurança contra o Distrito Federal, o procurador-geral do DF e
o presidente do Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção e de Promoção de
Eventos – Cebraspe, em razão de não ter sido incluído na listagem de concorrentes
negros após o resultado de procedimento de heteroidentificação complementar à
autodeclaração como preto ou pardo em concurso público. Argumentou que o ato
administrativo foi desmotivado e que outras comissões avaliadoras da referida
instituição o reconheceram como fenótipo de pessoa negra. Inicialmente, os
Desembargadores explicaram que a autodeclaração para concorrer a vagas do sistema
de cotas para negros não é absoluta, de maneira que é possível a realização de
procedimento de heteroidentificação com base nas características visíveis do indivíduo.
Ressaltaram que a conclusão da banca examinadora goza de presunção de legalidade e
legitimidade; contudo, pode ser afastada mediante prova em sentido contrário. No caso,
os Magistrados destacaram que, em três outras oportunidades, grupos de examinadores
do próprio Cebraspe concluíram que o impetrante preenchia os critérios para concorrer
ao sistema de cotas; uma dessas ocasiões, inclusive, ocorreu na semana de realização
do procedimento ora questionado. Nesse contexto, entenderam que a presente
comissão pode ter utilizado critérios não puramente fenotípicos, uma vez que o ato
impugnado diverge dos resultados anteriores. Os Julgadores salientaram que, embora o
edital estabeleça que não seriam considerados os procedimentos de heteroidentificação
pretéritos, a Administração Pública deve atuar pautada em princípios de razoabilidade
e de boa-fé objetiva, de modo que são inadmissíveis condutas ilógicas, contraditórias ou
surpreendentes. Assim, o Colegiado concluiu que é incongruente o poder público
reconhecer o impetrante como negro em um momento e em outro não, visto que as
características facilmente perceptíveis de cor da pele ou de traços negroides são
inalteráveis e os métodos avaliativos guardam semelhança entre si. Com isso, acentuou
a necessidade de respeito à coerência dos atos administrativos, à segurança jurídica e à
preservação da própria essência da ação afirmativa das cotas. A Turma, ao final,
concedeu a segurança para garantir a classificação do impetrante dentro das vagas
reservadas para candidatos negros.
Acórdão 1437353, 07067131220228070000, Relator: Des. SANDOVAL OLIVEIRA,
Segunda Câmara Cível, data de julgamento: 11/7/2022, publicado no PJe: 9/8/2022.
(Informativo 464)

Direito da Criança e do Adolescente 


Direito à identidade biológica – renovação de ordem para exame de DNA
– melhor interesse da criança
Em respeito ao princípio do melhor interesse da criança, a investigação de
paternidade, por meio de exame de DNA, constitui direito à identidade biológica da
pessoa e não deve ser tolhido pela mãe, na medida em que a criação de óbices gera
prejuízos irreversíveis na formação do vínculo afetivo entre pai e filho. O Ministério
Público interpôs agravo de instrumento contra decisão que negou pedido para nova
designação de exame biológico de DNA, em ação de investigação de paternidade, diante
da inércia da genitora em acompanhar o filho ao laboratório. O órgão ministerial
defendeu a imprescindibilidade da perícia, por entender ser o único meio apto para
confirmar a paternidade natural. No exame da matéria exposta no recurso, a Turma
aduziu ser assegurado à criança o direito à identidade biológica do suposto pai, para
permitir reconhecimento futuro do estado de filiação em registro civil de nascimento.
Além disso, esclareceu tratar-se de direito personalíssimo, indisponível e imprescritível,
a ser exercido, sem restrição, pelo menor contra os pais ou os herdeiros. Assim, em
observância ao princípio do melhor interesse, asseverou que tal direito não pode ser
embaraçado pela mãe, sem justificativa plausível, apenas para dificultar a efetivação do
teste. O Colegiado destacou, ainda, os prejuízos perpétuos ao menor, advindos da
conduta materna, pela impossibilidade de conhecer o genitor. Tal situação acentuaria o
distanciamento entre pai e filho e dificultaria a construção de laços de afeto – "possíveis
privilégios oriundos da paternidade", nas palavras do Relator –, especialmente na
infância e na adolescência, fases tão necessárias ao desenvolvimento e à formação da
pessoa. Relembrou, por fim, que priorizar os interesses da mãe em detrimento daqueles
pertencentes à criança, como o desfrute dos direitos sucessórios, destoa da norma de
proteção inserta na legislação especial (art. 27 do Estatuto da Criança e do Adolescente).
Com tais considerações, os Desembargadores deram provimento ao recurso para
compelir a mãe do infante a levá-lo ao laboratório para a colheita do material genético
necessário à realização de exame de DNA, sob pena de aplicação de multa, em caso de
recusa.
Acórdão 1434518, 07078823420228070000, Relator: Des. EUSTÁQUIO DE CASTRO,
Oitava Turma Cível, data de julgamento: 28/6/2022, publicado no PJe: 6/7/2022.
(Informativo 462)

