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1.

Introdução

A presente análise parte do caso Escher vs Brasil, em que o Estado brasileiro foi
condenado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos por infringir diversos direitos
previstos na Convenção Americana.

Os fatos tratados no caso em tela tiveram início em 05 maio de 1999, na cidade de


Loanda/PR, quando a Juíza de Direito Elizabeth Khater deferiu o pleito do então Major da
Polícia Militar do Estado do Paraná, Waldir Copetti Neves, autorizado pelo então Secretário de
Segurança Pública do Paraná, permitindo a implantação de escuta telefônica de cooperativas
de trabalhadores ligadas ao MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem - Terra, durante
49 dias. Trechos das gravações, que perduraram para além do período autorizado, foram
vazados para a mídia.

No entanto, a decisão foi realizada sem fundamentação adequada. Por tais motivos a
magistrada que autorizou tal ato deixou de cumprir a Constituição Federal e a legislação
brasileiras e ainda por ignorar a falta de competência da Polícia Militar para fazer investigação
criminal contra civis. Com isso, a Corte Interamericana de Direitos Humanos da OEA foi
chamada a se manifestar sobre o caso das interceptações ilegais no caso que ficou conhecido
como Escher e outros Vs Brasil, no qual condena o Brasil pelo uso de interceptações
telefônicas ilegais em 1999 contra associações de trabalhadores rurais ligadas ao Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Paraná. Dessa forma, o Estado brasileiro foi
considerado culpado pela instalação dos grampos, pela divulgação ilegal das gravações e pela
impunidade dos responsáveis.

2. PROCEDIMENTO PERANTE A CORTE

Cronologia

1. Na CIDH

1.1 Petição - 26 de dezembro de 2000


1.2 Relatório de Admissibilidade - 2 de março de 2006
1.3 Relatório de Mérito -8 de março de 2007

2. Supervisão do cumprimento concluídaNa Corte


2.1 Submissão pela CIDH - 20 de dezembro de 2007
2.2 Sentença - 6 de julho de 2009
2.3 Supervisão do cumprimento concluída - 19 de junho de 2012
3. Arquivo

3. Atores perante a corte

3.1 Pela comissão interamericana


Juan Pablo Albán Alencastro, Lilly Ching Soto, Leonardo Alvarado e Assessores legais.

3.2 Pela sociedade civil


Vítimas: Arlei José Escher, Dalton Luciano de Vargas, Delfino José Becker, Pedro Alves
Cabral e Celso Aghinoni.
Representantes: Rede Nacional de Advogados Populares (Renap) e Justiça Global em
nome dos membros das organizações Cooperativa Agrícola de Conciliação Avante Ltda.
(Coana) e Associação Comunitária de Trabalhadores Rurais (Adecon), além de Terra de
Direitos, Comissão Pastoral da Terra (CPT) e Movimento dos Trabalhadores Rurais sem
Terra (MST)

3.3 Pelo Estado parte


Embaixador Tadeu Valadares,

Embaixador Sérgio Augusto de Abreu e Lima;


Ministra Ana Lucy Gentil Cabral Peterson;
Conselheira Márcia Maria Adorno Cavalcanti Ramos,
Secretária Camila Serrano Giunchetti
E as assessoras internacionais da Secretaria Especial dos Direitos Humanos;
Cristina Timponi Cambiaghi e;
Bartira Ramos Nagado.

3.4 Testemunhas e perito

3.5 Juízes
Cecilia Medina Quiroga, Presidenta;
Diego García-Sayán, Vicepresidente;
Sergio García Ramírez, Juiz;
Manuel E. Ventura Robles, Juiz;
Leonardo A. Franco, Juiz;
Margarette May Macaulay, Juíza;
Rhadys Abreu Blondet, Juíza;
Roberto de Figueiredo Caldas, Juiz ad hoc.

4. Proposições da Comissão

Segundo a Comissão indicou, a demanda inicial se referia à interceptação e


monitoramento ilegal das linhas telefônicas de Arlei José Escher, Dalton Luciano de Vargas,
Delfino José Becker, Pedro Alves Cabral, Celso Aghinoni e Eduardo Aghinoni, membros das
organizações [ADECON] e [COANA], realizados entre abril e junho de 1999 pela Polícia
Militar do Estado do Paraná, assim como a divulgação das conversas telefônicas, e a
denegação de justiça e da reparação adequada.

