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Direito Administrativo
Contaminação e morte por COVID-19 em hospital público – ausência de
responsabilidade estatal
Hospital público não é civilmente responsável pela contaminação por COVID-19
dentro das dependências hospitalares se não comprovada omissão estatal no
tratamento do paciente ou na adoção das medidas preventivas conhecidas e
disponíveis à época do contágio. Viúva ajuizou ação indenizatória por danos materiais
e morais contra o Distrito Federal em razão de o marido ter contraído COVID-19
enquanto estava internado em hospital da rede pública. Alegou que o cônjuge realizou
cirurgia de úlcera perfurada e estava em recuperação quando foi contaminado pelo
novo coronavírus e, em decorrência de complicações pulmonares, veio a falecer. O Juízo
de origem julgou improcedentes os pedidos. Inconformada, apelou. Ao analisarem as
razões recursais, os Desembargadores destacaram que o mundo enfrentava, em 2020,
o início da pandemia por COVID-19, sem imunizantes disponíveis nem consenso sobre
tratamento e medidas preventivas; em razão disso, os hospitais estavam lotados de
pacientes contaminados. Ressaltaram que o isolamento, por mais rígido que seja, pode
ser suscetível de falhas, devido ao alto grau de proliferação e contaminação da doença
pelas vias aéreas. Os Magistrados afirmaram que, mesmo diante da suspeita de contato
com outro interno infectado, é possível também que o finado tenha sido contaminado
pelos familiares que o visitavam. Frisaram que, quando constatada a infecção pelo novo
coronavírus, o de cujus foi transferido para área isolada – exclusivamente com pessoas
contaminadas – e, em momento posterior, para outro nosocômio público, onde
continuou a receber tratamento referente ao pós-operatório e à COVID-19. Nesse
contexto, entenderam que não houve qualquer ato omissivo ou comissivo do hospital
ou das equipes médica e de enfermagem. Os Julgadores ainda lembraram que o falecido
tinha comorbidades e se recuperava de cirurgia, portanto, mais vulnerável ao vírus e aos
desdobramentos nefastos. Assim, depreenderam que o óbito foi uma fatalidade. A
Turma concluiu que a mera contaminação pelo novo coronavírus em hospital público
não configura responsabilidade estatal, principalmente no contexto de Estado de
Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional – ESPIN em que o país se
encontrava. Alfim, o Colegiado negou provimento ao recurso.
Acórdão 1429019, 07059681220218070018, Relator: Des. LUÍS GUSTAVO B. DE
OLIVEIRA, Terceira Turma Cível, data de julgamento: 2/6/2022, publicado no DJe:
17/6/2022. (Informativo 461)
Direito Ambiental
Descoberta fortuita de animais silvestres em cativeiro – serendipidade –
validade de provas
Segundo a teoria da visão aberta, as provas originadas do encontro acidental de crime
durante a investigação de delito diverso são consideradas válidas, ainda que não se
relacionem com o fato para o qual os agentes policiais foram inicialmente designados.
Um homem foi condenado pela prática de crime contra a fauna, por manter em cativeiro
cinco pássaros sem a devida autorização ambiental, previsto no art. 29, § 1º, III, da Lei
9.605/1998 (Lei de Crimes Ambientais). Na análise do recurso da defesa, os Juízes
explicaram que a entrada de policiais em residência não autoriza que o interior dela seja
vasculhado para a busca de provas de outros crimes, na conhecida atividade de
"pescaria probatória" (fishing expedition). Aduziram, entretanto, que tal hipótese não
se confunde com a teoria da visão aparente ou aberta (plain view doctrine), que ocorre
quando se admite a apreensão de objetos ilícitos ao alcance de todos, mesmo que a
busca seja direcionada a outro alvo. Na hipótese, os agentes foram autorizados pelos
moradores a entrar na casa para investigar maus-tratos supostamente praticados contra
uma cadela quando, casualmente, notaram a existência de gaiolas na varanda do imóvel.