Obrigatoriedade de vacinação infantil – contraindicação para imunizante


contra COVID-19
A vacinação infantil apenas poderá ser obrigatória após inclusão em plano nacional de
imunização, instituição por lei ou mediante determinação de entes federativos, com
base em consenso médico-científico, etapas procedimentais que ainda não ocorreram
com o imunizante contra a COVID-19. Na origem, genitor ingressou com pedido de
tutela de urgência, a fim de impedir a vacinação da filha menor contra a COVID-19, como
pretendia a mãe. O Juízo competente indeferiu o pedido, ao argumento de que o art. 14
do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA prevê a compulsoriedade da vacinação
para crianças, nos casos recomendados pelas autoridades sanitárias, sem possibilidade
de escolha dos pais. Nas razões recursais, o agravante alegou que a filha tem nove anos,
faz tratamento para puberdade precoce, e possui relatórios médicos que contraindicam,
expressamente, a vacinação contra o vírus SARS-CoV-2. Sustentou, ainda, a
facultatividade da vacina, por não estar incluída no Plano Nacional de Imunização – PNI.
Assim, requereu a reforma da decisão agravada para que seja determinado à genitora
que se abstenha de vacinar a criança contra a COVID-19 até que se confirme a segurança
do procedimento para a condição clínica específica da menina. Ao examinarem o
recurso, os Desembargadores esclareceram que a obrigatoriedade da vacinação contra
COVID-19 em menores de cinco a onze anos é controvertida e que o imunizante não
está incluído no PNI. Ressaltaram que a competência para elaborar referido
planejamento e definir quais vacinas são obrigatórias é do Ministério da Saúde, e,
embora haja recomendação da Anvisa a favor da vacinação infantil, existe divergência
de posicionamento sobre qual autoridade sanitária de fato determinaria aos pais a
necessidade de vacinarem os filhos. O Colegiado destacou, ainda, que o ECA se referiu
ao Ministério da Saúde e não à Anvisa, ao mencionar a exigência de vacinação para a
população infantil quando recomendada por autoridades sanitárias, haja vista que a
agência reguladora sequer existia à época da edição da lei especial. Nesse contexto,
entendeu que o aval da Anvisa não é suficiente para determinar tal medida. Os
Julgadores acrescentaram ser necessária a inclusão da vacina no PNI, o que não ocorreu,
cabendo aos pais, portanto, decidir acerca da imunização ou não da prole no caso da
COVID. In casu, explicaram que os relatórios médicos contraindicaram, nesse momento,
a aplicação da vacina na filha dos litigantes, pois a situação da infante requer análise e
exames mais acurados, em razão de peculiaridades na saúde dela. Uma vez
demonstrada a justificativa plausível para recusa do genitor em submeter a filha à
imunização, a Turma concluiu que a hipótese comporta efetivo perigo de dano, em razão
da irreversibilidade da medida. Com isso, deu provimento ao recurso para determinar
que a mãe se abstenha de vacinar a filha em comum, até o julgamento da ação principal,
sob pena de multa no valor de vinte mil reais.
Acórdão 1622775, 07071712920228070000, Relatora: Desª. LUCIMEIRE MARIA DA
SILVA, Quarta Turma Cível, data de julgamento: 5/10/2022, publicado no PJe:
7/10/2022. (Informativo 468)