Na demanda, a Comissão solicitou à Corte declarar que o Estado é responsável pela


violação dos artigos 8.1 (Garantias Judiciais), 11 (Proteção da Honra e da Dignidade), 16
(Liberdade de Associação) e 25 (Proteção Judicial) da Convenção Americana, em relação
com a obrigação geral de respeito e garantia dos direitos humanos e ao dever de adotar
medidas de direito interno, previstos, respectivamente, nos artículos 1.1 e 2 do referido
tratado, também em consideração às diretrizes emergentes da cláusula federal contida no
artigo 28 do mesmo instrumento. A Comissão requereu à Corte que ordene ao Estado a
adoção de determinadas medidas de reparação.

5. Alegações do Estado

Durante o trâmite do processo o estado atribuiu sua matéria de defesa, no dia 07 de julho de
2005 o Estado interpôs 3 exceções preliminares, de forma escrita, elaborou observações
sobre petições e argumentos usados pelos demandantes .
Em sua primeira exceção preliminar, o Estado brasileiro alegou que os representantes das
vítimas apresentaram seu escrito de petições e argumentos uma semana após o prazo, e
que os anexos foram apresentados ainda depois. Segundo a defesa brasileira, o
descumprimento do prazo “constituiu um prejuízo à sua defesa e uma violação ao princípio
do contraditório”. A Corte rejeitou o argumento, por considerar que não se tratava
efetivamente de uma exceção preliminar. Posteriormente, já na fase de avaliação do mérito,
o Tribunal considerou igualmente improcedente a alegação.

Na segunda, o Brasil afirmou que a violação do artigo 28 da Convenção Americana não foi
alegada durante o procedimento perante a Comissão, sendo incluída na demanda somente
na fase de cumprimento das recomendações do caso na CIDH. Além disso, alegou que “o
referido dispositivo não estabelece direito ou liberdade alguma, mas tão somente regras de
interpretação e aplicação da Convenção (...) e [a alegada violação] não deve ser valorada
pela Corte”. O Tribunal também rejeitou a alegação, por depreender que o suposto
descumprimento do artigo 28 já havia sido considerado durante o procedimento perante a
Comissão Interamericana, e por considerar que “tem competência para analisar o alegado
descumprimento do artigo 28 da Convenção, independentemente da sua natureza jurídica,
seja uma obrigação geral, um direito ou uma norma de interpretação”.

Na terceira exceção preliminar, o Estado alegou falta de esgotamento dos recursos judiciais
internos.

6. Competência

O artigo 67 da Convenção estabelece que: A sentença da Corte será definitiva e


inapelável. Em caso de divergência sobre o sentido ou alcance da sentença, a Corte
interpretá-la-á, a pedido de qualquer das partes, desde que o pedido seja apresentado
dentro de noventa dias a partir da data da notificação da sentença.”

Consoante o artigo citado, a Corte é competente para interpretar suas decisões. Para
realizar o exame da demanda de interpretação e resolver o que corresponda a esse
respeito, o Tribunal deve conservar, se possível, a mesma composição que tinha ao ditar a
Sentença respectiva, de acordo com o artigo 59.3 do Regulamento. Nesta ocasião, a Corte
está integrada pelos juízes que ditaram a sentença cuja interpretação foi solicitada pelos
representantes, ressalvada a alteração mencionada.

7.Provas produzidas
Provas documentais, o que disseram as testemunhas, perícia

8. Direito relevante ao caso


Lista dos tratados internacionais diante do caso

9.Questões a serem resolvidas pela Corte

- Artigo 11, em relação com o artigo 1.1

- Artigo 16, em relação com artigo 1.1

- Artigos 8.1 e 25, em relação com artigo 1.1

- Artigo 28, em relação aos artigos 1.1 e 2.


10.Resumo da decisão

A Corte declarou que:


O Estado violou o direito à vida privada e o direito à honra e à reputação reconhecidos
no artigo 11 da Convenção Americana de Direitos Humanos, em prejuízo das vítimas dos
grampos;

O Estado violou o direito à liberdade de associação reconhecido no artigo 16 da


Convenção Americana, em prejuízo das vítimas, integrantes do Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra;

O Estado violou os direitos às garantias judiciais e à proteção judicial reconhecidos


nos artigos 8.1 e 25 da Convenção Americana em prejuízo das vítimas a respeito da ação
penal seguida contra o ex-secretário de segurança do Paraná, da falta de investigação dos
responsáveis pela primeira divulgação das conversas telefônicas e da falta de motivação da
decisão em sede administrativa relativa à conduta funcional da juíza que autorizou a
interceptação telefônica.