O Colegiado asseverou que, no caso de encontro fortuito de provas (serendipidade), é
justa a apreensão de bens ilícitos que estejam visíveis, ainda que o objeto da busca seja
distinto, inclusive como medida útil para cessar a prática da infração. No dia dos fatos,
os servidores foram atender ocorrência determinada e, incidentalmente, se depararam
com provas de outro crime, à plena vista. Tais circunstâncias tornam admissível o acervo
probatório, elucidaram os Magistrados. Em relação à posse de três pássaros silvestres
em cativeiro, asseveraram tratar-se de crime de perigo abstrato, dispensada a
comprovação de dano ambiental, pois a lesão é presumida pela referida lei. Os
Julgadores deduziram, em acréscimo, que os animais não nasceram em cativeiro,
porquanto foram aprisionados atrás da área do zoológico. Entenderam, ainda, pela
impossibilidade de aplicação do princípio da insignificância ou da adequação social da
conduta, dada a relevância do bem jurídico violado. Na oportunidade, afastaram pedido
para concessão de perdão judicial, com fundamento na reincidência do réu e no fato de
os animais serem espécies ameaçadas de extinção. Ao final, deram parcial provimento
ao recurso, apenas para reconhecer a atenuante da confissão espontânea e reduzir a
pena do crime ambiental.
Acórdão 1434033, 00000635920198070011, Relatora: Juíza RITA DE CÁSSIA DE
CERQUEIRA LIMA ROCHA, Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais do Distrito
Federal, data de julgamento: 24/6/2022, publicado no PJe: 8/7/2022. (Informativo 462)
Direito Constitucional
Autorização para aborto de feto com malformação cerebral severa –
competência da Vara da Fazenda Pública e Saúde Pública do DF
Compete à Vara da Fazenda Pública e Saúde Pública do Distrito Federal processar e
julgar ação na qual se pleiteia autorização para aborto de feto com malformações
cerebrais gravíssimas, sem possibilidade de sobrevivência fora do útero, por se tratar
de questão relativa à prestação de serviço público de saúde, excluída a competência
do Júri para tal apreciação. O Juízo da 5ª Vara da Fazenda Pública e Saúde Pública do
Distrito Federal suscitou conflito negativo de competência contra o Tribunal do Júri de
Taguatinga, em razão de pedido para interrupção de gravidez, em hospital da rede
pública, de feto diagnosticado com holoprosencefalia alobar. Argumentou que a
pretensão abrange eventual análise de crime doloso contra a vida. Os
Desembargadores, ao apreciarem o conflito, destacaram que as malformações cerebrais
do feto são incompatíveis com a vida extrauterina, conforme conclusão médica
lastreada em exames pré-natais. Ressaltaram que o Supremo Tribunal Federal
consolidou o entendimento de que é inconstitucional a interpretação de que o aborto
de feto anencéfalo se adequa a uma das figuras típicas que criminalizam a interrupção
da gravidez, previstas nos arts. 124, 126 e 128 do Código Penal (Arguição de
Descumprimento de Preceito Fundamental – ADPF 54). Cientes disso, os Julgadores
lembraram que compete ao Tribunal do Júri o julgamento dos crimes dolosos contra a
vida, conforme determinam a Constituição Federal – inciso XXXVIII do art. 5º e o art. 74,
§ 1º, do Código de Processo Penal. Logo, entenderam que referido Juízo não detém
competência para processar e julgar a demanda, uma vez que não é possível subsumir
a conduta de abortar feto anencéfalo sem chances de sobreviver após o parto, a um dos
tipos penais previstos no Código Penal, no capítulo dos crimes contra a vida. Por outro
lado, os Magistrados salientaram que compete à Vara da Fazenda Pública processar e
julgar as ações em que o Distrito Federal é parte (art. 26 da Lei 11.697/2008) e,
especificamente, incumbe ao Juízo suscitante apreciar as demandas sobre saúde pública
(Resolução 12/2019 do TJDFT). O Colegiado ainda consignou que o procedimento será
realizado no âmbito do sistema público do DF. Nesse contexto, a Turma lembrou que a
Corte Suprema, ao julgar a supracitada ADPF, enalteceu a saúde, a liberdade sexual e
reprodutiva, a dignidade e a autodeterminação das mulheres como valores
constitucionais. Acrescentou, ademais, que, ao prevalecer o entendimento de que o
abortamento de feto com anencefalia constitui fato atípico, ficou em evidência o viés
de saúde pública da questão. Com essas considerações, a Câmara Cível, por maioria,
declarou a competência da 5ª Vara da Fazenda Pública e Saúde Pública do Distrito
Federal para a apreciação da causa. O voto minoritário entendeu que a questão jurídica
preponderante diz respeito à tipicidade penal, de modo que caberia ao Juízo do Tribunal
do Júri verificar a adequação do caso concreto a uma das hipóteses de aborto legal e, se
positivo, autorizar a interrupção da gravidez.