Direito do Consumidor
Serviço veterinário – efeitos colaterais de medicação – inexistência de
falha na prestação do serviço
Médico-veterinário não é responsável por eventuais efeitos colaterais causados por
medicação ministrada a animal, sobretudo quando previstos na bula do remédio. Por
isso, não há de se falar em tratamento gratuito de eventuais reações adversas. Tutora
de cachorro ajuizou ação de responsabilidade civil contra clínica cuja veterinária
receitou remédio que causou efeitos colaterais no animal. Alegou que houve negligência
na prestação dos serviços veterinários, razão pela qual pleiteia indenização dos gastos
com o tratamento das lesões decorrentes da medicação ministrada. O Juízo de origem
entendeu que não houve erro médico, mas meros efeitos colaterais estomacais,
conforme possibilidade prevista em bula. Inconformada, a autora interpôs recurso
inominado. Ao apreciarem as razões recursais, os Magistrados esclareceram que o
serviço médico-veterinário é obrigação de meio e não de resultado, motivo pelo qual se
exige apenas o emprego das técnicas adequadas para o tratamento do paciente animal.
Acrescentaram que a responsabilidade do veterinário é subjetiva e, por conseguinte, a
clínica somente poderá ser responsabilizada se comprovada a culpa do profissional. Os
Julgadores ressaltaram que não houve erro na prescrição do fármaco para tratar as
doenças ortopédicas do cachorro. Afirmaram que os efeitos colaterais – vômito e
diarreia – estavam previstos em bula, e a assadura consequente foi mero
desdobramento da reação adversa. Assim, entenderam que não houve falha na
prestação do serviço, razão pela qual a consumidora não tem direito a tratamento
gratuito para cuidar das assaduras. Ademais, os Juízes destacaram a inviabilidade de se
exigir da clínica a realização de atendimento daquela natureza, porque não
especializada no tipo de cuidado terapêutico necessário. Nesse contexto, o Colegiado
entendeu correta a orientação dada pela requerida quanto ao encaminhamento do
animal para clínica capacitada, sob a responsabilidade da autora, e negou provimento
ao recurso.
Acórdão 1439792, 07583776820218070016, Relatora: Juíza EDI MARIA COUTINHO
BIZZI, Terceira Turma Recursal dos Juizados Especiais do Distrito Federal, data de
julgamento: 27/7/2022, publicado no DJe: 10/8/2022. (Informativo 464)
Proibição de entrada em show musical – alegação de “chargeback” –
cobrança vexatória
Impedir o acesso de consumidor a festival musical com ingresso válido em mãos, sob
a justificativa de “chargeback” relacionado a outro ticket caracteriza defeito na
prestação de serviço, passível de reparação moral, em razão da vedação legislativa ao
uso de meio vexatório para fazer cobrança. Na origem, consumidor requereu
indenização por danos morais contra empresa organizadora de eventos após ter sido
impedido de entrar em festival de música, a despeito de possuir ingresso válido, em
razão de suposto débito anterior por espetáculo promovido pela requerida. Sustentou
que somente teve ciência da cobrança na entrada do evento, situação que lhe expôs a
constrangimento desnecessário e humilhação. O Sentenciante julgou o pedido
procedente. Ao examinarem o recurso interposto pela ré, os Magistrados esclareceram
que a situação envolve a compra de dois bilhetes para diferentes eventos, "Surreal" e
“Na praia”, ambos organizados pela sociedade empresarial. Destacaram que, segundo a
pessoa jurídica, o consumidor teria usufruído da primeira atração e, em seguida,
contestado a transação na administradora do cartão de crédito, em operação conhecida
como chargeback. Tal comportamento teria motivado o bloqueio do segundo ticket,
ação considerada legítima pela demandada. Para os Julgadores, a recorrente deveria ter
buscado outros meios para reaver o pretenso crédito, como entrar em contato com o
consumidor com antecedência para solucionar o problema, em vez de expô-lo a situação
vexatória e abusiva (arts. 42 e 71 do CDC). Outrossim, asseveraram que barrar o
requerente na porta da exibição constituiu defeito na prestação de serviço, porquanto
o ingresso apresentado fora adquirido regularmente. Nesse contexto, a Turma concluiu
que a forma escolhida para cobrança expôs o consumidor a embaraço despropositado
e violou os direitos da personalidade dele, motivos pelos quais negou provimento ao
recurso.
Acórdão 1600239, 07007131620208070016, Relator: Juiz AISTON HENRIQUE DE SOUSA,
Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais do Distrito Federal, data de julgamento:
22/7/2022, publicado no DJe: 17/8/2022. (Informativo 465)