Foi decidido e prolatado perante a sentença as seguintes condenações e


determinações:

O Estado foi condenado a pagar aos senhores Arlei José Escher, Dalton Luciano de
Vargas, Delfino José Becker, Pedro Alves Cabral e Celso Aghinoni, o montante de US$
20.000,00 (vinte mil dólares dos Estados Unidos da América) para cada vítima a título de
dano imaterial.

Também teve que publicar no Diário Oficial, em outro jornal de ampla circulação
nacional, e em um jornal de ampla circulação no Estado do Paraná, uma única vez, a página
de rosto, os Capítulos I, VI a XI, sem as notas de rodapé, e a parte resolutiva da Sentença,
bem como deve publicar de forma íntegra a Decisão em um sítio web oficial da União
Federal e do Estado do Paraná.

Ficou responsável também o Estado por investigar os fatos que geraram as violações
do presente caso.

O Estado deve pagar o montante fixado na quantia de US $10.000,00 (dez mil dólares
dos Estados Unidos da América) às vítimas, pelo conceito de custas e gastos por restituição
de custas e gastos, dentro do prazo de um ano contado a partir da notificação da mesma.

A Corte ficou responsável de supervisionar o cumprimento íntegro desta Sentença, foi


dado o prazo de um ano contado a partir da notificação sentença ao Estado para que esse
apresentasse ao Tribunal um relatório sobre as medidas adotadas para cumprir a mesma.

11. Comentário crítico sobre o caso

A análise do caso é uma ferramenta de aprendizagem sobre a perspectiva de


aprimoramento dos sujeitos e atos a serem realizados, desde a autorização para iniciar a
interceptação telefônica na investigação, e como ela pode representar uma interferência na
vida privada. Inclusive, é instrumento para perceber que a interceptação telefônica é medida
excepcional, sendo a regra o sigilo, com a preservação da intimidade.

Assim, o Caso Escher contribui para alertar sobre eventuais abusos cometidos pelos
agentes públicos a serem refutados e as decisões atuais do STF demonstram a inquietante
necessidade de efetivação dos direitos, sendo necessário utilizar excepcionalmente as
interceptações telefônicas e com uma postura de respeito às garantias judiciais, ao devido
processo legal, à proteção judicial, à honra, à dignidade, o direito ao contraditório, as regras
de competência, o dever de motivar as decisões, os requisitos legais, o prazo determinado
em lei, a cautela ao divulgar publicamente conversas.

Face ao exposto, conclui-se pela importância da atuação dos Tribunais e dos agentes
policiais em plena conformidade com a legalidade, observando principalmente a
Constituição Federal, a Lei 9.296/96 e a Convenção Americana de Direitos Humanos. Todos
devem ajustar suas posições aos parâmetros legais, atuando de modo mais adequado a
prevenir novas violações de direitos, novos casos Escher.

Na presente demanda, o Estado brasileiro condenado, reconheceu e cumpriu com a


sentença, indenizando os prejudicados pela ação do Estado, no entanto a demora, até a
propositura da ação na Corte IDH, acabou dificultando a punição aos agentes estatais,
provando que, cada vez mais se necessita de uma dupla proteção aos direitos humanos e
que mesmo o pais sendo signatário de importantes convenções de direitos, ainda não
cumpre com suas normativas, revelando um ponto ainda a ser combatido. Nessa esteira,
fica evidente que somente a adoção e criação dos meios de controle de normas as quais
dispõe o sistema jurídico nacional e internacional não são suficientes para evitar novas
violações, sendo necessária a superação da visão de sistemas de proteção dos direitos
fundamentais como autônomos e que somente são buscados quando ocorrem a violação de
direitos, para que então, sejam integrados e caminhem num mesmo sentido, para tanto o
uso do diálogo entre Cortes se mostra como uma alternativa eficaz num primeiro momento,
para que ambas jurisdições lancem mãos em seus sistemas de controle de normas de
forma conjunta, num mesmo sentindo, alcançando assim maior efetividade na dupla
proteção normativa dos direitos Humanos e Fundamentais

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