Acórdão 1429350, 07083881020228070000, Relator: Des. ÁLVARO CIARLINI, Segunda
Câmara Cível, data de julgamento: 6/6/2022, publicado no PJe: 21/6/2022. (Informativo
461)
Direito do Consumidor
Serviço veterinário – efeitos colaterais de medicação – inexistência de
falha na prestação do serviço
Médico-veterinário não é responsável por eventuais efeitos colaterais causados por
medicação ministrada a animal, sobretudo quando previstos na bula do remédio. Por
isso, não há de se falar em tratamento gratuito de eventuais reações adversas. Tutora
de cachorro ajuizou ação de responsabilidade civil contra clínica cuja veterinária
receitou remédio que causou efeitos colaterais no animal. Alegou que houve negligência
na prestação dos serviços veterinários, razão pela qual pleiteia indenização dos gastos
com o tratamento das lesões decorrentes da medicação ministrada. O Juízo de origem
entendeu que não houve erro médico, mas meros efeitos colaterais estomacais,
conforme possibilidade prevista em bula. Inconformada, a autora interpôs recurso
inominado. Ao apreciarem as razões recursais, os Magistrados esclareceram que o
serviço médico-veterinário é obrigação de meio e não de resultado, motivo pelo qual se
exige apenas o emprego das técnicas adequadas para o tratamento do paciente animal.
Acrescentaram que a responsabilidade do veterinário é subjetiva e, por conseguinte, a
clínica somente poderá ser responsabilizada se comprovada a culpa do profissional. Os
Julgadores ressaltaram que não houve erro na prescrição do fármaco para tratar as
doenças ortopédicas do cachorro. Afirmaram que os efeitos colaterais – vômito e
diarreia – estavam previstos em bula, e a assadura consequente foi mero
desdobramento da reação adversa. Assim, entenderam que não houve falha na
prestação do serviço, razão pela qual a consumidora não tem direito a tratamento
gratuito para cuidar das assaduras. Ademais, os Juízes destacaram a inviabilidade de se
exigir da clínica a realização de atendimento daquela natureza, porque não
especializada no tipo de cuidado terapêutico necessário. Nesse contexto, o Colegiado
entendeu correta a orientação dada pela requerida quanto ao encaminhamento do
animal para clínica capacitada, sob a responsabilidade da autora, e negou provimento
ao recurso.
Acórdão 1439792, 07583776820218070016, Relatora: Juíza EDI MARIA COUTINHO
BIZZI, Terceira Turma Recursal dos Juizados Especiais do Distrito Federal, data de
julgamento: 27/7/2022, publicado no DJe: 10/8/2022. (Informativo 464)
Proibição de entrada em show musical – alegação de “chargeback” –
cobrança vexatória
Impedir o acesso de consumidor a festival musical com ingresso válido em mãos, sob
a justificativa de “chargeback” relacionado a outro ticket caracteriza defeito na
prestação de serviço, passível de reparação moral, em razão da vedação legislativa ao
uso de meio vexatório para fazer cobrança. Na origem, consumidor requereu
indenização por danos morais contra empresa organizadora de eventos após ter sido
impedido de entrar em festival de música, a despeito de possuir ingresso válido, em
razão de suposto débito anterior por espetáculo promovido pela requerida. Sustentou
que somente teve ciência da cobrança na entrada do evento, situação que lhe expôs a
constrangimento desnecessário e humilhação. O Sentenciante julgou o pedido
procedente. Ao examinarem o recurso interposto pela ré, os Magistrados esclareceram
que a situação envolve a compra de dois bilhetes para diferentes eventos, "Surreal" e
“Na praia”, ambos organizados pela sociedade empresarial. Destacaram que, segundo a
pessoa jurídica, o consumidor teria usufruído da primeira atração e, em seguida,
contestado a transação na administradora do cartão de crédito, em operação conhecida
como chargeback. Tal comportamento teria motivado o bloqueio do segundo ticket,
ação considerada legítima pela demandada. Para os Julgadores, a recorrente deveria ter
buscado outros meios para reaver o pretenso crédito, como entrar em contato com o
consumidor com antecedência para solucionar o problema, em vez de expô-lo a situação
vexatória e abusiva (arts. 42 e 71 do CDC). Outrossim, asseveraram que barrar o
requerente na porta da exibição constituiu defeito na prestação de serviço, porquanto
o ingresso apresentado fora adquirido regularmente. Nesse contexto, a Turma concluiu
que a forma escolhida para cobrança expôs o consumidor a embaraço despropositado
e violou os direitos da personalidade dele, motivos pelos quais negou provimento ao
recurso.