Direito Empresarial 
Dissolução parcial de sociedade empresária – goodwill e direitos da marca
na apuração de haveres
A marca compõe os ativos da empresa, de modo que seu valor deve ser considerado
para estimar o patrimônio social no momento da apuração de haveres. A perspectiva
de continuidade empresarial não implica lucros futuros superiores aos regularmente
percebidos. Em ação de dissolução parcial de sociedade já em fase de liquidação de
sentença, o Juízo de primeira instância determinou a apuração pericial de haveres de
sócio falecido, mediante levantamento do balanço da sociedade. Inconformados com a
homologação do laudo elaborado pelo expert, a empresa resolvida e os herdeiros
do de cujus pediram, em recurso, a cassação ou a reforma da sentença homologatória.
Ao analisarem as razões recursais, os Desembargadores esclareceram que o perito
tomou como referência a data da dissolução da sociedade para elaborar o balanço
patrimonial de determinação, com vistas à apuração de haveres, e adotou, para tanto,
método que levou em consideração critérios de continuidade e perpetuidade das
atividades empresariais. A despeito dessa perspectiva de prosseguimento das
operações, explicaram que não foi possível aferir o goodwill − ativo imaterial da
sociedade, concernente à justa expectativa de lucros futuros superiores aos
normalmente esperados – uma vez que não havia excesso de rendimento ou superlucro.
Assim, os Julgadores rejeitaram pedido para a exclusão dos referidos critérios de
ininterrupção empresarial, uma vez que a empresa tem potencial para continuar ativa,
embora inexista base positiva para projeção dos fluxos de caixa futuros. Lado outro,
consignaram que a marca é um dos elementos que integra o estabelecimento comercial
e traz em si a probabilidade de gerar lucros no porvir, razão pela qual confirmaram que
o valor do signo distintivo foi regularmente considerado na elaboração do laudo pericial,
a fim de mensurar o patrimônio social. Afirmaram ainda que todas as empresas do grupo
econômico do qual fazia parte a sociedade resolvida realizaram investimentos
em marketing e compartilharam benefícios econômicos advindos do fortalecimento da
marca, de modo que não há como excluir a referida valorização da apuração de haveres.
Nesse contexto, os Magistrados concluíram pela solidez e aptidão do laudo pericial na
formação do convencimento do julgador. Alfim, a Turma negou provimento às
apelações.
Acórdão 1433047, 07183115420188070015, Relator: Des. JOÃO EGMONT, Segunda
Turma Cível, data de julgamento: 22/6/2022, publicado no DJe: 6/7/2022. (Informativo
462)

Parceria empresarial informal entre ex-cônjuges – rateio de crédito em


negócio específico
Na ausência de estipulação formal sobre parceria comercial realizada entre empresas
de ex-cônjuges, o proveito econômico obtido nos negócios firmados em atuação
conjunta deve ser dividido de forma equitativa entre ambos. Empresa gestora de
condomínios ajuizou ação para cobrar o rateio de 50% do proveito econômico obtido
por outra sociedade, em razão de parceria comercial existente, mas não formalizada.
Alegou ter realizado, conjuntamente, prestação de serviços para um condomínio, cujo
pagamento de taxas atrasadas foi fixado judicialmente em favor da recorrente –
empresa pertencente ao ex-cônjuge da representante legal da autora. O Juízo
sentenciante reconheceu a parceria comercial firmada entre as sociedades empresárias
e determinou o pagamento de metade do valor da remuneração do contrato. Na análise
do recurso interposto pela empresa ré, os Juízes consignaram que os estabelecimentos,
apesar de possuírem titularidades distintas, pertencem ao mesmo grupo econômico.
Afirmaram, ainda, que o contrato subscrito pela recorrente com o condomínio em
questão indicou o CNPJ das duas empresas no título “Contratada”, bem como em uma
das cláusulas do ajuste. No entendimento dos Magistrados, tal situação jurídica
demonstra a atuação conjunta dos ex-conviventes na prestação de serviços
condominiais. O Colegiado esclareceu que a informalidade com que as empresas
negociavam deriva da relação afetiva que os sócios vivenciaram. Ressaltou, outrossim,
a inexistência de estipulação formal do percentual atribuído a cada parte ou a
demonstração inequívoca do papel de cada uma no comércio. Caberia, pois, à
recorrente fazer prova de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito invocado
na inicial, mas isso não ocorreu (art. 373, II, do Código de Processo Civil). Com esses
fundamentos, a Turma manteve o arbitramento de 50% do valor fixado no processo de
origem e negou provimento ao recurso.
Acórdão 1620355, 07157689720218070007, Relator: Juiz DANIEL FELIPE MACHADO,
Terceira Turma Recursal dos Juizados Especiais do Distrito Federal, data de julgamento:
28/9/2022, publicado no DJe: 4/10/2022. (Informativo 468)

