membros vs. Brasil. Sentença de 05 de fevereiro de 2018. Disponível em: http://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_346_por.pdf
TEIXEIRA, Chantelle da Silva. Povo Xukuru vs. Brasil: um paradigma da Corte
Interamericana de Direitos Humanos na construção dos direitos territoriais coletivos dos povos indígenas. In: LACERDA, Luis Felipe. (org) Direitos da Natureza: marcos para a construção de uma teoria geral. São Leopoldo: Casa Leiria, 2020. p. 55 – 68.
CASO XUCURU x BRASIL
- Demora para titulação, demarcação e delimitação das terras;
- Violação ao direito de propriedade e à integridade pessoal; - Primeira condenação do Brasil em relação a violação dos povos indígenas no CIDH - O processo de demarcação da Terra Indígena Xucuru, localizada em Pesqueiras (PE), iniciou-se em 1989 e foi concluído em 2005, após 16 anos de tramitação. - Durante esse período, ocorreram choques entre indígenas e não indígenas, ocorreram na morte de lideranças Xucuru, incluindo um cacique. - O Estado brasileiro não promoveu a desintrusão completa do território, mesmo após a finalização do processo de demarcação. - Em 2014, uma sentença favorável aos não indígenas determinou a reintegração de posse de uma fazenda dentro da TI Xucuru. - O processo demarcatório também provocou conflitos internos entre os próprios Xucuru. - Medidas cautelares foram solicitadas para garantir a segurança do Cacique Marcos e de sua mãe devido a ameaças de morte. - Uma peculiaridade dessa demanda foi a apresentação de cinco pedidos de amici curiae, por diferentes organizações, incluindo a Defensoria Pública da União. O Estado brasileiro, de maneira inédita, apresentou objeção aos cinco escritos. As objeções, feitas de maneira extemporânea, foram negadas pela Corte. Corte decide, por unanimidade: - Julgar improcedentes as exceções preliminares interpostas pelo Estado, relativas à inadmissibilidade do caso na Corte, em virtude da publicação do Relatório de Mérito pela Comissão; à incompetência ratione materiae, a respeito da suposta violação da Convenção 169 da OIT; e à falta de esgotamento prévio dos recursos internos. - Declarar parcialmente procedentes as exceções preliminares interpostas pelo Estado, relativas à incompetência ratione temporis a respeito de f atos anteriores à data de reconhecimento da jurisdição da Corte por parte do Estado. Corte declara, por unanimidade: - O Estado é responsável pela violação do direito à garantia judicial de prazo razoável, previsto no artigo 8.1 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, em relação ao artigo 1.1 do mesmo instrumento, em detrimento do Povo Indígena Xucuru. - O Estado é responsável pela violação do direito à proteção judicial, bem como do direito à propriedade coletiva, previsto nos artigos 25 e 21 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, em relação ao artigo 1.1 do mesmo instrumento, em detrimento do Povo Indígena Xucuru. - O Estado não é responsável pela violação do dever de adotar disposições de direito interno, previsto no artigo 2º da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, em relação ao artigo 21 do mesmo instrumento, em detrimento do Povo Indígena Xucuru. - O Estado não é responsável pela violação do direito à integridade pessoal, previsto no artigo 5.1 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, em relação ao artigo 1.1 do mesmo instrumento, em detrimento do Povo Indígena Xucuru. Corte decide, por unanimidade: - A sentença constitui, por si mesma, uma forma de reparação. - O Estado deve garantir, de maneira imediata e efetiva, o direito de propriedade coletiva do Povo Indígena Xucuru sobre seu território, de modo que não sofram nenhuma invasão, interferência ou dano, por parte de terceiros ou agentes do Estado que possam depreciar a existência, o valor, o uso ou o gozo de seu território. - O Estado deve concluir o processo de desintrusão do território indígena Xucuru, com extrema diligência, efetuar os pagamentos das indenizações por benfeitorias de boa-fé pendentes e remover qualquer tipo de obstáculo ou interferência sobre o território em questão, de modo a garantir o domínio pleno e efetivo do povo Xucuru sobre seu território, em prazo não superior a 18 meses. - O Estado deve proceder às publicações indicadas na sentença, nos termos nela dispostos. - O Estado deve pagar as quantias fixadas na sentença, a título de custas e indenizações por dano imaterial. - O Estado deve, no prazo de um ano, contado a partir da notificação desta Sentença, apresentar ao Tribunal um relatório sobre as medidas adotadas para seu cumprimento. - A Corte supervisionará o cumprimento integral desta sentença, no exercício de suas atribuições e no cumprimento de seus deveres, conforme a Convenção Americana sobre Direitos Humanos, e dará por concluído o presente caso uma vez tenha o Estado dado cabal cumprimento ao nela disposto. Povo Indígena Xurucu
- Os primeiros a terem contato com o colonizador;
- Tiveram sua identidade étnica questionada; - Crença na natureza sagrada - O processo de reconhecimento e demarcação do território foi iniciado em 1989 - 270 contestações foram interpostas por pessoas interessadas; - Mudanças no processo administrativo de demarcação; - A CIDH condenou o Brasil, reconhecendo que o Estado violou o direito à garantia judicial de prazo razoável e pela violação da proteção judicial e direito à propriedade coletiva; “Ao reconhecer constitucionalmente os próprios sistemas sociopolíticos e jurídicos dos povos indígenas, o Estado brasileiro abre espaço para novas formas de relação e concepção da relação com a terra e do território, como a que guia a relação dos povos indígenas com seu território e que não se encaixa com as concepções clássicas de propriedade” (p. 61)