Acórdão 1600239, 07007131620208070016, Relator: Juiz AISTON HENRIQUE DE SOUSA,
Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais do Distrito Federal, data de julgamento:
22/7/2022, publicado no DJe: 17/8/2022. (Informativo 465)
Direito Empresarial
Dissolução parcial de sociedade empresária – goodwill e direitos da marca
na apuração de haveres
A marca compõe os ativos da empresa, de modo que seu valor deve ser considerado
para estimar o patrimônio social no momento da apuração de haveres. A perspectiva
de continuidade empresarial não implica lucros futuros superiores aos regularmente
percebidos. Em ação de dissolução parcial de sociedade já em fase de liquidação de
sentença, o Juízo de primeira instância determinou a apuração pericial de haveres de
sócio falecido, mediante levantamento do balanço da sociedade. Inconformados com a
homologação do laudo elaborado pelo expert, a empresa resolvida e os herdeiros
do de cujus pediram, em recurso, a cassação ou a reforma da sentença homologatória.
Ao analisarem as razões recursais, os Desembargadores esclareceram que o perito
tomou como referência a data da dissolução da sociedade para elaborar o balanço
patrimonial de determinação, com vistas à apuração de haveres, e adotou, para tanto,
método que levou em consideração critérios de continuidade e perpetuidade das
atividades empresariais. A despeito dessa perspectiva de prosseguimento das
operações, explicaram que não foi possível aferir o goodwill − ativo imaterial da
sociedade, concernente à justa expectativa de lucros futuros superiores aos
normalmente esperados – uma vez que não havia excesso de rendimento ou superlucro.
Assim, os Julgadores rejeitaram pedido para a exclusão dos referidos critérios de
ininterrupção empresarial, uma vez que a empresa tem potencial para continuar ativa,
embora inexista base positiva para projeção dos fluxos de caixa futuros. Lado outro,
consignaram que a marca é um dos elementos que integra o estabelecimento comercial
e traz em si a probabilidade de gerar lucros no porvir, razão pela qual confirmaram que
o valor do signo distintivo foi regularmente considerado na elaboração do laudo pericial,
a fim de mensurar o patrimônio social. Afirmaram ainda que todas as empresas do grupo
econômico do qual fazia parte a sociedade resolvida realizaram investimentos
em marketing e compartilharam benefícios econômicos advindos do fortalecimento da
marca, de modo que não há como excluir a referida valorização da apuração de haveres.
Nesse contexto, os Magistrados concluíram pela solidez e aptidão do laudo pericial na
formação do convencimento do julgador. Alfim, a Turma negou provimento às
apelações.
Acórdão 1433047, 07183115420188070015, Relator: Des. JOÃO EGMONT, Segunda
Turma Cível, data de julgamento: 22/6/2022, publicado no DJe: 6/7/2022. (Informativo
462)
Direito Previdenciário
Contribuição previdenciária de militar – alíquota fixada por lei federal –
constitucionalidade
É lícita a alíquota de contribuição previdenciária, estabelecida por norma federal,
incidente sobre proventos e pensões dos militares do Distrito Federal, uma vez que,
por expressa previsão constitucional, cabe exclusivamente à União organizar e manter
a polícia e o corpo de bombeiros militares dessa unidade da Federação. Na origem,
pensionista de militar propôs ação de conhecimento contra o Distrito Federal pleiteando
o cancelamento de desconto de contribuição previdenciária em seu contracheque, além
da devolução dos valores retidos àquele título por força da Lei 13.954/2019.