Direito Penal e Processual Penal 


Publicação de emoji de banana descascada em grupo de aplicativo de
mensagens – inexistência de prova de nexo de causalidade entre a
conduta e o crime de injúria racial
A publicação de emoji com figura de banana descascada em grupo de WhatsApp não
justifica a deflagração de persecução penal para apuração de crime de injúria racial
contra pessoa negra participante da conversa, uma vez que evidências demonstram
que a imagem foi utilizada apenas para expressar crítica de “pessoa mole” a
presidente de órgão de classe, cuja atuação era o foco das discussões. Em grupo de
WhatsApp, com mais de duzentos integrantes e maioria composta de advogados, após
a manifestação de uma mulher negra, outra participante publicou emojis de bananas
descascadas. Em razão desse fato, o Ministério Público ofertou denúncia contra essa
última por injúria racial (art. 140, § 3º, c/c art. 141, III, do Código Penal), sob o
fundamento de que “bananas são utilizadas metaforicamente para relacionar pessoas
negras aos primatas macacos, reforçando o estereótipo de subalternidade social desse
segmento populacional, tratando-se, claramente, de uma ofensa à honra que faz
referência à cor e raça da vítima”. Em habeas corpus, a defesa pleiteou o trancamento
da ação penal. Para tanto, argumentou que a advogada paciente utilizara a imagem
apenas com o propósito de demonstrar o seu descontentamento com a atuação do
presidente da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB/DF. No exame do writ, os
Desembargadores verificaram que, durante o ocorrido, os participantes do grupo
travavam discussão sobre a gestão do presidente da OAB/DF e que a acusada
efetivamente se posicionara de forma contrária às condutas dele. Observaram,
outrossim, que as figuras foram publicadas de forma solta, sem qualquer referência a
membro específico do grupo, e que a paciente, assim que percebeu que a vítima se
sentiu ofendida, imediatamente tentou explicar no grupo que não agira com o intuito
de injuriá-la. À vista dessas circunstâncias, os Julgadores consideraram verossímil a
justificativa da acusada quanto à utilização das imagens apenas para criticar o
presidente do órgão de classe, de modo a sugerir que ele estaria agindo de forma mole,
sem energia, sentido figurado para o termo “banana” indicado em muitos dicionários.
Desse modo, os Magistrados concluíram pela inexistência de nexo de causalidade entre
a conduta praticada pela acusada e o suposto crime de injúria racial e,
consequentemente, pela ausência de elementos probatórios mínimos a alicerçar a tese
acusatória. Assim, a Turma concedeu a ordem para determinar o trancamento da ação
penal por falta de justa causa.
Acórdão 1438259, 07176967020228070000, Relator: Des. SILVANIO BARBOSA DOS
SANTOS, Segunda Turma Criminal, data de julgamento: 21/7/2022, publicado no PJe:
25/7/2022. (Informativo 463)