Argumentou que a mencionada norma passara a incluir os pensionistas das forças
auxiliares como contribuintes obrigatórios de alíquotas iguais às incidentes nas Forças
Armadas. O Juízo singular, por sua vez, declarou, de forma incidental, no caso concreto,
a inconstitucionalidade da norma, julgando procedentes os pedidos da autora, por
entender que, mesmo após a promulgação da EC 103/2019, remanesce a competência
dos Estados para a fixação das alíquotas previdenciárias aplicadas aos proventos de seus
próprios militares inativos e pensionistas. Segundo o Juiz, a lei impugnada extrapolou a
competência para edição de normas gerais, prevista no art. 22, XI, da Constituição
Federal – CF, sobre inatividades e pensões das polícias e dos corpos de bombeiros
militares. O DF interpôs recurso inominado. Ao apreciarem as razões recursais, os Juízes
esclareceram que a indigitada lei, de fato, estabeleceu a incidência de contribuição
sobre a totalidade da remuneração dos militares dos Estados, do Distrito Federal e dos
Territórios, ativos ou inativos, e de seus pensionistas, com alíquota idêntica à aplicável
às Forças Armadas, cuja receita se destina ao custeio das pensões e da inatividade
daquela categoria. Com efeito, os Julgadores asseveraram que a competência privativa
da União, para a edição de normas gerais sobre inatividades e pensões das polícias e dos
bombeiros militares (art. 22, XXI, da CF), não exclui a competência legislativa dos entes
estatais para fixar as alíquotas dessa contribuição sobre os proventos de seus servidores
militares inativos e pensionistas, evidenciando, portanto, a inconstitucionalidade da lei
federal questionada. Entretanto, em relação ao Distrito Federal, os Magistrados
destacaram que há tratamento constitucional diferenciado, uma vez estabelecida a
competência exclusiva da União – e, portanto, indelegável – para organizar e manter as
polícias e o corpo de bombeiros militares dessa unidade da Federação, por meio de
fundo próprio, conforme art. 21, XI, da CF e em consonância com a tese fixada no Tema
1.177, firmada pelo Supremo Tribunal Federal. Nesse sentido, a Turma reconheceu que
a alíquota prevista pela indigitada lei permanece aplicável àquelas categorias de
servidores do Distrito Federal, uma vez que a decisão da excelsa Corte ressalvou apenas
a competência dos Estados para tal finalidade. Dessa forma, o Colegiado deu
provimento ao recurso do ente distrital, para julgar improcedentes os pedidos
formulados pela autora.
Acórdão 1440194, 07623936520218070016, Relatora: Juíza SILVANA DA SILVA CHAVES,
Segunda Turma Recursal dos Juizados Especiais do Distrito Federal, data de julgamento:
25/7/2022, publicado no DJe: 12/8/2022. (Informativo 464)
Direito Tributário
Construção única em terrenos distintos – duplicidade de IPTU
Os lançamentos do Imposto Predial e Territorial Urbano ocorrem com base na
realidade registral dos imóveis, devendo-se observar como parâmetro de cálculo a
metragem da edificação única efetivamente erigida na propriedade. Para a tributação
unificada de terrenos contíguos é necessário o remembramento das áreas (unificação)
no competente cartório de registro de imóveis. Na hipótese, empresa apresentou ação
anulatória de lançamento tributário, com pedido de repetição de indébito, contra o
Distrito Federal. Aduziu a autora ser proprietária de dois terrenos contíguos, local onde
ergueu uma edificação de 3.207 m², estando metade da obra erigida em cada um dos
lotes, com a devida aprovação da Secretaria de Gestão de Território e Habitação –
Segeth. Insurge-se contra suposta cobrança do IPTU em duplicidade e a devolução do
valor de 29 mil reais referente ao imposto gerado em 2020, uma vez que a
Administração teria utilizado a mencionada metragem total como parâmetro do tributo
para cada um dos lotes, quando, na verdade, deveria ter levado em consideração a
metade da área construída em cada terreno. O Juízo singular julgou improcedentes os
pedidos, sob o fundamento de que caberia ao autor, em decorrência da edificação única
em dois terrenos distintos, proceder ao remembramento (unificação ou fusão) das
áreas, a fim de individuar a propriedade e, por conseguinte, viabilizar a incidência de um
só IPTU. Irresignada, a empresa interpôs apelação. Na análise do recurso, os
Desembargadores verificaram que os lançamentos tributários foram realizados com
base no valor venal da edificação única erigida nos lotes, ou seja, sobre dois milhões e
novecentos mil reais, incidindo o imposto em relação a cada uma das áreas, consoante
boletos do IPTU/TLP. Com efeito, os Julgadores reafirmaram a necessidade da realização
de remembramento dos imóveis no competente cartório de registro imobiliário e,
posteriormente, a comunicação de tal fato ao Fisco – nos termos da Instrução Normativa
4/2017, da Secretaria de Fazenda do Distrito Federal. Portanto, segundo a Turma, a
alteração no cadastro fiscal dos imóveis somente será possível após o cumprimento da
mencionada obrigação acessória – remembramento dos terrenos contíguos para
transmudar as áreas em único imóvel, pois o alvará de construção não suprimiu essa
condição. Dessa forma, por não verificar a ocorrência de cobrança do IPTU em
duplicidade, uma vez que a existência de dois imóveis sob propriedade do contribuinte
fez germinar exações sobre cada um deles, o Colegiado negou provimento ao recurso.
Acórdão 1428163, 07148554620208070009, Relator: Des. TEÓFILO CAETANO, Primeira
Turma Cível, data de julgamento: 8/6/2022, publicado no DJe: 17/6/2022. (Informativo
461)