Castigo pessoal aplicado por padrasto a enteada menor – tortura


qualificada
A aplicação de castigo pessoal à enteada de tenra idade, mediante submissão a
intenso sofrimento físico e mental, consistente em queimaduras, socos, tapas e
chutes, caracteriza o crime de tortura qualificada contra criança. Na origem, padrasto
foi condenado pela prática do crime de tortura qualificada, pelo castigo pessoal contra
criança no âmbito doméstico e familiar (art. 1º, II, c/c § 4º, II, da Lei 9.455/1997). Em
recurso, a defesa requereu absolvição. Os Desembargadores constataram que o réu se
prevaleceu das relações familiares para submeter a enteada de apenas um ano e oito
meses a intenso sofrimento físico e mental, como modo de castigá-la. Destacaram que
o apelante agredia a vítima violentamente com chutes e tapas, bem como a queimava
com cigarro, como forma de, supostamente, repreendê-la e educá-la. Os Magistrados
frisaram o relato de testemunhas segundo o qual o padrasto já teria encostado o corpo
da menor em escapamento de motocicleta com o objetivo de causar-lhe queimadura.
Ressaltaram que a ofendida foi hospitalizada em razão de vários golpes desferidos na
cabeça, os quais provocaram hemorragia nos olhos, apenas porque não queria comer.
Consignaram, ainda, a percepção dos médicos quanto a não correspondência das lesões
no crânio às características de queda, como informado pela genitora. A Turma
esclareceu que as provas dos autos demonstraram a brutalidade à qual a menina esteve
submetida, embora a mãe tenha declarado desconhecimento de qualquer ato de
violência extrema recente à filha praticado pelo companheiro – seja para protegê-lo,
seja para não encarar a triste realidade. Nesse cenário de horror, estudo psicossocial
concluiu que o acusado surrava violentamente a infante e que se valia da impotência da
companheira, grávida, em situação de extrema vulnerabilidade. Assim, o Colegiado
entendeu que o réu agiu com crueldade exacerbada, a fim de causar intensa dor e
sofrimento físico e mental à vítima, que se encontrava sob seu dever de cuidado e
proteção. Com isso, manteve a condenação.
Acórdão 1606974, 07069383620218070010, Relator: Des. JAIR SOARES, Segunda Turma
Criminal, data de julgamento: 18/8/2022, publicado no PJe: 30/8/2022. (Informativo
465)

Direito Penal Militar e Processo Penal Militar 


Atestados médicos adulterados para justificar ausências ao trabalho –
crime militar de uso de documento público falso
A apresentação de atestados médicos falsificados para a administração militar, com o
intuito de justificar reiteradas faltas ao serviço, configura o tipo penal de uso de
documento público falso. Militar interpôs apelação contra sentença que o condenou
pelo uso de documento público falso, em continuidade delitiva (art. 315, c/c art. 311 do
Código Penal Militar), devido à apresentação de diversos atestados médicos falsificados
no decurso de dez meses, com objetivo de justificar 51 ausências ao trabalho. Nas razões
do recurso, a defesa sustentou que o acusado não agiu dolosamente e que a falsificação
da assinatura do médico não fora feita por ele, conforme atestou exame grafoscópico.
Alegou, ainda, não haver prova de que o sentenciado tinha ciência da adulteração. Ao
examinarem a matéria, os Desembargadores constataram que diversos atestados
entregues pelo apelante para explicar as sucessivas ausências ao trabalho foram
assinados por médico que nunca trabalhou no hospital regional indicado no formulário
de afastamento e que tampouco estava no Brasil à época da expedição de uma das falsas
licenças. Explicaram que o profissional de saúde supostamente signatário do documento
não reconheceu a própria assinatura e carimbo nos formulários apresentados e, além
disso, comprovou atender apenas a especialidade de cirurgia, a qual não se
compatibiliza com a classificação internacional de doenças – CID indicada nas guias. O
Colegiado explicou, outrossim, inexistir registro clínico ou de atendimento
ambulatorial/emergencial do recorrente nos hospitais e datas mencionados nos
atestados. À vista dessas circunstâncias, os Julgadores afirmaram não ser possível
cogitar ausência de dolo, invocada pela defesa, pois o réu concorreu para a falsificação
dos papéis, ao fornecer dados pessoais e escolher as datas em que pretendia ausentar-
se do trabalho. Além do mais, apresentou pessoalmente os documentos ao órgão
empregador, ciente da falsidade material. Por tais razões e por entender que o militar
foi o único beneficiado com a fraude, a Turma negou provimento ao recurso.
Acórdão 1631679, 00072931120178070016, Relator: Des. ROBERVAL CASEMIRO
BELINATI, Segunda Turma Criminal, data de julgamento: 27/10/2022, publicado no DJe:
7/11/2022. (Informativo 470)

Direito Previdenciário
Contribuição previdenciária de militar – alíquota fixada por lei federal –
constitucionalidade
É lícita a alíquota de contribuição previdenciária, estabelecida por norma federal,
incidente sobre proventos e pensões dos militares do Distrito Federal, uma vez que,
por expressa previsão constitucional, cabe exclusivamente à União organizar e manter
a polícia e o corpo de bombeiros militares dessa unidade da Federação. Na origem,
pensionista de militar propôs ação de conhecimento contra o Distrito Federal pleiteando
o cancelamento de desconto de contribuição previdenciária em seu contracheque, além
da devolução dos valores retidos àquele título por força da Lei 13.954/2019.
Argumentou que a mencionada norma passara a incluir os pensionistas das forças
auxiliares como contribuintes obrigatórios de alíquotas iguais às incidentes nas Forças
Armadas. O Juízo singular, por sua vez, declarou, de forma incidental, no caso concreto,
a inconstitucionalidade da norma, julgando procedentes os pedidos da autora, por
entender que, mesmo após a promulgação da EC 103/2019, remanesce a competência
dos Estados para a fixação das alíquotas previdenciárias aplicadas aos proventos de seus
próprios militares inativos e pensionistas. Segundo o Juiz, a lei impugnada extrapolou a
competência para edição de normas gerais, prevista no art. 22, XI, da Constituição
Federal – CF, sobre inatividades e pensões das polícias e dos corpos de bombeiros
militares. O DF interpôs recurso inominado. Ao apreciarem as razões recursais, os Juízes
esclareceram que a indigitada lei, de fato, estabeleceu a incidência de contribuição
sobre a totalidade da remuneração dos militares dos Estados, do Distrito Federal e dos
Territórios, ativos ou inativos, e de seus pensionistas, com alíquota idêntica à aplicável
às Forças Armadas, cuja receita se destina ao custeio das pensões e da inatividade
daquela categoria. Com efeito, os Julgadores asseveraram que a competência privativa
da União, para a edição de normas gerais sobre inatividades e pensões das polícias e dos
bombeiros militares (art. 22, XXI, da CF), não exclui a competência legislativa dos entes
estatais para fixar as alíquotas dessa contribuição sobre os proventos de seus servidores
militares inativos e pensionistas, evidenciando, portanto, a inconstitucionalidade da lei
federal questionada. Entretanto, em relação ao Distrito Federal, os Magistrados
destacaram que há tratamento constitucional diferenciado, uma vez estabelecida a
competência exclusiva da União – e, portanto, indelegável – para organizar e manter as
polícias e o corpo de bombeiros militares dessa unidade da Federação, por meio de
fundo próprio, conforme art. 21, XI, da CF e em consonância com a tese fixada no Tema
1.177, firmada pelo Supremo Tribunal Federal. Nesse sentido, a Turma reconheceu que
a alíquota prevista pela indigitada lei permanece aplicável àquelas categorias de
servidores do Distrito Federal, uma vez que a decisão da excelsa Corte ressalvou apenas
a competência dos Estados para tal finalidade. Dessa forma, o Colegiado deu
provimento ao recurso do ente distrital, para julgar improcedentes os pedidos
formulados pela autora.
Acórdão 1440194, 07623936520218070016, Relatora: Juíza SILVANA DA SILVA CHAVES,
Segunda Turma Recursal dos Juizados Especiais do Distrito Federal, data de julgamento:
25/7/2022, publicado no DJe: 12/8/2022. (Informativo 464)

Direito Tributário 
Construção única em terrenos distintos – duplicidade de IPTU
Os lançamentos do Imposto Predial e Territorial Urbano ocorrem com base na
realidade registral dos imóveis, devendo-se observar como parâmetro de cálculo a
metragem da edificação única efetivamente erigida na propriedade. Para a tributação
unificada de terrenos contíguos é necessário o remembramento das áreas (unificação)
no competente cartório de registro de imóveis. Na hipótese, empresa apresentou ação
anulatória de lançamento tributário, com pedido de repetição de indébito, contra o
Distrito Federal. Aduziu a autora ser proprietária de dois terrenos contíguos, local onde
ergueu uma edificação de 3.207 m², estando metade da obra erigida em cada um dos
lotes, com a devida aprovação da Secretaria de Gestão de Território e Habitação –
Segeth. Insurge-se contra suposta cobrança do IPTU em duplicidade e a devolução do
valor de 29 mil reais referente ao imposto gerado em 2020, uma vez que a
Administração teria utilizado a mencionada metragem total como parâmetro do tributo
para cada um dos lotes, quando, na verdade, deveria ter levado em consideração a
metade da área construída em cada terreno. O Juízo singular julgou improcedentes os
pedidos, sob o fundamento de que caberia ao autor, em decorrência da edificação única
em dois terrenos distintos, proceder ao remembramento (unificação ou fusão) das
áreas, a fim de individuar a propriedade e, por conseguinte, viabilizar a incidência de um
só IPTU. Irresignada, a empresa interpôs apelação. Na análise do recurso, os
Desembargadores verificaram que os lançamentos tributários foram realizados com
base no valor venal da edificação única erigida nos lotes, ou seja, sobre dois milhões e
novecentos mil reais, incidindo o imposto em relação a cada uma das áreas, consoante
boletos do IPTU/TLP. Com efeito, os Julgadores reafirmaram a necessidade da realização
de remembramento dos imóveis no competente cartório de registro imobiliário e,
posteriormente, a comunicação de tal fato ao Fisco – nos termos da Instrução Normativa
4/2017, da Secretaria de Fazenda do Distrito Federal. Portanto, segundo a Turma, a
alteração no cadastro fiscal dos imóveis somente será possível após o cumprimento da
mencionada obrigação acessória – remembramento dos terrenos contíguos para
transmudar as áreas em único imóvel, pois o alvará de construção não suprimiu essa
condição. Dessa forma, por não verificar a ocorrência de cobrança do IPTU em
duplicidade, uma vez que a existência de dois imóveis sob propriedade do contribuinte
fez germinar exações sobre cada um deles, o Colegiado negou provimento ao recurso.
Acórdão 1428163, 07148554620208070009, Relator: Des. TEÓFILO CAETANO, Primeira
Turma Cível, data de julgamento: 8/6/2022, publicado no DJe: 17/6/2022. (Informativo
461)

Ausência de lançamento tributário – permanência indefinida em malha


fiscal – forma oblíqua de cobrança de tributo
A manutenção de divergência fiscal por tempo indeterminado, sem o correspondente
lançamento tributário, restringe ilegalmente o exercício da atividade empresarial e
configura meio coercitivo indireto e irregular de cobrança de tributo. O Distrito Federal
interpôs apelação contra sentença que determinou a baixa de divergências da malha
fiscal de grande empresa do ramo alimentício, apontamentos esses que causaram
entraves no regular exercício das atividades comerciais. Na análise do recurso, os
Desembargadores consignaram que a constituição do crédito tributário por meio do
lançamento “trata-se de ato administrativo que formaliza um liame obrigacional pela
individualização dos sujeitos ativo e passivo”. Para materializar referido ato, a Secretaria
da Fazenda instituiu sistema denominado "Malha Fiscal/DF", cuja função é gerenciar a
regularidade fiscal dos contribuintes do ICMS e do ISS no Distrito Federal, mediante
cruzamento de informações nas bases de dados da Secretaria de Fazenda (art. 1º da
Portaria SEF 132/2012; e art. 6º da Instrução Normativa 13/2016). In casu, esclareceram
que o registro de “divergência” nessa plataforma, sem a correspondente constituição
do crédito tributário, inviabiliza a defesa da pessoa jurídica em processo administrativo
e o exercício da atividade empresarial, porque restringe a possibilidade de obtenção de
certidão de regularidade fiscal, de regimes especiais e de eventuais ressarcimentos de
valores pagos a maior. O Colegiado acrescentou que tal conduta configura meio
coercitivo de cobrança de tributo sem o devido processo legal ao qual o contribuinte
tem direito, gera bloqueio de atividades lícitas, além de violar os princípios da
razoabilidade, da proporcionalidade e da livre iniciativa. Ressaltou, ainda, que o Fisco
deve proceder ao lançamento do crédito tributário a fim de iniciar o processo
contencioso administrativo quando entende existir valor a ser recolhido, e, naquela sede
própria, discutir a exigibilidade, inclusive para dar oportunidade à pessoa jurídica de
apresentar suas razões no caso concreto. Nesse cenário, a Turma reconheceu a
ilegalidade da manutenção das divergências na malha fiscal e negou provimento à
apelação.
Acórdão 1608915, 07078890620218070018, Relator: Des. MARIO-ZAM BELMIRO,
Oitava Turma Cível, data de julgamento: 16/8/2022, publicado no DJe: 5/9/2022.
(Informativo 466)

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